MARCO COSTA
CFO & Business Development da Blackspider
“VAMOS DUPLICAR A NOSSA CAPACIDADE”
EMERGENTE
É NAS SUAS ORIGENS QUE BENEDITA ENCONTRA INSPIRAÇÃO P 31
N Ú M E RO 5 8 N OVE M B RO 2 02 0
P 20 A 22
DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS
FOTOSÍNTESE
A MINHA EMPRESA
MODTISSIMO ESPELHA A VITALIDADE DO TÊXTIL EM PORTUGAL
HERMÍNIO RODRIGUES SEGUE UM DESÍGNIO À FRENTE DO HR GROUP
P8E9
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DOIS CAFÉS E A CONTA
PAFIL É UMA CONFEÇÃO GUIADA COM ESPÍRITO DE ENGENHEIRO
FOTO: RUI APOLINÁRIO
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INOVAÇÃO
SIMPÓSIO TÊXTIL
SCOOP CRIA FATO INTELIGENTE QUE OFERECE PROTEÇÃO MULTIRRISCOS
ATP QUER DEBATER REFORÇO DA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE DA NOSSA ITV
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CORTE&COSTURA
EDITORIAL
Por: Júlio Magalhães
Por: Manuel Serrão
Helena Antónia Silva Fundadora e multi-tasker do projecto Vintage For a Cause, 51 anos, licenciada em Direito. Passou ainda pela advocacia, de onde fugiu depois de uma formação em empreendedorismo e inovação social, e como filha de uma costureira – “queria que fosse estilista” – logo fez agulha com o mundo da moda. Pratica kick-boxing como “uma espécie de balett com luvas” e gosta de estar sempre a estudar. A gata Siena é a sua companheira nos momentos de reflexão
À VONTADE MAS NÃO À VONTADINHA Tenho uma amiga que muito estimo e com quem gosto muito de brincar que sempre me diz “atenção que isto é à vontade, mas não é à vontadinha” quando acha que algum limite está perto de ser ultrapassado. Foi dela e deste dito que me lembrei quando resolvi escrever este texto sobre a forma como a nossa Indústria Têxtil e Vestuário está a lidar e a reagir a esta interminável crise pandémica. Já aqui foi dito que a reação da ITV foi rápida, resiliente e inovadora e os números das exportações têxteis do mês de agosto, com uma ligeira subida em relação a agosto de 2019, foram uma boa evidência disso. Parecia por isso que a ITV estava a ficar mais à vontade com o desenrolar da situação, conseguindo adaptar-se aos novos tempos e à nova procura. Com a chegada do Outono e o reacender da pandemia em toda a Europa percebeu-se que se podia estar à vontade... mas não à vontadinha. Não é de estranhar por isso que muitos empresários e especialmente os seus representantes associativos tenham já começado a fazer sentir aos governantes a forte necessidade de incluir o setor no grupo, cada vez maior, das empresas que têm de beneficiar das ajudas do Governo e da União Europeia. Na linha justa de que são as empresas que não tinham dificuldades antes do Covid que devem ser ajudadas com prioridade. t
Qual é a causa maior da Vintage For a Cause ? A causa da marca é reduzir o desperdício têxtil e promover o envelhecimento ativo e a ocupação das mulheres desempregadas acima dos 50 anos. O modelo de negócio de base colaborativa envolve designers e fábricas ou marcas que queiram ter uma solução para os seus excedentes. Acredita que vai dedicar-se um dia 100 % às vendas online? Este ano, de facto, houve um aumento significativo das vendas online. Mas para uma marca com peças únicas, que não está consolidada, é importante ter pontos físicos onde o produto possa ser visto e experimentado. Creio que vamos ter de ir gerindo uma estratégia híbrida. Para além da Neonyt por que outras feiras passa a sua aposta na internacionalização? A Neonyt é a feira que cobre um maior número de mercados e com maior recetividade ao upcycling e à inovação. À medida que outras feiras se direcionem de forma mais clara para este perfil de retalho, fará sentido abordar outros mercados, como Espanha ou UK. Como tem sido a experiência na Between Parallels e como
vê o futuro próximo dessa plataforma ? É um projeto embrionário que nasce de algumas colaborações informais entre marcas com o mesmo objectivo e que vai muito de encontro ao modelo de negócio colaborativo que nos caracteriza. Acredito que com a estratégia e parceiros adequados, vai ser uma alavanca muito importante para pequenas marcas do segmento da sustentabilidade. Portugal está a portar-se bem no combate ao desperdício? No "portar-se bem" podem ser incluídas muitas coisas. E não há um ponto de chegada a esse nível, é um caminho de melhoria contínua.... Portugal tem uma coisa extraordinária que é aliar tradição à inovação. Temos imensas empresas a dar cartas a nível internacional em economia circular, fibras ecológicas, tecidos inteligentes, produção certificada e um posicionamento de mercado reputado mundo fora. Como está a Vintage For a Cause a lidar com esta incerteza? Para uma start-up com a nossa natureza, os tempos de incerteza e dificuldade já existiam antes da pandemia. A pandemia obrigou uma otimização em todos os aspetos, o que trouxe um contexto de oportunidade. A dificuldade principal é a gestão deste paradoxo de desafio e oportunidade. t
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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Mário Jorge Machado Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/
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n PERGUNTA DO MÊS Texto: António Moreira Gonçalves Ilustração: Cristina Sampaio
APESAR DA PANDEMIA, QUE PREVISÕES PARA O FECHO DO ANO?
2020 contornou todas as previsões. A pandemia não deixou ninguém indiferente e os planos escritos em janeiro viram-se rasgados a partir de março. Agora, a dois meses do final do ano, o balanço das empresas está ainda recheado de incógnitas, pontuadas por uma sensação de esperança e o esforço em reequilibrar os números. A adaptação rápida e a aposta em novos produtos e estratégias comerciais lançaram as bases para um período de retoma progressiva. Tudo dependerá agora dos últimos meses, com o Natal no centro de todas as esperanças.
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“Perdemos cerca de 50% da produção de moda durante estes meses, mas ao mesmo tempo mantivemos o negócio dos têxteislar e crescemos muito nos tecidos técnicos”
“Acreditamos que o ano pode fechar em linha com o ano passado, depende de novembro e dezembro, que são meses essenciais para o comércio”
SUSANA SERRANO ADALBERTO
ANTONINO PINTO TRIMALHAS
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arece ter já passado uma eternidade, mas o ano de 2020 começou até com números positivos para as têxteis nacionais. Em janeiro, um crescimento homólogo de 3% nas exportações e uma queda nas importações de 6% permitiam levantar um olhar de esperança para mais um ano de crescimento na indústria têxtil e de vestuário portuguesa. No entanto, todas as previsões seriam abaladas pelo terramoto Covid-19, que em fevereiro já se fazia sentir e em março assolou todos os mercados europeus. “Enquanto houve confinamento não era possível ao mercado operar. Se as lojas estão fechadas, o público não compra e as marcas não fazem encomendas, afeta toda a cadeia de fornecimento”, lembra Antonino Pinto, administrador da Trimalhas, referindo-se aos meses que se seguiram, entre março e maio, em que toda a Europa adotou medidas de confinamento severo para travar a primeira onda da pandemia. Os apoios do Estado, como o lay-off simplificado, ajudaram a resistir ao primeiro impacto da pandemia, mas foi na adaptação a novos mercados, como a produção de equipamentos de proteção individual, que permitiram às empresas manterem o contacto com os clientes e iniciarem a retoma da atividade. No mês de agosto, as exportações têxteis regressaram ao saldo positivo, com um crescimento ténue (0,2%), mas um crescimento face a agosto de 2019. “A partir de um certo momento compensamos com a produção de máscaras. Era um produto novo, em que havia muita procura, e tal como várias empresas do setor apressamo-nos a apresentar pro-
dutos certificados de acordo com as exigências de saúde e segurança”, explica António Cunha, Sales Manager da Orfama. “No vestuário houve uma quebra substancial das encomendas. As máscaras permitiram-nos equilibrar um pouco as contas, mas ainda assim no final do ano esperamos uma descida entre 10 a 15%”, explica ainda. Da mesma forma acontece nos têxteis para o setor automóvel, como é o caso da Borgstena. “Contamos fechar este ano com uma quebra de vendas de cerca de 20% relativamente ao ano anterior, tendo os EPI’s atenuado a quebra em cerca de 3%”, antevê Joaquim Albuquerque, Business Development Manager da empresa de Mangualde. Entre os mais afetados pela pandemia contam-se setores como o vestuário de cerimónia ou as marcas de moda. “O negócio da Givec esta vocacionado para um tipo de cliente que foi muito afetado pela pandemia. É o retalho que não trabalha online e foi severamente punido com o período de confinamento”, afirma Cândido Correia, CEO da Givec. “2020 não vai ser necessariamente positivo, devendo o volume de negócios cair uns 15 a 20% face ao ano passado”, antecipa. Também a Adalberto Estampados sentiu uma quebra acentuada no setor moda. “Perdemos cerca de 50% da produção durante estes meses, mas ao mesmo tempo mantivemos o negócio dos têxteis-lar e crescemos muito nos tecidos técnicos”, adianta a CEO da empresa, Susana Serrano. “Fechámos o ano passado com um volume de negócios de 25 milhões de euros, e esperamos talvez atingir os 30 milhões no final de 2020”, revela. Para a marca Cristina Barros, da Blackspider, a expetativa é conseguir terminar
2020 em linha com o ano passado. “Sentimos alguma quebra, mas o final de 2020 será muito próximo a 2019”, antevê Marco Costa, diretor comercial e financeiro da empresa. “Para nós, o pior foi o cancelamento de muitas feiras profissionais onde abríamos novos mercados”, acrescenta. Perante o confinamento e a interrupção de qualquer viagem internacional, o grupo Somelos investiu na criação
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“Não será positivo, menos 15 a 20% face ao ano passado. O negócio da Givec esta vocacionado para um tipo de cliente que foi muito afetado pela pandemia”
“Sentimos alguma quebra mas o final de 2020 será muito próximo a 2019. O pior foi o cancelamento de muitas feiras onde abríamos novos mercados”
“Houve uma quebra substancial das encomendas. As máscaras equilibraram um pouco as contas, mas no final do ano esperamos uma descida entre 10 a 15%”
“Em tempos de incerteza, os clientes colocam menos encomendas e quantidades menores, mas a nossa estratégia já está orientada para isso e não para os grandes volumes”
CÂNDIDO CORREIA GIVEC
MARCO COSTA CRISTINA BARROS
ANTÓNIO CUNHA ORFAMA
PAULO MELO SOMELOS
de uma plataforma digital, a Somelos Digi, através da qual está a fazer apresentações individualizadas aos seus clientes. “Temos um portefólio com mais de dois mil clientes, neste momento o essencial é manter o contacto com todos, para que as encomendas no futuro surjam de vários mercados. Fomos os primeiros a nível mundial a apresentar uma colecção completa de camisaria homem, senhora e criança através de uma apli-
cação 100% digital”, explica Paulo Melo, administrador do grupo têxtil. No momento, todas as previsões ficam ainda em suspenso, pela sombra de um novo confinamento mais rigoroso durante o Natal, uma altura tão relevante para o retalho. “No nosso caso, acreditamos que o ano pode fechar em linha com o ano passado, com uma oscilação ligeira. Mas tudo vai depender de novembro e dezembro, que
0,2% FOI A PERCENTAGEM DE CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES NO MÊS DE AGOSTO
são meses essenciais para o comércio”, explica Antonino Pinto, da Trimalhas. Também António Cunha, da Orfama, deixa a mesma ressalva: “cada previsão que fazemos é dia-a-dia e tudo pode mudar. A época de Natal é crucial e estes dois meses vão definir o sentido dos mercados.” Para além de 2020, a esperança dos empresários portugueses é que a pandemia tenha sido uma chamada de atenção para a excessiva dependência da Europa em relação aos mercados asiáticos. “Já tivemos alguns clientes novos. No MODTISSIMO, por exemplo, surgiram compradores da Alemanha, Holanda e Finlândia, que compraram pela primeira vez. Imaginamos que seja porque as marcas produzidas na Ásia estão a interromper as produções”, afirma Marco Costa. “Nota-se que existe esse interesse, com alguns contactos, mas ainda não se materializa em encomendas. Neste contexto, os clientes estão apreensivos, porque partir para uma mudança exige tempo e risco”, acrescenta António Cunha. Antonino Pinto acredita em mudanças a curto-prazo, mas com pouco impacto em termos estruturais. “Talvez no momento se veja um benefício das empresas portuguesas, no espaço europeu somos o centro das produções. Mas depois vai predominar o critério do preço”, antevê. Paulo Melo vê a hipótese de algumas alterações nas cadeias de produção, mas de forma apenas parcelar: “As pessoas ficaram alerta para a dependência que existia e vão começar a colocar os ovos em vários cestos. Na Europa, em termos produtivos, o centro da indústria têxtil está em Portugal, temos de continuar a caminhar no sentido de nos afirmarmos no valor acrescentado e no saber-vender”, conclui. t
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A DOIS CAFÉS & A CONTA ME.AT
Av. 25 de Abril, N.º 22 4760, 4760-101 Vila Nova de Famalicão
Entradas Tacos de camarão, pão e manteiga Prato Cowboy steak maturado a 40 dias, acompanhado por batata frita, arroz de feijão preto e legumes Sobremesa Crème brulée Bebidas Douro Tinto (Curvas de Murça Reserva 2015) e café
JOÃO RUI PEREIRA
“Cresci entre os farrapos”, resume o engenheiro electrotécnico pela FEUP, que antes de assumir a gestão financeira, de sistemas e de recursos humanos da empresa criada pelos pais, foi durante 15 anos gestor de sistemas e redes ligado à construção e segurança no setor bancário. Uma experiência que aplicou nas novas instalações da Pafil Confecções, inauguradas este ano. “Na entrada temos uma porta sempre aberta, mas que dá apenas acesso a uma antecâmara que é controlada pela nossa equipa, tal como nos bancos”, exemplifica. Teve ainda um projet próprio na área da gestão de redes e sistemas, antes de há oito anos, a par dos irmãos Carla e Bruno, assumir a liderança da Pafil. É casado e tem dois filhos, Gonçalo (15 anos), que adora biologia, e Pedro (9 anos), que é apaixonado pelo futebol e já veste as cores do FC Porto. Nos tempos livres dedica-se ao Alex Ryu Jitsu, um desporto de combate nascido em Famalicão.
