T62 - Março/Abril 2021

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MARIA DE BELÉM MACHADO CEO Tearfil Textile Yarns

“ESTAMOS FOCADOS NA SUSTENTABILIDADE E NO DESPERDÍCIO ZERO”

DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS

FOTOS: RUI APOLINÁRIO

P. 20 A 22

EMPRESA

PERGUNTA DO MÊS

A GIVACHOICE TEM TRIO MARAVILHA NA ALTA-COSTURA

AS FÁBRICAS CONTINUAM VOLTADAS PARA A PRODUÇÃO DE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO? P4E5

P 14

EMERGENTE

TERESA SILVA SONHA LEVAR AO MUNDO O LUXO DA SUA VIDDA ROYALLE P 31

RENOVAÇÃO

MARCAS

RIOPELE INVESTIU 1,5 MILHÕES PARA ABRIR UM NOVO CENTRO LOGÍSTICO

RUFO - O LUXO EM LINHO TEM UM NOVO BERÇO EM GUIMARÃES

P 24

P 18

DOIS CAFÉS E A CONTA

INTERNACIONALIZAÇÃO

OPINIÃO

A CIRCULARIDADE ESTÁ NA MANEIRA DE SER DE PATRÍCIA FERREIRA

AS GRANDES FEIRAS REGRESSAM AO MODELO PRESENCIAL

"A NOSSA ITV ESTÁ PRONTA PARA RESPONDER AOS DESAFIOS PÓS-COVID"

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LUÍS MIRA AMARAL P 35


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CORTE&COSTURA

EDITORIAL

Por: Júlio Magalhães

Por: Manuel Serrão

Vasco Oliveira 33 anos Sócio da Skulk, a marca de urban wear que aposta no conforto e sustentabilidade, Vasco adora o convívio fraterno das feiras, onde faz sempre boas amizades - “principalmente no MODTISSIMO, onde aparece gente jovem, empresas novas e ideias diferentes”. A par das brincadeiras com os filhotes – Inês, 8 anos, e Rodrigo, 3 – tem no ténis e nas motos outras grandes motivações. É por entre a natureza que se sente como peixe na água, e a paixão motoqueira leva-o por esses caminhos

BACK TO (THE CORE) BUSINESS Missão cumprida, eis-nos back to business . Melhor dizendo back to the core business . Depois de cumprida a missão em estado de emergência de acudir à necessidade de produção de máscaras e outros artefactos dessa área, a maioria das nossas empresas têxteis e de vestuário já se voltou a concentrar no seu negócio habitual. Na nossa pergunta do mês conseguimos ir ao encontro dessas duas boas notícias. Por um lado a ITV soube responder mais uma vez a uma emergência nacional, por outro lado conseguiu mostrar a sua capacidade de resiliência, voltando a estar a postos no momento em que os ventos da retoma começam a soprar. De qualquer modo, estas notícias boas não escondem que ainda não está tudo como dantes. O nosso “quartel-general” não é em Abrantes! É preciso que o nosso governo esteja também a postos para acudir às necessidades das nossas empresas no início da retoma. Ninguém com bom senso pede que se viabilizem empresas que já eram inviáveis antes desta pandemia. Mas todos devemos exigir que as empresas que estavam bem antes possam manter os apoios existentes até que as condições do mercado mundial permitam que voltem a estar bem no póspandemia. t

Como é que a Skulk se está a preparar para a retoma? Somos uns felizardos, pois apesar do panorama caótico, as nossas vendas online dispararam, o que colmatou as perdas nos espaços físicos. Isto veio reforçar o nosso plano já em curso, de maior dinamização do online. Estamos a investir na personalização da experiência, com rapidez nos procedimentos e transparência para os bastidores da marca. Acreditam nas feiras presenciais ou renderam-se ao digital? O futuro passará pela combinação dos dois canais. Uma feira é sempre muito mais do que um stand e as pessoas que nele recebemos. Existe todo o lado das relações humanas, trocas de experiências com os nossos pares e com quem nos visita. Para além de que no nosso setor, o toque é imprescíndivel. Encaramos o digital como um complemento do qual não gostaríamos de abrir mão. Para que países gostavam de exportar futuramente? Neste momento os nossos principais mercados são Espanha e Luxemburgo, onde temos uma presença bastante sólida. Estamos agora a apostar no norte da Europa. Acreditamos

que a nossa aposta na qualidade e respeito pelo ambiente será valorizada pelos consumidores destes países. A tendência da sustentabilidade veio para ficar? Não consideramos a sustentabilidade como uma tendência mas sim uma obrigatoriedade. É possível uma marca respeitar o ambiente e manter a sua viabilidade económica. Todos os dias fazemos esforços neste sentido, desde a seleção de matérias primas até aos detalhes, como a substituição das habituais ponteiras metálicas pelo remate com linha. O nosso grande esforço está na utilização de materiais reciclados e aproveitamento de desperdícios de outros setores, promovendo uma economia circular.

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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Mário Jorge Machado Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030

A imagem da moda portuguesa melhorou nos últimos anos? Qualidade sempre tivemos, mas neste momento e com a democratização do acesso a meios de comunicação, sem dúvida que existe uma evolução positiva na percepção das marcas e criadores nacionais pelo mercado internacional. Ainda temos pela frente um caminho de muito trabalho, mas que, apesar de tudo, nunca nos pareceu tão promissor. t

Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/


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n PERGUNTA DO MÊS Texto: António Moreira Gonçalves Ilustração: Cristina Sampaio

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“É um negócio que já passou. As máscaras tiveram uma importância muito significativa mas agora é tempo de regressar ao negócio tradicional”

“Felizmente fomos tendo sempre atividade no vestuário, a produção de máscaras nunca se tornou o nosso negócio principal”

CAROLINA GUIMARÃES JOÃO PEREIRA GUIMARÃES

JOÃO RUI PEREIRA PAFIL


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“Desde outubro que nos voltámos sobretudo para o nosso negócio tradicional: a moda e os têxteis-lar”

“Fazemos bastante menos, mas é um acessório que se vai manter. As pessoas vão continuar a usar quando vão a um hospital, por exemplo”

“Neste momento já estamos concentrados no nosso core business. Mas com as encomendas suspensas e sem matérias-primas as máscaras foram importantes”

“Há meses que já abandonámos essa produção. Mesmo na altura não foi significativa e agora estamos concentrados nas nossas encomendas”

SUSANA SERRANO ADALBERTO

ANTÓNIO ARCHER CRIVEDI

MÓNICA AFONSO MARJOMOTEX

GONÇALO SERRA BRANDBIAS

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m ano depois da rápida adaptação para dar resposta à necessidade de produção de equipamentos de protecão individual, a indústria têxtil começa a voltar ao ponto de partida, ou seja à produção de tecidos, malhas, vestuário, têxteis técnicos e têxteis-lar. O panorama é outro, e as máscaras tornam-se apenas mais um produto no vasto catálogo da ITV portuguesa. “É um negócio que já passou e já passou há muito tempo. As máscaras tiveram uma importância muito significativa no segundo trimestre de 2020, acima de tudo por compensarem um pouco a grande baixa que existiu no vestuário, mas agora é tempo de regressar ao negócio tradicional”, explica Carolina Guimarães, administradora da João Pereira Guimarães, especializada na produção de malhas. Também na Adalberto a retoma já não é de agora. “Desde outubro que nos voltámos a orientar sobretudo para o nosso negócio tradicional, a moda e os têxteis-lar”, explica a CEO Susana Serrano. A empresa de Santo Tirso – que se notabilizou por lançar no mercado, em parceria com a Sonae, a máscara MOxAd-Tech, a primeira capaz de inativar o vírus – continua a produzir o modelo, mas de uma forma apenas residual. “Tivemos um pico de três meses quando começamos a produção em abril de 2020, depois entre agosto e outubro voltou a aumentar, mas a partir daí foi descendo sempre”, resume a responsável da empresa. Especializada em sportswear e vestuário técnico, a Pafil também há muito que já está de novo totalmente focada no seu negócio habitual. “Tivemos um pico de produção em maio, junho e julho. Foram os nossos melhores meses em termos de máscaras, depois um novo pico em setembro, e desde aí está em queda”, explica o financial manager, João Rui Pereira. Mesmo assim, o negócio das máscaras foi apenas um complemento, “felizmente fomos tendo

AS FÁBRICAS CONTINUAM VOLTADAS PARA A PRODUÇÃO DE MÁSCARAS? As empresas voltam a focar-se na moda, nos têxteis técnicos e nos têxteis-lar, onde se registam sinais de retoma. Para a indústria têxtil, as máscaras são agora um negócio de nicho depois de um ano em que a sua produção fez com que fosse possível evitar uma queda abrupta dos negócios. A resposta rápida foi um exemplo da capacidade de adaptação da ITV, mas agora o negócio das máscaras parece ter esmorecido. Mais cedo que a própria pandemia. sempre atividade no vestuário, nunca se tornou o nosso negócio principal”, completa o gestor. Também para a especialista em roupa de bebé FS Confecções, a moda infantil começa a dar sinais de retoma. “Felizmente os bebés crescem rápido e estão sempre a precisar de novas peças. A retoma das vendas é mais rápida neste tipo de produto”, conta Rodney Duarte, export sales manager. Entre as encomendas de private label e a marca própria FS Baby, a empresa vai sentindo sinais de uma aceleração, pelo que “neste momento continuamos a vender máscaras, mas de forma muito mais pontual”, explica o responsável pelas exportações da empresa. Já no caso da BrandBias nem se trata propriamente de retoma, já que a anormal produção nunca abrandou significativamente. “Trabalhamos sobretudo no sportswear, loungewear, casualwear e os nossos clientes são na maior parte marcas online, que durante a pandemia mantiveram sempre alguma atividade”, explica Gonçalo Serra, diretor-geral empresa. “É certo que produzimos algumas máscaras durante o

ano passado, mas abandonámos essa produção já há alguns meses e estamos concentrados nas nossas encomendas”, esclarece. O problema é agora outro. “Tem havido alguma escassez de fio no mercado, recebemos encomendas até relativamente grandes e é uma chatice não ter matéria-prima para lhes dar resposta”, lamenta Gonçalo Serra. A par da retoma, as máscaras têxteis tornaram-se também menos procuradas. “Houve um burburinho muito grande, que foi iniciado pela Alemanha, anunciando que as mascaras FFP2 seriam mais eficazes em relação à pandemia. Isso foi sendo replicado por vários países, mesmo no nosso governo os ministros começaram a aparecer com essas mascaras. Logo a seguir surgiu um desmentido, mas a situação teve um impacto grande”, afirma António Archer, general manager da têxtil Crivedi. “O boicote às máscaras têxteis por parte de alguns países europeus teve um impacto brutal em termos de consumidor e de imagem pública. A produção de máscaras baixou muito, com os mercados a orientar-se mais pelas soluções

descartáveis”, acrescenta João Rui Pereira, financial manager da Pafil. “Quando a Alemanha falou das máscaras FFP2, o mercado voltou para os descartáveis”, concorda Susana Serrano. Para as empresas têxteis faltou uma estratégia centralizada por parte dos decisores europeus, de forma a proteger a produção local de máscaras e a salientar as vantagens das soluções reutilizáveis. “Existiram muitos avanços e recuos. Primeiro não se deviam usar máscaras, depois já se deviam usar, a determinada altura existiu uma campanha pelas máscaras reutilizáveis, depois começaram a dizer que as máscaras têxteis não eram seguras. Tudo isso criou muitas dúvidas”, refere Mónica Afonso, diretora-geral da Marjomotex. Esta empresa também já está a abandonar a produção de máscaras. “Neste momento já estamos de novo concentrados no nosso core business, a moda e o casualwear”, explica a gestora. Para além da concorrência dos descartáveis, que é determinante – “Há sempre uma tendência para o facilitismo, e regra geral as pessoas preferem as descartáveis a

ter de lavar uma máscara”, relembra Carolina Guimarães – também dentro dos têxteis a concorrência é orientada sobretudo para o preço, um critério que não favorece a ITV portuguesa. “Há alternativas muito baratas no mercado, e se em alguns artigos se valoriza o design, a qualidade ou a personificação, na máscara a maioria opta pelo preço”, esclarece Rodney Duarte. “É um produto que em termos de vendas também não é pensado para muitas repetições, porque o que distingue as máscaras têxteis das descartáveis é a sua durabilidade, a capacidade de ser reutilizável, e então é normal que depois de um pico de encomendas os clientes tenham ainda stock, porque as vendas são mais faseadas”, acrescenta Mónica Afonso. Apesar dos cada vez mais fortes movimentos de retoma na produção têxtil, o fabrico das máscaras parece orientar-se para a estratégia padrão da indústria portuguesa: séries mais pequenas com produtos diferenciados e de valor acrescentado. E enquanto algumas empresas apostaram na tecnologia, como a Adalberto – “os acabamentos antivíricos, antibacterianos e antiodores continuam a ser utilizados para outras peças de vestuário”, exemplifica Susana Serrano –, outras apostam no fator moda. “É um produto que faz parte do nosso portefólio, mas sempre procuramos fazê-la com alguma diferenciação, como complemento às coleções de moda”, explica Mónica Afonso, da Majormotex. Também a Crivedi, que criou a marca-própria Happö, vai continuar a investir neste mercado, porque mesmo sem as quantidades de 2020, a expetativa é que a pandemia tenha desmistificado a utilização da máscara. “Continuamos a fazer máscaras, bastante menos do que fazíamos, mas é um acessório que se vai manter. As pessoas habituaram-se à ideia de que é uma proteção, e provavelmente vão continuar a usar quando vão a um hospital, quando estão numa multidão ou quando chega a altura das gripes”, aponta António Archer. t


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A DOIS CAFÉS & A CONTA Valérius Hub

Rua do Arranjinho, 121 4750-803 Vila Frescainha, Barcelos

Dois cafés tirados na máquina expresso do espaço Valérius 360, onde decorreu a conversa, já que as regas de proteção sanitária mantêm bares e espaços de restauração de portas fechadas

PATRÍCIA FERREIRA

O ar quase juvenil e a figura frágil enganam redondamente. É uma gestora madura, a jovem que se formou em Economia (FEP) e fez graduação em Moda e Design (em Londres), mas que antes se preparou para ser médica e até chegou a andar em Engenharia Biomédica. A complexidade cria lastro e dá calo, dizem! Com a argúcia que lhe é reconhecida, foi o pai que acabou por a reconduzir da saúde para o caminho do grupo têxtil da família. “Há pessoas que também cuidam da saúde das empresas”, sugeriu à estudante que obtinha as melhores notas para chegar a médica. Um desvio que resultou em cheio, concorda Patrícia, que adora viajar e já programou casar e ter filhos a partir do 30. “Está tudo encaminhado”, pois claro!

