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TÊXTIL CERTIFICADA NO COMBATE À COVID- 19 TT

FABRICO DE MÁSCARAS DECISIVO PARA O REGRESSO À ATIVIDADE NUMA CRISE QUE SE PODE CONVERTER EM NOVA ÁREA DE NEGÓCIO PARA A ITV

ECOMMERCE

CONCRETO: UMA MARCA DE PORTA ABERTA PARA O MUNDO P 24

INDÚSTRIA

SONAE FASHION CONFIRMOU A COMPRA DA TOTALIDADE DA SALSA P8

P 18/19 E 4/5

PRODUTO

DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS

TINTEX E DAILY DAY FAZEM MÁSCARA EM ALGODÃO 100% BIODEGRADÁVEL P 26

FASHION FORWARD

MARCAS DEVEM SINTONIZAR COM A NOVA ORDEM DAS COISAS P 14

DOIS CAFÉS & A CONTA

FRADELSPORT DE PAULO REIS COMEÇOU PELAS BALIZAS P6

EMPRESA

B’LOVELY, A RECÉM-NASCIDA QUE DÁ CARTAS EM ITÁLIA P 12


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CORTE&COSTURA

EDITORIAL

Por: Júlio Magalhães

Por: Manuel Serrão

Raquel Pereira 33 anos Sales Manager da Corporalys by Gulbena, grupo com base em Fafe que integra também a Bergand, dedicada à confeção, e a Imprimis, de estamparia digital. Dentro do grupo, a Corporalys é a empresa que vende malhas e tecidos lisos e onde estão todos os artigos técnicos.

NO OLHO DO FURACÃO Não estamos a viver tempos normais e aqui no nosso T isso percebe-se logo pela capa. Ao fim de 52 edições, a capa não tem a foto do entrevistado habitual da edição porque entendemos que o tema do papel principal do combate da indústria têxtil e vestuário à crise da pandemia não tem e não podia ter um rosto só, um só protagonista. A resposta do setor já enaltecida e elogiada por cá e lá fora esteve e continua a estar a cargo de muitos empresários, colaboradores, dirigentes associativos e entidades similares, onde assume particular destaque o nosso Centro Tecnológico, o CITEVE. Para quem trabalha como eu há mais de 30 anos com esta gente de raça não é surpresa nenhuma. Não foi por causa desta situação de emergência que a ITV portuguesa ficou a saber que reinventar-se é um verbo que conjuga como poucas outras actividades. Não é a primeira vez (e seguramente também não será a última) que as nossas empresas têxteis precisam de acudir ao país em crise e sobreviver às crises do mercado. Como também não foi por causa da Covid-19 que ficamos todos a saber que temos um setor permanentemente inovador e um Centro Tecnológico de referência internacional. Talvez o país tenha ficado a conhecer melhor esta indústria que nunca o abandonou. Mesmo nos tempos em que o país político tentou abandoná-la. t

Qual é a importância das participações nas feiras internacionais para uma empresa como a Gulbena? A internacionalização é já há muitos anos uma aposta da Gulbena. A forma mais eficaz de traçar este caminho é também através da participação em feiras internacionais. Está de acordo que a preocupação com a moda sustentável é uma tendência em crescimento exponencial? Sem dúvida. A indústria têxtil e vestuário em Portugal no presente já tem mais futuro do que passado? É verdade que um passado tem história e evidencia know-how mas cada vez mais o futuro das empresas está em olhar para a frente. Para o que aí vem, como um reaprender e reinventar, moldando-se a um mercado em constante mutação. Atualmente qual é o mercado externo mais apetecível para a Gulbena? E qual o novo mercado em que

pensam apostar? Mercado alemão como o mais apetecível e o norte-americano no que queremos apostar. Qual é a relevância dos chamados têxteis técnicos nas coleções da sua empresa? É total. Desde sempre a Gulbena tem como principal aposta os têxteis técnicos e funcionais. E pergunta inevitável do momento: como avalia o impacto da pandemia Covid- 19 na Gulbena e no comércio e produção têxteis em geral? Desde o início desta pandemia, fruto da experiência adquirida ao longo dos anos em vestuário de trabalho e vestuário técnico de desporto, foi-nos colocado por empresas privadas o desafio de tentar, num curto espaço de tempo e dentro da matéria-prima disponível na empresa, produzir peças de proteção alternativas para pessoas expostas diariamente a situações de risco de contágio. Para tal desenvolvemos alguns produtos e juntamente com as encomendas do dia-a-dia a empresa conseguiu continuar a jogo! t

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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Mário Jorge Machado Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/


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n PERGUNTA DO MÊS Texto: António Moreira Gonçalves Ilustração: Cristina Sampaio

COVID-19: A AMEAÇA PODE VIRAR OPORTUNIDADE PARA A NOSSA ITV? Com as tradicionais cadeias de fornecimento interrompidas, a indústria têxtil e de vestuário deu provas, mais uma vez, da sua capacidade de adaptação, iniciativa e inovação, e muitas empresas estão agora focadas na produção de máscaras e outros equipamentos de proteção individual. Num ápice, o setor mostrou que é capaz de suprir as necessidades internas mas logo se avançou para a ideia de um cluster para a saúde e o propósito de abastecer toda a Europa. Já há know-how e nenhum outro país do velho continente mantém a nossa capacidade industrial.

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“É uma oportunidade que não substitui o negócio das empresas, mas há um valor e um conhecimento que se cria”

“Neste momento as empresas estão à procura do que é vendável. A têxtil tem mostrado uma resiliência brutal”

ARTUR SOUTINHO MORETEXTILE

MIGUEL MENDES A. SAMPAIO

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travagem brusca da economia causada pelo coronavír us encontrou na indústria têxtil uma criativa inquietude na procura por soluções. Ainda o primeiro impacto da epidemia se começava a fazer sentir, e já havia pequenas, médias e grandes empresas a readaptarem as suas linhas de produção para fabricar novos produtos, como batas, máscaras ou outros equipamentos de proteção individual. Capacidade, iniciativa e força de vontade são algumas das expressões mais utilizadas pelos próprios empresários para descrever o caminho que a ITV portuguesa tem percorrido nas últimas semanas. O jornal francês Le Figaro já destacou “uma poderosa indústria têxtil que pensa em exportar” e que no espaço de um mês criou um sistema que se propõe a fornecer toda a Europa, com produtos certificados, capazes de aliar a proteção à sustentabilidade e ao design de moda. E mesmo que, por enquanto, apenas um quarto das empresas encare a produção de equipamentos de proteção como alternativa de futuro – de acordo com o último inquérito da ATP – esta readaptação tem-se revelado vital para manter alguma atividade no setor num contexto de crise generalizada. Uma capacidade de iniciativa que para o presidente da ATP “é um grande orgulho”, mas que está longe de ser a panaceia para as consequências da pandemia. "Não chega a tanto, este tipo de produção é uma gota no oceano que é o têxtil", diz Mário Jorge Machado. Com muitas empresas por ora concentradas na produção de máscaras sociais e outros equipamentos de proteção, o setor começa a falar também na possibilidade do nas-

cimento de um cluster têxtil vocacionado para a saúde e na capacidade de acorrer às necessidades dos mais de 500 milhões de europeus. E as perspetivas começam a ser animadoras com as abordagens com vista a encomendas que não param de chegar dos grandes grupos da moda e distribuição, agora que o caminho da China foi posto em questão. Será que a reação da nossa ITV à presente ameaça da Covid-19 pode tornar-se numa nova oportunidade para o setor? As opiniões dividem-se, mas pelo menos num ponto são convergentes: o vírus está a colocar à prova a capacidade de inovação e de certificação da ITV portuguesa, e qualquer que seja o cenário por detrás da cortina, o setor estará mais preparado para enfrentar o futuro. “É uma oportunidade que não substitui o negócio das empresas, mas há um valor e um conhecimento que se cria que vai para além dos artigos que são produzidos”, afirma Artur Soutinho, CEO do grupo Moretextile. Com o mercado dos têxteis-lar em stand-by, a empresa tem apostado na conceção de novos modelos de máscaras, uma nova aposta pensada sobretudo a curto-prazo. “Mesmo que as máscaras não se vendam para sempre, há um know-how e uma engenharia de produto que ficam e que serão uma vantagem em qualquer ocasião”, acrescenta. Também Miguel Mendes, administrador da A. Sampaio, diferencia os efeitos a curto e a longo-prazo. “Neste momento as empresas estão à procura do que é vendável. A necessidade obrigou a uma adaptação e a têxtil tem mostrado uma brutal resiliência que faz parte da sua natureza”, comenta o gestor da empresa de Santo Tirso que certificou junto do CITEVE várias malhas para o fabrico de máscaras comu-

nitárias. No entanto, mesmo reconhecendo que as marcas de moda vão também explorar esta oportunidade, Miguel Mendes acredita que será apenas temporário. “Duvido que as máscaras se tornem algo cultural. Há um conhecimento e uma aprendizagem que se acumula, mas de certa forma o que esperamos é que esta alternativa não seja necessária por muito tempo”, salienta. Uma opinião partilhada por Miguel Pedrosa Rodrigues. “É uma oportunidade, mas provavelmente apenas temporária. As máscaras sociais talvez atinjam uma produção elevada, com números interessantes e até várias abordagens de moda, mas assim que os efeitos psicológicos da epidemia passarem, a utilização da máscara diminuirá”, antevê o administrador da têxtil Pedrosa & Rodrigues, que também conta já com modelos de vestuário certificados para a utilização no contexto da pandemia. “Depois da crise vão manter-se algumas empresas especializadas, mas o grosso do setor voltará para as áreas que melhor conhece”, acrescenta. É sem dúvida uma oportunidade

“É uma nova área, mas não substitui os canais de negócios normais”, concorda Susana Serrano, CEO da Adalberto. A empresa de Santo Tirso realizou uma parceria com a Sonae e desenvolveu um novo modelo de máscara social reutilizável. Está a produzir 50 mil unidades por dia mas o objetivo é chegar às 100 mil, para vender em Portugal e nos mercados externos de onde não param de chegar solicitações. “Estamos a trabalhar sobretudo numa lógica de responsabilidade social, porque não queremos colocar as pessoas em casa. Vemos as máscaras como uma nova área de negócio, mas não será o futuro da Adalberto”, explica a respon-


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“É sem dúvida uma oportunidade. Os portugueses têm de perceber que são bons e que em certas áreas estão à frente”

“Vemos as máscaras como uma nova área de negócio, mas não será o futuro da Adalberto"

“É uma oportunidade, mas provavelmente apenas temporária. Vão manter-se algumas empresas especializadas”

“É um caminho em constante evolução, uma oportunidade para as empresas polivalentes que apostam em novas soluções”

ALEXANDRA ARAÚJO LMA

SUSANA SERRANO ADALBERTO

MIGUEL PEDROSA RODRIGUES PEDROSA & RODRIGUES

RICARDO SILVA TINTEX

sável pela empresa. Ricardo Silva, Head of Operations da Tintex – empresa que também fabrica malhas certificadas para a produção de máscaras – descreve o atual processo como “uma oportunidade para as empresas polivalentes e que mantêm uma constante aposta em novas soluções. Em Portugal temos o conhecimento têxtil e a inovação humana, bastam alguns contactos em termos de maquinaria e matérias-primas para termos a cadeia produtiva optimizada”, afirma o responsável da empresa de Vila Nova de Cerveira. A troca de conhecimentos e contactos é também um dos valores destacados por Alexandra Araújo, administradora da LMA. “É sem dúvida uma oportunidade. Não acho que se tenha formado um cluster porque neste momento os players englobam empresas de áreas muito distintas, dos têxteis ao calçado. Mas é uma oportunidade para o nosso país, os portugueses têm de perceber que são bons e que em certas áreas estão à frente”. No entanto, a líder da empresa de Santo Tirso, que também já conta com artigos certificados, defende que a oportunidade só será aproveitada com uma maior proximidade entre empresas e universidades. “Temos muito know-how que tem de ser explorado, é necessário estabelecer canais de comunicação entre a indústria e os centros de conhecimento”, sublinha. Mas há que contar também com o comportamento dos consumidores. “Entendo que as máscaras podem tornar-se um acessório de moda, tal como os óculos de sol. No oriente isso já acontece e a epidemia pode criar esse efeito na Europa”, lança Filipe Prata, Diretor-Geral da Daily Day, marca do grupo LaGrofa, que teve uma das primeiras máscaras certificadas. t


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A DOIS CAFÉS & A CONTA Fradelsport

Travessa de São Pedro, 9 4760-556 Fradelos, Vila Nova de Famalicão

Desta vez sem ementa. Com distância social e fora do horário de refeições, cumprindo com as regras e recomendações as autoridades de saúde em estado de emergência

PAULO REIS

Segundo filho de um casal de operários têxteis, nasceu em Fradelos, Famalicão, onde cresceu “para ser contabilista”. Depois da primária, matriculou-se com essa ideia na escola profissional Forave e dai seguiu para o curso de Gestão Industrial e de Produção no Politécnico da Guarda. A vida, no entanto, trocou-lhe as voltas, e após o segundo ano a família pede-lhe que fique por casa para tomar conta do negócio que os pais tinham montado nas horas livres. “Venho mas vou lá fazer os testes”, mas depressa o negócio lhe tomou conta da vida. “Acabei por fazer bem mais negócios que cadeiras”, confessa. É casado com Maria Bernardete - que já trabalhava no têxtil e é agora a Diretora de Planeamento da Fradelsport – e têm dois filhos. Aos 10 anos, o Simão tem como ideal de vida ajudar a família e quer trabalhar com o pai, enquanto a irmã Mariana, 15 anos, se aplica nos estudos com a o objetivo de concluir o curso de medicina