UM CONFECIONADOR COM ESPÍRITO DE ENGENHEIRO
FOTO: RUI APOLINÁRIO
45 ANOS FINANCIAL MANAGER DA PAFIL
João Rui Pereira ainda se lembra do exacto momento em que a Pafil nasceu: “numa viagem para o Algarve, os meus pais estavam a discutir a ideia de criar a empresa e qual o nome”, conta. A mãe, modista, via as encomendas a crescerem, e o pai, responsável de armazém na Grundig, largou o emprego para agarrar o chamamento dos têxteis. Mas na génese da empresa esteve toda a família, incluindo os três filhos: João, Bruno e Carla. De tal maneira que o nome escolhido há 32 anos, Pafil, é um acrónimo para “Pais e Filhos”. Atualmente toda a família continua envolvida na gestão da empresa, mas os pais foram passando o testemunho. São os filhos que hoje lideram os destinos da nova Pafil, especializada em peças com elevada tecnicidade, da moda ao vestuário de proteção, athleisure, sportswear ou vestuário de neve. Formado em engenharia e com experiência em gestão, João Rui Pereira é, desde há oito anos, responsável pela gestão financeira, de sistemas e recursos humanos, enquanto o irmão Bruno, também engenheiro, está à frente da produção, e Carla, formada em gestão, assume o gabinete comercial. “Todos nos formámos e trabalhámos fora, mas sempre com a ideia de regresso. O bichinho da têxtil é inato, e era na empresa que passávamos as férias ou os fins de semana”. Ao longo da última década, foi com a ex-
periência e o espírito de engenheiro, que João e os irmãos foram renovando a Pafil. Ao esforço em combater o desperdício e aumentar a eficiência – “gosto da filosofia Keep It Simple” – aliaram um investimento progressivo em novas tecnologias. Ao longo dos últimos dez anos, a empresa investiu cerca de um milhão de euros em equipamentos, que culminou na necessidade de novas instalações. Em junho completaram a mudança, uma distância de centenas de metros entre a antiga casa, em Viatodos, Barcelos, para a nova fábrica, criada de raiz, em Louro, Famalicão. Na transição, a Pafil ficou com o triplo do espaço (4500 m2) e ganhou uma organização mais fluída: “da entrada das matérias-primas à expedição, há um circuito linear, que faz com que nenhuma peça tenha de andar da frente para trás”, explica João Rui. “Investir em diferentes máquinas é um risco, porque há momentos em que elas estão paradas, mas é também uma oportunidade, porque permite aos clientes acumularem pedidos e explorarem diferentes produtos. Se alguém vem a um país que não conhece com uma encomenda, vai sempre preferir encontrar tudo o que precisa num único fornecedor que transmita confiança”, afirma. O portefólio da Pafil, que conta com uma equipa de 72 pessoas, vai das soluções mais tradicionais à vanguarda da tecnologia, como
o corte e perfuração a laser, termocolados ou ultrassom. “Temos de seguir o caminho da inovação, qualidade e tecnologia, para que o custo não seja a questão central”, diz. No caso da Pafil, a estratégia resulta. A faturação, que ronda os dois milhões de euros, é feita quase exclusivamente para exportação e para setores de elevado valor acrescentado. França, Holanda e Alemanha são os seus principais mercados e pelas máquinas da empresa passam os vestidos da Givenchy, os equipamentos de corrida da francesa Satisfy – conhecida como a Louis Vuitton do running – o vestuátio de motociclismo da BMW, de náutica da Maserati, ou os fatos dos bombeiros espanhóis para a intervenção em fogo urbano. Tudo entre muitas coleções de vestuário para a neve ou para desportos outdoor, como caça ou montanhismo. Um posicionamento que permitiu à empresa estar mais protegida do impacto da pandemia. O trabalho em pequenas séries e com marcas de segmento alto fez com que a redução do consumo não se sentisse de forma tão drástica. Para além disso, a Pafil apressou-se a certificar máscaras e a fornecê-las ao mercado português, a empresas e instituições como a RTP ou o Governo Regional dos Açores. Um complemento ao negócio habitual, que faz a empresa prever o fecho de 2020 no verde, com um crescimento a rondar os 3%. t
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2. O SECRETÁRIO DE ESTADO DA INTERNACIONALIZAÇÃO FOI UM DOS MEMBROS DO GOVERNO QUE VISITOU O SALÃO NACIONAL
FOTOSINTESE Por: Mariana d'Orey
1. RECEÇÃO AO AR LIVRE E PRIORIDADE PARA TODAS AS REGRAS DE HIGIENE E SEGURANÇA DERAM A TÓNICA PARA 56ª EDIÇÃO DO MODTISSIMO
7. DEPOIS DE VISITAR OS STANDS, O GOVERNANTE DEU AINDA VÁRIAS ENTREVISTAS AOS JORNALISTAS PRESENTES
MODTISSIMO ASSINALA VITALIDADE DA TÊXTIL NACIONAL Única feira a realizar-se na Península Ibérica desde o início da pandemia e uma das poucas a acontecer em toda a Europa, a edição 56 do MODTISSIMO assinalou a dinâmica e vitalidade do setor têxtil nacional. Para além da adesão em massa dos expositores, o salão português registou ainda um ligeiro aumento do número de compradores estrangeiros face ao de edições passadas. E todos saíram contentes!
6. O SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DA ECONOMIA, JOÃO CORREIA NEVES, FEZ QUESTÃO DE FICAR A PAR DOS AVANÇOS NOS TÊXTEIS TÉCNICOS
12. E POR FALAR EM CRIATIVIDADE... ENCONTRÁMOS A MÁSCARA MAIS FASHION. LÚCIA GOMES FOI A VENCEDORA
11. A SUSTENTABILIDADE AFIRMA-SE COMO PRIORIDADE DO SETOR, COM DESTAQUE PARA A CRIATIVIDADE APRESENTADA NO FÓRUM GREEN CIRCLE
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4. ADALBERTO ESTAMPARIA APRESENTOU NOVAS SOLUÇÕES ASSENTES NO TRIO INOVAÇÃO, DESIGN E TECNOLOGIA
3. NA ALA DA CONFEÇÃO, O STAND DA CONCRETO RECEBEU COMPRADORES DE VÁRIOS PAÍSES DA EUROPA E DOS ESTADOS UNIDOS
5. A RECÉM-CRIADA BETWEEN PARALLELS APRESENTOU-SE AO PÚBLICO ASSOCIANDO VÁRIAS MARCAS DE MODA E LIFESTYLE SUSTENTÁVEIS
9. TAMBÉM NOS VÁRIOS FÓRUNS EXPOSTOS AS MEDIDAS DE PREVENÇÃO E SEGURANÇA FORAM UMA CONSTANTE
10. O FÓRUM DE TECIDOS É SEMPRE UMA DAS PRINCIPAIS ATRAÇÕES E UMA FORMA EFICAZ DE CONHECER A OFERTA DISPONÍVEL NO SALÃO
8. EURICO BRILHANTE DIAS, SECRETÁRIO DE ESTADO DA INTERNACIONALIZAÇÃO, CUMPRIMENTA UM DOS EXPOSITORES
13. A SCUSI VOLTOU A MARCAR PRESENÇA, COM O REFORÇO DE PEÇAS ELEGANTES MAS CONFORTÁVEIS ADAPTADAS À NOVA NORMALIDADE
12. DURANTE A FEIRA FOI AINDA POSSÍVEL REALIZAR TESTES SEROLÓGICOS À COVID-19. O PRESIDENTE DA ATP FOI UM DOS TESTADOS
14. TAMBÉM NA ALA DOS TECIDOS SE TRABALHOU A UM BOM RITMO, COMO SE VERIFICOU NO STAND DA BLOOMATI BY CARVEMA
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GIVACHOICE DE OLHO NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO Criada em 2012 com foco no private label, a Givachoice está decidida a avançar para a presença em feiras internacionais. A estreia na última aedição do MODTISSIMO foi encarada como um “teste piloto” para a empresa que se posiciona no segmento médio-alto na confeção de moda feminina e trabalha já com várias marcas europeias, australianas e norte-americanas.
"O Modtissimo foi o único evento em que conseguimos estar este ano com os nossos clientes" Nuno Malheiro Diretor comercial da Tintex
FÓRUM TÊXTIL PARA DEBATER INOVAÇÃO E O FUTURO PÓS-COVID
MEDICA TRADE FAIR PASSA A VERSÃO DIGITAL
EURATEX PEDE RAPIDEZ E ESTRATÉGIA
Os responsáveis da Medica Trade Fair de Dusseldorf, a maior feira internacional do setor, decidiram alterar o formato da feira para apenas digital, cancelando assim a presença física de expositores e clientes que estava marcada para os dias 16 a 19 de novembro naquela cidade alemã. A deterioração das condições sanitárias na Alemanha e em diversos mercados de onde eram provenientes vários dos expositores e visitantes obrigou a organização a cancelar o evento físico e a convidar todos a uma participação apenas virtual.
Com os dados mais recentes a confirmarem que o setor têxtil europeu caiu 25% e o de vestuário encolheu 35% – e numa altura em que a procura de produção oriunda da China volta a ter forte aumento – a Euratex federação europeia de associações têxteis (de que a ATP faz parte), pede à União Europeia que implemente rapidamente o seu plano estratégico de reforço da componente industrial comum. O presidente da Euratex, Alberto Paccanelli, referiu que estes números são um sinal de alerta para a União Europeia.
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da faturação da CM Socks é oriunda do mercado externo Painel de debate durante a última edição do Fórum Têxtil, no auditório CITEVE
É a principal reunião anual do setor têxtil e vai ter lugar este ano a 26 de Novembro, com a ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal a anunciar o debate sobre as alterações dos hábitos e consumo das novas gerações e o reforço da inovação e capacidade de competir da nossa ITV. O Fórum da Indústria Têxtil, que será online e transmitido em streaming, convida todas as empresas a participar num simpósio dedicado aos cenários pós-Covid e à mudança nos modelos de negócio. “A pandemia de Covid-19, que ainda vivemos, inesperada e brutal nas suas consequências, surgiu como um acelerador da História”,
afirma Mário Jorge Machado, presidente da ATP, convidando todos os empresários da fileira têxtil a participar no fórum deste ano. A aceleração digital, a revolução sustentável, a diminuição do consumo e relocalização das cadeias de fornecimento estarão também em análise. O fórum, moderado pelo jornalista Jorge Fiel, conta com Augusto Mateus (EY Portugal) como o Key Speaker desta edição. Ana Tavares (Smartex), Nuno Gonçalves (IAPMEI), Ricardo Gomes (El Corte Inglés) e Vítor Abreu (Endutex) vão participar na mesa-redonda. Mário Jorge Machado, presidente da ATP fará o discurso de Estado do Setor e
está previsto que o discurso de encerramento fique a cargo de Pedro Siza Vieira, ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital. O programa visa sobretudo reunir o setor numa reflexão sobre o futuro pós-pandemia, em que se prevê a afirmação de uma nova série de macrotendências. “Desde meados da década que as vendas de artigos de moda estão em queda nos países desenvolvidos, pois compra-se menos, compra-se diferentemente – o comércio electrónico tem ganho forte quota em toda a parte e compra-se com mais consciência”, alerta o presidente da ATP, no convite enderaçado a toda a comunidade têxtil. t
AMBIENTALISTAS LANÇAM CAMPANHA POR MÁSCARAS REUTILIZÁVEIS Três associações ambientalistas – Associação Natureza Portugal (ANP/WWF), Associação de Ciências Marinhas e Cooperação (Sciaena) e Associação Sistema Terrestre Sustentável (Zero) – decidiram juntar esforços e lançar a campanha ‘Não sufoque a natureza’, em defesa do uso das máscaras sociais reutilizáveis. A base da inciativa é uma conta de multiplicar simples: o uso de uma máscara descartável por dia resulta em três mil milhões de máscaras descartáveis que todos os anos irão parar, na melhor das hipóteses, aos aterros. Além disso, existe também a racionalidade da poupança: em termos de gastos, as máscaras descartáveis, por muito baratas que sejam, acabam por tornar-se mais caras, dada a necessidade da sua constante substituição.
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SOLUÇÃO DE GESTÃO E CONTROLO DA PRODUÇÃO
O SOFTWARE DE GESTÃO DESENHADO À MEDIDA DA SUA LINHA DE PRODUÇÃO TÊXTIL Fiação • Tecelagem/Tricotagem • Tinturaria/Acabamentos • Estamparia • Corte/Confeção • Agentes
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A MÁQUINA SOBRE RODAS QUE PÔS A INARBEL FORA DA CRISE
F. S. BABY CONTINUA FOCADA NA SUSTENTABILIDADE A marca de roupa infantil F. S. Baby lançou a sua coleção AW 20/21, que dá continuidade à aposta sustentável com a qual está comprometida. Cerca de 30% das peças são produzidas em algodão orgânico, mas o objetivo é que muito em breve a totalidade da coleção seja elaborada com tecidos orgânicos e reciclados. Em paralelo, a F. S. Baby continua com a comercialização de máscaras sociais certificadas de nível 2 para criança e adulto, que podem ser personalizadas.
"Ser produtor é uma mais-valia e Portugal deve assumir que pode ter uma posição de charneira" Noel Ferreira Vice-Presidente da ATP
MESSE FRANKFURT ATUALIZOU CALENDÁRIO DAS FEIRAS 2021 A inovadora máquina, um investimento de 400 mil euros, inclui sucção, aspiração, corte exato e gestão de rentabilidade e desperdício
Em plena crise pandémica, a Inarbel lançou-se na confeção de equipamentos de proteção e o negócio veio para ficar. Um investimento superior a 400 mil euros para montar uma nova linha de produção que gira em torno de uma máquina que assenta sobre rodas e até já fez nascer uma nova marca: a Skylab, uma aposta na produção para a área médica que já exporta para Espanha, França e Itália e quer conquistar toda a Europa. É em torno da moderna máquina de corte automático que gira toda a atividade. “É uma máquina sobre rodas que podemos ajustar consoante as necessidades. Em oito horas satisfaz toda a linha, tem sucção, aspiração, corte exato e gestão de rentabilidade e desperdício”, explica o CEO da Inarbel sobre a Vector Fashion iQ50 da Lectra, a maravilha tecnológica que tem dentro de portas. “Maio foi o mês em que a Inarbel mais faturou desde que existe”, atira em seguida José Armindo Ferraz, para reforçar o seu princípio de ação: “Tí-
nhamos que nos focar na solução, o problema já estava instalado”. E a solução foi avançar de forma decidida para a produção de equipamentos de proteção. Uma reação que permitiu fazer da crise uma oportunidade, continuando a produzir, sem trabalhadores em lay-off, e que rapidamente se tornou aposta de futuro. Depois de ter começado por fornecer hospitais de várias regiões de Espanha – o desafio inicial, em jeito de apelo, veio de um velho parceiro do país vizinho – passou a fornecer também hospitais e clínicas de Portugal, França e Itália, mas o objetivo é alargar-se para todo o mercado europeu. “Estamos a desenvolver novos produtos, como batas com revestimento em polioretano, outras em poliéster que não encolhe e com capacidade para 40 a 60 lavagens. Também produtos esterilizados e com filamentos de carbono que evitam o efeito da electricidade estática”, desvenda José Armindo, que aposta em conquistar mercados de todo o mundo. t
CLUSTER TÊXTIL RENOVA GRUPO DE ALTO NÍVEL Com uma participação no ato eleitoral a rondar os 90%, o Grupo de Alto Nivel do Cluster Têxtil passou a ter uma composição renovada, com a entrada de dois novos elementos. João Brandão, diretor executivo da ERT, e Miguel Pedrosa Rodrigues, administrador da Pedrosa & Rodrigues, passam a integrar a equipa de sete elementos com a missão de orientar a estrutura executiva do Cluster. Na nota que dá conta da nova composição, o Cluster Têxtil: Tecnologia e Moda, destaca mesmo a “excelente adesão de todos os membros para a eleição do Grupo de Alto Nível do Cluster
(HLG), atingimos os 89% de taxa de votação”. O Grupo de Alto Nível tem como missão a orientação da estrutura executiva na definição dos pilares e eixos estratégicos do Cluster Têxtil, bem como a sua representação, nomeadamente em ações de lobby ou influência de políticas públicas e de comunicação institucional. Ancorado no CITEVE, o HLG tem como objetivos estratégicos a transferência de conhecimento e desenvolvimento de redes e cadeias de valor, tendo em vista ganhos económicos e uma maior capacidade de abordagem a mercados externos. A
É a Neonyt Berlim que abre o calendário de feiras de 2021 da Messe Frankfurt, mas o programa geral das feiras em Frankfurt foi atualizado, com os eventos do início do ano a serem empurrados para o segundo trimestre. De 19 a 21 de janeiro, a feira dedicada a moda sustentável vai pela primeira vez acolher fabricantes de tecidos e fornecedores de private label. Com a nova calendarização, a Heimtextil vai realizar-se em maio, paralelamente com a Techtextil e a Texprocess. Em abril tem lugar a International Consumer Goods Show – que junta a Ambiente, a Paperworld, a Christmasworld e a Creativeworlde a ISH, dedicada a instalações sanitárias e climatização, prevista para março, passa exclusivamente a formato digital.