CIRCULARIDADE COMO UMA MANEIRA DE SER

FOTO: RUI APOLINÁRIO

27 ANOS CEO DO VALÉRIUS HUB

Ligar pessoas, funcionar em equipa, potenciar capacidades, conjugar processos, dinâmica e complementaridade, são conceitos que debita com a mesma naturalidade e fluidez com que respira. A circularidade não é só um conceito de produção, é também um modelo que faz parte da maneira de ser de Patrícia Ferreira. “O mais difícil tem sido encontrar os recursos humanos. Queremos ter equipas dinâmicas, que se complementem e colaborem, com confiança e lógica de grupo”, expõe a jovem gestora para explicar a mecânica que move o Valérius Hub. Uma postura que se torna evidente com a dinâmica fervilhante e o ambiente tú-cá-tu-lá em que se movem os jovens quadros da estrutura. A comunicação e troca de informações são constantes, e a conversa flui enquanto tira os cafés que leva para a mesa alta que está no centro do espaço Valérius 360, cuja arquitetura circular bem simboliza os propósitos do grupo. A visão de futuro é outro dos ingredientes-chave na estratégia de fornecer ao mercado de moda produtos que sejam não só a aplicação perfeita da economia circular, mas também uma componente de qualidade, inovação, serviço e rastreabilidade que permitam ao cliente final uma escolha verdadeiramente responsável. Conjugar todos os fatores a partir da matéria-prima e pensar o design circular são propósitos que estão da essência do Hub. “Temos gente que está apenas con-

centrada em projetar o futuro. Procuramos as melhores pessoas, entregamos-lhes os projetos e esperamos pelos resultados. São 20 a 30 pessoas que trabalham com toda a autonomia, queremos uma visão não só de agora mas também daqui a 10 anos. Isto é uma oportunidade para pessoas e organizações mais novas, com valor e visão de futuro”, vinca a gestora, cujo ar fresco e juventude são verdadeiramente enganadores. Por detrás tem já a experiência de reconversão e recuperação da Érius – uma parte da Valérius, como se vê –, a unidade que o grupo tem em Riba d’Ave, adquirida em 2016 à Filobranca, onde chegou pouco depois. “Foi na Érius que aprendi tudo, do rececionamento da matéria prima até à entrega da mercadoria”. Logo aí a prioridade foi “montar equipas e potenciar as capacidades e qualidades das pessoas”. Começou pela mudança de rotinas a que estavam agarradas aquelas 200 pessoas, esmagadoramente mulheres. “Estavam de pé e sentámo-las, acreditei que podiam fazer mais e melhor”, e, além do empenho, produtividade, vontade e alegria de todas, Patricia ganhou um grupo de amigas. “Quando lá vou é complicado...”. É três anos depois que se junta ao coração do grupo, com a missão criar a articulação com o Valérius Hub: “já está em velocidade de cruzeiro, criamos um interface e equipa de comunicação com clientes, incluindo acompanhamento comercial”. “Somos uma comunidade, uma espé-

cie de academia onde cabem todas as empresas e organizações que comunguem os valores da sustentabilidade, serviço, qualidade e standards ambientais, numa lógica de complementaridade, de serviço de inovação, não de preço”, enuncia, destacando as vantagens em termos de serviços, de fornecimento/abastecimento de matérias primas, certificação e comercialização. Uma espécie de chapéu comum com as equipas focadas em áreas específicas como qualidade, logística, I&T ou speed to market. “Os clientes ficam incrédulos quando respondemos numa hora e damos quatro semanas para entrega”, orgulha-se a líder do Hub de moda, que conjuga tecelagem, confeção, tinturaria, têxtil-lar , e até artigos office, sacos e embalagens. “O objetivo é que o produto chegue ao cliente como um selo de emissões e consumo de carbono, com a medição pormenorizada de cada cor e matéria prima, da origem ao processamento, confeção e embalagem, para que o consumidor final possa fazer uma escolha verdadeiramente consciente”. Outro propósito é que até 2030 todos os produtos possam ostentar o selo carbono zero, assegura a gestora para quem tudo assenta na circularidade do funcionamento em equipa. É que, afinal, isto anda sempre tudo ligado. Até na gestão do grupo Valérius, onde o pai é CEO, a mãe gere o processo produtivo e o irmão assume o projecto 360, tudo articulado com o hub de Patrícia.t


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2. COMO PANO DE FUNDO, UMA NOVA EDIÇÃO DO ITECHSTYLE SHOWCASE, COM MATERIAIS TÊXTEIS, PRODUTOS E ACESSÓRIOS CANDIDATOS AOS PRÉMIOS DA EDIÇÃO 2021

FOTOSINTESE

1. DESTA VEZ DENTRO DE PORTAS, PRESIDENTE E DIRETORGERAL DO CITEVE, ANTÓNIO AMORIM E ANTÓNIO BRAZ COSTA, CONDUZIRAM A CERIMÓNIA COMO ANFITRIÕES E APRESENTADORES

7. ATRAVÉS DA SEGUNDA GERAÇÃO DA EMPRESA, A BORDADOS OLIVEIRA RECOLHEU O PRÉMIO DA CATEGORIA ACESSÓRIOS, ENTREGUE A RITA OLIVEIRA PELO CEO DA SELECTIVA MODA, MANUEL SERRÃO

OS ÓSCARES DA INOVAÇÃO TÊXTIL Desta vez sem o glamour da circunstância nem os aplausos da plateia, mas já nada é capaz de travar os iTechStyle Awards, os prémios que são uma espécie de Óscares do setor têxtil e que todos os anos distinguem as maravilhas da inovação. “São o reflexo da capacidade das empresas e do valor do setor, que é uma das bases da nossa indústria”, disse, por videoconferência, o Secretário de Estado da Economia, João Correia Neves. Entre os 33 finalistas selecionados a partir dos showcases de inovação apresentados nas edições do MODTISSIMO, o júri atribuiu os Prémios iTechStyle 2020 às empresas TMG, Têxteis Penedo, Bordados Oliveira, Flexfelina, Brandbias e A. Sampaio & Filhos. A cerimónia teve lugar no dia 11 de março, no átrio do CITEVE, nessa tarde transformado em estúdios para a transmissão em streaming

6. FOI POR VÍDEO QUE O GOVERNO NÃO QUIS DEIXAR DE SE ASSOCIAR AO MOMENTO, TENDO O SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DA ECONOMIA, JOÃO CORREIA NEVES, DESTACADO A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO TÊXTIL

11. E FOI PRECISAMENTE NA ÁREA DE SUSTENTABILIDADE QUE O JÚRI PREMIOU A BRANDBIAS, ATRIBUINDO O PRÉMIO NA VARIANTE PRODUTO ACABADO, PARA O CASACO MULTIFUNCIONAL JACK O’BAG, QUE FOI ENTREGUE A GONÇALO SERRA

10. A PLATEIA IMÓVEL ESTEVE FORMADA POR MAIS UM SHOWCASE GREEN CIRCLE, UMA MOSTRA AVANÇADA DE SUSTENTABILIDADE COM QUE A NOSSA ITV IGUALMENTE SE DESTACA NA VANGUARDA INTERNACIONAL DO SETOR


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4. SANDRA PINHEIRO, DA TÊXTEIS PENEDO, SUBIU AO PALCO PARA RECEBER O PRÉMIO RELATIVO À CATEGORIA PRODUTO DAS MÃOS DO PRESIDENTE DO CITEVE

3. VENCEDORA NA CATEGORIA TECIDOS, A TMG ESTEVE REPRESENTADA AO MAIS ALTO NÍVEL PELO CEO MANUEL GONÇALVES, QUE EXIBE O GALARDÃO PERANTE AS CÂMARAS E FLASHES

9. NO LANÇAMENTO DA CERIMÓNIA, ANTÓNIO BRAZ COSTA DESTACOU O EXTRAORDINÁRIO PERCURSO DE INOVAÇÃO E DE RECONHECIMENTO INTERNACIONAL DA INOVAÇÃO DAS EMPRESAS DA TÊXTIL PORTUGUESA

8. PREMIADA COM O GALARDÃO SMART, PARA O PRODUTO MAIS INTELIGENTE, O IPARASOL, A FLEXFELINA ESTEVE REPRESENTADA POR MIGUEL MALHEIRO, QUE NÃO ESCONDEU O ORGULHO PELA DISTINÇÃO

13. JOÃO MENDES, DA A.SAMPAIO & FILHOS, EXIBE O PRÉMIO PARA O MELHOR MATERIAL NA CATEGORIA SUSTENTABILIDADE, DESTACANDO A IMPORTÂNCIA E PRESTÍGIO INTERNACIONAL DO GALARDÃO

12. PROMOTORA DOS ITECHSTYLE AWARDS, EM CONJUNTO COM O CITEVE, A SELECTIVA MODA MARCOU PRESENÇA FÍSICA E ESTEVE REPRESENTADA PELO SEU ESTADO-MAIOR

14. PREENCHIDO DOS MELHORES EXEMPLOS DE INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE, O ÁTRIO DO CITEVE TRANSFORMOU-SE NO CENÁRIO IDEAL PARA A ESPÉCIE DE ESTÚDIO MONTADO PARA A TRANSMISSÃO DA CERIMÓNIA


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COM O FOCO NO ONLINE, CONCRETO QUER CRESCER 20% EM 2021 É com as fichas todas apostadas no digital que a Concreto quer crescer 20% em 2021, sobretudo apoiada nos mercados internacionais que são os seus grandes clientes. A estratégia que já foi utilizada pela marca durante o ano passado para conter o decréscimo resultante do fecho das lojas, e é agora reforçada em grande parte por se tratar de uma marca jovem, muito alavancada pelos mercados internacionais e muito focada no canal multimarca. “Temos cinco áreas de negócio ativas dentro da empresa e apostamos igualmente em todas elas. Queremos atingir os 20% de turnover no final de 2021 de cada uma delas, diminuindo a percentagem do placement em canal físico e fazendo um upscale no online”, explica Teresa Marques Pereira, a CEO da Concreto.

"Muitos clientes têm a solução em Portugal, fazem o stock em nossa casa com mais qualidade e serviço" António Cunha Sales Manager Orfama

JF ALMEIDA LANÇA FELPOS COM AQUECIMENTO INTELIGENTE

LEVI’S AVANÇA PARA O UNIVERSO DOS TÊXTEIS-LAR

SONAE FASHION FATURA 344 MILHÕES E DUPLICA ONLINE

Mundialmente reconhecida pelo jeanswear, a Levi's vai agora vestir também nas casas e outros espaços interiores com a sua primeira coleção de têxteis-lar e decoração. A linha Levi’s for Target vai incorporar os valores sustentáveis e de design intemporal da marca norte-americana em mantas, almofadas, tapetes, e talheres, mas também peças de sleepwear e até artigos para animais de estimação.

O volume de negócios total da Sonae Fashion ascendeu a 344 milhões de euros no final de 2020, diminuindo apenas 12,2% face ao ano anterior. As vendas online foram fundamentais para este desempenho, tendo duplicado o seu peso, passando de 7% em 2019 para 14% em 2020. O setor da moda infantil foi o que menos sofreu com a pandemia. A Sonae Fashion é responsável pelas marcas Deeply, MO , Zippy, Losan e Salsa.

25 milhões Um robe, uns chinelos ou uma toalha de banho que, além de potenciarem a absorção de água e de humidade e uma secagem rápida, possuem a capacidade de aquecimento inteligente, de forma simples, rápida e eficaz, proporcionando bem-estar e conforto. Não é ficção: é a nova geração de produtos desenvolvidos na têxtil JF Alemida, em parceria com o CITEVE e o CeNTI – e estará disponível no mercado internacional dos têxteis-lar e hotelaria ainda este ano. Na base da inovação dos novos produtos, aos quais se junta também uma toalha de mesa com aquecimento inteligente, está a in-

tegração nas estruturas de felpo (o tecido utilizado nos artigos), de fios condutores e sistemas de aquecimento e sensorização inteligentes e autónomos, para que não interfiram negativamente com o utilizador, nem com as propriedades intrínsecas às novas estruturas de felpo, nomeadamente flexibilidade, maleabilidade, leveza e toque. Os produtos deverão chegar ao mercado no final do ano e, de acordo com os responsáveis do projeto, o foco é sobretudo internacional: o mercado-alvo será especialmente direcionado para estabelecimentos de hotelaria e spas e também para uso comum no lar,

explorando nichos de mercado com elevado poder de compra. Depois do desenvolvimento e apresentação dos protótipos – tapete, toalha, robe, chinelo e toalha de mesa – as entidades promotoras estão agora concentradas na divulgação dos produtos, das suas funcionalidades e benefícios para o mercado. O projeto que deu lugar a esta gama inovadora (chamado iHEATEX) foi cofinanciando pelo COMPETE 2020, envolvendo um custo elegível de 692 mil euros e um apoio da União Europeia (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) de cerca de 470 mil euros. t

de euros de financiamento foram captados pela Fibrenamics em dez anos

POLOPIQUÉ QUER DUPLICAR PESO DAS VENDAS PARA O REINO UNIDO Pelo meio das queixas com os custos acrescidos e entraves burocráticos, no têxtil o efeito Brexit parece estar a ter pouco impacto. É o caso da Polopiqué que em janeiro já tinha faturado mais de meio milhão e ao longo do ano espera duplicar o peso dos negócios com o Reino Unido. E se no ano passado este mercado absorveu 5% da produção do grupo, para este ano a marca projeta duplicar o volume de negócios, apontando para uma percentagem de 10%. “Até ao momento não estamos a sentir quaisquer dificuldades em exportar para o Reino Unido e antes do fecho de janeiro já íamos com meio milhão de euros”, disse o presidente do grupo, Luís Guimarães.


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QUATRO VOLTAS AO MUNDO COM OS ELÁSTICOS DA LUNARTEX Pelas razões que se conhecem, 2020 foi um ano atípico para todos, e a Lunartex não foi excepção. É que por entre o impacto inicial da pandemia e a rápida reorientação do setor para a produção de EPI, a empresa acabou a produzir uma média de 18 milhões de metros de elástico por mês, o suficiente para num ano dar mais de quatro voltas ao globo terrestre. Com um investimento de 500 mil euros para se adaptar ao setor da saúde, a empresa de Guimarães acabou por fechar contas com uma faturação a rondar os 7 milhões, quase duplicando os resultados de 2019.

"Em todo o mundo, o cliente precisa de serviço e rapidez. Quem tiver resposta rápida vai estar na linha da frente"

MIGUEL OLIVEIRA E SALSA A TODO O GÁS

A Salsa uniu-se ao piloto de MotoGP Miguel Oliveira para criar uma coleção-cápsula cheia de simbolismo e de amor por Portugal. Para além do denim característico, presente nos jeans e num blusão, a linha conta com T-shirts, sweatshirts e casacos de sportswear, repletos de patches, padrões listados e outros elementos que remontam para o universo desportivo. Uma coleção desenvolvida ao longo de vários meses mas que é o resultado de um namoro entre a marca e o piloto que remonta ao ano de 2018 e que cresceu alicerçado em valores comuns. t

SUAVECEL INVESTIU 15 MILHÕES NA PRODUÇÃO DE EPI A Suavecel, empresa de Viana do Castelo, investiu cerca de 15 milhões de euros para a produção de equipamentos de proteção individual (EPI), que está a exportar para 24 países de quatro continentes. Às máscaras junta-se também o fabrico de toalhitas desinfetantes, negócio que a empresa diz estar ainda em fase de implementação mas que veio para ficar. Fundada em 1996 e desde sempre dedicada à transformação de papel, a Suavecel acabou por virar-se, como forma de responder à pandemia, para a produção de EPI, que arrancou já no início de 2021, depois de adquiridas três máquinas e cumpridas todas as exigências de certificação dos produtos. Uma mudança na empresa que pertence ao grupo Ghost – detém também a Nunex e a Fortissue e emprega 240 trabalhadores – e que começou a ser pensada logo em abril de 2020, na sequência dos constrangimentos decorrentes da Covid-19.

“Deparámo-nos com uma realidade cada vez mais presente no nosso dia-a-dia: a utilização dos Equipamentos de Proteção Individual”, disse o proprietário do grupo Ghost, Nuno Ribeiro, explicando que “a aposta na investigação, na elevada tecnologia e a melhoria contínua no processo produtivo, aliado às necessidades do mercado, contribuiu para a reconversão e para os novos investimentos”. Nuno Ribeiro adiantou ter investido “10 a 15 milhões de euros na compra das três máquinas”, e que a produção começou no início deste ano. A empresa está a produzir 600 máscaras por minuto, o que dá um total de 36 mil por hora e 864 mil por dia, tanto para adultos como para crianças. “São 51 milhões de unidades por mês”, completa o empresário. Já quanto às toalhitas desinfetantes a produção atinge cerca de 180 mil packs por dia, a um ritmo de representa 120 por minuto. t

Rita Ribeiro Business Manager da TMG Textiles

ATP E AEP APLAUDEM PROGRAMA INTERNACIONALIZAR 2030 ATP e AEP convergem na apreciação muito positiva do novo Programa Internacionalizar 2030, aprovada pelo Governo. Tanto Mário Jorge Machado como Luís Miguel Ribeiro consideram ser “essencial” para abrir as portas da internacionalização às empresas e promover “a recuperação” saudável da economia pós-pandemia. O Programa Internacionalizar 2030 estabelece as prioridades no âmbito da internacionalização da economia portuguesa, da captação de investimento direto estrangeiro para Portugal e do fortalecimento do investimento direto português no estrangeiro.

