T54 - Junho 2020

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ANTÓNIO AMORIM Presidente do CITEVE

“A NOSSA INDÚSTRIA TÊXTIL É A MAIS BEM PREPARADA DA EUROPA”

EMERGENTE

INÊS ACREDITA QUE O AMOR SE VÊ NOS DETALHES P 31

N Ú M E RO 54 J U N H O 2 02 0

P 20 A 22

DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS

FOTOSÍNTESE

TENDÊNCIAS

O PASSO A PASSO DA CERTIFICAÇÃO COVID-19

LUÍS BUCHINHO LANÇA LINHA DE ACESSÓRIOS

P8E9

P 18

DOIS CAFÉS E A CONTA

HONORATO SOUSA É O CR7 DAS MALHAS

FOTO: RUI APOLINÁRIO

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PERGUNTA DO MÊS

INOVAÇÃO

QUE ESTRATÉGIA PARA SETEMBRO COM A REABERTURA DAS FEIRAS?

O VESTIDO DA ERT É FEITO COM SOBRAS DE COURO E EVA

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quality impact arquitetura e soluções de espaços

Rua do Cruzeiro, 170 R/C | 4620-404 Nespereira - Lousada T. 255 815 384 / 385 | F. 255 815 386 | E. geral@qualityimpact.pt


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CORTE&COSTURA

EDITORIAL

Por: Manuel Serrão

Por: Manuel Serrão

Helena Malcata Embaixadora de Portugal na Etiópia, que na sequência da última Africa Sourcing and Fashion Week (ASFW), realizada em novembro, em Adis Abeba, saúda a Selectiva Moda e a presença das empresas portuguesas. Um evento de dimensão continental, com a participação de cerca de 300 expositores de quase três dezenas de países, e que se afigura como um dos certames mais importantes para os setores têxtil e da moda no continente africano. A embaixadora Helena Malcata acompanhou na altura a presença portuguesa na feira e deixou as suas impressões em resposta a um curto questionário do T Jornal

O CAMPEÃO VOLTOU 1. Apesar de poderem ser induzidos em erro pelo título, este editorial não tem nada a ver com futebol. Até porque o campeão a que me refiro é o “ green ”, o verde da sustentabilidade. Como poderão ver melhor na nossa página 35, pela pena de Isabel Furtado e Mário Jorge Machado, a reindustrialização que se antevê e promove nestes tempos de perceber bem as lições da pandemia, vai ter necessariamente de conviver com o regresso das preocupações inerentes à sustentabilidade, essa macro tendência campeã que vai voltar em força. Diria até que este estar de volta é um pequeno exagero, porque creio que ainda que possa ter sido relegada para um segundo plano, na verdade foi uma tendência que nunca desapareceu. 2. A caminho da página 35, gostava de aqui deixar também uma chamada de atenção para as páginas 8 e 9 deste nosso T, onde poderão ver todos os passos dos bastidores da grande operação que o CITEVE montou para os desafios das certificações relacionadas com a Covid-19. CITEVE cujo Presidente António Amorim é a nossa entrevista de capa. t

Como analisa a presença das empresas portuguesas na África Sourcing and Fashion Week? É de congratular a Associação Selectiva Moda e as empresas portuguesas participantes, pela primeira vez, neste evento de dimensão continental: é importante a presença neste tipo de feiras pelas pontes e oportunidades que abre entre investidores, possíveis parceiros e clientes. Num país em profunda mudança, qual a impressão deixada pela nossa representação na feira? O stand da comitiva portuguesa destacou-se pela apresentação de produtos de elevada qualidade, sustentáveis e vanguardistas, que caracterizam a ITV portuguesa, e que a tornam reconhecida em todo o mundo. A presença do têxtil português na Etiópia tem possibilidades de se desenvolver e aprofundar no futuro? Todos os mercados presentes na ASFW podem vir a ser explorados por exportadores portugueses. São mercados em franco crescimento, que oferecem oportunidades, embora exista uma concorrência importante da parte de

outros intervenientes do setor. Daí que seja fundamental a participação das empresas nacionais nestas iniciativas, que permitem mostrar o que diferencia a têxtil portuguesa. A Etiópia ascendeu à condição de economia emergente e tem atraído investimento internacional. Pode ser vista como um caso especial? São cada vez mais as empresas de renome internacional presentes no terreno, fruto de incentivos para o estabelecimento de empresas e para captar investimento externo. A aposta nos produtos sustentáveis é inevitável para as empresas que pretendam vingar e liderar no futuro. E não é diferente nos outros mercados africanos, onde o impacto ambiental da indústria é um fator de debate. Os próprios produtores locais privilegiam a criação de produtos sustentáveis.

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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Mário Jorge Machado Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares

Em termos de posicionamento, como avalia a presença dos empresários nacionais? Nesta feira, a comitiva portuguesa apresentou produtos sustentáveis, o que, aliado à qualidade dos mesmos, marcou a meu ver a diferença a favor da participação nacional. t

Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/


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n PERGUNTA DO MÊS Texto: António Freitas de Sousa Ilustração: Cristina Sampaio

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“Estamos ávidos de voltar a fazer feiras. Apesar de vivemos na era digital, continua a ser fundamental estar cara-a-cara"

“Vamos a todas onde costumávamos estar. Não podemos ficar confinados para sempre, se não em vez de morrer da doença, morremos da cura”

NUNO MOTA SOARES BARCELCOM

JOÃO CARVALHO FITECOM


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“Vamos regressar este ano a uma feira, mas ainda não sabemos a qual. As próprias organizações não têm estratégias definidas”

“Não vamos participar em nenhuma feira este ano. Quando as viagens retomarem vamos marcar visitas diretas”

“Temos de ser prudentes e vamos esperar. A única que está em cima da mesa é a viagem a Tóquio, à JITAC”

“Vamos estar nas feiras que normalmente fazemos. Ajustando o critério, com menos espaço, menos mesas e apenas a equipa essencial”

TERESA MARQUES PEREIRA CONCRETO

RICARDO SILVA TINTEX

CARLA PIMENTA TEXSER

PAULO MELO SOMELOS

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epois de meses com a agenda por preencher, setembro promete o regresso das feiras à vida das empresas. Em Paris, a Who’s Next e Interfiliére estão confirmadas para os dias 4 a 7, enquanto a Première Vision mantém as datas de 15 a 17. Em Itália, a Milano Unica já comunicou aos seus parceiros que a próxima edição será efetivamente entre os dias 7 e 9, ao mesmo tempo que no mercado alemão a Munich Fabric Start adota um novo formato, mais concentrado, mas também com data confirmada para de 1 a 3 de setembro. No mês em que o MODtissimo regressa à Alfandega do Porto para a sua edição 56 (dias 23 e 24), também de Madrid vêm sinais de confiança, com a Momad e a Intergift agendadas para os dias 16 a 20. Do lado dos expositores sobram, no entanto, ainda muitas dúvidas. “A primeira pergunta é se vai haver feiras. Ainda há uma grande indefinição, não sabemos se serão efetivamente realizadas e se os clientes e designers vão lá estar, é tudo uma grande incógnita”, comenta Paulo Melo, administrador da Somelos, empresa assídua em feiras como a Première Vision ou a Milano Unica. Dúvidas que são acompanhadas por Teresa Marques Pereira, global brand manager da Concreto. Especializada em moda feminina, a marca participa regularmente em quatro feiras por estação, mas por enquanto está ainda na expetativa. “Vamos regressar este ano a uma feira, mas ainda não sabemos a qual. Sentimos que as próprias organizações dos eventos não têm estratégias definidas. A comunicação não tem sido a melhor”, afirma. Mais decidido, Paulo Melo já tem programa definido. “Vamos estar nas feiras que normalmente fazemos, ajustando em tudo ao momento atual em que vivemos. Temos de ter outro critério, com menos espaço, menos mesas e apenas a equipa essencial”, explica. Com uma estratégia semelhante , João Carvalho, CEO da

Depois de meses de interrupção no calendário de feiras, Setembro anuncia-se como o mês da retoma, mas entre os expositores portugueses parece reinar ainda um clima de incerteza. Cada empresa desenha a sua estratégia e enquanto uns anseiam pelo regresso, outros preferem esperar pela próxima estação enquanto recorrem às plataformas digitais ou às visitas individualizadas. Em comum uma vontade clara de retomar os contactos e de regressar à normalidade

QUE ESTRATÉGIA PARA SETEMBRO COM A REABERTURA DAS FEIRAS? Fitecom, aplaude os sinais de reabertura do desconfinamento e vai à luta. “Vamos estar em todas as feiras onde costumávamos estar. Com algumas adaptações e respeito pelas medidas de segurança, claro, mas estamos preparados para andar por todo o mundo. Não podemos ficar confinados para sempre, se não em vez de morrer da doença, morremos da cura”, sentencia. Em termos de adaptações, a Fitecom prevê levar a cada evento uma equipa mais pequena, até porque algumas feiras indicam que, como medida de segurança, vão estipular um número máximo de pessoas por pavilhão e stand. Nuno Mota Soares, project & business manager da Barcelcom, partilha a mesma vontade de regressar às feiras e ao contacto olhos-nos-olhos. “Estamos ávidos de voltar a fazer feiras. Apesar de vivermos na era digital, continua a ser fundamental estar cara-a-cara com os clientes, é a melhor forma de mostrar o produto, de contar a história da marca, de perceber o que os clientes procuram”, explica o representante da empresa de Barcelos que aguarda indicações mais precisas da ISPO Munich e da

Medica Trade Fair para organizar o seu calendário. Até lá, começa a planear um conjunto de visitas e reuniões para quando as viagens retomarem o ritmo. Em sentido contrário, Carla Pimenta, CEO da Texser, e António Cunha, sales manager da Orfama, preferem esperar por 2021 para regressar às feiras profissionais. O aumento das medidas de segurança, os constrangimentos ao tráfego aéreo e a falta de confiança dos compradores estão entre as principais razões que os fazem aguardar pela próxima estação. “Neste momento ainda estamos na expetativa. Algumas feiras estão a reatar, mas por enquanto vamos focar-nos em visitas individuais a clientes”, antecipa o responsável da Orfama. Em constante contacto com os seus clientes mais próximos, António Cunha sabe que alguns dos seus parceiros vão também esperar por 2021 para regressar às grandes feiras. “Temos um escritório em França que está a fazer os contactos diretamente com os clientes e neste momento parece-nos que as visitas e apresentações individuais são uma estratégia mais

eficiente. As feiras vão continuar a ser importantes, mas nesta fase de indecisão o contacto direto será melhor”, explica. “Ainda não nos parece prudente voltar às feiras. Até porque ninguém sabe como as medidas de segurança vão decorrer na prática. Não acredito que os clientes façam fila de pé para entrar num stand. E como é que as pessoas vão para a feira? De transportes públicos, numa multidão? Ainda há muitas perguntas por responder”, salienta Carla Pimenta, que para já afasta a presença da Texser nas feiras europeias. “Nós vamos esperar. A única que está em cima de mesa é a viagem a Tóquio, à JITAC. Mas temos de ser prudentes e ainda faltam muitas informações”, reitera a responsável da empresa. A mesma estratégia é seguida pela Tintex. “Já tomámos a decisão há algum tempo e não vamos participar em nenhuma feira este ano”, esclarece Ricardo Silva, o head of operations da empresa de Cerveira. Para justificar a sua decisão aponta razões de segurança e de mercado. “Ainda não sabemos como serão as normas de higiene e é previsível que o número de

visitantes desça a menos de metade”, acrescenta. Como alternativa – para além das visitas a clientes – as feiras digitais e marketplaces afirmam-se como uma nova e útil ferramenta para alargar o raio de ação das empresas. “Estamos a aproveitar o marketplace da Première Vision, é uma boa plataforma e este ano podemos colocar 300 artigos em exposição, enquanto nos outros anos eram apenas seis ou sete”, comenta Carla Pimenta, que apesar da quebra nas encomendas já recebeu alguns contactos a partir das plataformas digitais. O mesmo acontece com a Barcelcom e a Concreto, que registam procura crescente através das plataformas online. “Nunca perdemos o link com os clientes. Temos uma plataforma própria, que já estava implementada e revelou-se fundamental”, comenta Nuno Mota Soares. Do lado da Concreto, a abertura de uma nova loja online durante o primeiro mês da pandemia revelou-se também uma aposta acertada. “Estamos a ter muito feedback, tanto do público como de parceiros e influencers. A loja foi muito bem recebida”, avalia Teresa Marques Pereira. Para substituir as feiras e o contacto presencial, também a Tintex tem apostado na tecnologia para apresentar os catálogos aos clientes. “Não utilizamos marketplaces porque já tínhamos o nosso próprio canal online. A nossa store já estava em vigor e temos desenvolvido catálogos digitais. Ao mesmo tempo que os nossos clientes estão a abrir o catálogo e a ver os materiais, nós estamos em contacto com eles de forma digital”, explica Ricardo Silva. Independentemente da estratégia e das diferentes perceções da realidade, para as empresas têxteis a palavra de ordem continua a ser adaptação. Aos novos tempos, às novas tecnologias, e também à nova dinâmica das feiras. O líder da Fitecom relembra até uma frase que soa a sentença: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. t


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A DOIS CAFÉS & A CONTA Quinta da Igreja (propriedade da família)

Palmeira, Santo Tirso

Entradas Pataniscas e petingas fritas Prato Cabritinho da quinta com alecrim assado no forno a lenha com batatas e salada mista Sobremesa Melão casca de carvalho, fisálias, mirtilos e jesuítas Bebidas Água e vinho branco. Tudo com base nos produtos e criação da quinta

HONORATO SOUSA

É o mais velho do quarteto de filhos de Jorge e Alice Sousa, que fundaram a Carjor ainda antes de se terem dedicado ao crescimento da família. Andou desde sempre dentro da fábrica e mesmo que o pai quisesse vê-lo médico, prevaleceu o instinto de engenheiro. Fez toda a escola no Colégio das Caldinhas, o curso na Universidade do Minho (Engenharia de Produção), e o estágio na Suiça, numa fabricante de máquinas, antes de se embrenhar na gestão da Carjor, onde persegue o objetivo de fazer cada vez mais em menos tempo. No resto, entretém-se com a pesca, na horta e no pomar onde cultiva com absoluto proveito todo o tipo de frutas e legumes - “só não tenho bananas, mas ainda não perdi a esperança”. É casado com Cristiana, professora, e têm dois filhos: a Inês, 20 anos, que estuda Comunicação na UM, e o Bernardo (18) que conclui o secundário no ramo de Artes

"SÓ TRABALHO COM O CR7 DAS MALHAS"

FOTO:RUI APOLINÁRIO

51 ANOS CEO DA CARJOR

Para cada jornada, Honorato Sousa tem um objetivo, que é rentabilizar ao máximo possível cada minuto do seu dia de trabalho. “Tento em tudo, mesmo em casa. A ideia é fazer sempre mais rápido e com menos custo”, explica, logo desvendando uma mente (ele diz “de formação”) de engenheiro que lhe impõe a minúcia com que gere a Carjor. É por isso que não se preocupa com preços, com concorrência, em produzir mais e conquistar novos clientes. “As metas estão definidas. Trabalhamos com clientes sólidos a longo e médio prazo e o nosso objetivo é produzir de forma cada vez mais eficiente, ou seja, rentabilizando o tempo e a capacidade instalada. Não queremos produzir mais, queremos ser mais eficientes”, explica o engenheiro, que o pai sonhava que fosse médico, mas que racionalmente não se afastou dos fios e trapos. Afinal, o chão da fábrica sempre fora o seu ambiente natural, onde voltava nas horas livres e intervalos dos estudos no vizinho Colégio das Caldinhas, de organização Jesuíta. Analisou as hipóteses (“tinha nota para entrar onde quisesse, mesmo Medicina”) e chegou à conclusão de que Engenharia de Produção, na Universidade do Minho, era o único que tinha o ramo

têxtil. “Ainda por cima, podia vir à fábrica todos os dias”, reforça, aproveitando para mostrar que o afeto e relação próxima são o elo mais importante do negócio. Assim é com os clientes, cujas visitas à Carjor sempre incluem o convívio em animados repastos na quinta da família, onde igualmente quis fazer o almoço. “Criam-se relações de confiança e estabilidade que não acabam com um abanão”, avança, mostrando que isso pode superar quaisquer crises ou ímpetos de concorrência. E conta o caso de um cliente de Itália que um dia lhe ligou para anunciar que tomou a decisão de abandonar os fornecedores asiáticos e dos países de Leste. “Disse-me: ‘a partir de agora só trabalho com o CR7 das malhas’, e o que faz mesmo a diferença é essa relação de proximidade e confiança”. Mesmo com a pandemia e o ambiente de incerteza instalado, tudo tem rolado na Carjor com absoluta normalidade. “Não paramos nem um único dia nem nos passou pela cabeça qualquer ideia de lay-off”, numa empresa que para nascer teve que ocupar a garagem de casa e obrigou os carros a ficarem na rua. Corria o ano de 1969, Jorge Sousa ainda cumpria o serviço militar quando juntou os trapos com Alice e fundaram a empresa que tinham sonhado, com o precioso apoio do tio Carlos.