60 mil
metros de tecido é a capacidade de produção diária da Adalberto
PÉ DE CHUMBO ESTREIA-SE NO DENIM COM TECIDOS RECICLADOS
sua principal missão passa por promover o desenvolvimento integrado e sustentável do agregado económico envolvendo têxteis, vestuário e têxteis de aplicação técnica.t Grupo de Alto Nível Empresas: Clementina Freitas - CEO da Latino João Brandão - CEO ERT Manuel Gonçalves - Administrador TMG Miguel Pedrosa Rodrigues - Administrador da Pedrosa e Rodrigues Paulo Melo - Presidente do Conselho Administração da Somelos
Entidades não empresariais: Isabel Furtado - Vice-presidente da ATP Braz Costa - Director Geral do CITEVE
É uma estreia no denim, uma coleção feita a partir de excedentes de produção com o objetivo de promover a reciclagem têxtil. A coleção cápsula da Pé de Chumbo foi apresentada no Portugal Fashion, depois de ter já passado por Paris e Milão, onde foi foi distinguida pela Candiani com etiqueta e rebites dourados. “Uma surpresa, não sabia que ia ter tanta receptividade. Tudo começou por tentarmos reciclar restos de ganga. Fizemos uma experiência que foi muito bem aceite nas feiras e superou todas as expetativas”, orgulha-se Alexandra Oliveira, designer criadora da marca.
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X A MINHA EMPRESA HR Group
Zona Industrial do Salgueiro Cruzinha – Fonte do Chão 3534-909 Mangualde
O que faz? Confeciona vestuário de proteção e segurança e equipamentos de proteção individual Assinatura Safety – Tech – Line - Design Principais clientes Grandes grupos industriais ou de distribuição e seus fornecedores Fundação 2001 Trabalhadores À volta de 100 Objetivos Produzir à medida e necessidades dos clientes Volume de negócios 8,2 milhões de euros em 2019 Marcas próprias AntartidA Plus e Master Safety Principais mercados Portugal, França e Angola
FIBRENAMICS FINALISTA DO PRÉMIO EUROPEU REGIOSTAR A plataforma internacional Fibrenamics Green, iniciativa do Centro para a Valorização de Resíduos da Universidade do Minho, foi um dos finalistas na edição 2020 do Prémio Europeu Regiostars, da responsabilidade da Comissão Europeia. A nomeação “reconhece o trabalho em rede que a plataforma dinamiza e que envolve as diferentes fases da criação de novos produtos – como o design, a engenharia e a criatividade – criados a partir do aproveitamento de resíduos de várias indústrias do norte de Portugal”, referiu em comunicado a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte.
"Hoje estamos aqui, amanhã podemos estar em qualquer lugar. E sempre orgulhosos de Portugal" Luís Guimarães CEO da Polopiqué
TMG PASSA A EMPRESA ASSOCIADA DA PORTO BUSINESS SCHOOL O Grupo Têxtil Manuel Gonçalves é uma das mais recentes empresas a integrar o núcleo de associados da Porto Business School (PBS), escola de negócios da Universidade do Porto, numa parceria que visa reforçar a relação de proximidade da escola com empresas de grande impacto na economia nacional. A PBS tem como empresas associadas grupos tão importantes como a Sonae, NOS, EDP, Galp e BNP Paribas.
Um homem e a sua missão Se é verdade que a fé move montanhas, Hermínio Rodrigues e o HR Group são prova viva disso mesmo. E nem só pela crença na força e vitalidade de uma atividade que tem crescido a um ritmo sustentado. Também o empresário se move pela fé inabalável num desígnio que lhe estava traçado e foi ainda em sentido literal preciso desbravar o cimo do monte para aí construir a exemplar unidade para onde o grupo industrial se mudou nos inícios do corrente ano. “Procura em ti…ser mais forte, mais consistente”, a mensagem destaca-se no luminoso átrio de acesso às novas instalações. Inscrita na parede onde foi também pintada a imagem do empresário, sentado, contemplativo, sobre um tronco carbonizado pelo incêndio que em Outubro de 2017 devastou a área onde está agora construída a moderna nave industrial. Hermínio Rodrigues explica que “simboliza o momento em que soube que era por ali o futuro”. O seu e o da empresa. A imagem mostra também, mesmo em frente, na base de colina, os dois pavilhões por onde se dividia a atividade da HR Proteção e da HR Indústria, as duas unidades que integram o grupo. Um futuro que se traduz agora numa numa ampla área industrial, com quase 5 mil m2 de área dedicada à produção e parte logística, mais mil para as áreas administrativa, social, de reuniões e showroom. Num terreno que se eleva até perto de 600 metros acima do nível do mar e se estende por uma área de 25 mil m2. Um investimento de cerca de 3,5 milhões de euros, sendo um em equipamento tecnológico que permite tornar mais eficiente o processo industrial
e usar novas tecnologias que permitem elevados níveis de automatização da produção. A nova unidade permite que as áreas de produção e logística funcionem lado a lado, com ganhos de eficiência e de economia de meios que se estendem ao consumo de energia, que é garantido a 50% por painéis fotovoltaicos (e deverá numa segunda fase chegar aos 100%). HR são, claro está, as iniciais de Hermínio Rodrigues, que depois de ter sido futebolista (Mangualde e Ac. Viseu) e de ter trabalhado na fábrica da Citroën fundou a empresa em setembro de 2001, começando na sua garagem, “com um fax e 100 contos a crédito, mas no final do ano já tinha faturado perto de 70 mil contos”. Três anos depois já trabalhava com 14 pessoas e colocava encomendas de quase um milhão de euros, tendo passado em 2006 para o primeiro armazém na Zona Industrial do Salgueiro, onde montou uma mesa de corte. Dois anos depois, em 2008, compra a vizinha Benilde Confeções, que é convertida em HR Indústria e detida a 100% pela HR Proteção. A par dos exigentes fatos de trabalho para a Autoeuropa – todas as peças levam um chip que identifica o utilizador e controla a gestão de lavagens e higienização –, a HR abrica também para a indústria aeronáutica – OGMA e Embraer –, e fornece grandes cadeias como o Continente ou a McDonald’s. Apesar das marcas próprias Antartida – para trabalho em temperaturas negativas – e Master Safety, a HR concentra-se sobretudo na satisfação dos seus cientes.“O foco é produzir à medida das necessidades dos clientes”, garante Hermínio Martins, um homem que acredita na sua missão. t
PLUG IN DA FARFETCH RECEBE 37 ESTÁGIÁRIOS A Farfetch, a plataforma tecnológica líder global para a moda de luxo, deu início a mais uma edição do Plug-In para graduados, um programa de estágios remunerados. É a 5ª edição e arrancou com 37 estagiários nas áreas de Tecnologia, Produto e Data, selecionados de entre mais de 2.500 candidatos. Nas edições anteriores, participaram 142 graduados, dos quais mais de 90% continuam a fazer parte da equipa da Farfetch.
1,5 milhões é o número de trabalhadores do setor têxtil na União Europeia
LEVI’S JUNTA-SE À LEGO E APOSTA NA COSTUMIZAÇÃO Numa parceria inédita, a Levi’s juntou-se à Lego para lançar uma coleção original inspirada na nova gama Lego Dots. Os modelos da colaboração apresentam uma base flexível em silicone que incentiva os consumidores à sua personalização com as peças Lego Dots. Uma colaboração que surge para “celebrar a expressão pessoal, a criatividade e a nostalgia”, explica Karyn Hillman, Chief Product Officer da Levi Strauss & Cor. “Com as bases customizáveis, a Levi’s tornou-se uma folha em branco para brincar com Lego”, sublinhou.
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FERRACHE ATIRA-SE DE CABEÇA AO OUTONO
A FASHION FORWARD Por: Rita Bonaparte
Craft Crush para ensinar, fazer perdurar e continuar... Os objetivos e inspirações querem ser positivos. Surge a tendência in love for craft, de novo a paixão pelo handmade. A tendência Craft Crush surge em vários designers e associada à sustentabilidade e ao green think. A experiência torna-se um ritual, uma espécie de meditação. No caminho da gratidão pela vida, a poesia acontece na celebração das memórias, na imaginação aliada à tradição e inovação. A poesia cria-se quando há tempo para perder, para aprender, ouvir os mais velhos, dar atenção à nova geração, estudar técnicas como relíquias a descobrir. Um exemplo desta tendência é a coleção Primavera/Verão 2021 de Tory Burch que foi baseada em memórias. Inspira-se nas colchas handmade da Pensilvânia e detalhes hand-crafted dos lugares onde esteve. Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da casa Dior, tem destacado o artesanato nativo e os artesãos da região do seu pai
nas últimas coleções. Shie Lyu teve a sua estreia que chamou a atenção pela originalidade refrescante na Shanghai Fashion Week. A coleção foi feita com materiais de desperdício industrial, sobras de projetos anteriores e tubos de borracha no processo de upcycling. Elena Naomi, uma criadora com sede em Brooklyn, Nova Iorque, está a cativar a atenção pela aplicação TikTok, onde faz renda de bilros, em histórias deliciosas que parecem tiradas de um conto de fadas. O tempo com nós mesmos dá à imaginação poderes para viajar na preciosa mente de cada um. Imerge um interesse mais forte e poderoso pela valorização da história, do tradicional, do l, e da preocupação com o nosso planeta. A ligação interior à criação torna-se evidente, mais íntima, pessoal, mas ao mesmo tempo repleta de compaixão e união. As raízes de cada ser ganham um novo brilho e inspiram um pouco por todo o mundo... t
CITEVE DOA 2.500 PEÇAS DE VESTUÁRIO O Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal (CITEVE) transformou cerca de 2.500 peças de roupa numa gigantesca ação solidária, doando esse vestuário à Associação Juntos por Famalicão, que destina essa dádiva a famílias carenciadas. Entre as peças doadas estão calças, camisas, blazers, vestidos, camisolas, entre outras peças, para todas as idades e de ambos os sexos.
JOANA GARCIA
TORY BURCH
SHIE LYU
ARAUCANA LANÇA COLEÇÃO PRÓPRIA
RAFAEL KOUTO
Conceituados criadores, marcas, empresas, profissionais e jovens designers que trabalham na indústria criativa da moda cada vez mais sustentam o seu trabalho e energia na investigação profunda e resultados práticos para resolver a questão ambiental. Criam a oportunidade e usam a sua capacidade, dom e talento como pensadores criativos, para construir e criar um projeto que tenha um impacto positivo ambiental, através de materiais reciclados, de técnicas amigas do ambiente e do upcycling. As coleções são criadas no desafio das incertezas, no isolamento, distância e saudade. O design procura a fórmula de um produto que soma o ser sustentável, inovação, conforto e criatividade. Incorporando o sossego e a tranquilidade da contemplação, os criadores exploram com tempo a criação. Há tempo, há necessidade de interiorizar, de assimilar e comunicar o que é realmente importante, o que há para deixar, o que há
Foi sob o mote Fall-ing, que traduzido à letra significa imergir no outono, que a marca portuguesa de moda feminina Ferrache apresentou as suas sugestões para este outono. A palete de cores ligada à natureza, onde se destacam os beges, os verdes e azuis-escuros e os cinzentos, dá vida a uma coleção eclética, cujas opções vão desde as silhuetas femininas como os vestidos e as saias, passando pelas peças de afirmação como os macacões e até alguns modelos mais desportivos, em felpa de algodão e com carapuço.
A loja de roupa nacional sustentável Araucana lançou a sua primeira coleção própria. A nova linha apresenta um conjunto de artigos de moda feminina feitos à base de materiais e tingimentos naturais. Nasceu com a intenção de promover a moda sustentável mas rapidamente evoluiu para a criação de uma marca própria. “O desejo de criar uma marca própria, que alia a sustentabilidade à moda intemporal, esteve sempre presente”, explica Alexandra Alves, fundadora do projeto.
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ALEXANDRA MOURA REINVENTA A TRADIÇÃO SANJO Alexandra Moura reinventa a Sanjo, a icónica marca de sapatilhas com quase 90 anos de história numa coleção detalhada com duas versões monocromáticas – preto e branco. É na desconstrução dos clássicos que assenta a colaboração com a criadora, para uma coleção que combina a tradição portuguesa com a cultura urbana. Depois da Milan Fashion Week, a coleção foi apresentada no Portugal Fashion e está disponível no mercado desde o dia 20 de novembro.
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"Queremos estar na linha da frente e fazer parte dos avanços científicos do setor" Ana Vaz Gestora de mercado da Riopele
MEIA PATA E BABY GI COM NOVOS DISTRIBUIDORES NO MÉXICO As marcas portuguesas Meia Pata e Baby Gi fecharam um acordo com um novo importador mexicano, especializado em moda infantil. Num momento em que o tráfego internacional continua limitado, todos os contactos foram realizados através de uma missão virtual com o apoio da Câmara de Comércio Portugal-Atlântico Sul. “Aderimos ao desafio e um dos primeiros contactos mostrou-se logo interessado em juntar a Meia Pata ao seu catálogo de marcas”, conta Diogo Marques, responsável pelos mercados internacionais da marca de moda infantil. Também a Baby Gi tirou o melhor proveito da missão virtual e fechou um acordo com um novo distribuidor.