UM NEGÓCIO QUE COMEÇOU NAS BALIZAS

FOTO:RUI APOLINÁRIO

ADMINISTRADOR DA FRADELSPORT

“Nem de perto nem de longe alguma vez pensei que o têxtil iria ser a minha vida”, dispara Paulo Reis, que tão rápido adivinhou que a produção de equipamentos desportivos ia parar como tão rápido avançou para as necessidades do momento: batas, coveralls, cogulas, manguitos ou cobre-botas. Depressa começaram a chegar os pedidos de fornecedores e a Fradelsport foi logo das primeiras a conseguir certificar a produção de máscaras. “Houve uma redução drástica de encomendas e não foi difícil chegar a este a caminho, o difícil mesmo foi conseguir as matérias-primas”, sintetiza o empresário. Foi com a ideia de se tornar contabilista que Paulo Reis cresceu e avançou na formação. “Nasci para ser contabilista”, diz, com a certeza de quem nunca teve dúvidas, o homem que cresceu com a imagem da alternância entre os turnos do pai, Mário, e a mãe, Maria Rolinda, ambos operários têxteis. Como tinha as tardes livres, o pai foi-se dedicando a apoiar o clube da terra como dirigente, acabando por abrir uma loja de venda de equipamentos desportivos. Nascia assim a Fradelsport, que além das botas, calções e camisolas, vendia também um artigo menos comum: as redes de baliza. “Eram todas feitas à mão, um trabalho demorado e já então raro. O fornecedor,

que se queria reformar, propôs-se ensinar o meu pai para ele continuar com o negócio”. Paulo estava longe de o imaginar, mas começava aí o destino que o havia de afastar da meta da contabilidade. “À noite e depois das aulas eu ajudava. O meu pai dava-me 100 escudos por quilo e uma baliza de futebol eram sempre uns oito a nove quilos”. A par das balizas e redes para todas as modalidades, começaram a aparecer também pedidos maiores, para as vedações. “Era negócio, mas durava...”, recorda. Das balizas locais, a fama e a procura foram-se alargando. E com elas o negócio. Mas os estudos levam Paulo para a Guarda, para o curso Gestão Industrial e de Produção, no Politécnico, e ao segundo ano a família pede-lhe que volte a casa e tome conta do negócio. “Venho, mas vou lá fazer os testes”, disse, mantendo a convicção de acabar o curso, mas depressa viu que “fazia sempre mais negócios que cadeiras”. E não passaram dois anos até que começou também a produzir os equipamentos. Comprava os tecidos, mandava cortar, estampar e entregava para fazer. “Por causa das redes, remeti um fax para vários agentes desportivos e atrás das redes começaram a vir os equipamentos”, conta. Também por cauda das redes, já exportava para Angola, Suíça, França e Espanha, e o

passo seguinte foi contratar costureiras e tomar conta da produção. Com departamento de design e conceção de produto, a Fradelsport apoia-se hoje num plantel com 50 colaboradores e faturou no ano passado à volta de 2,1 milhões, 80% em exportação. Através da conhecida marca Macron, veste equipas como o Sporting ou a Lazio de Roma, mas além do futebol está também presente no rugby – equipando as seleções da Escócia e várias equipas de França e de Portugal, entre outras – e no ciclismo, fundamentalmente no mercado espanhol. A aposta continua a ser na produção de artigos desportivos, prestando serviços em impressão, sublimação, bordados, transferes e confeção, “com a filosofia de continuar a desenvolver projetos consistentes para grandes marcas”. Os equipamentos médicos “foi para não ir para o lay-off”, diz Paulo Reis. Mas acredita que “pelo menos durante um a dois anos vai ser negócio garantido”. Quanto ao futuro, “depende dos políticos”, que têm que criar regras que imponham requisitos de produção e de qualidade para “não deixarem as empresas expostas à concorrência direta com a Ásia se quiserem que a Europa não volte a ser apanhada nesta situação de dependência”. t


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CANDIDATURAS AO INOVAÇÃO PRODUTIVA COVID-19 ATÉ FIM DE MAIO Está aberto e decorre até ao dia 29 de maio o período para apresentação de candidaturas à medida Inovação Produtiva Covid-19, do Portugal 2020, que visa apoiar, com fundos não reembolsáveis, o investimento na produção de bens e serviços relevantes para o combate à pandemia do novo coronavírus. Podem candidatar-se empresas de todo o território nacional e são elegíveis todas as atividades económicas que visem a produção de bens e serviços relevantes para fazer face à Covid-19, incluindo vestuário, equipamento de proteção e as matérias-primas necessárias.

"As que mais me surpreenderam na procura de tecidos sustentáveis até foram as grandes marcas de fast fashion deste mundo" Paulo Ferreira CSO da Adalberto

SONAE CONFIRMA COMPRA DA TOTALIDADE DA SALSA A Sonae SGPS anunciou em comunicado à CMVM que adquiriu os restantes 50% da Salsa, marca portuguesa de jeans, a Filipe Vila Nova, passando a controlar a totalidade da empresa, cujos primeiros 50% tinha comprado em maio de 2016. O negócio, que o T Jornal tinha já noticiado em 26 de setembro do ano passado, aguarda agora pela aprovação da Autoridade da Concorrência. “A Sonae SGPS informa que a Wonder Investments SGPS comunicou ter exercido o direito contratual de venda à Sonae Fashion de 50% da IVN – Serviços Partilhados, sociedade que comercializa sob a marca Salsa”, refere o grupo em comunicado enviado à CMVM. Criada em 1994, a Salsa “é uma marca portuguesa de jeanswear de renome internacional, reconhecida pelo desenvolvimento de produtos inovadores e pelo seu espírito empreendedor. Sendo uma empresa verdadeiramente internacional, os seus produtos podem ser encontrados em 35 países e mais de 60% do seu volume de negócios tem origem em mercados internacionais”. Em 2019, a empresa registou vendas a clientes finais superiores a 200 milhões de euros, “obtendo níveis assinaláveis de rentabilidade e de geração de cash flow. Com esta transação, e na sequência da aquisição de 50% do capital

Na área da moda, a Sonae atingiu em 2019 um volume de negócios de 395 milhões de euros

ocorrida em 2016, a Sonae passa a deter a totalidade do capital da empresa”, conclui o comunicado. A nomeação, no início de 2019, de José António Ramos para CEO da Salsa foi o penúltimo passo para a Sonae assumir o controlo total da marca de denim. Filipe Vila Nova foi um dos três fundadores da Salsa. Em 2008, a família decidiu separar-se: Filipe comprou as posições dos irmãos e estes, Beatriz e António, ressuscitaram a Tiffosi. “Não tínhamos dimensão nem músculo financeiro para nos internacionalizarmos ao ritmo que ambicionamos”, afirmou Filipe Vila Nova em 2016,

explicando as razões para ter estabelecido a parceria com a Sonae com a venda de metade da Salsa. Na área da moda, a Sonae (de cujo portefólio constam marcas como a Zippy, Mo e Deeply, além da Salsa) atingiu no ano passado um volume de negócios próximo dos 395 milhões de euros, um aumento em termos homólogos de 4,9%. O EBITDA subjacente também seguiu uma tendência positiva, melhorando 5,8 milhões de euros em termos homólogos, atingindo 41,4 milhões no final de 2019, com uma margem de 10,5%, mais um ponto percentual face a 2018. t

ESCOLA MARIA MODISTA DEDICA-SE A FAZER COGULAS

PITTI BIMBO CONFIRMADA PARA O INÍCIO DE SETEMBRO

A escola de costura Maria Modista está a fabricar cogulas – uma espécie de um gorro que cobre a cabeça até à linha dos ombros – a partir de tecido impermeável cedido por profissionais de saúde. O pedido chegou através de uma enfermeira, uma das muitas alunas da escola, que enviou às professoras da instituição um tutorial sobre como produzir as cogulas, que protegem a zona do pescoço, coisa que as batas não conseguem fazer.

Face à evolução de emergência sanitária em Itália, a organização da Pitti Bimbo anunciou que a feira será adiada para o final do verão e num formato de apenas dois dias. Como sempre, terá lugar na Fortaleza de Basso, Florença, nos dias 9 e 10 de setembro, uma decisão assumida “depois de uma ampla recolha de opiniões de expositores, compradores, agentes e outros operadores económicos”, como explicou a organização.

12 milhões de euros foi o volume de vendas da Acatel no ano passado

SMART INOVATION REPOSICIONA SI BAC-PURE PARA OS TÊXTEIS A Smart Inovation, uma empresa que se dedica ao desenvolvimento de soluções de nanotecnologia com potencial de aplicação nas indústrias, quer reforçar a sua presença no mercado com o refresh de um dos seus principais produtos, o SI Bactericida. Os targets do produto, um dos mais comercializados pela empresa e agora chamado SI Bac- Pure - uma estratégia para o direcionar a um segmento mais sofisticado -, são os têxteis técnicos, em particular o sportswear, medicalwear e workwear.


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PAULA BORGES INOVA E CRIA MÁSCARA COM FILTRO DE CAFÉ

UNIFARDAS CRIA LOJA ONLINE PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE Como resposta à pandemia e para ajudar todos aqueles que se encontram na linha da frente na luta contra a doença, a Unifardas criou uma loja online onde os profissionais de saúde poderão adquirir roupa específica para a área hospitalar. “Ao longo destes anos a Unifardas ganhou um grande enfoque no sector Industrial. Contudo, com esta grande procura de vestuário hospitalar tivemos que nos adaptar e flexíbilizar para responder atempadamente e com qualidade às solicitações que nos chegam”, explicou a marca em comunicado.

"O objetivo não é atingir um nicho pequeno, queremos chegar a todo o público" Elsa Parente CEO da RDD

RIOPELE ATINGE NÍVEL MÁXIMO DE CERTIFICAÇÃO DA OEKO-TEX

Pensada para um mínimo de 50 utilizações, a máscara deve ser lavada diariamente e o filtro, que custa cerca de 2 cêntimos, substituído

Produzida em 100% algodão orgânico e totalmente livre de reagentes químicos, a máscara criada pela têxtil Paula Borges incorpora também um filtro de ar, que é substituível para que seja reutilizável de uma forma acessível a todos. A solução é um filtro de café, que é colocado num bolso interno e deve ser substituído todos os dias. A ideia tem sido testada pela empresa com sucesso e foi submetida a certificação pelo CITEVE. “Inventámos um sistema de filtragem de ar que consiste literalmente num filtro de café, porque é algo acessível a todos, muito barato, e que contribui para a proteção das pessoas”, explica Paulo Faria, diretor comercial da Paula Borges. A máscara está pensada para um círculo mínimo de 50 utilizações,

em que deve ser lavada diariamente e o filtro substituído. “Fizemos as contas e cada filtro custa cerca de 1,5 a 2 cêntimos, será esse o custo da substituição. Já vimos algumas com um sistema semelhante mas com lenços de papel. Com filtros de café penso que será único”, afirma Paulo Faria. A empresa prevê conseguir produzir entre 20 a 30 mil máscaras por semana, estando já a apresentar a novidade aos seus principais clientes. “Neste momento, as que temos produzido são com a marca própria, mas quando for certificada, podemos fazer em private label para os nossos clientes”, explica ainda, afastando apenas a hipótese de colocar estampados ou mudar as matérias-primas, de forma a manter o produto livre de químicos.t

CONTEXTILE 2020: BIENAL DE ARTE TÊXTIL BATE RECORDES São boas notícias no que à vertente artística do têxtil diz respeito. A Bienal de Arte Têxtil Contemporânea regressa a Guimarães, entre 5 de setembro e 25 de outubro, com a exposição de um total de 59 obras de 50 artistas de 29 países, selecionadas pelo júri entre 1150 obras apresentadas por 870 artistas de 65 países. Em comunicado, “a equipa da Contextile 2020 – Bienal de Arte Têxtil Contemporânea congratula-se, e agradece, aos 870 artistas (de 65 países) que propuseram cerca de 1150 obras de arte, respondendo à OpenCall (até 1 de Março) para a Exposição Internacional, dificultando a

tarefa do júri, devido à quantidade e qualidade geral das obras a concurso”. Os organizadores contabilizam um aumento de 40% na participação de artistas e obras, um novo recorde num crescendo que vem desde a edição de 2012, o que são muito boas notícias no contexto de pandemia em que todos nos encontramos, e um forte convite à visita a Guimarães, que definem como Território de Cultura Têxtil. Para esta edição, a Contextile 2020 convidou um júri multidisciplinar, composto por Lala de Dios (professora de História de Arte e do Têxtil e curadora), Janis Jefferies

(professora emérita de artes visuais e curadora), Rosa Godinho (artista plástica e têxtil), Jorge Costa (curador e diretor artístico do CAC Graça Morais), Cláudia Melo (diretora artística da Contextile 2020), que reuniram por videoconferência nos dias 3 e 7 de abril. O Prémio de Aquisição e as Menções Honrosas serão atribuídos no momento de Inauguração da Bienal, a 5 de setembro, em Guimarães. Também em setembro, serão atribuídos os prémios Aquisição ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, e Aquisição ASM – Associação Selectiva Moda. t

A associação internacional OEKO-TEX atribuiu à Riopele o raro nível máximo da certificação STeP by OEKO-TEX – Produção Têxtil Sustentável, que visa confirmar a implementação permanente de processos de produção respeitadores do ambiente, condições de trabalho seguras, saudáveis e socialmente aceitáveis. “A Riopele junta-se a um grupo restrito de empresas têxteis internacionais que atingiram a classificação de nível 3 (implementação exemplar das boas práticas)”, destaca a empresa.

TÊXTILOBO APOSTA EM EXPORTAR MÁSCARAS, DE ITÁLIA AOS EUA Foi das primeiras a certificar o novo modelo de máscaras segundo as regras do CITEVE e Infarmed, já está a produzir 20 a 30 mil por dia e as encomendas não param de chegar. A Têxtilobo está à espera da certificação de novos modelos reutilizáveis e prepara-se para exportar para mercados como Espanha, Itália, Alemanha e Estados Unidos, através dos seus clientes habituais da área da moda.

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milhões de euros foi a faturação da Coton Couleur no ano passado, mais 6% face ao exercício anterior

INÊS TORCATO REVELA ONLINE A COLEÇÃO ‘ESFERA’ A jovem designer Inês Torcato apresentou online a sua coleção AW 20/21, ‘Esfera’, marcada pelos tons pastel e pela diversidade de materiais. Depois de cancelado o desfile de apresentação no Portugal Fashion, Inês Torcato optou por revelar digitalmente esta ‘Esfera’, que conta a história “de uma sociedade onde a pluralidade do ser é tão plural e a diferença tão identificadora, que a pluralidade se torna unidade e faz com que esta esfera seja uma esfera perfeita: a sociedade”, explicou a designer.


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CONCRETO.PT TRICOTHIUS LDA.|LINHA APOIO AO CLIENTE: (+351) 253 850/1/6 | SALES.CONCRETO@TRICOTHIUS.PT


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X A MINHA EMPRESA Por: Cláudia Azevedo Lopes

B’Lovely - Kind and Happy, lda Rua Ernesto Alves nº16 2040-411 Rio Maior

O que faz? Roupa de bebé e criança de estilo mais clássico Mercados Reino Unido e Itália, mas começa a crescer na Alemanha e EUA Fornecedores Quando possível os nacionais, como a Somelos e a Vilarinho Clientes em Portugal El Corte Inglés Objetivo Consolidar e dar a conhecer a marca

DANIELA BARROS DOA 10% DAS VENDAS AOS MAIS CARENCIADOS O atelier Daniela Barros está a doar 10% do valor das vendas online da marca para o apoio aos mais carenciados. O dinheiro é canalizado para os sem-abrigo de Portugal e para a alimentação das famílias que estão a passar por dificuldades em época de pandemia. “Quando nos é pedido “fiquem em casa”, o nosso pensamento foi para aqueles que não têm casa, ou acesso limitado aos alimentos”, disse o atelier em comunicado, explicando assim os motivos por detrás deste gesto solidário.