Desde sempre especializada no fabrico de malhas exteriores para criança, em 1975 já exportava para Inglaterra e mudava para instalações próprias, num percurso de crescente sucesso até aos atuais 80 trabalhadores e perto de três milhões de euros de faturação, 100% feitos na exportação. Com a chegada de Honorato no apoio à gestão, no final do curso e após um estágio na Suíça numa fabricante de máquinas – “aprendi muito sobre teares retos, que são a base do nosso trabalho” -, Jorge e Alice puderam começar a pensar na concretização de outro velho sonho. Na dupla vertente de serviço aos idosos e às crianças, Torre Sénior e Torre dos Pequeninos, são outros casos de sucesso a juntar à Carjor, para orgulho da família. “Em tudo o que se mete, a nossa família tem sucesso, talvez porque entregamo-nos por completo aos projetos sem olhar a meios nem a sacrifícios pessoais, colocando os clientes no centro de tudo ” -, frisa Honorato. Um engenheiro que não abranda na luta pela eficiência na gestão do tempo. Todos os dias faz um relatório, e o do dia anterior mostrava que, entre emails, chamadas e WhatsApp, nas oito horas de trabalho, tinha tratado de 561 assuntos, uma média de menos de um minuto por cada um. t


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2. COM A RECEÇÃO DOS PRODUTOS É FEITA UMA PEQUENA ANÁLISE PARA IDENTIFICAÇÃO DO ARTIGO, A RECEÇÃO DEDICADA

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1. A COVID LEVOU AO FECHO DE PORTAS, OBRIGANDO A UMA ESPERA NO EXTERIOR PARA PODER SER FEITA A ENTREGA DAS AMOSTRAS

7. CHEGADOS AOS LABORATÓRIOS, SÃO SUJEITOS AOS TESTES DE RESPIRABILIDADE, QUER ANTES QUER APÓS AS SUCESSIVAS LAVAGENS

CERTIFICAÇÃO PASSO A PASSO

Nos primeiros dias, a fila alongava-se em redor do edifício. Até de Espanha vinham artigos e materiais em busca da necessária aprovação para produtos e equipamentos no combate à Covid-19. Era a resposta, pronta e massiva, ao desafio das autoridades e a mostrar, uma vez mais, a fibra inovadora, versátil e resiliente que está no ADN do nosso tecido empresarial têxtil. E o CITEVE teve também que se adaptar. Reforçou equipamentos e afetou praticamente todo o pessoal ao trabalho dos laboratórios, num ritmo de maratona que não sabia de pausas, feriados ou fins-de-semana. Só entre 1 de abril e o final de junho, foram registadas 8.490 amostras, apresentadas por 1.449 empresas, que deram origem à emissão de 7.855 relatórios e 2.863 certificados, que correspondem a uma taxa de 36% de aprovação. Ao todo, nesses dois meses foram aprovados 1.728 modelos de máscaras comunitárias, 523 materiais e 612 produtos

6. ANTES DOS ENSAIOS O MATERIAL É FOTOGRAFADO, DE MODO A QUE SEJA MAIS FACILMENTE IDENTIFICADO AO LONGO DE TODO O PROCESSO

11. CHEGADAS À ETAPA DA CONCEÇÃO, É TEMPO DE MEDIR AS AMOSTRAS, TANTO AS ORIGINAIS COMO AS QUE VÃO SENDO SUJEITAS ÀS LAVAGENS


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4. DEPOIS DA TRIAGEM, UMA NOVA INSPEÇÃO É FEITA AO ARTIGO E AOS DOCUMENTOS QUE O ACOMPANHAM

3. A PAR DO PRODUTO OU MATERIAL, O CLIENTE ENTREGA TAMBÉM AS FICHAS DE PEDIDO. ALGUMAS CHEGAVAM PELO CORREIO

5. UMA VEZ PRONTA PARA ENTRAR NO SISTEMA, A AMOSTRA PASSA A SER IDENTIFICADA APENAS ATRAVÉS DE CÓDIGO DE BARRAS

9. O PASSO SEGUINTE É A VIAGEM ATÉ À LAVANDARIA PARA O NORMAL PROCESSO DE LAVAGEM

8. A RETENÇÃO DE PARTÍCULAS É A MEDIÇÃO QUE SE SEGUE, REALIZADA APÓS A LAVAGEM DA AMOSTRA E A AVALIAÇÃO DA SUA CONCEÇÃO

10. AS MOSTRAS SEGUEM DIRETAS PARA A SECAGEM ANTES DE VOLTAREM A REPETIR OS ENSAIOS DE RESPIRABILIDADE

13. FEITA A AVALIAÇÃO DE CONCEÇÃO, SEGUESE A EMISSÃO DO RELATÓRIO, QUE EM CASO DE RESULTADO POSITIVO RESULTA NA EMISSÃO DA DECLARAÇÃO DE CONFORMIDADE

12. A AVALIAÇÃO DO FITTING DAS MÁSCARAS É TAMBÉM IMPORTANTE, JÁ QUE A PAR DO CONFORTO É TAMBÉM DETERMINANTE EM TERMOS DO GRAU DE PROTEÇÃO

14. NO SITE DO CITEVE, DE CONSULTA LIVRE, É ATUALIZADA EM PERMANÊNCIA A LISTA DAS MÁSCARAS E DISPOSITIVOS MÉDICOS CERTIFICADOS


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MOOVEX ARRANCA EM PORTUGAL À CONQUISTA DAS MARCAS EUROPEIAS É uma nova tecnologia que promete revolucionar a cintura das calças, tornando-as mais flexíveis e confortáveis, sem perderem o rigor estético. O Moovex já está a ser colocado em prática no Brasil, e para a Europa a abordagem arranca com uma série de parcerias na ITV portuguesa. Scoop, Trotinete, Lusipant e AAC Textiles fazem parte do grupo de confecionadores especializados que já dominam a tecnologia. “Precisamos de estar perto de quem fabrica e em Portugal encontramos parceiros competentes, com história e preparados a trabalhar com esta tecnologia”, explica a designer brasileira Renata Iwamizu, fundadora do projeto.

"Já não há muito para inventar. Não quer dizer que não hajam sempre novidades que se podem acrescentar, mas às vezes é preciso reinventar" Pedro Lima Diretor de Vendas da Lantal

FRANÇA APROVA MÁSCARA DA ADALBERTO PARA 50 LAVAGENS

Após 50 lavagens, a máscara MOxAd-Tech mantém uma retenção de partículas a 100% e uma respirabilidade de 230 pascais

A inovadora máscara MOxAd-Tech, resultante de um projeto de cooperação que juntou a Adalberto Estampados e a Sonae, foi certificada em França para 50 lavagens, e com resultados que superaram até as melhores expetativas da fabricante. Com a abertura do mercado francês e a performance obtida nos testes da entidade certificadora disparam as perspetivas de comercialização para uma produção que pode atingir as 100 mil unidades diárias. “Acreditamos que esta será mesmo a melhor máscara do mercado”, diz a CEO da Adal-

berto, animada pelos resultados acabados de receber do IFTH – Institut Français du Textile e de l’Habillement. Depois de testada em 50 lavagens, a entidade certificadora oficial de Paris comprova que a máscara mantém uma retenção de partículas a 100% e uma respirabilidade de 230 pascais, quando em França se requer apenas um mínimo de 100. “Notável, se pensarmos que há no mercado máscaras em que passado um minuto os utilizadores já não conseguem respirar”, regozija-se Susana Serrano, explicando que a MOxAd-Tech tem associada a inovação da

Adalberto, com aplicação antimicrobiana tanto na camada exterior como interior, protegendo contra bactérias e vírus. “Além disso leva na camada interior um acabamento com gestor de humidade”, explica a CEO da Adalberto. Resultante de um projeto de cooperação que juntou a Adalberto Estampados e a Sonae pelo lado industrial e o CITEVE, o Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa e a Universidade do Minho pelo lado da investigação, a máscara MOxAd-Tech foi das primeiras a obter a certificação do CITEVE. t

MO REABRE LOJAS FÍSICAS E APOIA O SNS

A INOVADORA MOSTRA DIGITAL DA UMODA

O início do mês de Junho marcou a reabertura da grande maioria das lojas físicas da MO espalhadas pelo país, tendo a marca portuguesa aproveitado o momento para lançar a campanha solidária ‘Juntos pelo SNS’ para angariar fundos para a aquisição de dispositivos médicos. Ao todo, 110 lojas da MO reabriram portas no início de Junho, mantendo, no entanto, o atendimento via WhatsApp ou telefone, implementado durante o confinamento.

Desafiados a adaptarem-se aos novos tempos, os alunos de Design e Marketing de Moda da UMinho foram muito além de uma transposição do tradicional para o online. A primeira edição digital da UModa, emitida através do Youtube, foi totalmente pensada para as novas plataformas: as várias coleções de moda foram apresentadas mostrando não só o trabalho final, mas ainda as matérias-primas, o making-off e as inspirações estéticas.

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máscaras por hora é quanto pode fabricar a máquina ROQMASK, produzida pela S. Roque

MAIS VERDE QUE NUNCA, O 70 FFF JÁ ESTÁ EM ANDAMENTO Já arrancou a 7ª edição do Fashion Film Festival, o único festival português dedicado ao cinema de moda. Com o lema “Humanity’s New Breath”, a moda sustentável estará no foco de todas as objetivas e o ritmo de inscrições logo no primeiros dias promete uma edição em grande. O registo decorre até 13 de setembro e desta vez há até uma nova categoria a concurso, dedicada aos têxteis-lar. “Numa altura em que a humanidade clama por um novo respirar e por uma consciência coletiva de maior sustentabilidade, o Festival promove este conceito, também ele sinónimo de criatividade”, é a mensagem que o concurso lança aos profissionais da área da moda, do cinema, da têxtil e aos autores independentes.


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A FASHION FORWARD Por: Teresa Pereira

O impulso criativo na incerteza global Com o impacto da incerteza global provocada pela crise pandémica da Covid-19 que temos vivido nos últimos tempos, aprendemos que o futuro chega mais rápido do que imaginamos. Deparamo-nos com um novo cenário, e um novo mercado desafiador. É interessante, queremos passar mais tempo no exterior quando as restrições de circulação acabarem, mas o conforto que experimentamos em casa vai ser um conceito de tendências a investir nos próximos itens de moda. Prevemos um consumidor ávido, mas também cauteloso, que vai privilegiar o conforto e a proteção dos materiais, que vai investir na inovação e na tecnologia, que oferecem segurança em períodos de incerteza. No entanto, estamos também numa época altamente emocional e esse é um dos fatores a não esquecer no comportamento do consumidor: a emoção. Criar emoções através da cor, com um impulso criativo e com associações harmoniosas, subtis ou surpreendentes, onde a cor vai dar lugar e espaço para um novo fôlego. A emoção que vai desenvolver contrastes entre superfícies de materiais muito lisos e estruturados. A versatilidade, a autenticidade e a beleza dos materiais, o conforto associado aos aspetos visuais de fácil leitura com ambiguidades entre aspeto e os toques inéditos vão estar presentes nas novas coleções de tecidos e malhas para estação de inverno 21/22. Acrescem os novos produtos evolutivos, com muitos destes a responder ao desejo do mercado com a minimização do impacto ambiental e na maximização de valor em cada ciclo de vida do produto. Assim, reunimos alguns dos ingredientes criativos para desenvolvimento têxtil: a escolha do fio, a construção, o uso da cor e o acabamento. Criamos moda porque sabemos que é um forte motor social e económico. A revolução industrial mudou o mundo, e nós podemos ser os novos protagonistas e contribuir para um futuro encantador, reposicionando a Moda com eco responsabilidade e o saber fazer. t

KIABI DOA 300 MIL PEÇAS A MATERNIDADES A Fundação Kiabi, parceira da Cruz Vermelha Francesa e de numerosas associações na Europa, doou 300 mil peças de vestuário, optando por priorizar o apoio às pessoas mais vulneráveis e mais afetadas pela situação atual. Ao mesmo tempo vai fornecer apoio financeiro, com uma doação de 200 mil euros. Metade é destinado à Cruz Vermelha Francesa para financiar iniciativas de emergência em França, Itália, Bélgica, Espanha e Portugal, onde residem mais de 90% dos colaboradores e clientes da marca.

PANGEA RETAIL PREPARA ABERTURAS EM PORTUGAL A Pangea Retail, empresa especializada na expansão e gestão de franchisados na área do comércio da moda, abriu uma representação em Portugal e já iniciou contactos com alguns de seus parceiros internacionais para abrirem no nosso país. A empresa, que controla a expansão e gestão de franquias para grupos como a Celio, KidsD Kids, Aw Lab, Pikolinos, Levi’s, Inside, Uno de 50, Parfois e Yves Rocher estava até agora localizada em Madrid e Milão.

LEGADO DE KARL LAGERFELD BEM VIVO: EMPRESA CRESCEU 54% Em 2019, ano em que faleceu o fundador, a Karl Lagerfeld atingiu uma faturação de 700 milhões de euros, mais 54% que no ano anterior. Em 2020, a empresa esperava fechar com um aumento de 30% e aproximar-se da barreira dos mil milhões. “Nos próximos dois anos, a empresa deve alcançar vendas no valor de mil milhões de euros”, disse Pier Paolo Righi, CEO da Karl Lagerfeld nos últimos nove anos. Entretanto, com o surto de coronavírus colocou projectos e previsões em stand by.


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GIO RODRIGUES APELA À DESCONTRAÇÃO Conhecido pelas suas coleções bridal e pelas roupas de cerimónia, o estilista português Gio Rodrigues quer surpreender com a recente coleção Primavera Verão. Apresenta propostas mais descontraídas, perfeitas para o dia-a-dia, mas sem perder a elegância e sofisticação que lhe são características. A coleção, disponível na loja online, tem como peças-chave T-shirts, calções, vestidos curtos e blusões, contando também com a nova coleção de ténis do designer, onde o branco é a cor predominante e a irreverência se manifesta nos detalhes em tons de amarelo, castanho e azul.