SUSTAINABLE FASHION BUSINESS TEVE 1.100 INSCRITOS DE 36 PAÍSES A conferência Sustainable Fashion Business, que reuniu em Lisboa alguns principais players nacionais do setor têxtil e representantes de várias marcas internacionais em torno da moda sustentável, registou uma adesão que superou todas as expetativas. De acordo com a organização da conferência, que decorreu sexta-feira na Academia de Ciências em Lisboa no âmbito da Lisboa Capital Verde Europeia 2020, o encontro contou com 1.100 inscrições de 36 países diferentes, tendo quase a totalidade assistido à conferência online, devido às normas impostas pela DGS. Scoop, RDD/ Valerius HUB, LMA e Pizarro foram as empresas portuguesas do setor têxtil convidadas para integrar o painel da Sustainable Fashion Business, que contou também com a participação de representantes das marcas Farfetch e Pangaia, bem como com os contributos de vários designers de referência e jornalistas do setor. Catarina Santos da Cunha, project leader da Sustainable
Scoop, RDD/Valerius HUB, LMA e Pizarro foram as têxteis portuguesas que integraram o painel de oradores
Fashion Business e CEO da Kind Purposes, co-organizadora do evento, acredita que “projetos incríveis feitos a partir de Portugal foram postos à luz, e conseguimos que centenas de inscritos ouvissem na primeira pessoa o caminho que há anos temos traçado na sustentabilidade em moda. Resta continuar com o mesmo propósito e profissio-
nalismo e marcar um lugar como um player credível, responsável e tecnologicamente avançado no que toca à moda do futuro”, remata. A conferência Sustainable Fashion Business destacou-se ainda pelo novo showcase de produtos e conceitos sustentáveis promovido pela ATP e apresentado em primeira mão em Setembro no MODTISSIMO. t
TECNOLOGIA SMARTEX ESTENDE-SE A ITÁLIA, BRASIL E BANGLADESH Depois de dois anos de investigação e desenvolvimento, a tecnológica portuguesa Smartex está já a instalar os primeiros exemplares da sua tecnologia: Tintex, Malhas Carregal, Rifertex e Polopique fazem parte do grupo de early adopters, ou pioneiras, que já estão a experimentar a tecnologia nos seus teares circulares. Em Itália, a Smartex está também a ser instalada na fábrica da Gucci. “Temos um plano mais alargado de instalações previstas, com projetos para o Brasil ou para o Bangladesh, onde a Smartex será instalada numa fábrica da C&A,
por exemplo. A Covid-19 adiou essas instalações, mas continuam previstas”, esclarece Rui Pereira, Head of Business Development da empresa. Baseada num sistema inovador que conjuga visão computacional e inteligência artificial para identificar e evitar o desperdício, a inovação da Smartex consiste numa tecnologia capaz de identificar defeitos na malha produzida em teares circulares. No momento em que um defeito é identificado, a máquina pára, evitando que continue a produzir sobre o erro e a desperdiçar energia, tem-
po e matéria-prima. Criada em 2018 por três jovens empreendedores portugueses – António Rocha, Gilberto Loureiro e Paulo Ribeiro – a Smartex hoje já não se define como uma startup, mas como uma speedup. Depois da tecnologia desenvolvida e patenteada, a empresa entrou no início deste ano num projeto de financiamento na ordem dos 2,2 milhões de euros, integrado no Acelerador do Conselho Europeu de Inovação. A equipa foi alargada – conta atualmente com 20 pessoas – e a tecnológica deu início à sua entrada no mercado. t
KATTY XIOMARA LEVOU ANTARTE AO PORTUGAL FASHION Foi através da apresentação da nova coleção de Katty Xiomara, que a Antarte marcou presença no Portugal Fashion. Desta vez a criadora decidiu inovar com a exibição de uma curta-metragem cujo décor foi baseado nas peças de mobiliário da coleção Geneve, também ela uma novidade recente da Antarte. Uma parceria entre a estilista e a líder em tendências de mobiliário e decoração em Portugal que vai de encontro à mensagem da criadora. Com ALMA, Katty pretende mostrar que as ligações pessoais importam e as ligações criativas nos enriquecem sempre. Para o CEO da Antarte, Mário Rocha, esta parceria é também “uma forma de mostrar que está na hora de criar sinergias e que é possível de forma criativa envolver outros setores de atividade em eventos tão importantes para o reconhecimento do produto nacional, como é o caso do Portugal Fashion. Na Antarte, estamos sempre disponíveis para criar novas parcerias e mostrar que Portugal é inovador, criativo e com uma qualidade ímpar”. Desenvolvida também este ano, a coleção Geneve foi lançada em conjunto com as coleções Haia e Veneza, e todas estão disponíveis na loja online da Antarte ou na sua rede de mais de uma dezenas de lojas físicas que cobrem o território nacional.t
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"QUEREMOS AUMENTAR AS EXPORTAÇÕES ATÉ AOS 50% DA FATURAÇÃO"
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n ENTREVISTA Por: António Freitas de Sousa
Marco Costa Aos 36 anos, Marco Costa acumula a direção financeira com a direção comercial da Blackspider – a que junta um conhecimento profundo da realidade da empresa e das circunstâncias externas em que esta evolui. Foi para não deixar que a pandemia interferisse em demasia que a empresa concretizou um investimento estruturante pensado antes do aparecimento da crise sanitária. As novas instalações vão permitir manter e reforçar aquilo que são as suas caraterísticas diferenciadoras. E apostar no aumento da exposição às exportações, que para Marco Costa se afiguram como a mais saudável forma de crescimento empresarial
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pesar da pandemia, o negócio da Blackspider, detentora da marca Cristina Barros, não só não parou como continuou a expandir-se, mesmo que com algumas restrições. A necessidade de novas instalações, já sentida antes da pandemia, vai por isso avançar para estarem prontas já no próximo ano. Estão a preparar um investimento estruturante. Que pode avançar sobre ele?
Pretendemos aumentar a nossa capacidade para dar resposta à procura que temos sentido e para aceitar novos desafios, que impõem outro tipo de condições. Para isso, precisamos de novas instalações – que acima de tudo vão responder à procura que temos. Construídas de raiz?
Vão ser 4.200 m2 – vamos duplicar a capacidade que temos neste momento. O edifício vai servir de armazém, mas também de escritório, e vamos instalar ali a sede da empresa. O investimento previsto está situado entre 1,5 e dois milhões de euros. As obras já arrancaram, estando previsto que em meados do próximo ano já estejamos a trabalhar nas novas instalações. É claro que a situação de pandemia atrasou alguma burocracia, mas é o que prevemos. Não haverá muitas empresas que vão fazer um investimento dessa dimensão numa fase de pandemia. Quer dizer que a Covid-19 não afetou a empresa?
Não afetou de forma profunda. Claro que sentimos os seus efeitos – principalmente com o cancelamento de muitas feiras internacionais, que nos serviam para abrir novos mercados e dar a conhecer a marca. Essa dimensão foi afetada.
Mas, se falarmos nos nossos clientes habituais, praticamente não fomos afetados: continuamos a ter os mesmos clientes, que continuam a comprar. Não havia razão, portanto, para adiar investimentos.
Quando começámos o projeto das novas instalações, foi sempre alavancado numa base e numa solidez que já vem de trás. Não se deu, por isso, o caso de cancelarmos o projeto. As receitas de 2020 também não foram afetadas?
As receitas de 2020 vão incorporar talvez uma pequena redução, mas estão em linha com as de 2019. O ano de 2021 vai ser o do reaquecimento da economia?
Acredito que será uma espécie de ano zero. Vai ser o início de um novo ciclo, provavelmente a partir de meados do ano. Como correu a pior fase de confinamento em termos internacionais?
Apenas sentimos uma alteração no mercado espanhol. Os restantes mercados em que trabalhamos estiveram sempre no mesmo plano. Não sofremos qualquer alteração com o confinamento, tanto em termos de faturação como de encomendas. Como trabalhamos por coleção, estamos a terminar as vendas da coleção primavera-verão 2021 e posso dizer que não sofremos grandes alterações. Têm uma empresa em Espanha, que abastece diretamente aquele mercado. Fora a Espanha, os restantes mercados estiveram em bom plano. Qual é a percentagem das exportações no volume de negócios?
Cerca de 40%. É uma percentagem que vos é confortável?
Nunca é confortável. Quando decidimos apostar na internacionalização, colocámos o foco nos 50/50. Queremos aumentar as exportações até aos 50% da faturação.
"2021 vai ser o início de um novo ciclo, uma espécie de ano zero"
Exatamente.
solicitar repetições. Quando fechámos o primeiro showroom os clientes contactaram-nos, querem comprar.
Como era a empresa antes de 2012?
Os Estados Unidos estão a funcionar bem?
A empresa surgiu em 2001 e até 2012 tinha o foco no mercado nacional.
Muito bem. Houve uma queda nesta fase da pandemia, mas esperamos que o próximo ano já seja melhor.
Começaram a internacionalização em 2012. Há um antes e um depois dessa data?
Private label ou marca própria? Prestes a cumprir 20 anos de existência, a Blackspider está em plena fase de crescimento e espera ultrapassar a pandemia assumindo uma posição reforçada para enfrentar aquilo a que chama o ‘ano zero’. O segredo do sucesso está em dois planos diferenciados. Por um lado, a qualidade do serviço – que é o mesmo que dizer a qualidade do acompanhamento daquilo que são as necessidades dos clientes. A flexibilidade de procedimentos e o alinhamento de toda a equipa são o segredo por trás dessa capacidade. Por outro lado, a empresa dá a máxima importância ao produto. Segmentadas no casual chick, num design apurado e no difícil casamento entre qualidade e conforto, as propostas da Blackspider, ou mais propriamente da sua marca Cristina Barros, não sentiram as dores da produção massificada nem da produção de luxo. Com os extremos do segmento do vestuário a passar grandes dificuldades, o posicionamento da marca revelou-se impermeável às piores consequências da pandemia global. Devidamente focada na modernidade, a empresa assume preocupações na área da sustentabilidade e recorre aos melhores materiais para cumprir as regras que se impôs. O mercado, que cada vez mais incorpora este tipo de preocupações, agradece. A empresa assume ainda como ‘bandeira’ o facto de toda a sua produção ser 100% nacional. Com a estratégia de negócio devidamente alinhada, chegou ao momento de crescer para continuar a responder pela qualidade a que habituou os clientes
Principalmente marcas próprias. Depois iniciámos um projeto com o apoio do QREN e decidimos apostar na internacionalização. A partir daí, foi um dos focos principais da empresa. O primeiro passo foi a criação da empresa em Espanha?
Não, já a tínhamos lançado antes, há uns três a quatro anos. Como foi a gestão das marcas?
Começámos com a Blackspider e só mais tarde lançámos a marca Cristina Barros. Como foi a experiência da internacionalização?
Em 2012 Portugal ainda estava a sofrer os efeitos da recessão profunda de 2008 e a empresa sentiu que a resposta era alargar os horizontes. Sabíamos que teríamos procura se trabalhassemos bem. Quais foram os primeiros mercados de expansão?
França, Reino Unido e Polónia. E neste momento quais são os principais mercados?
Continua a ser a França. A que acrescentámos a Irlanda – que estamos a trabalhar muito bem – a Alemanha e os Estados Unidos, onde estamos há três coleções atrás [cerca de um ano e meio].
Sentiu algum confinamento da economia norte-americana nestes quatro anos de Donald Trump na presidência?
Não sentimos. Não sei se tem a ver com o tipo de produto que oferecemos. Nos Estados Unidos dão muito valor à moda europeia – e acredito que seja também por aí. Há uma grande procura do made in Europe e da qualidade e design que lhe estão associados. Cada vez mais, o made in Portugal é um ponto muito forte para as empresas, é sinónimo de qualidade... Quando sentiu essa espécie de salto em frente?
A partir de 2016, o made in Portugal passou a ser um valor acrescentado. Estamos a trabalhar muito bem esse facto. Suponho que isso fica a dever-se à globalidade do setor e aos seus diversos agentes.
Não só do setor mas também do país como um todo, da economia portuguesa. Estamos a apostar muito na marca Portugal. E não só no turismo: nos têxteis, no agroalimentar, cada vez mais Portugal é sinónimo de qualidade. Costuma dizer-se que uma das dificuldades das empresas portuguesas é a criação de marcas. A Blackspider está aí para demonstrar com contrário?
Onde estão as geografias de crescimento da empresa?
Sim...
Estamos a trabalhar o Canadá. Vamos começar com um showroom, o segundo. Achamos que tem potencial: o mercado é semelhante ao dos Estados Unidos e como tivemos sucesso lá parece-nos uma boa hipótese. Já temos clientes do Canadá, que estão a
Qual é o segredo?
Não sei... Calha bem, porque assim a concorrência não o replica…
Era capaz de dizer que não tem nada a ver com o nome, terá a ver com a qualidade e com o serviço.
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Perdeu-se um músico, ganhou-se um gestor Chegou a pensar numa carreira na área da música (toca contrabaixo), mas as matemáticas acabaram por o desviar para coisas mais mensuráveis e para o IPCA, onde concluiu o curso de Contabilidade – o que lhe permitiu também escapar à tendência familiar de entrar num seminário. Marco Costa, que nasceu em Famalicão há 34 anos – e prevê casar-se em breve – já tinha muitas horas de trabalho quando, em 2012, entrou na Blackspider: foi relações públicas e trabalhou num bar (o Tipografia) enquanto estudava, e talvez por isso, quando encontrou um trabalho mais ‘sério’, estava suficientemente apetrechado para, em pouco tempo, acrescentar a liderança financeira ao controlo da área comercial. Para além da música, acabou por dar pouco relevo a uma possível carreira de futebolista “para que tinha um certo jeito”. Mas do que gosta mesmo é de viajar – não consegue esquecer uma viajem pela Costa Amalfitana (sul de Itália), onde assegura que regressará – o que fez com que se tornasse fluente em inglês, francês e espanhol (pelo menos). E não consegue esquecer também os dois gatos e os dois cães, que representam outro dos seus grandes amores: os animais.
Somos muito procurados pelo nosso serviço. Há um factor muito significativo: temos clientes com 20 anos, compraram a primeira vez e nunca mais deixaram de comprar. Isso é sinónimo de muita coisa: não só de qualidade do produto, mas também da qualidade do serviço. Um dos segredos é a nossa equipa, muito unida e muito qualificada. Quais são as mais valias do serviço?
O atendimento ao cliente, que é um fator muito importante. Cumprir prazos de produção e de entrega, a capacidade de repetir, tudo isso é muito importante. Posso garantir que há poucas empresas que conseguem fazer o que nós fazemos. Parte comercial, armazém, distribuição, departamento de atendimento ao cliente – está tudo alinhado e conseguimos cumprir todos os objetivos. E o que diferencia o produto?
É 100% feito em Portugal, trabalhamos materiais nobres e primamos pelo design – que posso caraterizar como inovador. O feedback que temos dos nossos clientes é que é difícil terem uma peça bonita e ao mesmo tempo confortável. É isso que nós conseguimos: dar conforto e design. E a coleção é transversal em termos etários – sendo um produto para um segmento médio-alto, que se inscreve no casual-chick. O segmento menos afetado pela pandemia?
Exatamente, mantiveram poder de compra. As empresas com produtos mais dedicados a eventos sofreram mais. Ainda mantêm o private label?
Temos algumas solicitações de private label, mas maioritariamente fazemos as nossas marcas. O peso do private label é residual. Uma das formas de aumentar o negócio são as feiras. Qual foi o impacto da sua suspensão um pouco por todo o mundo?
Ainda estamos a absorver esse
"Somos procurados pelo produto, mas também pela qualidade do serviço" golpe da suspensão das feiras – e nós fazemos muitas feiras, foi sempre importante para a marca. Desde que fazemos feiras que a percentagem das exportações aumentou bastante e foram essenciais para fazermos a filtragem dos mercados. Mas a pandemia não nos fez parar: ainda há pouco fizemos uma digressão por França – visitando clientes, fazendo novos contactos – e por Espanha. Não podemos parar, mesmo não havendo feiras. Há mercados mais complicados, claro – numa fase em que estávamos em expansão nos Estados Unidos, foi complicado gerir o confinamento – mas não paramos: já estamos a preparar o envio das novas coleções para o showroom, uma vez que temos lá recursos humanos na área comercial. O MODTISSIMO foi uma das primeiras feiras ‘desconfinadas’. Correu bem?
Muito bem. A parte do digital e a comunicação terá sido melhorada, o que permitiu o sucesso. A qualidade dos visitantes foi muito elevada – foi uma das melhores, se não mesmo a melhor edição do MODTISSIMO onde estivemos, em termos de negócios. Houve menos contactos, mas a percentagem de contactos de que resultaram negócios foi muito elevada. As vendas online são atrativas para a empresa?
Vamos ter uma área reservada para os nossos clientes, mas a política da empresa é não ter vendas diretas no online. Quer dizer que lojas físicas
também não estão no vosso horizonte?
Não, as vendas diretas são para os nossos clientes. A nossa política é não lhes fazer concorrência e eles valorizam muito isso. Estamos, ao contrário, a pensar fazer uma experiência nos marketplaces.
As perguntas de
Acha que a resposta do Governo à pandemia foi a adequada?
Penso que sim. Qualquer que fosse o Governo, teria feito mais ou menos o que foi feito. Houve atrasos nas medidas, mas é difícil julgar porque ninguém estava preparado para a situação. Mas acho que, nesta fase, o Governo devia ser mais pragmático. As empresas precisam de ação, tudo tem de acontecer rapidamente. Para uma empresa, uma diferença de uma semana pode ser o limite entre a subrevivência e a falência. O Governo devia chegar mais rapidamente à economia. Nesse particular, é também importante o grau de entrosamento entre o Governo e as associações empresariais. Considera que o setor têxtil está, do ponto de vista associativo, bem representado?
O setor têxtil está muito bem representado. Por experiência própria, podemos dizer que a ação no terreno das associações tornou possível o crescimento da marca nacional, desde logo no exterior. Por exemplo, quando iniciámos a internacionalização foi fulcral o apoio da Associação Selectiva Moda. E o trabalho em torno da pandemia e dos apoios está a ser bem feito. Temos plena confiança na nossa representação. Como vê o futuro do sector?