"Somos a única empresa portuguesa que tem todas as certificações ambientais" Bruno Mineiro Administrador da Twintex

PARIS CANCELA FEIRAS PREVISTAS PARA JUNHO As federações francesas que representam os setores da moda, lingerie e banho decidiram cancelar todos os eventos agendados para o mês de junho em Paris. Feiras como Interfilière, Unique ou View, que podem ainda ser reagendadas para Setembro. As três federações justificam a decisão com o comprometimento com “a saúde, segurança e qualidade de serviço para as equipas, marcas e visitantes” e garantem que a atual crise de saúde pública mundial está mesmo a impossibilitar “a produção das novas coleções de muitas marcas”, o que também contribuiu para o cancelamento.

Recém-nascida que já dá cartas em Itália Quando em 2017 foi abordada por Florbela Santos para avançarem com uma marca de roupa infantil, a designer Cristina Ribeiro não era marinheira de primeira viagem. Antes pelo contrário, trazia consigo mais de 20 anos de experiência na moda infantil. Licenciada em Design de Moda pelo CITEM de Lisboa, onde teve como professores Mário Matos Ribeiro e Eduarda Abbondanza, começou a trabalhar para as marcas Abacate, Alcachofra e Pears. Após o nascimento dos três filhos, faz uma pausa de dez anos na carreira e regressa com um projeto próprio, a Teen Girls, uma loja de roupa para adolescentes. Mas depressa viu que o seu maior gosto eram as crianças e regressa à moda infantil com a marca da T’Chap, de gangas de bebé e criança. Mais tarde cria a Petit Point, loja que mantinha em Lisboa quando surgiu o desafio de Florbela Santos. Assim nascia a B’Lovely. Estávamos em 2017 e o ano que se seguiu foi gasto a desenvolver uma coleção que agradasse à criadora. Do desenho à escolha dos materiais e dos fornecedores, à procura pelos fabricantes e à demanda pelas bordadeiras e tricotadeiras capazes de trazer o requinte e o detalhe necessário às peças idealizadas. O conceito foi a primeira coisa a surgir. Ambas queriam uma marca de gama alta, 100% feita em Portugal com os melhores materiais e direcionada exclusivamente para a exportação, em especial para o Reino Unido. Até que o El Corte Inglês lhes trocou as voltas com uma proposta para fornecer a loja de Lisboa, que hoje representa cerca de 30% do volume de faturação da B’Lovely. Os restantes 70% são feitos na exportação. Reino Unido, Itália, Alemanha e Estados Unidos da

América são alguns dos mercados onde a B’Lovely marca presença. E mesmo que as terras de sua majestade tenham sido apontadas como o principal foco, os italianos surgem taco a taco como os clientes mais significativos. Para o grosso da produção, a marca conta com uma fábrica na região norte onde 40 pessoas dão vida aos desenhos de Cristina. Para os trabalhos mais pequenos são utilizados várias fábricas nos arredores de Lisboa, para além das artesãs que dão detalhe e luxo aos artigos. “Os smocks demoram uma eternidade a fazer. As malhinhas a mesma coisa. Tudo à mão. É constante a ida às costureiras. Ligam-me e dizem: Cristina, não sei como devo fazer este ou aquele pormenor e lá vou eu a correr”, relata. Um trabalho que compensa, apesar dos percalços que fizeram com que só em junho do ano passado a marca estivesse a laborar a 100%. Prova disso é o sucesso que a coleção faz nas feiras: em 2018, a B’Lovely foi convidada a participar nos desfiles da Pure London, e em 2019, na Pitti Bimbo, a Casting Bambini e a Vogue Kids Itália fizeram uma sessão fotográfica com os artigos da marca. Agora sozinha na liderança da marca – absorvida por outros projetos, Florbela Santos não pôde continuar – Cristina quer levar a B’Lovely para a frente. "O meu objetivo é crescer e consolidar a marca. Desenhar peças intemporais para crianças, como crianças que são. Mais que seguir uma moda, quero que as minhas peças tenham uma filosofia versátil e artesanal, permitindo que hoje sejam usadas pelo filho, amanhã pelo neto. Nesse sentido privilegio o uso de materiais sustentáveis de qualidade com texturas modernas e atuais, e a mão de obra e confeção portuguesa, que é inigualável", resume Cristina. t

CIP CRIA PÁGINA COM INFORMAÇÃO ÚTIL A TODAS AS EMPRESAS A CIP – Confederação Empresarial de Portugal passou a disponibilizar no seu portal uma página com informação útil a todas as empresas. Numa única página, a CIP reúne toda a informação relevante sobre a pandemia de Covid-19 com impacto nas empresas, para que empresários de todas as dimensões e setores possam perceber de que forma o seu negócio pode ser afetado, permitindo-lhes tomar decisões informadas.

68 milhões é a média de produção anual de etiquetas na Idepa

STAY HOME A DANÇAR O MOONWALK Criaram em 2017 a Sockapro, a primeira meia patenteada para segurar caneleiras dos futebolistas, mas agora que o jogo é outro e nos põe a todos no banco, António Patrício e Ricardo Tomaz decidiram desenvolver um novo par de meias unissexo, que além do incentivo Stay Home nos quer pôr a dançar o Moonwalk e mostram uma série de divertidos jogos e atividades caseiras que podem ser realizados de meias e com meias. Tudo para que nunca se aborreça de estar em casa.


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AGORA, A ZIPPY ESTÁ EM CASA

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A assinatura We Go Together, até agora o lema da marca portuguesa de roupa infantil Zippy, mudou para dar lugar à máxima We Stay Home Together, que agora acompanha a marca. “Adaptámos, temporariamente, o nosso logótipo. Esta é uma homenagem à resiliência das famílias portuguesas, a esse esforço comum. Agora, a Zippy está em casa”, explica a marca em comunicado.

FASHION FORWARD Por: Dolores Gouveia

A presente/futura nova ordem das coisas Ainda a viver num contexto em que temos dificuldade em aceitar como não ficção a atual ordem das coisas, e em que ainda não conhecemos a dimensão total do impacto desta pandemia, não é fácil perspetivar o futuro. A atividade de captar tendências envolve observar o passado próximo e o presente para compreender os sentimentos dos consumidores, as suas novas prioridades, potenciais comportamentos de consumo. “Eu adquiri todos aqueles hábitos novos”, diz o Capitão ao menino em “O Amor em Tempos de Cólera”, de Gabriel Garcia Marquez. Indiscutivelmente, as marcas têm que justificar a sua existência oferecendo não só narrativas e produtos honestos e sustentáveis, mas também, e especialmente hoje, artigos de têxtil e vestuário sintonizados com a nova ordem das coisas – trabalho/emprego, sociedade, economia – e com as emergentes necessidades das pessoas, designadamente itens que beneficiem o seu atual e futuro quotidia-

no – que corresponderá ao novo normal – e o seu bem-estar físico e emocional. E a espera (da quarentena) serve para aumentar o desejo. Conceitos como funcionalidade, durabilidade, versatilidade, intemporalidade, familiaridade e conforto apresentam- se como dos mais relevantes. Soft & Minimal é a designação de uma das orientações que destacámos para Primavera/ Verão 21 na última edição da MODtissimo. Tendência em que se valorizam as cores neutras e tranquilas, os materiais têxteis com uma estética contida e sensível em que as dimensões utilitarismo e comodidade se complementam. Se alguém tinha dúvidas da relevância deste movimento que privilegia abordagens minimalistas harmonizadas com os humanos, o cenário atual dilui qualquer desconfiança. Nesta linha, a THE ROW é uma marca luxuosa e conceptual, high end, a observar. As suas propostas são suportadas por uma visão

à margem do espaço das tendências sazonais, combinando materiais têxteis de qualidade excecional com formas de vestuário utilitárias, simples, mas rigorosamente construídas e que apresentam subtis e impecáveis detalhes. Um estilo clássico contemporâneo, sublime no que respeita ao conforto e à elegância, com soluções multifacetadas que servem o dia-a-dia, hoje e amanhã, no espaço urbano público, no escritório ou em casa. Na incerteza, a prioridade dos designers e das marcas deverá ser desenhar peças essenciais, funcionais, de contornos minimais e de tal forma versáteis que permitam aos consumidores construir distintos coordenados em função das suas necessidades e da sua identidade; na insegurança, o foco dos designers e das marcas deverá ser propor peças que confortam as pessoas física e emocionalmente; na crise, a missão dos designers e marcas deverá ser entregar peças sustentáveis e duradouras pelo justo valor. t

DAVID CATALÁN LANÇA NOVA LOJA ONLINE Com as lojas de portas fechadas, o jovem designer David Catalán aproveitou o momento para lançar a sua nova loja online, onde para além das coleções, vai partilhar outros conteúdos relacionados com a moda. “Já tínhamos uma outra página, mas estava alojada num mercado online que não nos permitia um controlo total. Agora criámos um website novo, de raiz”, conta Bruno Carvalho, o gestor de marketing da marca David Catalán e responsável pela plataforma davidcatalan.store.

Filippa K The Row RTW Fall 2020

Soft & Minimal MODtissimo 55

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FFFRIDAY LIVE: ÀS SEXTAS HÁ CONVERSA Uma série de conversas, em directo às sextas, ao final da tarde, no Instagram do festival @ portofff, onde são abordados temas como moda, comunicação, publicidade e fashion films é a mais recente iniciativa do Porto Fashion Film Festival. Arrancou com Fernando Nunes, Head Designer da Lion of Porches e Decenio, seguindo-se César Nunes (realizador e vencedor do Melhor Filme de Marca FFF6), Vera Deus (stylist & fashion consultant), José Pedro Sousa (realizador e júri de cinco edições do FFF), e Susana Coerver (CEO da FUEL, ex-Diretora de marketing e comunicação da Parfois).


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RACLAC INVESTE 23 MILHÕES NA NOVA FÁBRICA DE FAMALICÃO

FEIRAS ONLINE: UMA ALTERNATIVA EM TEMPOS DE ISOLAMENTO Prevendo-se que algumas feiras, nos meses mais próximos, possam vir a ser canceladas, as feiras online afirmam-se como uma alternativa em tempos de isolamento e projetos como a alemã Fairling são também abrangidos pelo apoio do From Portugal. “Apesar de ser online, continua a ser uma feira e a respeitar todos os critérios. Se contarmos com três empresas interessadas, podem ver os custos apoiados”, explica Manuel Serrão, CEO da Associação Selectiva Moda, organizadora do projecto From Portugal que apoia as empresas portuguesas nos certames além-fronteiras.

"O consumidor tem dificuldade em ver sustentabilidade se souber que o produto vem da Ásia" Rui Martins CEO da Inovafil

Por mês, as três linhas em de produção da Raclac poderão produzir cerca de 60 milhões de luvas descartáveis

Com um investimento de 23 milhões na sua fábrica de Famalicão e apanhada pela crise pandémica ainda em fase de instalação, a Raclac passa não só a ser a primeira da Europa, como lidera na tecnologia mundial em produção de luvas descartáveis. Um sistema de produção automatizado em ambiente controlado e inerte e onde toda a produção é, no final, analisada e inspecionada. “Somos a única fábrica no mundo com este sistema”, orgulha-se Pedro Costa, que destaca também o inovador sistema de packaging , reciclável e em ambiente estanque. “As luvas ficam sobrepostas para que os profissionais de saúde as retirem pelo punho uma a uma, de forma a que sejam usadas sem que tenham tido qualquer contacto ou contaminação”, explica o empresário. Uma primeira linha de produção está já

montada e na fase final de testes, estando programada a montagem de outras duas linhas que estarão em funcionamento até ao final do ano. “Cada linha vai produzir 1.600 luvas por minuto, funcionando 24 sobre 24 horas”, esclarece Pedro Costa, adiantando que a paragem prevista é apenas para trabalhos de manutenção. Duas semanas no total, uma consecutiva e mais uma manhã em cada mês. Contas feitas, se a cada minuto são produzidas 1.600 luvas, uma hora corresponde a 96 mil e nas 24 horas do dia atingem mais de 2,3 milhões. Ao mês serão mais de 60 milhões e no final de uma ano e com as três linhas em funcionamento a Raclac produzirá qualquer coisa como 207.360.000 luvas descartáveis. Para clientes que além dos sistemas hospitalares e de saúde, se alargam também à agricultura e empresas. t

TEMASA PRODUZ MATERIAL HOSPITALAR E AFASTA LAY-OFF A rápida reconversão da produção da Temasa – Têxtil do Marco, do vestuário para diversos tipos de material hospitalar “está a permitir manter a empresa a laborar e não colocar os seus 80 trabalhadores em lay-off”, explicou ao T Jornal o seu accionista e gestor, Andreas Falley, que comprou a unidade à Sonae em fevereiro passado. O processo de alteração da produção foi uma decisão que a Temasa tomou mal se apercebeu que a produção normal estava bloqueada, depois dos cancelamentos, alguns parciais, das encomendas, e da enorme redução de novos negócios.

A rapidez do processo esteve por trás do sucesso: “depois das reuniões com entidades hospitalares do distrito do Porto e de contactos com fornecedores, o CITEVE resolveu rapidamente a questão da certificação”, permitindo à Temasa proceder em tempo útil à alteração da produção. O lay-off foi por isso uma opção afastada do horizonte imediato da Temasa que, mesmo assim, mantém a produção de algumas das encomendas que não foram canceladas. Com uma faturação próxima dos seis milhões de euros, a Temasa – que tinha como

objetivo exportar 50% da sua produção a partir deste ano – “tem de ser prudente em termos dos resultados no final de 2020”, explicou Andreas Falley. Desde logo porque as exportações praticamente pararam e porque “o clima de incerteza é muito grande”. A perceção do final da pandemia é o elemento mais perturbador. “Acho que, quando as pessoas voltarem à rua, vão recomeçar a comprar”. Não será com certeza suficiente para recuperar a totalidade de ano, “mas sou um otimista por natureza”, o que leva o gestor a considerar que talvez o ano não venha a ser tão mau como alguns auguram. t

DAS CARTEIRAS PARA AS VISEIRAS, A RUFEL ESTÁ NA LUTA A marca portuguesa de carteiras e assessórios Rufel empenhou-se na produção de viseiras hospitalares para proteger todos os que estão na linha da frente na luta contra a Covid-19. Um desafio que foi aceite desde o primeiro momento com muita satisfação por toda a empresa, desde a administração até aos funcionários. “Um amigo tinha o material, falámos com alguns colaboradores que disseram logo que sim, foi muito bom sentir a boa vontade de todos”, dizem as administradoras Ivânia e Carina Santos.

30 milhões de euros foram investidos pela Riopele em maquinaria nos últimos seis anos

DUNE BLEUE LANÇA MEIA FEITA COM RESÍDUOS DE PLÁSTICOS

A Dune Bleue acaba de lançar uma meia feita com recurso a plásticos dos oceanos, uma parceria com o projeto Seaqual, que recolhe do mar detritos de plástico e os transforma em fio reciclado. De acordo com Ricardo Faria, CEO da empresa, a meia inovadora e sustentável “está a surpreender pela positiva com a qualidade”, e levou até o presidente da Câmara Municipal de Famalicão, Paulo Cunha, a visitar a empresa, em Cavalões, no âmbito do Roteiro pela Inovação.