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"A sustentabilidade é um projeto que começámos há cinco anos e que para nós tem cada vez mais eco" José Alexandre Oliveira Presidente da Riopele

INSCRIÇÕES NO MODTISSIMO 56 ARRANCARAM EM FORÇA Contra todas as pandemias, o regresso do MODtissimo está a ser aguardado com enorme expectativa e a ITV dá mostras de estar preparada para voltar ao ativo em pleno: nos primeiros três dias foram registadas 40 inscrições para os salões da Alfândega do Porto, a 23 e 24 de Setembro próximos. Com o tema linked, o MODtissimo56 assume mais um vez o compromisso verde e sustentável, que se afirma como bandeira da têxtil nacional. Destaque para o iTechStyle Green Circle – Sustainability Showcase, que dá a conhecer a extraordinária capacidade da nossa ITV de conceber e fabricar produtos sustentáveis.

BORGSTENA INVESTE 3,6 MILHÕES PARA PRODUZIR MÁSCARAS Especializada no fabrico de tecidos para a indústria automóvel, que está praticamente parada, a Borgstena voltou-se para a confeção de máscaras e assim conseguiu resgatar do lay-off 225 dos seus mais de 600 trabalhadores. Para isso a empresa avançou com um investimento de 3,6 milhões de euros, dividido entre a instalação de máquinas e o alargamento da área produtiva em 2.800 m 2, criando condições para se dedicar aos equipamentos de proteção. “Prevendo uma retoma lenta do setor automóvel e numa tentativa de evitar reduzir postos de trabalho, ao mesmo tempo que se dá resposta à atual necessidade de produtos de proteção individual, a empresa iniciou em abril um estudo para produção de máscaras e posterior compra de equipamento produtivo, no valor de 3,6 milhões de euros”, informou a Borgstena. Em comunicado, a empresa explicou ainda que “o novo investimento em Nelas prevê a produção de não-tecido Meltblown, a principal matéria prima na produção de másca-

Com a produção de máscaras, a Borgstena resgatou do lay-off 225 dos seus mais de 600 trabalhadores

ras”, prevendo ter ainda durante o mês de julho “uma capacidade mensal instalada de 12 milhões de máscaras cirúrgicas, 3 milhões de máscaras FFP, e 200 mil máscaras reutilizáveis”. A Borgstena Textile Portugal é a maior empresa nacional de desenvolvimento e produção de te-

cidos para a indústria automóvel, com um valor de exportações que em 2019 ultrapassou os 85 milhões de euros. Com o impacto da Covid-19 registou em abril e maio uma quebra acima de 60% das suas vendas, em comparação com o período homólogo, informou ainda a empresa. t

INDITEX CONSTRÓI NA GALIZA ESTÚDIO GIGANTE PARA O ONLINE A aposta da Inditex no online tem mais um objetivo concreto: em 2022, gerar nas plataformas digitais até 25% do total das receitas – e para isso está prestes a inaugurar um estúdio com cerca de 64 mil m 2 onde passará a produzir as fotos e os vídeos que vão servir as campanhas de todas as suas marcas globais. Fica em Arteixo, Galiza, e pode ser uma boa notícia para a indústria nacional. Paralelamente, o grupo galego vai aumentar as suas equipas dedicadas especificamente

às plataformas. Com o comércio online a ter neste momento um peso próximo dos 15% das receitas, a Inditex vai também implementar um sistema Rfid, que na prática permitirá que cada loja opere como se se tratasse de uma pequena plataforma de distribuição, com o sentido de diminuir os prazos de entrega. Para o grupo, o acervo fotográfico é um dos processos críticos do comércio eletrónico da moda: as imagens dos produtos são fundamentais num canal no qual a

roupa não pode ser tocada e isso exige centenas de novas fotos todas as semanas, o que contrasta com a ‘meia dúzia’ de fotos necessárias por ano para os tradicionais catálogos de publicidade. Segundo informação oficial do grupo fundado por Amancio Ortega, a Zara será a primeira marca a testar as novas opções estratégicas do grupo em relação ao online, mas posteriormente todas elas passarão para o âmbito do plano de desenvolvimento do comércio digital. t

CREATIVE TEXAGILITY: POLOPIQUÉ CRIA IDENTIDADE CORPORATIVA A têxtil Polopiqué alterou a sua identidade corporativa e acrescentou-lhe o conceito ‘Creative Texagility’, refletindo “a aposta crescente do grupo na inovação, design, tecnologia e a diversificação no negócio que tem vindo a fazer” e “a ambição de rejuvenescer e reforçar a qualidade e versatilidade com que dá resposta a todo o tipo de desafios têxteis”. O rebranding , que a Polopiqué deu a conhecer na sua página do Facebook, surge num quadro em que a empresa é “confrontada com os desafios de uma economia mundial que afundou nos últimos meses, resultado da pandemia, e simboliza a capacidade de antecipar e prever hoje a moda do amanhã“, afirmou Luís Guimarães, CEO da Polopiqué, uma das poucas empresa verticais no mundo, com produção desde a fibra à peça acabada. Com esta alteração, o grupo, que fatura 110 milhões de euros e dá emprego a cerca de mil pessoas, tem ainda como objetivo “comunicar mais, estar mais presente e próximo das suas pessoas, dos clientes, dos parceiros e mercados”. Fundada em 1996 para confecionar e comercializar artigos de vestuário, “a Polopiqué é agora uma marca que mostra a fibra com que chega ao mundo”, frisou Luís Guimarães. t


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X A MINHA EMPRESA Por: Mariana d'Orey

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O que faz? Roupa dos 0 aos 36 meses e acessórios de puericultura Exportações 65% da produção para destinos como Kuwait, Dubai, Panamá e Colômbia, para além da Europa (Itália é o seu principal mercado) Produção 20 mil peças por mês Trabalhadores 60 Volume de negócios Estima atingir um milhão de euros em 2020

GOUCAM COM FOCO NA RETOMA DA MODA E JÁ RECEBE ENCOMENDAS Máscaras, batas, túnicas e cogulas são as mais recentes novidades no catálogo do grupo Goucam, mas a empresa de Viseu está focada no regresso ao seu core business: a confeção de moda para marcas internacionais. Apesar do forte impacto da Covid-19 na sua atividade, que se continuará a sentir pelo menos até ao final do ano, o grupo já está a registar as primeiras encomendas pós-confinamento e retirou parte dos trabalhadores do lay-off. O grupo Inditex continua a encomendar.

"Portugal é muito melhor do que aquilo que reflete no valor percecionado" Noel Ferreira CEO da A. Ferreira & Filhos

LUÍS MIGUEL RIBEIRO RECONDUZIDO NA LIDERANÇA DA AEP “Este mandato vai exigir um esforço redobrado na defesa das empresas”, destacou Luís Miguel Ribeiro depois de reconduzido como presidente da AEP – Associação Empresarial de Portugal, num dos atos eleitorais mais participados dos últimos tempos. Contando com a entrada de 16 novos empresários nos órgãos sociais, Mário Pais de Sousa (Cabelte) é o vice-presidente do Conselho Geral, órgão do qual fazem ainda parte, entre outros, Alberto Teixeira (Ibersol), Ana Paula Roque (Revigrés), António Portela (Bial), Arlindo da Costa Leite (Vicaima) e Isabel Furtado (TMG). José António Barros (Ar Líquido), ex-presidente da AEP, continua a presidir a Assembleia Geral.

“A nossa prioridade é o bem-estar do bebé” Nasceu voltada para o mundo, o mesmo mundo que levou Alfredo Moreira, diretor-geral da Baby Gi, a abandonar os projetos que tinha em Angola na área da construção civil para regressar a casa, não só em termos geográficos, mas também no que aos negócios de família diz respeito. “Depois de 20 anos na construção civil achei que estava na altura de mudar de vida, e como a minha família já estava ligada à produção têxtil no mercado infantil, avancei com uma marca própria nesse setor”. Apresentada publicamente em 2016 na feira de moda infantil FIMI, em Valência, Espanha, a Baby Gi nasceu com a exportação no seu ADN. “Criámos uma marca de design intemporal, 100% made in Portugal, com um posicionamento médio-alto que tanto pode assumir o produto premium, como ser o produto de qualidade acessível em lojas multimarca de qualquer parte do mundo”, explica o diretor geral da marca de newborn que só em 2017 participou em 17 feiras internacionais de moda em países como Itália, Inglaterra, Estados Unidos, Colômbia ou Noruega. A aposta da Baby Gi no mercado internacional rapidamente trouxe frutos, estando atualmente presente em cerca de 350 lojas multimarca em países como Dubai, Kuwait, Panamá, Colômbia e República Dominicana, para além da Europa, onde a marca se difundiu por paí-

ses como Itália (principal mercado), Inglaterra, França, Alemanha, Noruega e Bélgica. Mas o que mais surpreendeu Alfredo Moreira nesta ainda curta mas já intensa viagem pelo mundo têxtil infantil foi a adesão nacional. “Nunca pensei que o mercado nacional fosse tão interessante. Desde o ano passado assistimos a um grande crescimento interno o que nos deixa muito felizes e esperançados. Os portugueses perceberam finalmente que, para além de sermos bons produtores e termos excelentes matérias-primas, temos também design”, defende. Com o bem estar do bebé na linha da frente de todas as prioridades, a Baby Gi é uma marca 100% nacional que recorre a matérias-primas portuguesas para a confeção das suas peças de design intemporal, idealizadas por Sónia Brito. O volume de encomendas da marca não tem parado de crescer, estimando-se um aumento de 75% face a 2019 e, por isso mesmo, investiram recentemente 35 mil euros num centro de modelagem e em breve irão duplicar o tamanho da fábrica. “Vamos criar uma nova área para o corte e reservaremos um armazém apenas para o produto acabado e expedição da Baby Gi” revela Alfredo Moreira, que estima ainda terminar o ano de 2020 a ultrapassar a barreira do milhão de euros no volume de negócios apenas na marca Baby Gi. t

WISE HS FAZ RASTREIOS EM EMPRESAS E AJUDA NA CERTIFICAÇÃO Com a economia a retomar a atividade, a consultora de saúde Wise HS alargou o seu catálogo de serviços para responder às novas exigências do momento. Para além dos rastreios ao domicílio, está também a fazê-los em empresas e fábricas, e no caso da têxtil está ainda a prestar apoio aos produtores interessados em certificar equipamentos de proteção.

1600

luvas por minuto é a capacidade de fabrico da Raclac

RUFEL LANÇA COLEÇÃO DE PORTA MÁSCARAS Depois de no início da pandemia ter direcionado a sua atividade para a produção de máscaras, a Rufel, a marca portuguesa de acessórios em marroquinaria, desenvolveu agora uma coleção de bolsas para guardar máscaras e transportá-las de forma mais higiénica. Feitas em pele e com fecho de mola, as bolsas protegem a máscara e previnem que esta esteja em contacto com outros objetos. O tamanho pequeno permite a facilidade no transporte e arrumação, tornando-as cómodas e práticas.


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"VONTADE DE FAZER MAIS E MELHOR " As mudanças que a pandemia e o isolamento social trouxeram à I n s i d impactou e t h e I s stodos u e os realidade, setores.Quando falamos em moda, isso não seria diferente.Como agência de modelos representada fisicamente no Norte e Sul do país, a Best Models sentiu a necessidade e sobretudo a responsabilidade de se reinventar. É certo que as ideias para a inovação surgiram no início do ano, com a mudança de mãos da Agência, mas a verdade é que repentinamente passaram a fazer mais sentido do que nunca. Diante desta nova realidade, verificou-se uma nova vontade de fazer mais e melhor, a criatividade deu lugar a positivismo, sendo essa a forma como queremos agarrar o futuro

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Numa forte aposta no digital, a Best Models lançou um novo site, com fotografias novas dos seus modelos, apostou em vídeos que permitam aos clientes conhecer mais e melhor os agenciados, procurou mostrar backstages e equipas com quem trabalha na segurança devida, tudo ferramentas destinadas a criar proximidade, numa fase de tanta distância.As redes sociais assumem também nesta altura um papel fundamental em qualquer empresa.

"NOVOS CONTEÚDOS " "A criação de conteúdos novos e diferentes tem sido um desafio diário para a nossa equipa, que tem como objetivo não só dar a conhecer o nosso trabalho e os rostos da empresa, como também entreter todos os que nos seguem.

"THE BEST IS YET TO COME" Será, cada vez mais, exigido um comportamento condizente com a nova realidade e ética, transparência, solidariedade, preocupação com a saúde pública e bem-estar coletivo.

“The best is yet to come” foi a frase escolhida no início do ano 2020 para acompanhar a mudança da empresa, com a certeza de que o melhor ainda estaria por vir, e inconscientemente, a frase tomou um rumo bem mais significativo do que o esperado inicialmente.Continuamos com o sentimento de que o “melhor” será sempre o que alcançamos atingir, como empresa e como seres humanos.

Neste momento em especial devemos cumprir um propósito maior que nos obriga a traçar um novo caminho, que nos desafia a reinventar e procurar formas de fazer melhor, criar novos hábitos de higiene e segurança para todos. Mas que no fundo são hábitos saudáveis e que devem permanecer nas nossas casas e empresas. "TRAÇAR NOVOS CAMINHOS"

Sentimos necessidade de criar máscaras personalizadas para todos os nossos colaboradores, não só que protejam, mas que tenham uma componente prática aliada ao design discreto, ajustado ao rosto de cada um.Queremos que a volta á vida normal nos traga uma nova visão, mais consciente e preocupada, mas ao mesmo tempo positiva.


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LUÍS BUCHINHO LANÇA LINHA DE ACESSÓRIOS

CENTI CRIA VISEIRA ANTIVÍRICA E ANTI-EMBACIAMENTO Para ajudar no combate à Covid-19, o CeNTI desenvolveu uma viseira de proteção individual, reutilizável e inovadora, com propriedades antívíricas e anti-embaciamento. Além de ter um novo design, a viseira é mais fácil de colocar do que as tradicionais soluções, assegurando um maior conforto e segurança. A novidade resulta de um projeto liderado pelo Centro de Nanotecnologia com o apoio do Centro Clínico Académico de Braga e da Moldit, empresa especializada na produção de moldes e componentes plásticos.

"O grande desafio é perceber como serão os clientes do futuro, quais as suas exigências e restrições" Mafalda Pinto CEO da SCOOP

CONTEXTILE 2020 JÁ TEM PROGRAMA

Foi durante o confinamento que Luís Buchinho desenhou a sua linha de acessórios, pensada especificamente para ser vendida online

Cláudia Azevedo Lopes

Como forma de combater os entraves e dificuldades decorrentes da pandemia da Covid-19, com especial incidência na moda de autor, o estilista Luís Buchinho decidiu desenvolver uma linha de acessórios pensada para ser vendida online e que já se encontra disponível para compra na plataforma digital do criador. Desenvolvida em paralelo com a coleção de pronto a vestir, a linha de acessórios começou a ser desenhada durante o confinamento obrigatório, altura em que Luís Buchinho se apercebeu que grandes mudanças se avizinhavam. “As marcas de autor, conhecidas pelas suas especificidades e por um nicho de mercado bem identificado, têm obrigatoriamente de pensar em soluções para ultrapassar a reserva dos seus

clientes – por motivos financeiros, pessoais ou emocionais – em se deslocarem aos habituais postos de venda onde os seus produtos estão representados”, explicou Luís Buchinho ao T. Com o online a apresentar-se como um aliado essencial, foi altura de apresentar produtos diferentes do habitual, que melhor se adaptassem ao comércio digital. Os acessórios, pelo seu tamanho reduzido e pela sua imunidade a questões de tamanho ou de fitting, foram os escolhidos. “Apostamos em produtos mais económicos, de usabilidade ou vestibilidade “inquestionável”, tais como lenços, máscaras diferenciadas, óculos e bijuterias. São artigos fáceis de embalar, espelham bem a assinatura da marca, e sem correr grandes riscos – ao contrário do vestuário – de trocas e erros ao encomendar tamanhos. Torna-se desde modo mais fácil a fluidez do processo de compra e venda”, explicou o designer. t

É sob o conceito temático “Lugares de Memória – Interdiscursos de um território têxtil” que a edição de 2020 da Contextile, a Bienal de Arte Têxtil Contemporânea, se realizará de 5 de setembro a 25 de outubro em vários espaços culturais e áreas públicas de Guimarães. O programa desta 5ª edição inclui exibições internacionais, residências artísticas, conversas com especialistas, visitas guiadas, sessões de cinema ao ar livre e até uma instalação multimédia. Ao todo, serão 59 obras de 50 artistas, oriundos de 29 países, selecionadas pelo júri de entre 1150 obras apresentadas por 870 artistas de 65 países em resposta ao openCall que decorreu até ao dia 1 de março, um aumento de 40% que representa um novo recorde num crescendo que vem desde a edição de 2012.

