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RUI MARTINS
CEO da Inovafil
“ESTÁ A SER O NOSSO MELHOR ANO DE SEMPRE”
FOTO: RUI APOLINÁRIO
DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS
P 20 A 22 DOIS CAFÉS E A CONTA
PERGUNTA DO MÊS
BLOOMATI É O REBENTO ECOLÓGICO E SUSTENTÁVEL DA CARVEMA TÊXTIL
A ESCASSEZ DE MÃO-DE-OBRA PODE COMPROMETER A RETOMA?
INOVAÇÃO
EMERGENTE
SIMPÓSIO ATP
O TNT DA TRIM NW QUE FAZ BARREIRA AOS VÍRUS
NA FAMÍLIA DIZEM QUE MARIA GOMES JÁ NASCEU A FALAR
GOVERNO RECETIVO ÀS PROPOSTAS DA FILEIRA TÊXTIL
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A MINHA EMPRESA
INAUGURAÇÃO
RAPIDEZ E SERVIÇO SÃO A CHAVE DE OURO DA EXPOTIME
COM A HATA, A TINTEX REÚNE NO MESMO ESPAÇO TODA A TRICOTAGEM
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DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS
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CORTE&COSTURA
EDITORIAL
Por: Júlio Magalhães
Por: Manuel Serrão
Hugo Costa 38 anos Designer, começou por querer ser engenheiro informático, mas depressa concluiu que a vida sem arte não é possível. Presença regular na Semana de Moda Masculina de Paris, além das coleções em nome próprio, desenvolve também serviços para outras marcas. Casado, dois filhos, e a par do fanatismo pelo FCPorto, mantém o vício de jogar à bola, da corrida e andar de bicicleta.
O TAMANHO IMPORTA? Para o tema que escolhi para este editorial, o tamanho não interessa nada. Resolvemos dedicar a nossa Fotosíntese desta edição a duas feiras, a Arab Health e a Fashion Rendez Vous, não porque sejam as maiores ou as melhores de todo o universo ferial, mas simplesmente... porque aconteceram. O tamanho aqui não importa! Depois de um ano quase sem feiras físicas, com os seus habituais clientes em plena “ressaca” da sua falta, o T quis associarse às manifestações de contentamento das empresas que regressaram às feiras presenciais. A pensar no futuro próximo foi muito estimulante perceber que as feiras físicas podem voltar a acontecer com centenas de expositores a aderirem e milhares de visitantes a quererem voltar aos negócios. No projeto From Portugal (ASM/ATP) está prometido um regresso em força à quase normalidade a partir da Munich Fabric Start, que terá início a 31 de agosto. A esperança e a confiança neste comeback é muito grande, mas todos sabemos que só no final de setembro é que se poderá fazer o balanço. O tamanho deste feedbeck é que já importa. E será muito importante para sabermos como vai ser 2022. t
As marcas industriais e os estilistas já não estão de costas voltadas? Estão mais próximas do que há 10 anos atrás. Mas ainda há um caminho a percorrer de valorização do design e dos designers nacionais. Esse caminho tem que continuar a ser estimulado pelas diferentes associações dos diferentes setores que compõem a indústria de moda nacional. Como evoluiu a imagem da moda portuguesa nos mercados externos nos últimos 10 anos? Ainda há um longo caminho a percorrer. Portugal era (e é) reconhecido como país meramente produtor. A inteligência tinha que vir de fora. Lembro-me de feiras internacionais e showrooms em que ficavam surpreendidos porque a marca era Portuguesa. Hoje já vemos reconhecimento dos designers Portugueses nas semanas de moda internacionais. Basta olhar para Alexandra Moura, Marques'Almeida, Miguel Vieira e David Catalán, e até mesmo o meu projeto nos calendários oficiais de diferentes semanas de moda. O comércio online veio facilitar a vida das empresas com menos capacidade de investimento? Sim. É o acesso direto ao consumidor final. Com uma boa
análise de mercado conseguimos conquistar clientes de qualquer parte do mundo. Os mercados deixaram de estar divididos geograficamente mas mais por interesses e estilo de vida. Além disso, as margens de venda são muito superiores o que permite criar mais investimento em marketing e comunicação, fundamentais nos dia de hoje. Pergunta obrigatória: como se sobrevive à pandemia? Vamos fazendo o que podemos. Felizmente, além da marca, temos uma empresa que vai prestando serviços de design de produto e criação de conteúdos digitais, mais direccionada para a indústria, que por conta das alterações do mercado, tem sido mais solicitada. O mercado nacional é importante para as tuas vendas? Costumo dizer que é fundamental funcionar tudo bem em casa para o resto estar bem. E temos sentido uma maior procura da marca no mercado nacional.
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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Mário Jorge Machado Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785, Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo provisório ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa
Qual é o mercado externo onde gostarias mais de ter sucesso? Neste momento não pensamos muito nisso, a nossa estratégia é 100% digital e desta forma torna-se global. t
Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/
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n PERGUNTA DO MÊS Texto: Cláudia Azevedo Lopes Ilustração: Cristina Sampaio
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“O pior ainda está para vir. Se não se fizer nada, quando esta geração for para a reforma ficaremos apenas com ateliês, com o design”
“A Somelos é e sempre foi uma universidade. Quem cá trabalha sai sempre com muito mais competências e isso é um excelente atrativo”
JOSÉ LOURENÇO ANJOS&LOURENÇO
PAULO MELO SOMELOS
A ESCASSEZ DE MÃO-DE-OBRA PODE COMPROMETER A RETOMA? Após um início de ano complicado e já com a tão esperada – e necessária – retoma aí ao virar da esquina, outra ameaça parece estar a ganhar força: a escassez de mão-de-obra, sem a qual as encomendas não passam do papel. Da redução da carga fiscal aos apoios para a subida dos salários, passando pela deslocalização ou o recurso à contratação de imigrantes, as empresas avançam com várias soluções. O essencial, no entanto, parece ser dignificar e qualificar o emprego têxtil e criar a consciência de que trabalhar na ITV é estar num dos setores que mais riqueza dá ao país.
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“É necessário formar nas empresas e não basta formação teórica. É preciso perceber o funcionamento, as necessidades internas e do mercado” SUSANA SERRANO ADALBERTO
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problema não é novo, mas agrava-se à medida que o têxtil português ganha protagonismo e é mais procurado. A falta de mão-de-obra é já um grave obstáculo e está a por em causa o futuro e a vitalidade do setor. Até porque sem chão de fábrica as empresas ficam sem chão... “O pior ainda está para vir, porque se não se fizer nada quando esta geração for para a reforma, ficaremos apenas com ateliês, com o design”, alerta o CEO da Anjos&Lourenço, José Lourenço, que a braços com a dificuldade crescente não tem dúvidas que a falta de mão-de-obra vai em muito prejudicar a retoma. A solução, avança, está nos aumentos salariais, num esforço conjunto do Estado e da iniciativa privada. “Deveria haver um incentivo nos impostos para as empresas poderem pagar mais aos funcionários e, as-
sim, cativar os mais novos. Não se pode ignorar o facto de que os jovens, na sua maioria com formação superior, não querem um emprego como costureira, a ganhar o salário mínimo. Por outro lado, deveriam criar uma linha de apoio à imigração para o setor, salvaguardando o bem-estar de quem vem, com acesso ao Serviço Nacional de Saúde, à educação, etc...”, defende José Lourenço. Igualmente convicto de que os incentivos fiscais são essenciais está José Armindo Ferraz, CEO da Inarbel, que cansado de ver a entrega de encomendas comprometida por esta questão, pede medidas ao Governo para enfrentar o problema que diz estar a estrangular a competitividade da indústria. “Vou ao centro de emprego pedir 30 ou 40 trabalhadores e só consigo contratar quatro ou cinco. Os restantes não estão interessados porque não lhes compensa trabalhar com o que têm de pagar de impostos e para a segurança social. Esta carga fiscal fortíssima que o Estado impõe às empresas e trabalhadores torna mais vantajoso parar a produção do que continuar a laborar”, explica o empresário. “Tenho encomendas que não consigo entregar porque me faltam trabalhadores para as executar. Agora o estado diz que vai continuar com os apoios às empresas, com o lay-off, mas isso a mim não me interessa porque já tenho as matérias-primas compradas e quero é trabalhar. Tenho os produtos em marcha e
não os vou conseguir entregar a tempo”, sumariza. Com dificuldade em contratar trabalhadores sobretudo para as áreas mais técnicas, como a operação de maquinaria, Paulo Melo, administrador do grupo Somelos, considera que a aposta numa formação mais descomplicada e em estreita colaboração com as empresas pode ser a solução. “O ensino devia ser mais expedito e em contexto laboral para que a formação fosse adequada às necessidades atuais das empresas e para que o trabalhador saísse já com as competências necessárias para começar a trabalhar de imediato. Era isso que acontecia antigamente nas escolas industriais mas que atualmente não está a ser feito”. Outra das soluções apresentadas por Paulo Melo pode estar dentro das próprias empresas. “A Somelos é e sempre foi uma universidade. Quem vem para cá trabalhar sai sempre com muito mais competências do que as com que entrou. E isso é um excelente atrativo”, destaca o empresário, que considera que estar na vanguarda e envolvido em projetos inovadores pode ajudar também a tornar o setor mais apelativo. “O paradigma mudou bastante e hoje em dia os jovens procuram trabalhos que os estimulem, que tenham valor a acrescentar. As empresas têm de criar esse valor para que quem está à procura de emprego queira lá trabalhar”, reforça o empresário. É precisamente essa a estratégia da Adalberto, cuja maior dificuldade é arranjar mão-de-obra qualificada. A empresa está, por isso, a apostar na educação dentro de portas, com formadores internos qualificados naquilo a que a empresa chama de “cultura Adalberto”. “É necessário formar nas empresas e não basta formação teórica: é preciso perceber o funcionamento das empresas, as necessidades internas e do mercado, e formar uma cultura empresarial que colmate as lacunas existentes”, explica a
CEO, Susana Serrano. A estamparia está também a aceitar estágios universitários, uma iniciativa que surge no seguimento dos vários projetos que a empresa desenvolve em parceria com as instituições de ensino superior e que, para além de tentar atrair a massa jovem tão necessária, se apresenta como uma oportunidade para unir o know-how académico com a prática empresarial nas áreas de inovação e desenvolvimento. “Neste momento é extremamente importante garantir competências para sermos mais eficazes e eficientes. É essencial para garantir o sucesso dos projetos e, consequentemente, para uma retoma mais rápida”, completa a CEO. José Villas Boas Ferreira, CEO da Valerius, já perdeu as esperanças de que algum dia a falta de mão-de-obra na têxtil nacional seja um problema do passado e, por isso mesmo, é defensor de uma política mais radical: o outsourcing de produção. “Num futuro muito próximo, vamos ter encomendas a mais e pessoas as menos para as realizar. Para ser capaz de resistir, o têxtil português vai ter de fazer como Itália, que criou um braço armado na Tunísia para se apoiar. Nós teremos de fazer o mesmo com Marrocos”, sentencia o empresário. Especialmente, garante, para responder à crescente procura externa que Portugal está a registar desde o início da crise pandémica, motivada pelas inegáveis vantagens da proximidade das cadeias de produção, pela necessidade em diminuir a dependência do mercado chinês e pelo know-how, capacidade técnica e qualidade da produção made in Portugal. “A exigência dos novos clientes é muito grande, o que implica que a mão-de-obra necessária tenha de ser altamente qualificada e especializada e isso não é o que acontece”, regista Villas Boas Ferreira.