8 mil

metros quadrados é a área do novo polo logístico da Riopele

LION OF PORCHES TRAZ COR E ESPERANÇA

EURATEX EXIGE À UE FIRMEZA CONTRA A CONCORRÊNCIA DESLEAL A Euratex exige à Comissão Europeia uma posição firme no combate à concorrência desleal e a convergência de fundos estruturais para o processo de reindustrialização. A confederação que reúne a indústria têxtil europeia pede ainda que se “estabeleçam as condições para a competitividade e resiliência futuras” do setor têxtil. No total, a indústria textil agrega na UE cerca de 16 mil empresas, assegura mais de 1,5 milhões de postos de trabalho

e gera 162 mil milhões de euros de volume de negócios por ano. As exigências da Euratex foram expressas num comunicado que evoca a comemoração da 4ª edição dos Dias da Indústria da União, e alerta os responsáveis da Comissão Europeia para o facto de que se a Europa “pretende não perder este ativo, deve tomar uma série de medidas” urgentes. Entre elas, destaca “uma vigilância eficaz do mercado para evitar a concorrência des-

leal e garantir condições de concorrência equitativas”. A Europa “possui os mais rígidos padrões sociais e ambientais e deve proteger a qualidade de seus produtos” contra produtores que não cumprem os mesmos requisitos, reforça a posição da Euratex, que deixa o exemplo das máscaras que invadem a Europa e que, não cumprindo essas normas apertadas, acabam por constituir um perigo público. “É hora de agirmos sobre isto”, conclui. t

Personalidade e estilo próprio são o mote para a primavera-verão 2021 da Lion Of Porches. O descontraído cruza-se com o sofisticado e resulta numa coleção de homem, mulher e criança com autênticos must-have. Uma coleção de casualwear feita com materiais de qualidade superior, que fazem parte do ADN da marca de inspiração britânica. A elegância e o conforto combinam-se para dar cor e esperança aos próximos tempos.


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X A MINHA EMPRESA Givachoice - Têxteis, Ldª

Rua das Devesas, Lt 3, 76 4595-069 Seroa, Paços de Ferreira

O que é? Atelier gigante de alta-costura O que faz? Moda de luxo feminina Fundação 2012 Clientes Grandes casas de moda de todo o mundo Equipa 230 trabalhadores Exportação 100% da produção Volume de negócios 8 milhões (em 2019) Objetivos Manter o caminho e o mesmo tipo de produto

TROFICOLOR LEVA A MONTANHA ATÉ AOS CLIENTES Tal como o profeta Maomé, que se deslocou à montanha uma vez que esta não vinha até si, também a Troficolor levou a sua montanha de novidades até à casa dos clientes que costumava receber na Première Vision. Com a versão digital daquela que é a mais importante feira internacional para o têxtil e vestuário, a solução foi montar dentro de portas o mesmo showroom que levaria até à feira de Paris, onde Sofia Azevedo, a Export Sales Manager da especialista em denim, recebeu todos os clientes e deu a conhecer a montanha de novidades.

"A produção e personalização de vestuário tende cada vez mais a ser individualizada" Júlia Petiz CEO da Tajiservi

EMPRESAS JÁ TÊM INCENTIVO FISCAL PARA PROMOÇÃO EXTERNA Já está em vigor a atribuição do incentivo fiscal temporário às ações de eficiência coletiva na promoção externa, tal como estava previsto no Orçamento do Estado. As despesas com projetos de participação conjunta são elegíveis a 110% no cálculo da tributação das empresas para 2021 e 2022, segundo o artigo publicado em Diário da República.

FIBRENAMICS E POLEVA APRESENTAM NOVA MÁSCARA FFP2

O trio maravilha da Givachoice O sucesso da Givachoice assenta na organização do trabalho, na capacidade de rápida adaptação ao tipo de produto, de cliente e quantidade de peças. E, já agora, na equipa de gestão, que funciona como um trio maravilha. Ricardo Almeida, o diretor financeiro, faz, por isso, questão de juntar à conversa Conceição Barbosa, diretora de produção, e Ana Barbosa, diretora comercial, que para além de parceiras de trabalho, são também sogra e mulher, respetivamente. O que a empresa faz é vestuário feminino de segmento médio-alto e alta-costura, sejam peças únicas, séries complexas, pequenas ou grandes quantidades. “No fundo, aquilo que mais ninguém consegue fazer”, simplifica Conceição Barbosa, que aponta como exemplos as exigentes peças para casas como Dior, Nina Ricci e Correge, ou as criações de múltiplos criadores de sucesso, como a londrina Simone Rocha. Uma atividade que começou em 2012 por sua iniciativa, quando fechou a empresa onde era responsável pelo setor de produção. “Avancei por conta própria com clientes que já conhecia, mas também não queria deixar abandonadas as pessoas da equipa de trabalho”, diz para explicar a base da equipa de sucesso que não se resume ao trio maravilha. O projeto, que cresceu rapidamente, juntou o genro, engenheiro informático, que embora tendo um avô alfaiate, na Régua, – “já fazia os fatos para os senhores do Porto” – foi desviado do setor automóvel, e a filha, que interrompeu o início de carreira de podologista. “Temos gente muito capaz, organizada em pequenos

grupos. Gente muito jovem, com boas capacidades e que são aperfeiçoadas numa linha de formação interna. Temos tido muito boas surpresas”, conta o diretor financeiro para explicar o rápido crescimento do projeto, que arrancou inicialmente com 20 pessoas e previa chegar às 60 no período de dois anos. No entanto, logo no primeiro ano faturou quase um milhão de euros e ao final de quatro meses já tínha as 60 pessoas. À sede em Paços de Ferreira, a Givachoice junta já uma outra unidade, em Rio Tinto. “Um atelier com 40 pessoas especialmente focado nalgumas das marcas e criadores com quem trabalhamos”, avança Ana Barbosa, que tem esta estrutura debaixo da sua responsabilidade. Com toda a produção a ter como destinatárias os grande criadores e casas de moda de todo o mundo, a Givachoice exporta a 100%, e a par da qualidade, capacidade técnica e de minúcia, tem crescido também apoiada no serviço vertical que passou a proporcionar. “Uma vertente que veio com o tempo e a confiança. São clientes de topo, grandes marcas de luxo pedem produto acabado graças à confiança e segurança que foram ganhando no nosso trabalho”, explica Ricardo. Antes dos 10 anos, a empresa é um caso de sucesso e uma referência incontornável no luxo feminino. A tendência é, naturalmente, para crescer, mas o que a criadora quer mesmo é “continuar o caminho de qualidade e diferenciação e manter o mesmo tipo de produto”. E para isso Conceição Barbosa confia na capacidade da sua equipa e nas múltiplas frases de incentivo que tem espalhadas nas paredes da empresa.t

A Nanomask é um novo modelo de máscara FFP2, totalmente desenvolvido em Portugal, que recorre a nanofibras para garantir a proteção em contexto profissional. O projeto desenvolvido em parceria pela Universidade do Minho e pela empresa de termoconformados Poleva procurou criar um modelo inovador de máscara, que garantisse a proteção dos seus utilizadores e que se afirmasse como uma alternativa portuguesa no segmento das FFP2. “Foi a janela de oportunidade no sentido de adquirir conhecimento qualificado no desenvolvimento de equipamento de EPI’s e combater uma lacuna no mercado”, explica José Guilherme Dias, responsável da Poleva.

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das exportações da nossa indústria transformadora são têxteis

VANITY JOURNEY CRIA VISITAS VIRTUAIS PARA A INDÚSTRIA TÊXTIL Num momento em que muitos contactos comerciais foram transpostos para o online, a tecnológica portuguesa Vanity Journey leva a digitalização mais longe com um novo projeto de visitas virtuais para a indústria têxtil. A ação conjuga tecnologia 360, realidade aumentada, realidade virtual, 3D e 2D, o que permite às empresas replicarem as visitas dos clientes e apresentarem os produtos numa experiência o mais próxima possível de uma visita real.


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FEIRAS TÊXTEIS JÁ TÊM DATAS PARA O REGRESSO AO PRESENCIAL

Depois de um ano de interregno, a grande maioria das feiras profissionais do setor têxtil avançou já com datas para o regresso ao formato presencial. O segundo semestre de 2021 acende uma luz de esperança na retoma dos negócios, com mais de 40 feiras têxteis já na agenda do setor. Da moda aos têxteis-lar, dos têxteis técnicos à decoração, o calendário de presenças internacionais do projeto

From Portugal – que leva marcas e empresas portuguesas a exporem os seus produtos além-fronteiras – conta já com 43 eventos, sobretudo nas principais capitais europeias, mas com digressões também a mercados mais longínquos, como o Brasil, a Colômbia, os Estados Unidos, a Etiópia ou o Japão. O novo calendário abriu-se exatamente no país do sol nascente, ainda em Maio,

com Interior Lifestyle Tokyo (dias 19 a 21), prolongando-se até dezembro, com todos os principais eventos do setor a terem já uma data definida. Tal como já tem sido habitual ao longo dos últimos anos, a presença de empresas PME portuguesas neste evento, pode ser incluída no projeto From Portugal, da responsabilidade da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal e da ASM – Associação Selectiva Moda.t

Feiras Têxteis

Pure London | Scoop – Londres – 12 a 14 Setembro

NY NOW – Nova Iorque – Digital: 5 a 11 agosto / presen-

Blossom (PV) – Paris – 30 junho e 1 julho

Styl – Brno – 21 a 23 agosto

cial: 8 a 11 agosto

Texworld Paris – Paris- 5 a 8 julho

Who’s Next – Paris – 3 a 6 setembro

ShowUP - Vijfhuize (Holanda) – 5 a 6 setembro

The London Textile Fair – Londres - 13 a 14 julho

Kind & Jugend – Colónia – 9 a 11 setembro

Homi Milano – Milão – 5 a 8 setembro

Texworld New York – Nova Iorque – 20 a 22 julho

Momad – Madrid – 16 a 19 setembro

Top Drawer – London – 12 a 14 setembro

Colombiatex – Medellin – 27 a 29 Julho

Coterie NY - Nova Iorque -19 a 21 setembro

Intergift – Madrid – 15 a 19 setembro

Munich Fabric Start – Munique – 31 agosto a 2 setembro

CPM Moscow – Moscovo – 31 agosto a 3 setembro

3Daysof Design – Copenhague – 16 a 18 setembro

Première Vision Fabrics/Yarns/Acc – Paris – 21 a 23 setembro

Africa Sourcing – Etiópia – 6 a 9 Novembro

Interior Lifestyle Living Tokyo – Tóquio – 18 a 20

Jitac European Textile Fair – Tóquio – 20 a 22 de outubro

outubro Private Label / Sourcing

Feiras de Moda:

Apparel Sourcing | Texworld USA – New York – 20 a 22 julho

Feiras de Têxteis Técnicos:

SICC Brasil – Gramado – 24 a 26 Maio

Pure Origin – Londres – 12 a 14 Setembro

Febratex – Blumenau (Brasil) – 10 a 13 Agosto

Pitti Bimbo – Florença – 23 a 25 Junho

Première Vision Manufacturing – Paris – 21 a 23 setembro

Outdoor by Ispo – Munique – 5 a 7 outubro

Playtime Paris – Paris – 3 a 5 de julho

Munich Fabric Start Sourcing – Munique – 31 agosto a 2

Milipol – Paris – 19 a 22 Outubro

Pitti Uomo – Florença – 15 a 17 Julho

setembro

A + A – Dusseldorf – 26 a 29 outubro

Supreme Kids – Munique – 16 a 18 de julho

Maredimoda Manufaturing – Cannes – novembro

Automotive Interiors Expo Stutgart – Estugarda – 9 a 11

Berlim Fashion Week | Neonyt – Berlim – 6 a 8 julho

novembro

Colombiamoda – Medellin – 27 a 29 julho

Feiras de Têxteis Lar e Decoração

Medica – Dusseldorf – 15 a 18 novembro

Unique by Mode City/ Interfilière – Paris – 3 a 6 setembro

Interior Lifestyle Tokyo – Tóquio – 19 a 21 de maio

Performance Days Munich – Munique – 1 a 2 dezembro

PLATFORME COMPRA SPRINGKODE E QUER APRIMORAR OFERTA A Springkode, a plataforma de e-commerce que faz a ligação entre o consumidor e as têxteis portuguesas, foi adquirida pela PlatformE International, uma start-up especializada em customização em massa na indústria da moda e que foi fundada em 2016 por Gonçalo Cruz, Ben Demiri e José Neves, CEO da Farfetch. A combinação estratégica entre a PlatformE e a

Sprinkode vai permitir, de acordo com as empresas, “uma maior sintonia ente as marcas e lojistas e toda a cadeia de fornecimento, algo que atualmente se revela essencial para obter maneiras mais inteligentes de desenvolver, lançar e monitorar coleções de moda”. A união da propriedade intelectual, capacidades de desenvolvimento e redes das

duas empresas permitirá um maior acesso às marcas, vendedores e fabricantes que se concentram no crescimento sustentável – tanto a nível financeiro como ambiental. A integração de tecnologia, processos e equipas já foi iniciada e a PlatformE está já a planear lançamentos, principalmente nas categorias de pronto-a-vestir e calçado. t

MODTISSIMO PRESENCIAL VOLTA NO FINAL DE SETEMBRO Não são só os mais de quatro mil visitantes únicos, as mais de 45 mil page views ou os contactos vindos dos quatro cantos do mundo. Também o empenho dos expositores nesta ação inédita que levou a cabo o MODTISSIMO online deixou claro que, apesar de tudo, valeu a pena. O próximo encontro, com regresso ao desejado contacto presencial, está agendado para 29 e 30 de setembro, na Alfândega do Porto. Save the date!

PERFORMANCE DAYS: ONLINE EM MAIO, PRESENCIAL EM DEZEMBRO A Performance Days, feira alemã especializada em têxteis técnicos e funcionais, cancelou todos os planos para um encontro presencial já em maio. A próxima edição, que estava planeada para os dias 19 e 20 de maio, passa a ser online e é alargada para os dias 17 a 21. O reencontro presencial fica agendado para a edição seguinte, marcada para os dias 1 e 2 de Dezembro, em Munique.

NEONYT MARCA ENCONTRO PARA JULHO A Neonyt, a feira alemã de moda sustentável, vai mudar-se este ano de Berlim para Frankfurt, numa parceria entre as organizadoras Messe e Premium, que vão criar em Frankfurt uma nova Fashion Week. A primeira edição tem já data marcada, de 6 a 8 de julho, regressando ao formato presencial e integrando a primeira edição da Frankfurt Fashion Week, numa iniciativa conjunta entre a Messe Frankfurt e a organizadora Premium (responsável também pelos eventos de moda Seek e Fashion Tech). Os interessados em participar podem contactar a Associação Selectiva Moda e o projeto From Portugal.


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Com as nossas APPS, a comunicação da sua empresa está acessível na “mão” dos seus clientes, de forma rápida e muito intuitiva.

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UNIFARDAS COM COLEÇÃO TESTADA POR PROFISSIONAIS DE SAÚDE Hisi é o nome da nova coleção de vestuário hospitalar que a Unifardas lançou no mercado, depois de devidamente testada por profissionais de saúde. “Mais do que uma coleção de vestuário para a área da saúde, queremos criar uma experiência inovadora onde é valorizado o conforto, a proteção e a sustentabilidade sob a forma de vestuário de trabalho”. É assim que a Unifardas apresenta a nova coleção de vestuário profissional desenhada para profissionais de saúde de várias áreas e para cuidadores.

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"Somos uma empresa que gera negócio e riqueza para o país, que cria e valoriza o emprego" Simão Gomes Presidente da Sampedro

BLOOMATI LANÇA NOVA SÉRIE DE ACABAMENTOS PARA MALHAS Depois da Performance Days e da Première Vision, a Bloomati deu a conhecer no MODTISSIMO o novo catálogo de acabamentos inovadores para malhas. “Temos vários acabamentos muito ligados ao desporto, como o repelente à água, o antibacteriano, a proteção UV e o regulador de temperatura, entre outros”, afirma Alice Sampaio, da marca que pertence à têxtil Carvema. Entre os mais de 20 acabamentos, destaque para duas novidades desta estação: o Floral Essence e o Slim Care. “O primeiro incorpora nas malhas um aroma floral, através de microcápsulas, o segundo utiliza uma técnica semelhante mas com substâncias que promovem o bem-estar da pele e combatem a celulite”, adianta a representante da empresa.