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país vacilou e o têxtil disse presente! Num ápice, as empresas foram capazes de fazer a reconversão e voltar-se para a produção dos equipamentos de proteção fundamentais para o combate à Covid-19. Agora, os portugueses podem também encarar em segurança o lento regresso à atividade graças à produção massiva de máscaras de proteção. E também a Europa olha para a nossa ITV como fornecedor de proximidade. Mal se conheceu a primeira ordem de confinamento da cidade chinesa de Wuhan – num tempo que parece longínquo em que a Europa não sonhava com as consequências que aí vinham – o setor têxtil e do vestuário português reagiu de imediato. Vinda sobretudo da China, depressa a matéria-prima deixou de chegar às linhas de fábrica, a produção entrou em regime de ralanty e o consumo acomodou o primeiro embate antes de praticamente desaparecer. Na linha da frente das exportações há uma década, a ITV nacional estava assim na primeira linha das trincheiras, aquela que teria de acomodar o primeiro embate das consequências da pandemia. A primeira decisão da ITV – com a Associação Têxtil e do Vestuário de Portugal (ATP) em lugar preponderante – foi insistir em que o Governo legislasse no sentido de alterar as regras estabelecidas para o lay-off, na tentativa de abrigar as empresas do mais que previsível desastre em todas as frentes de negócio e, consequentemente, de impedir o que acabaria mais cedo ou mais tarde por redundar numa razia de postos de trabalho. Entretanto, já empresas e empresários se envolviam decididamente no apoio ao sistema de saúde no combate ao vírus. Em muitos casos de forma intuitiva e voluntariosa, mas fornecendo os necessários equipamentos para proteção àqueles que na linha da frente iam enfrentando as dificuldades. Um exemplo que o país (e as autoridades)

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devidamente sublinhou. Passada esta primeira e crucial fase – sem a qual tudo o resto seria acessório – o setor, puxando dos galões da dinâmica e inovação com que foi sendo reconhecido no mundo inteiro, descobriu um nicho de negócio que permitiu reacender a chama da indústria: a produção de equipamento de proteção individual, nomeadamente de máscaras sociais. Munindo-se de todo o ‘armamento’ necessário – a concordância da Direção-Geral da Saúde e do Infarmed e a certificação científica do CITEVE – enveredou pela produção deste tipo de artefactos, dando mostras de assinalável capacidade de resposta e de mobilidade produtiva. Com certeza que a alternativa à produção tradicional

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não pode chegar a todas as fábricas do setor – muitas delas tendo que manter-se fechadas à espera do dia (que não será por certo muito próximo) em que os clientes voltem a bater-lhes à porta. Mas, as que puderam empreender a reconversão estão a fazer bem mais que salvar-se a si próprias: a produção de equipamentos de proteção individual foi (está a ser) de grande importância para para as mulheres e os homens que combatem a pandemia, mas a produção maciça de máscaras sociais é aquilo que vai servir de esteio à reabertura da economia, que todos os governos europeus sem exceção estão a tentar. Ou mais propriamente a testar, a cada dia retirando ensinamenos para o dia seguinte.

Numa fase em que o mundo tem absoluta urgência de regressar ao trabalho – sob pena de os sobreviventes morrerem da cura – a importância da dinâmica imprimida pela ITV parece inquestionável, tendo inclusivamente sido replicada noutros setores. Não ficar à espera da Ásia

Desde o início da crise que o país confiou na ação dos empresários e das empresas têxteis como condição fundamental para o sucesso nas medidas de combate à pandemia. E basta um breve olhar retrospectivo para o perceber. O país não podia ficar à espera nem dependente da incerteza dos envios da Ásia, fundamentalmente da China, e, ainda antes de o Governo – primeiro ministro acompa-

O TÊXTIL NO CENTRO DE TODAS AS DECISÕES Por: António Freitas de Sousa

O primeiro-ministro, António Costa, e o ministro da economia, Pedro Siza Vieira, deslocaram-se ao CITEVE

nhado dos ministros da Economia e de Ciência - ter vindo ao CITEVE para conhecer o que estava a ser feito para a produção massiva de EPI, já o setor se mobilizara. A ATP, em colaboração com o centro tecnológico, assumia a responsabilidade de dar resposta às solicitações da Direção Geral de Saúde em termos de fornecimento de equipamentos. Lança um apelo às empresas que possam e queiram colaborar, e a resposta foi massiva. Muitas estavam já a fazê-lo de forma inorgânica e voluntariosa, pelo que houve que organizar e coordenar a tarefa. Da leitura das atas das primeiras reuniões da Estrutura de Monotorização criada pelo Governo percebe-se como o têxtil esteve no centro de todas as decisões do estado de emergência. Os EPI eram centrais e a resposta das empresas e empresários têxteis permitia respirar de alívio. Se alguma algum ensinamento o país vier a retirar daqueles dias de aflição, é seguramente o da importância de um sector têxtil forte, coeso e dinâmico. Por força da iniciativa, esforço e capacidade resiliente de empresas e empresários, Portugal hoje é praticamente o único país da Europa que resiste com indústria e capacidade de produção têxtil. É isto que está a permitir aos portugueses dar passos seguros num plano para o lento regresso que permita à economia fazer o caminho para a normalidade. Com as máscaras e outros equipamentos de proteção assegurados pela nossa indústria têxtil. E é também por isso que a Europa olha agora para nós como um fornecedor capaz e credível para ajudar os seus 515 milhões de habitantes a sair do desconfinamento. Quanto ao futuro, tudo o que é possível afirmar-se é que não será fácil. Os mais otimistas afirmam que a recuperação será em ‘V’, ou seja, depois da forte quebra virá uma forte recuperação. Nem todos os analistas convergem para este ponto, até pelo forte impacto da crise em termos do trabalho, o que invariavelmente implicará um acentuado arrefecimento do consumo. Mais uma vez, a ITV estará nessa frente de batalha e pronta para os novos rumos que Portugal e a Europa queiram assumir. Mas, como pode observar-se pelas respostas ao lado, é bem capaz de não ser displicente afirmar-se que a ITV nacional sobreviveu ao pior da crise da Covid-19 com distinção. t


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Combate à Covid-19: da reação á certificação

“O setor deu um “Quando demos conta forte contributo para tínhamos 400 empresas salvar a economia” a querer colaborar” Mário Jorge Machado, Presidente da ATP, destaca o papel do Ministro da Economia, “que tem estado muito bem”

Braz Costa, Diretor geral do CITEVE, diz que “houve sempre uma grande colaboração” por parte do Governo e organismos públicos

a juntarem-se ao grupo que já estava connosco. E aí chegamos às 400 empresas. E depois fomos passando de umas coisas para as outras. Resolvendo a questão das matérias-primas para os EPI, depois a questão das máscaras. Depois a questão de não haver ainda uma especificação para as máscaras de utilização comunitária...

Como observa a forma como o setor têxtil respondeu à pandemia?

Em dois planos distintos. Um deles pouco conversado. Houve muitas empresas que fizeram imensos donativos ao Sistema Nacional de Saúde e a uma série de instituições de assistência social, lares de terceira idade e hospitais. Foram donativos imensos: o setor mostrou uma gigantesca capacidade de doar, ou seja, de apoiar de forma desinteressada os cidadãos do país. Por outro lado, uma série de empresas percebeu rapidamente a nessecidade enorme que havia de equipamento de proteção individual – nomeadamente com o recurso aos tecidos não tecidos, garantia de qualidade neste particular – e houve muitas empresas que se transformaram para dar resposta imediata. Em terceiro lugar, muitas empresas começaram a produzir máscaras comunitárias, cumprindo as normas do CITEVE, do Infarmed e da Direção-Geral de Saúde. Houve todo um processo de adaptação de algumas centenas de empresas têxteis a esta nova realidade, o que demonstra uma capacidade de resposta que vale sempre a pena identificar. Será essa transformação a chave para a recuperação?

Não, não podemos chegar tão longe. É uma gota no oceano que é o setor – mas, por muito gota que seja, é pior que o deserto que se ia instalando. É um pouco na ótica de que, quando todos choram, o melhor é vender lenços! O setor têxtil, quer na economia portuguesa quer na economia europeia, teve a

oportunidade de permitir que as pessoas regressem ao trabalho de uma forma mais segura, contribuindo em larga medida para que a economia comece a funcionar. Neste aspeto, a produção das máscaras comunitárias revelou-se uma aposta muito interessante e socialmente muito capaz. O setor deu um contributo muito importante, em todo o espaço europeu, para salvar a economia. De outra forma, as empresas continuariam paradas, sem capacidade para voltar à produção. A forma como o setor colocou a questão da flexibilização do lay-off também é relevante.

Desde o início estivemos em diálogo com o Ministério da Economia para tentar criar um lay-off que se ajustasse àquilo que nós sabemos que é a realidade das empresas. O Ministério tinha em mente um lay-off que não alcançava quase nenhuma empresa. A pressão da ATP foi importante?

Há que realçar também o papel da CIP. Mas nós, ATP, em conjunto com a CIP, conseguimos fazer ver ao Ministério da Economia e ao Ministério do Trabalho que as medidas inicialmente propostas ficavam muito aquém do

que são as necessidades da economia. Os ministérios perceberam que precisavam de emendar aquilo que iam promulgar. O timing era muito difícil.

Exato, temos de admitir que as coisas aconteceram muito depressa e ninguém estava preparado. Mas tenho de reconhecer que, da parte de vários elementos do Governo, houve uma grande preocupação. E no caso mais particular do ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, tem estado muito bem: muito focado, procurando sempre no interior do governo encontrar consensos, onde se podia encontrar alguma desconfiança em relação a atribuir dinheiro às empresas. Há sempre o estígma de que os empresários vão abusar. Felizmente que o Governo deu mostras de abertura para ir corrigindo a situação. Atualmente, só não existem centenas de milhares de pessoas em situação de desemprego graças ao lay-off . No início do debate, tinhamos isso muito presente: esta é a lei que vai salvar empregos, foi assim que a ATP adjetivou a lei desde o primeiro momento. Foi também isso que o governo entendeu e que as pessoas genericamente perceberam. t

Como é que o CITEVE começou a desenhar esta operação Covid-19?

No inicio, a preocupação foi encontrar matérias-primas fabricadas em Portugal para fazer estes produtos. Partimos praticamente do zero. Para roupa hospitalar Portugal era mais que competente e muito experiênte, mas nos EPI [Equipamentos de Proteção Individual] e nas máscaras não tinha nenhuma. Portanto, nessas duas semanas iniciais isto foi um exemplo de inovação GT. Porque todos trabalharam bem e encontraram soluções rápidas. Que planos foram inicialmente traçados?

Aconteceram duas coisas em simultâneo. Por parte das empresas do setor, numa atitude voluntarista, que disseram: temos que ajudar neste problema, oferecer batas, cogulas etc., mas não percebemos nada disto e precisamos que nos ajudem. Percebemos que tínhamos de ajudar a explicar o que é que deve ter uma peça destas, mas logo vimos que iam ter problemas em arranjar matérias-primas. Ora, como vimos que ia haver problemas de aprovisionamento, iniciámos o trabalho de identificação de fontes de matéria-prima alternativa. O segundo impulso é quando a comunicação social começou a falar

sobre isto, houve também empresas que nos começaram a contactar também do lado das matérias-primas. Ou seja, foram-se avolumando vontades. Foi isso?

Foi esse trabalho de melhoramento, na confeção e nas matérias-primas. Nós também tivemos que montar as novas técnicas de laboratório, não era uma área que nós trabalhássemos. Conhecíamos os referenciais normativos, sabíamos do que estávamos a tratar mas nem sequer tínhamos equipamento. Porque não havia clientes para testes ou ensaios. Portanto, também fomos fazendo o nosso trabalho dentro de casa e as coisas foram-se avolumando. Quando demos conta tínhamos 400 empresas nas fileiras a dizer sim, nós queremos colaborar. Mas depois da ajuda, do apoio à linha da frente, vem a produção industrial?

Cada vez mais as empresas foram mudando de uma atitude voluntarista, a dizer queremos oferecer, e começaram a perceber que isto poderia ser uma oportunidade de negócio. E é numa altura em que tínhamos marcado uma videoconferência, inicialmente com umas 50 empresas, que a ATP, que estava por dentro daquilo que estávamos a fazer, exortou as empresas

E quando é que o Governo, as autoridades de saúde, entram no processo?

Desde a primeira hora, quando começámos a trabalhar nisto, que por parte do Governo tivemos contactos com o Infarmed... E de onde partiu a iniciativa para esses contactos?

Por um lado, o ministério da economia sabia do que estávamos a fazer, e em segundo lugar nós tínhamos que ser reconhecidos pelo Infarmed e houve uma colaboração por parte dos ministérios da Economia e da Saúde. Eu diria que no trabalho de colaboração entre o CITEVE e esses dois ministérios – aqui e acolá o Ministério da Ciência e Tecnologia também se juntou – houve sempre uma colaboração grande. E em que consiste esse apoio das autoridades?

Há três pessoas, uma do CITEVE, outra do Infarmed e outra da Secretaria de Estado da Economia, que estão todos os dias em contacto. Houve dias em que era manhã, tarde, noite ou qualquer hora da madrugada. Mas também muitas outras entidades como Direção Geral da Saúde, ASAE ou IPQ. Houve uma grande mobilização por parte do Governo e não nos podemos queixar de nada em termos falta de suporte para desenvolvermos o nosso trabalho. Bem pelo contrário. t


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PERIS COSTUMES: DE LISBOA PARA OS ECRÃS DE TODO O MUNDO Era uma vez um atelier de costura em Lisboa que fazia os fatos para as mais conhecidas séries e filmes de Hollywood, da magia do universo do filme Maléfica às sujas ruas de Birmingham da série Peaky Blinders. Estamos a falar da espanhola Peris Costumes, uma das empresas de figurinos mais conceituadas do mundo, que em 2016 fixou uma sucursal em Portugal num complexo industrial na zona oriental de Lisboa que hoje acolhe mais de cinco milhões de peças.

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"Os reciclados e os orgânicos são produtos que têm que estar sempre em qualquer coleção" António Pinho Administrador da Trimalhas

T JORNAL TRIPLICA VISITAS NO SITE E PARTILHAS NAS REDES SOCIAIS Ao longo de vários dias consecutivos, o site do T Jornal registou o triplo de visitas e partilhas. Números motivados pela cobertura noticiosa em redor da Covid-19 e do desafio inédito que colocou, não só à indústria mas a toda a sociedade. E foram os bons exemplos da indústria têxtil portuguesa que suscitam maior interesse entre os leitores. Os casos da Sonix, que começou a fabricar máscaras e gel desinfetante, ou da Lasa, que doou têxteis para cuidados hospitalares, são algumas das notícias mais lidas no site do T Jornal e mais partilhadas e comentadas nas redes sociais.