Para o CEO, as empresas portuguesas cresceram muito em estruturas comerciais, em desenvolvimento, inovação, e em serviço ao cliente, mas a formação da mão-de-obra produtiva não acompanha esses investimentos. “Para tentar resolver o problema, muitas empresas dão formação aos funcionários que já estão nos quadros, mas tendo em conta que a faixa etária média da mão-de-obra do setor têxtil em Portugal anda à volta dos 48 anos, daqui a 15 anos, esses funcionários reformam-se e voltamos à estaca zero, porque não há gente nova a entrar”, avisa. Em jeito de resumo, o presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Mário Jorge Machado, não tem dúvidas em afirmar que a excessiva rigidez das leis que regem o mercado de trabalho é o último prego no caixão da problemática da falta de mão-de-obra. Há uma grande necessidade por parte de algumas empresas em ajustar a dimensão dos quadros para um menor número de funcionários, mas a dificuldade e os custos desse ajuste são demasiado elevados, o que leva a que a decisão seja adiada e assim se diminua a flexibilidade da oferta e da procura. “Aumentos elevados no salário mínimo provocam a falência das empresas em dificuldades e libertam mão-de-obra para empresas com maior potencial de criação de riqueza. No entanto, o que acontece em Portugal é que a mão-de-obra é disponibilizada no mercado não pelo ajuste por despedimentos mas sim pelo aumento de insolvências, o tem vários inconvenientes graves, sendo o primeiro o fazer desaparecer empresas que se tivessem reduzido os colaboradores ainda poderiam criar riqueza”. Outro problema grave é que “as insolvências são mais lentas e conduzem a um desfasamento temporal grande entre o aumento da procura e a disponibilidade de mão-de-obra”, completa o presidente da ATP. t
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A DOIS CAFÉS & A CONTA Carvema Têxtil
Rua António Carvalho 2, Perelhal 4750-625 Barcelos
Bebidas Três cafés e alguns alguns copos de água para lubrificar a conversa, ao início da tarde, no showroom da empresa Cuidados Com as distâncias e as regras recomendadas pelas autoridades sanitárias
JOSÉ CARVALHO
59 ANOS ADMINISTRADOR DA CARVEMA/BLOOMATI É um dos quatro representantes da segunda geração na administração da Carvema, fundada pelo pai e dois cunhados em 1974, onde chegou já com a experiência de trabalho administrativo em empresas de outras áreas. Habituado às águas profundas – faz mergulho e pesca submarina –, olha para a empresa e para o crescimento da marca Bloomati como uma questão de folêgo, que é preciso gerir com a distância do tempo. O filho único, André, já lhe segue as pisadas, pelo que a manutenção do cunho familiar e a ligação com as estruturas e causas sociais da comunidade são outra das marcas da sua gestão
BLOOMATI É O REBENTO VERDE DA CARVEMA
Partindo a máxima de Lavoisier de que na natureza nada se cria e tudo se transforma, podemos admitir também que de ciclos regeneradores se faz a vida das empresas. Daí que, tal como os rebentos frescos e que brotam das plantas saudáveis, a Bloomati seja uma espécie de ramo verde e regenerador da Carvema Têxtil. “A ideia era desenvolver um projeto de base sustentável e ecológico que desse corpo à necessidade que sentíamos de fazer qualquer coisa ao nível internacional, que nos permitisse avançar para a internacionalização da Carvema”, diz José Carvalho para explicar a génese da marca que lançou a empresa no mercado internacional. Para o homem que na administração da empresa é responsável pela Bloomati, as coisas parecem até acontecer com natural simplicidade. “Começamos por visitar algumas feiras que nos poderiam interessar e chegamos à conclusão de que não havia qualquer oferta na linha do produto que tínhamos idealizado”, conta, para que se perceba que com a Bloomati foi mesmo uma espécie de chegar, ver e vencer. Enquanto a Carvema presta serviços de tinturaria e acabamento, a Bloomati vende malha acabada, posicionando-se no segmento premium do
mercado. Ou seja, com acabamento de luxo e funcionais, que acrescentam valor aos produtos e com uma gama difícil de encontrar no mercado, como anti-bacterianos, aloé vera, óleo de argão, reguladores de temperatura, repelente à água, proteção UV ou contra insetos. Uma oferta que se impôs logo desde a primeira feira, a London Textile, em 2019. De tal forma que as malhas da Bloomati têm arrecadado distinções em quase todas as presenças. “Normalmente são escolhidas para os fóruns de novidades e pedem-nos também amostras para colocar nos produtos que são destacados logo na entrada dos recintos das feiras”, descreve José Carvalho, como se tudo isto fosse uma decorrência natural. É o filho, André Carvalho, seu braço direito na Bloomati (ambos na foto), que reforça a ideia de rápida procura e reconhecimento do mercado. “Os clientes começaram a procurar os nossos produtos, conquistámos o mercado rapidamente”, descreve, logo dobrado pelo pai: “um mercado pequeno, ainda muito pequeno”. Pensado para uma consolidação no horizonte de 10 anos, o projeto Bloomati já vale nestes dois anos quase 10% dos negócios da Carvema, que em 2019 rondaram os oito milhões de euros.
Mesmo no último ano, com o confinamento, o negócio “teve um salto acima do normal” e José Carvalho destaca até algumas vantagens da aprendizagem com o negócio online. “Estamos sempre em contacto com os clientes por vídeo, temos muitas reuniões e pedem muitas amostras. A semente está lançada, isso é o que importa, já que mais tarde ou mais cedo o cliente aparece”. Clientes que por enquanto chegam dos países do centro da Europa, “sem nenhum que seja dominante”, a que se juntam os nacionais que fabricam para marcas de todo o mundo. Direta ou indirectamente, a Bloomati exporta praticamente a 100%, “tudo para marcas de renome internacional”. A ideia, diz André, “é que possa chegar aos 50% da faturação da empresa”, calculando o pai que isso acontecerá “daqui a uns anos”. Por enquanto, a ambição “é manter o foco na qualidade, com a consciência de que a empresa é um lugar sagrado e que tem que funcionar sempre em comunhão com os trabalhadores e a comunidade em que está inserida”. A partir daí, José Carvalho acredita que é como a natureza, que todos os anos se encarrega de trazer os respetivos frutos. Desde que a árvore se mantenha saudável, claro está! t
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2. DUNE BLEUE, PT MILLS, SKYLAB BY INARBEL, TRIM NW E WISE HS, ACOMPANHADAS PELO CITEVE, CONSTITUÍRAM A COMITIVA FROM PORTUGAL, QUE VIU A FEIRA ABRIR PORTAS COM MAIS VISITANTES DO QUE OS REGISTADOS EM 2019
FOTOSÍNTESE Por: Cláudia Azevedo Lopes
1. FOI NO DUBAI WORLD TRADE CENTRE QUE DECORREU, ENTRE 21 E 24 DE JUNHO, A ARAB HEALTH, ONDE AS EMPRESAS PORTUGUESAS, A MARCAREM PELA PRIMEIRA VEZ PRESENÇA, CEDO ATRAÍRAM A ATENÇÃO DE COMPRADORES E VISITANTES
6. QUANTO À PT MILLS, RECÉM-CHEGADA AO SETOR TÊXTIL E REPRESENTADA PELO DIRETOR-GERAL MIGUEL MALHEIRO, LEVOU AS SUAS MÁSCARAS E EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO ATÉ À ARAB HEALTH
REGRESSO EM GRANDE ÀS FEIRAS FÍSICAS Foram longos os meses de espera para o cara-a-cara, mas junto com o início do verão chegou também o regresso às feiras físicas. A primeira levou a comitiva From Portugal até ao Dubai, para a Arab Health, e a segunda até à cidade luz e capital da moda, Paris, para a Fashion Rendez-Vous. Com standes cheios – dentro dos limites de segurança, claro –, clientes e expositores satisfeitos, as primeiras duas feiras do ano vieram provar que, mesmo ainda em tempo de pandemia, é possível às empresas portuguesas manterem-se na rota dos bons negócios
5. AS MEIAS MEDICINAIS COM VERTENTE SUSTENTÁVEL INCORPORADA, PARTE DA COLEÇÃO VERÃO E INVERNO 2022, FORAM O PRODUTO ESTRELA DA DUNE BLEUE. CELESTE PEREIRA RECEBEU VISITANTES DOS MAIS DIVERSOS PAÍSES
11. IGUALMENTE SATISFEITA ESTAVA MARIA SÁ, DIRETORA GERAL DA LURDES SAMPAIO, NÃO SÓ PELOS NOVOS CLIENTES MAS PELA QUALIDADE DOS MESMOS. “VALEU MUITO A PENA ESTARMOS PRESENTES”
10. JOÃO CARVALHO, CEO DA FITECOM, FICOU COMPLETAMENTE SURPREENDIDO COM O SUCESSO DA FEIRA, QUE “SUPEROU TODAS AS EXPETATIVAS”. PARA ALÉM DOS CLIENTES HABITUAIS, ATRAÍU TAMBÉM CLIENTES NOVOS, DE MARCAS JOVENS
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4. NO STAND DA SKYLAB, A MARCA DA INARBEL PARA O SETOR SAÚDE, JOSÉ ARMINDO FERRAZ NÃO TEVE MÃOS A MEDIR PARA MOSTRAR OS EQUIPAMENTOS E FARDAMENTO PERSONALIZADO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE
3. RUI LOPES, DIRETOR-GERAL DA TRIMNW, LEVOU À ARAB HEALTH A SUA NOVA GAMA DE TECIDOS-NÃO-TECIDOS E AS SUAS SOLUÇÕES PARA EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL. DESTAQUE PARA O IMPERSCRIM, EM POLIÉSTER E POLIETILENO E IMPERMEÁVEL
8. COM QUATRO PESSOAS A ATENDER EM SIMULTÂNEO, O STAND DA LE EUROPE/LA ESTAMPA ESTEVE SEMPRE CHEIO. “SUPEROU LARGAMENTE AS NOSSAS MELHORES EXPETATIVAS”, DISSE GABRIELA MOREIRA, A RESPONSÁVEL PELA EMPRESA NA FEIRA
7. NO CENTRO DE PARIS, A PREMIERE VISION FASHION RENDEZ-VOUS FOI A PRIMEIRA FEIRA FÍSICA DE 2021 A TER LUGAR EM SOLO EUROPEU. LOGO, A EXPETATIVA ERA TREMENDA E A REALIDADE NÃO DESILUDIU
9. A PLATAFORMA EXCLUSIVA ONDE O CLIENTE PODE SELECIONAR TODOS OS PADRÕES E CORES QUE ESTÁ A VER NO STAND E VÊ-LOS APLICADOS A UMA PEÇA DE ROUPA FOI UMA DAS GRANDES ATRAÇÕES NO STAND DA LE EUROPE/LA ESTAMPA
13. A ADALBERTO SAIU DA FASHION RENDEZ VOUS COM A RENOVADA CERTEZA DE QUE TUDO ESTÁ A FLUIR E HÁ UM DESEJO EXPRESSO NAS PESSOAS DE REGRESSAREM AO ATIVO. QUE VENHAM AS PRÓXIMAS FEIRAS!
12. A ABARROTAR PELAS COSTURAS ESTEVE TAMBÉM O ESPAÇO DA RIOPELE. PARA ANA VAZ, AREA SALES MANAGER DA EMPRESA, “O MAIS IMPORTANTE ERA TER OS MELHORES CLIENTES. E NÓS TIVEMOS MUITO BONS CLIENTES”
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LION OF PORCHES TEM NOVA LOJA NA REGIÃO DE LISBOA A Lion of Porches continua a sua expansão no mercado português e reforçou a presença a sul com a abertura de uma nova loja na região de Lisboa. O espaço agora inaugurado, no Centro Comercial Alegro, em Alfragide, é ainda um passo mais na afirmação da identidade da marca portuguesa. “A abertura desta nova loja vai ao encontro da estratégia de expansão da marca. Apesar de estarmos num ano de enormes incertezas, continuamos a apostar na consolidação da marca e no reforço da presença da Lion of Porches a sul do território Português”, refere a Alexandra Calado, Diretora de Marketing.
"O consumidor tem de confiar no nosso produto e, para isso, temos de comunicar com verdade e simplicidade" Ricardo Silva CEO Tintex
TMG, RIOPELE, SASIA, RIFER E MIRAFIOS HOMENAGEADOS EM FAMALICÃO No âmbito das comemorações do Dia da Cidade, o município de Famalicão homenageou alguns dos seus mais importantes e representativos empresários têxteis. Os líderes da Riopele, José Alexandre Oliveira, e do grupo TMG, Isabel Furtado, recebem a Medalha de Mérito Municipal, galardão que foi também atribuído aos fundadores da Sásia, Libório Ribeiro da Silva, da Rifer, Manuel Rocha Fernandes e da Mirafios, os irmãos Artur e Luís Duque da Silva. Na nota que dava conta dos propósitos da homenagem, a Cidade Têxtil destacava também a referências biográficas dos homenageados, relacionadas com o setor e atividade têxtil que, como é sabido tem, no concelho um forte peso histórico e significativa implantação. Isabel Furtado é administradora das empresas do Grupo TMG e desde 2008 CEO da TMG Automotive. Atualmente é também presidente da COTEC Portugal, Vice-Presidente da ATP, Presidente do Conselho da Administração do CEIIA, membro do Conselho Curadores da Universidade do Minho e ainda do Governing Committee do MIT Portugal. Com mais de 40 anos de experiência profissional na indústria têxtil, José Alexandre Oliveira é Presidente do Conselho de Administração da Riopele, uma das
Isabel Furtado e José Alexandre Oliveira receberam a Medalha de Mérito de Famalicão
mais antigas e maiores têxteis portuguesas em plena atividade. Ao longo dos anos, o seu nome tem estado também associado às associações do setor, tanto em Portugal como na Europa, destacando-se a sua atuação como Presidente da ANITAF, Presidente da Assembleia Geral da ATP, Presidente do Eurocoton e representante de Portugal na Euratex. Com 18 anos, em 1952, Libório Ribeiro da Silva foi desafiado para fazer parte de uma sociedade para exploração de têxteis reciclados. Desde esse tempo que a Sasia – hoje administrada pelo filho Miguel- se dedica à atividade que está hoje no centro das
políticas de sustentabilidade para o setor. Antes de fundar a Rifer, em 1968, Manuel Rocha Fernandes foi operário na TMG, tendo começado como urdidor, passando mais tarde a chefe de secção. Com o conhecimento adquirido, avançou depois com um colega de trabalho para a tecelagem ao domicílio, até que ambos acabaram por constituir a Rifer. Já a Mirafios foi fundada em 1967 pelos irmãos Artur e Luís Duque da Silva, uma empresa que em mais de meio século não tem parado de crescer e é hoje administrada pela segunda geração de ambos. t
CITEVE APOIA CANDIDATURAS À INOVAÇÃO PRODUTIVA
SONAE FASHION DUPLICA VENDAS NO ONLINE NO 1O TRIMESTRE
O CITEVE alerta para a abertura de candidaturas a projetos de inovação produtiva e disponibiliza-se para apoiar na sua elaboração. A aposta é em investimentos no domínio da diferenciação, diversificação e inovação, e as candidaturas estão abertas até 20 de setembro. A informação está na página oficial do centro de investigação, com as condições e requisitos para a concessão dos respetivos apoios financeiros, investimentos elegíveis, bem como despesas a apresentar.