RUFO, O LUXO EM LINHO TEM NOVO BERÇO EM GUIMARÃES Com sede de retomar a tradição, o bem-fazer, a RUFO encontrou no linho base ideal para a criação de uma marca consciente, que promove o melhor da produção portuguesa e assenta nos princípios da circularidade. 100% amiga do ambiente, com base na reutilização de desperdício têxtil e na minimização da pegada ambiental, a marca que nasceu em 2019 assume Guimarães como o seu berço com a abertura do novo espaço no coração do centro histórico, no Largo da Oliveira. O linho é a base dos fundamentos da RUFO, que nasceu também sob o signo da circularidade. “Sem o desperdício têxtil, a marca não existiria, a ideia partiu daí” diz a fundadora da marca, Ana Fernandes, que é também Diretora de Design e Imagem da BeStitch, a empresa de têxteis-lar com base no linho que exporta a 100% para os mercados mais sofisticados. Foi a partir dos desperdícios do corte que nasceu a ideia da marca de Ana Fernandes, mas a RUFO “diferencia-se também pela exclusividade e versatili-

A marca sustentável acaba de inaugurar um novo espaço no no Largo da Oliveira, em Guimarães

dade dos modelos propostos, quer em termos de materiais, quer na sua confeção, totalmente nacional, em pequenos ateliers , assumindo o conceito de demi-couture ”, explica a criadora. Ao potenciar toda a versatilidade do linho, a atitude contemporânea da marca mistura-se com

a tradição, noutra característica diferenciadora: “é a possibilidade que oferecemos aos clientes de monogramar peças, como camisas, pijamas e robes. E o retomar do enxoval, monogramando lençóis e fronhas, como no tempo das nossas avós”, descreve Ana Fernandes. t

CONHECIDOS OS FINALISTAS PARA OS PRÉMIOS ITECHSTYLE 2021 Não foi fácil ao júri escolher os finalistas para os iTechStyle Awards 2021. O showcase de inovação com tecidos, produtos e acessórios, apresentado na recente edição do MODTISSIMO, foi o mais concorrido de sempre, com 92 candidaturas, entre as quais foram selecionados os últimos nove finalistas. A Sampaio, Joaps e LMA nos tecidos; Damel, Fitecom e P&R Texteis com produtos acabados; e Envicorte, Lipaco e Louropel

nos acessórios, juntaram-se aos 13 apurados na edição de setembro. Dada a impossibilidade de este ano voltar a realizar-se o iTechStyle Summit, palco habitual da cerimónia de anúncio e entrega de prémios, o CITEVE e a Selectiva Moda, promotores da iniciativa, garantem que serão entregues numa cerimónia presencial que terá lugar ainda durante este ano. Quanto aos 22 finalistas selecionados, a Tearfil, RDD, Lurdes Sampaio, A Sampaio & Filhos,

Joaps Malhas e a LMA foram as escolhidas na categoria de tecidos; e nos produtos venceram a Trotinete, P&R Têxteis, Adalberto, Damel, Fitecom e P&R Texteis. A Louropel e a Lipaco – que viram cada uma dois dos seus artigos selecionados – foram escolhidas na categoria de acessórios, juntamente com a Inovafil e a Envicorte. Já na categoria de sustentabilidade, a Pé de Chumbo, Troficolor, Tintex e A. Sampaio foram as selecionadas.t

MIA OUAKIM, EX-TOMMY HILFIGER E BURBERRY, É A NOVA CEO DA SALSA Com um percurso internacional ligado a marcas como Tommy Hilfiger, Burberry e Mulberry, Mia Ouakim foi anunciada como a nova CEO da Salsa, ocupando a vaga deixada em novembro por José António Ramos, quando se mudou para o cargo de Chief Operating Officer da gigante britânica ASOS. O reposicionamento e o rejuvenescimento da marca portuguesa de jeanswear, assim como o crescimento e penetração em novos mercados são as prioridades anunciadas da nova gestora. No comunicado em que dá conta da novidade, a Salsa destaca que a nova gestora, com formação na Escola de Belas Artes de Paris, é “nascida e criada entre a Europa, Estados Unidos e África e tem um percurso profundamente internacional. A sua carreira é pautada por experiências em marcas líderes no panorama da moda e por cargos que lhe conferem o know-how dos vários pontos da cadeia de produção”. Por sua parte, a nova gestora frisa que “a Salsa é uma referência no jeanswear, com um percurso e expertise realmente notáveis. É um projeto muito desafiante, não só por tudo o que já representa, pela relevância internacional que já tem e pela credibilidade que oferece no seu produto, mas principalmente pelo que aí vem”. Quanto às novas tarefas, destaca o ambiente que vem encontrar e não esconde o entusiasmo: “Temos pela frente um caminho que me entusiasma muito e para o qual tenho o total comprometimento das equipas, que sentem a marca como se fosse sua”, refere Mia Ouakim. t


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[CASSIANO FERRAZ] www.cassianoferraz.com

PHOTOGRAPHY FASHION / ADVERTISING


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FOTO: RUI APOLINÁRIO

"TEMOS UM PLANO DE INVESTIMENTOS DE 4 MILHÕES DE EUROS"


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n ENTREVISTA Por: António Freitas de Sousa

Maria de Belém Machado Depois de alguns anos de namoro, Maria de Belém Machado, dona da SMBM, comprou, em julho de 2019, a Tearfil – que se encontrava do outro lado do muro que serve de fronteira à empresa fundada pelo pai. A vendedora, a ECS, sociedade gestora de fundos de capital de risco e de reestruturação, não tinha lugar para a Tearfil no universo da Moretextile. A prioridade é, por isso, reorganizar a produção, apostar na sustentabilidade e na inovação e seguir em frente

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ma unidade industrial não pode estar ao mesmo tempo aberta e fechada. Depois de 15 dias de lay-off parcial, Maria de Belém Machado optou por chamar todos os colaboradores. “Quem não está presente, é rapidamente ultrapassado pela concorrência e os clientes perceberam que não ficaram abandonados”. A pandemia impactou mais o médico ou o empresário que produz bens transacionáveis? O perigo é maior para os médicos – são autênticos heróis. Os empresários não são heróis. Para mim, a indústria é uma aventura... Que começa num ano que acabou por tornar-se muito difícil... Foi um ano difícil, mas, apesar de tudo, aguentámos. Tivemos uma linha de produção em lay-off durante 15 dias, depois quisemos estar presentes para os clientes e para os nossos projetos. Que passos foram dados para contrariar a pandemia? Comprei a empresa em julho de 2019... Uma pequena empresa compra uma de dimensão muito superior… Não, não foi a SMBM que comprou, fui eu que comprei a Tearfil. Depois de a ter comprado, o ano acabou quase de seguida – foi a nossa chegada, depois foram as férias de verão – e fizemos os orçamentos para 2020. Estávamos a cumprir os orçamentos quando em março

o país fechou: em abril, faturamos menos 60%. Em maio, a tentação de fechar foi grande porque as coisas não estavam a fluir – uma das fiações fechou 15 dias mas tivemos logo que chamar todos os colaboradores porque ou estamos no mercado ou não estamos. O mês de maio foi muito complicado, mas em junho começámos a entrar outra vez dentro dos objetivos. Março, abril e maio foram meses muito difíceis – mas apesar de tudo conseguimos o principal objetivo, que passava por equilibrar a exploração da empresa. Este ano estamos a cumprir não só o orçamento, como no primeiro trimestre estamos acima do orçamentado. Mas em termos de contas, 2020 atingiu os objetivos? O principal objetivo passava por apresentar resultados da exploração positivos e isso foi conseguido. O volume de negócios foi de quanto? Ultrapassámos os 11 milhões, mesmo tendo em conta os três meses de faturação muito baixa, por força da pandemia. O que é um facto é que conseguimos dar a volta, apostando em fios muito na base dos reciclados, dos fios técnicos. Fizemos muito trabalho dentro dos fios reciclados, que vieram para ficar. Este ano está melhor? Este ano, fizemos um orçamento mais audacioso. Neste momento [final do primeiro trimestre], já estamos acima do previsto no business plan. Estamos confortáveis e confiantes. A ambição do orçamento eram os 15 milhões? Não, somos mais modestos: 13,7 milhões. Pessoalmente, acredito que vamos ultrapassar os 14 milhões. Quando comprou a empresa, tinha previsto investimentos de 3,5 milhões. Não. Não chegámos a investir

"Recuperar, reciclar, reutilizar é para nós importantíssimo" Quando comprou a Tearfil, Maria de Belém Machado quis reunir-se com os sindicatos para lhes assegurar que não estava no seu horizonte proceder a qualquer diminuição do contingente de colaboradores. Como disse, manter todos os postos de trabalho é um ponto de honra. Não só porque as máquinas não trabalham sem pessoas – e a empresa não tem viabilidade sem os seus colaboradores – mas também porque, ao longo do seu percurso anterior, como médica, pôde por diversas vezes constatar a devastação que a perda de emprego pode motivar individualmente. É assim que Maria de Belém Machado afirma que despedir seria a última coisa que admite fazer nas suas empresas. O desenvolvimento da Tearfil passa, isso sim, por um plano de investimentos que lhe permita uma aposta renovada na sustentabilidade, tanto da produção industrial como dos produtos que dela saem. São cerca de quatro milhões de euros de investimento – que passam também pela área da energia – com os quais a empresária está a programar a ‘nova’ Tearfil, que em ano cruzeiro pode atingir uma dimensão da ordem dos 20 milhões de euros. Para isso, a empresa conta com a exposição a novos clientes, como é caso de uma nova parceria mantida com uma empresa espanhola interessada em assegurar um fornecimento que pode vir a revelar-se muito importante para o futuro da Tearfil

a esse nível: para investirmos, temos de ter contas sólidas e nesta fase de grandes incertezas tem que haver muita prudência. Revisitamos o plano de investimento permanentemente e quando chegar o momento, avançamos para a sua concretização. Temos primeiro de consolidar as contas, sabemos que tem de ser assim, senão não temos qualquer apoio. O ano de 2020 foi bom tendo em conta a evolução da têxtil face ao efeito Covid-19.

grupo de fornecedores aprovado pela Inditex – fomos auditados – só aí... E temos muitos clientes que não têm lojas físicas, compram fio aqui e mandam fazer ali, mas a base é connosco.

A maior parte dos clientes são portugueses, a exposição às exportações ainda é pequena? De forma indirecta, mais de 90% do que produzimos é exportado. Mas apostamos muito nas exportações: no ano passado admitimos mais um comercial em março. Não pode viajar – saiu apenas em setembro para visitar a Bélgica e a Holanda, mas teve de vir embora. Mas pensamos que vamos subir substancialmente nessa área. Quando comprei a Tearfil, a imagem estava um bocado degradada: quem ia vender sabia que ia vender e não investiu no negócio...

Isso quer dizer que a empresa está virada para a sustentabilidade? Estamos muito focados na sustentabilidade e estamos quase a atingir o desperdício zero: estamos a reutilizar, estamos a reciclar e estamos a inovar com o nosso próprio desperdício. Estamos a lançar uma marca – está prestes a ser registada a nível europeu – a Eco Heather, que é um fio em 90% recuperado dos desperdícios da empresa, o que é muito bom. Reciclamos tudo. Um exemplo: os fardos de algodão vêm envolvidos em sacos, que são guardados e quando temos quatro, cinco toneladas, mandamos cortar e desfibrar e reintroduzimos no ciclo produtivo. Recuperar, reciclar,e reutilizar é para nós importantíssimo. Para além das fibras já recicladas, que usamos muito. É um facto que quando vemos o desperdício ir para o caixote do lixo ou para queimar... se houver algum cuidado tudo isso é reaproveitável. Contribuímos, assim, com a nossa pegada ambiental, deixando um planeta mais saudável. E o fio é de muito boa qualidade.

Mas andou uma série de anos para comprar a empresa? Andei, desde 2013. Bom, não sei se queriam vender, se havia muita gente a querer comprar – são coisas diferentes. Não podemos desistir nunca. Assinámos o memorando de entendimento em setembro de 2018, mas só consegui comprar quase um ano depois. Quando entrou, as exportações valiam 12% da faturação de 12 milhões. Já aumentou esta quota? Sim. Estamos com cerca de 15%. É uma área muito difícil – os próprios clientes estão retraídos, porque também têm poucas encomendas, há um risco. Claro que quase tudo o que fazemos resulta em exportação indireta. Até porque pertencemos ao

Mas diretamente, a região dos Países Baixos atrai-a? Era uma área que não estava coberta pela Tearfil e ali, nos Países Baixos e norte de França, há uma grande zona industrial. E temos clientes que nos pedem os fios mais inesperados.

Um dos investimentos previstos seria na aquisição de painéis fotovoltaicos? Sim, estamos a estudar a sua localização. Não vai abastecer a fábrica toda, mas todos os painéis que montarmos serão para abastecer a fábrica, uma vez que vender à EDP não tem interesse nenhum. Já devia ter sido


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Uma médica a salvar empresas Uma médica que, aos 45 anos, com mais de duas décadas de vida profissional, trocou o estetoscópio pela máquina calculadora. Estava em viagem de turismo (uma das suas paixões) na Lapónia quando ficou a saber que a SMBM não tinha dinheiro para pagar a conta da energia. Demorou uma semana, não mais, a decidir mudar tudo na sua vida. Uns 20 anos mais tarde, a sua função na empresa fundada pelo pai está cumprida e o que conta agora é focar na melhoria contínua das empresas. Solteira e sem filhos, nasceu e cresceu no meio de conversas sobre a indústria. Nada feito: a sua paixão era a medicina. Clínica geral, especializou-se em Medicina do Trabalho, Higiene e Segurança no Trabalho e Planeamento Familiar. De uma coisa não tem dúvida: nesta fase de pandemia, os seus pares atuais são muito importantes, mas os seus antigos pares “são verdadeiros heróis”.

feito, mas estas incertezas com a pandemia atrasam os investimentos. Tem de ser tudo feito com muito cuidado – isto são 200 pessoas. Só por curiosidade, quando comprámos a empresa, a primeira coisa que os sindicatos perguntaram foi “quantas pessoas é que vão despedir?”. Tive de responder que tínhamos chamado os sindicatos para lhes dizer que queríamos as pessoas todas. Sem pessoas, não trabalhamos. Continuo a acreditar que as fiações portuguesas podem ser muito contributivas para a indústria. Que investimento precisa para os painéis fotovoltaicos? À volta de 350 mil euros. Prevê a possibilidade de desenvolver marcas próprias, até para a aposta nas exportações? Temos agora o Eco Heather. A Tearfil é uma marca muito conceituada, a própria marca vende. Estamos a trabalhar com a Universidade do Minho e com a Fibernamics nos fios anti-bacterianos e anti-víricos – em projetos que têm a ver com a Covid-19. Temos projetos, queremos evoluir, mas não nos podemos esquecer que só estamos aqui há um ano e meio. Vai haver aproximação entre as suas duas empresas? Desde o início que deixei claro às direções de ambas as empresas: estão no mercado em concorrência. Cada uma é totalmente autónoma em relação à outra. Depois, quando o tempo o justificar, logo veremos se é a melhor estratégia ou se devemos fazer ajustes à mesma. As duas empresas são complementares? Fazia sentido ligá-las? Podia fazer: a SMBM nunca poderia trabalhar grandes volumes, e a Tearfil trabalha grandes volumes. Podem manter-se como clientes uma da outra… Concorrentes, neste momento

"O Eco Heather é um fio em 90% recuperado cujo processo estamos a patentear" são concorrentes puras. Mas podiam ser complementares. Juntá-las tinha muitas vantagens, mas como há aquele grande inconveniente, não posso pensar nisso. Como viu a forma como o Governo apoiou as empresas para superar a pandemia? Aquilo que foi prometido foi cumprido – mesmo com alguns atrasos. E não foram só os apoios diretos. A minha grande preocupação é com os milhões que vêm para aí: tenho medo que comecem a ficar retidos em Lisboa. Mas tenho de acreditar – não posso colocar tudo em dúvida. O Banco de Fomento pode ser uma boa ajuda? O Banco de Fomento pode ser uma boa arma. Com ele, não podem usar a desculpa de que não podem chegar às empresas. O Governo tem agora uma arma para poder chegar às empresas. Por exemplo, quando se quer apostar na poupança de energia, temos de ter máquinas mais modernas – não são só os painéis. Tem portanto um plano de investimento integrado. Temos. Mas temos prioridades. O total do investimento será de quanto? Cerca de quatro milhões. Depois de realizados os investimentos, em ano cruzeiro, como antecipa a dimensão da Tearfil? Os 20 milhões são possíveis? Apesar do nosso plano de médio e longo prazo não ser

tão audacioso, eu sou muito otimista e acredito muito na minha equipa, pelo que dou de barato que sim. Entre outras coisas, porque temos grandes projetos com parceiros estratégicos e vários desenvolvimentos que criarão muito valor a jusante do nosso processo. Temos neste momento entre 300 a 400 clientes. A Inditex que peso é que tem? Diretamente, nenhum. Indiretamente deverá chegar aos 30%. É-lhe confortável ou preferia uma exposição menor a um único comprador? Gostava que fosse menor. No entanto, a pandemia obrigou todas as empresas a reestruturarem-se e a valorizarem a proximidade da cadeia de fornecimento em prol de geografias orientais, porque o impacto de uma paragem dessas economias é suficiente para colocar em risco a sua atividade. Este tipo de coisas acontece para todos e para a Inditex ainda mais: não pode estar dependente de um único fornecedor e Portugal traz-lhe flexibilidade por via da proximidade. Para o têxtil em geral? Sim: o que é português é bom, para o têxtil em geral – mas para muitas outras coisas. Temos bons designers, temos bons fabricantes, por esse lado não há nenhum problema. Para o ‘Portugal é bom’ ir para a frente dava jeito o regresso das feiras? É muito importante. As feiras são o local onde conhecemos novos parceiros, novos clientes, novas matérias-primas. E como ninguém vai de férias para dentro de um pavilhão de uma feira, todos os que lá estão são importantes. São todos parte interessada. Há sempre alguém que nos traz ideias, que nos leva produtos, que nos faz desafios. Têm muito interesse para nós. Apostamos sempre nas feiras, tanto na Tearfil como na SMBM. t

As perguntas de

Bernardino Andrade Administrador da Tearfil Como se tem pautado o relacionamento com os parceiros financeiros?