ENDUTEX DOA 50 MIL EUROS AO HOSPITAL DE GUIMARÃES Foi “em nome de todos os trabalhadores” e no âmbito da responsabilidade social da empresa, que o grupo têxtil Endutex decidiu doar 50 mil euros ao Hospital de Guimarães. “Os seus briosos profissionais sabem das necessidades para a sua melhor aplicação”, disse o administrador Vítor Abreu. “Era impossível não percebermos os tempos dramáticos que estamos a atravessar, que espero sejamos capazes de ultrapassar rapidamente. Por isso, os acionistas aceitaram fazer esta doação”, explicou o líder do grupo à Rádio Santiago, frisando tratar-se de uma iniciativa no âmbito do “sentido de responsabilidade social que as empresas têm de ter”. Mantendo-se a trabalhar em pleno e dentro das regras de contenção definidas pelas autoridades de saúde, Vitor Abreu explicou ainda que a ideia surgiu depois de ter sentido por parte dos trabalhadores essa vontade de ajudar, e foi interpretando esse sentimento que a Endutex avançou com a iniciativa da doação. “Neste ano em que atingimos orgulhosamente 50 anos de existência e em nome de todos os trabalhadores, os acionistas da Endutex resolveram fazer a doação ao hospital tentando com isso ajudar

O grupo Endutex, liderado por Vítor Abreu, emprega 600 pessoas e exporta mais de 80% do que produz

e minorar as consequências dramáticas dos tempos difíceis que estamos a atravessar”, completou. Especializado em têxteis técnicos, o grupo Endutex foi fundado em 1970, tem instalações industriais em Portugal (Santo Tirso) e Brasil, emprega mais

de 600 pessoas e exporta mais de 80% daquilo que produz. A par da operação têxtil, a holding do grupo, que gera receitas de mais de 100 milhões de euros, concentra também todas as participações sociais das áreas de hotelaria (Hoteis Moov) e imobiliária. t

ANIL APONTA JÁ À PRÓXIMA ESTAÇÃO E QUER APOIO DO GOVERNO Com as coleções outono/inverno em armazém, por impossibilidade de entrega ou cancelamento de encomendas, a ANIL entende que é preciso olhar já para a próxima estação. Para isso a indústria vai precisar do apoio do Governo para a aquisição de matérias-primas. “A coleção outono/inverno não foi entregue. Esta estação já desapareceu, os armazéns estão lotados com excesso de stock. Se não vendi esta estação, como vou comprar matéria-prima para a seguinte? Há apoios do Estado de que a indústria

vai necessitar”, expõe o presidente da ANIL, José Robalo. Com uma produção quase na totalidade destinada aos mercados externos, o líder da Associação Nacional de Industriais de Lanifícios explica que as empresas não conseguiram entregar os tecidos porque os clientes foram fechando portas nos vários países, quer as confeções, quer as lojas. “O impacto faz-se sentir desde fevereiro, altura em que algumas empresas começaram a notar dificuldades no abastecimento da lã, uma vez que a maioria é proveniente da Austrália,

mas a sua lavagem é feita na China”, diz ainda José Robalo para explicar a sucessão de acontecimentos. Seguiu-se “uma redução drástica nas encomendas, que é geral”, devido à incerteza que se vive. “As encomendas começaram a ser anuladas, suspensas ou adiadas”, conclui o presidente da ANIL. Com a coleção outono/inverno já sem solução, é por isso urgente avançar para a próxima. Com a receita perdida, as empresas necessitam de adquirir matéria-prima e José Robalo é taxativo: “Há apoios do Estado de que a indústria vai necessitar”. t

MODATEX LANÇA PLATAFORMA DE FORMAÇÃO À DISTÂNCIA Face a esta nova realidade que o país e o mundo atravessam e adaptando desde já o centro às tendências do futuro, o Modatex – Centro de Formação Profissional da Indústria Têxtil, Vestuário, Confeção e Lanifícios – passou a disponibilizar uma plataforma digital especializada em formação à distância, tendo programado um ambicioso plano de formação em áreas tecnológicas do setor têxtil e do vestuário, com seis ações de participação gratuita. Para José Manuel de Castro, diretor do Modatex, “a formação à distância é uma realidade inquestionável. O desenvolvimento de competências é uma necessidade contínua de todos os intervenientes do setor têxtil e vestuário. E nós, enquanto atores incontornáveis no setor da formação na área da ITV, temos que ter a capacidade de antecipar necessidades e de responder em consonância com a dimensão do desafio que nos é colocado. E é neste contexto que surge a nova plataforma de ensino à distância. Um instrumento fundamental no presente e no futuro da formação”. As formações arrancaram com a ação de Styling Pessoal – 1 o olhar, Materiais Têxteis e Caraterísticas dos Tecidos, seguida pelas ações de Princípios Básicos de Modelação, Segurança no Laboratório, e Princípios Básicos de Modelação – Como tirar medidas no corpo. t


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quality impact arquitetura e soluções de espaços

Rua do Cruzeiro, 170 R/C | 4620-404 Nespereira - Lousada T. 255 815 384 / 385 | F. 255 815 386 | E. geral@qualityimpact.pt


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a MUNDO VERDE

dos microplásticos libertados nos oceanos vêm das lavagens residenciais

"Se toda a gente usar reciclado, onde está o virgem para reciclar?" Carlos Oliveira Diretor-geral da Trevira Portugal

O “UPSIDE DOWN” DE BENEDITA FORMOSINHO

Amélia Rute Santos Professora do departamento de Química da Universidade da Beira Interior

HÁ TANTO A FAZER No final do ano passado foi divulgado um relatório da ONU, feito por cientistas independentes eleitos pelo secretário-geral António Guterres, sobre Desenvolvimento Sustentável para 2019, que coloca Portugal em 26o lugar de um total de 162 países analisados. Esse relatório avalia o desempenho daqueles países nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) adoptados na Agenda 2030. O estudo considera que Portugal apresenta um bom desempenho a nível de Energias Renováveis e Acessíveis, assim como na Saúde de Qualidade, Trabalho Digno e Crescimento Económico, e Cidades e Comunidades Sustentáveis, mas apresenta ainda grandes desafios na Erradicação da Pobreza e da Fome, na Produção e Consumo Sustentáveis, na Ação Climática, e na Proteção da Vida Marinha. É curioso verificar que Portugal tem tido um desempenho negativo no objetivo da Ação Climática, que consiste em adoptar medidas urgentes para combater as alterações climáticas nas políticas, estratégias e planeamentos nacionais. O objetivo da Produção e Consumo Sustentáveis também não está a ser cumprido no nosso país. É de realçar que a Ação Climática é avaliada pela emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, não só na produção nacional (seja em produtos produzidos e utilizados no país, ou exportados), mas também, e muito importante, nos produtos importados. É nestes dois pontos que Portugal se parece com os outros países da Europa; isto é, a Europa há muito que produz de forma controlada a nível de emissões poluentes, sejam elas gasosas líquidas ou sólidas, obrigando-se, e bem, a cumprir regulamentos rigorosos a nível de matérias-primas, auxiliares e métodos de produção, como o regulamento REACH, ou a nível de saúde e segurança no trabalho, com diretivas-quadro como a Diretiva 89/391/CEE e diversas normas europeias. Assim, no que diz respeito à produção na Europa de bens para consumo interno ou para exportação, tem havido um grande esforço para melhorar as práticas sociais, energéticas e ambientais. O grande problema é o consumo, mais precisamente, o consumo excessivo, e o consumo de bens importados de países que não cumprem nenhumas das regras sociais e ambientais que a Europa se autoimpõe (este último ponto é de grande relevância, e merece maior reflexão). Os países mais desenvolvidos necessitam de transformações nas suas dinâmicas de consumo. É necessário combater o desperdício alimentar (segundo o relatório da Agência das Nações Unidas para a Alimentação, por ano, um terço de todos os alimentos produzidos desperdiçam-se), limitar o uso de combustíveis fósseis e plástico, e criar incentivos ao investimento público e privado alinhado com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, mas não é possível reduzir o consumo com legislação. Há que apostar na mudança de comportamentos e atitudes. Claro que há alguns casos em pode ser mais sustentável importar artigos que são produzidos no seu contexto ambiental, mesmo incorrendo numa maior pegada de carbono, mas chegamos a uma sociedade onde as cadeias de produção de materiais de consumo nos parecem irracionais. Uma peça de roupa produzida no outro lado do mundo é-nos apresentada mais barata do que uma outra igual, produzida cá; um par de calças é mais viajado do que nós. É concensual que a ciência e a política devem assumir papéis mais relevantes para a transformação da relação humana com a natureza, em algumas áreas particularmente disfuncionais, como o uso de recursos naturais, o sistema alimentar, a produção e o consumo, a sustentabilidade das cidades e o apoio às zonas de menor densidade populacional ou a sensibilização para as diferenças norte-sul, mas é fundamental investir em campanhas de sensibilização junto das famílias e dos consumidores. Será tão difícil convencer as pessoas de que é muito melhor ter um sobretudo de alta qualidade de pura lã, do que ter quatro ou cinco casacos de poliéster? t

Já está disponível para venda online a nova coleção da portuguesa Benedita Formosinho, que apenas utiliza materiais orgânicos ou reciclados na confeção das suas peças e assume uma grande responsabilidade sobre os seus recursos humanos. A coleção SS chama-se “Upside Down” e fica marcada por um estilo fresco, leve e ultra-feminino, em tons neutros – como o branco, beije e cru – e materiais suaves como o linho ou o algodão orgânico.

H&M FOUNDATION PREMEIA MODA SUSTENTÁVEL A H&M Foundation selecionou cinco projetos como vencedores da Global Change Awards, uma espécie de Prémio Nobel para a moda sustentável, depois de ter recebido 5.893 candidaturas de 175 países. Ads by Teads (Brasil e EUA), Feature Fibres (EUA), Tracing Threads (Índia), Zero Sludge (EUA) e Airwear (França), foram os selecionados, e serão no conjunto apoiados com um milhão de euros.

"Portugal só é competitivo se estiver focado em artigos técnicos sustentáveis" Maria de Belém Machado Administradora da SMBM

O LUGAR AO SOL DA ECONOMIA CICULAR DA HEY SOLEIL A portuguesa Hey Soleil lançou o projeto “SunUp”, que incentiva as clientes a devolver peças da coleção anterior em troca de um desconto de 30%. Tudo isto em nome da economia circular, uma vez que estas peças serão posteriormente doadas ou vendidas a preços low cost. Promotora de um estilo infantil sem género, a recém criada Hey Soleil aposta ainda em formas e padrões coloridos o que, de acordo com João Silva, responsável de marketing da marca “facilita também a circulação e herança das peças entre amigos e familiares”.


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X DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes

Concreto

www.concreto.pt

Ano de lançamento 2020 Marca Concreto, do grupo Valérius Produtos Moda feminina made in Portugal Características Peças que aliam qualidade, conforto e elegância Lojas Para além da loja online, a Concreto está presente em 400 lojas multimarca, em vários países

FUTURO DA FAMILITEX ESTÁ NO SUSTENTÁVEL, TÉCNICO E DESPORTO As malhas sustentáveis, técnicas e para desporto são os segmentos em que a Familitex aposta estrategicamente para continuar a crescer e evitar a contínua erosão das margens com que trabalha. “O nosso foco não está na quantidade mas sim nos produtos diferenciados e de qualidade. Não queremos pagar para trabalhar. É preciso ter rentabilidade”, afirma Afonso Barbosa, 48 anos, fundador e sócio gerente desta empresa de Barcelos que está a comemorar o 20º aniversário.

"Tivemos que nos certificar com GOTS. Há clientes que só querem mesmo produtos feitos com algodão biológico" Fernando Dias Presidente do CA da B. Sousa Dias

Uma janela aberta ao mundo Diz o ditado que quando a vida nos fecha uma porta, abre-nos uma janela. Ora pois, neste caso a bela sabedoria popular não podia estar mais acertada: com a pandemia a fechar as portas das lojas pelo país fora, eis que se abrem as janelas nos browsers nos computadores que dão acesso a todo um mundo de oportunidades e desafios. E, continuando nos ditados populares, este é um caso mais do que claro de que quando a vida nos dá limões, devemos fazer limonada. Foi o que fez a Concreto, a marca de moda feminina do grupo Valérius, que no início de abril inaugurou a sua loja online, um projeto que já estava preparado desde o final do ano passado e que surgiu devido à procura imensa que a marca tinha no mundo digital. “Tínhamos de dar resposta a todas as solicitações que recebemos pelas redes sociais. Numa primeira fase redirecionávamos os interessados para a loja mais próxima, mas muitos dos nossos parceiros depois não davam continuidade ao contacto e eles voltavam para cá... Não podíamos seguir de olhos fechados e ficar de fora desta oportunidade!”, explica Teresa Marques Pereira, a General Manager da Concreto. Estava assim dado mais um passo na estratégia de internacionalização da marca, que teve início há três anos e que começou com a presença em feiras internacionais e em lojas multimarca, e que se tem vindo a revelar muito bem-sucedida, com o peso dos mercados externos a passar de 20 para 70% da faturação. Um processo a que a loja online – em português, francês, inglês

e espanhol – vem dar continuidade. “Afinal, o mercado é o mundo, não?”, atira Teresa Marques Pereira. Direcionada para “todas as mulheres com bom gosto, que privilegiam qualidade, conforto, qualidade a preços justos”, esta loja online pretende não só conquistar novos clientes como também aumentar o engagement junto do consumidor final, seja ele nacional ou internacional. Até porque o B2B continua a ser o core da marca. Nesta fase inicial, a Concreto quer aumentar uns 5% nas vendas, mas deverá zarpar até aos 15% quando entrar em velocidade de cruzeiro com este novo projeto, que marca também uma mudança na estratégia de comercialização com o fim das coleções semestrais. “A coleção de verão 2020 foi a última coleção a seis meses da Concreto. Ainda não tenho bola de cristal para saber o que os meus clientes querem ou precisam daqui a seis meses, por isso vamos atuar mais em see now, buy now. A coleção vai ser dividida, vamos apostar nas coleções cápsula e trabalhar em pronto moda programado, com entregas faseadas, aliviando assim a pressão no retalho”, revela Teresa Marques Pereira. Apesar de ainda ser cedo para avaliações, a verdade é que esta recém-nascida tem contado com muitas visitas e está inclusive a oferecer os portes de entrega em todas as encomendas nestes tempos em que o online é o único meio para o consumo. Depois, é só experimentar as peças no provador mais confortável do mundo: a sua casa. t

AICEP PROMOVE NOVA RONDA DE WEBINARS GRATUITOS

BARATA GARCIA AGRADECE COM BATAS AOS SUPER-HERÓIS

As grandes mudanças que a epidemia trouxe ao mundo dos negócios foram o tema central da ronda de webinars gratuitos lançados pela AICEP, que decorreram entre os dias 20 e 27 de abril. A afirmação do comércio electrónico, a análise da crise em diferentes setores e as novas tecnologias que se afirmam durante a pandemia foram os tópicos pensados para ajudar empresas e empresários a se adaptarem à nova realidade.