As vendas online da Sonae Fashion continuaram com forte crescimento no primeiro trimestre, duplicando em termos homólogos. Com as lojas encerradas praticamente durante todo o período, o desempenho do comércio electrónico permitiu conter a perda de volume de negócios em apenas 21,7%, para para 61 milhões de euros. Os números são avançados no relatório de contas do primeiro trimestre apresentado pela Sonae, que traduz um desempenho melhor do que o mercado.
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empresas beneficiaram do programa Apoiar do IAPMEI
ZIPPY ABRE NOVAS LOJAS E REFORÇA PRESENÇA NO DIGITAL Para celebrar o seu 25º aniversário, a Zippy anunciou a abertura de três lojas internacionais e uma em território português. Com a entrada nas Maurícias e Mauritânia, a marca junta-se à presença na Tunísia, Argélia e Líbia no Norte de África, e passa a estar também no Fórum Algarve, em Faro, com uma área de 177 metros quadrados, que servirá como ponto de recolha para encomendas online. Já o reforço no digital é conseguido através da integração na La Redoute, um dos maiores marketplaces de moda franceses. Ao todo a marca soma mais de 100 estabelecimentos em todo o mundo e o site coloca a Zippy disponível em 25 países europeus e quatro marketplaces.
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SIMPÓSIO DA INDÚSTRIA TÊXTIL MINISTRO DIZ QUE GANHAR O FUTURO ESTÁ NAS MÃOS SETOR Por entre elogios “à capacidade de resistência, de inovação e resposta flexível", o Ministro da Economia disse que estas são também três certezas de que “ganhar o futuro” está nas mãos do setor. A par da “mensagem de reconhecimento pelo esforço extraordinário que o setor fez neste último ano e meio”, Siza Vieira deixou outra de confiança: “O aumento da resiliência e da autonomia estratégica da Europa posiciona muito bem a indústria têxtil e de vestuário”, pelo que este “é mesmo tempo de investir”.
ADESÃO A CAUSAS OU POSIÇÕES DE ROTURA EM VEZ DO DESIGN A intervenção social exigida às empresas, as transformações decorrentes da pandemia e os caminhos futuros para o setor foram as linhas exploradas na apresentação de Daniel Agis no Simpósio Têxtil. O brand building expert sublinhou o atual acento colocado na ética, inclusão e sustentabilidade, bem como no facto de os negócios não estarem desligados do comportamento humano: “assumir uma posição ativista ou de rotura é hoje em dia mais eficiente do que um design diferente”. As marcas devem igualmente “apostar no desenvolvimento de narrativas fortes, sociais e estéticas”, acrescentou.
GOVERNO ESTÁ RECETIVO ÀS PROPOSTAS DA FILEIRA O Governo e particularmente o ministro de realçar a apresentação da diretora-execuEstado e da Economia, Pedro Siza Vieira, es- tiva da ATP, Ana Paula Dinis, expondo os tão atentos e mostram-se recetivos às pro- cenários de desenvolvimento do setor para postas que a fileira têxtil, por via da Associa- a próxima década com base no aumento da ção Têxtil e do Vestuário de Portugal (ATP), rendibilidade dos negócios e a produtivitem vindo a avançar quer no combate às con- dade, acompanhadas da diversificação da sequências económicas da pandemia, quer no oferta e da implementação de modelos de processo de desenvolvimento de um cluster negócio mais competitivos. Num cenário europeu do setor. É esta uma das principais ideal, a ATP aponta para 10 mil milhões de conclusões a tirar do recente Simpósio Têxtil. euros de volume de negócios do setor em A iniciativa anual da ATP contou com a 2030. No quadro da Visão Prospetiva e Esintervenção final de Siza Vieira, na qual o tratégias para a ITV Nacional para a esta ministro disse que o Governo década, e apesar do quadro está atento à resposta necesde dúvidas e incertezas que sária ao fim das moratórias ainda caracterizam a situa– uma questão levantada na ção, o estudo aponta inequiintervenção de Mário Jorge vocamente para um cenário Machado, presidente da ATP favorável, que importa agora – que deverá passar pela criarodear das medidas certas. ção de novos apoios diretos Para isso, recordou Pedro às empresas, em princípio O têxtil faz parte dos quinze Siza Vieira, os têxteis naem termos das necessidades clusters estratégicos da União cionais podem contar com o de tesouraria. Europeia PRR, com o Quadro FinanceiSiza Vieira disse ainda esro Pluri-anual e com a intertar alinhado com as iniciativenção – que se espera rápida vas europeias do setor protagonizadas pela e eficaz – do novo Banco de Fomento. Euratex – de cujos órgãos dirigentes o presiComo sempre, o Simpósio contou também dente da ATP faz parte – no sentido de criar com um espaço de debate muito vivo, desta condições para que o setor seja, de forma efi- vez protagonizado por Luís Todo-Bom (gescaz, um dos 15 clusters da UE que formam tor, docente universitário e ex-presidente da o grosso da estratégia de reindustrialização PT), Braz Costa (diretor-geral do CITEVE) e do espaço comum, conjugada com novas pelo empresário Manuel Gonçalves (TMG). disposições para a formação de um bloco co- A cooperação entre as empresas, alicerçada mercial mais forte, que por um lado tenha numa lógica de cluster e com vista à consoliautonomia face a fornecedores e, por outro, dação de um modelo sustentável e inovador, aumente a capacidade exportadora. essencial para competitividade da ITV portuEm termos de prioridades do setor, é de guesa, surge como a principal conclusão. t
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"É indispensável que o Governo ande em sincronia com a economia real para que as consequências da crise possam ser substancialmente mitigadas" Mário Jorge Machado Presidente da ATP
UMA DÉCADA PARA ATINGIR OS OITO MIL MILHÕES EM EXPORTAÇÕES Aumentar a rendibilidade dos negócios e a produtividade, acompanhadas da diversificação da oferta e com modelos de negócio mais competitivos, são as prioridades estratégicas traçadas pela ITV nacional no horizonte desta década. Num cenário ideal, a ATP aponta para 10 mil milhões de euros de volume de negócios do setor em 2030. No quadro da Visão Prospetiva e Estratégias para a ITV Nacional para esta década, as exportações têxteis podem atingir os 8 mil milhões de euros, num cenário de mais de 5 mil empresas e 120 mil trabalhadores. Este é o cenário ouro projetado pela ATP, enquanto uma perspetiva intermédia (cenário prata) aponta para um volume de negócios de 6 mil milhões e 5 milhões em exportações, um quadro de estagnação face aos números atuais.
ECOSSISTEMA TÊXTIL EUROPEU ESTÁ OBRIGADO A SER EFICIENTE A estratégia europeia para o relançamento do setor têxtil europeu assenta em três pilares fundamentais. O presidente da Euratex, Alberto Paccanelli, explicou que passam por atingir a liderança global enquanto indústria sustentável, aumentar a eficiência do conjunto das empresas europeias e apostar na criação de um mercado partilhado por todos os operadores de cada sub-setor, concluindo que o ecossistema têxtil da Europa está obrigado a ser eficiente.
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X A MINHA EMPRESA Expotime, S.A.
Rua da Indústria 20 4620-184 Boim, Lousada
O que é? Confeciona calças para homem e ainda algum sportswear para homem e mulher Exportações 75% da produção, com especial relevo para o mercado francês Produção 2 mil peças por dia Trabalhadores 78 colaboradores diretos Volume de Negócios 5,7 milhões de euros
FILMES DO FFF JÁ TÊM OS LOUROS DA SELEÇÃO OFICIAL É mais um passo no sentido da consolidação e do prestígio associados à presença no FFF – Fashion Film Festival. Os trabalhos candidatos que passem a barreira da seleção oficial passam a poder exibir os louros da official selection, que são atribuídos a todos os filmes que não foram excluídos da seleção. A caminho da sua 8ª edição – as inscrições decorrem até 11 de Outubro -, o FFF é o único concurso a nível nacional que premeia filmes de moda nas seguintes categorias: de autores independentes, marca, têxteis técnicos, internacionais, alive mobile e têxteis-lar.
"Com a Onírica, queremos liderar as vendas online de têxteis para a hotelaria na Península" Rui Silva CEO da Athome, dona da Onírica
MANUEL GONÇALVES CÉTICO COM OPÇÃO HIDROGÉNIO Administrador da TMG diz que a sustentabilidade é a questão central em relação ao futuro da indústria, aponta as vantagens do projeto de transformação de biomassa em material têxtil, mas mostra-se cético em relação à opção pelo hidrogénio no âmbito do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência. “Não consigo ver como é que por aí se consegue fazer a descarbonização”, disse Manuel Gonçalves no Fórum Económico Famalicão Made In.
LECTRA COMPRA A NETEVEN E GANHA FORÇA NA INDÚSTRIA 4.0
Rapidez e serviço completo são a chave de ouro da Expotime Foi com dois grandes objetivos que em 1991 Joaquin Valiñas, empresário de origem galego e pai dos atuais responsáveis comerciais da Expotime, fez nascer a sua empresa própria de confeção. “O meu pai queria uma empresa altamente exportadora e oferecer um serviço rápido e de contacto direto aos clientes. É esta a origem do nome, que junta a exportação e a importância timing” avança Pedro Valinhas, um dos atuais diretores comerciais da empresa sediada na Zona Industrial da Lousada e filho mais velho do fundador. Os blusões de homem foram inicialmente o core business da Expotime, que há cerca de cinco anos deixou totalmente de produzir este produto tendo-se especializado na confeção de todo o tipo de calças, 100% algodão e algodão/elastano, com lavagens enzimáticas, sofisticadas e com tratamentos especiais. “Produzimos também sportswear e casual, seja para homem ou para mulher, mas o produto feminino representa uma fatia mínima”, acrescenta Pedro Valinhas, que juntamente com o irmão mais velho assume a direção comercial da empresa. No inicio, a Expotime era apenas um pequeno pavilhão mas desde então não tem parado de crescer. Fundamentalmente pelas exportações para mercados como a França, Holanda, Alema-
nha, Reino Unido e Dinamarca, que ultrapassam já os 75% da produção. Um crescimento tanto em volume de encomendas como em abertura de novos mercados, que levou à ampliação da área produtiva, que conta hoje já com três polos. Hoje, a Expotime é um dos maiores fabricantes de calças em Portugal, com costureiras especializadas e elevado nível de qualidade na costura de calças, fruto dos anos de experiência que foram acumulando. A empresa destaca também a atenção ao cliente, que é individualmente acompanhado desde o desenvolvimento dos protótipos à proposta de tecidos e desenvolvimento de todo o processo produtivo. Outra grande vantagem é a disponibilidade de matéria-prima. “Temos dois pavilhões na zona industrial de Lousada e um outro a cerca de 600 metros, onde temos disponíveis as matérias-primas”, explica Nuno Valinhas, reforçando a disponibilização de um serviço completo aos clientes, “desde a escolha da matéria prima até à finalização do produto”, destaca. “O facto de termos a matérias-primas disponível em stock em cru permite-nos encurtar o leadtime e apresentar o desenvolvimento de um produto em dois dias, o que é fantástico”, orgulha-se, concluindo que “rapidez de serviço, contacto direto e satisfação dos clientes” são as chaves de ouro da Expotime. t
A Lectra anunciou a aquisição da francesa Neteven, um grande player global da moda, automotive e de móveis na área e-commerce. O grupo francês reforça assim a sua posição como fornecedor da Indústria 4.0 para as empresas do setor da Moda. O negócio agora concretizado diz respeito à compra de 80% das ações da Neteven, por 12,6 milhões de euros, estando prevista a aquisição da parte restante para Junho de 2025, por um montante que será de entre 0,6 a 0,9 vezes a receita corrente de 2024.