750 mil

metros quadrados de tecido-não-tecido são produzidos semanalmente pela TrimNW

É PRÓ MENINO E PRÁ MENINA: A COLEÇÃO SS20 DA JUST.O ESTÁ AÍ

WE SUSTAIN: UMA ACELERADORA PARA A SUSTENTABILIDADE TÊXTIL António Moreira Gonçalves

São jovens, representam uma nova geração da indústria têxtil e querem ter um papel ativo na transição sustentável. Ana Silva Tavares e Daniel Pinto reuniram os vários anos de experiência na área e lançaram a We Sustain, uma consultora técnica que quer apoiar fabricantes e marcas de moda a seguirem o caminho da pro-

dução responsável, sem cair na armadilha do greenwashing. “A We Sustain surge porque identificámos uma lacuna, as empresas têm dificuldade em encontrar recursos humanos que combinem uma experiência na têxtil e um background ligado à questão ambiental”, explica Ana Tavares, que depois de vários anos a trabalhar como diretora do departamento de sustentabilidade da Tintex, junta agora forças com Daniel Pinto, diretor de desenvolvimento e estratégia

da Scoop, para criar uma nova consultora, orientada para a produção têxtil responsável. A partir de uma consultadoria técnica, a We Sustain coloca o seu know-how ao dispor da indústria e das marcas, oferece-se para participar na definição de uma estratégia de sustentabilidade e no desenvolvimento de projetos de inovação, e constrói a ponte entre as marcas que procuram soluções sustentáveis e as empresas que têm já boas práticas instituídas.t

A marca portuguesa de denim Just.O lançou a sua nova coleção com uma linha para homem, a Just.O, e outra de mulher, a My Fair by Just.O, ambas mantendo os traços sustentáveis e eco-friendly que defininem a marca. Com várias cores e lavagens disponíveis, a coleção aposta nos clássicos intemporais, como os jeans de corte direito e os blusões e camisas de ganga, peças essenciais em todos os guarda-roupas, assim como os como hoodies e t-shirts em algodão, adornadas com o logótipo da marca.


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FOTO: RUI APOLINÁRIO

"ALGUMAS EMPRESAS VÃO CRESCER ALAVANCADAS POR ESTA OPORTUNIDADE"


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n ENTREVISTA Por: António Freitas de Sousa

António Amorim Aos 68 anos, é presidente do CITEVE desde 1996: “sou tipo o Pinto da Costa do centro”. Aquilo que encontrou na altura era diametralmente diferente do que é hoje possível encontrar naquele enorme espaço verde em Famalicão, onde gere uma estrutura (CITEVE e CeNTI) com cerca de 240 colaboradores. Economista de formação (FEP), viveu dois anos em Londres e, findo o curso, foi estagiar para a Têxtil Manuel Gonçalves. Mais tarde passou pela Fábrica de Fiação dos Casais, como diretor financeiro, antes de ser administrador da Arco Têxteis durante 30 anos. Saiu em 2010, tendo desde aí mantido atividade profissional apenas no CITEVE

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CITEVE é não apenas o centro tecnológico dedicado em exclusivo ao setor têxtil, mas também serve de barómetro ao próprio setor. António Amorim, presidente do organismo desde 1996, está ciente de que os têxteis nacionais têm tudo o que precisam para sair rapidamente do ‘buraco’ da covid-19. Na sequência da pandemia, o país percebeu que tem um organismo de excelência que é o CITEVE?

Sim. A Covid-19 foi para o CITEVE uma grande prova de fogo: de repente, a indústria viu-se a braços com a pandemia, e a forma de tentar assegurar a produção foi virar-se para as máscaras e de equipamentos de proteção individual (EPI). Que papel teve o CITEVE na evolução para essa produção?

Tudo começou por um diálogo entre o Infarmed e o CITEVE. O Infarmed entendeu que o CITEVE, como centro tecnológico da indústria têxtil e do vestuário, seria a entidade certificadora com quem deveriam colaborar. Infelizmente, foram feitas importações que não reuniam condições e algumas delas eram mesmo de origem muito duvidosa. Surge aí o CITEVE…

Tinha que haver uma garantia de que a certificação era de facto boa e que os consumidores podiam estar certos disso. Já colaborávamos com o Infarmed, uma estrutura muito hierarquizada, mas não era um diálogo muito fluido. A partir do momento em que surge a pandemia, houve

necessidade de se criar uma ligação muito fluida e um contacto permanente. Só por si, é um fator muito positivo.

Muito. Até porque o problema dos EPI não termina aqui. O CITEVE já os certificava anteriormente, já havia empresas do setor a fabricá-los e portanto este contacto, que passou a ser muito estreito, com o Infarmed, é um fator altamente positivo, e que se vai manter. É uma oportunidade para muitas empresas que entraram neste domínio. Terão havido dificuldades de início.

Houve dificuldades porque de repente tivemos aqui toda a indústria têxtil. E o CITEVE teve que tomar uma opção, que pode ser discutível: definiu o critério por chegada, isto é, podiamos ter dado prioridade aos clientes, ou aos associados, mas decidimos que as certificações seriam feitas por ordem de chegada. Entendemos que estávamos perante uma emergência e o CITEVE, embora seja uma entidade privada sem fins lucrativos, tem também uma missão pública. Os associados perceberam o critério?

Tivemos algumas críticas, houve empresas que me contactaram dizendo que não fazia sentido face aos investimentos de milhões e às centenas de trabalhadores e aos contratos já assinados, mas entendemos que as oportunidades tinham de ser iguais para todos. As empresas pequenas também precisavam da sua oportunidade. E o que é facto é que a maior parte das empresas pequenas se adaptaram muito mais rapidamente que as grandes à produção industrial de máscaras sob as normas do Infarmed, do CITEVE e da Direção-Geral de Saúde. Acredito que algumas dessas empresas vão crescer, alavancadas por esta oportuni-

"Decidimos que as certificações seriam feitas por ordem de chegada e recebemos críticas" Barómetro do setor têxtil, o CITEVE é também, enquanto centro de investigação, um dos elementos dinamizadores do futuro enquanto zona de experiências – e antes de chegar às máquinas industriais. A sua presença nos piores meses da pandemia de Covid-19 não passou despercebida e o centro acabou por ganhar uma notoriedade que não estava nos seus planos. Só as empresas, que recorreram maciçamente aos seus serviços, estavam cientes do papel de alavancagem que o CITEVE podia ter no combate à crise. A elas acabariam por juntar-se os ministérios da Economia e o da Ciência – mas também o do Ambiente, assim como o Infarmed e a DGS – para resgatarem o setor da pior crise global de que há memória. E o sucesso da operação do centro de investigação mede-se pelos projetos que neste momento se encontram nas bancadas dos laboratórios. Infelizmente, esses projetos não são para ser notícia: a confidencialidade é uma das armas escondidas tanto do CeNTI como do CITEVE, sem a qual os negócios das empresas que procuram aquelas estruturas não estariam salvaguardados. De qualquer modo, se há investigação que deixa os responsáveis do CITEVE orgulhosos é o do Green Circle – que é um dos primeiros grandes projetos na área da inovação sustentável, e que permitiu ao centro tecnológico uma visibilidade notória, nomeadamente no exterior do país

dade. Foi importante, porque a maior parte dos clientes do CITEVE são pequenas e médias empresas – até porque não têm as estruturas que as grandes empresas podem ter. Posso dizer que apareceram no CITEVE 943 empresas que nunca nos tinham procurado. Não sei se vão continuar.

período de emergência em que quase todas as suas unidades internas tiveram que virar-se para a cerificação das máscaras. Acredito, por outro lado, que algumas empresas que começaram com as máscaras vão evoluir para a produção de EPI’s e será aí que podem ter valor acrescentado.

Que peso tem esse número quando comparado com a estrutura do CITEVE?

O CITEVE não teria sido o lugar certo para o Governo ter mandado testar as golas de proteção contra incêndios da Proteção Civil, que tanta polémica causaram há um ano?

O centro tem cerca de 600 associados – mas não são todos ativos. Ativos serão com certeza mais de 400 associados. Mas há muitas empresas que recorrem ao CITEVE que não são associadas. Os associados não pagam qualquer quota, apenas têm de comprar unidades de partidipação, somos portanto uma instituição de capital aberto a que podem aceder todas as empresas do setor têxtil e do vestuário – com a exceção de algumas entidades financeiras que também entraram no capital. Como compreende a grandeza desse número: 943 empresas rumaram ao CITEVE? O setor anda distraído em relação ao ‘seu’ centro tecnológico?

As empresas nunca tinham sentido a necessidade de virem até ao CITEVE. Muitas das que vieram são empresas sub-contratadas, que não têm contacto com este tipo de instituições. Perante a pandemia, a subcontratação desapareceu e as empresas tiveram de encontrar um caminho alternativo. Esse caminho foi a produção de máscaras e EPI’s, o que as levou até ao CITEVE. Ficarão com certeza com uma experiência para repetir, sendo certo que as máscaras não serão a salvação do setor.

Claro que não. As máscaras vão ser mais um produto. Em termos de serviços, o CITEVE já voltou praticamente à normalidade, depois deste

Acho que houve uma distração por parte das entidades governamentais. Acho que hoje, e depois do que sucedeu durante a pandemia, essas entidades compreenderam muito bem que o CITEVE é uma mais-valia. E há neste momento um contacto muito apertado entre o centro e o Ministério da Economia – desde logo através do secretário de Estado da Economia, João Neves – mas também com o Ministério da Ciência e Tecnologia. Recebemos aqui também o ministro do Ambiente, que também se apercebeu da mais-valia do CITEVE. E vamos, juntamente com aquele Ministério, desenvolver projetos na área da sustentabilidade. Portanto, há hoje uma sensibilização muito grande para as valências do CITEVE e para a interajuda que pode dar em todos esses casos. Uma sensibilização importante…

É muito importante esta articulação. A crise pandémica alertou para essa necessidade entre as entidades governamentais e o CITEVE – uma estrutura que está ao dispor, que já demonstrou que tem capacidade reconhecida inclusivamente a nível internacional. Fora de portas aperceberam-se disso?

Nesta crise, quando demorávamos três semanas a certificar os produtos, os


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O bichinho dos têxteis e dos automóveis clássicos A par do bichinho dos têxteis que o pai lhe incutiu - “numa empresa que montou na Póvoa para fazer vestuário dos pescadores” -, António Amorim é também um apaixonado por barcos e automóveis clássicos. Não o admite (“são os meus carros do dia-a-dia”) mas tem uma colecção de luxo, que aos barcos junta modelos Ferrari, Jaguar ou Land Rover e um MGA (na foto) oferecido pelo pai que foi o seu primeiro carro. É num deles que chega todos os dia chega ao CITEVE ou se desloca para todo o lado, fazendo gala da sua manutenção exemplar e que dispensa o recurso a qualquer modelo atual. A prática de hoquei em patins, natação, sky aquático e de neve, ténis, squash, judo e impreterivelmente três dias por semana de ginásio atestam bem o seu gosto pelo desporto e atividade física.

nossos concorrentes europeus demoravam mais do dobro. Há o caso de uma grande empresa espanhola, cujo proprietário me telefonou a dizer que estava desesperado por uma certificação que demoraria um mês e meio e que sabia que o CITEVE a faria em três semanas. Isso dá-nos uma credibilização muito grande. Que pode avançar sobre os projetos com o Ministério da Economia?

O Ministério tem sido um parceiro muito interessante. Primeiro porque teve a capacidade de dialogar connosco, de ver as necessiades do CITEVE em termos de articulação do apoio à indústria. Temos um grande projeto em curso, o Projeto Mobilizador, que abrange vários parceiros e que o Ministério está a apoiar, o que é fundamental – envolve cerca de 20 milhões de euros, porque abrange vários setores da economia, entre elas a Saúde. Digamos que é um pacote que agrega vários projetos e várias empresas em várias áreas de atividade. Todo esse trabalho permite também ao CITEVE o financiamento da sua atividade. Como se passam as coisas a este nível?

O CITEVE recorre aos apoios a que recorre qualquer empresa. Concorre a projetos – muitas vezes é o promotor, outras vezes é apenas parceiro – e é pago pelos serviços que executa. O CITEVE encerrou 2019 com um resultado positivo da ordem dos 601 mil euros e receitas de seis milhões, dos quais 30% a 35% a nível externo – coisa inédita para uma estrutura destas. Não é um resultado que apareceu por acaso: há vários anos que o CITEVE tem tido resultados sustentáveis, o que comprova que é uma estrutura em relação à qual os clientes se mostram satisfeitos. Não

"Acho que a retoma vai ser em V" temos subsídios a nível do Orçamento do Estado. Concorremos a tudo o que sejam projetos, nomeadamente a projetos europeus. Como será 2020?

Admito que vamos chegar ao final do ano com o mesmo nível de faturação de 2019. De quaquer maneira, somos o barómetro da indústria: se o setor funcionar bem, nós funcinamos bem. Qual é a dimensão das operações do CITEVE no estrangeiro?

É uma guerra, entre aspas, que eu tive há uns anos. Num conselho geral, havia uma proposta de desenvolver trabalhos em Marrocos. Fiquei entusiasmado, era um primeiro passo para a internacionalização. Mas o conselho mostrou-se renitente – felizmente que me opus e essa resistência acabou por ceder. Há cerca de 20 anos, o CITEVE iniciou o processo de internacionalização. Está em Marrocos – temos até uma proposta do governo para replicarmos o centro tecnológico em Marrocos.

veis. Inclusivamente podemos levar empresas a encontrar oportunidades nos mercados onde o centro tecnológico se encontra a trabalhar. Como vê a retoma da economia?

Acho que Portugal vai ter uma retoma forte – desde que as empresas aproveitem as oportunidades. Faz uma ligação direta entre a recuperação do CITEVE e a das empresas?

Faço. Acho que o CITEVE é um barómetro e acho que já há uma recupeção forte a nível dos outros ensaios – vamos colocar as máscaras de lado. Em termos dos clientes do CITEVE, notamos que já há uma retoma forte. E essa retoma é de certa forma fácil de entender: com este problema, havia muitas empresas que iam comprar à China, à Índia ou ao Bangladesh que neste momento, com o risco das deslocações, é natural que recorram a Portugal. Dentro do espaço europeu, Portugal é sem dúvida o país têxtil melhor preparado: tem qualidade, tem serviço, tem credibilidade. Há, portanto, uma boa oportunidade para os têxteis portugueses. Não vejo nisto tudo uma grande catástrofe. Acho que a retoma vai ser em ‘V’. A curto prazo?

