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DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS

LUÍS TEIXEIRA

FOTO: RUI APOLINÁRIO

Chief Operating Officer da Farfetch

“PORTUGAL É UMA REFERÊNCIA EM QUALIDADE, FLEXIBILIDADE E SERVIÇO” P 20 A 22

FEIRAS

FROM PORTUGAL REFORÇA PRESENÇA NOS MARKETPLACES P 24

PERGUNTA DO MÊS

COMO VAI SER A RETOMA DEPOIS DA PANDEMIA P4E5

DOIS CAFÉS & A CONTA

INOVAÇÃO

BRAZ COSTA E O CITEVE CONTINUAM EM RITMO DE MARATONA

ROQ LANÇA MÁQUINA QUE FAZ MAIS DE CEM MÁSCARAS EM CADA MINUTO

P6

P 30

EMERGENTE

RENATA HENRIQUES GOSTA DE CAMISAS BRANCAS P 31

INOVAÇÃO

ELASTONI CRIOU UMA MÁSCARA TRANSPARENTE P 12


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CORTE&COSTURA

EDITORIAL

Por: Júlio Magalhães

Por: Manuel Serrão

Ana Azeredo 30 anos Export Manager da Blue Kids, foi o gosto pela Moda e a paixão por crianças que a fez trocar os vinhos (Ramos Pinto, Porto & Douro) pela roupa infantil. Licenciada em Gestão, com pós graduação em Gestão e Desenvolvimento de Recursos Humanos, integra a equipa da Blue Kids desde 2014 e inspira-se no saber da antiguidade como lema e vida: Carpe diem, quam minimum credula postero, que é como quem diz que não é boa ideia contar com o ovo que a galinha há-de pôr

OUTONO ESCALDANTE Foi em setembro que te conheci... É como começa uma canção imortalizada por Vítor Espadinha. Foi esta música que me veio à cabeça quando comecei a pensar que vai ser também em setembro que vamos conhecer a extensão da retoma pós-pandemia dos negócios no nosso setor. Se vai começar já a sério ainda em 2020 ou se teremos que esperar pelo próximo ano. Já se sabe que estão aí no ar e no éter todas as alternativas digitais dos marketplaces, e-commerce, lojas online, como também estão cada vez mais na moda os encontros virtuais e as reuniões por Skype, Teams, Zoom e quejandos. Em alguns casos é evidente que têm contribuído para atenuar os prejuízos causados pela situação anormal que vivemos desde março. De qualquer forma, o que acho que ninguém duvida que vai ser em setembro que vamos perceber a velocidade, maior ou menor, com que a retoma chegará. Até à data em que escrevo este editorial todas as feiras internacionais previstas para setembro mantêm firme as datas anunciadas. Entretanto, no mesmo mês de setembro também estão previstas mais uma série de outros eventos adiados dos meses de junho e julho. Tenho a certeza que em todas as feiras que se realizarem, a ITV portuguesa há-de marcar presença nos moldes mais adequados, mas com a qualidade e a garra habituais. t

Como está a ser preparada a retoma pós Covid-19? Neste momento, estamos a terminar de planear e definir o nosso Plano de Contingência Interno, assim como as medidas de acesso às lojas que vamos adotar, para minimizar o contacto físico entre as equipas de vendas e os clientes. Em termos de mercados externos quais são as maiores apostas atuais da Blue Kids? Atualmente, as maiores apostas da Blue Kids passam por consolidar parcerias com mercados como o Reino Unido, a Alemanha e a Áustria. Queremos igualmente apostar na digitalização do negócio, testando para isso novas ferramentas de venda. Quando voltarem a pensar atacar um novo país, qual será o prioritário? É nosso objetivo abordar o mercado dos Emirados Árabes Unidos, nomeadamente o Dubai. Considerando os tempos que atravessamos, as

máscaras também já fazem parte da nova coleção? Sim, tendo em consideração as recomendações da DGS, para a utilização de máscaras como medida complementar para limitar a transmissão do vírus na comunidade, resolvemos de imediato adaptar parte da nossa unidade fabril para dar resposta às necessidades do mercado. Já temos a nossa coleção disponível no site da marca, e teremos também em todas as lojas, aquando da reabertura dos Centros Comerciais. Concorda que num futuro próximo o made in Portugal ou o made in Europe, vão ter uma procura acrescida das grandes marcas e cadeias internacionais? Sim, concordo. Apesar da quebra sentida no seguimento da pandemia que temos atravessado, estou confiante que a Europa irá assumir um papel cada vez mais diferenciador, destacando-se também o mercado nacional da Indústria Têxtil e de Vestuário. t

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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Mário Jorge Machado Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/


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n PERGUNTA DO MÊS Texto: António Moreira Gonçalves Ilustração: Cristina Sampaio

COMO VAI SER A RETOMA DEPOIS DA PANDEMIA? “Ninguém compra sem ter a quem vender”. Simples, mas eficaz, a fórmula muitas vezes dita entre reuniões resume as principais preocupações dos empresários da têxtil para os próximos meses. Sobre a retoma, prevêem um processo lento e gradual em que a grande incógnita está no lado do consumidor, quer pelo receio em regressar às lojas, quer pela diminuição do poder de compra. Do lado das empresas, mesmo sem espaço para otimismos, o objetivo é regressar ao ritmo pré-Covid o mais rapidamente possível. Para isso vão apostando na digitalização e na produção de artigos de proteção. E há ainda a esperança que os mercados europeus se tenham apercebido da excessiva dependência da Ásia.

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“Hoje mais do que nunca será preciso comprar português. E espero que Portugal e a União Europeia apoiem a sua indústria”

“Por muito que corra bem, já não será possível recuperar. A prioridade agora é entrar em 2021 ao ritmo que começamos este ano”

JOSÉ ARMINDO FERRAZ INARBEL

PAULO PACHECO MI CASA ES TU CASA

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e desconfinamento é uma expressão que entrou no dia-a-dia dos portugueses nas últimas semanas, já a palavra retoma parece ainda relativamente distante para o negócio da fileira têxtil, que anseia pelo regresso da normalidade e o reestabelecer das cadeias de fornecimento. “Neste momento é tudo uma grande incógnita. Se por um lado é necessário um desconfinamento para reativar a economia, por outro a doença não desapareceu e há o fantasma de uma segunda vaga, que pode ser ainda mais severa para a indústria”, comenta José Armindo Ferraz, CEO da Inarbel. Ainda em março, a empresa viu muitos dos seus clientes diminuírem, adiarem ou cancelarem encomendas. Depois de um período em layoff parcial, a produção e certificação de batas hospitalares foi a solução encontrada para regressar à atividade a 100%. Mesmo olhando para este novo segmento como um negócio de futuro – que já levou à aquisição de novas máquinas – José Armindo Ferraz espera que o negócio principal da Inarbel, a moda infantil, regresse o mais rapidamente possível. “A tecelagem continuou a produzir malha para o nosso negócio tradicional, mas o processo será muito lento, houve uma grande compressão da economia e vamos ver como reagem os consumidores”, adianta. Os consumidores são claramente o busílis da questão. “Há dois fatores essenciais que vão fazer diminuir o consumo: o medo e o aumento do desemprego. As pessoas têm receio de regressar às lojas e provavelmente o poder de compra vai diminuir”, prevê Artur Soutinho, CEO do grupo Moretextile. Orientado sobretudo para a exportação, o grupo têxtil-lar de Guimarães antecipa uma retoma a várias velocidades. “França, Alemanha, Estados Unidos, Japão e países nórdicos são os nossos principais mercados e a evolução é muito diferente de país para país”, diz

o responsável do conglomerado. Também nos têxteis-lar, a marca Mi Casa Es Tu Casa registou um forte impacto com a pandemia. “Nota-se já um pequeno crescendo, mas Espanha e França foram dois dos países mais afetados e o recomeço será lento. Felizmente alguns mercados mantiveram a atividade, como o Japão ou a África do Sul”, comenta Paulo Pacheco, diretor comercial da empresa. António Cunha, Sales Manager da Orfama, vê o panorama internacional também com alguma apreensão. “97% da nossa produção é para o exterior e os Estados

Unidos, que estão ainda numa fase muito complicada, são um dos nossos principais mercados”, explica, avançando que mesmo nos mercados europeus a situação não permite grandes otimismos. “Muitos países foram severamente massacrados e vai seguir-se uma situação de crise, as pessoas vão ter um menor fundo de maneio e uma maior tendência para poupar. O vestuário não será uma prioridade”. As mesmas preocupações são apontadas por Conceição Sá, CEO da Lurdes Sampaio: “O consumidor final é que vai determi-


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“Há ainda um grupo enorme de consumidores que prefere as lojas. E a confiança com que vão regressar às lojas será determinante”

“Há dois fatores essenciais que vão fazer diminuir o consumo: o medo e o aumento do desemprego”

“Os próximos seis meses vão ser muito difíceis e é impossível prever o que se vai passar. Temos de nos manter resistentes e resilientes"

“As primeiras encomendas de inverno, que é altura mais importante para as lãs, só vão chegar no próximo ano”

CONCEIÇÃO SÁ LURDES SAMPAIO

ARTUR SOUTINHO MORETEXTILE

INÊS BRANCO TÊXTIL NORTENHA

JOÃO CARVALHO FITECOM

sabemos que os próximos seis meses vão ser difíceis. Na indústria ainda não se sentem sinais de retoma e pela forma como os têxteis foram afetados, qualquer antevisão é prematura”, afirma Inês Branco, Head of Design da Têxtil Nortenha. Apesar do vazio da incerteza, a responsável pela empresa têxtil de Vila Nova de Famalicão tem uma certeza: “Temos de ser resistentes e resilientes”. Resiliência, que para além da produção de máscaras e outros equipamentos, se traduz para muitas empresas têxteis num esforço acrescido de digitalização.

clientes e estamos a apostar na digitalização para fazer este approach às empresas. Pelo menos enquanto as feiras não regressarem à sua dinâmica normal”, comenta António Cunha. Quanto às feiras – cujo regresso está previsto para Setembro – João Carvalho projeta: “Vamos continuar a estar em todas as feiras onde íamos, mas certamente que esperamos menos clientes”. O líder da Fitecom procura também colocar a tónica na digitalização, mas sabe que os compradores demoram a habituar-se. “Fazemos toda a coleção em formato digital há anos, mas não há um cliente que não prefira o formato tradicional. A mudança de hábitos vai demorar”, assegura. Na Mi Casa Es Tu Casa, o foco esta já na próxima Heimtextil, em janeiro de 2021. “Em 2020, por muito que corra bem, já não será possível recuperar os números que prevíamos no início do ano. A prioridade agora é entrar em 2021 ao ritmo que começamos este ano. O foco está na Heimtextil, para a qual já estamos inscritos”, afirma Paulo Pacheco. Para acelerar o processo da retoma, resta também a esperança de que o alarme face à excessiva dependência asiática faça a Europa realinhar as suas prioridades. “As empresas estão motivadas para retomar. Em relação aos consumidores, hoje mais do que nunca será preciso comprar português. Mas para além disso, Portugal e a União Europeia têm de apoiar a sua indústria e diminuir a dependência em relação à Ásia”, afirma José Armindo Ferraz, num apelo seguido por António Cunha: “Será importante criar uma consciência que não podemos estar tão dependentes da Ásia. E na Europa, não podemos esquecer que os têxteis portugueses estão à frente em termos de inovação e quick response. Está na hora de afirmar essas mais-valias”, resume. t

nar a retoma. Neste momento as encomendas ainda não existem, está tudo na expectativa. As lojas querem escoar primeiro os produtos que têm em stock”. Apesar de notar que algumas marcas conseguiram manter boas vendas através do online, a empresa de malhas acredita que só com o regresso das pessoas ao retalho é que a indústria poderá retomar o ritmo. “Há ainda um grupo enorme de consumidores que prefere as lojas. E a confiança com que vão regressar às lojas será determinante”, assegura. O stock acumulado nas lojas é

para João Carvalho a preocupação número um. “Espero estar enganado e que a minha opinião não valha para nada, mas prevejo um ano muito difícil. As lojas não venderam o que tinham e há muito produto em stock. Se os artigos duma estação estão em armazém, compram menos na próxima. As primeiras encomendas de inverno, que é altura mais importante para as lãs, só vão chegar no próximo ano”, antevê o CEO da Fitecom, empresa de Tortosendo especialista em lanifícios. “Neste momento, ninguém consegue fazer previsões. Apenas

É o caso da Moretextile, que para além de um showroom digital, criou também agora uma loja online para a sua marca Cotton Care. “Todas estas soluções como as videoconferências ou as visitas virtuais são para manter. Não significa que substituam o contacto presencial, mas são uma solução, que agora se implementou e continuará a ser utilizada. E muitas vezes traduzem-se numa maior eficiência”, explica Artur Soutinho. A prioridade está em manter a proximidade com os clientes. “Na Orfama, a cada semana fazemos uma análise do feedback dos


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A DOIS CAFÉS & A CONTA Casa de Pasto de Pouve

Rua Zeferino Rodrigues Carneiro, 125 4770-680 Seide – Vila Nova de Famalicão

Entradas Presunto e rissóis Prato Bacalhau à Brás e Costelinhas de porco com favas Bebida Vinho verde branco da casa e dois cafés

BRAZ COSTA

Nasceu e cresceu em Águeda, onde estudou até ao 12º ano, quando teve de escolher entre duas paixões: a Música (estudou flauta no Conservatório) e a Engenharia - impôs-se a racionalidade económica. Sempre sonhou com a FEUP, mas mudou de ideias na última hora, ao ver que o curso da UMinho incluía Programação de Computadores. Ficou por Braga, sem nunca antes lá ter posto os pés. Com a tropa pelo meio do curso, iniciou a carreira de engenheiro mecânico numa fábrica que fornecia a Renault e a Volvo, a par da UM, como professor e investigador. Deu nas vistas ao fundar o IDIT Minho, onde esteve oito anos, até aceitar ser diretor-geral do CITEVE. É viúvo e tem dois filhos: Inês, 28 anos (licenciada em Marketing e Administração) e Miguel, 23 anos (licenciado em Música)

PORTUGAL TEM TUDO PARA AGARRAR ESTA OCASIÃO

FOTO:RUI APOLINÁRIO

DIRETOR-GERAL DO CITEVE

Os dias correm a duzentos para o diretor-geral do CITEVE mas o esforço compensa. “Fico contente que a indústria têxtil tenha iniciado o processo de forma voluntarista, para ajudar, e tenha evoluído para o negócio”, diz António Braz Costa, lembrando as primeiras reuniões em que o Governo convocou os vários setores para analisar as respostas no combate à pandemia Covid-19. “Queriam importar tudo”, mas, tal como no passado recente, a têxtil mostrou que vai à luta e não se deixa abater. Em poucos dias, o país soube que podia contar com a sua indústria na produção dos necessários equipamentos de proteção, tendo passado ao lado das aflições, processos especulativos e fraudes com que as encomendas asiáticas acabaram por confrontar boa parte dos parceiros europeus. Uma maratona que para o CITEVE ainda não acabou, com amostras e produtos para análise e certificação que continuam a chegar às centenas todos os dias. “Foi a partir do dia 16 de Abril, quando saíram a normas, que a coisa disparou. Acima das 200 amostras por dia. Foi como com o papel higiénico, as pessoas chegavam a casa carregadas e no dia seguinte voltavam com mais”, ironiza Braz Costa para dar conta da tarefa para a qual o centro tecnológico teve que se preparar.