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é o número de lojas Parfois espalhadas por 72 países
UM SOUTIEN QUE SE ADAPTA AO CORPO DE CADA MULHER O soutien Fit Smart da Triumph venceu o prémio Red Dot, na categoria Product Design, uma distinção que destaca a sua adaptabilidade única: “a inovação está na combinação de técnicas tradicionais de construção de sutiãs com novos materiais, como espuma extensível 4D e tiras de Lycra”, explica a marca. Este modelo foi desenvolvido para se moldar e adaptar ao corpo de cada mulher e às flutuações de tamanho que estas experienciam.
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ALMA, AS CAPSULE COLECTIONS QUE NÃO SEGUEM TENDÊNCIAS
A FASHION FORWARD Por: Ana Eusébio
Uma saudade palpável O último ano e os últimos acontecimentos foram sem dúvida um marco para todos nós. Todos sentimos e presenciámos não só alterações a nível profissional e social mas, acima de tudo, a um nível de grande profundidade emocional e psicológica. Em Portugal, temos cerca de 91% de população sénior a sentir altos níveis de solidão, algo agravado pelo isolamento provocado pela Covid-19, sendo que em estudos recentes da COH-FIT se verificou um agravamento da sensação de stress em jovens adultos (aumento em 36% na faixa etária dos 18-30), existindo um “nível desproporcionalmente elevado do sentimento de solidão.” O verão de 2022 ficará marcado pela união. Será o verão da saudade, o verão da reexploração e o verão do reencontro. Existirá uma redescoberta do mundo, através de um novo olhar que valoriza as pequenas coisas e não as toma por garantidas. Existirá também uma redescoberta do “eu” de cada um de nós, um eu que se reencontra, agora num mundo exterior, e
que procura retomar as suas raízes, reconetar-se aos seus entes queridos outrora afastados, e reconetar-se com o mundo e as sensações que este sempre lhe proporcionou, mas as quais colocámos em pausa neste período atípico. Estas novas necessidades e esta nova consciência do que podemos perder a qualquer momento forçam a um design inclusivo, simples, limpo, que proporciona prazer e novas experiências de uma forma segura e protegida. O consumidor procurará cada vez mais um prazer com propósito! Os estilos de vida caminham para uma busca pelo baixo impacto ambiental e uma maximização de sensações. Haverá um reviver de técnicas tradicionais e locais, alavancadas por uma digitalização, agora globalizada, que atribui uma nova voz a estes procedimentos ancestrais. Misturas de técnicas, toques que entram em conflito, texturas que lutam entre si e nos proporcionam um novo sentir na pele, aliam-se a preocupações não só ambientais e ecológicas mas acima de
tudo a preocupações socais, de transparência e proveniência de cada produto, e o impacto associado ao mesmo. A busca pelo toque, pela sensação na pele, pelo contacto humano, proporciona esta necessidade de fios fantásticos, retorcidos e texturados e têxteis de grandes dimensões que nos confortam e protegem. A busca pelo exterior, por uma nova luz, por uma nova visão, sublinha o impacto cromático e procura por altos contrastes entre o betão urbano e as verduras naturais onde os quentes calorosos, apesar de visuais, se tornam fisicamente palpáveis. A busca por uma harmonia entre corpo e alma neste planeta leva à compreensão da urgência ecológica para a qual todos contribuímos. O destaque será daqueles capazes de desenvolver produtos e estratégias que educam a refazer, a reutilizar e a revender, incentivando todos os consumidores a tornarem-se ativos nos sistemas de economia circular. O sentir unificado será o destaque da estação, sendo este o caminho a seguir. t
Libertar o armário de peças com pouco tempo de vida e substitui-las por roupas de elevada qualidade e intemporais, é a proposta de Mariana Capão Filipe e Frederica Quintas e Sousa. As duas empresárias criaram a ALMA Capsule Collections, uma marca sintonizada com valores como a sustentabilidade, durabilidade e proximidade. A mais recente coleção é composta por 12 peças, todas elas feitas em Portugal, incluindo os tecidos.
COVILHÃ QUER SER A CIDADE CRIATIVA DO DESIGN DA UNESCO A candidatura da Covilhã à classificação como Cidade Criativa do Design foi aceite pela UNESCO e o processo avança para a fase seguinte. A história têxtil do concelho, o design sustentável e inclusivo e o futuro criativo sustentam o projecto de candidatura cuja aceitação da candidatura foi comunicada no dia 30 de junho.
FRANÇA INVESTIGA MARCAS POR TRABALHOS FORÇADOS As marcas fast-fashion Zara, Uniqlo, Skechers e SMCP estão a ser alvo de uma investigação por parte do Ministério Público francês, que quer apurar as suas ligações com fornecedores acusados de não respeitarem os direitos humanos. Os procuradores abriram uma investigação sobre as quatro marcas por suspeitas de encobrirem crimes contra a humanidade na região chinesa de Xinjiang, relacionados com as acusações contra a China sobre seu tratamento a membros da minoria muçulmana Uighur na região.
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OS LENÇOS DA E LEGEND VÊM DAS GARRAFAS DE PLÁSTICO Os lenços multi-usos de cetim reciclado, bucket hats e tote bags em algodão e linho da E Legend são confecionados à mão por costureiras portuguesas especializadas. A Ethical Legend trabalha apenas com tecidos reciclados, feitos a partir de garrafas de plásticos PET (Polietileno Tereftalato) ou tecidos sustentáveis resgatados de fábricas. As peças da E Legend prometem dar uma nova vida colorida aos dead stocks: lilás, azul ganga, camel, verde água e o trendy tie dye são algumas das opções já disponíveis na página de instagram.
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"Não há empresa nenhuma no nosso setor que não esteja já a incorporar fibras e fios reciclados" Ana Paula Dinis Diretora-executiva da ATP
HATA, A IRMÃ MAIS NOVA DA TINTEX Foi cheia de simbolismo familiar a cerimónia de inauguração da Hata, que Mário Jorge Silva apresentou como “a irmã mais nova da Tintex”, enquanto descerrava à entrada da nova unidade um busto de homenagem ao pai. “Homem enérgico, dinâmico, com uma vontade de viver cativante e inspirador”, que lhe deu força para arrancar com o investimento na sua terra natal. Em Vila Chã, Esposende, onde nasceu e reside, o presidente do grupo têxtil mais a norte de Portugal rodeou-se dos irmãos, filhos e família alargada, para evocar a força e energia criadora da unidade familiar. O pai, “como certamente tanto gostaria”, já não pôde participar, mas Mário Jorge Silva fez questão que a cerimónia tivesse lugar a 28 de junho, precisamente no dia em que completaria 88 anos. Com a inauguração das novas instalações da Hata o grupo Tintex dá um passo de gigante no seu crescimento e capacidade de produção, reunindo numa única unidade toda a tricotagem. Com mais de três mil metros quadrados, representam um investimento superior
a três milhões de euros, que contaram com apoios públicos mas foram suportados na sua maioria por capitais da própria Tintex. Segundo o fundador e presidente do grupo, este investimento “representa não só um reforço das caraterísticas de inovação, sustentabilidade, performance e transparência do grupo, mas também uma afirmação da excelência da indústria têxtil nacional”.
Já o secretário de Estado da Economia, João Correia Neves, que presidiu ao ato inaugural, destacou a importância do investimento, “sobretudo porque concretizado nas condições adversas e muito complexas que vivemos”, mas também porque “representa uma visão de futuro de um grupo com uma estratégia enraizada, assente na capacidade de inovação e com uma forte visão de futuro”.t
CLUSTER TÊXTIL AGREGA 160 ENTIDADES E 201 ESPECIALISTAS A reestruturação dos Special Interest Group (SIG) do Cluster Têxtil está completa, com os grupos executivos e os dinamizadores/relatores de cada um deles já def inidos. Em comunicado of icial, o Cluster revela que são cinco os SIG em funcionamento, que envolvem 160 entidades e 201 pessoas do universo de membros do agrupamento. Estes cinco SIG pretendem abarcar todo o universo de interesses e atuação do Cluster: Sus-
tainable Bio Circular, dedicado às temáticas da sustentabilidade; Performance, englobando as áreas da mobilidade, habitat, militar, proteção, desporto, saúde e bem-estar; Digitalization, dedicado às temáticas da digitalização aplicadas ao setor têxtil e vestuário; Skills, para discussões à volta dos talentos, formação, educação e novas competências para a indústria têxtil e do vestuário; Design and Product Development, cujo foco é o design nas vertentes da per-
formance, sustentabilidade e circularidade. A lista completa de entidades e especialistas que integram os respetivos SIG pode ser consultada no site do cluster (clustertextil.pt) e o agrupamento recorda que em qualquer altura os membros podem aderir ao SIG através de inscrição, bastando para isso fazer chegar notícia desse interesse para o email secretariado@clustertextil.pt. t
COMPETE TEM 400 MILHÕES PARA A INOVAÇÃO O Compete lançou dois avisos para a abertura de candidaturas para projetos de inovação empresarial, com uma dotação total de 400 milhões de euros. Numa nota, o Compete detalha que estes projetos têm respetivamente uma dotação de 145 milhões para o aviso 12, de inovação produtiva para territórios no interior, e 255 milhões para o aviso 13, de inovação produtiva. “Os avisos estão abertos até 21 de setembro 2021 e têm como objetivo dar prossecução à atração de novo investimento empresarial e criação de emprego”, indicou o Compete.