“Porque os super-heróis existem. Obrigado”. Esta é a mensagem que a Barata Garcia imprimiu nas batas que ofereceu aos hospitais de Barcelos e Famalicão, depois de ter alocado a sua linha de produção ao fabrico de batas e máscaras de proteção. “Esta não é normalmente a área em que trabalhamos, mas na atual conjuntura, não podíamos ficar indiferentes”, diz Sandra Vilaça, responsável pela comunicação da empresa.

36,3

milhões de quilómetros de fio são produzidos anualmente na Fiação da Graça

AMBITIOUS LANÇA PRIMEIRA COLEÇÃO DE VESTUÁRIO

A marca portuguesa Ambitious, que já havia lançado uma linha de calçado, apresenta agora a Call me, a sua primeira coleção de vestuário, que explora o lado divertido dos anos 90 num jogo de tecidos estampados e patches coloridos. Enaltecendo a identidade streetwear/sportswear da marca, a coleção apresenta silhuetas confortáveis do skinny ao oversized, privilegiando os materiais puros como o algodão.


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X O MEU PRODUTO Por: António Moreira Gonçalves

Máscara Protect 1

Desenvolvida pela Tintex e pela Daily Day

O que é? Máscara sustentável reutilizável e produzida numa só camada Para que serve? É indicada para o uso comunitário, podendo ser utilizada em espaços como supermercados ou transportes públicos Estado do projeto? Certificada pelo CITEVE e já disponível no mercado

FUNDADORES DA SMARTEX NA LISTA DOS SUB-30 DA FORBES É o ranking dos jovens mais promissores a nível global e entre os dez portugueses este ano nomeados está o trio de fundadores da Smartex, a startup com origem em Barcelos que quer acabar com os defeitos em todos os tecidos e assim poupar milhões à indústria têxtil. A lista, da responsabilidade da revista norte-americana Forbes, destaca que o projeto que está a ser desenvolvido por António Rocha, Gilberto Loureiro e Paulo Ribeiro pode ajudar em muito a indústria têxtil a tornar-se mais sustentável ao recorrer à Inteligência Artificial para eliminar as produções com defeitos.

5 mil

peças por dia é a capacidade e produção da Clothius

ISABEL FURTADO PEDE AO GOVERNO MEDIDAS COM VISÃO ESTRATÉGICA

FOTO:SUSANA MACHADO

Vice-presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal e administradora da TMG Automotive, Isabel Furtado pede ao Governo que adote medidas que tenham em conta os efeitos da Covid-19 no futuro. Face ao cenário de uma paragem industrial prolongada e a tentação de acorrer ao imediato de forma impulsiva, é preciso hierarquizar prioridades e ter uma visão estratégica, alerta a também presidente da Cotec. Foi numa entrevista alargada ao Dinheiro Vivo do Jn que a líder da TMG Automotive deixa vários alertas, tendo em vista a recuperação da indústria e a retoma da economia, uma vez superado o combate à Covid-19.

Máscara em 100% algodão biodegradável Foi uma das primeiras máscaras sociais a serem certificadas pelo CITEVE e é um exemplo da resposta rápida e versátil que a indústria têxtil portuguesa está a dar ao novo paradigma. Em poucas semanas, a Tintex e a marca Daily Day, do grupo LaGofra, criaram uma máscara individual, com uma só camada, que para além de cumprir as especificações técnicas da Direcção-Geral de Saúde, é sustentável e procura afirmar-se até como um elemento moda. O projecto arrancou com o abalo da epidemia. Com o comércio de portas fechadas e as populações em confinamento, Tintex e Daily Day viram a sua atividade descer de forma acentuada. No entanto, à primeira chamada para a produção de equipamentos de proteção individual (EPI), a resposta foi automática: “Quando percebemos que iriam existir orientações técnicas para a produção de máscaras, colocámos logo mãos à obra”, conta Filipe Prata, diretor-geral da marca de vestuário Daily Day. “Já tínhamos visto algumas máscaras a surgirem no mercado, mas produzir sem certificação não faria qualquer sentido ”, acrescenta Ricardo Silva, Head of Operations da Tintex. Do catálogo da Tintex foi selecionada uma malha 100% algodão, com estrutura interlock e capaz de garantir um elevado nível de respirabilidade e retenção de partículas. “Procuramos manter o foco nos materiais naturais, porque temos também de começar a pensar no fim de vida das máscaras. O 100% algodão é biodegradável e neste artigo temos ainda uma certificação, a Bluesign, que é a mais exigente do mundo na gestão de químicos”, destaca Ricardo Silva. A partir da malha da Tintex – já certificada pelo

CITEVE para a produção de máscaras – a Daily Day confecionou o modelo Protect 1 para uso comunitário. “Procuramos criar uma máscara simples e confortável. Muitas vezes na rua vemos pessoas com as máscaras mal colocadas, sem cobrir o nariz, e isso é sinal de que os modelos são desconfortáveis”, explica Filipe Prata. Nesse sentido, aposta na confeção com apenas uma camada. “Há uma tendência para duas ou três camadas, mas isso não significa que proteja mais”, afirma Filipe Prata, que viu a sua máscara ser uma das primeiras certificadas pelo CITEVE. Por enquanto para uma reutilização até às cinco lavagens, mas está a ser testada a hipótese de elevar esse número para 25. Atualmente a Daily Day produz 25 mil máscaras por dia, uma capacidade que em breve subirá para as 50 mil: o lay-off de 50% da equipa será levantado e a empresa adquiriu até novos equipamentos para semiautomizar a produção de máscaras. Para a marca este é sobretudo um projecto a longo prazo e com projeção além-fronteiras. “Por enquanto estamos a responder aos pedidos em Portugal, quer a encomendas online, como a fornecer municípios e outras instituições. Mas depois vamos aceitar encomendas do exterior. É provável que a situação das máscaras venha a durar um ano e meio a dois anos”, adianta Filipe Prata. Para o diretor-geral da marca, as máscaras de proteção podem até tornar-se um acessório de moda. “No Oriente isso já acontece, e entre nós aconteceu o mesmo com os óculos de sol, que para além da proteção são hoje um elemento estético. Não tenho dúvidas que o raciocínio de moda vai aplicar-se às máscaras”, afirma, colocando já os olhos no horizonte pós-Coronavírus. t

"Temos um know-how muito forte e uma boa capacidade de resposta, mesmo a problemas complexos" António Alexandre Falcão Administrador da Fitexar

FEIRA DE MUNIQUE ANUNCIA OUTDOOR ISPO PARA O VERÃO DE 2021 A Feira de Munique comunicou o cancelamento da OutDoor ISPO 2020, agendada para 28 de junho a 1 de julho, devido à disseminação do Coronavírus e seguindo a recomendação do governo do Estado da Baviera e das autoridades sanitárias alemãs. “A próxima terá lugar no verão de 2021”, anunciou a Messe München.

“JUNTOS SOMOS MAIS FORTES” DIZEM AS BATAS DA ANA SOUSA A Ana Sousa, marca da têxtil Flor de Moda, alocou parte da sua produção ao fabrico de batas para os profissionais de saúde, um gesto de solidariedade complementado por mensagens de apoio inscritas nas etiquetas. “Juntos somos mais fortes” ou “Vestindo os profissionais de saúde que nos inspiram todos os dias” são algumas das mensagens que a marca inscreveu nos uniformes e que lhe valeram o agradecimento do Hospital de Barcelos, uma das instituições de saúde apoiadas nesta iniciativa.


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CONSUMIDORES PORTUGUESES CADA VEZ MAIS ONLINE Compra mais online, reclama mais online e pesquisa mais antes de comprar: é este o perfil do consumidor português, traçado pelo Portal da Queixa no âmbito do Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, que se assinalou a 15 de março. Residente nas grandes cidades, do sexo masculino e com idade entre os 40 e 45 anos, este novo consumidor anda à procura de uma comunicação de proximidade com as marcas, tendo para isso migrado para as plataformas digitais.

"Precisamos de mostrar ao mundo o que é a ITV em Portugal, tudo o que fez para se aguentar e com um nível de competência elevado" Luís Guimarães Presidente da Polopique

GIVACHOICE VESTE BONECAS DA DIOR

Nos vestidos das “Mademoiselle Dior” esconde-se o know-how da portuguesa Givachoice. São bonecas de luxo, numeradas, comercializadas por centenas de euros e orientadas apenas para os clientes mais fiéis, criadas pela marca francesa de alta-costura para acompanhar a sua oferta de moda infantil e entretanto já esgotadas. “Falaram-nos em criar os vestidos para as bonecas, e como não somos de dizer que não, aceitámos o desafio. Mas isto dá um trabalho incrível”, explica Conceição Barbosa, fundadora e diretora de produção da empresa. t

TRIMNW: TAMBÉM TEMOS O TÃO NECESSÁRIO TNT Afinal, também se faz em Portugal o tão necessário Tecido-Não-Tecido (TNT) para os equipamentos de saúde. A TrimNW é uma das raríssimas fábricas fora da China e pode fabricar até 300 mil metros semanais, depois de ter reconvertido a produção dedicada aos componentes automóveis para os equipamentos do pessoal hospitalar. Com o apoio do CITEVE e o regresso à fábrica do pessoal que já tinha colocado em lay-off . Em poucas semanas, as máquinas que produziam têxteis para o interior de automóveis passaram a fabricar TNT impermeável, ideal para a confeção de batas e outros equipamentos hospitalares. A têxtil TrimNW reconverteu as suas linhas de produção, desenvolveu um novo artigo, certificou-o junto do CITEVE

e está a produzir atualmente 125 mil metros por semana, mas prepara-se para aumentar a capacidade produtiva para os 300 mil. Uma operação que logo fez regressar os 20 colaborades que estavam em lay-off. Um alívio também para o país, já que havia em Portugal – e também na Europa e no mundo em geral – um problema de base com a dependência da China na produção destes Tecidos-Não-Tecidos adaptados às exigências hospitalares. “É um grande conforto saber que temos uma empresa em Portugal que tem este tipo de material”, disse já Braz Costa, diretor-geral do CITEVE. Instalada em Santarém, a TrimNW é a única fábrica da Península Ibérica com capacidade para o fabrico deste tipo de produto, juntando-se às outras quatro que existem em toda a Europa. t

LION OF PORCHES AGORA TAMBÉM LHE VAI DAR MÚSICA Porque a moda e a música sempre estiveram relacionadas, a Lion of Porches anunciou um novo projeto que pretende incentivar a produção cultural independente e apoiar novos talentos da música portuguesa, tornando-se uma plataforma para a divulgação do trabalho de vários artistas. A primeira colaboração desta iniciativa conta com a banda dreampop Ditch Days, com a criação e divulgação de uma nova versão do seu recente sin-

gle, Andy Kaufman, através das plataformas digitais da marca. A Lion of Porches apresenta também uma nova t-shirt usada pelos artistas, à venda em edição limitada na loja online da marca. “Este projeto surgiu no seguimento de uma nova estratégia que pretende reconectar a Lion of Porches com os anos 2000 e com as suas origens no mundo da música. Queremos voltar ao ADN da marca e apelar ao público que, cada vez mais, cria ligações emocionais atra-

vés da música”, diz Alexandra Calado, diretora de marketing da Lion of Porches. Especialmente, “nesta fase difícil em que os eventos culturais, concertos, festivais estão a ser cancelados. Queremos apoiar a música portuguesa e projetos inspiradores”. Com uma rede de lojas espalhadas por todo o país, a Lion of Porches tem também presença física em cerca de 20 países e está disponível em cerca de outros 100 através da loja online. t

SÃO PAULO FASHION WEEK JÁ OLHA PARA OUTUBRO

BALENCIAGA E MUGLER NA CARTEIRA DA PAULA BORGES

Foi “para preservar a saúde e o bem estar de todos” que a organização da São Paulo Fashion Week, agendada entre 24 a 28 de abril, decidiu cancelar aquele que é maior evento de moda do Brasil. A boa notícia é que os desfiles da edição de outubro, programados para os dias 16 a 20 desse mês, mantêm-se inalterados. A temporada SPFW N50 comemora os 25 anos deste evento.

Balenciaga e Mugler são as mais recentes aquisições da carteira de clientes da Paula Borges, que já incluia a Hèrmes, Mulberry, Victoria L.K. Bennett, Max Mara, Paco Rabanne ou Nina Ricci. Criada em 1983 e especializada em confeção de senhora, a Paula Borges faz o desenvolvimento vertical do produto: design, modelação, corte, confeção, controlo de qualidade, acabamento, embalagem e distribuição.

14 mil

metros quadrados é a área bruta do armazém sede da Marques Soares, no coração da Baixa do Porto

SPORMEX INSTALA ESTRUTURAS NO COMBATE AO VÍRUS

“Estamos On”, este é o lema que a Spormex tem afirmado no combate à epidemia. Especializada em estruturas temporárias, como os stands do MODtissimo ou os que as comitivas lusas levam às feiras internacionais, a empresa colocou a sua experiência ao serviço das autoridades. Montou as estruturas para os centros de rastreio em Leiria e em Coimbra, e está sempre pronta para novos pedidos.