Normalmente é no fim das crises que se conseguem dar passos importantes. Há uma oportunidade para as empresas portuguesas – que sempre tiveram capacidade. A competição pelo preço, que teve sempre um peso muito grande, neste momento parece estar a ser substiuído por outros fatores que podem ser um benefício para os têxteis nacionais. t
António Dinis CEO da Dilina Têxteis
Cândido Correia CEO da Givec
Com a experiência da pandemia, como perspetivam o futuro das feiras nos próximos tempos?
De que forma o cancelamento de feiras tem afetado os negócios da Cristina Barros?
Sentimos que as feiras estão a ficar mais fortes e que estão a reinventar-se. Vão sair mais fortes da crise da Covid-19, até porque é nos tempos de crise que as pessoas conseguem inovar e encontrar formas de superar as dificuldades. Como acredito que acontecerá com as empresas, as feiras vão sair mais fortes do embate com a pandemia.
Para nós as feiras são extremamente importantes para a promoção da marca e principalmente abertura de novos clientes e o cancelamento das feiras veio quebrar o ritmo de crescimento em alguns mercados e influenciou negativamente a confiança dos compradores. Conseguimos minimizar as quebras através dos nossos showrooms, mas aguardamos que as feiras voltem rapidamente.
Porque trocaram o nome Blackspider para Cristina Barros?
Tínhamos coleções de homem e senhora e decidimos focarmo-nos mais no segmento feminino. Pareceu-nos que Blackspider não era um nome tão atrativo para esse segmento. E descobrimos que afinal, no estrangeiro, um nome português é que vende. Se calhar mais que um nome em inglês, que nos mercados de língua estrangeira não é estrangeiro. t
A aposta orientada para a mulher ativa é para manter ou estão a pensar diversificar para outros segmentos de mercado?
As nossas coleções são sempre focadas na mulher, independentemente das várias fases da sua vida, sendo que a mulher ativa valoriza mais as nossas peças intemporais que são capazes de manter uma contemporaneidade. Daí que não temos pretensões de diversificar para outros segmentos de mercado. t
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ENCONTRÁMOS AS MÁSCARAS MAIS FASHION DO MODTISSIMO
NEONYT ABRE OS BRAÇOS AO PRIVATE LABEL, TECIDOS E MALHAS A feira de moda sustentável Neonyt vai inaugurar na próxima edição um espaço para confecionadores e produtores de matérias-primas. Com a nova Sourcing Area, a feira, agendada para os dias 19 a 21 de Janeiro em formato digital, torna-se mais vertical e passa a reunir empresas de tecidos, malhas e confeção, que apostem na produção responsável. “A pandemia aprofundou a importância da sustentabilidade e acelerou a procura por materiais amigos do ambiente. Na nova Sourcing Area os produtores terão a garantia que apenas vão encontrar fornecedores certificados em termos de sustentabilidade”, explica a organização da feira, na apresentação da próxima edição.
"Em março, o automóvel parou por completo e foi a área da saúde que nos permitiu continuar a trabalhar" Rui Lopes Administrador da Trim MW
JOVENS CRIADORES SOBEM À PASSERELLE EM BRAGA "A máscara que levei ao MODTISSO é muito bonita, mas estas são fantásticas”, revelou Alice Sampaio, que conquistou o segundo lugar
É um novo acessório de moda e, como tal, fez parte dos coordenados que passaram pela última edição do MODTISSIMO. Encontrar a máscara social mais fashion foi o desafio lançado pelo T Jornal e pela Associação Selectiva Moda aos expositores e visitantes do salão têxtil nacional. A criatividade das máscaras, assim como a quantidade de pessoas que aderiram à iniciativa, superou todas as expetativas. Lúcia Gomes foi a grande vencedora do concurso, seguindo-se Alice Sampaio, em segundo lugar, e Hernani Santos, a fechar o pódio. Diz a expressão popular que “a necessidade aguça o engenho” e foi essa a premissa para lançar o desafio d'“A Máscara mais fashion do MODTISSIMO”, uma iniciativa conjunta da Associação Selectiva Moda e do T Jornal para premiar a criatividade associada ao novo e obrigatório acessório de moda. Contas feitas, foram mais de uma centena as pessoas que aderiram a esta iniciativa, deixando-se fotografar no corner disponível junto ao balção do T Jornal, localizado num dos corredores centrais do piso térreo da Alfândega do Porto. A quantidade de fotografados, bem como a criatividade apresentada – com máscaras de padrões coloridos, apliques de lantejoulas e até símbolos nacionais – levou o júri a
selecionar não um mas três premiados. “A qualidade e a criatividade das máscaras sociais que foram fotografadas e o grande número de pessoas que se quis associar e se deixou fotografar fez com que atribuíssemos não apenas um prémio como incialmente previsto, mas três”, justifica o diretor do T, Manuel Serrão. A vencedora, Lúcia Gomes usou uma máscara social de padrões geométricos marcados por uma palete de verdes e de rosas em contraste com o guarda-roupa negro. A máscara de Alice Sampaio, que consquistou o segundo lugar, era inspirada nos lenços dos namorados, enquanto o terceiro lugar de Hernani Santos exibiu uma máscara de padrão abstrato marcada pela irreverência cromática. Os distinguidos foram premiados com duas máscaras sociais desenvolvidas pela designer Katty Xiomara, sendo que o T Jornal viajou até às instalações da Blomati by Carvema, em Barcelos, onde a segunda premiada trabalha na área de marketing para lhe entregar em mãos o prémio. “A máscara que levei ao MODTISSO é muito bonita, mas estas são fantásticas”, disse entusiasmada Alice Sampaio. Algumas das máscaras sociais fotografadas podem ser ainda apreciadas nas redes sociais do T Jornal. t
O Hotel Vila Galé Braga recebeu este ano o desfile de finalistas do concurso Jovens Criadores, uma iniciativa da Câmara Municipal este ano alargada aos jovens designers de todo o distrito. Tendo como novidade também a votação online, o concurso Jovens Criadores, que já vai na sua quarta edição, tem o objetivo de encontrar talentos emergentes na área da moda. Das inscrições – que estiveram abertas durante o verão a candidatos entre os 18 e os 30 anos – foram apurados dez finalistas, que desfilaram perante uma audiência composta apenas pelo júri e uma série de convidados.
26 milhões
de pares de meias por ano é a produção da CM Socks
FILEIRA TÊXTIL RECEBIDA PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
MÖM(E) NOMEADA PARA OS JUNIOR DESIGN AWARDS A Möm(e) é a única marca portuguesa que consta da shortlist da Junior Design Awards, uma distinção atribuída pela revista britânica Junior Design às melhores marcas infantis cujo resultado é conhecido em Novembro. Selecionada na categoria de “eco-brand” a marca de moda infantil sustentável portuguesa diz que esta nomeação representa já um grande orgulho e reconhecimento.
“Tenho apenas pena que a nossa primeira distinção tenha vindo de fora do meu país. É um grande reconhecimento do nosso trabalho e da nossa dedicação”, admite Inês Camaño Garcia, mentora e designer da Möm(e). O orgulho de pertencer à shorlist dos Junior Design Awards, que distinguem também projetos em áreas como lifestyle, viagens, alimentação ou mobiliário, estava também bem visível no
stand da Möm(e) no MODTISSIMO. “Decidimos trazer o selo e incluir no nosso stand porque estamos de factos orgulhosos”, explica a designer. Apesar da pandemia, a Möm(e) tem conseguido consolidar a sua marca no mundo. Exemplo disso é a recente expansão para mais lojas nos Estados Unidos da América e Reino Unido, bem como a entrada em Taiwan, Hong-Kong e Canadá. t
O Presidente da República recebeu as associações da indústria têxtil e vestuário nacionais em audiência no Palácio de Belém, ocasião em que os presidentes das quatro entidades empresariais se preocuparam em sensibilizar Marcelo Rebelo de Sousa para as medidas, já implementadas e a implementar em breve, de apoio ao aumento da resiliência do setor face às circunstâncias impostas pela crise sanitária. Mário Jorge Machado, presidente da ATP, disse ao T Jornal que o encontro serviu também para sensibilizar o Presidente da República para a necessidade de novas medidas de apoio à reindustrialização e de suporte à economia circular e à green economy.
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X DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes
+351
Largo dos Lóios, 64 4050-338
Ano de abertura 2020 Produtos Roupa de homem e mulher made in Portugal Estilo Casual e streetwear Outras lojas Para além das lojas próprias, a marca +351 é vendida na The Feeting Room, São Lourenço do Barrocal, Casa Mãe, AlQuatro e Papua Market Outros mercados Está presente em Itália, França, Espanha, México e Japão
ATP LANÇA PROJETO REGENERAR O SETOR: GANHAR O FUTURO O projeto Regenerar o Setor: Ganhar o Futuro é o novo foco da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, e tem como objetivo capacitar o tecido empresarial, em particular as pequenas e médias empresas, para dar resposta às tendências que definirão o setor nos próximos anos ao nível da inovação. “Este projeto surge num contexto de incerteza gerado pela crise pandémica, que determinará adaptações através da tecnologia, criatividade, digitalização, aplicando novos canais de comunicação e de realização de trocas, da sustentabilidade, tocando as vertentes económica, financeira e estratégica”, refere a associação liderada por Mário Jorge Machado.
"As pessoas querem voltar à normalidade, tocar no produto, conversar cara à cara" John Gomes Commercial Sales na Modelmalhas
A maré trouxe-a para Norte Apesar de ser de Lisboa, Ana Penha e Costa, a fundadora e designer da marca de roupa portuguesa +351, nunca escondeu a sua ligação ao Norte. Afinal, eram as mãos das costureiras desta região que traziam à vida as peças que ela idealizava e desenhava para compor as coleções da marca, que fundou em 2014. Foi com grande naturalidade, portanto, que quando decidiu abrir uma loja fora da região de Lisboa tivesse pensado imediatamente no Porto. Nas duas lojas de Lisboa, uma no Chiado e outra no Cais do Sodré, tudo corria às mil maravilhas e Ana, aventureira por natureza – antes de se dedicar aos estudos em Design de Moda, foi uma adepta fervorosa do surf, tendo chegado a vencer algumas competições nacionais –, decidiu que estava na altura de rumar á Invicta. “Percebi logo que o passo seguinte era abrir uma loja no Porto, porque adoro a cidade e as pessoas. A cidade está muito ligada à área têxtil, portanto queríamos apostar forte e ganhar novos clientes no Norte do país”, revelou ao T a mentora da +351, que escolheu a zona dos Lóios, mesmo no coração da Baixa e a dois passos dos Aliados e da Estação de Santo Bento, para assentar arraiais. “É uma das zonas de comércio mais interessantes do Porto e como já vendíamos numa loja no largo, sabíamos que seria uma boa aposta”, conta a proprietária. O primeiro semestre de 2020 foi a data apontada para a inauguração e estava tudo a correr em ve-
locidade de cruzeiro quando a chegada da pandemia paralisou o país por completo. Coube a Ana, que pela sua experiência com o mar há muito aprendeu que há mais marés que marinheiros, não se deixar paralisar também e avançar para a frente com o projeto. “A loja já estava praticamente pronta e portanto decidimos, mesmo com tudo a acontecer, arriscar e inaugurar”, revela Ana Penha e Costa, que abriu as portas da nova casa dos Lóios no dia 8 de Julho. A simplicidade do design e da decoração do espaço foi pensada precisamente para que as peças sejam o foco de todas as atenções. Os raillings metálicos iluminados por focos de luz irão receber, à semelhança do que acontece nas outras lojas da marca, duas coleções anuais mas, para não deixar os clientes muito tempo à espera de novidades, a marca vai lançando pontualmente ao longo do ano múltiplas capsule collections, em colaboração com vários artistas. E se a pandemia, como não podia deixar de ser, está a causar algum impacto no negócio, a verdade é que está também a criar novas oportunidades para a +351. “Curiosamente, com a pandemia os portugueses começaram a estar mais despertos e a dar valor a negócios locais. Sentimos uma enorme mudança e neste momento temos muitos clientes portugueses. Os restantes são estrangeiros, muitos que estão a viver para Portugal e, claro, os turistas”, conta Ana, a prova viva de que para chegar a bom porto, o melhor a fazer é mesmo deixarmo-nos ir com a maré. t
ITMF MELHORA PREVISÕES DE FATURAÇÃO PARA 2020
FIBRENAMICS E INOVA VÃO CRIAR FIBRAS A PARTIR DO LEITE
A quinta sondagem da International Textile Manufacturers Federation sobre as perspetivas de negócio do setor revelou uma forte melhoria em relação ao estudo anterior. A pesquisa permite concluir que os empresários antecipam uma queda do volume de negócios de 16% – apenas metade dos 32% que era a previsão de junho deste ano (a quarta sondagem ITMF).
A plataforma Fibrenamics e o INOVA - Instituto de Inovação Tecnológica dos Açores acabam de apresentar um projeto de investigação aplicada que visa desenvolver uma fibra da caseína a partir do leite os Açores. O projeto Milkfibre vai desenvolver processos para a obtenção e funcionalização da fibra do leite, com aplicação nas áreas têxtil, alimentar e da saúde.
74%
foi o crescimento homólogo das receitas da Farfetch no segundo trimestre de 2020
MORETEXTILE DISTRIBUIU MÁSCARAS NAS ESCOLAS
A MoreTextile distribuiu máscaras reutilizáveis pelas escolas do ensino básico das freguesias onde estão localizadas as três unidades fabris do Grupo: Pevidém, Moreira de Cónegos e Roriz. Desenhadas e produzidas pelas equipas internas, as máscaras da linha Cotton Care, feitas em 100% algodão e certificadas para 30 lavagens que puseram um sorriso no rosto – embora a máscara não o deixe ver – das crianças presenteadas.
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X O MEU PRODUTO Por: António Moreira Gonçalves
IP Vest
Desenvolvido em consócio pela Scoop, Viatel, CITEVE e CeNTI
O que é? Vestuário profissional inteligente e com proteção multirrisco, dotado de estruturas têxteis avançadas e de sensores biométricos Para que serve? Proteção de profissionais na área das telecomunicações ou energia, sobretudo em trabalhos de exterior e em altura, mas pode ser adaptado a outras áreas da indústria Estado do projeto? Prototipagem e desenvolvimento do produto
UNIFARDAS RENOVA FÁBRICA COM PROJETO DE MEIO MILHÃO DE EUROS Para a Unifardas, a aposta no sector da saúde vai para além da Covid-19. Depois da adaptação nos primeiros meses da epidemia, a empresa de workwear da Maia tem agora em curso um projecto na ordem dos 470 mil euros, que prevê a aquisição de novas máquinas de corte, a atualização do sistema informático e um aumento de área, numa renovação que visa a separação de fluxos, garantindo o isolamento dos produtos para área da saúde.
2,7 mil
milhões de euros é o valor do mercado mundial de têxteis inteligentes esperado em 2024
IMPORTAÇÃO DE MÁSCARAS ULTRAPASSA OS 14 MIL MILHÕES NA UE Apesar da aposta dos fabricantes europeus – e nomeadamente portugueses – boa parte das máscaras usadas pelos europeus continua a chegar-lhes por via da importação. No primeiro semestre a UE importou mais de 14 mil milhões de euros em máscaras e 92% daquele valor seguiu para a China. Ou seja, nove em cada dez máscaras compradas pela UE são de origem chinesa, segundo revelam dados do Eurostat, a agência europeia de estatísticas. Os produtores europeus – e nomeadamente a ATP – têm feito chegar aos seus governos alertas para que a EU pondere legislar uma espécie de discriminação positiva da produção europeia.