DECENIO DÁ ELEGÂNCIA AOS OLÍMPICOS PORTUGUESES Impecavelmente vestidos pela portuguesa Decenio, os elementos da equipa olímpica portuguesa destacavam-se pela elegância na cerimónia de despedida da Missão Olímpica de Portugal aos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, que decorreu em Monsanto, Lisboa, e foi presidida pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. A marca do Grupo Cães de Pedra foi selecionada para desenhar e produzir os uniformes olímpicos que os atletas portugueses vão envergar nas cerimónias oficiais e momentos representativos, um equipamento azul e marinho feito de silhuetas simples, mas de acabamentos e pormenores arrojados com uma visão sustentável do processo de desenho e produção. Peças 100% feitas em Portugal, com a Decenio a procurar inspiração na história que une Portugal e Japão, a ligação da língua, o testemunho da arte da navegação e a Cruz de Portugal. A ideia foi criar uma linha de vestuário que aliasse o conforto dos nossos atletas e evidenciasse a elegância da marca. Além do Presidente da República, a cerimónia contou ainda com as presenças do Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, o Secretário-Geral do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Araújo, e o Embaixador do Japão em Lisboa, Shigeru Ushio. t
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FOTO: RUI APOLINÁRIO
"TEMOS O MELHOR CLUSTER TÊXTIL DA EUROPA"
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n ENTREVISTA Por: António Freitas de Sousa
Rui Martins 47 anos, engenheiro têxtil, CEO e ao mesmo tempo acionista da Inovafil – que conta também com a participação da Mundifios. Pós-graduado em Gestão Industrial, esteve desde sempre ligado ao fio – o pai era diretor de uma fiação –, começou na António Almeida & Filhos, onde entrou como estagiário e saiu como administrador (da Mortextile)
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novação é uma palavra que lhe consta do nome, mas está-lhe principalmente gravada no ADN. Os projetos supranacionais em que a Inovafil está envolvida são o que de mais radicalmente novo é possível encontrar ao nível dos fios têxteis e as suas propriedades são, no mínimo, surpreendentes. Quais são os indicadores da dimensão da empresa? Em termos de volume de negócios, temos de separar duas áreas: a produtiva – que vem do nosso core, a produção de fio – e o negócio, que influencia bastante os valores da faturação mas não é core, nem aquilo que liberta margem: a compra e venda de fio. Uma vez que estamos associados à Mundifios, temos bastantes sinergias e essa área é uma delas. Temos uma faturação à volta dos dez milhões de euros. O ano passado, numa situação perfeitamente anormal, vínhamos de um primeiro trimestre muito bom, diria dos melhores de sempre e depois sofremos uma paragem abrupta. Pararam a produção? Decidimos, por diversas circunstâncias, parar a produção durante um mês. Não foi exclusivamente por falta de encomendas, foi pela instabilidade, que poderia ter vários desfechos – default e quebras de compromissos de encomendas já colocadas nos clientes.… Conversámos com os nossos clientes, satisfizemos as encomendas realmente necessárias e decidimos parar para avaliar as circunstâncias. Retomámos a laboração em junho a 50% até
às férias – sempre uma fase decrescente, uma vez que a fiação é o início da cadeia produtiva. A atividade retomou, e muito bem, a partir de setembro e tem até sido até hoje uma enorme surpresa: 2021 está a ser o nosso melhor ano de sempre, o que não deixa de nos surpreender, dada a conjuntura internacional, a baixa do consumo e o confinamento. Sabemos que o mercado online compensou – mas não compensou o fecho das lojas e toda a quebra de consumo que existiu. Verifica-se uma retoma? A procura tem sido elevadíssima – já deixámos de tentar perceber porquê. Temos feito uma gestão no curto e médio prazos, sempre atentos ao fenómeno, porque tudo pode mudar de um momento para o outro – basta haver uma mutação [do vírus] que seja resistente às vacinas e pode descambar tudo. Temos que estar atentos e reagir, como fizemos no ano passado. Os 10 milhões de 2020 o que valem relativamente a 2019? Mesmo com a paragem e a trabalhar três meses a 50%, conseguimos, também por via da venda de algum stock, fechar 2020 com uma faturação de menos 2% ou 3% que no ano anterior. Este ano ultrapassam os 10 milhões? Esperamos ultrapassar. Não queremos fazer muitas previsões. Estamos como no primeiro trimestre de 2020 e em vez de uma paragem, temos continuidade. Se colarmos 2020 a partir de setembro ao que está a ser 2021, certamente que teremos números muito superiores. Vamos seguramente ter um ano melhor que 2020 e mesmo melhor que 2019, estamos em crer. São cerca de 120 colaboradores. Em termos
"A resiliência dos industriais portugueses devia ser apoiada"
A ligação entre a Inovafil as universidades e os centros tecnológicos é uma das razões do seu sucesso. Mas é também uma das razões do seu aparecimento em 2015: a investigação e desenvolvimento não foram uma opção encontrada a meio do percurso, mas uma decisão que motivou o seu aparecimento. Para isso, como refere o seu CEO, a Inovafil contou com o desenvolvimento da própria academia – que soube descer do seu pedestal de casa do conhecimento para o lugar bem mais produtivo da ligação ao mundo empresarial. “Já não estamos no tempo em que era quase impossível falar com as universidades e com os seus investigadores”, diz Rui Martins – que agora encontra na academia, onde destaca a Universidade do Minho, uma clara disposição para as parcerias na investigação e uma facilidade de entendimento que torna tudo definitivamente mais simples. Sucede o mesmo com os centros tecnológicos – com destaque para o CITEVE e para o CeNTI – onde todas as encruzilhadas técnicas são um desafio a superar e não um problema a rodear. Foi este apuro de I&D que fez transitar para o interior da Inovafil o reconhecimento do cluster nacional e muito rapidamente europeu. Entretanto, a empresa de Famalicão já passou para o lado de lá do Atlântico
de exportações, qual é o quadro? A exportação foi sempre uma agradável surpresa. A Inovafil é um projeto desenhado para apoiar a indústria nacional e o cluster têxtil do norte, que precisa de uma fiação como a Inovafil, que faz produtos diferenciados e de valor-acrescentado. E de repente vieram os estrangeiros… Dizia-se que o têxtil europeu estava morto, mas percebemos que a Europa tem ela própria necessidade de fio e de produtos diferenciadores e não de commodities, e que tem capacidade instalada. E a nova reflexão que se está a fazer sobre a Europa, os novos programas, não vão travar o processo de globalização mas vão alterá-lo. Acabaram aquilo que eram dogmas como aquele que dizia que a produção iria deslocar-se toda para a Ásia e que a Europa iria limitar-se a comprar e a vender coisas com margens – o design, a conceção... E o selo… O selo Europeu. Este último ano claramente expôs a Europa a um risco de dependência da Ásia e de gigantes que começam a dominar a economia do mundo. Houve um risco político claramente negociado pela Europa, não lhe parece? Sim, estamos a falar da pandemia, mas vamos no futuro falar de outras circunstâncias que vão ser semelhantes a esta, sejam tempestades, decisões políticas, mudanças de sistemas.… Ou barcos que encalham nos canais demasiado estreitos… Ou tipos que acordam mal dispostos e mudam acordos comerciais e começam a impor tarifas. Temos aqui coisas que a China não tem, os designers, o estilo, as marcas, a capacidade
de fazer uma marca reconhecida e adorada. A China tem esse grande handicap, embora esteja paulatinamente a conseguir chegar lá. Estamos a falar de uma catástrofe, mas temos que ver o lado positivo, que nos despertou para um caminho que a Europa estava a trilhar, que nos levaria ao desemprego, à exposição a terceiros. Temos que ter alicerces: economia, agricultura, indústria. Acha que o PRR vai nesse sentido? O PRR é uma necessidade, mas, para um país como Portugal, tenho algumas dúvidas relativamente à sua aplicabilidade, porque o que percebi até agora é que vai muito para projetos de dimensão – para consórcios gigantes, para projetos de muitos milhões, quando o tecido empresarial é de PME. Não faz sentido nenhum... Até porque não está prevista nenhuma discriminação positiva para as empresas portuguesas... Exatamente. Vamos assistir ao aproveitamento das multinacionais – vão criar emprego e ajudar a economia nacional, nada contra, mas esses investimentos, importantíssimos para o país não deixam de ser mais voláteis. No bater a rebate são os primeiros a ir, e fica o tecido empresarial e os industriais portugueses a tentarem segurar a economia – com a resiliência que nos é reconhecida e que claramente devia ser apoiada. E contudo, estão aqui. Acreditamos que tendo nós a melhor fileira têxtil europeia, melhor até que a Itália – tirando o made in Italy – temos que servir os melhores e é para eles que estamos a trabalhar. Exportamos cerca de 50% da produção essencialmente para a Europa, França e Alemanha, e para os Estados Unidos – para mercados não convencionais, mercados que não vestuário.
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Maratonas são para principiantes
Modelo americano
Há quem prefira ficar sentado, quem corra uns metros, quem corra uns quilómetros e quem faça maratonas. E depois há os que fazem as supermaratonas, que podem ultrapassar os 100 quilómetros. “BTT e corrida de montanha são um vício”, diz Rui Martins, que há umas semanas correu… 165 quilómetros – uma distância onde a mente é tão importante como as pernas. Nascido em Famalicão há 47 anos, diz de si que “tenho um defeito: gosto de fiações”. Transmitiu uma parte desse ‘defeito’ a um dos dois filhos, que está na UM em Engenharia de Materiais. O outro anda ainda no secundário.
Para Rui Martins, o mercado norte-americano encerra um grande potencial, principalmente porque é um mundo de negócios onde o financiamento e a rapidez de resposta empresarial são eficazes. Uma boa ideia não encalha nunca em burocracias e nos muito europeus temores do fracasso. Este casamento entre tecnologia e resposta financeira e empresarial é uma envolvente que gostaria de ver replicada em Portugal. E, diz, se há setor onde isso pode ser conseguido, é no têxtil.
Temos muitas empresas norte-americanas como parceiras. Estamos envolvidos em vários projetos de investigação e desenvolvimento. Quando se diz que Inovafil é inovação, é claramente isso. Vamos a essa parte. Fios para energia térmica, libertação de vitamina. E, retardadores de envelhecimento, aceleradores de cicatrização, gestão de humidade, termorregulação. Estamos numa têxtil ou num laboratório de alquimia? Estamos numa têxtil. A equipa que aqui está, se a colocasse a trabalhar em monoproduto, desmotivaria na próxima semana. A equipa está viciada em produtos novos, em desafios novos. A Mundifios percebeu que, se quisesse responder aos novos desafios, como a área desportiva, roupa de trabalho e tantas outras coisas, teria de ter produção, com pequenas quantidades, respostas rápidas, sem ‘stockar’. A Mundifios não vai fazer stock de uma coisa que pode vender ou não – só faz stock daquilo que sabe que vai vender – mais caro ou mais barato, isso é o negócio deles, mas que tem a certeza que vai vender. Resulta tudo da aposta na área de desenvolvimento? Resulta daquilo para o qual fomos concebidos: sabíamos desde o início que teríamos que nos afirmar pelo produto e pelo serviço. Desde o início que temos o projeto dotado com uma mini-fábrica experimental para fazer desenvolvimentos e amostras. Somos certificados IDI [investigação], mas quisemos ir mais à frente: criámos um projeto com a Universidade do Minho e formámos um grupo de I&D que tem como função a procura de materiais, a ligação com parceiros – quer sejam fornecedores, quer sejam detentores de licenças, quer com os clientes. Mapeamos o estado da arte
"A característica da Inovafil é a aprendizagem constante" ao nível de fornecedores e de fibras existentes, temos uma relação com um conjunto de produtores de fibras que vêm testar em fase inicial à Inovafil, havendo uma simbiose muito grande com os produtores e os seus desenvolvimentos. Universidades, centros tecnológicos, o CITEVE, o CeNTI, e os clientes fazem parte disto tudo. Os clientes têm cada vez mais os seus departamentos de desenvolvimento que, ligados com o nosso, começam a despoletar necessidades. A aprendizagem constante é aquilo que nos carateriza. E vamos sempre recomeçar, porque aquilo que achamos hoje muito tecnológico são as coisas básicas de amanhã – provavelmente produzidas do outro lado do mundo. O que é que está escondido nos laboratórios da Inovafil neste momento? Do que pode ser revelado, fazemos parte de um passo gigante na sustentabilidade da indústria têxtil mundial. Um projeto europeu liderado pela H&M e pela Adidas que chamou um consórcio europeu – desde empresas a universidades – que integramos e que está a trabalhar com fibras que estão a ser desenvolvidas na parte nórdica da Europa, que está na vanguarda de tudo o que é reciclagem. A reciclagem têxtil terá de ser resolvida na próxima década. E temos de encontrar uma solução, até porque a fast fashion não vai acabar. Estamos a olhar para a roupa como uma matéria-prima. Os países nórdicos, que têm muito know-how nas madeiras, são os líderes em tudo o que são fibras celulósicas. Ou
seja: pasta de madeira, pasta celulósica, fibras. Podem fazer papel, mas também fibras. O algodão tem percentualmente mais celulose que um troco de madeira: vamos cortar árvores para fazer fibras? Vamos alternativamente extrair celulose do algodão – que até dá para fazer papel. A estratégia é dissolver a roupa, extrair-lhe a celulose e voltar a fazer fibras. Há uma fibra – a Infinitive Fiber – que usa não só desperdícios de roupa mas vai até aos desperdícios agrícolas, porque tudo aquilo tem celulose. Este é o desfio do futuro. Isto para nós são ligações estratégicas. Até porque, com parceiros que estão neste consórcio, já conseguimos fazer projetos paralelos. É como se fosse um clube: depois de estar lá dentro, é fácil, entrar é extremamente difícil: é preciso ser reconhecido. Outros exemplos: fazemos parte de um consórcio liderado pela TMG que está a estudar fluidos não-newtonianos – em conjunto com o CITEVE e com o CeNTI. Estamos a trabalhar com o Exército alemão para fazer a parte têxtil do interior dos capacetes com uma fibra termorreguladora. Qual é o investimento anual em I&D? É difícil quantificar, mas é sempre na casa das centenas de milhares de euros. Já se referiu à UM, ao CITEVE e ao CeNTI. Como avalia as capacidades nacionais na área da investigação? Estão claramente ao nível dos melhores. Está cheio de pessoas muito capazes e principalmente muito acessíveis. O caminho da Inovafil é um caminho de inovação, de parcerias, com clientes, com fornecedores e com a ciência – para lançar produtos de vanguarda, muitos deles sem sucesso, outros com certeza que terão. E ainda temos de aprender a criar e a proteger o nosso produto. Temos de aprender a formar cadeias de valor entre empresas portuguesas. t
As perguntas de
Raul Fangueiro
José Morgado
Professor da UMinho e Coordenador da Fibrenamics
Diretor do Dep. de Tecnologia e Engenharia do CITEVE
Como será o desenvolvimento da fiação convencional face aos desafios da sustentabilidade?
Foi colocada em causa a sobrevivência das fiações na Europa, mas a INOVAFIL continua a dar cartas. Que estratégia têm seguido?
A fiação convencional continuará a ser a mais relevante e importante tecnologia, uma vez que será decisiva para criar produtos de alto desempenho e valor acrescentado, ao trabalhar com fibras recicladas, tanto celulósicas como de origem sintética, principalmente na vertente da reciclagem química. A principal evolução será nos processos de compactação (Compact Ring), que permitirá a maior durabilidade dos produtos e uma menor libertação de fibras, principalmente na lavagem doméstica.
É verdade que, alvo as raras exceções, o modelo de fiação mono-produto está esgotado na Europa. Falo pela Inovafil, que pelo posicionamento geográfico de Portugal, assenta numa filosofia completamente diferente. Privilegiamos a flexibilidade e diferenciação dos produtos, a resposta rápida e o serviço ao cliente, numa estratégia de parceria em desenvolvimento. Na Inovafil, em que a exportação é uma realidade, centramos a nossa operação no apoio ao desenvolvimento de novos produtos junto dos nossos clientes nacionais, pois falamos da melhor ITV da Europa e a fiação tem um papel muito relevante para que continue na vanguarda.