Hoje em dia as empresas estão presas a uma notação de rating. É a partir daí que há mais, menos ou nenhuma abertura dos bancos para apoiar as empresas. Da parte da Tearfil, apesar do histórico ainda ser muito curto, temos sentido um grande apoio e interesse por parte de alguns bancos, condição essencial para ajudar ao crescimento que é fundamental para nós. Como vê o papel desempenhado pela indústria têxtil portuguesa no contexto da criação de riqueza nacional?

Apesar de todo o emprego, impostos, exportações, contribuição para a riqueza do país, por vezes dá a sensação que a indústria têxtil está esquecida pelos decisores políticos, que não a protegem quanto deviam. Repare no que aconteceu com a pandemia: grande parte do país parou, mas a indústria têxtil, de imediato, adaptou-se e continuou o seu processo de geração de riqueza. Esta característica de resiliência, de readaptação é muito interessante na têxtil e não é valorizada como devia. t

Marla Gonçalves Diretora Comercial da Tearfil Quais são as suas expetativas para 2021?

Queremos continuar a inovar de forma responsável, a fazer uma leitura atenta e constante do mercado, a trabalhar ao lado dos nossos clientes e parceiros com vista ao crescimento mútuo. Também motivar os nossos colaboradores que são, sem dúvida, a força motriz do nosso sucesso. E a demonstrar que Portugal não pode viver apenas de serviços. Quais as prioridades traçadas no plano de gestão para assegurar a competitividade da empresa?

Acredito que a inovação responsável tem que ser encarada como fator estratégico de diferenciação e competitividade. Os produtos e processos de fabrico sustentáveis são um alvo privilegiado dos nossos investimentos em I&D. Não pretendemos produzir mais, mas sim produzir melhor, aumentando a eficiência, produtividade, qualidade e a nossa margem operacional. E, naturalmente, reduzindo a fatura energética. Paralelamente, vamos continuar a investir nas competências do nosso capital humano e assegurar a transmissão geracional de conhecimento. t


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ASSOCIAÇÕES TÊXTEIS QUEREM ‘BAZUCA’ AO SERVIÇO DA ITV A ATP e a ANIVEC enviaram ao Governo uma carta conjunta em que aconselham a que o Plano de Recuperação e Resiliência – conhecido como a “bazuca” europeia – seja usado para o desenvolvimento do contexto industrial que permita alavancar a têxtil nacional. Sem pretenderem que o financiamento europeu siga diretamente para as empresas, as duas associações pedem a criação de uma envolvente que induza a transição ambiental e digital e a aposta nos três eixos integradores destas transições: qualificação, inovação e internacionalização.

"A integração do digital com o tradicional será cada vez maior" Paulo Melo Administrador do Grupo Somelos

CANTÊ TAMBÉM JÁ TEM LINHA DE ROUPA

A celebrar dez anos de existência, a Cantê acaba de lançar a coleção Alma, inspirada na costa portuguesa. A grande novidade é o lançamento da primeira linha de roupa feminina da marca, que se conjuga agora com os habituais biquínis e fatos de banho de padrões florais e alegres . A marca portuguesa decidiu mergulhar mais a fundo na moda feminina e alargar o seu core business a uma linha completa de roupa que inclui vestidos, saias, macacões e ainda conjuntos de partes de cima e calções leves e fluídos para usar dentro e fora das praias. t

RIOPELE INVESTE 1,5 MILHÕES E ABRE NOVO CENTRO LOGÍSTICO Mais uma aposta da Riopele a marcar o início do ano: em janeiro, e depois de um investimento de 1,5 milhões de euros, a têxtil inaugurou um novo polo logístico com mais de 8 mil m 2. Um novo espaço que responde também aos desafios ambientais e que resultou de “profundas obras de reabilitação no primeiro edifício industrial da empresa, num projeto que visou criar as condições para a centralização das suas operações logísticas”, como refere a empresa. Ocupando uma área de 8.300 m 2, as modernas infraestruturas logísticas “terão capacidade para o armazenamento de 400 toneladas de fio e 600 mil metros de tela, num espaço capaz de satisfazer as novas necessidades, ao nível das condições de armazenamento e da respos-

ta rápida e flexível das operações”. O novo polo logístico, localizado na Riopele 1, responde aos desafios da responsabilidade ambiental: ali foi ainda instalado um coletor central que irá recolher todas as águas pluviais das coberturas, prevendo-se um valor de recuperação de água na ordem dos 15 mil m 3/ano. Por outro lado, e já no início de fevereiro, ficou concluída uma nova fase de reabilitação e modernização de diferentes espaços de trabalho e sociais – entre vários gabinetes, bar e vestiários do polo logístico, a ampliação da copa do edifício administrativo, “num investimento significativo por parte da empresa” – que assim pretende melhorar as condições de trabalho de todos os colaboradores.t

CITEVE INVESTE 2,2 MILHÕES EM NOVO EDIFÍCIO PARA O CENTI O CITEVE está em vias de iniciar a construção de um novo edifício, um investimento na ordem dos 2,2 milhões de euros destinado a criar instalações próprias e definitivas para o CeNTI. O projeto está concluído e a obra deve avançar em breve, depois de a Câmara de Famalicão ter aprovado a desocupação dos terrenos, que vão prolongar para poente as atuais instalações do centro tecnológico. Todo o investimento corre por conta do CITEVE, também

ele necessitado de se alargar o mais rápido possível para os espaços que estão agora ocupados pelo Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes. Por outro lado, a mudança de instalações do CeNTI vai também permitir ao centro de investigação do têxtil e vestuário investir no alargamento do parque de máquinas, que vão não só reforçar a capacidade de resposta mas fazer também crescer a investigação para novas áreas.

Com orientação multissetorial, o CeNTI é um Instituto de Novas Tecnologias focado nas áreas da nanotecnologia, da funcionalização e da smartização de materiais. Foi fundado em 2006 e resulta de uma parceria que junta três universidades (Minho, Porto e Aveiro), e ainda o CITEVE – Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário, o CTIC – Centro Tecnológico das Indústrias do Couro) e o CEIIA – Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel. t

JF ALMEIDA FIXA SALÁRIO MÍNIMO EM 700 EUROS Apostar nos colaboradores e manter as pessoas motivadas neste ano difícil é o objetivo da JF Almeida, que decidiu estabelecer um salário mínimo na empresa de 700 euros. “É um esforço grande, mas é necessário apostar nos trabalhadores e manter as pessoas motivadas neste período difícil”, disse a administradora Juliana Almeida, adiantando ainda a boa notícia de que, apesar das incertezas da pandemia, a empresa está a registar neste início de ano um bom ritmo de encomendas.

TINTEX ESTÁ CONSIGO A TEMPO INTEIRO A “Coleção 24 horas” da Tintex para a Primavera/Verão 2022, composta por dez peças, foi apresentada nas plataformas digitais da empresa, a cada hora um coordenado, numa sequência ajustada aos diversos momentos que se sucedem ao longo do dia. “Temos recebido feedback fantástico tanto de clientes como de parceiros”, afirma o director comercial Nuno Malheiro.

162 mil

milhões de euros é volume de negócios anual do têxtil na UE

NO MORE RECEBE MENÇÃO HONROSA DA MEIOS & PUBLICIDADE

A agência de comunicação No More foi distinguida pela plataforma Meios & Publicidade com uma menção honrosa na categoria “Eventos e Patrocínios”. A agência sediada no Porto, que tem colaborado com vários eventos no setor têxtil e da moda, foi desta vez premiada pela organização bem-sucedida do Encontro de Colaboradores da Super Bock, em 2020. A distinção fez parte da Gala de Prémios de Comunicação, que distingue os projetos de comunicação a nível nacional com maior sucesso, criatividade e relevância no mercado.


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X DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes

Cru Cowork

Rua do Rosário 211 4050-524 Porto

Ano de abertura 2012 Produtos vestuário, joalharia de autor, calçado, ilustração, jardins suspensos e decoração de interiores Público-alvo Clientes exigentes, urbanos e eclécticos,que apreciam qualidade, sustentabilidade e apostam no comércio local e justo Marcas Carolina Curado, WeTheKnot, Marita Moreno, Fiu-Jardins Suspensos, Musgo, Wayz, MishMash e Ablesia, entre outras Loja Online www.cruloja.pt

GOLFINHO SPORTS QUER DUPLICAR PRODUÇÃO E GANHAR NOVOS MERCADOS A estrear-se nas feiras digitais, a Golfinho Sports avançou para a recente ISPO Munich numa altura em que aposta na expansão para novos mercados e se prepara para duplicar a sua capacidade de produção. Regularmente presente nas maiores feiras internacionais desde 2013, a especialista em artigos de natação, treino aquático, aquafitness, reabilitação, polo aquático, material de salvamento, equipamento de competição e instalações desportivas tem já clientes em 30 países distribuídos pela Europa, África e Médio Oriente, com as exportações a representarem já quase 50% das vendas.

"Fomos pioneiros na produção e transformação de malhas em Lyocell" Ricardo Silva Administrador da Tintex

Uma casa para criativos e design sustentável Foi apenas em 2016 que Virginia França se juntou à equipa da Cru Cowork, mas isso não impede a store manager de saber todos os detalhes da história do projeto. E porque a regra para contar uma boa história implica, precisamente, começar pelo princípio, é por aí que vamos começar. Mais concretamente em 2012, quando Tânia Almeida e Miguel Ferreira, os fundadores do projeto, ela criadora de artesanato e ele músico – mais conhecido pelo seu trabalho como teclista dos Clã –, abriram este espaço. “A ideia foi criar um local onde os criativos poderiam trabalhar, desenvolver os seus trabalhos em comunidade e, ainda, ter um espaço de exposição e venda dos mesmos”, sintetiza Virgínia França. Foi essa vontade que levou os fundadores a escolherem a rua do Rosário, bem no centro do quarteirão das Artes do Porto, para instalarem a Cru Cowork, rodeados por galerias e outras lojas independentes, onde a procura por produtos diferentes era e é a regra. Com o crescimento, o que significou um aumento do portefólio de artistas presentes na loja, foi necessário encontrar alguém que se ocupasse exclusivamente dessa área do projeto. É assim que, em 2016, Virgínia entra na Cru, após uma carreira no retalho que começou no fim do liceu e se estendeu pelos 20 anos seguintes, em grande parte nas lojas do grupo Ricon. Atualmente, a loja tem disponíveis produtos de cerca de 50 marcas e autores nacionais – a exceção são os três projetos de responsabilidade social oriundos da Tanzânia, Quénia e Sri Lanka. Produção nacional, comércio justo e design português são os critérios da equipa da Cru na hora de fazer a curadoria dos produtos. “Fazemos

uma leitura constante daquilo que os nossos clientes procuram, privilegiando a sustentabilidade, o comércio justo, e o made in Portugal. A seleção é feita de acordo com o nosso mercado, que também se foi tornando cada vez mais seletivo e informado”, revela Virgínia. E apesar do turismo ser importante para as vendas da Cru, o cliente português foi, é e será a grande prioridade da loja, uma estratégia que se revelou vencedora em ano de pandemia. “2020 foi um ano duro e longo, uma vez que os nossos clientes estavam habituados a comprar fisicamente. No entanto, sentimos imenso carinho e apoio por parte dos clientes habituais, que não se esqueceram de nós na altura do Natal. Tivemos até uma maior afluência do que em anos anteriores, com novos clientes a procurarem apoiar o comércio local e a produção nacional e sustentável, dando-nos assim uma maior certeza de que escolhemos o caminho certo. A eles o nosso obrigada!”, diz, orgulhosa, a gestora da loja. Foi também em 2020 que a Cru inaugurou a sua loja online, no fim do primeiro confinamento. Uma aposta ainda em crescimento mas que já ajudou a espalhar o nome da Cru em Portugal e no mundo. “Ainda não tem grande expressão, representa 5% das nossas vendas, mas tem-nos ajudado a chegar a outras cidades nacionais e a outros países também”, explica Virgínia. E agora que se uniu à Between Parallels, a associação portuguesa que agrega marcas sustentáveis numa voz conjunta, os objetivos da Cru para 2021 não podiam ser mais claros: chegar a mais pessoas e ajudar a aumentar a consciência de que o design sustentável é, sem qualquer dúvida, a alternativa para um futuro melhor. t

INDÚSTRIA DA MODA BRITÂNICA À BEIRA DO COLAPSO

ENDUTEX CONSTROI PRIMEIRO HOTEL MOOV EM LISBOA

A indústria têxtil e da moda, que contribui todos os anos com quase 40 mil milhões de euros para a economia do Reino Unido, “está a ser dizimada” pela burocracia e restrições impostas às viagens dentro do bloco europeu decorrentes do Brexit. Numa carta a Boris Johnson, os líderes da indústria da moda alertam que o Brexit está a estrangular as cadeias de fornecimento que suportam financeiramente a indústria.

Está lançada a primeira pedra do primeiro Hotel Moov de Lisboa, na zona nobre do Parque das Nações. Um investimento de 10 milhões de euros que tem inauguração prevista para 2022, sendo a mais recente iniciativa do grupo têxtil Endutex no segmento hoteleiro. Cómodo e económico, o Moov Oriente vai instalar-se num dos principais centros de negócios e entretenimento de Lisboa.

120

milhões é a faturação anual da TMG

BALMAIN NAS ASAS DO DESEJO

Foi uma super produção gravada nos hangares da Air France que a Balmain levou à Semana da Moda de Paris. Uma alegoria ao desejo pelo regresso às viagens que o criador Olivier Rousteing compôs, levando as propostas da nova coleção FW 21/22 a desfilar nas asas dos aviões estacionados no aeroporto Charles de Gaule. As alças dos fatos dos pilotos, blusões, calças sensuais, roupas de aviador ou o simbolismo dos super-heróis que são capazes de nos colocar nas asas do desejo de retomar de uma vida que nos permita voar para todo o lado.