O novo fato-gadget da Scoop Fatos inteligentes, capazes de prever e reagir a uma ameaça, são bem conhecidos do imaginário de Hollywood. De James Bond à Guerra das Estrelas não há protagonista que dispense o trunfo na manga que é ter a tecnologia vestida. É esta a filosofia que inspira também o mais recente projeto da têxtil Scoop, o IP Vest, uma nova geração de workwear que ao integrar electrónica promete aumentar os níveis de segurança dos técnicos que trabalham em antenas de telecomunicações ou torres elétricas. “Estamos a falar de um fato com proteção multirrisco, protege contra o vento, chuva, calor, frio, riscos elétricos, exposição a químicos e contra a chama, para além de aumentar a visibilidade”, explica Raquel Carvalho, engenheira têxtil e Senior Project Manager na Scoop. O projeto, que está a ser desenvolvido desde junho de 2018, surgiu quando a empresa, em conversa com o CITEVE, percebeu que havia a necessidade de criar um equipamento de proteção individual para a área das energias. “Existem muitas soluções de workwear, mas nenhuma desenhada especificamente para estes profissionais que têm um trabalho com caraterísticas muito distintas”, esclarece. Para conhecer a real experiência de trabalho destes profissionais, o consórcio conta com a participação, para além da Scoop, CITEVE e CeNTI, da empresa de telecomunicações Viatel, que serve como caso de estudo para a aplicação dos desenvolvimentos. “Para nós é importante ter a participação do utilizador final, e estamos a desenvolver o fato com os contributos que a Viatel nos dá, mas a ideia será criar algo que seja adaptável a vários ramos da área das telecomunicações e energias de
média e alta tensão”, explica Raquel Carvalho. O fato está, assim, a ser desenvolvido tendo em conta a realidade desses técnicos. “Por exemplo, quando falamos em trabalhos em altura significa que os técnicos utilizam um arnês de segurança, e o fato tem de se adaptar em termos de ergonomia, para que os bolsos se mantenham úteis e os técnicos tenham a maior liberdade de movimentos e o maior conforto possível”, destaca a representante da Scoop. Mas para além das estruturas têxteis e do design, o IP Vest traz também a electrónica à equação. O fato conta com um sistema electrónico integrado, que através de uma rede de sensores deteta ameaças externas e presta atenção aos sinais emitidos pelo próprio utilizador. “Tem sensores biométricos e sensores de medição da radiação electromagnética e da humidade. Por exemplo, se a temperatura corporal e a taxa de esforço cardio-respiratória ultrapassarem determinados valores, o sistema envia um alerta para o trabalhador e para o responsável da equipa”, explica Ana Barros, investigadora do CITEVE. O projeto está ainda em fase de prototipagem, com os primeiros materiais e modelos a serem testados. O objetivo será que os técnicos de telecomunicações da Viatel sejam os primeiros a utilizar este fato, mas depois a peça será certificada e comercializada como um equipamento de proteção para vários setores. Desde o início que a empresa têxtil de Famalicão tem um logo para o IP Vest, mas está ainda a estudar qual a abordagem aos mercados. Até porque o projeto de inovação e desenvolvimento está ainda a meio do percurso e as versões finais são apenas esperadas para novembro do próximo ano. t
"Queremos mostrar que é possível e economicamente viável trabalhar de forma 100% rastreável" Reinaldo Moreira General Manager da Springkode
ALEXANDRA MOURA DESENHA COLEÇÃO PARA A MOCHE
Alexandra Moura desenhou a estreia da Moche no mundo da moda. Depois da arte, gaming, música, skate e surf, o segmento jovem da Altice Portugal posiciona-se no mundo da moda com uma coleção “fora da caixa”. As peças desenhadas por Alexandra Moura têm um conceito casual, confortável e unissexo. “Tendo como premissa a escolha por materiais amigos do ambiente, a aposta na produção nacional e a escolha de fornecedores com produção responsável, a coleção de moda da Moche conta com uma linha de básicos e uma cápsula de lançamento”, anuncia a operadora. As peças têm a particularidade de incorporarem um cartão SIM da Moche nas etiquetas.
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quality impact arquitetura e soluções de espaços
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PROJETO COSTUME DÁ A VOLTA À FORMAÇÃO PROFISSIONAL O projeto europeu CosTUmE, um consórcio internacional com parceiros de Portugal, Espanha e Roménia, concluiu dois anos de estudo e reflexão sobre as formas de promover a cooperação entre a indústria e a formação profissional. As conclusões apontam para um novo ‘Perfil para o Profissional de Confeção’ que responda às exigências do mercado e que ajude a minimizar os desajustes entre a realidade e a educação. Foi ainda desenvolvido um guia que responde a todas as dúvidas sobre como organizar uma experiência internacional e beneficiar dela, bem como um mapa interativo para explorar a rede de apoiantes CosTUmE que estão disponíveis a acolher processos de mobilidade.
SELEÇÕES PROTEGEM-SE COM A ADALBERTO
Foi já com as máscaras MOxAd-Tech que os futebolistas da seleção nacional entraram para a concentração para os jogos com Espanha França e Suécia. “Mais uma prova da excelência Adalberto: a Federação Portuguesa de Futebol opta pelas nossas máscaras para ‘equipar’ os seus atletas”, orgulha-se a empresa num post do seu Facebook, onde igualmente dava conta de que as máscaras são usadas pelos jogadores nos estágios e competições das 22 seleções nacionais, masculinas e femininas , de futebol de onze, futsal e futebol de praia. t
GARLAND LEVA TÊXTEIS ATÉ À DINAMARCA A Garland Transport Solutions, empresa de transportes do Grupo Garland, arrancou em outubro com um novo serviço direto de e para a Dinamarca que está especialmente direcionado para as exportações de têxteis e calçado. Para o desenvolvimento desta linha a empresa portuguesa conta com o agente turco Evolog como parceiro internacional, que envolve a sucursal da Evolog na Dinamarca, localizada em Herning, onde está instalado o principal centro têxtil do país escandinavo. A Garland passou assim a dispor de um serviço direto com saídas às quintas e sextas-feiras e chegadas às terças e quartas-feiras. A distribuição de mercadorias nos principais pontos industriais dinamarqueses é assegurada em 24 horas. A aposta neste mercado resulta de uma oportunidade estratégica detetada pela Garland Transport Solutions, já que o novo agente dispõe de clientes na
Turquia e na Dinamarca que importam têxteis de Portugal. Além disso, com a pandemia de Covid-19, a Garland antecipa uma transferência das encomendas deste tipo de produto do Oriente para Portugal. Segundo a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, a Dinamarca ocupa uma posição com alguma relevância no contexto do comércio externo português. No ano passado, o país posicionou-se como 20o cliente de Portugal (quota de 0,72% do total) e como 27o fornecedor (quota de 0,51%). A balança comercial de bens é favorável ao nosso país, que apresentou um saldo de cerca de 23 milhões de euros em 2019. A estrutura das exportações é constituída fundamentalmente pelo vestuário e calçado, para além dos veículos e outro material de transporte. Já as do lado das importações surgem destacados os produtos químicos (32,8% do total em 2019). t
"Agora mais do que nunca, as empresas precisam de apoio ao investimento" Sérgio Neto CEO da Petratex
ITECHSTYLE AWARDS JÁ SELECIONOU OS 13 PRIMEIROS FINALISTAS Estão escolhidos os 13 primeiros finalistas da próxima edição dos iTehStyle Awards nas suas quatro categorias – produtos, tecidos, acessórios e sustentabilidade – numa seleção que contou com dezenas de propostas, todas elas elegendo a inovação e a sustentabilidade como ‘forma de vida’. São três produtos (Trotinete, P&R Têxteis e Adalberto), três tecidos (Tearfil, RDD e Lurdes Sampaio), três acessórios (Louropel, Inovafil e Lipaco) e quatro soluções de sustentabilidade (Pé de Chumbo, Troficolor, Tintex e A. Sampaio) que entram no grupo de finalistas.
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dos europeus querem comprar peças feitas com materiais mais ecológicos
ENTUSIASMO É O TOM DA LION OF PORCHES PARA ESTE OUTONO-INVERNO
SOMELOS CRIOU APLICAÇÃO DIGITAL PARA FINTAR A PANDEMIA Somelos Digi é o nome da aplicação digital criada pelo grupo Somelos para manter a proximidade com os mais de 2 mil clientes que a cada estação contactam a produtora de tecidos. “Fomos os primeiros a nível mundial a apresentar uma coleção para camisaria homem, senhora e criança através de uma aplicação digital própria e adequada às necessidades deste mercado”, disse Paulo Melo, administrador do grupo. Foi logo nos primeiros meses da pandemia que a Somelos criou esta plataforma de raiz, de forma
a manter o contacto com os clientes num momento em que as viagens internacionais e as principais feiras têxteis ficaram interditas. “Começamos em julho deste ano a apresentar as nossas coleções através desta aplicação 100% digital, mas a pandemia apenas antecipou um trabalho que iriamos fazer num futuro próximo”, explica Paulo Melo. Através da Somelos Digi, os clientes da empresa – a plataforma é de acesso restrito e exclusiva a profissionais – têm acesso a uma experiência digital completa. “As
visitas são organizadas pela equipa, programadas com o cliente, recria-se o processo do comercial mostrar a coleção, de ouvir e responder aos pedidos em tempo real e a partir dos nossos escritórios para qualquer ponto do globo”, descreve o administrador. Logo de início, a Somelos apresenta um vídeo criado especificamente para o efeito com a sua história e os princípios que a definem. Depois, o cliente não tem apenas acesso ao catálogo, mas a um atendimento personalizado pela equipa comercial. t
É com muita cor, padrões arrojados e um grande entusiasmo por tudo o que está para vir que a Lion of Porches avançou para o outono-inverno 20/21 com uma coleção que quer ser um antídoto contra os tempos difíceis e incertos que estamos a viver. Os trench-coats de linhas simples e as parkas, as saias compridas e as camisas estruturadas, em cores arrojadas como o verde alface ou padrões com animais em tons de vermelho e preto são as peças chave, que podem ser combinadas com jeans e as camisolas básicas.
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M EMERGENTE Benedita Formosinho Designer de moda Família Vive com os pais e os irmãos mais novos, Salomé e Francisco Formação Licenciada em Design de Moda pela faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Casa Apartamento em Setúbal Carro Não tem. Usa o dos pais quando precisa Hobbie A marca própria roubou-lhe tempo, mas quer regressar em breve ao ballet, leitura e meditação Portátil “Não sei bem, é um computador básico, mas o sistema operativo é Windows” Telemóvel iPhone X Regra de ouro “Ser autêntica e manter-me fiel aos meus princípios”
Benedita Formosinho inspira-se nas origens Era na casa do Alentejo, que recorda com a nostalgia própria de quem viu a infância dissipar-se como um sopro fazem ainda poucos anos, que Benedita Formosinho, 26 anos, dava largas à sua imaginação. Folhas e lápis de cor atrás, lá estava ela, tímida e aparentemente serena, a desenhar. O jardim, taças e outros objetos. Primeiro. Corpos humanos e roupas. Depois. “Os meus avós são os meus maiores fãs. Elogiavam sempre muito os meus desenhos e a verdade é que desde sempre soube que o meu caminho estaria ligado às artes. É, e sempre foi, uma forma de relaxamento para mim”, conta a mentora e designer da marca própria de moda feminina a que emprestou o nome. Os rabiscos infantis rapidamente deram lugar a muitas outras formas de expressão artística – como o ballet, o desenho ou a escrita criativa– que Benedita encarou como pistas que lhe indicariam o caminho profissional. “Rapidamente soube que me iria formar em design. Estive bastante indecisa entre design de produto ou design de moda, mas acabei por optar pela segunda e não estou nada arrependida. É aqui que quero estar”, afirma peremtória a jovem empreendedora que diz ter contado sempre com o apoio dos pais e irmãos com quem partilha desde sempre casa em Setúbal. “A minha mãe foi uma das grandes impulsionadoras da minha marca porque, apesar de ser bióloga, sempre gostou de arte e sempre respeitou muito as minhas vontades. Nunca senti pressão para escolher outra área, muito pelo contrário. A minha família apoia-me a 100%”, relata emocionada Benedita, que atualmente partilha o trabalho no atelier com a sua mãe, que abandonou a carreira na área das ciências para apoiar a filha. Ainda antes de criar a marca Benedita Formosinho, estagiou no atelier do designer Ricardo Preto e experimentou trabalhar em teatro como figurinista. “O estágio foi importantíssimo para mim. Foi lá que pus em prática toda a teoria que aprendi na faculdade. Aprendi a fazer um pouco de tudo e daí nasceu a ideia de criar uma marca própria”. 2018 foi um ano chave na vida de Benedita que, depois de ter desenvolvido alguns acessórios em parceria com a Burel Factory como hobbie, decidiu lançar a marca própria de moda feminina coincidente com a sua forma de estar na vida. “Foi em Maio que decidi dedicar-me a 100% e fazer acontecer a Benedita Formosinho: uma marca de peças intemporais e estilo minimalista. São peças que não cansam e de uma excelente qualidade, para que durem muito tempo”. Para além do design clean, a marca Benedita Formosinho recorre também a matérias-primas naturais e à confeção nacional de alta qualidade. “Inicialmente eu e a minha mãe confecionávamos as peças à mão, neste momento temos outros apoios mas a confeção continua a ser uma prioridade para mim. As minhas peças são para durar”, remata. E se é verdade que durante os primeiros anos trabalhou muito com pouco retorno, verdade também é que o último ano e meio ficou marcado por uma “reviravolta na marca”, como a própria define. “De repente surgiu a oportunidade de abrir um espaço na Embaixada no Príncipe Real. Eu não estava à procura de nada... tinha e tenho o meu atelier aqui em Setúbal onde moro desde sempre. Mas não se desperdiça uma oportunidade e por isso em setembro abri um espaço no Príncipe Real”, conta Benedita que este ano participou também pela primeira vez na Moda Lisboa. “Foi incrível! É um reconhecimento muito importante do meu trabalho”, congratula-se a jovem designer que confessa também estar a precisar de “abrandar”. “Aparentemente sou uma pessoa calma mas, por dentro, estou sempre a mil. Este último ano tem sido a loucura e sinto que preciso de abrandar, de encontrar espaço para mim. Esse espaço é também muito importante para o processo criativo da marca”, explica. As origens, que Bendita tanto preserva, servem de inspiração tanto para as novas peças – que conjugam os tons neutros a uma palete de terracota –, como as coleção anterior. “Não faz sentido falar de uma nova coleção, mas de fusão de coleção. Peças novas que entram e outras que se mantêm, como as mantas alentejanas. Não só porque a marca é nova mas também por um princípio de sustentabilidade”, diz a designer que se inspira nas suas origens. t
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a MUNDO VERDE
dos consumidores europeus estão dispostos a pagar mais por peças mais ecológicas
Carlos Azevedo Responsável da área comercial da Troficolor
ATP LANÇA PROJETO SUSTAINABLE FASHION FROM PORTUGAL ‘Sustainable Fashion From Portugal’ é o nome do projeto da ATP, que ao longo dos próximos dois anos vai promover a indústria portuguesa nos mercados externos. Com o lema ‘Fashion Industry’s New Chic’, a associação quer afirmar Portugal como centro de inovação e excelência também nas áreas da produção responsável e da economia circular. O projeto surge no âmbito das ações Fashion From Portugal, que ao longo dos últimos anos têm promovido a indústria portuguesa nos mercados internacionais. Desta vez, no centro dos holofotes estão os têxteis sustentáveis, com a ATP focada em promover o trabalho feito pelas empresas nacionais na redução da pegada ecológica. A digitalização dos processos, a redução do desperdício e a aposta crescente em fibras recicladas são alguns dos exemplos que a associação quer divulgar. “A ITV Portuguesa posiciona-se na vanguarda
SONAE SUBSCREVE EUROPEAN GREEN DEAL A presidente executiva da Sonae, Cláudia Azevedo, é uma das subscritoras do Pacto Ecológico Europeu, uma iniciativa do Fórum Económico Mundial que reúne presidentes executivos de 30 multinacionais em defesa um novo modelo de crescimento europeu. Empresas da área têxtil como a Salsa, Zippy ou Mo integram o universo Sonae e o documento aponta para um novo modelo de crescimento baseado na circularidade, nas energias renováveis e nas indústrias de baixo carbono, uma necessidade que a pandemia Covid-19 veio acelerar.