Um esforço que obrigou à reorganização interna, ao reforço de equipamentos e à afetação aos laboratórios de praticamente todo o pessoal. “Todos os dias, das seis da manhã à meia-noite, e incluindo os fins-de-semana, o CITEVE contínua em ritmo de maratona”, reforça o diretor-geral, que refuta algumas críticas que aqui e ali também se foram ouvindo. “Grande parte apenas maledicência interessada”, nota. “Percebo a pressão dos prazos, negócios que precisavam da certificação para serem fechados. As pessoas têm legitimidade para falar, mas não têm razão. Ponto!”. E faz questão de esclarecer que nem haveria sequer qualquer hipótese de favorecimento: “Quando chegam, as amostras são cadastradas, é-lhes atribuído um código de barras e seguem, por ordem, por caminhos diversificados consoante as especificações, sendo produzidos os respetivos relatórios. Só no final é que tudo é junto e se sabe a quem corresponde aquele código”, explica Braz Costa, que para os mais céticos deixa ainda outra hipótese: “Somos um laboratório acreditado, está tudo registado”. E quanto a demoras, compara com o mínimo de 12 semanas em Espanha ou os 40 dias úteis em França, com taxas que chegam aos 1.200 euros, como referem as empresas desses países que procuram o CITEVE.

Braz Costa prefere antes salientar a capacidade de reação das nossas empresas e que “Portugal tem condições para agarrar esta oportunidade única” que se antevê com o pós-Covid, depois da aflição com a dependência da China. “A noção de reserva estratégica tem que ser revista, a Europa tem que ter uma produção mínima. E o que está a acontecer na área médica vai passar também para a moda”, prevê. A forma como as empresas reagiram - “sem ficarem à espera” – é o melhor dos augúrios. “Foi o melhor que podia ter acontecido ao setor, que só tem a ganhar mas tem que dar da perna”, avisa. Cabe agora à Europa decidir o que vai fazer com a China, mas Portugal arranca em vantagem. “É que já lá estamos. Mantivemos a cultura têxtil e um sistema industrial verticalizado”, diz, mas vai avisando que os países mais ricos também se posicionam: “A Alemanha já retomou a produção dos TNT e está a instalar fábricas com máquinas que ninguém imaginaria”. Braz Costa lembra até a forma como é subsidiada a produção de leite para frisar que tudo depende das políticas que a UE venha a adotar. Mas uma coisa é certa: “Não podem deixar de olhar para esta disponibilidade de produção têxtil que Portugal oferece”. t


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FARFETCH ABRE 40 VAGAS PARA A 5A EDIÇÃO DO PLUG-IN A Farfetch, a plataforma tecnológica líder global para o comércio online da moda de luxo, já lançou a 5ª edição do seu programa de estágios remunerados, o Plug-in. São disponibilizadas 40 vagas, para os escritórios de Lisboa, Porto e Braga, e até ao final de agosto podem candidatar-se os recém-graduados nas áreas de tecnologia, data e produto que não tenham uma experiência profissional de mais de dois anos. Nas quatro edições anteriores do Plug-In, a Farfetch recebeu cerca de centena e meia de estagiários, com uma taxa de retenção que no ano passado atingiu os 90%.

"A flexibilidade é uma das nossas vantagens competitivas, tanto fazemos 100 peças para a Mugler como quatro mil para a Isabel Marant" Paulo Faria Designer e diretor comercial da Paula Borges

KORNIT CRIA IMPRESSÃO SUSTENTÁVEL PARA OS TÊXTEIS É uma nova tecnologia de impressão a rolo que dispensa por completo a utilização de água. Ao longo do último ano a Kornit otimizou o equipamento Presto, adicionou-lhe um amaciador e está agora a introduzi-lo nos mercados da moda, têxteis-lar e sportswear . Apesar das apresentações planeadas em Madrid e em Telavive terem sido adiadas devido à Covid-19, a tecnologia já está disponível no mercado, e em Portugal está a ser distribuída pela Tajiservi. “O equipamento é o mesmo que foi lançado no início de 2019, mas agora a Kornit juntou-lhe um amaciador, o que é extremamente relevante porque torna o toque mais agradável e ideal para os mercados da moda e dos têxteis-lar”, explica Júlia Petiz, CEO da Tajiservi, empresa que comercializa as tecnologias criadas pela Kornit, produtora israelita de máquinas de impressão digital. A Presto consiste num novo equipamento de impressão em rolo, com a capacidade para 450 m 2 por hora, e que dispensa a utilização de água, quer em pré-tratamentos como em acabamentos. Certificada de acordo com os padrões de sustentabilidade OE-

GREENPRINT INVESTE 300 MIL E VOLTA-SE PARA AS MÁSCARAS

ATP VOLTA A LEVANTAR A VOZ CONTRA CORTE DE VOOS DA TAP

A estamparia Greenprint – Motivos Decorativos Têxteis está a fazer um investimento de cerca de 300 mil euros no sentido de reorientar a sua unidade para a produção de máscaras. Com a nova atividade, a empresa de Barcelos que normalmente se dedica à estamparia têxtil não só consegue manter todos os atuais colaboradores como criará ainda novos postos de trabalho.

Depois de em 2018 as exportações da região norte terem obrigado a TAP a retomar algumas das rotas que tinha cancelado a partir do Porto, a compania aérea apresentou um plano de retoma concentrado em Lisboa, com apenas três voos internacionais (Nova Iorque, Londres e Paris) a partir do Porto. As exportações fazem-se a norte e isso exige uma situação mais proporcional, avisou a ATP.

400 mil

metros por mês é a capacidade de tecelagem instalada da João & Feliciano O novo equipamento Presto produz 450 m2 por hora e dispensa a utilização de água

KO-TEX, a tecnologia garante também uma impressão com menor uso de reagentes químicos e de energia elétrica. No entanto, as primeiras experiências revelaram que a Presto criava um toque áspero nas peças. “Até agora só era indicado para o mercado da decoração, para cortinados, por exemplo, mas o novo amaciador vem solucionar o problema”, afirma Júlia Petiz. Com este novo elemento, o objetivo da Kornit é que a tecnologia seja utilizada em todos os setores da têxtil, es-

pecialmente nos mais exigentes ao toque, como os têxteis de cama, a moda infantil ou o sportswear . Apesar das apresentações oficiais terem sido adiadas, a Tajiservi tem alternativas. “O equipamento está disponível e temos demonstrações online para que a partir de casa os clientes possam visionar a Presto a trabalhar. Estamos também a fazer apresentações e reuniões com recurso às plataformas digitais”, adianta a CEO da Tajiservi, Júlia Petiz. t

MIGUEL PEDROSA RODRIGUES: O GRANDE DESAFIO É SETEMBRO O grande desafio para a indústria têxtil será a possível retoma no próximo mês de setembro – uma vez passados estes meses de abril e maio em que a produção normal da indústria se manteve genericamente parada, sem que “entrassem quaisquer encomendas”, disse ao T Jornal Miguel Pedrosa Rodrigues. Na sua perspetiva, a ‘travessia do deserto’ pode só acabar em 2023. O CEO da Pedrosa & Rodrigues, fornecedora de algumas das principais marcas mundiais desde 1982, afirma que “verdadeiramente, o impacto da pandemia ainda não começou e será em setembro que se vai poder aferir a dimensão do desafio financeiro” e de produção que o setor têxtil nacional vai enfrentar.


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PREMIÈRE VISION: ATÉ 3 DE JULHO É POSSÍVEL CANCELAR SEM CUSTOS

EMPRESAS CONSIDERAM ADEQUADAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO DA SAÚDE Um inquérito promovido pela CIP e pelo Marketing FutureCast Lab do ISCTE conclui que 88% das empresas inquiridas considera que as medidas de proteção da saúde definidas para a retoma da atividade económica são adequadas. O estudo diz também que a generalidade das empresas cumpre as normas em termos da higienização das mãos, utilização de máscaras e procedimentos sobre distâncias mínimas. “Isto mostra que as empresas portuguesas estão comprometidas com a saúde pública e os empresários estão motivados para uma recuperação da atividade em segurança”, afirmou o presidente da CIP, António Saraiva.

"As encomendas são cada vez menores e os prazos de entrega mais apertados" Fátima Antunes Administradora da Lasa

A organização garante o reembolso de todas as taxas às empresas que desistam da inscrição e ainda no caso de as fronteiras fecharem

Depois de o governo francês ter anunciado a abertura de fronteiras a partir de 15 de junho e ter definido as medidas de saída da fase de bloqueio, a Première Vision decidiu alargar as inscrições até ao dia 3 de julho. É também até esta data que os expositores podem cancelar as inscrições sem qualquer penalização. Uma injeção de ânimo e um novo fôlego para aquela que é uma feira incontornável para os produtores têxteis e para os profissionais da moda, e que tinha já decidido que o evento, que se realiza em Paris de 15 a 17 de setembro, seria também especial por decorrer desta vez simultaneamente em duplo formato: físico e digital. Da maior importância para a ITV portuguesa, a Première Vision contou na edição homóloga de 2019 com uma uma presença recorde de empresas e marcas, exibindo a bandeira nacional em cerca de meia centena de stands. A par do alargamento dos prazos, a organização garante também o reembolso de todas as taxas às empresas que até àquela data desistam da

inscrição e ainda no caso de, por alguma razão, as fronteiras tiverem que ser novamente fechadas. Entretanto, e enquanto aguardam que as autoridades divulguem a regras concretas para a realização de feiras, a Première Vision informa que está a trabalhar “em estreita proximidade com as autoridades francesas” e que já adotou medidas de segurança como crachás digitais para todos, espaços públicos revistos e ampliados, sistemas de filas que garantem o distanciamento social nas áreas de receção e instalações sanitárias, além do fornecimento de máscaras e desinfetante para as mãos. Animados pelas decisões do governo francês, os organizadores da feira que decorrerá como habitualmente no espaço Paris Nord Villepinte, prometem também manter os participantes informados sobre todos os pormenores da edição de setembro, que, dizem, “promete ser incomum”. Assim, a newsletter da Première Vision será até lá editada a cada três semanas, para “fornecer notícias antecipadas sobre o programa e , acima de tudo, otimizar a participação”. t

SMARTX: 2,4 MILHÕES PARA 40 PROJETOS DE TÊXTEIS INTELIGENTES

UNIFARDAS SEPARA SEGMENTOS EM DUAS MARCAS DIFERENTES A Unifardas, fabricante de workwear, acaba de criar duas marcas distintas com as quais pretende segmentar os diferentes serviços que oferece no âmbito do vestuário profissional. A Unifardas Healthcare, que passa a dedicar-se ao fornecimento de Equipamento de Proteção Hospitalar, e a Unifardas Custom Made, que disponibiliza todo o serviço de customização de vestuário profissional.

COMÉRCIO DE LUXO CAI 35% E SÓ RECUPERA EM 2023 As vendas de produtos de luxo devem registar uma queda de entre 25% e 35% no final do ano de 2020, segundo um relatório elaborado pela consultora Altagamma e Bain & Company – que indica também que o setor só recuperará os níveis pré-crise em 2023. O relatório Luxury Study 2020 Spring Update refere ainda que a recuperação se dará, mas transformará o setor em algo profundamente diferente daquilo que é agora.

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coleções foram apresentadas ao longo de 25 anos do Portugal Fashion

Integrando o Cluster Têxtil português e o CITEVE, o SmartX Europe – Acelerador Europeu de Têxteis Inteligentes, fechou a sua primeira call de financiamento, de que resultaram 35 candidaturas elegíveis, duas das quais de empresas portuguesas. Com um orçamento de 2,4 milhões de euros (60 mil euros por projeto) e um ano de coaching gratuito, o programa de três anos apoiará até 40 projetos no âmbito dos têxteis inteligentes. “Com uma taxa de crescimento 80 vezes mais rápida que todo o mercado têxtil, os têxteis inteligentes são agora reconhecidos como uma prioridade máxima

pela indústria têxtil europeia e pela União Europeia”, diz Lutz Walter, secretário-geral da ETP, a Plataforma Tecnológica Europeia para o Futuro dos Têxteis e Vestuário, um dos parceiros da SmartX e coordenador do projeto. O SmartX Europe foi impulsionado por 13 parceiros europeus das indústrias têxtil e tecnológica, com foco em tecnologia de fabricação, microeletrónica, processamento de dados e IoT. As propostas elegíveis foram submetidas por 54 PME provenientes de 15 países da União Europeia e dos 16 países associados do programa comunitário

Horizonte 2020, sendo a Alemanha, Itália e Suécia os países com maior número de propostas elegíveis. A maioria das candidaturas trata dos setores de proteção e saúde do consumidor, enquanto as restantes são divididas entre aplicações médicas, industriais, desporto e bem-estar. Os critérios de seleção, que envolvem 12 especialistas no Comité de Seleção SmartX, incluem o potencial de crescimento dos negócios das PME e startups, excelência técnica e operacional, a capacidade de inovação, potencial de colocação no mercado e impacto na cadeia de valor da manufatura. t

GIOVANNI GALLI TEM A ROUPA PERFEITA PARA FICAR EM CASA Com algumas regras de isolamento ainda em prática, a marca portuguesa Giovanni Galli quer provar que homewear e estilo podem andar lado a lado. Quer seja para uma reunião via skype ou apenas para descontrair, a coleção de primavera verão da marca está repleta de peças confortáveis e elegantes para todos esses momentos e até pode ajudar os mais desmotivados a não perder o estilo em ambiente doméstico.


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ELASTONI DESENVOLVE MÁSCARA TRANSPARENTE

TROTINETE REFORÇA COLEÇÃO MEDICAL+ COM SELO CITEVE O vestuário médico e de proteção já era uma das áreas de ação da Trotinete, mas a aposta neste setor é agora redobrada. A empresa de Leça do Balio alargou o seu catálogo Medical+, que inclui uniformes de saúde, vestuário de paciente e equipamentos de proteção individual, com vários artigos que levam agora o selo de certificação de segurança do CITEVE. Para além dos equipamentos de proteção individual, o catálogo da Trot para 2020, já disponível online, conta também com uma série de novos designs em uniformes hospitalares, como smocks e scrubs, mas também em vestuário de paciente, para ambiente hospitalar ou doméstico.

"Procuramos apresentar coleções que sejam disruptivas, que o cliente não tenha qualquer tipo de comparação" Ana Pinheiro Administradora da Mundotêxtil

A nova máscara despertou a curiosidade dos clientes internacionais, o que para a empresa pode significar um aumento das exportações

A Elastoni – Confeções, através da sua marca Be Angel, desenvolveu, em estreita colaboração com o CITEVE, uma máscara social transparente para fácil leitura labial, que responde a uma necessidade específica da população com dificuldade auditiva, intérpretes de língua gestual e terapeutas da fala, entre outros. A empresa de Famalicão produzia já outros modelos de máscaras sociais, que já está a exportar. “Os nossos contactos no exterior, nomeadamente em França e na Bélgica, já nos fizeram muitas perguntas sobre as novas máscaras e o primeiro sinal é de grande aceitação, o que abre fortes perspetivas de exportação”, adiantou ao T Jornal Nuno Oliveira, administrador da empresa, a Be Angel. A inovação do produto surgiu no interior da empresa, que o distribuiu de forma gratuita en-

tre os colaboradores, lares, hospitais (designadamente o S. João, no Porto), bombeiros e outras instituições. “A aceitação geral levou-nos ao CITEVE para a sua certificação”, processo que foi rapidamente concluído, acima das expetativas da empresa em termos de capacidade de proteção. “Usar ao mesmo tempo malha e plástico em confeção não é fácil”, revela Nuno Oliveira – dono da empresa, juntamente com a mulher – mas os equinócios produtivos foram ultrapassados. “Ainda não temos uma expetativa de volumes para perceber que dimensão este negócio pode assumir”, sendo certo que com a produção interna e o eventual recurso a parceiros que tradicionalmente trabalham com a Elastoni, a empresa conseguirá responder a todas as solicitações. t

FABRICO NACIONAL JÁ FORNECE O ESTADO A PREÇOS MAIS BAIXOS Portugal está a comprar sobretudo através das empresas nacionais, com prazos mais curtos, melhores condições e a conseguir máscaras a preços mais baixos que os negociados pela UE. O Ministério da Saúde diz que ainda só adquiriu 250 mil máscaras através dos concursos públicos internacionais organizados pela Comissão Europeia. A notícia, do jornal Público, destaca que “Portugal comprou 75 milhões de máscaras a preços mais baixos que os negociados pela UE” em resultado das contratações por ajuste direto que tem feito através de empresas nacionais, sendo citados especificamente os contratos celebrados com fabri-

cantes como a Cloth Up, Bastos Viegas, Oasipor ou Raclac. A Cloth UP, com sede em Guimarães, e a Oasipor, instalada na Trofa, foram das primeiras empresas a obter a certificação do CITEVE para os seus produtos e equipamentos de proteção, conforme consta das listas que o centro tecnológico mantém publicas. Com sede em Penafiel, a Bastos Viegas é há décadas um tradicional fornecedor do Ministério da Saúde e referência a nível mundial na área dos dispositivos médicos, enquanto a Raclac acaba de investir 23 milhões na fábrica de Famalicão para produzir diariamente 2,3 milhões de luvas descartáveis.