A muito curto prazo, o setor vai ter dificuldades, em outubro, dezembro. Mas a partir daí vai haver uma retoma.

Vão fazê-lo?

Estamos a estudar, sendo certo que o CITEVE irá sempre ter a maioria para poder controlar a situação. Estamos na Tunísia, no Brasil, no Paquistão, no México e no Chile – com delegações ou representantes. Há dois anos desenvolvemos um projeto de grande dimensão na Nicarágua. Hoje em dia, a credibilidade e a imagem internacional do CITEVE são inegá-

As perguntas de

O Governo reagiu bem?

Na generalidade, o Governo reagiu bem. Os timings é que nem sempre podem ser geridos com a vontade que o Governo quer e que seriam os ideais para as empresas. Falta o banco de fomento?

Se houvesse o banco de fomento, a situação poderia ser agilizada. t

João Correia Neves Secretário de Estado Adjunto e da Economia

Manuel Gonçalves, Administrador do grupo TMG

A pandemia veio enfatizar a importância de uma Europa estrategicamente mais autónoma. Que papel podem as infraestruturas tecnológicas como o Citeve desempenhar na reindustrialização?

A pandemia do novo coronavírus foi um acelerador da transformação digital das empresas. De que forma vê os seus efeitos na Digitalização e Desmaterialização de Protótipos de Tecidos e de Vestuário?

A reindustrialização terá de assentar essencialmente na inovação e na sustentabilidade. Ao CITEVE cabe ser o dinamizador e catalisador das empresas, levando-as a desenvolverem projetos que as possam diferenciar e assim valorizar os seus produtos. Tem também um papel importante no sentido de influenciar as políticas públicas que permitirão apoiar o setor.

Foi sem dúvida um acelerador da Economia digital a nível global pela força do confinamento. Acredito que em várias fases do processo da desmaterialização de protótipos de tecidos e de vestuário poderá funcionar, quando já existe uma relação com o cliente que conhece o produto e tem confiança no fornecedor. No entanto, num primeiro contacto acho difícil que não haja da parte do comprador a necessidade de tocar o tecido para sentir o tipo de acabamento.

Em 2019, o Governo, através do Ministério da Economia, celebrou um Pacto Setorial para a Competitividade e Internacionalização com o Cluster Têxtil: Tecnologia e Moda, gerido pelo CITEVE. Como pode o papel dos clusters ser reforçado na atual conjuntura?

A ITV Portuguesa é composta por PMEs e mesmo as ditas grandes são pequenas a nível global. O Cluster Têxtil permite que haja entre elas uma colaboração e integração da especialização com complementaridade em termos de oferta com dimensão para um mercado global. t

Também expôs fragilidades dos países nas cadeias de abastecimentos. Estes acontecimentos tenderão a acelerar o reshoring da produção?

Sem dúvida que as fragilidades dos países nas cadeias de abastecimento se tornaram evidentes e a tendência será certamente para o acelerar do reshoring da produção, daí a importância dos Clusters que permitem a colaboração entre empresas para uma oferta mais alargada e adaptada à procura. t


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RETOMA DAS FEIRAS PROMETIDA PARA SETEMBRO

AS FEIRAS VÃO CONTINUAR A SER FUNDAMENTAIS Antonino Valenti, há mais de trinta anos consultor no setor de feiras e especialista em marketing, garante que os certames físicos vão continuar a existir se conseguirem focar-se na segmentação e investirem em nichos de mercado: “As feiras não vão deixar de se realizar, mas precisam de ser reajustadas através da segmentação e da promoção de um tipo específico de produto ”, explicou.

"Temos de trabalhar para as marcas de excelência e para a moda de alta qualidade" Maria de Belém Machado Administradora da SMBM

HEIMTEXTIL JÁ DEFINIU AS TENDÊNCIAS PARA 2021 A atual conjuntura não impediu a Heimtextil de definir as tendências dos têxteis-lar e do design de interiores para 2021. Entre as principais conclusões do Conselho de Tendências da Heimtextil, cuja próxima edição está agendada para 12 a 15 de Janeiro, em Frankfurt, salienta-se a habitual definição de quatro linhas de design e cor – a serem conhecidas na próxima edição da feira – bem como a criação de um laboratório de inovação digital, onde estarão presentes alguns dos produtos-chave dos expositores.

37º

é a posição de Portugal no ranking global da competitividade

LONDON TEXTILE FAIR ADIADA PARA OUTUBRO OU NOVEMBRO Caso as circunstâncias o venham a permitir, a London Textil Fair deverá realizar-se em outubro ou novembro, no Business Design Center como de costume. As inscrições já feitas para data inicial (14 e 15 de Julho) mantêm-se válidas, salvo indicação em contrário. “Procuraremos seguir as diretrizes do governo sobre distanciamento social. Vamos lançar o protocolo antes do evento para garantir que criamos um ambiente seguro mas produtivo para todos”, dizem os organizadores.

Mais medidas de higiene e segurança, oferta de descontos e condições especiais e uma maior aposta nos marketplaces marcam o regresso das feiras

Setembro já anuncia o regresso das feiras profissionais, com Paris, Milão, Madrid e Munique a programarem os primeiros eventos após o pico da pandemia. Cientes da nova realidade, as organizações anunciam adaptações, com novas medidas de segurança, reforço nas plataformas digitais e algumas condições especiais para os expositores que queiram marcar presença. “Sim, a Milano Unica está confirmada para 7, 8 e 9 de setembro”. Foi assim, de forma taxativa e um claro propósito de retoma, que a organização da histórica feira de Milão confirmou a próxima edição. Um regresso que é acompanhado por um desconto de 10% para os expositores e novas regras: o tráfego de visitantes será regulado, limitando o acesso a cada pavilhão com horários de entrada faseados e em cada entrada serão realizados controlos de temperatura. A feira garante que todos os setores serão higienizados diariamente e os cartões de acesso serão digitalizados. As feiras espanholas Momad e Intergift são das que têm fornecido mais informação sobre as próximas edições. Em datas interligadas – 16 a 20 de setembro a Intergift e 18 a 20 a Momad – ambas

lançam um programa de condições especiais para incentivar a presença dos expositores. Oferecem 25% na tarifa de solo e maior flexibilidade no pagamento. O espaço de moda acrescenta ainda no stand EGO e a feira de decoração um desconto de 15% para a edição de fevereiro. A Munich Fabric Start – a primeira feira da estação, agendada para de 1 a 3 de setembro – anunciou uma edição com novo formato. O evento mantem-se no espaço habitual e vai realizar a feira num formato condensado, intitulado Fabric Days. “Criámos uma plataforma que concentra o essencial e permite à indústria trabalhar de forma eficiente perante as novas condições”, anunciou Sebastian Klinder, Managing Director do evento, numa nota enviada aos expositores, onde justifica as alterações com os atuais constrangimentos nas viagens internacionais. A Première Vision Paris não promete descontos mas antes um reforço das plataformas digitais, com um maior investimento no PV Marketplace, que foi sendo alargado para que os produtores possam apresentar um maior catálogo de produtos. Também estão prometidas novas medidas de segurança e higiene para a edição agendada para 15 a 17 de setembro. t

FROM PORTUGAL CADA VEZ MAIS DIGITAL E 4.0 Do analógico para o digital, o projeto From Portugal aproveitou a interrupção no calendário das feiras tradicionais para reforçar a sua presença em marketplaces e feiras digitais. Com um catálogo cada vez mais abrangente – só no último celebrou parcerias com quatro novas plataformas – o projeto de apoio à internacionalização incentiva as empresas e marcas portuguesas a aproveitarem as novas ferramentas para comunicarem com os buyers internacionais. Superetage, The Brand Show, Informa Markets Fashion e Global

Apparel Sourcing Expo são as mais recentes entradas na lista de feiras online que contam com os apoios do From Portugal nos mesmos moldes das feiras tradicionais. No mesmo catálogo constam ainda as plataformas digitais lançadas pelas próprias feiras, como é o caso dos marketplaces da Première Vision e da Playtime ou a edição online da Colombiamoda. Têm-se afirmado também as alternativas independentes, totalmente concebidas para o ciberespaço, como Fairling, Joor, Foursource e Playologie, cujos sistemas permitem às

empresas apresentarem os seus produtos, integrar uma base de dados de fornecedores e criarem canais de contacto com compradores profissionais. Apenas na Global Apparel Sourcing Expo – feira digital que decorre entre 15 de julho e 14 de agosto – são esperados cerca de 15 mil compradores de mais de 100 países, com especial destaque para os Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Inglaterra e países nórdicos. Segundo dados estatísticos da própria Foursource, parceira do evento, cerca de 35% dos inscritos procura fornecedores private label. t


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X DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes

Araucana

Rua dos Caldeireiros, 108 4050-137 Porto

Ano de abertura 2020 Produtos Roupa de mulher sustentável e de produção ética Conceito Aposta em marcas distintivas e de slowfashion, com materiais de elevada qualidade e durabilidade Online É o próximo passo, talvez ainda este verão Outros serviços Atelier de upcycling, composto por uma equipa de três costureiras e uma designer

BARATA GARCIA TRANSFORMA CACHECÓIS EM MÁSCARAS A empresa barcelense Barata Garcia foi a responsável por reciclar milhares de cachecóis de apoio à seleção nacional de futebol, transformando-os em máscaras sociais para a campanha ‘Dá a cara por esta causa!’, promovida pela Federação Portuguesa de Futebol, em parceria com os CTT. Trata-se de uma máscara social reutilizável, modelo Eagle, composta por três camadas: a camada exterior é o reaproveitamento dos cachecóis, a camada interna é em tecido-não-tecido, e a camada junto ao rosto em algodão orgânico.

"O futuro passa por ser cada vez mais comercial e menos industrial" Feliciano Azevedo CEO da João & Feliciano

A beleza segundo Pablo Neruda Alexandra Alves é o exemplo vivo de como uma viagem nos pode mudar a vida. Foi em Bali, quando estava de férias com a família, que se perdeu de amores por uma loja local e fez o click para a abertura da Araucana, a loja de roupa feminina sustentável que recentemente nasceu no Porto “Entrei para comprar uma saída de praia da marca Thaikila e encantou-me a beleza da roupa, a simplicidade da decoração e a calma no atendimento. Disse à minha filha Inês: isto é que me fazia feliz! Ter uma loja com coisas lindas!", conta Alexandra. É certo que ter uma loja há muito estava nos seus planos. Licenciada em Economia, pela FEP, e com uma longa carreira na área da consultadoria e da gestão de qualidade, o que não esperava era que aos 53 anos o sonho se tornasse realidade. “Sempre pensei em ter uma loja quando me reformasse. Nunca imaginei a reforma como um tempo de descanso, mas como uma fase da vida com muita atividade e energia para continuar a fazer as viagens que adoro, em contínua aprendizagem sobre o mundo e a vida”, explica. Ela que sempre gostou de vestir bem mas que também é uma fiel adepta do comprar pouco, mas bom e muito bonito. “Gosto de vestir de forma discreta com peças intemporais e alguma irreverência, mas estava a ter grande dificuldade em encontrar roupas que gostasse. E as que gostava tinham invariavelmente quatro dígitos... ou três elevados”, brinca.

A máxima dita à filha em Bali não lhe saía da cabeça e foi com ela em mente que ligou para a Thaikila, uma marca com valores rigorosos de comércio justo e políticas de sustentabilidade, a perguntar se estariam interessados em vir para o Porto pela sua mão. “Aí começou a minha incursão nesta aventura!”, conta, entusiasmada. Depois foi altura de começar a abordar marcas nacionais até surgir o match com a designer Alexandra Oliveira, da marca Pé de Chumbo, que aceitou fazer uma coleção cápsula em exclusivo para a Araucana com excedentes da sua coleção. Seguiram-se a Wheat & Rose, de Maria Veloso, que apresenta peças de affordable fashion pintadas a aguarela, e a Sensify, que usa exclusivamente fibras naturais, como o bambu, o linho e a seda. A estas juntaram-se as internacionais Shopyte, a Payalkhandwala e Carolina Ronderos, todas com a tónica na sustentabilidade ambiental e social. O próximo passo é a marca própria, que já está em desenvolvimento e que em breve irá apresentar peças em seda com ecoprint de base abacaxi, couve roxa e folhas do jardim. Quanto ao nome, Alexandra responde com Pablo Neruda: “Talvez tú no sabias, Araucana, que quando antes de amarte me olvidé de tus besos mi corazón quedó recordando tu boca”. Sintetiza o que é a mulher Araucana, diz. “Elegante, não precisa de provocar fogo de artifício à primeira vista, mas apaixona num segundo olhar”. A beleza segundo Neruda. t

MAIORIA DAS EMPRESAS QUER MANTER INVESTIMENTOS

NÜWA DIZ QUE JÁ POUPOU MAIS DE 600 MIL LITROS DE ÁGUA

Mais de metade das empresas pretende manter, parcial ou totalmente, os investimentos que tinham previsto para o corrente ano, conclui o inquérito promovido pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal e pelo Marketing FutureCast Lab do ISCTE. Antes da crise da Covid-19, quatro em cada cinco empresas previam investir em 2020, nomeadamente na capacidade produtiva e em instalações.

A marca portuguesa Nüwa produz artigos feitos apenas de materiais sustentáveis, reciclados e orgânicos, a partir de excedentes têxteis (restos que sobram no corte das empresas) e garrafas de plástico recicladas, o que lhe permitiu poupar até agora cerca de 600 mil litros de água. “Mudar o mundo, gota a gota” é a premissa da marca, que garante poupar cerca de 1.600 litros de água numa só T-shirt.

5 milhões

de euros foi o montante investido em edifícios e máquinas pela P&R Têxteis nos últimos dois anos

NUDEMASK: A MÁSCARA PARA TODOS OS TONS DE PELE

Quando ainda se viviam os ecos do movimento Black Lives Matter, eram lançadas no mercado as portuguesas Nudemask, as máscaras de tom nude em quatro tons de pele diferentes. Não só para proteger da Covid-19 mas lutar também contra outro vírus: o da discriminação racial. “A Nudemask é a primeira máscara inclusiva porque não só resguarda a nossa saúde como levanta a voz contra as injustiças”, afirmou a marca, que quer aumentar a gama de cores para oito tons de pele.


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X O MEU PRODUTO Por: António Moreira Gonçalves

Mermaid – Vestido de Sereia

Desenvolvido pela ERT em parceria com CITEVE, CeNTI e CTIC

O que é? Uma nova solução de revestimento têxtil obtido a partir do reaproveitamento de restos de couro e EVA Para que serve? Aplicação no vestuário, mobiliário e decoração, no revestimento de piso, paredes ou interiores de automóvel Estado do projeto? Em fase de finalização e com pedido internacional de patente

MEXIDAS NO LAY-OFF REDUZEM A EFICÁCIA E AMEAÇAM EMPREGO As mexidas no lay-off simplificado decididas pelo Governo reduzem a eficácia de um instrumento que estava a salvaguardar empresas e empregos. O presidente da ATP, Mário Jorge Machado, admite que “houve da parte do Governo uma tentativa de ficar num meio-termo” entre o lay-off que constava das normas anteriores à situação de exceção gerada pela pandemia e o regime simplificado entretanto criado. Mas esse meio-termo implica um novo peso financeiro sobre as empresas, o que determinará com certeza o aumento das insolvências e o consequente crescimento do desemprego.