WHO’S NEXT: MODA LUSA SUSTENTÁVEL EM PARIS O Showcase Sustainable Fashion exibiu exemplos de produtos sustentáveis made in Portugal
da mudança no mundo da moda. Neste momento assistimos a uma nova era que tem como base a sustentabilidade e a tecnologia”, explicou a ATP na apresentação do projeto vocacionado para incidir sobretudo em mercados onde a sustentabilidade é já vista como um critério de exigência por parte dos consumidores. Tradicionalmente, os países do centro e norte da Europa são vistos como áreas onde as marcas e consumidores mais valori-
zam a produção responsável. O projeto Sustainable Fashion From Portugal: Fashion Indústry’s New Chic decorrerá ao longo de 2 anos e terá um investimento estimado de cerca de 740 mil euros, tendo sido cofinanciando pelos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento (FEEI), enquadrados no POCI (Programa Operacional da Competitividade e Internacionalização), no Portugal 2020 e COMPETE 2020. t
PAGE MAGAZINE ATENTA À MODA SUSTENTÁVEL FROM PORTUGAL A Page Magazine dedicou um extenso texto ao MODTISSIMO 56, que afirma ser o ponto de encontro dos tecidos e da moda “com foco ético e sustentável”. A revista especializada em moda sustentável que é editada a partir de Nova Iorque destaca designes, marcas e emresas como Tintex Textile, Cork-A-Tex, Marita Mo-
"Mais de 50% das marcas já procuram tecidos orgânicos ou reciclados"
reno, Sensify, Nazareth Collection, Daniela Pais, Katty Xiomara, Luís Buchinho, Miguel Vieira e TexBion, mum extenso artigo profusamente documentado por fotos. Chamando a atenção para o facto de “os desfiles da semana de moda terem sido cancelados devido à crise sanitária”, o texto assinala que “o iTechStyle exibia os
designs inovadores de marcas e da estética da moda. Manequins vestidos com roupas completas e designs de conceito feitos de tecidos e processos sustentáveis saúdam os compradores”, enfatizando ainda que “todas as marcas presentes no MODTISSIMO possuem elementos relacionados com a sustentabilidade”. t
Foi com uma presença conjunta de marcas e criadores que o From Portugal se apresentou em mais uma edição da Who’s Next, nos primeiros dias de outubro. No Jardim das Tulherias, bem no coração de Paris, a moda portuguesa quis vincar a sua posição na linha da frente da produção responsável com a participação de Marita Moreno, Luís Buchinho, Pé de Chumbo, Cristina Barros, Concreto, Mr. Mood, Sensify, B Simple e Elementum.
"Próximos financiamentos da EU serão com base na economia circular, sustentabilidade e boas práticas" Ana Tavares Fundadora da We Sustain
A TRANSPARÊNCIA ESTÁ NO ADN DA ISTO É uma marca portuguesa de moda masculina e feminina que para além de utilizar apenas matérias primas sustentáveis, promete elevar a transparência da produção a outro nível. A ISTO chegou ao mercado em 2017 pela mão de três jovens que, sem qualquer formação em moda, criaram uma marca de roupa cujo nome é acrónimo das palavras Independente, Soberbo, Transparente e Orgânico.
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B SERVIÇOS ESPECIALIZADOS Por: António Moreira Gonçalves
Alfândega do Porto Congress Center Rua Nova da Alfândega 4050-430 Porto
O que faz? Recebe e apoia a organização de eventos Área 36 mil m2, divididos por 22 espaços Fundação O edifício data de 1869 mas só em 1992 assume as atuais funções Serviços Salas equipadas com cabines de tradução, cobertura Wi-Fi em todo o edifício, 400 lugares de estacionamento e acesso fluvial Capacidade Congressos até 3 mil pessoas, jantares até 1700 e exposições até 10 mil m2 Colaboradores 29 Prémios Melhor Centro de Congressos da Europa em 2014, 2015 e 2017, pela Business Destinations Travel Awards
HINDU CRIA ACABAMENTO QUE IMPEDE TRANSMISSÃO DA COVID-19 A empresa Hindu – Tecnical Textiles anunciou o lançamento no mercado de “uma solução antiviral que inativa o novo Coronavírus em poucos minutos”. Trata-se de um acabamento que utiliza a mais avançada tecnologia química aplicada no acabamento de malhas, tecidos e TNT, explica a empresa de Famalicão. Denominado Protect By Hindu, “este acabamento inovador poderá ser utilizado em máscaras, luvas de proteção, batas e todo o tipo de vestuário e apresenta ainda uma eficácia comprovada após várias lavagens”, refere a nota da empresa, acrescentando que é “capaz de inibir até 99,9% de vírus e bactérias, incluindo o novo Coronavírus”.
"O negócio das máscaras foi um extra, o nosso trabalho em vestuário manteve-se e nunca tivemos necessidade de recorrer ao lay-off" Armindo Pimenta Machado Fundador da Arpitex
BRANDS FOR GOOD: MARCAS SUSTENTÁVEIS TÊM LOJA NO PORTO Sustentável, 100% Made in Portugal e uma prova de empreendedorismo no feminino. É assim a Brands for Good, a nova concept store do Centro Comercial Bombarda, inaugurada pela mão de cinco marcas portuguesas: B Simple, Elleanor, Maria Maleta, Maaris e Zouri. As várias marcas apresentam diferentes abordagens à questão ambiental, passando pelo upcycling, pela apresentação de modelos que podem ser utilizados como diferentes peças ao longo do ano, ou pelo comércio justo e controlo de stocks, para evitar a produção de excedentes.
O Salão Nobre do Porto nunca fecha as portas à Moda O edifício é uma das referências da cidade do Porto. “Quando falamos na Alfândega, nunca é preciso explicar onde é”, lembra Gouveia Santos, diretor-executivo do Centro de Congressos da Alfândega do Porto. Com a sua enorme frente para o Douro e mais de 150 anos de história, a Alfândega é hoje um monumento-vivo que continua a servir a região como espaço para exposições, concertos e conferências. Eleito por várias vezes como o melhor Centro de Congressos da Europa, reafirma também a sua relação com a moda portuguesa ao acolher o salão MODTISSIMO ou o Portugal Fashion. “São eventos que têm já uma história de vários anos connosco, e que se tornaram referências na região e no país. É um motivo de orgulho para nós fazermos parte também dessa história”, afirma o diretor-executivo. Ao longo dos últimos anos, os salões da Alfândega do Porto tornaram-se numa das casas permanentes do MODTISSIMO, servindo de epicentro a toda a Porto Fashion Week. Também o Portugal Fashion realiza lá habitualmente grande parte dos seus desfiles. A primeira razão que transforma a Alfândega num espaço de eleição para a organização de eventos é fácil de explicar: “Não é o maior centro de congressos que existe, mas é porventura o que tem mais encanto, o que tem mais glamour, numa cidade única e junto a um casario que hoje tem o brilho recuperado depois de vários anos de requalificação”, resume Gouveia Santos. Localizado nos limites da área classificada como Património Mun-
dial da Unesco, o edifício da Alfândega surge imponente na margem do rio, como um símbolo do crescimento da cidade no século XIX. Construído em 1869, serviu durante décadas como alfândega, até grande parte dos seus serviços terem sido deslocados. Em 1992 reabriu portas como Centro de Congressos, depois de um projecto de requalificação desenhado pelo arquitecto Souto Moura. Às caraterísticas do edifício – que conta com 36 mil m2, divididos por 22 espaços multifunções – somam-se hoje quase 30 anos de experiência no acolhimento e na organização de eventos. Pelos corredores da Alfândega já passaram a Cimeira Ibero-Americana e a Presidência da União Europeia, para além de um sem-número de congressos e conferências profissionais, exposições culturais e até eventos políticos ou desportivos, como o Red Bull Air Race ou a Maratona do Porto. A agenda, habitualmente em overbooking, foi este ano abalada pela pandemia. Se nos primeiros meses a realização de eventos era impossível, a Alfândega dá agora passos firmes para promover a confiança dos seus parceiros. Dois dos primeiros eventos realizados nesta rentreé foram o MODTISSIMO, dias 23 e 24 de setembro e o Portugal Fashion, de 15 a 17 de outubro. “É importante neste momento reafirmar a ligação da Alfândega a esse lado cultural, criativo. Há um casamento perfeito entre o espaço e estes eventos”, relembra Gouveia Santos, mostrando que a Alfândega do Porto nunca fecha as portas à indústria têxtil e da moda. t
214 milhões
de euros foi o lucro líquido da Inditex no segundo trimestre deste ano
JPG E IC JÁ VENDERAM MAIS DE UM MILHÃO DE MÁSCARAS
Foi logo em março, quando a pandemia tomou Portugal de assalto, que a João Pereira Guimarães, especializada na produção de malha ketten em fibras artificiais, se uniu à confeção Island Cosmos para produzir uma máscara reutilizável, sustentável e democrática. Seis meses passados e com mais de um milhão de máscaras vendidas, todas para o mercado português, o futuro parece ser continuar a apostar neste segmento de negócio, que permitiu à empresa manter-se economicamente viável em tempos de Covid-19.
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OPINIÃO A NOVA ANORMALIDADE José Guimarães Vice-Presidente da ATP
O SETOR TÊXTIL, A SUSTENTABILIDADE E A PANDEMIA Alexandra Araújo Pinho Vogal da Direção da ATP
Confrontados com o perturbador e praticamente incontrolável crescimento epidemiológico, a nossa expetativa de retoma sanitária e económica induz-nos legítimas preocupações e eventual ansiedade. As dificuldades e desafios decorrentes da nova anormalidade exigem-nos ajustados planos de ação, caraterizando e implementando processos dinamizadores e inovadores adequados à nossa atividade têxtil, aportando as melhores práticas e valorizando os recursos humanos. Nos últimos 40 anos o setor têxtil foi confrontado com estigmas e avaliações que exigiram, algumas vezes, vigorosa intervenção de ousados e esclarecidos protagonistas empresariais. Na década de 80, referenciado como setor desqualificado e desinteressante, a partir do momento da nossa adesão à CEE em 1986, o setor, felizmente, reagiu de forma positiva, modernizou-se, assumindo um inegável esforço de passagem da rotina para a criatividade, do pessimismo para a esperança, exteriorizando capacidade inovadora e empreendedora. Mais tarde, em 1994, o relatório realizado pelo Prof. Michael Porter, por iniciativa do ministro Mira Amaral, promoveu sustentada e assertiva mais valia dos setores considerados tradicionais, possibilitando uma valorização relevante da existência do setor têxtil na economia nacional. Esta perceção potenciou o seu crescimento com implicação significativa na qualificação dos trabalhadores, no crescimento das exportações e no desenvolvimento tecnológico. No início do século, novas inquietações setoriais
É sabido que o setor pelo qual temos tanto carinho, o setor têxtil, há muitos anos que se encontra debaixo de fogo no que concerne ao impacto ambiental que causa. De facto, se considerarmos os dados disponibilizados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), são desperdiçadas cerca de 200 mil toneladas de artigos têxteis por ano, o que nos coloca no segundo lugar das indústrias mais poluentes. Estes números não só soam, como são realmente assustadores, desafiando a nossa indústria a deixar de extrair matéria-prima e mais reciclar os despojos que já existem. Em Portugal trabalhamos essencialmente para as marcas globais, as quais produzem os seus produtos em todos os continentes, por conseguinte uma das maiores preocupações atuais prende-se com a redução da pegada ecológica. A guerra é antiga, mas as batalhas são diárias, bifurcadas entre o custo final e a preservação do ambiente. O titubeio das marcas é gritante face à fatura de ter um artigo mais sustentável e que tantas e tantas vezes se traduz num braço de ferro entre
surgiram com a formação da UE e das alterações na Organização Mundial do Comércio, com impacto desafiante na livre circulação de mercadorias, enfrentando consequentemente a desleal concorrência de países terceiros, em função de práticas injustas por abusivas e/ou desrespeitosas social e ambientalmente. Posteriormente com a crise de 2008 a 2013, novas adversidades determinaram o apelo à capacidade de gerir os riscos intrínsecos, de agir com rapidez e inteligência definindo com competência as prioridades de ação. Obviamente que nem todas as empresas conseguiram superar com viabilidade o momento, em resultado, provavelmente, da situação de dependência financeira, de estruturalmente obsoletas e da consequente incapacidade competitiva. Nos tempos recentes, as nossas vidas sociais e empresariais alteraram-se significativamente. O vírus desconhecido está a testar, ao limite, as nossas capacidades. Esta nova anormalidade, exigiria, nomeadamente do Governo, através do Orçamento 2021, medidas objetivas de incentivo e estímulo para a atividade empresarial, revelando inequívoca solidariedade para com o tecido empresarial, como aconteceu durante a 1ª vaga pandémica, que agora negligenciou e desconsiderou na Proposta de Lei em referência, infelizmente! Apesar desta flagrante insolidariedade, continuamos determinados a superar os obstáculos que nos confrontam permanentemente e a resistir às frequentes adversidades intrínsecas à atividade empresarial, honrando as diversas resiliências experienciadas, para ultrapassar com sucesso a nova anormalidade.t
equipas de design e departamentos financeiros. E o vencedor deste duelo? Pois bem, quase sempre o preço. Pese embora esta eterna contenda, a progressiva e incessante preocupação do impacto ambiental no nosso planeta dos materiais utilizados, de toda a cadeia produtiva e deste incessante escrutínio à nossa indústria, aproximou-nos de uma capacidade de resposta não só diferenciadora como também eficaz. O nosso país faz parte de uma espécie de quadro de excelência no que diz respeito a uma produção responsável e sustentável. Somos um exemplo na redução da pegada ecológica na produção dos nossos artigos têxteis. A adoção de políticas sustentáveis, já não se confina ao pilar ambiental, como acabou por se estender ao pilar económico e social. Nos dias que correm, há uma pergunta que nos assola e que não quer calar: Terá esta pandemia, que parou a economia mundial, relegado a sustentabilidade para segundo plano, priorizando a procura de soluções céleres? Não! Definitivamente não! De uma obri-
gação à solução! A pandemia acabou por colocar a sustentabilidade em primeiro plano. A elevada procura e escassez dos artigos ao nível dos EPIs habituais, descartáveis - os ditos não sustentáveis - conduziu a que mais uma vez o nosso sector se reinventasse, e a solução passou pela sustentabilidade. De artigos de utilização única, com elevada carga ambiental ao nível dos desperdícios, para artigos com uma “vida” útil mais alargada, que permitem reutilizações, acionando uma cadeia de valor mais competitiva e eco-friendly. Todos nós temos hoje mais do que ontem consciência que o “barato sai caro”, quer nas repercussões económicas quer nas ambientais, fruto das nossas escolhas. A nossa indústria veio relançar a forma como o consumidor vê o produto sustentável, não na perspetiva de ser mais caro, mas na perspetiva de ser a solução atual que protege as gerações futuras. Nestas teias de incerteza e expetativa não nos é fácil tecer o futuro, mas como diz o nosso poeta: “O mercado quer, a indústria sonha e a obra nasce”. t
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Carla Joana Silva Diretora do Departamento de Química e Biotecnologia do CITEVE
Mónica Neto Project Manager do Portugal Fashion
É TEMPO DE BIOECONOMIA
PANDEMIA NO AR E UM PORTUGAL FASHION COM OS PÉS NO CHÃO