Qual a importância da relação da Inovafil com as Universidades na sua consolidação como fiação altamente inovadora?
A esta relação foi, é e será de capital importância. É estratégica desde uma fase inicial na implementação do NIDYARN, o núcleo de IDI da Inovafil, criado através de um projeto com a UMinho. É uma relação aberta e de proximidade, que permite transferir o conhecimento gerado pelas Universidades para os produtos industriais, e para que as mesmas possam testar e partilhar know-how. Para a Inovafil é uma ferramenta de investigação e testagem de produtos e matérias-primas de ultima geração. t
Qual a importância das entidades de I&D nos processos de inovação da INOVAFIL e qual o futuro desta colaboração?
A par das Universidades, a relação com os centros tecnológicos é estratégica, diria vital, para o futuro da Inovafil. Futuramente, terá que ser assente ainda em mais proximidade, mais colaboração e numa total abertura. As parcerias são basilares para aquilo que a Inovafil quer representar: tecnologia de ponta, vanguarda, inovação, valor acrescentado, desenvolvimento, etc.... t
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MILANO ÚNICA, O REGRESSO ÀS FEIRAS E AOS BONS CLIENTES
GENDA DAS FEIRAS
INSCRITOS ATÉ 21/07/2021 MAGIC LAS VEGAS 9 a 11 de agosto – Las Vegas Bravian, Marita Moreno, Only Aspeto, Pure Cotton, RHR, Simple Lab STYL. KABO 21 a 23 de agosto – Brno Blackspider, CubosdeAlgodao, EasyWalkExperience, Litel FASHIONWEARE 25 e 26 de agosto – Lodz Blackspider, CubosdeAlgodao, Litel MUNICH FABRIC START E SOURCING 31 de agosto a 2 de setembro - Munique Fitecom ,J. Areal - Artigos Têxteis, Magma Têxtil , Modelmalhas - Indústria de Malhas, Otojal, Paulo de Oliveira , RDD Textiles, Riopele, Sanmartin - Sociedade Têxtil, Somelos Tecidos , Tessimax Lanificio , TMG Textiles, Trimalhas Knit Inspiration, Troficolor Denim Makers António Manuel de Sousa, Marjocri - Malhas e Confecções, SM Senra, Source Textile, Top Trends, TMR Fashion Clothing, Tricothius WHO´S NEXT / INTERFILIÈRE 3 a 6 de setembro – Paris Blackspider, Concreto, Lemar SHOWUP 5 e 6 de setembro – Vijfhuizen, Holanda Burel Factory, Carapau Portuguese Products, Easywalkexperience, Jinja INTERGIFT 15 a 19 de setembro – Madrid Dilina Têxteis, Irina & Sousa, Rio Sul CIC Lda, Têxteis Evaristo Sampaio
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16 a 18 de setembro - Copenhaga Três Dê, Trendburel MOMAD 17 a 19 de setembro – Madrid Between Parallels, Blackspider, Christina Felix, Concreto, Josefinas, Marita Moreno, M. Rolo, Scusi PREMIÈRE VISION PARIS 21 a 23 de setembro - Paris PREMIÈRE VISION DIGITAL 20 a 24 de setembro FABRICS: A Sampaio & Filhos, Acatel, Adalberto Estampados, Albano Morgado, Anbievolution, Brito Knitting, Burel Factory, Crispim & Abreu, Familitex, Fitecom, Joaps Malhas, Le Europe SA - La Estampa, Lemar, LMA, Lurdes Sampaio, Magma Textil, Modelmalhas, NGS Malhas, Paulo de Oliveira, Penteadora, RDD, Somelos Tecidos, Tessimax Lanifício, Texser – Textil de Serzedelo, Tintex Textiles, TMG Textiles, Trimalhas, Troficolor Denim Makers YARNS: Clariause, Filasa/MAF, JFA MANUFATURING PROXIMITY: Anjos&Lourenço, Lima&Companhia, R Lobo, Siena
Foi com um largo sorriso de satisfação que os empresários portugueses disseram o famoso arrivederci à Milano Única, o que significa que esperam regressar o mais depressa possível. Foram dois dias de intenso trabalho, com muitas visitas e novos negócios, mas também compensados e revigorados pelo regresso às feiras presenciais e ao contacto direto com os grande clientes. Não só de Itália mas de muitas outras geografias. Com o stand da Riopele permanentemente ocupado, a Lemar com lotação esgotada e a Penteadora igualmente em bom ritmo, o fecho da grande feira de tecidos de Milão, deixou mais que satisfeita a comitiva portuguesa. Sobretudo pelo regresso às feiras presenciais, com o toque dos materiais e conversas olhos nos olhos com os clientes, mas também porque a grande parte dos contactos e reuniões tiveram os bons clientes como parceiros. “O cliente tem contacto direto com os nossos materiais podendo ver a qualidade do produto, e pessoalmente temos maior probabilidade de lhe
transmitir credibilidade”, regozijava-se o representante da Anbievolution, André Andrade, reforçado por João Carvalho, CEO da Fitecom, que falava numa “feira de referência no mundo da moda, que atrai clientes de vários países”. Clientes que vieram de geografias tão diferentes como o Japão ou Alemanha, mas também dos países nórdicos, da Bélgica e da Holanda, com uma maioria, naturalmente, de italianos. Mas não só a diversidade deixou satisfeitas as marcas e empresas portuguesas. Também a qualidade, já que era unânime a consideração de que o grosso dos contactos e visitas foram protagonizados por bons clientes. Naquela que é uma das mais importantes feiras de tecidos do calendário mundial da moda, Albano Morgado, Anbievolution, Fitecom, Lemar, Modelmalhas e RDD integraram a comitiva From Portugal, que tiveram ainda a companhia da Riopele, TMG, Somelos, Penteadora, Paulo de Oliveira e Tessimax, num conjunto bem representativo da excelência do têxtil português. t
SUSTENTABILIDADE COMO TRUNFO NA LONDON TEXTILE FAIR Conscientes de que a onda sustentável é hoje a grande oportunidade de negócio, as empresas From Portugal levaram até à London Textile Fair as suas mais recentes novidades ecológicas. A Lemar apostou nos tecidos de base sustentável, a Fitecom nas lãs provenientes de rebanhos criados ao ar livre, enquanto a Fábrica de Tecidos Vilarinho destacou os seus artigos de camisaria, nomeadamente flanelas, ideais para a estação fria
que se aproxima. Nas coleção de tecidos que que apresentou, a Lemar incluiu os fios europeus certificados, de poliéster reciclado, poliamida biodegradável e viscose resultante de fonte renovável , ou ainda um novo poliéster reciclado e biodegradável, que são a sua aposta mais recente. Já a Fitecom apresentou uma nova coleção de laminados – bilaminados e trilaminados – e uma gama de reciclados, enca-
beçada pelo poliéster e nylon reciclados. Novidades que a empresa comunica associadas à preocupação com o ambiente e o bem estar animal, cada vez mais importantes para os consumidores a nível global. “Apostámos na apresentação de tecidos com lãs provenientes de rebanhos não estabulados, o que significa que são criados ao ar livre com liberdade e as melhores condições de vida”, explicou o CEO da empresa, João Carvalho. t
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X DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes
Maisena
Rua de Gondarém, nº 345 4150-376 Porto
Ano de abertura 2013 Produtos Vestuário infantil, swimwear, acessórios e brinquedos Público-Alvo Toda a família, dos zero aos 99 anos Marcas B is for Boys… and Sisters, Paper Boat, Suuim, Craby Swimwear, Bikini Society, Nina, Xica Moranguita, Vintage Affair, Caravan, Baby by Pikis, Home Sweet Kids, entre outras Outras lojas Acaba de inaugurar uma segunda loja física em Lisboa, em Campo de Ourique Loja online maisena.com
LURDES SAMPAIO, RECUTEX E FIAVIT JUNTAM-SE NO RFIVE Chama-se Rfive, junta três empresas vizinhas e é a aplicação prática do conceito de economia circular, associando o conhecimento, a experiência e as competências das três parceiras para dar corpo aos cinco erres: reduzir, reutilizar, reciclar, renovar e restaurar. Recutex, Fiavit e Lurdes Sampaio são as protagonistas deste modelo perfeito de sustentabilidade. Tendo por base o desafio de tornar o velho em novo e de criar um processo baseado no desperdício zero, o projeto Rfive conta com a experiência da Recutex na reciclagem de fibras têxteis, enquanto a Fiavit produz novo fio já reciclado a partir dessas fibras que a Lurdes Sampaio usa na produção de novas malhas.
"O sistema de etiquetagem das peças de roupa está completamente obsoleto" Braz Costa Diretor-Geral do CITEVE
Esta loja é um assunto de família Os fatos de banho e biquínis alinhados em fila indiana logo à entrada não deixam margem para dúvidas: estamos no verão! E se dúvidas houvesse, bastava respirar fundo e inalar o cheiro a maresia, a areia molhada e a protetor solar que emana da praia de Gondarém, a dois passos – ou mergulhos, talvez – da Maisena, uma loja orientada para agradar as necessidades das famílias e que por estes dias tem na roupa de banho – para criança, mulher e agora também homem – o seu bestseller. “Só temos fatos de banho, biquínis e calções de banho nos meses de verão, mas durante esta estação são o nosso produto mais vendido”, afirma Francisca Guimarães, uma advogada que deixou o mundo das leis para abrir uma loja de roupa de criança que refletisse os gostos e lifestyle da sua família. Uma nova vida que começou em 2013, quando Francisca, na altura já com dois filhos, se dedicava a escrever um blog sobre as suas experiências como mãe. Isto antes do Instagram se afirmar como o instrumento de marketing que é hoje e quando a expressão influencer era ainda um termo sem conteúdo. Daí até lhe sugerirem que talvez fosse uma boa ideia abrir uma loja com as suas marcas preferidas não tardou muito. E ainda menos para que Francisca agarrasse o desafio com ambas as mãos. Começou numa pequena cave de um cabeleireiro na praça de Liége, e depois cresceu para uma loja com porta para a rua da Índia. Mas a necessidade de um espaço maior ditou, em 2018, a mudança para a rua de Gondarém, zona de conforto de Francisca Guimarães, onde agora estão instalados. “Esta é uma rua que tem muito tráfego pedonal: muitos cafés e restaurantes, onde as pessoas que trabalham na zona almoçam, há a padaria, a mercearia, o cabeleireiro... A loja vive muito do comércio tradicional. Os nossos clientes gostam de tocar no tecido, de ver as cores”, revela
Francisca. A loja é responsável por mais de 50% do volume de negócios da Maisena, sendo cerca de 20% gerados pela loja online – área em que Francisca quer investir brevemente – e o restante por vendas diretas no Instagram. A curadoria das marcas é simples: se Francisca gosta, entram. “A filosofia da loja é vender produtos e marcas com as quais eu e a minha família nos identificamos. Foi assim que começou o projeto e apesar de termos crescido, nada mudou. Estamos a falar de marcas pequenas, de produção nacional, que não têm capacidade para ter loja física em nome próprio. Algumas delas começaram aqui e agora já têm lojas próprias”, explica Francisca. Começou apenas com marcas de moda infantis, rapidamente incluiu uma área de brinquedos, depois vieram os acessórios, a moda teenager e a roupa de senhora. Mais recentemente chegou a roupa de praia masculina, o que transforma a Maisena numa loja que agrada a toda a família. “A ideia é que uma pessoa possa entrar na loja e dizer: quero ver roupa para o meu bebé e comprar uma prenda para a minha sobrinha adolescente. E conseguir encontrar tudo aqui. Gosto de dizer que a minha loja agrada dos zero aos 99 anos”, brinca a proprietária. Uma história de sucesso que nem a pandemia conseguiu travar. “Inicialmente, e porque tivemos de fechar portas, baixamos um bocadinho a faturação, mas mal reabrimos as vendas compensaram os meses em que estivemos fechados. E como mantivemos as vendas online, tudo se equilibrou. Conseguimos inclusive conquistar novos clientes, aqueles que antes eram compradores de shopping. Não gosto muito de soltar foguetes antes da festa, mas até ao momento está tudo a correr muito bem”, revela, satisfeita, Francisca Guimarães, para quem a Maisena é mais do que um mero negócio – é um assunto de família! t
A LIBERDADE NA NOVA COLEÇÃO CAPSULA ORGANIC BRAND
AICEP ATENTA AO MERCADO DE VESTUÁRIO DO CANADÁ
Inspirada no poema ‘Liberdade’ de Sophia de Mello Breyner, a nova coleção Capsula Organic Brand prioriza materiais naturais como linho e o algodão orgânico. As peças são confecionadas em Portugal e a coleção está repleta de tons neutros, cortes românticos e motivos florais em bordado inglês, que transmitem calma e bem-estar a quem as usa.