74 milhões de euros foi a faturação da Petratex em 2019

MORETEXTILE CRIA LOJA ONLINE PARA A SAÚDE E BEM-ESTAR Depois de em janeiro, na Heimtextil, ter apresentado a marca Cotton Care, especializada no setor wellness, a Moretextile lança agora a sua loja online. “A Cotton Care é uma das recentes apostas da Moretextile. A marca foi lançada com uma linha de produtos ligados ao bem-estar e à saúde, dois valores que se têm afirmado junto dos consumidores”, disse Artur Soutinho, CEO do grupo. No catálogo encontram-se têxteis de cama com tecnologias de termorregulação – que refrescam apenas quando o corpo está quente – com propriedades anti-bacterianas, anti-odor ou de rejuvenescimento da pele. Há até um artigo com canabidiol, que combate as noites de insónia.

O mito da sereia recriado pela ERT Não há dúvidas que a sustentabilidade se tornou num mantra da indústria têxtil portuguesa, e nesta luta há uma frente incontornável: o combate ao desperdício. No projecto Texboost, a ERT interiorizou este objetivo, procurando uma nova vida para as sobras de couro e EVA das suas linhas de produção. Em parceria com os centros de investigação, a empresa está a finalizar agora um novo revestimento têxtil, que é sugestivamente apresentado num “Vestido de Sereia”. O produto é o resultado de três anos de trabalho, que agora entram na sua reta final. O Texboost – um projecto mobilizador que reúne dezenas de empresas de toda a fileira têxtil – foi lançado em 2017 e assumiu a Economia Circular como uma das suas linhas mestras. A ERT percebeu que era hora de olhar para os desperdícios da sua produção. “Desafiámos os investigadores a encontrar soluções para aquilo que são os resíduos que produzimos nas nossas unidades industriais: uma de corte de couro para revestimentos de interiores automóveis, e outra de solas para pantufas, que cria muito desperdício num material sintético que é o EVA [espuma de acetato-vinilo de etileno]”, explica Fernando Merino, director de inovação da empresa. Os investigadores responderam com a criação de um novo revestimento têxtil, que poderá ser aplicado noutros artigos têxteis. “Consiste num processo que extrai e reaproveita uma parte da proteína do couro, o colagénio, transformando-o de resíduo sólido para um estado liquido, que permite depois a sua aplicação nou-

tros produtos têxteis”, resume Joaquim Gaião, responsável de inovação e desenvolvimento do CTIC - Centro Tecnológico das Industrias do Couro. O extrato de couro é depois conjugado com a EVA, que lhe acrescenta novas propriedades, sobretudo em termos de toque. Apesar de ainda estar em desenvolvimento – o próprio Texboost foi prolongado até ao final de 2020 – o novo artigo foi apresentado em fevereiro, no MODtissimo, aplicado num vestido intitulado Mermaid. “A designer criou um vestido com fórmulas complexas para atrair as atenções e surgiu este modelo semelhante a uma sereia”, comenta Fernando Merino. Mas tal como na mitologia, o feitiço da sereia poderá ganhar muitas formas: “O vestido é uma peça de demonstração, mas haverá outros produtos, como peças de mobiliário, peças de automóveis, ou o revestimento de paredes”, acrescenta. Para já, a performance do produto está a ser testada no CITEVE, que vai apurar atributos como a solidez à luz ou à frição. “Notamos algumas semelhanças ao próprio couro, mas o processo ainda está em desenvolvimento”, alerta Joaquim Gaião. Do lado da ERT, o objetivo é afirmar esta solução sustentável como uma aposta de futuro. “Já temos parceiros no setor automóvel interessados neste tipo de acabamentos com resíduos de couro. E vamos criar um showroom onde serão apresentados todos os produtos : os interiores, o mobiliário e todas as peças de vestuário com esta nova solução”, avança Fernando Merino. t

"O material de proteção podia ser uma aposta da têxtil nacional, depende das opções de futuro das instâncias nacionais" Andreas Falley Administrador da Temasa - Têxtil do Marco

OS 50 PADRÕES DAS HAPPÖ, AS MÁSCARAS DA CRIVEDI

Habituada a trabalhar para a indústria da moda, a Crivedi depressa aplicou o seu sentido estético ao mercado das máscaras, criando modelos com cor, alegria e focados na moda. Está a produzir 12 mil máscaras por dia e lançou a marca Happö, com uma loja online própria, onde estão disponíveis mais de 50 padrões, para homem, mulher e criança. Está também a fabricar em private label e a exportar para Alemanha e Espanha, com a Bélgica como próximo passo. “Quisemos desconstruir aquela imagem da máscara cirúrgica e descartável. No fundo, é um acessório de moda”, resume António Archer, general manager da Crivedi.


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UE QUER INVESTIR 10 MIL MILHÕES EM PROJETOS DE CIRCULARIDADE O plano ‘verde’ de recuperação pós-pandemia patrocinado pela Comissão Europeia prevê a criação de vinte novos empregos por cada mil toneladas de material têxtil que seja enviado para reciclagem. O programa reserva até 10 mil milhões para avançar na circularidade na indústria e aponta para a criação de 120 mil novos postos de trabalho no setor têxtil. A sustentabilidade é por isso observada como o principal mecanismo de recuperação na fase pós-Covid-19, tese que é repetida pela Comissão Europeia para outros setores, alinhando a recuperação comum com os objetivos do Green Deal“.

"Somos uma referência mundial nos tecidos premium para calções de banho"

GOVERNO QUIS CONHECER A MÁSCARA DA ELASTONI

Três governantes de uma só vez. Os secretários da Estado da Saúde, António Sales, da Economia, João Neves, e da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, estiveram na Elastoni Confecções para conhecer a sua inovadora mascara transparente. Desenvolvida com o apoio do CITEVE, permite fácil leitura labial e responde às necessidades da população com dificuldade auditiva, intérpretes de língua gestual e terapeutas da fala, tendo os governantes destacado o carácter singular deste desenvolvimento. t

FASHION FILM FACTORY: DESAFIO MAIS QUE SUPERADO A última temporada do FFF – Fashion Film Factory, emitida de 21 de Março a 6 de Junho na TVI24, superou todos os desafios impostos pelo confinamento. Para além da Farol de Ideias, produtora desta magazine da moda e da indústria têxtil nacional, também a TVI24 se mostra orgulhosa com o produto final. A sexta temporada do Fashion Film Factory que, como é habitual, levou à transmissão da TVI24 12 episódios dedicados à moda e à indústria têxtil nacionais, foi “atípica e cheia de novos desafios”. Quem o diz é Sílvia Camarinha, jornalista e produtora de conteúdos, que à custa da pandemia tiveram de ser revistos “com muita criatividade e pertinência”. “Iniciámos o ano com um planeamento bem definido, estivemos em duas feiras internacionais com a comitiva portuguesa [Heimtextil e Première Vision] e com o evoluir do número de casos de Covid-19 em Portugal e no mundo percebemos que teríamos de reinventar o nosso plano inicial”, conta Sílvia Camarinha.

Mas o que poderia ser um entrave à qualidade do produto final desta 6ª temporada FFF rapidamente se tornou numa boa oportunidade para dar uma nova roupagem ao magazine. “Correu tudo muito bem face às contingências. Percebemos que precisávamos de criar novos conteúdos com maior preocupação com a atualidade”, revela a jornalista, explicando também que os 12 episódios desta temporada incluíram muito mais conteúdos internacionais do que aconteceu em edições anteriores. Uma das grandes novidades foi mesmo a rubrica “Têxtil em 60 segundos” que, com apoio de notícias veiculadas em jornais como o T, “imprimia um pouco da necessária atualidade ao FFF”. “Estamos orgulhosos do trabalho que conseguimos fazer”, resume Sílvia, enquanto nos revela que também a direção da TVI se mostrou muito satisfeita com a capacidade de adaptação e reinvenção da Farol de Ideias, que assegurou toda a qualidade do programa. t

Armindo Araújo Administrador da Lemar

MÁSCARAS DA CONCRETO DÃO VIDA A TECIDOS EXCEDENTES A Concreto, a marca de vestuário do universo Valerius, lançou uma coleção de máscaras sociais que para além de serem um produto novo e atualmente obrigatório, é também sustentável, pois serviu para escoar os tecidos excedentes. “Desenvolvemos os nossos próprios estampados e tínhamos em armazém bastante tecido que normalmente é utilizado para fazer reposição de mercadoria. Como isso não vai acontecer, surgiu a ideia de fazer as máscaras, que como são feitas nos mesmos tecidos, dão para coordenar com as peças da coleção de verão”, explicou Teresa Marques Pereira, a CEO da Concreto.

28,7%

foi quanto aumentaram em março as exportações de Portugal para a China face ao mês anterior

MODATEX E TWINTEX FAZEM SORRIR AS CRIANÇAS

FARFETCH CRIA ROBÔ QUE SIMULA ONLINE EXPERIÊNCIA DE LOJA A Farfetch – em parceria com a Universidade Nova de Lisboa e o Instituto Superior Técnico – está a criar uma nova geração de agentes de conversação online, chatbots inteligentes que podem ajudar os clientes a acederem a informação de forma mais natural e ajudá-los a tomarem decisões de compra.

“A área dos chatbots multimodais tem ainda muito por explorar e acredito que este é um projeto com um potencial enorme. O iFetch pode trazer inovações significativas para as compras online num futuro muito próximo, permitindo aos utilizadores o acesso a informação de uma forma mais natural, e ajudando-os a tomar

melhores decisões de compra”, explica Luís Carvalho, VP Architecture da Farfetch. Usando tecnologia com inteligência artificial de conversação multimodal, a Farfetch conta com uma equipa multidisciplinar envolvida no projeto. O prazo de conclusão do iFetch tem uma previsão de três anos. t

“Faz Sorrir uma Criança”, é assim o nome do projeto solidário que uniu o MODATEX e a Twintex na confeção de peças de roupa, com o objetivo de apoiar as crianças do Centro Social Jesus Maria José. Foram os formandos da ação de Confeção Industrial, que está a decorrer nas instalações da Twintex, a fazer os vestidos, jardineiras, calções e capotes para as crianças entregues ao cuidado da instituição, sob a orientação da respetiva formadora da área da costura e com recurso a materiais cedidos pela empresa, que emprega mais de 400 pessoas.


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M EMERGENTE Por: Mariana d'Orey

Inês Camaño Garcia Fundadora e designer da Möm(e) Família Vive com os três filhos Dinis, Sebastião e Madalena (11, 8 e 3 anos, respetivamente) Formação Mestre em Marketing & Estratégia pela Universidade da Beira Interior Casa Apartamento em Vila Nova de Gaia Carro Volvo V50 Portátil Packard Bell Telemóvel iPhone X Hobbies Desde que é mãe, o tempo livre é passado em família, mas guarda a paixão pela leitura e escrita Férias Com a família espalhada pelo mundo, aproveita para todos os anos fazer férias em casa dos familiares. Tunísia foi um dos últimos destinos Regra de Ouro “Para fazer, dá o melhor de ti”

FOTO: RUI APOLINÁRIO

Inês acredita que o amor se vê nos detalhes É a mais velha de cinco irmãos e, talvez por isso, Inês Camaño Garcia veio ao mundo com uma apurada veia maternal. É com um tom de voz quente e aconchegante, tal e qual o colo de uma mãe, que recorda a sua infância e a forma como sempre gostou de cuidar dos mais novos. “Para além de adorar tratar dos meus irmãos, lembro-me que também brincava muito com os filhos dos amigos dos meus pais. Sempre fui muito maternal, protetora e responsável”, conta a jovem empresária. Na infância, grande parte vivida em Bruxelas, Inês sonhava ser “educadora de infância ou pediatra”, sendo que foi este último desejo que a encaminhou para a área de científico-natural poucos anos depois de ter regressado a Portugal. “Detestei a área científica, não tinha nada a ver comigo... por isso decidi mudar para artes porque já na altura adorava moda”, conta Inês. E ainda bem que o fez. Do ensino secundário em Santarém, Inês mudou-se para a Covilhã onde ingressou na licenciatura em Design de Moda na Universidade da Beira Interior (UBI) e conheceu Óscar, pai dos seus três filhos. Foi aliás com ele que partilhou as primeiras ideias daquela que é hoje a Möm(e), uma marca de moda infantil sustentável. “Fiz Erasmus em Bilbau e já na altura tinha a ideia de criar algo que envolvesse crianças e sustentabilidade”, recorda Inês que, entretanto, fez também uma pós-graduação em Barcelona, um mestrado em Marketing & Estratégia na UBI e está neste momento a iniciar o processo de doutoramento. A par da formação académica, a jovem empresária investiu também na vertente empresarial tendo colaborado com várias empresas nacionais têxteis, desde o setor dos lanifícios até à confeção de senhora. Perfecionista por natureza, Inês não deixou nunca que nada na sua vida ficasse para trás. O sangue maternal corre-lhe nas veias tal como quando era criança e por isso aos 35 anos realizou já o seu maior sonho: ser mãe de três crianças. “A vida foi correndo, ser mãe e trabalhar enchia-me os dias mas a verdade é que a vontade de criar uma marca minha nunca esmoreceu. Quando nasceu o meu primeiro filho, o Dinis, reforcei a ideia de criar uma marca de criança sustentável. Entretanto veio o Sebastião, depois a Madalena, agora com três anos... foi mais ou menos quando a minha filha nasceu que eu decidi que era a altura de avançar”, revela. E avançou. Depois de mais de doze anos, o sonho tornou-se realidade. “Acredito que o amor se vê nos detalhes, e a Möm(e) é a prova disso: peças feitas à mão por artesãs portuguesas com recurso a desperdício têxtil, peças de design intemporal que cruzem gerações e contem uma história”. E por falar em histórias, o nome da marca de Inês vale bem um “era uma vez” com direito a olhares curiosos já que, explica a empresária, é resultado da conjugação dos termos francês môme (gaiato) e inglês mom (mãe). “Esta marca é a personificação do amor à família mas, tal como uma família real, a marca ainda hoje se continua a encontrar. Sabemos bem qual a nossa missão, mas não temos, nem queremos ter, o caminho todo delineado”. O caminho da Möm(e) é ainda curto mas já cheio de aventuras: a marca de estilo nórdico tem cerca de dois anos de vida, mas já se internacionalizou via online um pouco por todo o mundo, estando presente em lojas físicas em Nova Iorque, Inglaterra e França. t


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a MUNDO VERDE

de poupança de água é quanto a Washed Colors consegue com o processo de tingimento Wetamarble

"Um quilo de algodão gasta o equivalente em água a 10 toneladas de poliéster" Carlos Oliveira Diretor-geral da Trevira Portugal

OS SACOS DA RE.STORE JÁ TÊM UMA LOJA ONLINE

Amélia Rute Santos Professora do departamento de Química da Universidade da Beira Interior