Além disso, associou-se a cerca de 30 confeções da região para produzir equipamentos de proteção para o Sistema Nacional de Saúde. Recorde-se que a decisão da UE de centralizar as encomendas de equipamentos e proteção para os sistemas de saúde dos vários países surgiu na sequência da concorrência desenfreada que fez disparar os preços do fornecimento asiático, com o objectivo de criar escala e disciplinar a procura. Com as encomendas a fornecedores nacionais, Portugal não só tem conseguido contornar essa especulação, como também evitar os problemas com materiais defeituosos ou falsificados. t

SONAE FASHION FATURA 78 MILHÕES NO PRIMEIRO TRIMESTRE Mesmo com o bloqueio da pandemia, a Sonae Fashion fechou contas do primeiro trimestre com um volume de negócios de 78 milhões de euros, que representam uma queda de 19% quando comparado com o mesmo período do ano passado. Todas as lojas tiveram que fechar no início de março. Para a Sonae Fashion, que detem marcas como a Salsa, MO ou Zippy, “os primeiros dois meses do ano foram muito positivos, tanto ao nível de vendas como do EBITDA subjacente, demonstrando assim melhorias nas propostas de valor e nos modelos de negócio”, refere a Sonae no comunicado de apresentação de resultados enviado à CMVM.

95%

é a quota de exportação da Ambitious, que está presente em 48 mercados

NATURA REABRE LOJAS DE RUA, MAS ATÉ O URSO USA MÁSCARA

A Natura foi das primeiras a reabrir todas as suas lojas de rua, um regresso à normalidade que trouxe também descontos de até 50% em peças selecionadas na coleção SS20. No entanto, a segurança continua a ser a principal prioridade, a que nem a famosa mascote escapa: o urso está agora de máscara e recolhido no interior, sem o tradicional convite a abraços.


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quality impact arquitetura e soluções de espaços

Rua do Cruzeiro, 170 R/C | 4620-404 Nespereira - Lousada T. 255 815 384 / 385 | F. 255 815 386 | E. geral@qualityimpact.pt


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X A MINHA EMPRESA Raclac

Rua de Ribela, 600 4770-170 Cruz – Vila Nova de Famalicão

O que faz? Fabrico e comercialização de produtos descartáveis para a área da saúde, indústria e estética Volume de negócios Dos 12,5 milhões em 2019, quer saltar este ano para os 50 milhões Principais clientes Sistema de saúde, público e privado Marcas próprias Rubbergold, Nexderma e Celcare Estratégia Abastecer a Europa, EUA, Canadá e Japão, sem esquecer Portugal Trabalhadores 55

A NOVA COLEÇÃO DA PERFF STUDIO MANDA-NOS SIMPLIFICAR Confidence in Simplicity é o tema da nova coleção da Perff Studio, a marca portuguesa de moda desportiva de luxo fundada por Jorge Castro que é produzida no coração de Portugal. Peças de athleisure urbanas e intemporais que podem ser usadas em qualquer situação, e que pela sua versatilidade permitem manter sempre a elegância, seja na rua, no estúdio ou numa reunião, sem nunca comprometer o conforto e o requinte.

"Sempre valeu a pena produzir fios em Portugal, mas hoje temos que estar focados nos fios diferenciados" Paulo Melo Administrador da Somelos

FRADELSPORT FAZ MÁSCARAS E EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO

À frente do tempo, na Europa e no Mundo Andar à frente do tempo parece ser a estrela de Pedro Lopes, que ainda antes de a pandemia ter colocado a Europa – e o mundo – perante os riscos da dependência da China em produtos essenciais, já tinha avançado com o projecto Nitro na Raclac. Um investimento pesado – vai nos 23 milhões de euros – pensado para andar um passo à frente naquilo que fazem os concorrentes chineses e fornecer à Europa e ao mundo luvas descartáveis. Foi um sonho? “Quando sonho, já está concretizado”, brinca o fundador e CEO da Raclac, para mostrar que a iniciativa empresarial não se pode guiar por realidades imaginárias nem pela ilusão do momento. “São coisas longamente pensadas, apoiadas em estudos profundos, cálculos, planos e análises de risco”, enumera, para explicar a decisão de avançar com o projeto Nitro. O nome decorre das primeiras luvas em nitrilo não estéreis, que são agora fabricadas na Europa e com um conceito produtivo e de qualidade inovador e único no mundo. “Um projeto pensado e concretizado antes da Covid-19 para fazer cá o que vinha da Ásia. Sempre acreditei na reindustrialização da Europa”, assegura o empresário que há cinco anos avançou para a construção das novas naves da unidade fabril de Famalicão. Não só para poder competir pelo preço com os seus fornecedores chineses, mas também para poder oferecer ao mundo um produto de maior qualidade e com absoluta garantia de segurança. Uma linha de produção 100% automatizada com capacidade de fabrico de 1.600 luvas por minuto, à qual ainda este ano se deve juntar a segunda, e uma terceira linha a entrar em funcionamento até ao final de 2021. Ou seja, dentro de ano e meio a Raclac estará em condições de produzir 4.800 luvas a cada minuto,

o que suporta as previsões de crescimento explosivo da faturação, dos 12,5 milhões de euros do ano passado para mais de 60 milhões no espaço de dois anos. “Uma tecnologia que é única no mundo e permite um circuito de produção em ambiente contacless e sem bactérias. Incluindo a embalagem, o que faz com que as luvas cheguem até ao utilizador em ambiente inerte, sem qualquer contacto, e fornecidas numa embalagem em que são retiradas uma a uma e pelo punho. Ou seja, o primeiro contacto é com o médico ou profissional de saúde que a vai utilizar”, enfatiza Pedro Costa. O orgulho do empresário é ainda maior quando explica que “todo o processo implicou a conceção de 22 tecnologias diferentes, uma delas desenvolvida internamente na empresa”. Quanto à qualidade, “o controlo incide sobre todas e cada uma das unidades – não é por amostragem – e é capaz de detetar até nanofuros”, outra inovação que faz o empresário orgulhar-se de andar muito à frente daquilo que é a produção asiática. Era já à frente no tempo que Pedro Costa pensava quando ainda se dedicava ao negócio de imobiliário da família e “imaginava ser fabricante legal de dispositivos médicos”. Assim o pensou, estudou, preparou e analisou, criando as marcas próprias que fornecem os mais variados dispositivos e equipamento de proteção que fabrica com uma rede de 75 empresas que a Raclac tem certificadas para o efeito. É com 25 delas que trabalha com maior assiduidade. Entretanto, e como a estrela o empurra para à frente no tempo, diz ter já em execução um outro projeto absolutamente disruptivo à escala mundial para o fabrico de equipamentos de proteção. “É mais que uma ideia, está em andamento, mas a seu tempo se verá”, reserva. t

Especializada em vestuário desportivo, a Fradelsport viu as encomendas reduzidas ao mínimo. Em resposta, a têxtil de Famalicão, em parceria com as confeções Arestas e Medidas e Mónica Daniela, avançou para a produção de máscaras de uso social, que logo quis certificar no CITEVE, mas também num laboratório de Madrid. Para contrariar a queda nas encomendas no desporto – “estou a contar com pelo menos quatro meses de vendas residuais” – o administrador, Paulo Reis, avançou logo para o fabrico equipamentos de proteção, como batas, cogulas, manguitos, cobre-botas e máscaras.

TINTEX APOSTA NA MARROQUINARIA COM COLEÇÃO DE RITA SÁ Uma coleção cápsula de mochilas, carteiras e outros acessórios é a forma como a Tintex está a apresentar aos clientes o seu potencial na área de revestimentos em marroquinaria. A empresa juntou forças com a designer Rita Sá para criar uma coleção inédita, em que destaca alguns dos materiais e processos sustentáveis que tem vindo a desenvolver.

28 mil

milhões de euros foi o montante faturado pela Inditex em 2019

COLEÇÃO SOLIDÁRIA DA SALSA AJUDA A CRUZ VERMELHA #NeverSurrender é a coleção que a Salsa lançou e que vai ajudar a Cruz Vermelha Portuguesa. A coleção inspirou-se no movimento com o mesmo nome, criado para ser fonte de inspiração e homenagear todos os ‘heróis’ no combate à Covid-19. A coleção é composta por dois jeans de mulher (modelos Wonder e Secret) e dois de homem (Lima e Slender) – com etiqueta personalizada, uma bandana e um porta-chaves de oferta – e por uma t-shirt.


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PARFOIS ‘ROUBA’ TALENTO NA BIMBA E LOLA

A FASHION FORWARD

A Parfois voltou a contratar no topo dos executivos da concorrência, desta vez Ángela Goitia, que liderava a rede internacional da Bimba e Lola e que assume agora a direção da rede espanhola da marca portuguesa. Para já, Goitia tem a função de liderar o processo de reabertura das cerca de 360 lojas da Parfois instaladas no mercado espanhol – a maior rede da empresa em apenas um mercado.

Por: Rita Bonaparte

Design de alma portuguesa Nestes tempos especiais que vivemos, o nosso coração tende a ser atraído para as pequenas/grandes coisas da vida. Momentos que nos viraram do avesso num todo, e numa verdade crua brotaram os desejos mais simples e preciosos. Floresceu a gratidão, a compaixão e a união! Demos tempo ao amor... O tempo deu-nos tempo para degustar a pausa no seu ínfimo significado. Cresceu o orgulho de ser Portugal! É tempo de apoiar a criação, a inovação, a nova geração, e tempo de lembrar a história, tradição e valentia! Assim, embarquem na busca do vosso tesouro. Viagem pelo fantástico que se cria em Portugal! Na onda de mar rebelde soltem-se e vão à deriva para conhecer

mais de nós mesmos. Em momento de desconfinar, a alegria, o brilho e a paz contagia-nos. A tendência é presentearmo-nos de luz, de vibração, serenidade, cor, mimo e detalhe, indo ao encontro do que se produz em Portugal. Convido-vos a explorar as marcas portuguesas de design que apostam no vestuário de praia. Os metálicos sorriem-nos, fazem-nos sonhar, brindam-nos de magia, de poderes mágicos e de coragem. Os pratas e ouros surgem brilhantes ou timidamente belos. Aparecem em one tone ou em apontamentos reluzentes em acessórios, transferes, detalhes. Prata lua, ouro areia pintam-nos com as nossas praias inspiradoras! Das tendências emana uma procura de

MO RETRATA AS FAMÍLIAS REAIS

paz, harmonia, tranquilidade. A textura do branco total tende a ser trabalhada. O branco do amor invade o verão em relevos, em formas assimétricas, em laçadas de carinho, em nós de estados de alma. As marcas apresentam modelos que se inspiram num retorno às origens, ao natural, ao craft . Apontamentos artesanais, composições manuais ou nós repetitivos, acessórios de madeira ou coco e materiais sustentáveis adornam de natureza e tradição os biquinis e fatos de banho made in Portugal. Vamos banhar o corpo de design de alma portuguesa... Na nortada de que tanto sentia falta, espalho o desejo fresco: vai ficar tudo bem. t

A MO não deixou passar em branco o Dia Internacional da Família e lançou uma campanha digital que, entre outras ações, incluiu a divulgação do novo vídeo “Retrato de Família”. O sofá da sala de cinco famílias portuguesas foi o cenário eleito para o novo vídeo da MO, que quis captar todas as peripécias antes de um retrato de família. A marca portuguesa, cuja assinatura é atualmente “Celebramos a família”, procura assim aproximar-se da (imperfeita) realidade da maioria das casas portuguesas.

PAPUA

TYPE

BOHEMIANSWIMWEAR

LOUIS VUITTON FAZ MÁSCARAS NÃO-CIRÚRGICAS A Louis Vuitton redirecionou as suas oficinas em França e deu início à produção de milhares de máscaras protetoras não-cirúrgicas, mobilizando centenas de artesãos em resposta ao pedido do governo para aumentar a produção de alternativas, ajudando no combate à Covid-19. Michael Burke, presidente e CEO da Louis Vuitton, formalizou o início da produção com uma visita à oficina de Sainte-Florence, à qual se juntam ainda as oficinas de Marsaz e Saint-Donat (Drôme), Saint-Pourçain (Allier), e Ducey (Manche).


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Agora também pode comprar online! Na nossa loja vai encontrar uma vasta gama de produtos gráficos, com preços muito competitivos e total garantia de qualidade. Cartões, Postais, Monofolhas, Flyers, Cartazes, Desdobráveis, Catálogos, Revistas, Etiquetas, Autocolantes, Displays de Balcão, Porta Folhetos, Quadros em Tela Canvas, Impressão Digital de Grande Formato,...

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UMA FÁBRICA PORTUGUESA, COM CERTEZA! Chama-se ‘A Fábrica Portuguesa’ e é a nova plataforma de promoção e valorização para marcas portuguesas, sobretudo em tempos de confinamento. Da roupa feminina e masculina, moda infantil e calçado, até à joalharia e ilustração, quase tudo o que é português cabe na “A Fábrica Portuguesa”, criada por Inês Gil Forte e Rita de La Bletière, fundadoras da Mada in Lisbon e da Le Petit Chiffon, respetivamente.

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"Grandes clientes, marcas de moda, querem saber que quantidades de máscaras lhes podemos fornecer" Pedro Alves Administrador da Têxtilobo

ZIPPY REABRIU COM ATENDIMENTO EXPRESS E SERVIÇO DRIVE IN A marca de roupa infantil Zippy reabriu as suas lojas de rua de Bragança e Póvoa do Varzim, bem como no Madeira Shopping e La Vie Funchal. Paralelamente, a marca do grupo Sonae apresenta ainda dois novos serviços – o atendimento via whatsapp ou telefone e o atendimento express – que permitem comprar nas lojas que ainda não abriram ao público. No atendimento express o cliente é atendido à porta da loja, enquanto as encomendas via whatsapp ou telefone são recolhidas em sistema de drive-in no parque de estacionamento do centro comercial.