A AICEP organizou um webinar sobre o mercado do Canadá de vestuário, a categoria com maior peso nas exportações portuguesas para aquele país. O mercado canadiano é fundamentalmente abastecido por importações, e configuram-se muitas oportunidades para as empresas nacionais, particularmente nos segmentos de melhor qualidade.
87%
das empresas têxteis estão na Região Norte
COM MATTERIA A LE EUROPE OLHA PARA AS MARCAS MAIS PEQUENAS
A fabricante de tecidos Le Europe, detentora da marca La Estampa, acaba de lançar um novo segmento de negócio orientado para as marcas de menor dimensão. Chama-se Matteria e para além das preocupações sustentáveis, oferece um serviço 100% digital, pensado para clientes pequenos e médios, que requerem um tipo de atendimento diferente daquele que é prestado aos grandes compradores.
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X O MEU PRODUTO Por: Bebiana Rocha
InovPNT
Desenvolvido pela TrimNW, em parceria com o PIEP e o CITEVE
O que é? Um projeto centrado em desenvolver substratos têxteis capazes de se transformarem futuramente em EPI com propriedades antibacterianas e antivíricas, com capacidade de resposta a vários agentes patogênicos Produtos Batas e cobre sapatos Principal contributo Direcionado para ambiente hospitalar, de clinica ou residências seniores Estado do Projeto Em fase de aprovação e de entrada no mercado
IMPETUS USA DIGITALIZAÇÃO COM FINS ECOLÓGICOS Com vista a dar continuidade à missão de reduzir a sua pegada ecológica, a Impetus apostou na aquisição da tecnologia da Smartex para gerir de forma mais eficaz os seus desperdícios. A adoção deste sistema vai permitir a “redução do desperdício têxtil, o aumento da eficiência e transparência da produção”, explica a empresa. Irá também ajudar a “detetar defeitos em tempo real, evitando desperdícios, não só de matéria-prima, mas de água, energia e produtos químicos”, acrescenta a administração do grupo.
"Temos que ser rápidos e muito versáteis, a verticalização é o caminho ideal" Luís Guimarães Presidente da Polopique
SCOP FIXA SALÁRIO MÍNIMO EM 715€ E CONTRATA COSTUREIRAS A empresa de conceção e fabrico de vestuário SCOP decidiu aumentar o salário mínimo dos seus colaboradores, uma medida no âmbito da sua política interna de responsabilidade social. Ao mesmo tempo anuncia que está a contratar costureiras para a fábrica em Famalicão. No comunicado em que anuncia o aumento, a têxtil esclarece que a este montante acrescem ainda 15 euros mensais como prémio de assiduidade, ao que se junta ainda o seguro de saúde que proporciona também a todos os colaboradores.
O TNT da Trim NW que faz barreira aos vírus A situação atual, consequência da Covid-19, veio reforçar a necessidade, principalmente em grupos de risco como profissionais de saúde, de materiais e componentes com um efeito de barreira melhorado contra agentes infeciosos. A Trim NW juntou-se ao CITEVE e ao Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) da UMinho para assim dar forma a substratos têxteis com propriedades antimicrobianas, antivíricas e com permeabilidade melhoradas. Intitulado InovPNT, o projeto foi lançado em junho do ano passado e ao longo de dez meses focou-se no desenvolvimento de “soluções poliméricas com materiais antimicrobianos e orientados para a produção de tecidos não tecidos (TNT)”, como explica Lúcia Rodrigues. O objetivo é responder à pandemia e, a longo prazo, a outras questões de saúde pública ou metodologias terapêuticas especificas. Tal como acrescenta a investigadora do CITEVE, “a Trim NW na fase de Covid foi uma das empresas que desenvolveu tecidos não tecidos orientados para a proteção na área médica e a ideia era conferir a esses materiais propriedades adicionais, ou seja, que vão além da proteção segundo as normas.” A fase inicial do projeto foi desenvolvida pelo PIEP, “onde foi realizado todo o desenvolvimento de materiais termoplásticos funcionais e antimicrobianos com a incorporação de aditivos de base prata e óxidos de cobre nas matrizes poliméricas escolhidas através de uma extrusora de composição”, detalha Ana Costa, gestora de projetos da área de composição e materiais avançados do PIEP. De seguida, estes materiais foram sujeitos a testes antibacterianos de modo a comprovar o seu
efeito, um segunda etapa, explica ainda Ana Costa, onde “a Trim NW usou o processo Thermalbond, para a consolidação de fibras de poliéster ou polipropileno no fabrico do TNT com aplicação direta do material termoplástico funcional no seu fabrico”. Importante sublinhar ainda que “todas as amostras de TNT funcionais e eficientes apresentaram atividade antimicrobiana e antibacteriana de acordo com as normas ASTM 2149 e ISO 18184:2019 e cumpriram com as especificações da norma EN 13795-1:2019”. Por fim, foi desenvolvido um protótipo, num formato de roupa cirúrgica. Rui Lopes, administrador da Trim NW, recorda que “houve vários ensaios e produtos que não se conseguiram produzir à primeira”, mas que depois acabaram por ser bem sucedidos. Não só em Portugal, “mas também fora do país em laboratórios que garantiam conseguir detetar se o produto ficava efetivamente antibacteriano e antiviral”. O CITEVE teve também um papel ativo na validação dos resultados. O projeto encontra-se agora em fase de finalização: “Em termos de desenvolvimento, da nossa parte ficou concluído em abril, mas só recentemente recebemos resultados do laboratório a aprovar o antiviral. Já tínhamos o antibacteriano e, por isso, estamos a preparar-nos para iniciar a comercialização do produto”, explica Rui Lopes. Para o consórcio é clara a satisfação com os resultados obtidos pelo projeto, e afirmam ter cumprido com todos os objetivos iniciais, desenvolvendo algo inovador e que poderá ajudar principalmente os grupos de risco como profissionais de saúde, idosos e pessoas com patologias crónicas. t
517 milhões de euros foi o lucro da Farfetch no primeiro trimestre de 2021
ESCOLA DE MODA DO PORTO LANÇA CURSOS PARA ADULTOS A Escola de Moda do Porto (EMP), escola profissional dedicada à formação especializada na área da moda, lançou recentemente a primeira edição de cursos direcionados a adultos, em resposta à elevada procura deste segmento na oferta formativa da instituição. A par dos cursos de Desenho de Vestuário e Alfaiate, está prevista para setembro a abertura do curso de Comunicação e Serviço Digital. Os novos cursos contam com formadores de referência, como por exemplo Ayres Gonçalo, da Ayres Bespoke Taylor, alfaiataria de renome a nível nacional e internacional.
PORTUGAL FASHION INAUGUROU O VERÃO EM MILÃO O Portugal Fashion deu o pontapé de saída na estação primavera-verão 2022 com dois desfiles na Semana da Moda de Milão: Miguel Vieira e David Catalán voltaram a integrar o calendário oficial de desfiles da semana de moda italiana, novamente em formato digital, com gravação prévia dos desfiles em Milão. Catalán apresentou ‘Madre’, uma coleção que mantém o icónico visual à base de ganga, enquanto ‘Cores do dia’ foi a proposta apresentada por Miguel Vieira para a estação primavera-verão 2022.
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SONAE VENDE DEEPLY, A MARCA DE SURF LÍDER EM PORTUGAL A marca líder de surf em Portugal, a Deeply, passa a ser propriedade dos investidores António Cortez e Hernan Briones, uma dupla luso-chilena. O anúncio foi feito num comunicado pelos dois empreendedores, que afirmam que o surf é um mundo de oportunidades e que querem inovar nesta área. Detida pela Sonae desde 2004, a Deeply foi fundada como marca própria da Sportzone, e passa agora a ser administrada por uma dupla com um portefólio dominado por negócios em áreas como Agtech, Biotech, Foodtech e Wellness. O português António Cortez irá assumir o cargo de diretor executivo.
MODATEX EM CELORICO DE BASTO
Arrancou na empresa Pontosingelos, em Celorico de Basto, uma ação de formação para dezoito mulheres desempregadas promovida pelo posto de Barcelos do MODATEX. É uma formação integrada no programa Vida Ativa Formar para Empregar, direcionado para a empregabilidade efetiva no setor têxtil e do vestuário, que integrará as dezoito mulheres desempregadas. t
“CUSTO DA ENERGIA DEIXA A ITV EM SITUAÇÃO DE ALARME” Foi um aviso, sério, deixado ao Governo pelo presidente da ATP na abertura do Simpósio Têxil: é urgente que atenda à questão dos custos galopantes de energia, que pondere as tentativas de rigidificar ainda mais as leis laborais, e que avance com as medidas apontadas pela Estrutura de Missão para a Capitalização das empresas. No habitual “Discurso do Estado do Setor”, Mário Jorge Machado reconheceu, por outro lado, “o trabalho do Governo e as medidas de emergência que tomou durante a pandemia para não deixar colapsar a economia nacional”, destacando as moratórias dos empréstimos e das rendas e o lay-off simplificado, não deixando de notar que, mesmo assim, o país ficou na cauda da Europa. “Só mesmo a Turquia gastou uma percentagem menor que Portugal nas medidas de combate e apoio na pandemia”, frisou. Quanto ao futuro, a meta é que “a fileira têxtil conserve a sua relevância mas melhore o seu desempenho qualitativo”. Isto “passa por investimentos intensivos em biomateriais”, que apontou como o passo seguinte na afirmação de inovação tecnológica que já é marca do setor à escala global, apontando ao mesmo tempo para a automatização de atividades ainda muito dependentes de mão-de-obra intensiva.
Desafios que constituem a tónica para os anos que se avizinham, mas para os quais “nem todos estarão à altura de responder”. É por isso que, a par da preocupação com eventuais mexidas nas leis laborais – o que leva a menos iniciativas para promover o emprego e, consequentemente, aumento do desemprego -, a ATP desaprova igualmente “a recorrente preferência dos investimentos do Estado no próprio Estado”, apontando em concreto para “o caso recente do PRR”. Mais preocupante ainda é o facto de o Plano Estratégico para a década “estar presentemente a ser negociado com Bruxelas sem qualquer envolvimento dos parceiros sociais”, quando deveria entrar em vigor este ano “de maneira a que coincidisse a disponibilização de amplos recursos financeiros com a mudança de paradigma setorial”. Mário Jorge Machado dirigia-se diretamente ao Ministro da Economia, que classificou como “o provedor das empresas junto do Governo”, chamando a atenção para o facto de “o tempo da economia real e o tempo do Governo nunca andarem coincidentes”. E essa sincronização “é indispensável para que as consequências da crise que vamos viver possam ser substancialmente mitigadas”, concluiu o presidente da ATP. t
"Os nossos clientes estão muito no mercado online, que disparou com a pandemia" Mónica Afonso Diretora-geral da Marjomotex
HELIOTEXTIL REMATA NA SOCCEREX CONNECTED 100 A marca própria da Heliotextil especializada em team sports, a Identity Fc, marca presença até ao final do mês de agosto na versão digital da Soccerex Connected 100, a feira referência do universo do futebol. Entre as novidades, a Identity Fc destaca o lançamento de um novo transfer serializado que permite dar personalidade digital às peças desportivas. “É uma feira onde temos participado com bastante regularidade e que é considerada a melhor feira do universo do futebol”, relata Miguel Alberto Pacheco, do departamento de marketing da Heliotextil.
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marcas e empresas compõem a rede internacional de clientes de A Penteadora
PORTUGAL FASHION SESSIONS INVADIU A CIDADE TÊXTIL
TÊXTIL MABERA AVANÇA COM 3,7 MILHÕES E COMPRA A COELIMA A assembleia de credores da Coelima aprovou a proposta de compra da empresa apresentada pela Mabera, que avançou um valor de 3,637 milhões de euros e se propõe dar continuidade à atividade da companhia e manter os cerca de 250 postos de trabalho existentes. A venda é a opção que “permite salvaguardar os postos de trabalho e, consequentemente, o próprio estabelecimento, evitan-
do deteriorações e depreciações resultantes do encerramento”, declarou o administrador de insolvência, Pedro Pidwell. A proposta foi aprovada por 98,7%, incluindo os grandes credores, ou seja, a banca, nomeadamente a Caixa Geral de Depósitos, o Novo Banco e o BCP, tendo votado contra apenas 1,6% dos credores enquanto outros 9,7% se abstiveram. Para a Mabera não restam dúvidas
sobre a viabilidade da Coelima: “A empresa tem nome, ao nível têxtil estará ao mesmo nível da Vista Alegre na porcelana, é uma marca que se pode defender e não se pode deixar morrer”, afirmou o advogado da empresa, José Moreira da Costa, que pediu aos trabalhadores “confiança na nova gestão e que colaborem com os novos gestores”, enquanto anunciava o pagamento dos 200 mil euros de salários. t
Diferentes marcas locais desfilaram no Mercado Municipal de Famalicão, no âmbito do Portugal Fashion Sessions – Famalicão Cidade Têxtil. Âme Moi, Westmister, Tanned Beachwear, Linho Puro, Bôl’Ter Intimate e Tuisca foram alguns nomes que marcaram presença num dia (10 de julho) que incluiu apresentações várias, como o showcase iTechStyle Green Circle, o desfile dos cinco finalistas do concurso Ecodesign Bloom Portugal Fashion e as propostas para o inverno 2021/22 de Maria Gambina.