A SUSTENTABILIDADE GLOBAL E A IMPORTAÇÃO Continuamos a analisar a última avaliação da ONU do desempenho dos países no cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Dois dos problemas que este relatório apontou para Portugal dizem respeito à Produção e Consumo Sustentáveis, e à Ação Climática. Estes dois ODS estão muito relacionados, uma vez que a Ação Climática é avaliada pela emissão de CO2 na atmosfera, não só devido à produção mas também ao consumo de bens. Há uns tempos atrás, uns alunos meus fizeram um trabalho para identificação dos elementos químicos em pós. Houve um grupo que trouxe uma amostra de areias de um rio onde “se dizia” que os romanos teriam feito extração de ouro. Um outro trouxe um pedaço de terra de um jardim público para ver se existia arsénico na água de rega, notícia de jornal que tinha dado muito que falar. Outras alunas trouxeram um prato antigo da Fábrica de Loiças de Sacavém para analisar a composição do vidrado. Achei esta ideia óptima para começar a falar aos estudantes dos corantes e pigmentos que se utilizavam, com grande teor em metais pesados como crómio, chumbo, mercúrio, etc.. Iria aproveitar para falar dos efeitos nocivos destes metais, e apresentar o regulamento REACH, relativo aos produtos químicos na zona europeia. Por fim, iria falar das novas práticas de vidrado, apresentando a estrutura química de alguns corantes e pigmentos utilizados na indústria de loiças atualmente. A aula já estava esquematizada. As alunas retiraram algum vidrado das loiças, moeram-no muito bem e analisou-se uma pequena porção do pó obtido. Fiquei entusiasmada com os resultados: o vidrado tinha na sua composição quantidades muito significaticas de chumbo e cádmio, o que me dava a possibilidade de começar a falar de metais pesados empregues na decoração de loiças que já não se podem usar por estarem proibidos ou com elevadas restrições de utilização. Comecei por falar da Restrição REACH, que “afeta o fabrico, comercialização e/ou uso de substâncias, preparações ou artigos perigosos que supõem um risco inaceitável para a Comunidade Europeia” (Anexo XVII do REACH) e acabei por falar de alternativas em estudo pela Química Verde a alguns corantes e pigmentos cerâmicos. A aula correu muito bem até à altura em que as alunas confessaram, a mim e aos colegas, que não tinham utilizado loiça antiga, mas sim um prato de “cavalinhos de Sacavém” comprado no mesmo dia. Afinal, tratava-se de uma imitação “made in China”. Os valores de metais pesados eram tão altos, que as alunas se sentiram na obrigação de partilhar a verdadeira origem da loiça analisada. Fiquei sem palavras e não soube justificar aos alunos o facto real que se verifica em Portugal e na Europa: estamos a proteger os nossos trabalhadores e o nosso ambiente impedindo métodos produtivos com compostos nocivos dentro das nossas fronteiras, fechando os olhos ao que se passa lá fora. Não é assim que a sustentabilidade global se alcança. Não duvido que, em produtos têxteis importados da Ásia, aconteça exactamente a mesma coisa. O que podemos fazer para que a Europa e Portugal exijam dos produtos importados a qualidade que impõem aos produtos europeus? O que fazer para que os órgãos decisores europeus sintam o mesmo constrangimento que as minhas alunas sentiram? t

Recém-chegados ao mercado, os produtos re.store® estão para venda na loja online da Creative Zone, a empresa que fundou a marca. São sacos de tecidos reutilizáveis feitos com desperdícios têxteis por grupos de pessoas com necessidades sociais. As premissas da Economia Circular – RE.ciclar, RE.utilizar, RE.duzir – estão na base da criação dos sacos, que levam alças em algodão orgânico e uma etiqueta tecida em jacquard com fios de poliéster reciclado.

AS JEANS DA CORTEFIEL SÃO AMIGAS DO AMBIENTE Chamam-se Responsabile Wash e são as novas jeans da Cortefiel, desenvolvidas através de processos que combatem o desperdício de água na indústria têxtil e da moda. Estas são as it jeans da nova coleção da marca, onde predominam as peças feitas a partir de materiais e processos sustentáveis. Foi através de um grande trabalho de inovação que a Cortefiel diz ter conseguido minimizar o consumo de água até 72% face aos processos convencionais nas novas jeans Responsabile Wash, onde foram também utilizados menos químicos nas lavagens.

"A fibra EcoVero simplesmente explodiu em Portugal. Já nenhuma fiação aceita viscose" Isabel Marcos Diretora-geral da Dtexcom

DEEPLY LANÇA CALÇÕES FEITOS COM PLÁSTICO RECICLADO A Deeply, a marca portuguesa dedicada ao surf, assinalou o dia dos oceanos com o lançamento dos calções de praia Volley, produzidos com recurso ao fio SEAQUAL®, feito a 100% com plásticos recolhidos do mar. Produzidos em Portugal, cada par de calções equivale a 10 garrafas de plástico retiradas do mar, uma opção sustentável que não descura o conforto: o resultado final é um tecido com um toque semelhante ao de pele de pêssego.


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B SERVIÇOS ESPECIALIZADOS Por: António Moreira Gonçalves

Minty Lab

Praça Coronel Pacheco, 2º Andar - Sala MI13 4050-453 Porto

O que faz? Produz plataformas digitais para marcas de moda e produtores industriais Áreas Web design, programação, consultadoria digital, implementação e gestão de plataformas Fundação 2015 Equipa 30 colaboradores Escritórios Porto

JOSÉ ARMINDO FERRAZ: “PORTUGAL E A UE TÊM DE APOIAR A SUA INDÚSTRIA” Focada desde o início da pandemia na produção de batas, mais de 90% para exportação, a Inarbel vê agora a área da saúde como um negócio de futuro e avançou até para a autonomização de uma unidade interna, com nova maquinaria. Uma alternativa que a empresa seguiu quando se confrontou com a redução de encomendas no seu core business, o vestuário infantil. José Armindo Ferraz, CEO do grupo, alerta no entanto que “Portugal e a União Europeia têm de apoiar a sua indústria”. Vejo isto como um negócio de futuro, temos conhecimento, temos qualidade, temos certificação, poderemos continuar neste mercado. Esperemos que a Europa privilegie a sua indústria e se torne menos dependente da Ásia”, avisa.

"A prioridade é consolidar mercados, conquistar alguns clientes novos e continuar a inventar" Paulo Coelho Lima Administrador da Lameirinho

WESTMISTER AGORA LEVA-LHE AS MEIAS A CASA

O trabalho deles é levar as empresas para o online Ana Cravo e João Figueiredo são os fundadores da Mintysquare, um marketplace dedicado à moda nacional, que nos últimos cinco anos ajudou mais de 150 marcas e designers a transitarem para o digital. Agora, através da Minty Lab, estendem essa experiência às indústrias tradicionais, criando plataformas personalizadas para empresas de setores como o têxtil. Uma ferramenta que se propõe a levar os produtores nacionais a mercados externos e que, por isso, integra o novo catálogo de marketplaces do projecto From Portugal. A iniciativa surgiu nas primeiras semanas da pandemia. Com a interrupção das viagens internacionais, muitas empresas perceberam que precisam de novos meios de comunicação e a caixa de contactos na Mintysquare ficou congestionada. “Apercebemo-nos de que existia um novo padrão. A indústria agora não pode ir a feiras e precisa de novos canais de comunicação”, lembra João Figueiredo. Para dar resposta aos pedidos, os fundadores da Mintysquare criaram um serviço especializado, o Minty Lab, que procura dar uma resposta passo-a-passo à realidade de cada produtor. “Fazemos um raio-x à empresa, tentamos perceber quais as necessidades, o que faz e, sobretudo, o que a distingue. Vemos se já existe uma marca e um logótipo, por exemplo, e depois criamos uma página consoante a atividade e os objetivos da empresa”, explica Ana Cravo. As soluções que apresentam vão do website corporativo ao catálogo de produto, passando por plataformas de contacto com os visitantes, como formulários ou sistemas de chat. “É necessário criar as melhores ferramentas para contactar os clientes já existentes, mas também os que possam vir

ao encontro da empresa”, acrescenta João Figueiredo. Um trabalho que vai para além da implementação e que continua depois da plataforma estar online. “Depois aplicamos uma estratégia de conversão. Para atrair clientes hoje em dia é necessário ter uma boa performance de marketing, desde Google adds, a redes sociais, tudo. E é importante saber monitorizar os dados, perceber quais as estratégias que se revelam mais eficientes”, explica o co-fundador da empresa, levantando o véu daquilo a que chama “um universo de possibilidades”. O objetivo é transitar para o digital, algo que tem sido adiado por muitas empresas, mas que agora se tornou inevitável. Já há cinco anos, com as marcas de moda, se tinham confrontado com a mesma realidade. “Muitos criadores e designers tinham uma presença online frágil. Apercebíamo-nos que os sites iam abaixo durante os desfiles, porque naquele momento tinham mais procura”, recorda João Figueiredo. Com a Mintysquare criaram um ponto de convergência para a moda nacional e foram também apoiando plataformas autónomas de marcas como a No Brand, a Rufel ou a Ambitious. Agora o objetivo passa por subir na cadeia de produção e levar também os produtores industriais para o online. Um processo que, num momento em que o tráfego aéreo continua limitado, se torna especialmente interessante para chegar a compradores internacionais. Por isso mesmo, o Minty Lab foi integrado no catálogo de marketplaces da plataforma From Portugal, estando a adesão de marcas e empresas portuguesas a ser apoiada pelo projecto de promoção internacional, tal como acontece com as feiras tradicionais. t

A marca portuguesa de meias de luxo WestMister lançou um novo programa de subscrição que entrega mensalmente pares de meias diferentes diretamente a casa dos assinantes. O programa chama-se Club WestMister e têm três planos de subscrição: de três, seis ou doze meses. Após escolher a subscrição, a WestMister escolhe as melhores opções de meias, pensadas especificamente para o cliente em questão, e envia dois pares por mês diretamente para a morada do assinante.

1500

pares de calças por dia é a capacidade diária de produção da AfroPants, a fábrica em Cabo Verde do grupo CBI

MICAELA CRIOU UM MIMINHO PARA AS SUAS EMBAIXADORAS

Micaela Oliveira começou por confecionar máscaras como um gesto de carinho para as muitas figuras públicas que vestem as suas criações. Cristina Ferreira, Bárbara Bandeira e Sónia Araújo foram algumas das contempladas, mas com o número de pedidos a crescer, o seu atelier criou também uma linha disponível ao público. Para a designer não restam dúvidas, a máscara é já um “acessório de moda imprescindível para todos, onde o charme, elegância, conforto e diferenciação serão cada vez mais assumidas”.


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OPINIÃO A COVID E A REINDUSTRIALIZAÇÃO Mário Jorge Machado Presidente da ATP

PÓS CRISE PANDÉMICA E SUSTENTABILIDADE Isabel Furtado Vice-presidente da ATP

O mundo vai ficar diferente após esta pandemia. Existem sinais claros que os nossos comportamentos sociais e económicos sofreram alterações significativas e muitas delas permanecerão no tempo. Historicamente, eventos desta magnitude têm mostrado que são aceleradores de tendências de mudança que estavam em movimento, evidenciando as dificuldades nos modelos de negócio que já estavam em declínio, criando e amplificando oportunidades. Termos sido forçados ao confinamento impulsionou o hábito de compras online. A reindustrialização terá uma nova oportunidade com a alteração do nosso comportamento para vivermos num mundo mais digital. O consumidor poderá com facilidade ver a “história” e a ética de fabrico do produto, conhecendo os designers e tecnólogos envolvidos, bem como as boas práticas am-

Estando o mundo a viver uma crise sem precedentes, ainda é muito cedo para se tirarem conclusões sobre o impacto real da Covid-19. Uma certeza podemos ter após a crise pandémica, iremos mergulhar numa crise económica e social profunda, global e de consequências devastadoras. E ou nos reorganizamos e definimos estratégias de longo prazo, ou vamos ser apanhados desprevenidos, e mais uma vez reagir em vez de antecipar. O tema da sustentabilidade é sempre uma questão fundamental que tão depressa se deseja como de seguida se menospreza... Ainda não podemos concluir se os investimentos em sustentabilidade continuarão a ser prioritários no pós Covid-19. Sabemos que uma recuperação lenta arrasta consigo uma recessão profunda e duradoura, e se assim for, é provável que a agenda para o desenvolvimento sustentável passe para segundo plano nas prioridades das empresas e dos consumidores. No entanto, está demonstrado que as alterações climáticas aumentam a probabilidade de pandemias e consequentemente a destabilização da economia. Nesse sentido, é essencial que a recuperação tenha em consideração a importância desta temática e a trate estrategicamente, de forma coordenada, e não apenas baseada nos impulsos de alguns. Mas como em tudo, é importante

bientais e sociais utilizadas, desde a conceção à produção. Conjugando esta comunicação de como é fabricado com a capacidade de costumizar, graças à automatização dos processos produtivos, poderemos ter um artigo personalizado feito em proximidade e de forma sustentável. Se juntarmos a estes processos as novas potencialidades da inteligência artificial, poderemos vir a criar sugestões que guiarão os consumidores na cocriação, garantido que os produtos vão de encontro ao seu gosto pessoal e feitos à sua medida. Para estas novas oportunidades, a indústria e o comércio terão de estar em simbiose. A produção terá um desafio enorme de se industrializar e reinventar para responder a este novo modelo de consumidor que costumiza e quer receber o produto em sua casa no dia seguinte. t

olhar para além do momento, e aproveitar este para uma reavaliação e desafio na transição da indústria e da economia. Se nos concentrarmos no que se pode tirar de positivo desta pandemia, estamos perante algumas oportunidades que merecem a nossa melhor atenção. A oportunidade de orientar a economia para um modelo de produção e consumo sustentável, mais responsável e com menores riscos ambientais e geopolíticos. Estamos perante a oportunidade das empresas diminuírem o risco das suas cadeias de abastecimento e ao mesmo tempo desenvolverem relações de negócio localmente. A possibilidade de potenciar atitudes ambientais, como a pegada ecológica, a circularidade, a utilização responsável e a preocupação com o fim de vida dos produtos. Estamos perante a possibilidade de relocalizar cadeias de valor com o objetivo de desenvolver o nosso tecido económico. E não menos importante, estamos perante a possibilidade de avaliar o sucesso e a real atuação sustentável que muitas empresas e marcas arrogavam. Portugal deve utilizar este momento para rever e definir a necessidade de apostar em áreas prioritárias para a indústria nacional e de repensar a sustentabilidade no seu todo – social, económica e ambiental. E desta forma definir uma estratégia de reindustrialização, com principal foco

onde se revelou mais importante manter alguma soberania. Cada vez faz menos sentido legislar com grandes exigências em termos ambientais, obrigando a uma escolha criteriosa de matérias primas que cumpram com normativos CE, para depois assistir a uma massiva importação isenta das mesmas exigências (e com preços esmagadores), colocando a indústria europeia sempre em desvantagem. É um problema já recorrente e cada vez mais pertinente numa economia global. É fundamental informar e orientar os consumidores para a escolha de produtos com melhor desempenho ambiental e social – movimento que antes desta crise estava a crescer – de forma a que o consumidor opte por uma via mais consciente na sua compra. Doutra forma, o consumidor final irá sempre optar pelo produto de menor custo sem ter questionado em que condições foi fabricado. É necessário abandonar este modelo que assenta na escolha de produtos de baixo custo de compra mas com alto custo ambiental e social. Sem instintos protecionistas, mas também sem ingenuidades despropositadas, o impacto da presente crise deverá mudar a nossa perspetiva em favor do fortalecimento e preferência de ativos locais, especialmente aqueles que se prendem com a nossa segurança e bem-estar. t


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Paulo Vaz Ex-editor do T e Diretor da Áreas de Negócio da AEP