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X O MEU PRODUTO Por: António Moreira Gonçalves

Novos tecidos de elevada performance à base de lã

Desenvolvidos no âmbito do projeto TexBoost pela UBI, Fitecom, Coltec e CITEVE

O que é? É uma nova geração de tecidos bilaminados e trilaminados que conjugam fibras naturais, como a lã, com membranas funcionais que garantem melhor performance em termos de impermeabilidade, respirabilidade e gestão térmica Para que serve? Para a confeção de vestuário em áreas como o lazer ou o athleisure Estado do Projeto? Apresentado no âmbito do TexBoost e pronto a ir para o mercado

TMG, SOMELOS E RIOPELE LIDERAM TRANSFORMAÇÃO DIGITAL São três das maiores têxteis nacionais e têm por isso a ‘obrigação’ de liderar o setor naquele que é um dos mais importantes desafios empresariais do momento: a transformação digital, encarada como um instrumento que irá influenciar todos os aspetos da atividade industrial – da gestão à produção, mas também a relação com o consumidor ou a sustentabilidade. TMG, Somelos e Riopele, que participaram num webinar sobre transformação digital organizado pela Câmara Municipal de Famalicão, estão na linha da frente deste desafio tecnológico.

"Estamos perante uma aproximação do consumidor à fábrica, desaparece o papel dos intermediários" Miguel Pedrosa Rodrigues Administrador da Pedrosa & Rodrigues

IMPRESSORA DA MTEX NS DISTRIBUÍDA PELA MINOLTA A portuguesa MTEX NS e a multinacional japonesa Konica Minolta Europe assinaram um acordo exclusivo de distribuição para os mercados europeus da NS MULTI, tecnologia ‘ made in Portugal’, desenvolvida e fabricada pela empresa famalicense na área da impressão digital de jato de tinta à base de água em cartão. O acordo foi assinado em janeiro passado pelas duas empresas, sendo que este modelo é igualmente comercializado no mercado americano em exclusivo pela Konica Minolta desde 2019. Benilde Reis, investigadora da UBI, apresentou os modelos de vestuário criados pelo projeto no âmbito do consórcio Texboost

Os lanifícios hi-tech da Fitecom e da UBI “A lã não costuma entrar nestes caminhos”. A frase é do diretor-geral do CITEVE, António Braz Costa, referindo-se aos novos materiais desenvolvidos pela Fitecom, pela UBI, pela Coltec e CITEVE, na apresentação final do TexBoost. Associada à indústria tradicional, a lã é uma fibra sobre a qual parece já se saber tudo, mas o projeto de investigação veio provar o contrário, ao criar uma nova geração de tecidos à base de lã, cujo design e performance prometem acrescentar valor a setores emergentes da indústria da moda, como o athleisure. “O nosso principal objetivo era introduzir a lã numa nova tipologia de produtos, para encontrar novos nichos de mercado, novos públicos”, começa por explicar o presidente do Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis da UBI, o professor Rui Miguel. “A têxtil tradicional tem de procurar algo diferenciador para produtos com melhor performance”, acrescenta João Carvalho, CEO da Fitecom. Nos últimos anos, o boom do fast fashion fez com que o mercado se orientasse para as fibras sintéticas, tornando a lã apenas procurada em determinados setores. A UBI e a Fitecom assumiram o objetivo de alargar o raio de ação dos lanifícios. “No início começamos a pensar qual era o lifestyle do consumidor moderno, citadino, e notamos duas tendências: a primeira para atividades ao ar-livre, como caminhadas; e a segunda para uma nova mobilidade, em que as pessoas querem roupa que possam usar ao andar de bicicleta ou de mota, que seja confortável mas que também proteja”, explica o investigador. Com este conceito em mente, foram desenvolvi-

dos sete novos tecidos, bilaminados ou trilaminados, que conjugam em diferentes camadas os lanifícios da Fitecom, membranas funcionais de poliéster e poliuretano e ainda outras fibras, como a poliamida biodegradável. Quando submetidos a testes, os tecidos revelaram-se impermeáveis mas respiráveis, com bom desempenho como corta-vento e em alguns casos com elevada resistência térmica e até repelência à água. O ideal para um casaco resistente e confortável. Em termos de apresentação, são semelhantes aos tradicionais. “O resultado final está dentro do que é o toque e o cair dos tecidos convencionais, quer fossem 100% lã, ou de um algodão mais pesado”, explica Rui Miguel. “As primeiras laminações criaram estruturas muito rígidas, mas conseguimos reduzir à densidade dos lanifícios utilizados ou jogar com têxteis mais leves, e o resultado final corresponde ao que o consumidor está habituado a ver num casaco ou numa parka”. A partir dos sete tecidos desenvolvidos, o consórcio criou 11 peças de vestuário, que foram apresentadas no MODTISSIMO e na exposição final do TexBoost. Ao longo dos últimos dois anos, a Fitecom começou também a apresentar os tecidos nas principais feiras do setor, como a The London Textile Fair ou a Munich Fabric Start. “Com a Covid, ainda não foi possível fazer a promoção como gostaríamos, mas até temos tido alguns contactos e as reações são positivas. É um produto que tem pernas para andar”, confia João Carvalho, esperando poder levar esta nova geração de lanifícios a mais eventos presenciais ainda em 2021. t

100%

de empregabilidade é a percentagem obtida pelo curso de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho

‘AURORA’: KATTY XIOMARA JUNTA MODA E ARTES PERFORMATIVAS

A nova coleção de Katty Xiomara, apresentada na Sofa Edition do Portugal Fashion, é um renascer conjunto da moda e das artes performativas. A coleção ‘Aurora’ propõe uma renovação dos clássicos da designer luso-venezuelana e é dominada pelos tons lilás, pelos amarelos alaranjados e pela palete de brancos. A irreverência a que habitou a indústria e o mundo da moda continuam perpetuadas na nova coleção da estilista. Deixou as formas exuberantes e o romantismo exacerbado das suas peças em troca de uma nova forma de encarar as suas coleções.


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BALLET ROSA APRESENTA CATÁLOGO MASCULINO

NOVAS FIBRAS E TECIDOS NATURAIS NO CATÁLOGO ONLINE DA TEXSER Fibras orgânicas, tecidos naturais e novas cores e padrões são os ingredientes que a Têxtil de Serzedelo apresentou na Première Vision e no MODTISSIMO online. “Este verão a tendência vai ser muito focada nos tecidos orgânicos, nos crus ou no linho natural, e é isso que temos apresentado, com uma aposta também em cores da estação, como os tons de laranja e verde”, disse Carla Pimenta, CEO da especialista em tecidos para camisaria, pijamas e underwear.

"Temos tido uma posição de vanguarda na pesquisa e produção de tecidos amigos do ambiente" Flávio Dias Diretor de Exportação da Lemar

AS T-SHIRTS VÃO PRODUZIR ENERGIA Além do conforto e aconchego corporal, as T-shirts podem em breve ter também a função de produzir energia. O projeto está a ser desenvolvido pelo CITEVE e investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e há já uma empresa têxtil pronta a avançar para o mercado. “Estamos a direcionar este projeto para o fornecimento de energia a sensores que monitorizam sinais vitais”, explicou Clara Pereira, do Laboratório Associado Química Verde – Requimte, que funciona na FCUP.

A coleção apresenta peças de athleisure, básicos para uniformes e acessórios adaptados às necessidades do bailarino masculino

A Ballet Rosa lançou o primeiro catálogo exclusivo de roupa de dança e acessórios para homem. O novíssimo Catálogo Homme procura apoiar todos os bailarinos, e a Ballet Rosa esforçou-se por construir uma coleção inovadora de roupa e acessórios de dança especificamente desenhados para o homem bailarino. Inspirado nas cidades perdidas do mundo antigo, o catálogo, fruto dos 10 anos de experiência artística e técnica da Ballet Rosa, apresenta várias coleções de moda, athleisure , básicos para uniformes e acessórios, inspiradas pelas necessidades do bailarino masculino, tanto na sala de aula como no palco. A sessão fotográfica, realizada o ano pas-

sado em Atlanta, nos Estados Unidos, contou com a participação de bailarinos profissionais das companhias de dança Atlanta Ballet, BalletMet e Martha Graham Dance Company. A Ballet Rosa é a primeira marca internacional portuguesa de vestuário para dança clássica e contemporânea. Fundada em 2010 por Luís Guimarães e Adão Coelho, dedica-se sobretudo à exportação, encontrando-se presente em mais de 40 países. Há cerca de dois anos, a empresa investiu cerca de meio milhão de euros na mudança de casa, de Pevidém para Ronfe. E já durante a pandemia criou, produziu e patenteou uma inovadora proteção de barra que responde a todos os requisitos de segurança impostos pela Covid-19. t

“UE TEM QUE DEIXAR DE SER INGÉNUA E TAXAR OS PRODUTOS DA CHINA” Avançar na produção sustentável e taxar a entrada na Europa de têxteis provenientes da Ásia que não cumpram as exigências ambientais é o caminho apontado por Mário Jorge Machado, numa entrevista de fundo à revista Exame. O presidente da ATP e membro da Euratex dá também conta que, em conjunto com a Comissão Europeia, estão “a definir quais serão as regras para produzir sustentável e também conseguir que a competitividade da produção europeia não seja afetada

pelo que é produzido fora”. Uma da regras já definida a nível europeu é que “a partir de dezembro de 2024, todos os produtos têxteis vão ter de ser reciclados, não vão poder ser queimados, nem ir para aterro, que é o que acontece hoje. Estão a ser desenvolvidas tecnologias para transformar peças de roupa novamente em fio para voltar a confecionar”, frisa, destacando que este é um aspeto que vai trazer maior competitividade e valor à indústria portuguesa, que tem apostado na produção sustentável, quali-

dade, design e inovação. “Portugal está a produzir diferenciação e não produtos básicos indiferenciados. Esses, Portugal já os perdeu quando a China aderiu à Organização Mundial do Comércio, no início do século. Nessa altura, o setor tinha 350 mil trabalhadores. Hoje tem 125 mil. Existiam cerca de 11 mil empresas, hoje são seis mil. Exporta-se tanto em valor quanto se exportava então”, explica Mário Jorge Machado na longa entrevista de quatro páginas que chegou às bancas no início de março. t

BRANDBIAS RETOMA VESTUÁRIO E ESTÁ A PRODUZIR A TODO O GÁS Desde o início do ano que a Brandbias vive um ambiente de estado de graça. A empresa tem registado um importante aumento do volume produtivo, sobretudo por se tratar de vestuário e em contraciclo com a realidade que tem sido vivida pelo setor. “Esta fase do ano normalmente seria de produção baixa, mas não tem sido. Estamos com um volume produtivo muito alto, quando comparado com o período homólogo de 2020. E é tudo produção de vestuário, já não estamos a fabricar máscaras. Não sabemos se esta tendência de vai manter ou se vai estagnar, mas para já estamos bastante otimistas”, disse Pedro Machado, o criativo da Brandbias.

12 milhões

é a capacidade de produção diária de botões da Louropel

BABY POP IT CRIA ROUPA INFANTIL PERSONALIZADA Nasceu em Fevereiro de 2018 e é uma marca de moda infantil onde os clientes fazem parte do processo criativo. Com vendas exclusivamente online, a Baby Pop it cria peças de cerimónia e casual exclusivas para bebés e crianças até aos 14 anos. “Quando fiquei desempregada, iniciei um projeto de decoração infantil que depois evoluiu para o que é hoje a nossa loja online, que confeciona roupa 100% portuguesa para bebés e crianças”, explica Filipa Ramalho, mentora da Baby Pop it.


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M EMERGENTE Por: Mariana d'Orey

Teresa Silva Fundadora da Vidda Royalle Família Vive com o namorado e vão adotar um patudo para lhes fazer companhia Formação Licenciatura em Relações Internacionais pela Universidade do Minho, ao que anexou depois o mestrado em Gestão & Marketing Internacional num consórcio entre a FEP e a University of Southern of Denmark Carro Seat Leon Portátil Macbook Pro Telemóvel Iphone X Hobbies Ler, ler, ler e ainda ler. Está a folhear um livro técnico sobre sucesso empresarial mas também se perde num bom romance Férias “Temos casa de família na Póvoa de Varzim, por isso é para lá que vamos todos os anos: reunimos a família, grandes churrascadas e muita animação sempre!” Regra de Ouro “Saber onde estou, para onde quero ir e não me desviar do meu caminho”

São grandes os sonhos de Teresa Silva O matriarcado corre-lhe nas veias ao mesmo ritmo que o têxtil bombeia o coração. “Pertenço a uma família que sempre teve fábricas têxteis, e que sempre foram lideradas por mulheres. Admiro muito as mulheres da minha família, que sempre souberam tomar as decisões certas e mesmo em alturas difíceis nunca desistiram dos seus objetivos. Isso inspira-me”, refere a jovem empresária enquanto se recorda de ter crescido numa família alargada, onde os primos se assemelham a irmãos e os tios assumem o papel de segundos pais. “Foi esta força familiar que, de alguma forma, me impulsionou a seguir sempre os meus sonhos”, conta Teresa Silva, 26 anos, que antes de abraçar o mundo têxtil se destacou na literatura infanto-juvenil, uma das suas maiores paixões. “Com oito anos li o Harry Potter e aos 11 anos já tinha lido o Código da Vinci”, um forte impulso para a veia de escritora, assinando três livros infanto-juvenis. E com isso, um percurso de centenas de palestras de incentivo à leitura em escolas de todo o país”, a partir da Guimarães natal onde fez todo o percurso escolar. Apesar de extremamente ligada às raízes, cedo percebeu ser uma mulher do mundo. “Foi na licenciatura que descobri a área económica e me apaixonei. Fascina-me a prosperidade e a possibilidade de gerar riqueza e assim ajudar o próximo”, o que a leva para o mestrado em Gestão & Marketing Internacional, um consórcio entre a Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) e a University of Southern of Denmark e ao trabalho voluntário em empresas de consultoria internacionais. “Criei uma relação muito forte como o meu mentor na Dinamarca e foi ele que me ajudou a expandir e abrir horizontes”, admite Teresa Silva que no regresso a Portugal esteve dois anos ligada ao Cluster Têxtil como gestora de projetos: “Foram anos muito importantes, profissionalmente cresci muito e fui-me apaixonando progressivamente pelo têxtil”. Mas são grandes os sonhos e Teresa deseja mais. E mais significava criar um negócio próprio que ao mesmo tempo que se inspira no know-how familiar e ousa levar o luxo aos quatro cantos do mundo. É nesta dança que nasce, no arranque de 2021, a Vidda Royalle, uma marca de têxtil lar e decoração de luxo que incorpora nos seus artigos o trabalho de artistas internacionais. Flagship dá nome à primeira coleção – “uma homenagem à Cidade-Berço, de onde somos naturais” – que descreve como de design sofisticado, muito nobre e elegante, como a própria cidade que está muito bem representada no trabalho de Pedro Guimarães, o primeiro artista convidado. A ideia é que as coleções possam sempre representar um pouco da cidade ou país de onde é natural o artista convidado. A próxima leva a assinatura de um artista colombiano. Um projeto que encaixa na medida dos sonhos de Teresa Silva, que “através da criação de uma equipa internacional com fortes ligações a universidades” quer levar a Vidda Royalle até aos melhores hotéis e projetos de arquitetura do mundo. “Estamos a preparar a expansão para o Golfo Pérsico e vamos criar um centro de operações no Dubai”, explica a jovem empresária, que através da esperada prosperidade dos negócios sonha também envolve-se em grandes causas humanitárias. t


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a MUNDO VERDE

milhões é o valor que o mercado de moda em segunda mão deverá atingir em 2023

Isabel Furtado Grupo de Alto Nível Cluster Têxtil

“O OBJETIVO É SERMOS NEUTROS EM CARBONO” A Adalberto vai investir mais de meio milhão de euros na instalação de painéis fotovoltaicos que permitam ao grupo não só baixar a fatura da energia elétrica, mas também diminuir o pegada ecológica industrial. Nesse mesmo sentido, o grupo têxtil reforça também o programa de reconversão da frota automóvel para veículos elétricos. “O objetivo é sermos neutros em carbono. Como já utilizamos energia de fontes renováveis, faz todo o sentido que tenhamos uma frota de carros elétricos para fecharmos o ciclo da forma mais ecológica possível”, disse a CEO da Adalberto, Susana Serrano. A Adalberto recorreu aos serviços da Acciona, que, através da sua Divisão de Energia, desenvolveu a solução GreenChain, que permite verificar a origem das fontes de energia e rastrear todo o seu percurso. “A Acciona foi a única empresa

LIPACO REFORÇA APOSTA NOS FIOS RECICLADOS Especialista na produção de fios e linhas de costura, a Lipaco destaca a aposta em fios reciclados. “Há clientes que hoje já só se interessam por produtos sustentáveis e os outros estão a começar a migrar para essa nova política de mercado”, explica Jorge Pereira, CEO da empresa, que tem visto reconhecida a sua inovação sustentável. Dois dos seus fios inovadores estão selecionados como finalistas para os iTechStyle Awards de 2021. Um deles é o Recyarn 2, um fio de poliamida 99% reciclado, produzido a partir de resíduos do principal ciclo de produção da empresa.