MINISTRO FOI À ADALBERTO CONHECER A MO X AD-TECH A cooperação entre empresas e as comunidades científicas e académicas permitiu desenvolver em Portugal as máscaras MOxAd-Tech, um produto inovador da responsabilidade da Sonae Fashion, Adalberto, CITEVE, Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e Universidade do Minho, cuja produção o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, quis conhecer ao vivo. A visita à Adalberto, uma das unidades onde é realizado o fabrico das máscaras, foi oportunidade para o governante salientar o exemplo de como a cooperação entre empresas, universidades e centros de inovação pode ajudar a desenvolver soluções inovadoras e a criar valor económico e social. A anfitriâ, Susana Serrano, CEO da Adalberto, não deixou de salientar que a máscara MOxAd-Tech “é inovadora a nível mundial” e “tornou-se possível por existir uma cooperação entre várias entidades distintas, que colocaram o seu conhecimento e capacidade ao serviço da comunidade para ajudar na proteção

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior quis conhecer de perto a produção das máscaras

das famílias portuguesas”. Para Francisco Pimentel, administrador da MO, “este projeto é um excelente exemplo de cooperação entre diferentes instituições nacionais para criar um produto inovador e disponibilizá-lo às famílias portuguesas num prazo

muito curto. Acredito que temos a melhor máscara de proteção social a nível mundial que existe hoje. Estamos também satisfeitos por ajudar à retoma de muitas fábricas na fileira têxtil, ao mesmo tempo que contribuímos para a proteção da saúde pública”. t

TÊXTEIS PORTUGUESES AUMENTAM PRESENÇA EM ESPANHA Num quadro em que a pandemia de Covid-19 já inf luenciava o ambiente de negócios, os têxteis nacionais aumentaram as suas vendas para o mercado espanhol em 22,1%, atingindo os 90,6 milhões de euros, segundo dados da Icex Spain Export and Investment. Para aquele organismo, a explicação para este aumento reside na necessidade de encontrar alternativas ao crescente encerramento dos mercados asiáticos. No quadro geral, as compras de vestuário das empresas espa-

nholas no exterior caíram 18,2% em março, com a China, principal centro de fornecimento do país, a sentir uma quebra de 28% em março. Turquia e Itália seguiram o mesmo caminho, com quebras de, respetivamente, 25% e 36,7%. França, Marrocos e Índia, tradicionalmente outros grandes fornecedores de vestuário de Espanha, estão do mesmo lado da balança, com reduções de 25% 19,2% e 21,1%, respetivamente. Portugal foi assim o principal beneficiário da necessária alte-

ração dos padrões de compra das empresas espanholas. Mas não foi o único. Segundo a mesma fonte, o Bangladesh também aumentou as suas exportações de vestuário para Espanha em 4,6% em março, estabelecendo-se como o segundo maior fornecedor de moda do país. O mesmo sucedeu com Myanmar (antiga Birmânia), cujos fornecimentos a Espanha cresceram 38,3%, fazendo passar o país de 10 o para 5 o fornecedor em termos do ranking das importações espanholas. t

HEIMTEXTIL 2021 JÁ CONTA COM 95% DO ESPAÇO RESERVADO Já é seguro que a próxima edição da Heimtextil, de 12 a 15 de janeiro, em Frankfurt, terá casa cheia. De acordo com a organização da mais importante feira mundial de têxteis-lar, é grande a expetativa e as reservas já efetuadas cobrem 95% dos 231.500 m2 que foram ocupados na última edição. Numa feira onde empresas e marcas portuguesas ocupam sempre posição de relevo, a organização da Messe Frankfurt destaca desde já as presenças da A. Ferreira & Filhos, da Narciso Pereira Mendes e da Herd na área Beautiful Living do hall 9.0. Também a Sorema, a Lameirinho e a Miguel Antunes Fernandes são citadas entre as empresas de prestígio que marcam presença no hall 11.0, no espaço dedicado aos produtos têxteis inovadores para cama. Na úlima edição, em janeiro deste ano, Portugal contou - como de costume - com uma forte comitiva enquadrada pelo projeto From Portugal, e esteve representado por um total de 78 empresas, que ocuparam uma área de 5.800 m 2 entre os quase três mil expositores de 64 diferentes países. “Embora as previsões sejam difíceis de fazer no momento, esperamos ser capazes de oferecer aos atores internacionais do setor uma qualidade e ambiente positivo para seus negócios em janeiro de 2021", disse em comunicado Olaf Schmidt, Vice-Presidente de Têxteis e Tecnologias Têxteis da Messe Frankfurt. t


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FOTO: RUI APOLINÁRIO

"INCERTEZA NA CHINA É OPORTUNIDADE PARA OS TÊXTEIS NACIONAIS"


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n ENTREVISTA Por: António Freitas de Sousa

Luís Teixeira É o Chief Operating Officer (COO) da Farfetch, fundada algures em 2008 mas que para todos os efeitos tem no dia 21 de setembro de 2018 a sua verdadeira marca de água: desde então, há na Bolsa de Nova Iorque uma empresa que foi pensada, estruturada e concebida em Portugal. Nos dois anos seguintes, cresceu exponencialmente e manteve-se indiferente à acumulação de prejuízos: sabia que ia ser assim. Mas deparou-se com um problema inesperado: os analistas do mercado gostam de resultados imediatos e tiveram dificuldade em perceber que a Farfetch evoluía no quadro de um racional de negócio diferente. Já começaram a perceber

a

única empresa de origem portuguesa cotada na Bolsa de Nova Iorque tem o seu objeto social alinhado com o luxo e a moda. O mercado português tem pouca presença nesse universo, mas a pandemia reservou para o têxtil nacional a hipótese de fazer o match com o primeiro unicórnio de ADN luso, que tem em Guimarães um dos seus centros nevrálgicos. Qual vai ser o impacto da pandemia num mundo, o das vendas online, que é por definição uma resposta à pandemia?

De uma forma geral, o que sabemos é que no momento mais imediato há uma contração do retalho como um todo – o que já é evidente e há uma grande incerteza sobre o que vai acontecer, principalmente na moda, no próximo ano. Há uma grande incerteza, num cenário em que na indústria do luxo, é certo que vai haver uma contração de mercado em 2020. Mesmo no segmento do luxo?

Sim. Paralelamente, temos visto uma aceleração da penetração do online e do e-commerce. Nas últimas oito semanas, a penetração do online cresceu para níveis nunca antes vistos. Aquilo que, na Farfetch em particular e no caso do luxo em geral, é a nossa expetativa é que haja uma contração do mercado como um todo, mas que haja muitos mais clientes a comprar. O que verificámos nos primeiros três meses do ano e já também no início de abril é que continuamos a crescer essencialmente porque temos mais clientes a comprar com a Farfetch.

da Farfetch…

Obviamente que estávamos mais bem preparados para isso que muitos outros retalhistas. Todo o investimento que fizemos na criação da plataforma para o mundo e para a indústria do luxo permite-nos ter um negócio que não é imune – obviamente que é afetado – mas que é muito mais sólido e resiliente para ultrapassar estes desafios. É o retalho físico que mais sofre?

O retallho físico já começa a abrir, mas nós, durante o período de confinamento, sentimos algum impacto – houve alguns pontos de stock que fecharam – mas não houve impacto material na nossa operação. Mas há outros impactos. A China é o maior mercado de luxo do mundo. A Farfetch vai recuperar a sua exposição ao mercado chinês?

No mundo do luxo, os clientes chineses são aqueles que mais compram há muito tempo. Estando o retalho físico com limitações, esses clientes estão a acelerar a penetração do online. O que nós vimos, olhando apenas para a China, no primeiro trimestre crescemos mais do que no ano de 2019, em termos percentuais. O confinamento acelerou esse crescimento?

Exato. Durante o período de confinamento, a Farfetch cresceu mais em encomendas enviadas para a China que no ano todo de 2019. A China é um mercado importante?

É um mercado muito importante para todas as indústrias e o luxo não é uma exceção: é um dos mercados onde mais investimos até hoje em todas as soluções, ao ponto de termos uma equipa já com mais de 300 pessoas, incluindo uma equipa tecnológica. Na China tudo é diferente. Em que medida?

É de alguma forma o objetivo

"A nossa plataforma tecnológica e a inteligência dos serviços operacionais está em Portugal"

Ninguém consegue ganhar ali

Há uma cultura Farfetch? Há. Basta entrar nas várias instalações da empresa para se perceber que a formalidade tem pouca margem para evoluir e que o ambiente é definitivamente construído para a criatividade e para o conforto pessoal. Prova ainda maior: esta forma de estar no negócio foi replicada numa infinidade de start-ups nacionais, na tentativa de absorverem o impacto muito positivo sobre os colaboradores. Por estes dias, a maioria deles mantém-se em casa e a empresa ainda não definiu uma regra de regresso, sendo certo que o teletrabalho é há muito uma opção que entra no âmbito do processo natural da empresa. “Não temos hierarquias, não temos estratos, enquanto empresa fomos sempre assim”, admite Luís Teixeira, para afirmar que seria muito difícil à empresa gerir de outra forma o facto de, apenas em Portugal, e entre os mais de dois mil colaboradores (são 4.500 no mundo inteiro), haver pelo menos 50 nacionalidades distintas. Portugueses, italianos e brasileiros enchem o top 3. “Temos pessoas totalmente criativas e pessoas muito lógicas”, num universo que só em termos de centros operacionais está dividido entre Porto, Guimarães, Lisboa, Nova Iorque, Los Angeles, Tóquio, Moscovo, Dubai, Hong Kong, Milão, Xangai e São Paulo. Mesmo assim, Luís Teixeira ainda tem dúvidas: “não sei se a isto se pode chamar o mundo Farfetch”

sem investir e sem uma equipa local. Há vários casos de empresas que foram para a China estando no online e falharam. A Uber e a Amazon são dois casos. Ao contrário, a Farfetch está a capitalizar todo o investimento que fez nos últimos quatro anos, que foi um investimento muito grande.… Da que ordem?

É difícil de mensurar, mas se pensarmos nas pessoas que lá temos em exclusividade, significa que é de facto um investimento grande. Estamos a capitalizar todo o investimento tecnológico e de processos que fizemos ao longo dos anos. A maior oportunidade nos próximos anos, há consenso sobre isso, está na China. O mês de abril reforça essa tendência do primeiro trimeste?

Reforça. Crescemos com números aceitáveis. A Farfetch cresce na China. Onde é que cresce mais? E onde é que está a perder?

De uma forma geral, continuamos a crescer – não posso apontar nenhum mercado que não esteja a crescer face ao passado. Há de facto mercados que estão a crescer de forma mais rápida que outros, seja porque há, como no caso da China, maior apetência, seja como noutros mercados onde para além de haver uma maior penetração do online houve outros retalhistas que não conseguiram manter as suas operações em funcionamento. A penetração da Farfetch em Portugal é residual?

Não é representativa. Portugal é um país muito importante por vários motivos – é aqui que temos o coração da empresa: a nossa plataforma tecnológica e a inteligência dos serviços operacionais, está em Portugal, apesar de sermos uma empresa descentralizada. Temos aqui mais de duas mil pessoas. Sou COO da empresa com uma equipa numerosa distribuída por dez países, mas o grosso e o centro da

inteligência está aqui. Está em Portugal cerca de 90% da nossa equipa de tecnologia. Mas as compras não acompanham…

Em termos do demand dos clientes, não é muito representativo, porque a penetração do online em Portugal é inferior, mas tem também infelizmente a ver com o poder de compra. Em termos daquilo que é o suply, as boutiques – marcas não temos muitas – também são pouco representativas. Com a aquisição que fizemos no ano passado com a NGG New Guards Group – uma plataforma de criação de marcas, entre as quais a Off White, a mais conhecida –, muita da produção para as suas marcas é feita em Portugal: há já muitos anos que a equipa de gestão desenvolve as coleções e depois contrata a produção do vestuário e calçado em Portugal. Portugal é visto como um país que produzia bem, entregava bem e era barato. Uns 30 anos depois, como é que os compradores olham para o setor têxtil em Portugal?

Da mesma forma. De uma forma geral, a indústria portuguesa continua a ser vista como uma indústria que consegue criar, desenvolver, produzir com qualidade e entregar com previsibilidade. Essa visão continua e temos o exemplo muito claro da NGG, que faz múltiplas coleções para várias marcas e não é por acaso que a maior parte das produções são feitas em Portugal, e também em Itália. São os países de referência em termos de qualidade, flexibilidade e serviço. Mas depois temos a questão do contexto, que é um handicap: enquanto país, temos a dificuldade da escala. Produz-se muito bem, cria-se muito bem, mas não para marcas próprias. Há 30 anos não haveria nenhuma marca portuguesa na Farfetch. Atualmente já há algumas?

Temos algumas, sim – o impor-


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Adepto do FC Porto, jogador do Candal Luís Teixeira está confortável com a forma como o campeonato de futebol vai chegar ao fim: “não queremos ganhar na secretaria”, diz. Adepto ferrenho do Futebol Clube do Porto, o futebol teve sempre um lugar imporante na sua vida – pelo menos até ao dia em que o trabalho passou a absorver quase tudo. Foi atleta federado e jogador (médio centro) entre os nove e os 32 anos, jogou no Candal, no campeonato nacional de júniores, na 3ª divisão e nos distritais. Agora é um feliz membro dos veteranos do Candal. Casado com dois filhos (de 10 e sete anos), é natural do Porto e, apesar de ser licenciado em Gestão e Engenharia Industrial, na FEUP, nunca lhe deu para ficar em casa ‘agarrado’ ao computador. Antigo leitor (“antes de ter filhos”) e atual viajante, ainda não conseguiu decidir qua será o destino da sua próxima viagem. Ou mesmo o ano em que ela sucederá.

tante é arranjarmos uma forma de, em momentos menos bons, a indústria responder bem. Imaginemos que neste momento haverá uma contração do textil: a realidade é que as empresas portuguesas, se tiverem menos encomendas, podem ser abaladas a ponto de terem de fechar. Esse é o grande problema – e isso liga-se à questão das marcas próprias. O facto de a indústria trabalhar para outros abre-a ao perigo de as pequenas variações de encomendas terem um impacto muito grande. Agora, qualidade, flexibilidade, talento – a indústria têxtil portuguesa tem tudo. Descobre alguma oportunidade para a têxtil nacional?

A incerteza vai fazer com que a produção na China ou em qualquer outra parte longínqua do mundo seja mais complicada – o que pode ser uma oportunidade. A Farfetch tem tido uma política agressiva de aquisições. É para continuar?

A nossa última grande aquisição foi a NGG em agosto de 2019. A visão e a estratégia do José Neves [CEO e fundador do grupo] não mudou: a Farfetch é uma plataforma para a indústria de luxo – e uma plataforma 360, que tenha a parte das vendas digitais mas que seja uma força para toda a cadeia de abastecimento. Acredito que o online vai crescer – as previsões eram que, até 2025, a penetração do online iria chegar aos 25%, mas com esta aceleração já vai tocar os 30% - mas o retalho físico vai ser sempre muito importante. Aquilo que nunca mais vai ser o mesmo é que vai haver muito poucas vendas sem a intervenção da ação digital, mesmo que seja em loja. Para além do e-commerce?

É aí que está a Farfetch: somos uma plataforma para a indústria, seja com o e-commerce, seja com tecnologia que permite servir melhor os clientes em loja. Temos o projeto que lançámos o ano passado com a Chanel, que

EBITDA ajustado?

"A bolsa traz uma exposição excelente e permite-nos estar noutro campeonato" passa por isso mesmo: junta a experiência online e offline. E para fechar o círculo, a aquisição da NGG é o que nos permite estender a plataforma a montante: criar marcas e criar conteúdos exclusivos para a indústria. E isso não é feito só para alimentar o marketplace: enquanto plataforma, a Farfetch.com é apenas um dos clientes da plataforma. Dito isto, retirámos o guidence de investimento para 2020, mas dissemos que mantemos o nosso objetivo de chegar ao breakeven operacional em 2021. Nunca se pode dizer nunca, mas não se prevêem mais aquisições no futuro próximo, até porque a NGG é uma máquina grande – estamos focados em colher todos os frutos da sua integração. O breakeven em 2021 é um objetivo antigo. Mantém-se, depois da pandemia?

Mantemos o objetivo. E dissemos ao mercado que ele se mantém. É preciso perceber que, quando se diz que é um objetivo, se achássemos que não era possível não o refeririamos. O EBITDA é a prova disso?

No primeiro trimestre do ano, o concenso entre os analistas era que teríamos um EBITDA negativo entre 30 a 35 milhões [de dólares] e tivemos 22,319 milhões [negativos]. Isto é algo que já vinha a ser delineado há muito tempo e é um trabalho contínuo, no qual continuamos bastante confiantes. Os indicadorers que temos é que continua a ser perfeitamente possível atingir esse desafio. Abril reforça essa tendência do

Penso que vamos continuar na mesma tendência. Não paramos investimento nem crescimento, mas não seria verdade se dissesse que não tomámos precauções. Os analistas dizem que vamos crescer abaixo dos dois dígitos – se conseguirmos crescer mais, obviamente com contenção de custos, vamos continuar na mesma tendência de melhoria de resultados. Vamos ter de esperar. Os analistas já perceberam qual é o negócio da Farfecth?