João Pedro Matos Revisor Oficial de Contas da Matos, Soares & Vaz

O FUTURO DA ITV PORTUGUESA

BENEFÍCIOS FISCAIS NO IRC

A indústria da moda, que conhecíamos, já estava em crise antes da pandemia da Covid-19, mas esta acelerou exponencialmente o processo de transição em curso. O problema é saber para onde nos está a conduzir esta transformação. Não sei e desconfio que ninguém sabe. Os modelos de negócio de fast fashion ou low cost fashion encontravam-se já ameaçados pelas novas tendências do momento, nomeadamente a da sustentabilidade, que compreendia temas como a proteção ambiental e a responsabilidade social, algo difícil de compaginar com a produção massiva de produtos baratos em países onde este paradigma não é sequer considerado. A pandemia do coronavírus obrigou a enfrentar a crueza dos factos e a redefinir políticas, especialmente na Europa. De repente, face ao surto inesperado e de rápida propagação da doença, os países, mesmo os mais desenvolvidos, acharam-se sem qualquer reserva estratégica de equipamentos de proteção individual, em artefactos tão simples como máscaras ou batas cirúrgicas, já para não mencionar ventiladores ou álcool gel para desinfeção. A dependência do Oriente, principalmente da China, nestes artigos era quase total e rapidamente se percebeu que perigosa e intolerável, porque custou vidas. Muitas vidas. Os programas de recuperação da economia e o quadro plurianual que a União Europeia irá aplicar em breve contêm claramente a opção pela reconstrução das cadeias produtivas de proximidade em áreas estratégicas, em que a saúde, a proteção e o agroalimentar obviamente se destacam, sempre sob o pano de fundo do green deal e da economia digital. Isto vai trazer oportunidades interessantes para países como Portugal, que possui uma base industrial desenvolvida e com potencial para crescer. Resta esperar que sejam essas também as escolhas políticas do governo nacional. Regressando à indústria têxtil e de vestuário portuguesa, já no passado tinha antecipado a inevitabilidade de uma profunda reestruturação, maior ainda do que realizou na primeira década deste século, que agora se acha reforçada pelas circunstâncias. Muitas empresas irão desaparecer e muitos empregos serão eliminados, caso as empresas não realizem mudanças drásticas na sua estratégia e na sua gestão. Fazer mais do mesmo e esperar que após a crise regressemos a 2019, como se nada se tivesse passado e sem disso recolher qualquer ensinamento, é a fórmula certa para o desastre. Nunca como agora se vai exigir resiliência, capacidade de inovar e de diversificar, de incorporar valor pela diferenciação tecnológica e criativa, ousadia a abordar os mercados internacionais e com maior sentido de risco. Contudo, “a pedra de toque” será indiscutivelmente a capacidade de cooperar, de ganhar escala, através de fusões, aquisições ou acordos entre empresas. Ficar pequeno pode ser interessante numa lógica de flexibilidade de atelier, mas jamais permitirá ter músculo financeiro para comprar e vender melhor, ter capacidade de investimento e de presença internacional. A grande questão estará, como sempre disse, na escolha entre morrer sozinho ou crescer acompanhado. t

Estando a entrar na fase crítica de encerramento de contas (este ano prolongada com a crise sanitária da Covid-19), é oportuno relembrar de uma forma genérica e debruçar-nos sobre dois benefícios fiscais ao investimento produtivo. Estamos a falar dos benefícios fiscais de mais ampla e fácil utilização: RFAIRegime Fiscal de Apoio ao Investimento e o DLRR- Dedução Lucros Retidos e Reinvestidos. Ambos funcionam pela dedução direta à coleta do IRC a apurar num processo de auto-liquidação. Ou seja, é o próprio contribuinte a efetuar os cálculos e incorporando na declaração de IRC do exercício- modelo 22. Enquanto o primeiro incide sobre os investimentos elegíveis realizados no próprio exercício, o segundo é como que uma intenção/compromisso de realizar os investimentos projetados. Mas têm muitos pontos em comum, como será explicado à frente. Uma das grandes vantagens é que poderão ter efeitos cumulativos, isto é, serem aplicados os dois benefícios em simultâneo no mesmo ano. Debruçando primeiramente sobre o RFAI, poderá ser deduzido até 50% da coleta o montante de 25% dos investimentos realizados e considerados elegíveis. Em caso de insuficiência, esta dedução à coleta poderá estender-se por 10 anos. Uma das condições é só poderem aceder empresas com CAE da indústria (como as ligadas à industria têxtil-divisões 13 e 14 da CAE), turismo e de alguns setores de serviços. Outra das condições é a criação de pelo menos mais um posto de trabalho face ao ano anterior, que deverá ser mantido durante três anos se for uma PME (se não for PME deverá ser mantido durante cinco anos). Este horizonte temporal também se aplica à condição de não alienabilidade dos investimentos elegíveis. Relativamente ao DLRR poderá ser deduzido até 50% da coleta se for micro e pequena empresa (se for média só até 25% da coleta), comprometendo-se a empresa em efetuar o investimento nos três anos seguintes do valor desta parcela deduzida à coleta multiplicado por 10. A partir de 2020 este horizonte foi ampliado para quatro anos. O DLRR é extensível a qualquer setor de atividade e não pressupõe a criação de postos de trabalho. Não é aplicável a grandes empresas. A elegibilidade dos investimentos para estes dois benefícios é a recorrente nestes casos de benefícios fiscais e financeiros, não se enquadrando terrenos, viaturas ligeiras e equipamento administrativo, bem como bens em segunda mão. Condição importante e relevante também no âmbito dos incentivos do programa Portugal 2020 é o conceito que aqui se aplica de “Investimento Inicial”, em que as aplicações relevantes se devem enquadrar na “criação de um novo estabelecimento”, no “aumento de capacidade de um estabelecimento já existente”, “diversificação da produção” ou na “alteração fundamental do processo de produção”. Ou seja, não se aplicam a investimentos de substituição, mas aos que proporcionem ou se enquadrem num dos quatro conceitos referidos, sendo o segundo o mais justificável - “aumento da capacidade”. Por último, para aceder a estes benefícios as empresas terão que ter a situação fiscal e contributiva regularizada, bem como dispor de contabilidade organizada de acordo com os normativos legais e o lucro tributável não ser determinado por métodos indiretos. t


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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara

Está precisada, sem dúvida! E Katty Xiomara esmera-se no equipamento para que a Ministra da Saúde possa desfrutar de uns bons dias de areia nas virilhas. Mas sozinha! Sem Graça Freitas como dama de companhia, nem sombra de castigo depois do raspanete público que ouviu do chefe do Governo. A nossa Katty acarinha-a com um lindo fato de banho listado e abraça-a por uma fantástica boia em forma de unicórnio

Marta Temido merece uns dias de descanso à beira mar Antes que a oportunidade de retratar Marta Temido desapareça, decidi atacar de imediato. Além de ser uma das caras desta pandemia, não tem perdido a oportunidade de se “pôr a jeito” com inúmeros avanços e recuos de informações incertas. Mesmo assim, só agora é que a paciência do nosso primeiro-ministro parece ter ficado realmente esgotada. Costa escolheu desabafar em público, deixando fugir um raspanete de ataque direto à Ministra da Saúde. Mentira!.. Irrompeu Costa a meio do discurso de Temido, acontecimento sumarento para a imprensa e para uma fação do próprio partido. Claro que decidi aproveitar um pouquinho desse doce sumo de polémica, mas sentindo o apelo da solidariedade feminina, faço-o num gesto benevolente. Normalmente depois do puxão de orelhas vem o castigo, mas a saída de Temido não parece ser uma opção a curto prazo, depois da recente mudança de campeonato do nosso Ronaldo das Finanças, não se mostra sensato provocar um novo abanão no Governo. Por isso, Marta Temido não deverá ir para a cama sem sobremesa, nem ficar uma semana inteira sem ver Frozen… Antes sugiro uns merecidos dias de descanso à beira mar plantada, mas sozinha! Sem Graça Freitas como dama de companhia! - Ui! Não, não, não… já percebemos que seria um castigo muito pior. Contudo, decidi equipá-la de forma segura e de fácil avistamento. Assim mando a Martinha desfrutar de uns bons dias de areia nas virilhas, enfiada num lindo fato de banho listado e abraçada por uma fantástica boia em forma de unicórnio, com um corno colorido a preceito da época. Estabeleci um perímetro de segurança com uma grande e abrangente viseira aplicada na boia temática e um grande chapéu de ráfia para a proteger do nosso amigo sol. Por último, e mesmo sabendo o difícil que é fazer com que as crianças aguentem um acessório tão incómodo, não podia deixar de reforçar a importância do uso da máscara, finalmente reconhecida e recomendada. Assim, esperamos que a menina Marta Alexandra Fartura Braga Temido de Almeida Simões aprenda a lição e volte como nova para restabelecer o caos que tanto nos carateriza! t


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O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão

O Novo Casarão do Castelo Largo do Castelo 4450-631 Leça da Palmeira

UM NOVO CASARÃO Casarão? Parece tudo menos uma coisa nova. Os estimados leitores casarão ou não com esta minha ideia, mas acho que um casarão, sendo indubitavelmente uma casa grande, também cheira a casa antiga. Dos tempos dos nossos avós, ou até do tempo dos nossos pais, para aqueles que como eu já só têm avós... dos seus filhos! É por isso que falar de um novo Casarão parece uma contradição nos termos. Acontece que em Leça existe agora um restaurante que recomendo vivamente e se chama O Novo Casarão do Castelo. Para que os clientes possam distingui-lo do verdadeiro Casarão do Castelo que continua vivo e não quer que lhe chamem velho. O Novo tem algumas coisas iguais ao anterior (só para não lhe chamarmos velho) como os donos, a qualidade do serviço, a frescura dos produtos, a ementa variada, o estacionamento partilhado ou o cheiro a maresia na entrada. Mas também tem muitas coisas novas e era o que faltava que não tivesse. Uma decoração moderna, até com toques de design, não con-

A QUINTA DA TÊXTIL DE SERZEDELO

fundir com tiques de arquitetos. Salas reservadas de dimensões várias no primeiro andar, que sempre serviram para jantares mais reservados ou recatados e que hoje calham a matar para aqueles e aquelas que ainda sentem algum medo em almoçar ou jantar fora de casa por causa do bicho mau. Tudo sentado e tudo calmo, lugares escolhidos, máscaras guardadas e distâncias marcadas, podem começar a escolher o que pedir e ficam já a saber que, ao contrário do que podiam pensar, não entraram na parte mais fácil. Como a vossa incursão pela ementa, física ou do QR code, vai ser demorada e muito discutida, a melhor estratégia é aceitar de imediato o que o nos propõem para "picar". Refreado o ímpeto inicial da fome, que como sabem é o melhor tempero do mundo, já temos estômago para aventuras mais sofisticadas que neste Novo Casarão eu sugiro que andem mais pelas velhinhas receitas de peixe ou marisco. Em tempos de Covid já há invenções que cheguem! t

VINHA DOS INGLESES/ESPADEIRO A Textil de Serzedelo - Texser nasceu em Gondar, Pevidém, em 1932 e foi à beira das águas do rio Selho que medrou, antes de mudar a maquinaria, com a ajuda de carro de bois, para o local onde ainda labora, na terra que lhe deu o nome. Têxtil e agricultura foram e continuam a ser as duas bases em que assenta a vida da família Pimenta. José, avô de Carla (a terceira geração, atualmente no comando da empresa) e bisavô de José João (a quarta geração que já está nos negócios) vivia da terra antes de se meter na indústria e nos trapos. A família Pimenta ainda vive na Quinta do Cerdeiro, onde morava o fundador da Texser, e mantém-se fiel à raízes agrícolas, tendo até alargado a aposta no setor primário quando adquiriu a Quinta dos Ingleses e acrescentou o queijo ao negócio do vinho verde. É desta quinta, em Lousada, que vem o vinho verde Vinha dos Ingleses, da casta Espadeiro, de tom rosado, e que pela sua estrutura leve e aromática, paladar suave e fresco é especialmente recomendado para estes dias quentes de verão. O corpo pede, e se juntar uma brisa marinha, mariscos ou saladas frescas, então tudo se torna perfeito


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c MALMEQUER Por: Cláudia Azevedo Lopes

Teresa Marques Pereira, 39 anos, é a CEO da marca Concreto. Licenciada em Gestão de Marketing (IPAM), com percurso profissional dentro da têxtil, começou na Wedoble e passou pela Onara SA e Cheyenne até chegar à Valerius, onde foi sales & brand manager antes de assumir o posto de CEO da marca Concreto. Quando não está entre tachos e panelas – uma das suas grandes paixões é cozinhar – está a partilhar os frutos das suas aventuras culinárias com o marido Ricardo Maia (Engenheiro têxtil) e com o filho, João Maria, que tem 10 anos

SOUVENIR

UMA JALECA CHEIA DE BURACOS

Gosta

Não gosta

De Viver!! Persistência Perseverança Honestidade Segundas oportunidades Os olhos dele e dele (Marido e filho) A minha equipa de trabalho Trabalhar O meu FCP Jogar futebol Coçar as costas… mas a mim! Gargalhadas honestas Café Cozinhar Malagueta Especiarias Chocolate Jantaradas de amigos Escapadinhas românticas Sardenha Fazer as pessoas felizes Gente bem-educada Anéis Colares Brincos Sol Praia Ficar morena Dormir ao sol Fumar um cigarro depois de um mergulho A minha golden retriever Velocidade e adrenalina Conduzir Adormecer no sofá Um bom copo de vinho… ou dois! Castanhas assadas e vinho fino à lareira Tunas académicas Natal Música Fado Festival da Canção Elvis Presley Barry White Tatuagens Cantar Filmes de “chorar” Maquilhagem

Mentiras (não suporto mesmo) Timidez Viracasacas Gente falsa Ostentação Que alguém roa as unhas Vícios Acordar cedo Estradas nacionais Nortada na praia Água quente do mar Horas num cabeleireiro Insetos Répteis Trovoada Cabidela Açordas Lampreia Amigos ocasionais Cheiro a suor Reality shows Festivais de verão Filmes de cowboys ou do Stallone Livros digitais Da tarde Roxo e Lilás Alturas Espaços fechados Centros comerciais Supermercados grandes Cerveja Camisas de meia manga num homem Roupa justa ou transparente Crocs Jogos de computador Lugar do meio no avião Que alguém se atrase Que me “façam de burra” Que não gostem “dos meus”

Como todos, também os cozinheiros têm as suas peças ou objetos de perdição. A minha era uma jaleca que utilizei numa viagem a Inglaterra, mas que acabou cheia de buracos numa ida à lavandaria. Ainda a guardo e também não perdi a esperança de um dia a poder recuperar. Daí que nem se diga que a tive ou que ainda a tenho, já que meti na cabeça que a hei-de voltar a vestir. E o gosto por ela vem não só das memórias que evoca, como também da forma, cores e do jeito confortável como me assentava no corpo. Foi no último ano em que estive no Largo do Paço, o restaurante da Casa da Calçada, quando um grupo de chefes de restaurantes portugueses fomos convidados a ir a Inglaterra, numa iniciativa conjunta da TAP e do Turismo de Portugal. Estava também o José Avilez, o Dieter Koshcina, e lembro-me também do Miguel Gameiro, que também é cantor. Foram uns dias espectaculares, de camaradagem e sucesso, e fizeram para isso uma jaleca personalizada, em fundo branco e que conjugava o nome com as cores nacionais e os símbolos da TAP e do Turismo de Portugal. Além do mais, assentava-me muito bem e era muito confortável. Passei a usá-la todos os dias, até que numa ida à lavandaria veio cheia de buracos. Parecia roída pelos ratos, creio que por terem usado lixívia ou qualquer outro liquido corrosivo. Foi o bom e o bonito. Passei-me completamente e armei um pé-de-vento monumental. Daqueles mesmo a sério, as pessoas até ficaram assustadas. Mesmo assim sempre pequeno em relação ao desgosto que senti. E ainda sinto. É claro que tive que passar a usar outras, mas nunca encontrei uma de que gostasse tanto. Por isso ainda a tenho bem guardada. Porque me aviva sempre as boas memórias desses parceiros e desses dias de frio passados nos arredores de Londres e, quem sabe, talvez um dia arranje quem a consiga recuperar. t Vitor Matos Chefe do Restaurante Antiqvvm


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