Vivemos tempos conturbados, de grandes incertezas e dúvidas, mas também repletos de oportunidades para repensar o que fazemos e para encontrar formas diferentes para o fazer. É tempo de utilizar a inteligência coletiva para redesenhar o nosso modo de trabalhar, promovendo a circularidade dos materiais e processos e usando a natureza como fonte de inspiração. A Europa, e Portugal em particular, definiram uma série de objetivos e metas a atingir em 2050, nomeadamente o comprometimento com a redução das suas emissões de gases com efeito de estufa, por forma a que o balanço entre as emissões e as remoções da atmosfera seja nulo em 2050. Ora, para poder alcançar este objetivo ambicioso da neutralidade carbónica, é essencial promover alterações à nossa economia atual linear, baseada em recursos fósseis, e, portanto, dependente do fornecimento limitado de recursos não renováveis do planeta, como o petróleo e o carvão. É tempo para a Bioeconomia, uma economia baseada na produção de recursos biológicos renováveis e na sua conversão em produtos de valor acrescentado. É tempo para a indústria têxtil se renovar, aproveitando todas as oportunidades existentes para a introdução de recursos biológicos renováveis nos seus produtos, de forma circular. Uma dessas oportunidades surge no contexto da atual pandemia e na certeza de que o uso generalizado de máscaras, juntamente com as medidas de distanciamento social e higienização das mãos, será fundamental no combate à mesma. De facto, diversos estudos recentes apresentam evidências científicas de que a utilização generalizada de máscaras por toda a população reduz significativamente a transmissão do vírus e a sua virulência. Um estudo em particular (https://link.springer.com/ article/10.1007%2Fs11606-020-06067-8) apresenta a hipótese de que o uso de máscara reduz o inóculo ou carga viral para o utilizador, levando a manifestações assintomáticas ou menos severas da infeção para o próprio, enquanto previne a transmissão das partículas virais de indivíduos assintomáticos para os que o rodeiam. Assim, os autores concluem que na ausência de uma vacina ou cura para a COVID-19, o uso de máscaras comunitárias será talvez a ferramenta mais importante no combate à pandemia. E, neste contexto, surge uma oportunidade para o setor têxtil: o fornecimento de máscaras comunitárias reutilizáveis, produzidas com fibras naturais ou obtidas de fontes renováveis, em detrimento das máscaras descartáveis, produzidas à base de polipropileno, um polímero derivado do petróleo e que pode persistir no meio ambiente por centenas de anos. Cabe-nos, enquanto consumidores conscientes, privilegiar no dia-a-dia a utilização de máscaras comunitárias de base têxtil reutilizáveis, para ajudar a controlar o grande flagelo ambiental das máscaras faciais descartáveis, que perdurará por diversas gerações. Assim, estaremos todos também a dar um passo do sentido da Bioeconomia. t
Fazer um Portugal Fashion em altura de pandemia foi um desafio. Aliás, pensar num Portugal Fashion em tempo de pandemia já foi, por si só, um desafio. O que fazer, como fazer, com que rede e com que certeza?! Depois da edição de março ter sido cancelada ao fim do primeiro dia o fantasma do cancelamento manteve-se sempre. Faria sentido ser tudo digital ou um híbrido entre o digital e o físico? Quantas pessoas poderiam assistir? Fazemos desfiles no exterior? E se a meteorologia não ajudar, que opções temos? Decidimos criar uma televisão digital, que pudesse transmitir todos os momentos criados para os três dias. Não só os desfiles, mas também as conversas, os bastidores, e tudo o que se passa durante o Portugal Fashion. Foram 25 horas de uma emissão inédita em direto contínuo. Fechamos o evento ao público profissional, imprensa, buyers, players da indústria, parceiros setoriais, e criamos o nosso próprio plano de contingência, com o apoio do Dr. Ricardo Mexia, que foi o nosso coordenador. Fizemos figas e tudo aconteceu de forma natural, como precisávamos que fosse. Por nós e pelos designers e marcas que tanto trabalham para mostrar as suas artes ao mundo. Decidimos “criar” vários espaços exteriores para que fosse possível realizar os desfiles com o distanciamento e a circulação de ar necessária. Foi por essa razão que fizemos dois desfiles no parque de estacionamento da Alfândega - Maria Gambina e Hugo Costa -, no Cais, junto ao rio (Estelita Mendonça, Luís Onofre e Alves/Gonçalves) e no pátio interior, que é ao ar livre, onde decorreram os desfiles do Bloom, a nossa plataforma de novos designers. Apostamos ainda em apresentações híbridas, que tinham como base vídeos previamente gravados. As coleções de Katty Xiomara, Inês Torcato e do Concurso Bloom powered by Sonae Fashion foram apresentadas numa sala de vídeo preparada exclusivamente para o efeito. Também os vídeos das recentes participações digitais de Alexandra Moura, David Catalán e Miguel Vieira, na Semana de Moda de Milão, e da dupla Ernest W. Baker, na fashion week de Paris, tiveram na Alfândega do Porto novas dinâmicas de apresentação. Durante os três dias de Portugal Fashion houve sempre bastante atenção à forma como os números da pandemia iam evoluindo, esperando que os aumentos e as novas restrições anunciadas pelo Governo, nas vésperas, não nos obrigassem a cancelar. Talvez tenha sido mais “pesado” e cansativo ter que gerir essa expectativa do que propriamente o trabalho que o evento deu durante os dias em que decorreu. No final houve um sentimento de dever cumprido. Uma felicidade enorme por sabermos que conseguimos fazer o que é o nosso propósito e o nosso objetivo: dar voz, corpo e imagem aos nossos designers e à nossa indústria. Porque o Portugal Fashion existe por eles e para eles. Somado a isso, a última edição do Portugal Fashion foi um exemplo de como é possível fazer acontecer “as coisas” mesmo nos tempos mais difíceis. Se tivermos por base a segurança de todos e se pensarmos fora da caixa. Há sempre opções se nos deixarem sonhar. É nas alturas mais complicadas que a união entre todos faz ainda mais sentido. t
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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara
Para que a dança não fique manca para o lado do desporto-rei, o presidente da Liga de Portuguesa de Futebol precisa de elevar a voz ao nível do rosnar dos motores da Fórmula 1. Proença quer o público de regresso aos estádios e Katty Xiomara oferece-lhe um fato de corrida em rosa luminoso, para que possa dar nas vistas e assim fazer ouvir a sua voz junto dos responsáveis pela dança das decisões. Com pitão d’ouro, Pedro vai de carrinho!
Pedro Proença pronto para a corrida Depois da festa ter ido avante, não poderíamos deixar de pedir conselhos ao dirigente do PCP que tão bem soube executar o seu plano das festas, ou melhor, o seu plano de esperança na luta pelo futuro, como ele mesmo o apelidou. Contra tudo e todos, ninguém conseguiu calar a voz do povo que com Jerónimo gritou – a luta continua! A luta perante o medo e a resignação. Falamos muito do novo normal, consequência inevitável desta acutilante pandemia, mas diversas são as demonstrações públicas que provam que o seu significado não é universal, demorando em fixar os seus parâmetros. Neste processo, a dita nova normalidade oferece-nos uma panóplia de sabores ambíguos, deixando que alguns poucos indivíduos se deleitem com o doce sabor da vitória, enquanto outros ficam com um desagradável amargo de boca. O motivo é óbvio, o novo normal está a ser constituído ao ritmo do efeito pandémico… E lá vamos nós tentar acompanhar a dança, mas a música parece filtrada por membranas distintas e, enquanto uns dançam uma calma balada a pés juntos, outros são obrigados a dançar um solo no centro da pista. O presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional tem manifestado o seu desagrado com esta dualidade de critérios. Proença enaltece o bom comportamento dos adeptos e compara as danças: percebemos que entre a cultura e o desporto existem de facto algumas diferenças comportamentais, mas quando comparamos bólides e bola…? Neste campo o paralelismo é óbvio, mas a dança é manca no lado do futebol. Mesmo apostando no alarido das redes sociais Pedro Proença não tem conseguido fazer eco nas entidades decisoras. Pareceu-nos por isso mais do que necessário dotar o Presidente da Liga com melhores ferramentas, pelo menos no que toca à sua imagem, para o ajudar a dar nas vistas e assim, conseguir elevar a sua voz ao nível do rosnar dos motores da Fórmula 1. Sabemos que o ex-árbitro internacional de futebol está habituado ao charme que um uniforme emana, usamos por isso esta linha de pensamento, embora retorcendo-a um pouco. Assim, vestimos Proença com um poderoso fato de corrida, num rosa luminoso que celebra a sensibilidade que o futebol pode ter, quando quer. Nestes preparos, Proença prepara-se para fazer uma espetacular entrada de carrinho a pés juntos com os seus pitons de ouro velho! t
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O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão
Restaurante Julinha Rua Dr. Avelino Moreira Padrão, 1771 4785-605 Bougado Santiago Trofa
NÃO HÁ BACALHAU COMO O DA JULINHA Roubei este título ao meu amigo e ilustre colaborador do T, José Augusto Moreira. Foi ele que numa anterior visita a este restaurante de referência da Trofa destacou esta ideia na crónica que então escreveu para a revista Fugas do jornal Público. O José Augusto é uma raposa velha do jornalismo dos prazeres e dos sabores portugueses e por isso também lhe fui roubar com a vénia devida esta subtil esperteza de falar de um bacalhau especial sem ter que dizer que é o melhor que já comeu. Se repararmos bem (e na minha recente visita foi exatamente o que senti) escrever que não há bacalhau como o da Julinha quer dizer é que a Julinha tem um bacalhau diferente de todos os outros. Em bom rigor, até podia ser diferente por ser pior, ou diferente para melhor, mas na verdade é por fazer a diferença que o destaque chegou ao título. Aliás, são os próprios anfitriões que com uma humildade notável
QUANTO MAIS SE BEBE MAIS APETECE
se apressam a dizer que o bacalhau da Julinha é antes de mais um bacalhau à moda de Braga. Só quando ele aterra na mesa confinado numa travessa à medida, imponente, ainda que quase tímido, meio escondido na cebola e na batata, é que nós percebemos que nunca comemos outro igual. O tamanho aqui conta e muito, mas a maneira como o conseguem confitar como um todo também ajuda a fazer a diferença. Há que esclarecer que há mais Julinha além do bacalhau. Outros pratos ficaram para segundas núpcias, mas o cabritinho, o cozido e a vitela prometem. Quem tem um bacalhau como a Julinha, seguramente que também agradará e surpreenderá em outros pratos. Finalmente, com a sobremesa chegou-me mais um dúvida quase cartesiana: como é que depois do bacalhau da Julinha, ainda houve quem fosse capaz de lhe comer a mousse de chocolate. Uma gula rematada. t
GIVEC / VINHO VERDE BRANCO Inteiramente dedicada à moda feminina, a Givec divide o seu portfólio em três marcas – Kalisson, Le Cabestan e Bagoraz – mas reserva o nome próprio para o rótulo das garrafas de Vinho Verde. A marca é uma espécie de passatempo para Cândido Correia, que gosta sobretudo de apreciar o vinho com os amigos, clientes ou fornecedores. “Quanto mais se bebe mais apetece”, diz o CEO da Givec, que acha mesmo que a colheita de 2019 (esta última ainda não chegou à garrafa) está particularmente afinada. Com as típicas características de aroma, frescura e sabor frutado dos Vinhos Verdes, o vinho da Givec tem por base casta Loureiro, a que junta também Trajadura e Arinto, ou Pedernã como se lhe chama também no Minho. Foi há cerca de uma década que Cândido se apaixonou pela produção de Vinho Verde. Comprou a Quinta do Monte Real, em Rio Covo Santa Eulália, nos arredores de Barcelos, e ao cultivo da vinha junta também o gosto pela colheita de produtos mais saborosos, saudáveis e biológicos. A par do branco, engarrafa também um tinto, da casta vinhão, cumprindo a tradição minhota de ter também um vinho próprio para acompanhar as inevitáveis patuscadas com lampreias e galos de cabidela. Quem não gosta?
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c MALMEQUER Por: Cláudia Azevedo Lopes
Odete Santos, 38 anos, é licenciada em Gestão pela Universidade Católica, e desde 2005 trabalha na têxtil que os pais criaram há 35 anos. Atualmente encarregue da gestão da empresa, na companhia do irmão Nuno, criou em 2014 a marca Cotton Brothers, que para lá da presença em todo o país, já chegou também a outros países europeus e aos Estados Unidos da América. Adepta do rir sempre e muito, gosta de viajar mundo fora, se possível acompanhada do marido e dos filhos, que são a sua grande prioridade
SOUVENIR
INSEPARÁVEL DO FATO DE TREINO VERDE
Gosta
Não gosta
Transparência Domingos de chuva Adormecer no sofá a ver um filme com os meus filhos e marido Montar legos com o meu filho Viajar muito Jantar com amigos sem horários Café sem açúcar Férias em família Esquiar Jogar voleibol Silêncio Rir muito Fazer rir os outros Dormir Dançar Tranquilidade Simplicidade Tolerância Pessoas educadas e simpáticas Ouvir musica no carro Fazer os outros felizes Ser agradável Aprender com os outros Fazer desporto Festas populares Concertos e festivais de verão Cerveja fresquinha Cajus Sapatilhas e roupa confortável Conduzir moto 4 Trabalhar com o irmão Conhecer pessoas de outros países Pessoas sensíveis Eficácia Humildade Igualdade Decoração nórdica Água Pão e aperitivos Séries e filmes baseados em factos reais Carnaval festas temáticas Conduzir Organização
Vírus e pandemias Histerismos Pessoas antipáticas Sardinhas Fruta muito madura Ratos Confusão Pessoas mal-educadas e insensíveis Ver pessoas a maltratar outras Injustiças Estatutos sociais Sentir frio Mentiras e esquemas Falar em público Chamar atenção a alguém Chegar atrasada Comida picante Cozinhar diariamente Filmes de terror Viagens longas no lado do passageiro Exposição nas redes sociais Notícias falsas Filas trânsito Incertezas Cobardia e falsidade Cheiro de cachimbo e cigarrilhas Piercings Pés frios Roupa ou calçado apertados Discussões Chegar atrasada Perder o controlo Burocracias Fanatismos Pessoas que não aceitam críticas Ansiedade e preocupação Que tratem mal os mais velhos, frágeis ou tímidos Que julguem os outros Falta de sentido de humor
Há coisas que a gente não tem mesmo como explicar. Então a paixão de um portista por um fato de treino verde é um daqueles enigmas que não consigo desvendar. O certo é que o usei durante quase toda a minha juventude de forma completamente apaixonada. Era quase como uma farda, a minha imagem de marca. Um farol para os meus amigos, que muitas vezes desesperavam com os atrasos para os jogos nos torneios de voleibol na praia de Espinho. Não havia ainda telemóveis e o sinal surgia quando vislumbravam um ponto verde por entre a multidão. Tanto que ainda hoje há histórias para contar sempre que me cruzo com os colegas desse tempo. Até em cerimónias oficiais já brincaram comigo por causa desse fato de treino verde. Podia falar da toga de advogado que herdei do meu pai ou da capa da faculdade, peças com muito significado e pelas quais tenho grande estima, mas o fato de treino verde colou-se à minha imagem e continua a ser motivo de conversa e chacota entre os meus amigos. Todos gozam comigo! Até a minha mulher, que o guardou e zelosamente conserva para mostrar sempre que vêm à baila essas histórias do tempo de juventude. E até já o vestiu ao nosso filho mais velho, que tem agora uma fisionomia idêntica. É, de facto, um modelo histórico. Não só pelo brilho da cor verde, mas também pelas riscas azul e branca com que é rematado e a destacadas letras com o nome da marca Kappa inscritas ao longo das mangas. Mas há mesmo coisas que não se conseguem explicar, e por isso todos gozam comigo por aquele meu amor pelo verde. t Luís Montenegro
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