A aquisição da NGG não foi compreendida: foi entendida como um aumento de complexidade ou como a mudança da estratégia de negócio e como um aumento de risco, quando na prática foi apenas uma extensão daquilo que é a nossa plataforma 360. Começa a ficar bem mais claro o que queremos e os resultados demonstram-no. Acho que o que temos visto nos últimos meses neste período de incerteza é que essa compreensão está a começar a dar-se. Ainda assim, as ações (a cotar entre os 13 e 14 dólares) estão com um desconto significativo face ao IPO a 20 dólares. É um preço confortável?

Temos de fazer aquilo que é correto para a empresa. A equipa de gestão não está precupada com o valor da ação mas em fazer crescer o negócio de forma sustentável e escalável, de forma a ganhar quota de mercado. Faz um balanço positivo da presença na empresa na Bolsa de Nova Iorque?

Desde logo, é um motivo de orgulho muito grande. Traz coisas positivas e coisas menos positivas. Traz uma exposição excelente, uma notoriedade de marca enorme e permite-nos estar noutro campeonato. O balanço é muito positivo. Dentro de dois anos outro se seguirá. Quanto mais auto-suficientes formos, melhor. t

As perguntas de

Alexandra Oliveira Designer e criadora da Pé de Chumbo Colocam a hipótese de ajudar mais a vender os designers e marcas portuguesas?

Hoje, o nosso marketplace liga clientes em mais de 190 países a produtos de mais de 1.200 das melhores marcas e lojas do mundo, em mais de 50 países. O nosso mercado é o mundo, e ajudar todos os nossos parceiros é uma prioridade. Temos um número reduzido de marcas portuguesas na nossa plataforma, mas acreditamos que o país tem condições para crescer neste segmento. Temos todo o interesse em potenciar esses negócios. Já pensaram na possibilidade de abrirem um cantinho na plataforma para ajudarem os designers portugueses a terem projeção internacional?

Portugal é um mercado que nos fala ao coração. O nosso CEO e fundador, José Neves, é português, e é em Portugal que temos os nossos centros de tecnologia e de operações, onde temos já grande parte dos nossos colaboradores, e onde continuamos a investir consideravelmente. No entanto, como empresa global e no mercado de moda de luxo, estamos focados no cliente e na parceria para todas as marcas e boutiques de luxo, incluindo as portuguesas, que querem atingir outros mercados. t

José Cardoso Administrador d' O Segredo do Mar Que estratégia devemos seguir nesta nova realidade de um e-commerce mais maduro e mais necessário que nunca?

Esta situação de pandemia veio acelerar o investimento no online. Será importante que as empresas se preparem para um futuro que se aproxima a grande velocidade, canalizando investimentos para a vertente online. Não acho que as lojas físicas vão desaparecer, mas o digital vai ser cada vez mais importante. As experiências nas lojas físicas terão de ser cada vez mais aproximadas das experiências online. Na facilidade, na agilidade e na personalização do atendimento. Qual a perspetiva da Farfetch quanto à importância das plataformas B2B numa economia com menor mobilidade internacional e necessidades de fornecimento global?

Dou um exemplo da força de uma plataforma (seja B2B ou B2C). Quando na Europa as lojas começaram a fechar, para muitas boutiques e marcas apenas foi possível continuar a vender através da Farfetch. A Farfetch é a face mais visível de uma comunidade que representa centenas de milhares de postos de trabalho em todo o mundo e é determinante para a nossa economia e para a nossa cultura. t


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FROM PORTUGAL REFORÇA PRESENÇA NOS MARKETPLACES

PV NOVA IORQUE REGRESSA À 5A AVENIDA, EM OUTUBRO A organização da Première Vision Nova Iorque decidiu adiar para 30 de Setembro e 1 de Outubro a edição deste ano, que volta a ser realizada no Center415, junto à famosa Quinta Avenida. Até setembro, tendo em conta o novo contexto internacional, a Première Vision está também a facilitar o acesso ao PV Marketplace, a montra digital da feira, tendo eliminado os custos de acesso e permitido um maior volume de uploads e contactos para cada expositor. Fairling, Joor, Foursource e Playologie são alguns dos marketplaces digitais que estão abertos à inscrição dos expositores portugueses

"Temos de fazer apostas selectivas, uma PME não pode estar em todo o mundo" Simão Gomes Presidente da Sampedro

ISPO APOSTA NOS E-SPORTS O eSport – desporto em plataformas online – evoluiu para um fenómeno de massas e a ISPO, entidade organizadora das maiores feiras globais do setor, reconheceu este potencial para a indústria do desporto e está comprometida com o seu desenvolvimento, designadamente através da expansão da oferta de streaming e da implementação de novos eventos com base naquele segmento específico.

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é o número de lojas da Parfois em Espanha

EMITEX, CONFEMAQ E SIMATEX EM SIMULTÂNEO PARA 2021 Agendadas para abril, as principais feiras têxteis do mercado argentino, organizadas pela Messe Frankfurt Argentina, viram-se também obrigadas a mudar de planos. A organização anunciou que as atenções estão agora centradas em 2021, com a Emitex, Confemaq e Simatex a realizarem-se em simultâneo entre os dias 12 e 15 de abril, no Centro Costa Salguero, em Buenos Aires. A feira de maquinaria têxtil Simatex abre a 12 de abril, enquanto a Emitex e a Confemaq, especializadas em vestuário e confeção, arrancam no dia seguinte.

Os tempos são de novas estratégias e com o calendário de feiras em stand-by até Setembro , o From Portugal avançou rumo às plataformas digitais. O projeto de internacionalizaçao das marcas está a apoiar as empresas portuguesas que marquem presença em marketplaces para profissionais. Uma alternativa reforçada com a pandemia, mas que avança no inevitável caminho da digitalização. “O processo é em tudo semelhante às feiras em que costumamos participar”, começa por explicar Rita Sousa, da Associação Selectiva Moda. “A partir do momento em que estão reunidos três expositores interessados, o projeto From Portugal comtempla um apoio de 50% em relação aos custos de participação, incluindo as despesas com a produção fotográfica, por exemplo, ou outros custos inerentes a essas participações”, adianta. O sistema praticado nas feiras tradicionais é assim transposto para os marketplaces B2B, plataformas online exclusivas a profissionais onde à semelhança das feiras os fornecedores podem expor as suas coleções e estabelecer contacto com compradores. Fairling, Joor, Foursource e Playologie são alguns dos exemplos de marketplaces independentes

integralmente digitais que estão abertos à inscrição das exportadoras portuguesas. “Já temos várias empresas interessadas em participar. Logo que anunciamos a parceria com a Foursource, por exemplo, surgiram imensos contactos. Sobretudo no setor dos tecidos sabemos que já existem empresas que conhecem a plataforma”, afirma Rita Sousa. Mas para além das soluções independentes, algumas das feiras internacionais têm também criado as suas próprias alternativas online. É o caso do Première Vision, da Playtime e da TexWorld, entre outras, que criaram plataformas próprias para os seus expositores. “É como se fosse a própria feira mas online. Orientam-se para os mesmos segmentos e estão a fazer o mesmo trabalho de promoção que as empresas já conhecem”, salienta a representante da Associação Selectiva Moda. Com o isolamento, as feiras no ciberespaço têm-se expandido de forma acentuada. Um processo que veio para ficar e se vai manter uma vez passadas as atuais restrições, com a articulação destas novas plataformas com as feiras presenciais. Feiras como a Première Vision ou a Who’s Next já afirmaram uma aposta reforçada nestas novas tecnologias para as próximas edições. t

FEIRAS CRUZAM SEGURANÇA E TECNOLOGIA Setembro marca o novo pontapé de partida para as principais feiras de moda e têxteis da Europa. Confirmada para os dias 1 a 3 de Setembro, a Munich Fabric Start será a primeira grande feira têxtil internacional a decorrer após o levantamento das medidas mais restritivas. Também em setembro, Paris recebe a Who’s Next, entre os dias 4 e 7, e a Première Vision, de 15 a 17, com a Premiere Classe a realizar-se logo a seguir, entre os dias 2 e 5 de outubro. “Nesta situação, o próximo en-

contro terá uma importância inédita e queremos estabelecer um exemplo, criando as condições ideais”, anúncia Sebastian Klinder, managing director da Munich Fabric Start. A feira, que conta já com um grande número de reservas, está a estudar novas medidas de segurança, como o alargamento de corredores, marcadores de distância ou um acesso regulado a cada um dos pavilhões. Também a Première Vision promete alterações e mais segurança.

“A próxima edição não será uma edição normal”, reitera o general manager Gilles Lasbordes. Para além das medidas de higiene, a feira está focada na digitalização: “Estamos a investir em novos conteúdos e queremos criar um sistema que permita a realização em paralelo de um evento físico e digital. Talvez os visitantes venham à feira apenas num dos dias e continuem os contactos através do online. Há várias hipóteses e o sistema não está ainda finalizado”, explica o organizador. t


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X DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes

Babyboom

Rua da Sra. da Luz, 186 4150-693 Porto

Ano de abertura 2013 Produtos Roupa de bebé e criança e produtos de complemento à maternidade Conceito Peças cool, diferentes e com qualidade, que cortam com o convencional Cliente-Alvo Pais e avós que procuram design, qualidade e exclusividade Online Muitas vendas através do instagram, que é um apoio de peso à loja física

JF ALMEIDA PRODUZ MAIS DE 50 MIL MÁSCARAS POR DIA No início de maio, a Têxteis J.F. Almeida já assegurava o fabrico de mais de 50 mil máscaras por dia, e para lá do abastecimento interno, as encomendas já chegavam de geografias tão diversas como a Bélgica, França, Alemanha ou o Dubai, de onde têm surgido, diariamente, muitos pedidos. “Desenvolvemos um modelo próprio, que tem agora o selo Covid-19 Aprovado, o que atesta a conformidade com os exigentes critérios do CITEVE”, disse Juliana Almeida, CFO do grupo.

"Temos de trabalhar para as marcas de excelência e a moda de alta qualidade" Jorge Pereira CEO da Lipaco

Quando ser cool está no ADN Foi quando foi mãe que Teresa Folhadela descobriu que não havia no Porto uma loja de roupa infantil que lhe enchesse as medidas. Todas muito convencionais, muito clássicas, e apesar de estar farta do termo cool – “hoje em dia é usado para tudo e mais alguma coisa” – a verdade é que era mesmo isso que faltava: uma loja que oferecesse produtos diferentes para os mais pequenos. E como já sabia que quando se quer uma coisa bem-feita temos de ser nós a fazê-la, Teresa decidiu por mãos à hora e trazer à vida a velha máxima de que se não há, inventa-se! Experiência no setor não lhe faltava: o avô paterno tinha uma loja de tecidos na baixa do Porto, ofício que passou para o filho, que sempre trabalhou com têxteis. Ao ADN têxtil, Teresa juntou uma licenciatura em Gestão de Marketing e cerca de 11 anos de experiência a trabalhar no comércio de moda, que a muniram com as ferramentas certas para saber vender a sua visão contemporânea para a roupa infantil. Um projeto que estava destinado a acontecer, ou não fosse o golpe de sorte que levou Teresa a conseguir a loja dos seus sonhos, numa rua onde o cheiro a mar nos traz a certeza de que estamos na Foz do Porto. “Estava quase a fechar negócio com uma loja perto, mas com pior localização, quando apareceu esta. A renda estava muito acima do aceitável para quem ia iniciar um negócio. Mesmo assim, e sabendo que não era a única na corrida, resolvi fazer uma proposta, e aqui estou eu! Foi um dos meus dias de sorte!”, revela. Pouco tempo depois inaugurava a Babyboom.

Uma loja edgy, que marca a diferença não só pela decoração e estilo, uma mistura entre o industrial e o boho chic, mas ambém pelas marcas que vende, de influência contemporânea, cortes singulares e cores arrojadas, adequadas ao dia-a-dia e lifestyle da criança atual. “Quando decidi abrir a loja havia algumas marcas com as quais já sabia de antemão que queria trabalhar, como a Tocoto Vintage, a Bobo Choses e Aden Anais. Quando fui pela primeira vez à Playtime, conheci outras marcas e fui definindo o mix de marcas da loja”, conta Teresa. De momento também a Buho Bcn, Louise Misha, Tiny Cotton, Bonmot, Wonder and Wander, Zhoe Tobias, Moumout e a Jelly Cat podem ser encontradas na Babyboom. E se até agora a estratégia de Teresa assentava apenas em marcas estrangeiras que não estivessem presentes no mercado português, tudo vai mudar a partir da próxima estação. “Depois de um longo namoro, vamos começar uma relação com uma marca portuguesa. Achamos que encaixa muitíssimo bem no portfólio de marcas que temos na Babyboom”, avança a empresária. Uma nova aposta que pretende fazer com que a loja continue a crescer sustentadamente. Com a pausa forçada devido ao à Covid-19, o impacto foi muito mitigado graças à presença de peso no Instagram, que permitiu manter vendas durante o confinamento. Agora, com a reabertura e os esforços pelo regresso à normalidade, os clientes estão lentamente a voltar à Babyboom. Isto porque ser cool tem muito que se lhe diga, e uma vez no nosso ADN já não há como voltar atrás. t

SPRINGKODE ASSEGURA GAMA DE MÁSCARAS CERTIFICADAS

ACATEL FATURA 12 MILHÕES E INVESTE EM I&D E EQUIPAMENTOS

A Springkode, empresa portuguesa de e-commerce que liga o consumidor final às têxteis nacionais, tem disponível na sua plataforma online uma grande gama de máscaras sociais certificadas pelo CITEVE, 100% produzidas em Portugal. Dentro desta seleção encontram-se máscaras em tecido, laváveis e reutilizáveis, com variedade de composições, número máximo de lavagens, cores e formatos.

Para a Acatel, 2019 foi um ano positivo. A empresa de acabamentos têxteis concretizou um volume de vendas na ordem dos 12 milhões de euros, um crescimento acima dos 10% que impulsionou o investimento em novos equipamentos e num departamento de Investigação. O saldo positivo foi em boa parte impulsionado pelas exportações, que já representam cerca de 30% das vendas.

16 milhões de metros é a média de produção anual de fita elástica na Idepa

CASSIANO FERRAZ QUER VER PARA ALÉM DA MÁSCARA

O fotógrafo Cassiano Ferraz, que se dedica maioritariamente à fotografia de moda, anda a fotografar pessoas com máscaras, o novo adereço de moda. “Resolvi fazer esta série porque esta é a forma como todos nos vamos começar a ver. Vou tentar captar as diferentes emoções por detrás das máscaras”, explicou. O projeto foi anunciado nas redes sociais do fotógrafo, onde convida os interessados em participar a entrar em contacto.


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X O MEU PRODUTO Por: António Moreira Gonçalves

Masks&Socks

Desenvolvida pela WestMister com certificação CITEVE

O que é? Uma coleção de máscaras seamless compostas por duas camadas de algodão que envolvem um filtro TNT substituível Para que serve? Além da protecção são também um acessório de moda, desenhadas com as mesmas cores e padrões das meias WestMister Estado do projeto? A marca já lançou três modelos no mercado mas prepara-se para alargar a oferta, que incluirá também máscaras para mulheres

ENDUTEX REABRIU GRUPO HOTELEIRO Os três hotéis do grupo Endutex (Moov Porto Centro, Moov Porto Norte e Moov Évora) reabriram a 13 de maio e, entre as várias medidas de higiene e proteção de colaboradores e hóspedes, destaca-se a migração tecnológica de vários serviços de atendimento, que permitem fazer check-in e interagir com as equipas do hotel em segurança. Especializado em têxteis técnicos, o grupo Endutex emprega mais de 600 pessoas e exporta mais de 80% daquilo que produz. A par da operação têxtil, a holding do grupo, que gera receitas de mais de 100 milhões, concentra também todas as participações sociais das áreas de hotelaria (Hoteis Moov) e imobiliária.