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M EMERGENTE Por: António Freitas de Sousa

Cristiana Gonçalves Pereira CEO da Best Models Família Vive com o marido, o futebolista Sérgio Oliveira Formação Licenciada em Direito, com pós-graduação em Direito Empresarial Casa Apartamento no Porto, mas em trânsito para uma vivenda na Foz Carro Mini Cooper Portátil Windows Telemóvel iPhone Hobbies Ler, ver séries, viajar e cozinhar Férias Lua de mel nas Maldivas Regra de Ouro “De todas as coisas que existem, o amor é a melhor delas”

FOTO: ALOISIO BRITO

A nova cara da Best Models É advogada, testou as virtudes do jornalismo televisivo, tem uma relação apaixonada com a moda, conviveu feliz com uma temporada vivida nos paraísos da Grécia em versão Salónica, mas, aos 28 anos, Cristiana Gonçalves Pereira decidiu que estava chegado o tempo de ancorar a vida a alicerces mais fortes. Casou no ano passado, em junho, com o futebolista Sérgio Oliveira, e há uns poucos meses decidiu comprar a totalidade da agência de modelos Best Models, fundada há um par de décadas por Alexandra Macedo – que soube colocá-la no topo do ranking da notoriedade do setor. Para trás, ficou uma percurso que era a adivinhação do que estava para vir. Licenciada em Direito pela Católica do Porto em 2013, Cristiana percebeu logo de seguida quais seriam os caminhos do seu percurso profissional: tirou uma pós-graduação em Direito Empresarial. Ao mesmo tempo, ingressou no escritório do pai, advogado – como a mãe, aliás – onde cumpriu o estágio obrigatório e teve oportunidade de se inteirar dos avatares da profissão, que serviram para confirmar a justeza da escolha. Ao contrário do que por vezes sucede, o estágio correu de forma excelente: “o meu pai é muito exigente e o relacionamento funcionou lindamente”, diz – para dar a perceber que outra hipótese não se colocava senão manter-se no escritório. O estágio seguinte foi na Grécia: o futuro marido foi jogar para um clube do país e Cristiana teve oportunidade de preparar o casamento – o que é sempre um tempo improvavelmente cheio – e de se aperceber o quanto “os gregos são simpáticos e dispostos a viver a vida” sem grandes amarrações. Nos intervalos, fornecia crónicas helénicas ao Porto Canal, num registo jornalístico pelo qual se apaixonou, como sempre acontece com as coisas em que empenha. Mas o certo é que Cristiana não estava disponível para se manter sem essas amarras: “conhecia a Xana [Macedo] e houve entre nós uma grande proximidade e identificação”, refere, para explicar que a transferência dos documentos de propriedade da Best Models entre uma e outra foi tão natural como um negócio pode ser natural. Alexandra chegou a uma fase em que percebeu que estava na altura de passar a página para outro enquadramento e Cristiana apercebeu-se que o seu futuro podia passar por ali. O match entre a oferta e a procura foi por isso uma espécie de efeito colateral de uma amizade. Tanto assim é que Alexandra Macedo continuará a ser a diretora da empresa que tem agora Cristiana como CEO. Sigilosa com os números e com as particularidades do novo plano de negócios – que está evidentemente em stand by à espera que a pandemia dê lugar a uma vida mais ou menos normal – a nova CEO explica que a presença da antiga CEO permite não só uma passagem de testemunho sem qualquer sobressalto, mas, mais importante ainda, manter a identidade da Best Models. “É uma empresa muito familiar, com uma vertente humana e educativa muito presente, até porque lida com jovens, alguns ainda na adolescência”, diz a CEO, que com grande facilidade se confunde com as modelos propostas pela empresa. Para já, a única coisa que lhe escapou do plano de negócios foi a necessidade de a Best Models se aproximar com mais insistência à área do digital. No meio da azáfama do novo negócio, Cristiana ainda tem tempo para se envolver em mais uma pós-graduação, desta vez na área da Gestão Desportiva (o Direito Desportivo já a tinha aliciado antes), a decorrer na Liga Portuguesa de Futebol. O seu envolvimento com o desporto é mais outra das suas paixões – ou não se desse o facto de, ainda criança, ir a todos os jogos do Futebol Clube do Porto, parece que o seu clube duplamente do coração, na companhia do pai. t


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B SERVIÇOS ESPECIALIZADOS Por: António Moreira Gonçalves

Matos & Vaz, Sroc

Rua Mercado Bloco 3, 1ºD 3780-214 Anadia

O que faz? Serviços auditoria/revisão de contas, consultadoria fiscal, contabilística e financeira Fundação 1992 Equipa Seis colaboradores liderados pelos sócios João Pedro Matos e Manuel Vaz Escritórios Anadia e Lisboa Clientes Mais de 150 empresas, da indústria ao imobiliário, comércio e turismo Volume de Negócios 620 mil euros

IAPMEI APOIA EMPRESAS QUE ADOTEM PRODUÇÃO PARA A SAÚDE O Ministério da Saúde, em parceira com o Ministério da Economia, disponibilizou no site da Direção-Geral de Saúde uma área específica destinada à identificação de potenciais fornecedores do SNS no que respeita a equipamentos de proteção individual e dispositivos médicos. O objetivo é ajudar as empresas a reconverterem as suas linhas de produção e a iniciarem o fabrico de alguns dos produtos críticos para o SNS na situação excecional decorrente da pandemia de Covid 19, garantindo ao mesmo tempo o cumprimento dos requisitos essenciais de saúde e segurança dos mesmos. O IAPMEI participa ativamente nesta iniciativa, estando disponível para prestar às empresas todos o apoio necessário.

"O algodão orgânico necessita de mais água do que o algodão normal. Evita produtos químicos mas precisa de muita água" Teresa Alemão Administradora da Teamstone

TIFFOSI E VILANOVA TAMBÉM PRODUZEM MÁSCARAS DE PROTEÇÃO Foi a convite do grupo Trofa Saúde, que as têxteis Tiffosi e Vilanova arrancaram com a produção de máscaras de proteção. Num momento de maior escassez, a parceria visava fornecer o grupo hospitalar privado, mas comprometia-se também a fornecer de forma gratuita entidades públicas como hospitais, forças de segurança e municípios.

A vantagem das contas certas Credibilidade e valor, são estas as grandes vantagens que a Matos & Vaz, Sroc procura oferecer aos seus clientes. Credibilidade nas contas e valor que o serviço proporciona aos clientes. Uma mensagem que João Pedro Matos, Roc-Revisor Oficial de Contas e sócio-fundador da Matos & Vaz, sociedade especializada em auditoria/revisão de contas, vê cada vez mais reconhecida pelos clientes, que os vão procurando não só como forma de cumprir as obrigações legais mas também em busca de aconselhamento fiscal, contabilístico e financeiro e de boas práticas de gestão. Com mais de 30 anos de experiência no setor – começou a sua carreira em 1989 e três anos depois fundou a sociedade com um antigo colega da faculdade – João Pedro Matos conhece por dentro muitas empresas nacionais e como revisor oficial de contas tem acompanhado de perto uma cada vez mais salutar evolução de mentalidades, com a exigência de contas certas e certificadas: “O papel de auditor e de uma auditoria é hoje melhor percecionado e mais valorizado. Os agentes económicos percebem melhor e valorizam o nosso trabalho”. Como está expresso no portal da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas “a intervenção do Roc inspira confiança nos agentes económicos”. Mas qual é o trabalho que os Roc e sócios João Pedro Matos e Manuel Vaz procuram levar às empresas? “Prestamos serviços relacionados com a área que o

nosso estatuto profissional permite. Cerca de 75% do nosso trabalho está nas auditorias/revisão de contas, regulada pelas Normas Internacionais de Auditoria, que são obrigatórias para as sociedades anónimas e as sociedades por quotas com dimensão económica e social. Entre outros também desenvolvemos trabalho de verificação de projetos apoiados por fundos comunitários, bem como serviços de reorganizações societárias, como fusões ou cisões, que são cada vez mais procurados”, explica o responsável pelo escritório. A partir de Anadia – mas também com escritório em Lisboa – a Matos & Vaz, Sroc colabora com mais de 150 empresas um pouco por todo o país, mas com mais incidência na zona norte e centro. “Grande parte do nosso trabalho, é feito nos escritórios, empresas e fábricas dos nossos clientes. Interagimos com os clientes, tomando uma atitude proativa, dentro dos princípios de integridade, competência e independência, transversais à nossa profissão”, explica. “Um serviço abrangente a todos os setores, não só na indústria, mas também no imobiliário, comércio e turismo. E que vai sendo cada vez mais bem visto. Houve uma evolução positiva e o auditor é percecionado hoje de outra forma. As empresas percebem que as vantagens compensam os custos e que a credibilidade das contas certificadas e o apoio de um técnico experiente e especializado como um Roc é uma mais-valia”, resume o sócio-fundador da Matos & Vaz, Sroc. t

MUNICH FABRIC START MANTÉM DATAS E REALIZA-SE EM SETEMBRO Empenhada na concretização da próxima edição, agendada para de 1 a 3 de setembro, a Munich Fabric Start continua a analisar todos os cenários e estabelece algumas garantias para acautelar os interesses dos expositores inscritos. Em caso de cancelamento por questões de força maior, a organização fará a devolução de 80% do valor da fatura paga pelo expositor, ficando os restantes 20% retidos para cobrir os custos da organização e cumprir obrigações contratuais.

70%

das utilizações para os têxteis técnicos ainda não foram sequer inventadas. Isso mostra o enorme potencial desta área

COLOR BLOCKING É TENDÊNCIA A estação primavera-verão 2020 apresentou-se alegre, colorida e de formas improváveis. Mas a grande tendência, transversal à grande maioria das coleções é o color blocking, isto é, conjugar duas ou mais cores vivas e intensas no mesmo coordenado. Os desfiles da estação foram uma verdadeira explosão de cores vibrantes, com combinações entre laranja e azul, cor-de-rosa e vermelho, amarelo, verde ou roxo. Uma tendência que os especialistas da Pantone já previam, mas mais do que paletes predominantes a grande tendência é conjugar cores vibrantes no mesmo coordenado.


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OPINIÃO RETOMAR AS ATIVIDADES E VENCER AS DIFICULDADES João Costa Presidente da Associação Seletiva Moda e membro da Direção da ATP

PAUSA OU DESGLOBALIZAÇÃO? Jorge Pereira Membro da Direção da ATP

Por necessidade de conter a propagação do vírus que assola Portugal e o mundo, e de modo particularmente intenso os países que são os nossos principais parceiros económicos – Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Estados Unidos da América -, encontramo-nos com a economia e a vida social globalmente mitigadas e com algumas atividades suspensas. E, como é natural, a paralisação do comércio transmite-se à indústria. Logo a partir do final de março, as encomendas às empresas começaram a ser reduzidas ou até mesmo, em muitos casos, anuladas. Também a paragem na produção automóvel se transmitiu à produção de materiais de base têxtil, e o mesmo aconteceu com outras atividades que utilizam produtos têxteis. Tudo isto terá, inevitavelmente, um grande impacto no STV, como na totalidade da economia, em que as atividades ligadas ao turismo, restauração e hotelaria serão as mais afetadas e durante mais tempo. No que respeita ao vestuário, a estação de primavera/ verão já estará em grande medida comprometida. A abertura do comércio, tanto em Portugal como na Europa, será faseada e progressiva, o que, a associar ao início tardio das vendas, determinará que a dinâmica e o volume de negócios fiquem muito abaixo dos valores normais. Mas como não é possível continuar a prolongar o confinamento, Portugal e os outros países terão necessariamente de determinar, além de outros procedimentos de prevenção, o uso generalizado de máscaras, designada-

A pergunta é se estas tendências comerciais, financeiras e políticas que assistimos ao longo dos últimos anos a que chamamos globalização, agora que estão a sofrer o impacto da Covid-19 vão marcar uma nova era ou se não vão passar de um fenómeno transitório. Será que o mundo da moda vai ter a capacidade de capitalizar com a revolta dos que mais têm sofrido e com o sentimento cada vez maior de um possível responsável ou irresponsável causador de toda esta dor, morte e queda económica? Há cada vez mais um sentimento de revolta contra a dependência generalizada a que temos assistido nos últimos tempos do made in China. Não só ao nível da moda e dos têxteis técnicos, mas acabamos por descobrir que dependemos em quase tudo, pois qualquer produto acaba sempre por integrar um qualquer componente made in China. Será razoável o mundo estar nas mãos de um continente que se tem dedicado de forma tão discreta e paciente nos últimos anos a construir uma nova rota da seda? Todas estas questões deixam que pensar. Apesar de não se poder subestimar o poder das forças que têm contribuído para a globa-

mente em espaços fechados e no contacto interpessoal. Terá de ser esse, imperiosamente, o caminho a seguir, de modo a permitir que, com o risco de propagação controlado – e até que haja condições de imunização pessoal de elevada eficácia –, se retome a vida económica e social com a normalidade possível. E é aqui que o setor têxtil e vestuário tem um papel fundamental. A produção de máscaras terá de ser massiva – de milhares de milhões de unidades para a Europa e EUA, e de algumas dezenas de milhões só para Portugal – e a necessidade de uma resposta rápida já se faz sentir desde o início desta pandemia. Não podemos conformar-nos que a China esteja a produzir e a vender mais de um quarto da totalidade das máscaras a nível mundial. O CITEVE está habilitado e a proceder à necessária certificação, de modo a garantir adequados níveis de proteção. Como noutros tipos de produtos, haverá diferentes níveis de qualidade e diferentes modelos. Máscaras descartáveis ao fim de uma utilização e máscaras laváveis e de repetidas utilizações. Para diferentes atividades profissionais e usos sociais. Com materiais sofisticados, mais simples ou com design mais criativo. E assim, naturalmente, diferentes níveis de preços. As empresas do STV nacional, que se caracterizam pela sua elevada versatilidade e capacidade de adaptação, estão, como sempre, prontas para responder a este novo desafio, que tornará possível a retoma imprescindível e essencial da vida económica e social. t

lização, a fragilidade da economia europeia tornou-se num fator desta desaceleração. Agora, talvez tenhamos ganho consciência daquilo que sentíamos, mas como o poder económico sempre foi mais forte, foi-se agindo na negação. Temos consciência do erro que se tem vindo a cometer ao nível europeu. Fala-se na desglobalização, mas até que ponto vai acontecer? Até que ponto vamos ter a coragem de assumir a defesa das empresas europeias, do emprego, da riqueza e criar uma União Europeia unida, forte e industrializada, cada vez mais capaz de se auto-abastecer, capaz de gerar solidez económica e social? Vivemos a oportunidade de fazer voltar à Europa as empresas, as encomendas, as cadeias de valor, mas não de forma temporária. Saibamos todos ter essa coragem de defender e construir o europeu. Para que possamos sair desta crise teremos de ter a coragem de pensar um projeto nacional, europeu, unificado a longo prazo. Delinear um projeto de industrialização em todos os segmentos, ou acabaremos todos por morrer velhos, cabeludos e falidos, como dizia uma amiga há dias.