COVET CONVIDA MARITA A ‘ENTRAR NO JOGO’

Para a CEO Susana Serrano, reduzir a pegada ecológica é o grande objetivo da empresa

que nos apresentou uma solução mais aproximada com o nosso plano estratégico. Uma das ações do nosso plano de sustentabilidade era a utilização de energia verde passível de ser rastreada”, explicou Susana Serrano. Reutilização de materiais, diminuição do desperdício industrial, utilização de fi-

bras mais ecológicas, redução do consumo de água e sua reutilização e adoção de acabamentos menos intrusivos para o ambiente, são alguns dos restantes passos que a Adalberto pretende introduzir no seu processo industrial, como forma de diminuir cada vez mais a sua pegada ecológica. t

GREEN CIRCLE MOSTRA VANGUARDA SUSTENTÁVEL DA NOSSA ITV É mais uma prova de afirmação da liderança lusa no caminho da sustentabilidade do têxtil e da moda, com a presença do showcase iTechStyle Green Circle na recente edição da Première Vision Paris. Uma mostra avançada de artigos sustentáveis made in Portugal que se deu a conhecer ao mundo naquela que é a maior sala de reuniões da têxtil europeia, reunindo todos os setores da

"A sustentabilidade é uma forma de estar, em toda a cadeia de valor"

indústria e profissionais de todo o mundo. Um showcase onde estiveram representadas as empresas A. Sampaio, Adalberto, JOAPS, LMA, NGS, RDD, Tintex e Troficolor, integrando o projeto promovido pelo CITEVE e Associação Selectiva Moda. Numa edição digital, a mostra Green Circle recorreu à tecnologia 3D VR Scanning altamente realista e de fácil navegação, para criar uma

galeria virtual com coordenados 100% portugueses. Uma mostra avançada da vanguarda sustentável da ITV portuguesa, com exemplos de materiais baseados em fibras recicladas e recicláveis ou fibras orgânicas, naturais e renováveis, tingidas sem recurso a químicos, tal como o consumo responsável da moda e exigem os consumidores, em defesa do futuro e do planeta. t

O Covet Fashion, jogo virtual de moda onde é possível criar um guarda-roupa de sonho e trazer algumas dessas peças para a vida real, convidou a Marita Moreno – marca que foi nomeada para os Green Product Awards 2020, um prémio internacional de design sustentável – a apresentar várias peças para completar os looks de quem utiliza a aplicação. Entre mais de 150 marcas presentes na aplicação, encontra-se agora a primeira marca portuguesa.

"Este verão a tendência vai ser muito focada nos tecidos orgânicos, nos crus e no linho natural" Carla Pimenta CEO da Texser – Textil de Serzedelo

STELLA MCCARTNEY USA COURO DE COGUMELO A estilista britânica Stella McCartney acaba de lançar uma linha de vestuário feita com couro Mylo, um material desenvolvido a partir de cogumelos. Neste novo passo na sua busca pela sustentabilidade no mundo da moda, a estilista associou-se à empresa de biotecnologia californiana Bold Threads garantir acesso ao seu material inovador. Descrito como um “não couro”, o Mylo é cultivado a partir do micélio, a parte vegetal do fungo, e é considerado infinitamente renovável.


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B SERVIÇOS ESPECIALIZADOS Por: António Moreira Gonçalves

sampLess

ANPME, Rua Júlio Dinis, 210 4050-371 Porto

O que faz? É um centro especializado na digitalização e prototipagem de têxteis e moda através de tecnologias como o scanning, a renderização e a modelação 3D Áreas Trabalha com vestuário, têxteis-lar, acessórios ou calçado Fundação Janeiro de 2021 Equipa Cinco colaboradores Escritórios Porto

PAULA BORGES DISPARA NO ARRANQUE DE 2021 O primeiros meses de 2021 não podiam estar a correr melhor à Paula Borges, que não só recuperou da quebra registada no período anterior como assiste a um acelerado crescimento das encomendas. “Temos a expetativa de fechar o ano com um crescimento de 15 a 20% face a 2019”, disse Paulo Faria, o diretor comercial da empresa, que regista novos clientes “sobretudo da Europa, entre os quais ingleses, suecos, franceses e holandeses, mas também norte-americanos e japoneses.

"Os nossos consumidores são os millennials e o que procuram não é o que tínhamos no passado" Patrícia Ferreira CEO da Valérius Hub

MO QUER SER TÃO GRANDE LÁ FORA COMO EM PORTUGAL É com a presença em cadeias de supermercados em Espanha e Itália e a aposta no digital que a MO quer ser tão grande lá fora como já é no mercado interno. O negócio online abrange já mais de 30 países e fez com que durante o confinamento as vendas se tivessem multiplicado por seis. “A oportunidade de crescimento é para construir outra MO lá fora, igual ou maior do que temos em Portugal”, disse o administrador Francisco Pimentel, que quer reforçar a presença em Espanha e Itália, enquanto lança âncoras em França, Bélgica, Suíça e Áustria.

Na imagem, uma foto do modelo físico e um protótipo digital. Consegue distingui-los?

O novo centro de digitalização da ITV portuguesa Chama-se sampLess e o nome resume de forma literal a sua principal missão: fazer com que a industria têxtil e da moda reduza o número de amostras produzidas, tornando-se mais eficiente e sustentável. Consiste no primeiro centro de prototipagem digital aberto a todas as empresas, desde o vestuário aos têxteis-lar, passando pelo calçado e acessórios. Inaugurado em janeiro, no Porto, está já a cativar várias marcas de renome, como a Impetus, e quer demonstrar aos mercados internacionais que Portugal acompanha a nova era da digital fashion. Quem trabalha na indústria têxtil sabe que o desenvolvimento de um novo produto é um processo recheado de avanços e recuos, com muitas amostras a serem produzidas e enviadas entre fornecedores, clientes e laboratórios. A missão do sampLess é tornar este processo mais célere e com menos riscos, ao digitalizá-lo de fio a pavio com recurso a tecnologias de scanning, renderização e modelação 3D. “O processo é muito similar à produção física. O primeiro passo é a digitalização dos tecidos, ou seja, a conversão de uma amostra física numa amostra digital, através de scanning. Depois, a partir dos moldes de cada peça, compomos o modelo 3D. Por fim aplicamos os materiais nesse modelo e renderizamos para obter o protótipo final”, resume Paulo Salgado, fundador da sampLess. A partir do momento em que está pronto, o protótipo digital é depois costumizável e a empresa pode até apresentar um produto sem o produzir. “Pode coloca-la no site, perceber o fee-

dback dos clientes ou do público, e depois arrancar com a produção”, exemplifica Paulo Salgado. A tecnologia já não é nova, mas o objetivo da sampLess é torna-la mais generalizada e acessível a empresas de qualquer dimensão. “A nossa missão é evangelizar este know-how em toda a indústria, porque as tecnologias atuais tornam-se, por vezes, demasiado pesadas para algumas empresas as internalizarem. Com este serviço, todos podem ir a jogo na nova vaga da digital fashion”, diz Paulo Salgado. O centro, que começou a trabalhar no início deste ano, já foi responsável pela apresentação de algumas das peças da Impetus (modelo da imagem) na última ISPO Munich Online. “As marcas que assumem a sustentabilidade como um dos seus critérios estão mais conscientes desta tecnologia, porque se reduz muito o desperdício. Podemos diminuir em 70% as amostras que são criadas, as quais muitas vezes acabam no lixo”, lembra o fundador da sampLess. Para além dos serviços de digitalização, a sampLess está também a introduzir em Portugal a tecnologia norte-americana Swatchbook, uma biblioteca digital que promete servir de marketplace para os produtores que já têm a prototipagem digital integrada. “Portugal já é visto como um centro de excelência em termos de produção. Agora é preciso provar que a nossa indústria é capaz de interagir com qualquer marca estrangeira que já trabalhe com estas tecnologias”, conclui Paulo Salgado. t

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visitantes únicos marcaram presença na edição online do MODTISSIMO

LECTRA LANÇA FLEX OFFER PARA OTIMIZAR FABRICO DE MODA A Lectra, fornecedora de soluções de inteligência industrial, acaba de lançar a Flex Offer by Lectra, uma nova oferta para o mundo da moda com a qual promete otimizar todo o processo produtivo e ajudar a aumentar as margens de lucro. Com a sua nova solução de colocação automática alojada na nuvem, a empresa diz que a Flex Offer by Lectra otimiza a gestão do consumo de material ao determinar a quantidade de tecido necessária, em conformidade com as especificações do cliente.

SKULK EXPORTA A 96% E DUPLICOU A FATURAÇÃO EM 2020 Após ter duplicado a faturação em 2020, graças à conjugação entre o início da produção de máscaras e o aumento das encomendas de compradores estrangeiros, a Skulk aposta na conquista de novos clientes. “Cerca de 96% da nossa faturação vem das exportações, de países como França, Luxemburgo, Espanha e Holanda. Em 2020 angariamos um novo cliente holandês e mais dois em Espanha, o que nos ajudou a aumentar as vendas”, revela Vasco Oliveira, sócio da marca que tem no mercado nacional apenas 4% das vendas, oriundos das lojas da marca em regime de franchising. Do montante total de negócios, 70% vem do vestuário e o restantes das máscaras de proteção individual.


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OPINIÃO PORTUGAL E A ITV NO PÓS-COVID Luís Mira Amaral Engenheiro e Economista e membro do Conselho Consultivo da ATP

LIGAÇÃO UNIVERSIDADE / EMPRESA – NOVA GERAÇÃO Rui A. L. Miguel Presidente do Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis DA UBI E Membro do Conselho Consultivo da ATP

A rapidez e a dimensão dos pacotes americanos de apoio à economia contrastam com a lentidão com que na União Europeia se tenta implementar o pacote de 750 milhões de euros. O mesmo nas vacinas. Os EUA já terão vacinado cerca de 38% da sua população adulta, contra 58% no Reino Unido e apenas 14% na UE. Tal não pode deixar de ter consequências nos processos de recuperação económica e confiança nos agentes económicos. Portugal está a atravessar a maior crise económica dos últimos cem anos com elevada destruição da atividade económica e profundas consequências sociais, colocando o PIB abaixo do PIB Potencial, devido à pandemia da Covid-19. Com o fim das moratórias, e com disparo de falências e o aumento do crédito mal parado, poderemos ter também problemas na banca. E quando a Comissão Europeia voltar ao rigor do Pacto de Estabilidade, o BCE alterar a sua política de juros baixos e os mercados financeiros, num contexto de subidas das taxas de juro, regressarem à análise da sustentabilidade das dívidas públicas, teremos outro momento de stress para as nossas finanças públicas. Teremos sido o quinto pais da União Europeia com maior queda do PIB em 2020 e estaremos entre os três (Portugal, Espanha e Itália) com maior queda conjunta no período 2020-2021. A dependência que as três economias têm do turismo ajuda a explicar essa posição. Isto mostra a importância da reindustrialização do nosso país. A nossa Indústria Têxtil e do Vestuário é essencial com o seu contributo para a nossa recuperação econó-

As exigências derivadas da abertura dos mercados, do nível de conhecimento dos consumidores e da volatilidade da fileira moda, associadas ao enorme potencial da evolução da ciência e tecnologia, constituem um enorme desafio à competitividade das empresas, só superado com base no conhecimento. Cada vez mais, na área industrial da ITV, são necessários quadros técnicos superiores com formações clássicas (licenciatura, mestrado, doutoramento) em química, caso da tinturaria e acabamento, em mecânica, eletrotecnia e eletrónica, caso da manutenção dos equipamentos e instalações, em informática, caso do irreversível percurso da digitalização. Há, no entanto, dois perfis profissionais, com formação superior, específicos da ITV. O designer de moda (têxtil e vestuário) que associa à capacidade criativa, de interpretação de tendências e de perceção das necessidades dos clientes (B2B e/ou B2C), o conhecimento dos materiais e das potencialidades da tecnologia disponível, com preocupações de sustentabilidade.

mica e para o nosso processo de reindustrialização, a financiar pelos fundos europeus. Longe vão os tempos em que travámos no governo uma batalha contra aqueles que achavam que a ITV era obsoleta por ser um setor tradicional. Explicávamos então que tradicional significa que faz parte da nossa tradição industrial, havendo em todos os setores empresas que se modernizam e se desenvolvem e outras que não o fazem e desaparecem. O sucesso exportador da ITV na fase pré-Covid mostra que tínhamos razão e aí temos hoje a nossa ITV pronta para responder aos desafios das transições digital, energética e ecológica ação que já existia com a crescente substituição de lojas físicas pelas lojas digitais e com o crescente recurso às tecnologias digitais em todos os segmentos da cadeia de valor. Portugal estava relativamente atrasado antes da pandemia nas ferramentas de e-com, sendo necessário uma rápida implementação destas ferramentas pelas empresas nos processos de internacionalização. O desafio da economia circular vai ser crucial numa indústria que gera muitos desperdícios e o desafio da sustentabilidade não será apenas ambiental, energético, económico e financeiro, mas também de crescente transparência face a consumidores mais informados desejando conhecer as condições de operação e de produção, como e onde o produto foi feito. A ATP está a trabalhar e bem para ajudar este importantíssimo setor industrial a vencer os desafios implícitos na “Visão Estratégica para o Setor Têxtil e de Vestuário” que a União Europeia vai lançar. t

O quadro superior (têxtil e vestuário) com conhecimento técnico das matérias primas, dos produtos acabados e em transformação e dos respetivos processos, fluxos das operações de produção e parâmetros de qualidade. O plano de estudos destes cursos de licenciatura e mestrado deve ser eclético e incluir temas de formação complementar como gestão Lean, indústria 4.0, sourcing e cadeia de abastecimento, negócio internacional de moda, sustentabilidade e economia circular, etc. É um perfil profissional para as empresas industriais, mas também para o sourcing de produção e de produtos em empresas comerciais. A formação destes quadros, com o up-grade de nova geração que responda às exigências atuais, deve envolver de forma organizada a participação das empresas na definição dos planos de estudo e conteúdos programáticos dos cursos, bem como a participação de quadros das empresas na lecionação de alguns módulos ou em seminários. Será ainda de enquadrar a realização de estágios curtos nas empresas durante o ciclo

de formação, bem como a possibilidade da realização de cursos de mestrado, ou outros não conferentes de grau, em colaboração com as empresas visando uma preparação mais assertiva e específica para o mundo do trabalho. Ainda nesta perspetiva, a formação online, concertada com as empresas, poderá ser um contributo muito importante das universidades na formação ao longo da vida dos quadros profissionais da ITV. As universidades podem e devem multiplicar o que se tem feito no fomento da criação de startups em áreas da fileira da ITV, em centros de incubação e desenvolvimento, no próprio campus ou em parques tecnológicos associados, promovendo o empreendedorismo e o próprio emprego de jovens diplomados. A estratégia deve ser capaz de aliciar consultores sénior, investidores e fundos de investimento e, também, atrair empresas da ITV de modo a serem acionistas qualificados, mesmo que minoritários, permitindo-lhes externalizar áreas de negócio específicas e com conhecimento intenso em ciência e tecnologia. t


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Ana Fernandes Advogada Sénior da João Fraga de Castro & Associados