20 milhões

de euros foi quanto os Armazéns Marques Soares faturaram em 2019

GERBER ORGANIZA REDE DE CONTACTOS NA PRODUÇÃO DE EPI A Gerber Technology está a organizar uma rede de fornecedores de equipamentos de proteção individual para tornar mais eficiente a organização, produção e disponibilidade dos equipamentos no mercado. A tecnológica diz contar com mais de 600 empresas e associações líderes da indústria – como a Coats, especializada em fibras industriais, ou a Zilingo, direcionada para o sourcing – para fazer corresponder a oferta e a procura, dando apoio aos fabricantes ao longo da cadeia de abastecimento.

Afirmar a máscara como acessório de moda Se a Westmister tinha já um pé firme no design, colocou agora outro na proteção e na inovação. Com as novas regras de segurança e isolamento social, a marca portuguesa de meias de luxo lançou-se também à produção de máscaras comunitárias e acabou por encontrar um casamento feliz entre tecnologia e estética: as máscaras com certificação CITEVE são fabricadas com tecnologia seamless (sem costuras) e combinam com as meias. Luís Campos, que fundou a marca em 2016 – um projeto que surgiu a meias com a mulher, Vanessa Marques – conta que a ideia para as máscaras surgiu pela já clássica, mas sempre irrequieta pergunta: “E porque não?”. Com as lojas fechadas, a WestMister sabia que ia perder uma parte das vendas e queria encontrar alternativas. “Apercebemo-nos que o mercado das meias ia estagnar um pouco. No online até registamos um crescimento, mas no retalho algumas lojas estiveram fechadas durante mais de um mês e meio. Pensamos então: porque não fazer máscaras idênticas às nossas meias?” A ideia começou a ser testada com a premissa de criar um produto que fizesse o match com o resto do catálogo. Para conseguir as mesmas cores e padrões, a WestMister partiu das matérias-primas e do processo de produção das meias. Daí a escolha pelo seamless. “Logo à partida afastamos a hipótese de recorrer à confeção. Queríamos utilizar as mesmas máquinas que fazem as meias, e conseguimos criar um setup em que a máscara sai praticamente pronta da máquina”, explica o responsável pela

marca. Já produzida e moldada, com duas camadas em algodão, a máscara depois não requer mais costuras sendo apenas acrescentado um filtro em TNT e um clipe nasal, ambos substituíveis. Com um tratamento antibacteriano e repelente à água, a solução está certificada pelo CITEVE para uma reutilização até cinco lavagens – um número que pode vir a subir à medida que são realizados novos testes – mas para além do elemento protetor, a Westmister quer afirmar a máscara como um acessório de moda. “Uma marca portuguesa hoje em dia tem de ser diferenciadora, porque a nível internacional a concorrência é muito forte. Temos de suscitar um certo entusiasmo para quem compra os nossos produtos”, afirma Luís Campos. Até agora esse entusiasmo não tem faltado aos clientes da WestMister. A ideia de criar máscaras a combinar com as meias fez multiplicar o número de pedidos. Para além de encomendas na loja online e de pedidos de amostras de várias lojas – como é o caso do El Corte Inglès, onde a WestMister está presente há dois anos – Luís Campos tem recebido também projetos Private Label, de parceiros com marca própria, que apreciaram o modelo da máscara. Enquanto isso, a coleção de máscaras e meias da WestMister vai crescer. “No setor masculino vamos continuar a criar padrões. Para as senhoras, através da submarca Eutopia, vamos lançar uma nova coleção de meias que também vai incluir máscaras”, adianta Luís Campos, que promete muitas novidades da WestMister já para junho. t

"Todos os dias chegam propostas de novos clientes que estão a voltar da Ásia" Nuno Sousa Grupo Flor da Moda

VALIDA O USO DE MÁSCARA E MEDE A TEMPERATURA É uma máquina que resolve a questão da medição da temperatura corporal, essencial na retoma das atividades das empresas. A Wingsys, uma tecnológica com sede Famalicão, criou um quiosque que, à distância, faz a medição da temperatura e a identificação e validação da utilização de máscara. Com sistema de reconhecimento facial, deteta também a presença de estranhos e tem um dispensador de desinfetante para as mãos.

DEEPLY LANÇA FATOS DE SURF COM MELHOR PERFOMANCE Sendo a prática do surf uma das atividades que voltou a ser permitida, os novos fatos da Deeply, garantindo design inovador, uma melhor performance e opções arrojadas, vieram mesmo a calhar. A marca portuguesa apresenta três novas gamas para homem (Competition, Premium e Performance) e outras tantas para mulher (Competition, Performance e Crystal Capsule), que foram testados pela sua equipa de atletas em diversas condições, nomeadamente nas ondas da Nazaré.


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[CASSIANO FERRAZ] www.cassianoferraz.com

PHOTOGRAPHY FASHION / ADVERTISING


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MO REABRE LOJAS FÍSICAS COM CAMPANHA PARA APOIAR O SNS O início de Junho marcou a reabertura da grande maioria das lojas físicas da marca portuguesa MO, que aproveitou o momento para lançar a campanha solidária ‘Juntos pelo SNS’. Na compra de uma T-shirt branca associada a este iniciativa, a MO vai doar um euro ao SNS para a aquisição de equipamentos de proteção individual ou dispositivos médicos. Cada T-shirt é acompanhada por um molde de um arco-íris, autoria da ilustradora Violeta Cor de Rosa, para que cada um pinte a sua T-shirt.

"Somos 100% made in Portugal e tentamos usar isso como uma mais-valia" Sandra Lobo Brand manager da Cotton Brothers

ANTÓNIO COSTA E RUI MOREIRA ÀS COMPRAS NA ANA SOUSA

Foi com palavras de apoio e confiança, que o primeiro-ministro e o presidente da Câmara do Porto percorreram as ruas Fernandes Tomás e Santa Catarina, de forma a assinalar o desconfinamento do comércio local. Um percurso que teve paragem obrigatória na loja da marca Ana Sousa, da têxtil portuguesa Flor da Moda. Mesmo sem abraços ou apertos de mão, António Costa e Rui Moreira apelaram ao consumo no comércio local, dando a moda portuguesa como exemplo. t

MÁQUINA DA ROQ FAZ MAIS DE 100 MÁSCARAS POR MINUTO Chama-se ROQMASK, é completamente automatizada e é capaz de fazer até 120 máscaras a cada minuto. Concebida pela S. Roque, a empresa que é líder mundial na produção de máquinas para estamparia têxtil, a nova máquina, que está já em fase final de testes e acumula encomendas por parte das empresas que se lançaram na produção de máscaras, foi totalmente concebida e desenvolvida em menos de dois meses pela metalomecânica de Famalicão, em resposta a um desafio lançado pelo CITEVE. “A ROQ vai lançar no mercado, em parceria com o CITEVE, uma máquina que produz cerca de 100 máscaras cirúrgicas por minuto. O CITEVE lançou-nos um desafio que aceitámos de imediato e desde então a empresa está focada neste projeto que irá capacitar Portugal para a produção destes equipamentos de proteção individual”, disse Manuel Sá, o CEO da S. Roque, a empresa de Oliveira S. Mateus que fabrica sob a marca ROQ,

adiantando que a entrega das primeiras unidades está prevista para o mês de julho. Com capacidade para produzir duas máscaras a cada segundo, a máquina facilmente alcançará uma produção superior às 100 máscaras por minuto, o que em caso de laboração contínua permitirá fabricos diários na ordem das 150 mil unidades. “Concebida para fabricar máscaras cirúrgicas Tipo I e Tipo II – modelo A, a ROQMASK é um equipamento completamente automático que produz, através de soldadura por ultrassom, máscaras de até quatro layers, com inserção do clip nasal e aplicação do elástico”, informou ainda a empresa. Líder mundial na produção de máquinas para estamparia têxtil, a S. Roque faturou no último exercício cerca de 53 milhões de euros e emprega mais de 500 trabalhadores. Com a Europa à cabeça, os seus clientes distribuem-se um pouco por todo o mundo em países como África do Sul, China, Vietname, Rússia, Brasil ou EUA. t

WESTMISTER PARTE RUMO AO MÉXICO

MEY TÊXTEIS RETOMA ATIVIDADE

A WestMister, a marca de meias 100% made in Portugal, acaba de dar mais um passo na sua estratégia de internacionalização, partindo rumo ao México, onde estará disponível no Liverpool, o maior grupo de department stores do México, com várias lojas espalhadas pelo país. A WestMister marcava já presença em vários países da Europa, no Canadá e nos Estados Unidos.

Depois de um mês fechada, a Mey Têxteis retomou a atividade e o fabrico de máscaras reutilizáveis e cirúrgicas é agora a grande prioridade na produção. Fundada há cerca de 30 anos, a empresa emprega 235 pessoas que regressam agora ao trabalho “para produzir máscaras reutilizáveis e máscaras cirúrgicas destinadas aos profissionais de saúde”, informou o município local.

80 mil

peças por mês é a capacidade de produção da Givec

BARBOUR PRODUZ EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

REGIÃO NORTE É A QUE MAIS CONTRIBUI PARA A PRODUTIVIDADE Nas últimas duas décadas, a região Norte, onde está o grosso da indústria têxtil portuguesa, foi quem mais contribuiu para o aumento da produtividade do trabalho no país. Quem o diz é o relatório NORTE ESTRUTURA, documento elaborado pela CCDRN – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. Esta é uma circunstância única na União Europeia, já que as regiões mais desenvolvidas dos diferentes Estados-Membros,

maioritariamente as suas capitais, foram as grandes impulsionadoras desse crescimento. De 2000 a 2017, revela o relatório, Portugal ficou marcado por um fraco ritmo de crescimento da produtividade do trabalho – apenas 15,2 por cento em termos acumulados –, em flagrante contraste com outros países europeus, em particular os da Europa de Leste. A debilidade do ritmo de crescimento da produtividade do trabalho foi especialmente notória no caso

da Área Metropolitana de Lisboa. Em termos comparativos, a evolução na Região do Norte foi bastante mais favorável tendo registado um crescimento acumulado de 20,0%, resultado sobretudo da reestruturação do seu principal setor de atividade económica, as indústrias transformadoras. O setor onde o têxtil tem papel de relevo registou um crescimento de 51,6 por cento, o 12o maior entre as 21 regiões europeias mais industrializadas incluídas no estudo. t

A Barbour dedicou-se a produzir equipamentos de proteção individual no apoio à luta contra a Covid-19, tendo a a fábrica da de South Shields trabalhado em conjunto com a Royal Victoria Infirmary. “A fábrica, onde normalmente produzimos os nossos clássicos, não é estranha à adaptação. Durante as duas guerras mundiais, adaptámos a fábrica para fazer roupas militares”, explicou Margaret Barbour, presidente da empresa.


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M EMERGENTE Por: Mariana d'Orey

Renata Henriques Fundadora da Misses White Família Vive com o marido, Joaquim, a filha Pilar, de 4 anos (a Mia já passeia na barriga da mãe) e a gata Tété Formação Licenciada em Sociologia pela Universidade do Minho Casa Apartamento no Porto Carro BMW Série 1 Portátil Macbook Telemóvel iphone7 (fica sempre com os “restos” do marido) Hobbies Pratica desporto indoor e outdoor, devora filmes e estreou-se recentemente na prática da meditação Férias Para além das habituais temporadas no Algarve entre julho e setembro, faz uma viagem por ano para destinos paradisíacos. Bali, na Indonésia, é o seu número um Regra de Ouro “Sorri para a vida, avança e acredita”

FOTO: RUI APOLINÁRIO

O gosto pelas camisas brancas Se as pessoas vestissem verbos, fazer assentaria em Renata Henriques tão bem como a Misses White, a sua marca de moda, assenta em qualquer personalidade feminina. Esteve durante dez anos à frente de uma boutique-café no Porto, mas o gosto pessoal pela moda e pela arte de criar deram-lhe combustível para embarcar no mundo têxtil. Agora, garante que daqui ninguém a tira. As palavras saem-lhe ao mesmo ritmo que lhe fervilham as ideias. Não tem tempo a perder: “sempre fui assim desde miúda, muito atirada para a frente. Não sou o género de pessoa que fica presa a um problema. Para mim os problemas são para resolver e andar para a frente”, diz a empreendedora de 32 anos, formada (ao engano) em Sociologia pela UMinho. “O meu pai é psicólogo e o que eu queria era psicologia mas, como não tinha média, fui para Sociologia ver no que dava. Mal entrei na primeira aula percebi que não era por ali o meu caminho, o que eu gosto mesmo é de criar”, explica Renata, natural de Braga. Mudou-se para o Porto logo que terminou a licenciatura e “juntou os trapinhos” com Joaquim, também ele empreendedor por natureza. Juntos criaram a “Casinha Boutique Café” num edifício do século XIX em plena Avenida da Boavista, que ainda hoje preserva a traça original e que, à custa do pequeno jardim exterior, rapidamente se tornou no ponto de encontro de jovens artistas e estudantes. “Mal abrimos foi a loucura, tínhamos um projeto muito à frente para a época e acho que por isso pegou logo”, recorda Renata que há cerca de quatro anos, com o nascimento da filha, se afastou desse projeto. Mas a alma de criadora - provavelmente herdada do seu avô materno, pintor - manteve-se viva e antes da gravidez da segunda filha gerou ainda um outro projeto: a Misses White. “Quando cheguei aos 30 anos pensei que estava na altura de criar algo de novo. Sempre gostei muito de camisas brancas, mas como o que encontrava no mercado eram sempre os mesmos modelos decidi criar a Misses White: uma marca de camisas brancas de mulher que, conjugadas com as diferentes golas que criei, acompanhasse a mulher em diferentes contextos ”, explica Renata. O fato de não ter qualquer formação ou contactos profissionais na área não condicionaram nem um pouco esta jovem aventureira que rapidamente juntou as pessoas certas. “Sinto-me rodeada de pessoas boas... das costureiras ao fotógrafo ou às modelos. São pessoas que agarrei no início e que estão comigo de coração”, relata. “Percebi que se eu queria que as peças fossem mesmo a minha cara, tinha de ser eu a desenhá-las”, justifica Renata, que acumula as funções de designer e gestora da marca. Tal como com a boutique-café, também a Misses White “pegou forte”. “Tivemos uma aceitação incrível no mercado nacional. Acredito que os padrões de consumo se estão a alterar, as pessoas estão hoje mais conscientes e querem também arriscar mais, querem marcas que tenham uma identidade forte”, defende a fundadora da Misses White que, ao contrário de todas as previsões, disparou as vendas durante o período de confinamento. “A minha mãe é a minha maior inspiração e é também por isso que a elegi como uma das modelos da marca: é a representação perfeita dos valores da Misses White. Uma mulher cheia de genica, que gosta de arriscar e que dá tudo pelos seus”, descreve Renata enquanto recorda que a mãe sempre foi conhecida em Braga pelo seu estilo de vestir “muito à frente”. Entretanto, o projeto de camisas brancas femininas já cresceu e evoluiu para uma marca de moda e acessórios femininos. “Começas por vestir uma parte do corpo da mulher e depois percebes que queres vestir a mulher no seu todo. Eu acredito que a minha marca tem tudo para dar certo”. O truque? “É sorrir para a vida, avançar e acreditar”. t


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a MUNDO VERDE

da produção mundial de algodão em 2018 já resultou de cultivos ecológicos, com origem em 30 países

"Tudo o que estamos a fiar na empresa atualmente já é só com matéria-prima sustentável" José Alexandre Oliveira Presidente da Riopele

SECOND HAND BABY: A RECICLAR DESDE O BERÇO

Amélia Rute Santos Professora do departamento de Química da Universidade da Beira Interior