Num passado recente, em qualquer debate político-económico, a palavra de ordem era a globalização. Hoje defende-se que desde a crise global financeira em 2008 houve uma mudança nesta tendência. É inegável que existe uma consciencialização maior de que temos cada vez mais recursos qualificados, prontos a construir, inovar e produzir em todas as áreas. Em poucas semanas o nosso know how conseguiu criar ventiladores de baixo custo, testes para detetar infetados, e a nossa indústria têxtil reinventou-se mais uma vez e produz EPI’s com qualidade e custos justos. Provavelmente vamos assistir a uma nova era, a da “desglobalização”, onde cada país irá lutar pelos seus interesses e as empresas terão de ser mais justas e olhar para os seus clientes e fornecedores como parceiros de negócio. Na moda, como um pouco por todos os outros setores, o modelo de negócio irá mudar e mais uma vez vamos ter de nos reinventar, quer pelas limitações em viajar e promover os produtos, quer pelas mudanças na sociedade. Quanto mais não seja, porque o mundo já será diferente. Tenhamos consciência de que nada mais será como foi. t


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João Nuno Oliveira Industry 4.0 and Digital Transformation Manager do CITEVE

COVID-19 E O DIGITAL Este é (mais) um texto sobre o impacto do “distanciamento social” imposto pela Covid-19 nas empresas. O novo coronavírus mandou pessoas trabalhar a partir de casa, obrigou-as a ficarem confinadas nos seus gabinetes, a não se cruzarem nos corredores e a trabalharem em turnos distintos. Mas o impacto não foi só na faceta profissional de cada um; ocorreu também na vertente familiar, com, por exemplo, os filhos a manterem os seus estudos sem se deslocarem às escolas. O distanciamento social foi igualmente seguido pelos consumidores e com um enorme impacto na economia, com os hábitos de compra a mudarem como nunca se tinha visto. As compras online registaram um enorme aumento, muitos produtos ficaram nas prateleiras, e muitos serviços reformataram-se, como a restauração, que passou para o regime de take-away e serviço de entregas ao domicílio, ou as aulas de ioga, que passaram a ser ministradas à distância. A par do distanciamento social, temos agora também uma economia e uma sociedade de não-toque. Não queremos tocar em nada, seja em portas, corrimões, botões, copos ou casacos. Terá a tão propagada transformação digital tido um forte empurrão com este confinamento? Sem dúvida. O isolamento fez com que toda a comunicação, colaboração e coordenação passassem a ser integralmente mediadas por ferramentas digitais. Foram-se as reuniões presenciais, as conversas de corredor ou de café, os mapas e os relatórios em papel. Chegaram as videoconferências, as VPN, as clouds, as partilhas de ficheiros e o cibercrime. Mas também deixamos de presenciar as operações e os eventos, deixamos de poder ir aos locais “ver o que se passa”. Uma grande parte da perceção que temos do nosso mundo passou a ser mediada digitalmente. Por outro lado, muitos negócios tiveram que recorrer ao suporte de plataformas digitais para escoar os seus produtos e continuar a prestar os seus serviços. É óbvio que fazer videoconferências e partilhar ficheiros não é fazer a transformação digital, mas este cenário obrigou as empresas a colocar o digital no centro das suas atenções e a colocar pressão em todas as áreas da empresa. E também levou os membros das administrações e da gestão de topo a trabalhar à distância, sentindo em experiência própria as restrições do não-digital e o potencial do digital. O “quando isto tiver passado” não vai acontecer tão cedo e o “tudo vai voltar ao normal” não vai acontecer, pois o mercado não vai ser o mesmo e nós não vamos ser os mesmos. O futuro deverá ser tratado em três horizontes temporais: o daqui a um mês, o daqui a um ano e o depois disso. E todos eles a começar agora. O próximo mês é o tempo de procurar sair de casa, sabendo que as restrições são quase as mesmas. O foco é garantir o acesso à informação a partir de qualquer local e dispositivo e, de forma segura, investir em plataformas de trabalho em grupo, numa cultura de teletrabalho, bem como no reforço da presença online da empresa, aumentando a capacidade de resposta digital. No próximo ano, começar por definir uma estratégia digital e dar os primeiros passos, agora que há uma sensibilidade digital maior. Apostar na eliminação do papel, experimentar coisas novas e, se estas tiverem sucesso, implementar na empresa. No horizonte temporal mais alargado, será o tempo de cimentar os progressos, olhando em permanência para pessoas, e de procurar a excelência e a flexibilidade. t

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José Robalo Presidente da Anil – Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios

COISAS DO “DIABO” Durante muito tempo, na nossa praça pública, foi discutida a vinda, ou não, do “diabo”, e afinal, parece que este está à espreita atrás do Coronavírus. A pandemia que é vivida atualmente, no meio de todos os seus infortúnios, tem revelado aspetos curiosos da nossa sociedade. É de consenso geral que o vírus afeta, de forma transversal, grandes e pequenas empresas, setor público e setor privado, países ricos e países pobres, não querendo saber de patentes e galões. No entanto, tem sido opinião de muitos influentes opinion makers que o pós-vírus, diga-se, a crise económica que se lhe seguirá, só afetará o setor privado. Aparentemente, parte-se do princípio de que o setor público já desenvolveu uma imunidade no que diz respeito a crises económicas. Parece-me que o setor público se encontra numa situação semelhante à dos tais doentes assintomáticos que, se não cumprirem as regras que os outros cumprem, habilitam a que toda a sociedade se infete e colapse, falando numa linguagem médica, que tem estado tanto em voga. Contudo, e mais seriamente, é de forma apreensiva que encaro esse tipo de previsões. Muitas destas análises, feitas por pessoas que estão perto do poder, indicam como inevitável um aumento da carga fiscal para o setor privado. A verificar-se este cenário, temo pelo futuro da economia portuguesa, dado que a carga fiscal hoje existente já é asfixiante e injusta para as empresas, e desincentivante para o investimento e para o empreendedorismo. Assim, não havendo grandes dúvidas acerca da recessão económica que já se começa a fazer sentir, é fundamental, para não dividir a sociedade, que o Estado dê também o exemplo, e não se limite apenas a sobretaxar, aumentando os impostos. Há outras soluções e medidas que podem ser tomadas de proteção das empresas e dos seus postos de trabalho. Não podemos esquecer que, em última análise, são as contribuições do setor privado, maioritariamente PMEs, que contribuem para a criação de emprego e coesão social, logo, para a viabilização económica do Estado. Querer que o setor privado suporte sozinho a crise que se adivinha é matar a famosa galinha dos ovos de ouro, acabando por condenar, inevitavelmente, todo o país a uma insolvência como a que vivemos há poucos anos. Bem sei que são apenas previsões de comentadores políticos que, muitas vezes, tendem para o sensacionalismo, mas não é menos verdade que, como o povo diz (aliás, o melhor dos comentadores), gato escaldado de água fria tem medo. Será caso para dizer, falando da indústria têxtil que o “diabo” não veste Prada? t


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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara

Vai ficar tudo bem, mas pelo-sim-pelo-não Katty Xiomara opta por proteger o nosso primeiro-pinistro, preservando-o de maleitas e para que continue a deixar-nos orgulhosos. Enfiado num criativo onesie de coelho com padrão camo, António Costa pode contar também com fisga e bazuca para ir à guerra. A nossa Katty não facilita!

António Costa protege-se com um pijama-macacão Vai ficar tudo bem, mas até lá temos de percorrer o caminho com pezinhos de lã, para que o balão de esperança não se quebre e liberte uma névoa escura que pode deixar um rasto de poeira bem mais pesada e difícil de limpar. Os números e as estatísticas são as ferramentas mais usadas para comunicar sobre o estado atual. Temos estado atentos a estes números e passamos a celebrar quando os vemos descer. Celebramos menos mortes e menos possíveis mortes, mas ainda são muitas mortes e possíveis mortes sem tempo para luto. Será que em breve celebraremos mais ou menos loucura?!... É difícil ver o lado bom de uma tragédia com esta dimensão. Não precisamos só de ver a luz ao fundo do túnel, temos também de descobrir de que forma a podemos alcançar. Se percebermos como, talvez consigamos chegar à luz antes de celebrar a loucura. Mas vamos colorir um pouco estes pesados números e limpar o obscuro percurso do túnel com algum humor. A nossa cobaia nesta experiência é nada mais e nada menos que o nosso PM, que tão corajosamente tem dado o corpo às balas neste complexo teatro de operações montado entre a Europa e a pandemia. Ele, que até consegue deixar-nos orgulhosos! Sendo que, os termos comparativos, dão-nos ideias “sarcásticas” como injetar desinfetante nas veias ou usar luzinhas ultravioleta para aquecer-nos por dentro… Claro que assim sendo… o “repugnante” lançado por Costa de arco e flecha para os Países Baixos faz um brilharete. E como as máscaras têm sido o ponto de maior discórdia e desentendimento, num diz-que-disse e que-não-disse constante, desenhamos uma muito especial para o nosso PM. Roubámos a conhecida frase de protesto hippie “make love not war” adulterando-a para “make money not war”. E visto que o hashtag mais usado é o #stayhome decidimos enfiar a nossa cobaia num peculiar onesie (pijama-macacão) de coelho com padrão camo. Para reforçar a proteção do nosso corajoso representante nesta batalha, e sem prejuízo nenhum para Tancos aprovisionámo-lo com um bom arsenal de armas, fisga e bazuca incluídas, todas importadas do reino bélico do senhor cor-de-laranja. Vai Ficar Tudo Bem! Se ignorarmos algumas ideias sarcásticas… t


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O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão

Temperos da Zézinha Rua Heróis de França 611 4450-159 Matosinhos

TEMPEROS EM TEMPO DE PANDEMIA Como os meus estimados leitores decerto já repararam, os restaurantes - que são os principais protagonistas destas crónicas - deixaram de nos poder lá receber. Apesar da pandemia, mantém-se a democracia, e por isso para além dos maus e dos assim-assim, também os bons restaurantes que eu me prezo de vos apresentar ou recordar estão em modo #fiqueemcasa. Como o nosso T está em modo continuar a trabalhar, se é verdade que o vírus conseguiu impedir-nos de frequentar os restaurantes, em muitos casos não conseguiu impedir que os restaurantes venham até nós. Como também não conseguiu, era o que mais faltava, impedir que estas cantinas continuassem abertas para também levar até aos estimados leitores as minhas sugestões de vinho e gastronomia na boa restauração portuguesa. Como o que está agora a dar é o take -away, de que tenho usado e abusado, deixo aqui hoje as minhas primeiras impressões sobre esse novo sistema, tendo escolhido para isso um restaurante que também é novo, e de abrir há tão pouco tempo, qualquer dia até se pode gabar de que já teve mais clientes fora de portas do que dentro de casa.

À IMAGEM DO GRANDE EMPRESÁRIO TÊXTIL

Refiro-me aos “Temperos da Zézinha” em Matosinhos, na rua Heróis de França, onde a verdadeira heroína é a Zézinha que dá nome ao restaurante. Esta Zézinha já foi cozinheira chefe de dois restaurantes na mesma rua e que aqui também já falamos, o Valentim e o D. Peixe. Desafiada a tornar-se independente, mal a Zézinha sonhava que pouco tempo depois ia acabar dependente desta nova forma de servir à distância. Ao contrário de outras experiências que já conheci, a Zézinha tem a lista inteira à disposição dos clientes take-away, embora seja a primeira a recomendar-nos um bacalhau à sua moda ou um robalo assado no forno quando acha que são realmente a melhor escolha do dia. Tudo isto acompanhado do que ela chama arroz à Serrão, porque fui eu - há um bom par de anos atrás - que a entusiasmei a trocar o estafado arroz malandrinho de grelos por uma malandrice muito mais a meu gosto que é um arroz seco, com legumes variados e um bom refogado. Já agora eu também recomendo os secretos da Zézinha, que são um segredo bem guardado e acompanhado por uma das melhores açordas de coentros que comi em toda a minha vida. t

O TESTEMUNHO / TINTO DOC BEIRA INTERIOR É o mais recente dos grandes vinhos que produz João Carvalho, o engenheiro têxtil que além de dono da Fitecom também é a grande referência na produção de vinhos da Beira Interior. À imagem da gigante da tecelagem, também na Quinta dos Termos, em Belmonte, recuperou vinhas e castas emblemáticas, tendo resgatado a região do quase anonimato para um patamar de qualidade hoje reconhecido por todos os especialistas. Com enologia e a assinatura prestigiada de Virgílio Loureiro, este vinho com as castas Baga, Tinto Cão e Touriga Nacional, é mesmo de tudo isso o grande testemunho. A par da extraordinária harmonia e textura sedosa, é um vinho de grande complexidade e sentido gastronómico. Um tinto de grande prazer, capaz de surpreender os mais exigentes e conhecedores. Convém guardar algumas garrafas (ou caixas), já que promete boas alegrias por muitos anos


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c MALMEQUER Por: Cláudia Azevedo Lopes

Mónica Neto, 34 anos, é diretora do Portugal Fashion e membro do Conselho de Gestão da ANJE, onde chegou há 12 anos para fazer um estágio curricular e nunca mais saiu. Cresceu em Paços de Ferreira a fazer teatro amador, uma paixão pela comunicação e contacto com os outros que a levou ao curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação (UP), onde se especializou em Assessoria de Imprensa. Na comunicação da ANJE acabou por se destacar na moda e daí o natural convite para a direção do Portugal Fashion, onde quer continuar a trabalhar para promover a moda portuguesa

SOUVENIR

LEVI’S 501 DESDE A ADOLESCÊNCIA

Gosta

Não gosta

Sorrisos Abraços Designers nacionais Marcas portuguesas Revalorização de tradições Escrever Café Comer Praia Calor Baton vermelho Redes Sociais Comunicação Criatividade Brainstormings Sonhar acordada Pessoas com sentido de humor Projetos responsáveis Soluções Comidas novas Viajar Conversas com copo de vinho Esplanadas Agradecer Família Sapatos Sapatilhas Botas militares Improvisar na cozinha Self made women Igualdade, liberdade e democracia Roupa preta Foz do Douro Picante, salgado e doce (nesta ordem) Fotografia, vídeo e design Dormir Sinceridade Bronzear Chá Revistas Pensar, planear e organizar eventos Estratégias de marca A adrenalina de um desfile Porto e Lisboa Douro e Algarve Milão, Londres e Madrid Nova Iorque e Miami Poesia

Tarefas domésticas Cabrito Falar ao telefone Toques de telemóvel Pessoas que falam por cima de outras Injustiças Coisas que não são carne nem peixe Mentiras Sabichões Preconceitos Barulho do aspirador Quarentenas e vírus novos Futebol Discussões Chuva Pessimismo Falta de investimento na moda portuguesa Egos e prepotência Sentir saudades Colheres de pau Rivalidades Espinhas Faltas de noção Experimentar roupa Lojas grandes Sandálias largas Concorrência desleal Poluição Imitações Reuniões não produtivas Fretes Discursos redondos Correr ao frio Dor de cabeça Água gelada Turbulência nos aviões Café mau Burocracia Almoços a correr Contraste dos fechos em blusões de cabedal Acordar muito cedo Interrupções Desistir Falta de esforço Olhares indiscretos Cheiro a fumo

A marca diz hoje que são um ícone cultural, mas para mim foram como um sonho, uma visão de adolescência. Eram o meu objeto de desejo desde que, aí pelos 15 anos, me apaixonei por aquele par de calças de ganga que tinha visto numa montra na rua de Santa Catarina. O problema era que na altura eram coisa cara e fora do alcance do bolso de um adolescente, mesmo que não tivesse motivos de queixa da generosidade paterna. Uns dois e meio a três contos, eram à época muito dinheiro. Limitava-me a namorá-las sempre que passava por Santa Catarina. Com tanto desejo que lá por casa não passou despercebido. Eram as Levi’s 501, e nem admitia vir a usar qualquer outro par de calças de ganga. Sim, calças de ganga, que isso de jeans é nomenclatura moderna! Foi uma alegria imensa e uma recordação que guardo para sempre quando me apercebi que era a prenda que a minha mãe tinha reservado para o Natal. Nunca mais larguei as Levi’s 501, que usava até virarem calções. Tinha sempre dois pares, umas mais claras, com uma ganga lavada, e outras mais escuras, em tons de preto, que usava em permanência e em todas as ocasiões. E nem era uma questão de moda ou de estilo para impressionar as raparigas. Gostava mesmo daquelas calças de ganga, sentia-me completamente à vontade. Usava-as até rasgarem e logo as substituía por um novo par. Tanto assim, que as continuei a usar já depois na vida profissional e nas mais diversas ocasiões. Sempre os dois pares, um escuro e outro mais claro. Nem quando assumi as funções de CEO da Antarte, que também ajudei a fundar no seio da família, deixei de as usar, mesmo em ocasiões mais formais. Visto-as com blazer ou outros casacos, em viagens de trabalho, lazer ou negócios. No armário lá estão sempre as Levi’501, um sonho que nunca me abandonou. t Mário Rocha CEO da Antarte


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