COMO FUNCIONAM AS TAXAS E ENCARGOS ALFANDEGÁRIOS? Com as compras online mais populares que nunca e o processo cada vez mais simplificado, é importante perceber como funcionam e quais são os custos associados às trocas comerciais entre países, nomeadamente o funcionamento das taxas alfandegárias em Portugal. As taxas alfandegárias apenas são devidas quando estamos perante uma importação de mercadorias vindas de um país fora da UE, pois as trocas comerciais entre os países membros não têm qualquer custo alfandegário, ou têm custos praticamente nulos. Existem algumas excepções de importação de produtos específicos que, ainda que oriundos de Estados Membros, estão sujeitos a taxas especiais, como o caso das bebidas alcoólicas, tabaco e combustíveis, aos quais é aplicado o Imposto Especial sobre o Consumo, e dos veículos automóveis, aos quais é sempre aplicado o Imposto sobre Veículos, aplicáveis não apenas a produtos produzidos num Estado Membro, como também a produtos que já tenham passado pelo processo de desalfandegamento no país de entrada na UE. Os encargos alfandegários associados à importação de mercadorias não são apenas as taxas de direitos aduaneiros, mas também as taxas alfandegárias. Ora, as Taxas de Direitos Aduaneiros são verdadeiros impostos, aplicados pela UE e que variam de produto para produto, em função da categoria em que o mesmo se insere, sendo uma receita própria da UE, no exercício da sua política comercial externa. As Taxas Alfandegárias já não são um imposto, mas sim o pagamento pelo serviço de alfândega, como por exemplo o serviço de armazenamento e manuseamento, honorários de despacho aduaneiro, entre outros. Quando importamos produtos de fora da UE, há pelo menos dois tipos de impostos que têm que ser pagos: o IVA e os Direitos Aduaneiros. O valor de IVA é um valor fixo, praticado no território nacional, enquanto que os Direitos Aduaneiros variam consoante o tipo de mercadoria a importar, pelo que o valor a pagar por mercadorias importadas nem sempre é o mesmo. Actualmente, todas as mercadorias que chegam à Alfândega cujo valor seja inferior a 22€ estão isentas de IVA e também da franquia de direitos aduaneiros (apenas se aplicam a mercadorias de valor superior a 150€) sendo directamente encaminhados para distribuição ao comprador, e apenas as restantes seguem para controlo aduaneiro. Nesta fase, a mercadoria pode, ou não, ser “escolhida” para pagamento de impostos, sendo o processo de triagem aleatório. Se o bem importado for “escolhido” para o pagamento de impostos, o mesmo fica retido na alfândega e o comprador será notificado para o desalfandegar, tendo para tal que seguir um conjunto de passos que lhe são, obviamente, transmitidos. No entanto, a recente publicação do Decreto-Lei n.º 47/2020, de 24 de agosto (que entrou em vigor a 1/01/2021 mas, devido à pandemia, a sua aplicação foi diferida para 1/07/2021) veio introduzir alterações no regime do IVA em Portugal, nomeadamente no que toca à importação de bens fora da UE. Este DL, entre outras alterações, veio eliminar esta “franquia” de 22€, passando, a 1/07/2021, todos os bens importados de países fora da UE, ainda que de valor inferior a 22€, a estar sujeitos ao pagamento de IVA em Portugal. t

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João Batista Barata Professor no Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis da UBI

O VORTEX DA MOTIVAÇÃO PARA A CRIATIVIDADE Durante o meu doutoramento, dediquei-me a estudar como é que a criatividade dos designers de moda que trabalham nas empresas poderia ser influenciada, inibida, e/ou potenciada por vários contextos laborais. Há muitos resultados, mas um dos mais importantes é que não é possível um designer ser criativo se não estiver motivado. A estatística comprova, quando os contextos macro, como por exemplo o clima e a cultura dentro das empresas, têm níveis elevados na percepção dos trabalhadores, os elementos individuais, como a autogestão de criatividade e os níveis de motivação, também estão altos. Desde que a criatividade se tornou uma bandeira imprescindível nas empresas do Setor Têxtil e do Vestuário, que se pede aos designers de moda que sejam criativos, que essa é uma característica tão importante quanto as outras competências técnicas ou tecnológicas. Dentro do local de trabalho, não basta pedir que alguém seja criativo, há que se lhe dar apoio e alimentar o vórtex da motivação, interligada a muitas outras variáveis tendo em conta a resposta criativa. Apostar na motivação para a criatividade é uma forma de aumentar os níveis de criatividade, melhorar o clima da empresa, as atitudes/cultura e o sentimento de crescimento e evolução constantes dos designers de moda, apelidada de autogestão. A componente de campo da investigação resultou na demonstração clara, robusta e estatística da conectividade entre os climas e as culturas empresariais, a autogestão da criatividade e os níveis de motivação para a resposta criativa. Além de muito forte, as correlações entre as três variáveis acima são positivas, que em termos estatísticos indica que estes factores se puxam e empurram na mesma direcção. Se um fator macro, é positivo, um micro e individual também será. Percebeu-se que, nas empresas do sector, quando clima empresarial é bom, os níveis de motivação dos designers são altos. A existência de designers com elevados índices de motivação também contribui para uma atmosfera propensa à criatividade e à existência de atitudes positivas no relacionamento interpessoal na empresa (cultura organizacional). Também se perguntou, de várias formas, se os designers se sentiam criativos, se se auto percepcionavam a evoluir constantemente na sua profissão (autogestão) e o resultado parece, novamente, estar a alimentar o vórtex da motivação. Esta correlação é muito forte, e os níveis de autogestão da criatividade são positivamente influenciados pela existência de muita e farta motivação para a tarefa criativa. O estudo que realizei inclui uma tabela onde constam quatro pilares importantes na formação e transformação das variáveis suprarreferidas. Como há uma correlação direta, aumentar os níveis de qualquer pilar será responsável pelo aumento dos níveis dos pilares a ele associados. Para apostar na criatividade dos designers de moda do STV há que começar em algum lado, proponho que se invista no aumento dos níveis de motivação para a criatividade, um guloso vórtex. Há muito a fazer, é certo, mas aqui os resultados serão diretos e rapidamente visíveis. t


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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara

Com coroa de campeão, mas em fato de treino para manter a humildade e afastar qualquer ideia de sobranceria. Sempre criativa, Katty preparou com minúcia para o selecionador nacional uma indumentária onde não falta a coroa, mas também diversas braçadeiras para reposição, não vá o capitão da equipa ter algum ataque de fúria. É que se há lição que a pandemia deixou, é a importância da prevenção

Vermelho e verde, que fica bem a Fernando Santos Fernando Santos foi coroado pela segunda vez como o melhor selecionador do mundo e renovou os seus votos com a Federação Portuguesa de Futebol até 2024, o que significa que a sua coroa terá tempo de luzir mas também de pesar durante as duras etapas de luta pela conquista dos diversos campeonatos que se avizinham. Pelo menos durante o Europeu poderá garantidamente exibir a coroa por distintos burgos, pois este ano o grande evento estará em digressão por 12 países. Nada que o deva distrair das suas verdadeiras funções, visto que, logo no início da sua investida terá de lutar com dois grandes impérios. Isto porque a nossa seleção está no grupo da infame F word e neste grupo faz-se acompanhar por duas fortes guerreiras, a Alemanha e a França. Até lá, o trabalho de Fernando Santos não pode abrandar, pois neste preciso momento estamos na corrida de qualificação para o Mundial de 2022, no Qatar. Todos sabemos que no futebol só há previsões após o jogo e a pandemia deixou as nossas capacidades de antever ainda mais curtas. Assim sendo, não arriscamos em conjeturas. Não anunciámos nem lista de possíveis convocados, nem quantos exemplos nacionais irão nascer ou esmorecer neste percurso. E também não podemos garantir que a coroa se mantenha orgulhosamente fixa na cabeça do nosso selecionador. Mas podemos, isso sim, deixar os nossos maiores desejos de sucesso, até porque todos sabemos que quando o sucesso toca no nosso futebol consegue acariciar o coração do povo. E embora seja meramente simbólico, o certo é que a alegria, o alento e a esperança são bons impulsionadores e à falta de outras coisas, que seja pelo menos o futebol a encher-nos o papo. Preparamos assim um novo uniforme para Fernando Santos, que, claro, começa por uma majestosa coroa pintada nas nossas cores: o vermelho, para dar energia e coragem aos guerreiros deste reino, e o verde, para dar-nos a todos mais esperança de vencer. Para atenuar a sobranceria que a coroa possa sugerir e seguindo o exemplo de tantas outras personalidades importantes, despimos o tradicional fato e gravata do nosso selecionador, para vesti-lo com um prático fato-de-treino nos tons da nossa bandeira. Por último e para prevenir qualquer ataque de fúria do nosso capitão – porque se a pandemia nos deixou alguma lição, é a da importância da prevenção – munimos o nosso selecionador com diversas braçadeiras de capitão, prontas para reposição, já assinadas e numeradas para lhes conferir maior veracidade. A bem dos interesses da Nação, esperamos que a coroação do Fernando Santos nos traga doces e não amargos de boca. t


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O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão

Restaurante Zizi Rua Mar 4410-408 Praia da Aguda - Arcozelo Vila Nova de Gaia

TUDO O QUE TE DOU, NA ZIZI Hoje é dia de esplanadas! Foi por elas que os restaurantes p u d e r a m co m e ç a r a r e g r e s sar à vida. Bem, a alguma v i d a , d e s d e l o go p o r q u e n e m todos têm esplanadas nem p o s s i b i l i d a d e s d e a s i nv e n t a r , a p r ov e i t a n d o a s f a c i l i d a d e s q u e a s C â m a r a s a go r a dão nesta fase pandémica. Mas também porque só poder usar as esplanadas em mês de águas mil teve tamb é m o s s e u s co n f i n a m e n t o s . Na Praia da Aguda existe uma casa famosa pelas suas esplanadas, que são duas e já eram assim a dobrar, ainda n i n g u é m f a l av a e m C ov i d . Aliás nesse tempo também a i n d a p o u c a g e n t e d av a t u d o e m a i s a l g u m a co i s a p o r s e poder sentar numa esplanad a no i n í c i o d e a b r i l . Tudo o que sempre nos deram na Zizi é o que eu valorizo e valorizarei sempre.

LOUREIRO COM CARIMBO FLOR DA MODA

O s m a r i s co s f r e s co s , g r e l h a dos, ou em arroz ou açorda, o p o l vo a s s a d o n o f o r n o e o a r r o z d e r o b a l o co m co e n tros, não são possíveis de “mercadejar” por um qualquer bitoque mal-amanhad o , q u e s e co m e n u m q u a l quer lugar e se celebra nos dias de hoje só porque foi co m i d o a o a r l i v r e , n u m a e s planada manhosa. Tudo o que te dou é uma das músicas mais famosas do m e u a m i go P e d r o A b r u n h o sa, que é um dos clientes “residentes” da Zizi e entra a q u i a go r a n e s t e p a l co p o rq u e f o i co m e l e q u e l á e s t i v e na última vez que fui à Zizi. É verdade que almoçamos na esplanada, naquela mais p e r t o d o m a r. M a s f o i p o r c a u s a d a n o s s a co nv e r s a e d o q u e a Z i z i n o s d e u p a r a co mer que nos sentimos mais perto do Céu! t

Quinta do Barco | Loureiro A par da produção têxtil da Flor da Moda, onde se destacam as marcas de Ana Sousa e Temperatura, a família Sousa tem também na produção de vinhos outras das suas atividades e interesses. Mais recente, é certo, mas não menos envolvente, e com uma marca igualmente distintiva e prestigiante. Também em Barcelos, neste caso na margem direita do Cávado, na freguesia de Manhente, a Quinta do Barco é uma propriedade que adquiriram em 1994, tem uma área de vinha de 26 hectares e está situada numa das zonas mais propícias ao cultivo da casta Loureiro, uma das mais apreciadas e de maior potencial dos Vinhos Verdes. Os vinhos são comercializados com as marcas Quinta do Barco e Suape, que além do Loureiro engarrafam outros Vinhos Verdes, branco, tinto e rosé, exclusivamente com base nas uvas das vinhas da propriedade. O mais apreciado é naturalmente o Loureiro, seja pelas suas caraterísticas de aroma, frescura e jovialidade, seja ainda pela aptidão para acompanhar os pratos de peixe e marisco que começam a apetecer com o despertar dos dias mais quentes. Bom proveito!


Março-Abril 2021

T

39

c MALMEQUER Por: Cláudia Azevedo Lopes

Maria José Machado, 39 anos, fundadora da AXFILIA, uma engenheira química (FEUP) que andou pela área da inovação antes de se lançar no negócio por conta própria com a criação, em 2013, da empresa especializada em vestuário de proteção, segurança e corporate. Mora em Famalicão com o marido e os três filhos - o último nascido em plena pandemia -, gosta de mariscadas, não perde um bom pé de dança e também sabe pregar partidas

SOUVENIR

SABE O QUE É UM BRE?

Gosta Ser mulher Ser abraçada pelos meus filhos Gargalhadas Cheiro a maresia Aguarelas Ir por caminhos diferentes Dançar Ken Follet Correr Pilates Bacalhau Fazer alheiras Baga Batida da Salsa Mergulhar no rio A minha casa virada a sul Jogos de tabuleiro Amarelo Cozinhar Maionese Caligrafia Surpresas Tocar guitarra na tuna Chocolate Queen Karaoke Taininhas Coelho estufado com ervilhas Mudança de planos Tulipas Beijos Pudim Abade de Priscos Novas perspetivas Ovos Conversar Teatro Pregar partidas Coordenar Mariscadas Primeiro golo da cerveja Céu limpo Wok Andar de avião Aprender línguas Conhecer novas pessoas Tartes na cara Documentários Agradar Alisar o cabelo Fotografia

Não gosta Conduzir à noite Misoginia Humor rebuscado Moelas Fígado Gastar dinheiro Cartoons do Hugo van der Ding Aranhas Pêlo de gato Pés frios Fritos Ser míope Bordeaux Erros de escrita Rotina Programas da bola Gomas Cheiro das favas Mentiras Ser mandada Telemóveis à mesa Brincos Fones Puxões de orelhas Vodka Sapatos velhos Calças rotas Shoppings Tomar medicamentos Filmes previsíveis Pólen Conversas paralelas Nortadas Livros do JRS CMTV Toucinho Saltos altos Castanho Arroz doce Ficar embaraçada Enganar-me nas contas Pintar as unhas Perder jogos Gente que empata gente Igualdade em detrimento da equidade Conversas que não acrescentam Falta de transparência Corrupção

Faço parte de uma geração diplomática para quem os interesses da indústria têxtil portuguesa estavam na primeira linha das preocupações. Passei horas, dias, anos a tentar explicar que, por detrás da invejada capacidade competitiva dos nossos têxteis, havia vidas, gente, empregos. Era difícil fazer entender aos nossos interlocutores o que era a tragédia social que se anunciava no Vale do Ave, se o nosso têxtil tivesse dificuldades em ser exportado. Vivi isso, anos seguidos, na União Europeia, no auge de uma globalização que se procurou fazer muito à nossa custa. Mas já me tinha acontecido antes. As minhas angústias com o têxtil português tinham começado na Noruega, quando fui para a nossa embaixada em Oslo, nos anos 70. Ambos os países eram membros da EFTA. Nesse contexto, Portugal era obrigado a “auto-limitar”, dentro de rígidos limites quantitativos, aquilo que, em matéria têxtil, exportava para a Noruega. Foi a saga dos BRE, os Boletins de Registo de Exportação, uma espécie “rara” que os nossos produtores disputavam junto do Instituto dos Têxteis: quem não obtivesse BRE não exportava e, ano após ano, era-nos exigido que emitíssemos menos, em mais posições pautais. Numa tarde desses anos, passei pela montra de uma loja de Oslo. Estava à venda uma belíssima camisola norueguesa, bege, com desenhos em tons de castanho. Era muito cara. “Ficava-te lindamente!”, disse-me a minha mulher. “Não compro têxteis a esta gente! Era só o que faltava! É uma questão de princípio!” E continuámos a passear pela neve. Semanas depois, no dia do meu aniversário, acordei com a camisola embrulhada, como presente. Fiz de conta que me zanguei. Há dias, na minha terra, em Vila Real, abri uma gaveta e lá estava ela. A bela camisola norueguesa! Ainda gosto dela, quatro décadas depois. Mas olho-a como uma eterna traição ao têxtil português. t Francisco Seixas da Costa

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