O OVERSHOOT DAY Continuamos a analisar a última avaliação da ONU do desempenho dos países no cumprimento dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Dois dos problemas que este relatório apontou para Portugal dizem respeito à Produção e Consumo Sustentáveis, e à Ação Climática. Estes dois ODS estão muito relacionados, uma vez que a Ação Climática é avaliada pela emissão de CO2 na atmosfera, não só devido à produção como também ao consumo de bens. Não podemos esquecer que quando os países da UE importam produtos de consumo do outro lado do mundo estão a incorrer numa provocação gravíssima ao equilíbrio ambiental. Por um lado, compram bens que estão a ser produzidos sem as exigências ambientais, sociais e energéticas que exigem dentro da EU. Por outro lado, estão a aumentar de forma drástica as emissões poluentes relacionadas com o embalamento e transporte de mercadorias, e, claro, a contribuir para esgotar cada vez mais rapidamente os recursos naturais do planeta. Designa-se por Overshoot Day o dia em que a humanidade atinge o limite do uso sustentável de recursos naturais disponíveis para esse ano, ou seja, o orçamento natural do planeta. O último ano em que o planeta viveu dentro deste valor foi em 1970, e a partir daí, este dia tem sido cada vez mais cedo no ano. Portugal já não apresenta capacidade para fornecer os recursos naturais necessários às atividades de produção e ao consumo de bens há muitos anos, mas outros países europeus estão bastante piores, como a Bélgica, a Espanha, a Itália e a Holanda, por exemplo. O Overshoot Day chama a atenção para a urgência de mudança. E são tão necessários os movimentos dos cidadãos como as ações políticas e das empresas no sentido de uma Economia Circular, com a divulgação de práticas de redução de artigos de consumo, assim como, também, de promoção da reutilização e do prolongamento dos tempos de utilidade dos materiais não consumíveis. Assim, é de louvar a intervenção do Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Matos Fernandes, na audição da Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, de Maio deste ano. Falou da Economia Verde e da sua importância na pós-crise “porque respeita os recursos, porque é mais transparente, porque é socialmente mais justa, porque é mais mão-de-obra intensiva”. Segundo as suas palavras, “a nossa visão é criar riqueza e bem-estar para a sociedade a partir de projetos de investimento que beneficiem a redução de emissões, a circularidade da economia e a adaptação e a valorização do território”. Será importante relembrar ao ministro Matos Fernandes os esforços da Indústria portuguesa, em que o setor têxtil ocupa uma posição de destaque, para a transformação da nossa indústria no sentido da sustentabilidade energética, ambiental e social. Este esforço não tem sido recompensado por políticas permissivas da importação para a UE de produtos que não cumprem aquelas boas práticas. Ainda segundo o ministro, “queremos mobilizar 4,5 mil milhões de euros para investimentos que apostam na sustentabilidade, que asseguram uma sociedade mais equilibrada e mais justa”. A ser assim, a indústria têxtil portuguesa agradece e coloca-se, seguramente, à sua disposição para a implementação das melhores soluções. Vamos ver... t

Foi para mudar mentalidades e alertar para o excesso de consumo no setor da moda infantil que nasceu a Second Hand Baby Wonderland. Trata-se de um loja online de compra e venda de produtos têxteis de bebé e criança em segunda mão e faz envios para todo o país. Grande parte das peças disponíveis são de marcas portuguesas, mas há também espaço para artigos internacionais. O fundamental, conclui a fundadora Inês Figueiredo, é que “as pessoas tenham uma visão diferente a nível de consumo”.

SUSTENTÁVEL GANHA A ‘GUERRA’ DO ONLINE Com milhares de lojas fechadas em todo o mundo e o consumo a transitar para o online, as marcas de moda sustentável estão a ser cada vez mais procuradas, confirmando a sua capacidade de nicho. “As pessoas têm mais tempo para tomarem decisões conscientes”, disse Cora Hilts, fundadora e diretora executiva da Reve en Vert, uma plataforma que vende moda de luxo sustentável. A alteração do consumo na direção da moda sustentável pode alterar o perfil da indústria em termos de impacto ambiental.

"Já trabalhamos reciclados desde 1993. Fomos dos primeiros a converter flakes de garrafas em fibras" Carlos Oliveira Diretor-geral da Trevira Portugal

MANGO LANÇA PEÇAS QUE QUEREM UMA SECOND CHANCE A Mango lançou a sua primeira coleção-cápsula de economia circular, com peças confecionadas a partir de fibras recicladas de vestuário recolhido nas suas lojas através do projeto Second Chances. Estas peças têm menor impacto ambiental e são compostas por 20% de fibras recicladas e 80% de algodão sustentável. Lançado em 2016, o projeto Second Chances já reuniu mais de 32 toneladas de roupa, através de 420 contentores distribuídos por lojas da Mango.


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B SERVIÇOS ESPECIALIZADOS Por: António Moreira Gonçalves

Travelcare – Agência de Viagens e Turismo Rua Engº Ferreira Dias 452, 1º andar 4050-223 Porto

O que faz? É uma agência de viagens especialista em consultoria em viagens corporativas, em programas de lazer personalizados, eventos corporativos e Destination Weddings Áreas Trabalha com associações na área da moda e do têxtil e também outros setores da economia Fundação 2010 Equipa 14 colaboradores Escritórios Porto

VISEIRA SMART INOVATION PESA 55G E TEM PROTEÇÃO TOTAL Uma viseira integral transparente e um novo tratamento bacteriano que mantém os têxteis protegidos contra contaminação, germes e toxinas biológicas, são os últimos lançamentos da Smart Inovation, empresa que se dedica ao desenvolvimento de soluções no domínio da nanotecnologia com potencial de aplicação nas indústrias. Pesando apenas 55 gramas pode ser usada simultaneamente com óculos de prescrição, lentes de contacto e máscaras de proteção, sendo por isso um equipamento adequado para uso hospitalar e para profissões que exijam contacto contínuo com o público.

"A nossa indústria diferencia-se hoje por produzir fios que já não existem em mais lado nenhum" António Alexandre Falcão Administrador da Fitexar

ATRASOS NOS APOIOS DAS LINHAS DE CRÉDITO COVID-19

As empresas precisam de viajar “As empresas querem voltar a viajar, ou pelo menos perceber quando o vão poder fazer em segurança. Não é por prazer, mas por necessidade”. A observação é de Diogo Carvalho, diretor da Travelcare, agência de viagens especializada no setor corporate. Com dez anos de experiência em levar as empresas portuguesas lá fora, a agência sediada no Porto está a organizar-se para a retoma, reforçando o seu serviço de acompanhamento e informação especializada. Setembro será o reinício da atividade e o horizonte que todos anseiam. “Todo o nosso trabalho é orientado para as empresas: tratamos das viagens, das feiras, dos hóteis, transfers, vistos, aviação privada, etc. Funcionamos numa lógica de one stop shop, a ideia é que os nossos clientes tratem de tudo connosco, sem mais preocupações”, esclarece o director da Travelcare. Fundada em 2010, a agência especializou-se no apoio direto à internacionalização das empresas e atualmente trabalha com grupos e associações de vários setores, como é o caso nos têxteis e vestuário, do projecto From Portugal e da Porto Fashion Week. O setor das viagens profissionais é aquele que neste momento apresenta mais urgência em voltar a voar. Apesar das soluções tecnológicas, dos webinars e teleconferências, há muitas tarefas que não são substituíveis. “As empresas hoje em dia são muito internacionais, têm negócios por todo o lado, têm projetos em curso, e não querem perder os contactos. Viajar é uma neces-

sidade”, reitera o representante da Travelcare. Para já as previsões apontam para um reinício gradual, em que será fundamental reforçar a confiança dos empresários. Para isso, a agência está a reforçar o serviço de acompanhamento que já realizava antes da pandemia. “O nosso papel é o de informar, apurar quais são as condições para viajar, que meios estão disponíveis, o que vão encontrar quando chegarem, se há restaurantes, supermercados, etc. Acima de tudo se há segurança”, explica Diogo Carvalho. “Acompanhamos as recomendações de cada país, temos parceiros locais praticamente em qualquer local do mundo e vamos contactando com embaixadas e consulados. Temos de ter a informação em tempo real, quer quanto às medidas das companhias áreas como em relação às regulamentações de cada país”, esclarece. Por enquanto, apesar de as informações mudarem a todo o momento, as previsões apontam para um ligeiro regresso à normalidade em Setembro, com o recomeço das feiras internacionais. Em termos de tráfego internacional, a Travelcare prevê um arranque progressivo, sendo que só em 2022 será retomado o ritmo de 2019. Até lá, informação e segurança são palavras de ordem para cada viagem. “Esta ano certamente que as viagens vão recomeçar com algumas diferenças. São medidas novas, mas que se vão verificar também nos shoppings ou nos cinemas. Tornar-se-ão de certa forma habituais”, destaca o director da Travelcare. t

Passado cerca de mês e meio desde o início dos programas, apenas 3% das empresas que recorreram às linhas de crédito de resposta à crise provocada pela pandemia de Covid-19 já tinham recebido o dinheiro. Os dados são do primeiro inquérito feito pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal, indicando que cerca de 84% das empresas inquiridas considerava igualmente que os apoios anunciados pelo Governo ficavam aquém ou muito aquém do necessário e, entre aquelas que já tinham recorrido ao crédito, 46% declarava que necessitará de meios de financiamento adicionais para enfrentar a crise.

75%

dos fios produzidos em Moreira de Cónegos pela SMBM são destinados ao setor de malhas

COLEÇÃO SOLIDÁRIA DA SALSA AJUDA A CRUZ VERMELHA

#NeverSurrender é a coleção que a Salsa lançou e que vai ajudar a Cruz Vermelha Portuguesa. A coleção inspirou-se no movimento com o mesmo nome, criado para ser fonte de inspiração e homenagear todos os ‘heróis’ no combate à Covid-19. A coleção é composta por dois jeans de mulher (modelos Wonder e Secret) e dois de homem (Lima e Slender) – com etiqueta personalizada, uma bandana e um porta-chaves de oferta – e uma T-shirt.


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OPINIÃO A INDUSTRIALIZAÇÃO NA SECRETARIA Noel Ferreira Membro da direção da ATP

SERENDIPIDADE! CONTEXTO OPORTUNO José Guimarães Membro da direção da ATP

A vontade de (re)industrializar está aí. A pandemia sacudiu as mentes e eis que os dirigentes europeus deram conta que a Europa limpa, imaculada e a viver apoiada no setor terciário é uma utopia. Temos assistido a uma redução do contributo industrial no produto europeu. A indústria desinteressou uma vaga de políticos e houve uma depuração. Ficaram as empresas tecnológicas de alto valor acrescentado. No que respeita à indústria têxtil, Portugal manteve o produto, mas com mais valor acrescentado. Reduziu a metade o peso relativo das exportações. Foi a debandada para o Extremo Oriente sem esquecer a vizinha Turquia. Se é para reverter a desindustrialização, como resolver esse novo rumo na secretaria? Porque não reescrever a História da Indústria na Europa, a de Portugal em particular? Com o que capitalizámos com tanto sacrifício ao longo destes anos e que nos conotou de tantos e bons adjetivos (resiliência, inovação, competência, capacidade de adaptação, etc.), teríamos bons motivos para encarar o futuro com mais otimismo. Porém, essa mudança é desafiante devido a vários fatores: 1 – Muitos anos a dar o flanco para sermos ultrapassados e agora temos o contributo do Extremo Oriente em (quase) tudo o que tocamos. O vinho do Porto ainda não mas o presunto de Parma sim. 2 – Mão-de-obra. As regras não são as mesmas por cá. Os trabalhadores têm direitos e proteção. Por lá, ditaduras. Trabalha-se de sol a sol, seis dias por semana a troco de um salário miserável.

Num tempo incontornavelmente atípico pelas perturbações pandémicas de elevado impacto negativo, a sociedade civil e a economia recomeçam a ajustar-se e a perspetivar o seu percurso tradicional. Obviamente deparamo-nos com um caminho pleno de incerteza e de evidentes adversidades. As oportunas intervenções governamentais ajudaram, e muito, a atenuar e mitigar o drama decorrente dos efeitos que a Covid-19 aportou às pessoas e às empresas. O setor têxtil aderiu com oportunidade e necessidade às medidas disponibilizadas, que nos tem permitido manter a atividade, embora naturalmente com redução mais ou menos significativa. A nossa determinação e disponibilidade estrutural de não nos dobrarmos perante as adversidades e enfrentarmos os desafios inesperados, ajudou-nos a manter a lucidez e a perspicácia de aproveitar novas oportunidades conjunturalmente geradas. Assim, o setor envolveu-se ativamente na solução, ao contribuir decisivamente para dotar o mercado de meios de proteção requeridos. A rápida perceção desta possibilidade e a imediata adaptação de algumas empresas às exi-

3 - Política ambiental - Investimos/pagamos caro em certificações, alterações de processos e uma panóplia de requisitos legais e das políticas dos clientes. Essa é a postura correta. Tem sido uma revolução à medida da consciência ambiental que nos dá um avanço significativo, mas funciona como uma armadura pesada ao competirmos com outras geografias. 4 – Energia - Cara q.b. mas muito verde. Mais um peso na armadura. 5 – Financiamento – Reversão do estatuto de persona non grata, embora já tenha sido pior aquando da última crise. Essa era sistémica e derivou de muita asneira, ganância e falta de escrúpulos levada a cabo por mentes criminosas. A covid-19, não. Há um conjunto de políticas a encetar e que até podem não agradar a todos numa Europa tão dividida. A tarefa será árdua. Sempre foi mais fácil destruir do que construir. Diria que é uma oportunidade de ouro porque Portugal é muito melhor que aquilo que reflete no valor percecionado, mas esse assunto merece ser desenvolvido noutro artigo. Poderíamos ganhar alguns dos quase 50 anos que estivemos mergulhados na escuridão salazarista – “pobres, mas honrados”. Mas esse caminho já está a ser percorrido por grandes empresas (não necessariamente empresas grandes) que vendem bem os seus produtos. Essa é a prova que sabemos fazer, mas falta-nos muito caminho. Valha-nos a margem de progressão, que é imensa. t

gências subjacentes, tem contribuído para melhorar o índice de atividade. Esta emergente contingência tem de ser conciliada com o desempenho do setor na sua vertente tradicional, que, apesar de enorme redução, se manteve ativo. Com o desconfinamento em evolução, quer nacional quer nos países importadores, prevê-se legitimamente crescimento da produção. Será decisivo que os intervenientes do setor têxtil adotem comportamentos responsáveis e solidários independentemente do posicionamento na fileira. A estratégia será pensar no futuro, integrada num processo ambicioso, articulado e com atitudes respeitosas, percecionando e atuando com discernimento e empenho, visando não defraudar as expetativas dos parceiros de negócio. O cumprimento de prazos aliado à qualidade dos nossos produtos são fatores decisivos de sucesso. O desenvolvimento de coleções tem um tempo tendencialmente mais curto e provocam desconforto às empresas pelos custos subjacentes. Contudo, se a visão for racionalmente adequada numa lógica de investimento, que pressupõe resultados a médio ou longo prazo, a motivação e dispo-

nibilidade para corresponder com entusiasmo à solicitação presente será provavelmente concretizada. As empresas, principalmente as que incorporam, em predominância, produtos químicos, são frequentemente relacionadas como principais geradoras de perturbação na fileira, dificultando o crescimento da atividade pela insolidariedade evidenciada para com os clientes. Prazos não são cumpridos e a qualidade merece reparo. Estamos num desafiante momento também para o nosso setor têxtil, temos de continuar competitivos, inovadores, criativos e determinados em não apresentar desculpas pela inadimplência sistemática que fragiliza o protagonista e desacredita o setor, dificultando o crescimento desejável. Acredito que se nos aproximarmos, adotando um relacionamento de solução e não de dificuldades, com a resiliência que nos carateriza, a conjuntura permitir-nos-á potenciar os nossos méritos e a serendipidade* orgulhar-se-á. É possível!

*A faculdade ou o ato de descobrir coisas agradáveis por acaso


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José Manuel Castro Diretor Executivo do Modatex

A INVISÍVEL DIGNIDADE DO TRABALHO DE APRENDER O MODATEX, enquanto centro de formação profissional integrante do sistema público de emprego e formação, foi obrigado a suspender as “atividades letivas presenciais” no dia 18 de março, no contexto da crise pandémica do Covid-19 no nosso país. Nesse dia foram suspensas todas as atividades de formação nos nossos oito espaços de formação e num grupo vasto de empresas onde decorriam também percursos de qualificação profissional. Nesse instante foram interrompidos 131 projetos formativos, envolvendo mais de 1200 formandos. Para além da interrupção das atividades e do assustador estado de emergência, este foi o tempo de suspensão dos projetos de vida e de carreira de muitos dos nossos aprendentes. Na lentidão dos dias de confinamento, muitas das esperanças e do sentido dos investimentos pessoais e profissionais destas pessoas pareciam esboroar-se face a assustadores anúncios de tempos difíceis para muitas empresas e trabalhadores de setores da indústria têxtil e de vestuário. Para o MODATEX este foi também um tempo de múltiplos questionamentos face ao esvaziar da nossa atividade principal (e quase permanente): ajudar os adultos a aprender e adquirem qualificações e competências profissionais relevantes para o sector ITV e para o desempenho dos seus múltiplos papeis sociais (trabalhador, cidadão, consumidor, cônjuge, pai/filho). O confronto com os espaços vazios do centro obrigou-nos a encontrar novos lugares e novos modos de reconstrução dos processos de aprendizagem. E a urgência dessa pressa levou-nos a descobrir meios comunicacionais que fomentavam a necessária mediação humana com os formandos do MODATEX. A crença, o engajamento e o compromisso das chefias, técnicos e formadores do centro levaram à construção de raiz de um movimento de formação à distância, em suporte e-learning, que mobilizou a participação de muitos dos nossos formandos e que constitui já uma enorme evolução para os desafios do futuro da formação. A consciência que temos da importância deste novo e moderno modo de aprender alerta-nos, contudo, para a imprescindibilidade dos espaços técnicos e tecnológicos, conjugada com a conceção e realização concreta de produtos/protótipos têxteis em ambientes reais ou simulados. E, sobretudo, para a relevância da figura do formador, do admirável mestre, capaz de iluminar os percursos de aprendizagem, fomentando sentimentos de auto-eficácia e maestria nos seus aprendentes. Desde o dia 18 de maio, lenta e progressivamente, com todas as medidas sanitárias exigidas, os/as formandos/as do MODATEX foram regressando às atividades de formação presenciais; regressaram também os nossos formadores (muitos dos quais trabalhadores independentes) e que viveram tempos economicamente muito difíceis. Neste inicio de junho, temos já 400 formandos em formação presencial (conjugada com modelos a distância) em mais de 40 ações, aos quais se acrescentam outros quase 400 trabalhadores de empresas em lay-off, que optaram por desenvolver planos de formação extraordinários. E todos regressaram em modo silencioso e quase invisível quando comparados com outros (também) “alunos e professores” do sistema de educação regular. Sem televisões, notícias dos media e elogiosas referências à sua heroicidade e coragem. Mas elas e eles, formandos do MODATEX, são um (novo) rosto da esperança que “tudo vai ficar bem”, na crença que os seus projetos de carreira/emprego se concretizarão pela sua motivação, desejo de aprender e fortíssimo compromisso vocacional com as profissões do sector ITV. t

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Vitor Verdelho Coordenador do Prémio Máscaras ComVida

PREMIAR MÁSCARAS BONITAS NOS MATERIAIS CERTOS O concurso Prémio Máscaras ComVida tem como grande objetivo promover a ideia de que existe um mundo de possibilidades nas máscaras sociais. Protegem, mas podem também ser um acessório de moda ou mesmo uma peça artística ou jóia. As máscaras sociais ou comunitárias são algo que vai, cada vez mais, fazer parte dos nossos hábitos e da vivência quotidiana. Da mesma forma que usamos lenços, chapéus ou luvas. Veremos certamente uma lógica asiática, onde o uso de máscara é já um hábito de longa data, independentemente dos condicionalismos impostos pela pandemia da Covid-19. Tal como acontece com tudo o resto, na lógica europeia, não vamos ter modelos nem estilos iguais para toda a gente. Diferentes necessidades e gostos pessoais vão ditar progressivamente diferentes opções e produtos correspondentes. Diferentes pessoas, mais velhas, mais novas, crianças, desportistas, fumadores, pessoas com barba, com pele muito sensível, com dificuldades motoras... Enfim, com diferentes estilos de vida. Para proteger também do frio ou adaptadas para muito calor. A necessidade de combinar as máscaras sociais com a maquilhagem ou com atividades profissionais ou mesmo de lazer vão implicar que existam muitos modelos, formas e estilos. E tendo as pessoas que usar várias máscaras ao longo do dia e/ou da semana, será necessário ter coleções e os respetivos estojos. O concurso Prémio Máscaras ComVida tem como grande objetivo promover a ideia de que existe um mundo de possibilidades nas máscaras sociais. Muito para além de contribuírem para o distanciamento físico e a proteção sanitária, também podem ser um acessório de moda. Idealmente, as máscaras sociais devem combinar três caraterísticas: serem bonitas, reutilizáveis e nos materiais certos. E como primordialmente têm a função de nos protegerem, assim como aos que nos rodeiam, devem obedecer também a outros requisitos. Devem ser reutilizáveis por uma questão de sustentabilidade económica e ambiental. E até o lado negativo de esconderem um sorriso pode ser transformado no aspeto positivo de um adereço de moda. Os sorrisos passam a ser algo mais valorizado quando disponíveis. Premiar ideias e projetos relacionados com as máscaras sociais é uma forma de contribuir para promover uma sociedade melhor. O Concurso Máscaras ComVida pretende desafiar a criatividade de indivíduos e equipas multidisciplinares e instituições, na abordagem das máscaras de proteção enquanto adereços de vestuário com apropriados níveis de eficácia. Máscaras bonitas, reutilizáveis e nos materiais certos. Tem ideias? Nós temos prémios e o prazo de candidatura decorre até ao dia 30 de Junho em www.mascarascomvida.org. t


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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara

Katty nem acredita, mas é com a ilusão de que um dia Jair Bolsonaro ganhe juízo que lhe preparou o outfit para enfrentar a pandemia. Cabeça dura coroada com capacete de guerra banhado a ouro descaradamente falso, mankini meio onça, meio homem das cavernas, havaianas e máscara de gás. Para combater o vírus como homem… Porra!

Cabeça dura, meio onça… É homem, porra! Vamos combater o vírus como homens… Porra!!! Não consigo evitar citar esta magnifica afirmação de um dos maiores negacionistas desta pandemia, o grande Messias da terra de Vera Cruz. Vamos lá! Mulheres, crianças, neutrais e machos… vamos todos combater esta guerra como homens! Ignorem os campos esburacados que os drones no céu nos revelam, como se de grelhas de escoamento de uma gigantesca estrada de terra se tratasse. São meras consequências desta guerra pandémica, “milhares de pessoas vão morrer” bem disse o Messias, e claro, o mais natural é que sejam os desprotegidos a ficar pelo caminho. Porquê?, pergunto eu. A palavra “homem” historicamente, e passando ao lado das interpretações pertinentes de ser uma nomeação sexista, é usada para nos referirmos ao ser humano na sua generalidade… Não é digno de um homem, que se chame homem, negar esta realidade. A economia desmorona-se, é certo, mas será verdadeiramente humano dar prioridade à economia e não à vida?! As nossas vidas dependem da economia, sim, mas a economia também depende das nossas vidas. Não só aquela grande extensão de terra chamada Brasil, mas o mundo na sua generalidade, parece ficar cada dia mais polarizado e dividido. Decidi aligeirar ou apimentar… as animosidades, destacando esta personalidade que logrou a difícil empreitada de roubar protagonismo ao seu homólogo americano. A forma mais digna de o fazer é desvestindo-o um pouco, para mostrar a sua estirpe humana de homem… Porra! Desenhei um lindo e bem nacionalista mankini meio onça, meio homem das cavernas, protegi os seus pés com umas bem nativas havaianas, coroei a sua cabeça dura com um, ainda mais resistente, capacete de guerra banhado em ouro descaradamente falso e protegi a sua desbocada boca com uma potente máscara de gás. E assim descanso na ilusão de que este homem um dia ganhe juízo, contudo espero que esse juízo não chegue de mão dadas com a derrota desta guerra, se assim for, o custo pago em vidas será elevado de mais. Até para um Messias. t


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O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão

Restaurante Cisma Rua Roberto Ivens, 1273 4450-257 Matosinhos

UM AMOR DE CISMA Conheço várias estórias de amor que começaram à mesa de um restaurante, mas acho que nunca tinha conhecido um restaurante que tivesse começado numa estória de amor. Foi assim que tudo começou no Cisma! O Miguel e a Carolina não tinham nenhuma relação com a restauração. Só tinham uma boa relação de amor entre os dois. E uma má relação com o trabalho rotineiro. Cansados da profissão, ele engenheiro civil e ela coordenadora de segurança e ambiente no trabalho (foi numa obra que se conheceram) decidiram abraçar o desafio de fazer em Matosinhos um restaurante que fosse exactamente aquilo que procuravam como clientes. Fizeram a penúltima obra juntos, o Mar Shopping Algarve, e meteram mãos à obra no restaurante. A conclusão dos trabalhos ficou marcada para o dia em que resolveram casar... no interior do Cisma. Não vai haver cisma que os separe!

O MELHOR DOS VINHOS VERDES

Já se sabe que entre marido e mulher ninguém mete a colher mas neste Cisma vale bem a pena meter a colher em vários pratos como o ovo mollet com cogumelos pleurotos trufados, a moqueca de pescada e camarão com arroz thai, ou o magnífico quindim que antecipa o café como ninguém. Já de faca e garfo, recomendo vivamente o magret de pato com risotto de laranja e compota de figos. Não sei se é por o amor andar no ar mas tudo que lá comi até hoje parece ter uma áurea especial, e apesar de ter poucas mesas é já um dos grandes restaurantes da minha zona de confinamento de Matosinhos Sul. Um serviço discreto mas sempre à disposição e uma cozinha inovadora mas sem nenhuma invenção, podem bem ser o espelho daqueles amores tranquilos que se reinventam com cuidado no picante e nos temperos, criando sabores com os saberes de experiência feitos. t

QUINTA DE GOMARIZ AVESSO / COLHEITA SELECIONADA Foi exatamente no mesmo dia em que o T noticiava a nova máquina da ROQ, que é capaz de fabricar mais de 100 máscaras a cada minuto, que Manuel Sá soube também que o seu Quinta de Gomariz da casta Avesso tinha sido escolhido como o melhor dos Vinhos Verdes no concurso anual da região. Prémios são coisa que não falta ao empresário, que em tudo que aposta é para vencer. Com a produção de máquinas de estamparia têxtil, de que é líder mundial, tal como com os vinhos da Quinta de Gomariz, que todos os anos acumulam prémios e distinções. A propriedade do vale do Ave é também um caso de estudo para a região pela sua elevada produtividade e qualidade. Dos Loureiro, aos Alvarinho, Padeiro ou Espadeiro, quase todos os vinhos foram já premiados. E este Avesso da última colheita é mesmo produto de excelência. O melhor entre todos os da região.


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c MALMEQUER Por: Cláudia Azevedo Lopes

Carolina Guimarães, 25 anos, é o rosto da terceira geração de uma família que está no têxtil há mais de 60 anos. Portuense de gema – mas deslocada em Matosinhos – é a diretora-geral da João Pereira Guimarães e sente que toda a sua vida foi passada no meio das máquinas. Escrever, cozinhar e passar tempo com os seus sete cães está na top list da jovem gestora

SOUVENIR

O CASACO TALISMÃ

Gosta

Não gosta

Cheiro a livros antigos Louça Bordallo Pinheiro Jamie Cullum Ver séries Escrever Polaroids Cães (em particular os meus) Ler Decorar a casa Praia da Falésia Fazer compras online Enviar postais Fazer álbuns de fotografias Cozinhar Anéis Vestidos midi Ir ao supermercado com tempo FCPorto Cabrito assado da minha mãe Do meu nome Pão Viajar Jogos de tabuleiro Amarelo NOS Primavera Sound Cerejas Perseverança Tocar piano Vestidos de noiva Pessoas Inteligentes Yann Tiersen Cruzeiros Ellie Saab Spotify Natal Salvador Sobral Cadernos Promoções Objetos herdados Banhos de mar e de rio Pequenoalmoço no campismo Andar de kayak Rodízio Noites de verão Festas populares Doces regionais De falar diariamente com os meus irmãos (tenho três) Escape rooms Música alta no carro Agendas Almoçar com os meus pais

Favas Fazer desporto Bebidas alcoólicas Cores fluorescentes Desorganização Ratos Óculos de sol espelhados Drogas Livros com letras pequenas Praxe Queijo Mangas a ¾ De roer as unhas Tachas Da música das lojas de roupa Aspirar o chão Hotéis sem bidé Lavar o carro Chuva Roxo Apple Unhas compridas Carnaval Filmes de terror Andar de autocarro Barulho De levar o lixo à rua Almoços de negócios Twitter Nódoas na roupa Água fria Quartos de banho públicos Acumuladores de lixo Ingenuidade Que não atendam o telemóvel Atrasos Oregãos Comida picante e condimentada Séries com muitas temporadas De andar no banco de trás do carro Computadores lentos Telemóveis sem espaço de memória De hospitais Comer com pressa Chegar tarde a casa De não ter planos definidos

Era – ou antes, ainda é – um casaco bege, com rosas vermelhas e folhas verdes, tudo feito com bocadinhos de linhas e que me demorou imenso tempo a concluir. Precisava de experimentar as técnicas, de perceber como é que, com elas, chegava às soluções que tinha pensado. Foi o primeiro casaco que fiz para eu usar, para ir ao casamento de uma amiga. Depois da cerimónia havia uma festa e eu resolvi que iria com um casaco feito por mim. Mas foi a partir desse casaco que comecei a fazer coisas diferentes – fi-lo em 2007 – e que senti que podia fazer muitas coisas na área da confeção. É um cardigan – uma peça de vestuário em lã abotoada na parte frontal, achei que era uma boa solução para uma cerimónia do género, ainda por cima da minha autoria. Foi pouco tempo depois que fiz a minha primeira feira em Paris, com algum do vestuário que lá levei a ser confecionado com as mesmas soluções que encontrei para o meu casaco. Paris também foi de alguma maneira o começo de muitas coisas e acabei por guardar na memória a cidade e aquela peça de vestuário que eu fiz em conjunto. Por isso, esse casaco, que ainda tenho, apesar de já não o vestir há alguns anos, é uma espécie de casaco-talismã. A peça com que tudo começou na minha carreira. Ainda o voltei a usar algumas vezes depois do casamento dessa minha amiga, mas agora é uma espécie de peça de museu. Apesar disso, acaba por ter uma grande importância, não só por causa das técnicas que experimentei com a sua confeção, mas porque marcou um início de uma etapa da minha carreira que veio a ser muito importante. t Alexandra Oliveira Designer e criadora da Pé de Chumbo


O Festival de Filmes de Moda está de volta, em sétima edição. As categorias a concurso são: filmes de moda de Autor Independentes, Institucionais, de Marca, de Têxteis Técnicos, de Alive Mobile, Internacionais e de Têxteis Lar a nova categoria em homenagem a Guimarães. Numa altura em que a humanidade clama por um novo respirar, por uma consciência coletiva de maior sustentabilidade, o Festival promove este conceito, também ele sinónimo de criatividade.

Até 13 de setembro respire fundo e envie-nos o seu Fashion Film.

Humanity’s new breath Inscrições gratuitas | www.portofashionfilmfestival.com |963724466| fashionfilmfestival@portofashionweek.com Organização: Apoios: Cofinanciado por:

since 1948


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