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M EMERGENTE Por: Mariana d'Orey
Maria Gomes Comercial da Fábrica de Malhas Tiva
Família Vive com o marido, António Joaquim (Quinzinho, para ela) e o filho António, de 10 meses Formação Licenciada em Enfermagem pela Universidade do Porto Casa Apartamento em Braga Carro Mercedes Classe E (“tive que vender a custo o querido Mini Cooper que me ofereceram aos 18 anos”) Hobbie Andar de bicicleta em família e fazer ski aquático Portátil MacBook Pro Telemóvel iPhone X Férias Vai desde que tem três meses para o Algarve, mas já percorreu o mundo. Regra de ouro “Tratar os outros como gosto que me tratem a mim”
Uma enfermeira contaminada pela têxtil Na família há quem diga que já nasceu a falar, tal é a sua vontade de comunicar e de ajudar os outros desde pequenina. Maria Gomes, 32 anos, é diretora comercial da Fábrica de Malhas Tiva, uma empresa de confeção em private label fundada pelo avó paterno em 1973, e também co-responsável pela marca de moda feminina Normal or Not, que criou em 2019 juntamente com a irmã Joana. Criada em ambiente têxtil, este não foi, no entanto, o seu plano A, se bem que as suas memórias de infância remetam sempre para os dias e noites em que corria com a irmã por entre os rolos de malha enquanto os pais trabalhavam. “Sou uma pessoa muito humana e gosto de tratar dos outros. Quando era pequenina queria ir dar roupa aos meninos que tinham frio e lembro-me de dar o meu lanche no colégio”, revela a jovem comercial, que sonhou ser médica. A média trocou-lhe as voltas, mas depois de ter feito todo o perc urso escolar entre Barcelos (onde fica a fábrica) e Braga (onde vive desde os oito anos), opta por Enfermagem, na Universidade do Porto. “Adorei o curso, foi incrível” conta Maria Gomes, que após as férias de 2013 decide candidatar-se a uma vaga para enfermagem em Inglaterra. Esteve quarto anos no serviço de cirurgia e bloco operatório num hospital em Southampton. A experiência foi “intensa e de enormes aprendizagens”, mas como nem só da vontade de cuidar os outros se alimenta o coração de Maria Gomes, o regresso foi inevitável. Tinha deixado em Portugal o namorado de toda a vida – “conhecemo-nos no colégio e começamos a namorar com 16 anos” – e voltou para casar. Deixa Inglaterra e regressa a Portugal para juntar os trapinhos com o seu “Quinzinho” numa altura em que por cá “toda a gente me dizia muito mal da profissão”. É depois de uma ou outra entrevista na área da enfermagem que conclui estar na altura de mudar o rumo da sua vida profissional. A enfermeira deixa-se contaminar pelo têxtil e junta-se aos seus pais na fábrica fundada pelo avô paterno. “Tinha essa escapatória e agarrei-me a ela. Tenho sido agradavelmente surpreendida, sinto-me muito desafiada”, conta a agora diretora comercial. “Quando vim para cá em 2017 fazia um pouco de tudo e foi assim que aprendi. Somos fortemente internacionais, os nossos principais mercados são Inglaterra, França, Bélgica, Holanda e temos também alguns clientes nos Estados Unidos”, prossegue, destacando o contacto com os clientes como a parte mais interessante do seu trabalho. Para além das funções na empresa, desde Abril de 2019 partilha com a sua irmã Joana a mentoria e criação da marca de moda feminina Normal or Not. “É uma marca que quer responder a uma lacuna do mercado com peças dirigidas a mulheres de todos os tamanhos”, descreve a enfermeira que se deixou contaminar pelo têxtil e moda.t
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a MUNDO VERDE
toneladas de peças recolhidas no ano passado pela Mango para reciclagem e reutilização
Mário Jorge Machado Presidente da ATP
CITEVE CONVOCA EMPRESAS PARA PROJETO DE BIOECONOMIA O CITEVE está a abrir à comunidade Têxtil e Vestuário a participação no Projeto BioEconomia @STV, associado à linha de apoio específica inscrita no PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, recentemente lançado. O objetivo é criar um consórcio completo com empresas e entidades do sistema científico numa lógica de fazer chegar os resultados ao mercado e à sociedade. Na nota em que dá conta da “abertura do projeto à participação de toda a comunidade Têxtil e do Vestuário”, o Centro Tecnológico explica que está a “organizar e liderar um consórcio que assuma a responsabilidade da implementação das ações e de atingir as metas” previstas no PRR, que “inclui uma importante linha dedicada ao desenvolvimento da chamada BioEconomia”. O CITEVE explica ainda que “o consórcio, que se pretende completo, incluirá empresas, entidades do sistema científico e tecnológico e ainda outras organizações que se mostrem relevantes. O projeto abrangerá atividades que irão desde a
AMBITIOUS ECO-FRIENDLY ESTREIA-SE NA PITTI UOMO A marca portuguesa de calçado e vestuário masculino Ambitious participou pela primeira vez na Pitti Uomo, a principal feira italiana de moda masculina. No evento de Florença (30 de junho a 2 de julho) apostou na nova coleção SS22 com novidades eco-friendly, a par de uma seleção com a expansão de linhas icónicas como a Haven e Rhome. A nova coleção reforça o compromisso da marca na responsabilidade ambiental através do lançamento de um novo modelo – CAP – uns sneakers 100% feitos de materiais reciclados ou eco-friendly.
VALENTINO ACABA COM VESTUÁRIO DE PELE
I&D até à instalação de linhas piloto industriais, numa lógica de fazer chegar os resultados ao mercado e à sociedade”, refere a nota, informando que “os interessados deverão enviar as suas manifestações de interesse detalhadas, contendo sugestões, ideias, intenções de investimento, para bioeconomiatextil@citeve.pt até ao próximo dia 7 de Julho”. Lançada por iniciativa do
Ministro do Ambiente e Ação Climática, esta linha do PRR – à qual, desde a primeira hora, o CITEVE deu a sua total colaboração – será focada em três setores da economia portuguesa, sendo o Têxtil e Vestuário a mais expressiva delas. Em particular, a componente para o Setor Têxtil e Vestuário, que se encontra estruturada em quatro pilares de intervenção estratégicos. t
VALÉRIUS HUB FAZ COLABORAÇÃO SUSTENTÁVEL COM A GYM A Valérius Hub colaborou recentemente com a Gym Coffee na confeção de uma coleção 100% sustentável – a Kinetic Capsule. “Estamos entusiasmados por termos contado com a inovadora Valérius para dar vida a estes designs e esperamos no futuro poder trabalhar ainda mais estreitamente com a empresa”, afirmou Diarmuid McSweeney, co-fundador da
"Temos que criar indicadores de sustentabilidade transparentes para o consumidor"
marca irlandesa de atletismo, ao jornal Fashion United. A parceria surgiu pela proximidade de localização e boas práticas da Valérius, nomeadamente a reciclagem de resíduos têxteis, o uso de fontes de energia renováveis e processos livres de produtos químicos. Iniciativas que se aliam com o objetivo da marca: tornar pelo menos 30% da
sua oferta sustentável e feita a partir de materiais reciclados até ao final do ano. Esta coleção em específico é feita com algodão (Better Cotton Iniciative) e poliamida reciclada. A peça estrela é a sweat , mas estão disponíveis outros artigos e acessórios para homem e mulher como leggings, calções, t-shirts e casacos. t
A casa de moda italiana Valentino vai deixar de criar e fabricar peças de vestuário com pele a partir de 2022. A marca anunciou também que, a partir de 2024 vai reorganizar e concentrar as suas coleções numa única etiqueta. “O conceito sem peles está perfeitamente alinhado com os valores da nossa empresa. Estamos a avançar na procura de diferentes materiais com a perspetiva de uma maior atenção ao ambiente para as coleções dos próximos anos”, disse a empresa em comunicado.
"Todo o produto têxtil acabará por ser reciclável" Miguel Ribeiro da Silva Administrador da Sasia
WETHEKNOT FAZ CALÇÕES COM GUARDA-CHUVAS Para comemorar 10 anos, a Wetheknot decidiu regressar a onde tudo começou: uma coleção de calções de banho feitos com chapéus-de-chuva abandonados na rua. Uma ideia que nasceu em 2011, quando o conceito upcyling era “associado ao lixo e não era tido como um reaproveitamento”, diz Sérgio Gameiro, designer de moda e um dos fundadores da marca. WET replica a ideia inicial em dez calções de banho, dando uma segunda vida aos guarda-chuvas, mas numa versão melhorada: para além de reversíveis, apresentam um corte contemporâneo e são unissexo.
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B SERVIÇOS ESPECIALIZADOS Por: Mariana d'Orey
MAPRIL
Rua dos Ourais 186 4475-357 Maia
O que faz? Comercializa produtos químicos e matérias-primas para a indústria e opera em setores tão díspares como o têxtil, papel/celulose, tintas/construção, plásticos (matériasprimas e máquinas), ambiente/purificação e petroquímica Fundação Em 1979 pelo pai e pelo tio do atual diretor-geral Plantel 33 trabalhadores Exportação 15 a 20% do que produz, para a Europa, Turquia e Norte de África Escritórios Vermoim - Nogueira, na Maia
PACOTE DE 80 MILHÕES PARA COMPENSAR EFEITOS DO BREXIT Portugal vai ter acesso a um pacote de 80 milhões de euros de fundos europeus para empresas e setores afetados pelo Brexit. A medida foi anunciada pelo Ministro do Planeamento, Nelson de Souza, que anunciou “um novo programa de apoio ao ajustamento necessário para alguns setores e empresas dos impactos decorrente do ‘Brexit, uma iniciativa lançada na presidência portuguesa da União Europeia”. O governante explicou que o valor global desta medida a nível europeu é de cinco mil milhões de euros. Portugal vai ter oportunidade de aceder a um pacote perto de 80 milhões de euros.
"Ninguém quer stocks, tem que haver alianças entre as empresas" Luís Guimarães Presidente da Polopique
TEXTILE INTELLIGENCE PREVÊ MAIS PROCURA POR TÊXTEIS ANTIVIRAIS O mercado dos têxteis antivirais está a crescer em termos de oportunidades, segundo aponta a Textiles Intelligence no âmbito do estudo “Têxteis antimicrobianos: promover a higiene durante a pandemia de Covid-19 e mais além”. O alargamento da oferta a vestuário de moda e athleisure e activewear é outra das conclusões, que apontam ainda para uma crescente valorização de peças de vestuário que combinem múltiplas funções como impermeabilidade, respirabilidade e resistência a micróbios. As projeções apontam para um aumento de 10% por ano a médio prazo.
A tecnologia que dá qualidade aos acabamentos têxteis Assegurar o cumprimento dos atuais requisitos e normas impostos pela ITV como o REACH, GOTS, OEKO-TEX, “Califórnia Proposition 65”, Bluesign e ZDHC é uma das principais missões da Mapril, uma empresa que se dedica à comercialização de matérias-primas e produtos químicos para a indústria têxtil. Com sede na Maia, a Mapril é uma empresa familiar fundada em 1979, que vai já na segunda geração e que, a par do papel e da celulose, tem nos têxteis clientes relevantes. “Nasceu pelas mãos do meu pai e do meu tio mas, na verdade, a família sempre esteve ligada ao negócios da distribuição de produtos químicos. O meu avó paterno já trabalhava nesta área por conta própria. A Mapril surge de uma forma natural, uma vez que a família já conhecia muito bem o mercado”, conta Pedro Magalhães, atual diretor-geral da empresa. Mas o que no início eram quatro colaboradores a operar na área da distribuição de produtos químicos, rapidamente evoluiu para uma empresa maior e mais abrangente. Foi em 1989, já o atual diretor-geral integrava os quadros, que a empresa deu um passo de gigante com a inauguração de uma fábrica, que permitiu, para além da distribuição, apostar na produção própria. A Mapril conta hoje com 33 trabalhadores. “Foi um passo muito importante. Neste momento cerca de 85% do que vendemos para o setor têxtil, por
exemplo, é produzido na nossa fábrica em Portugal”, concretiza Pedro Magalhães, avançando que a empresa apresenta quatro tecnologias avançadas à base de água – homogeneização de alta pressão, emulsificação, policondensação e polimerização – capazes de dar uma resposta altamente eficiente ao setor têxtil. “Apostamos bastante em inovação e novos desenvolvimentos e temos neste momento, por exemplo, disponível uma tecnologia avançada de emulsificação à base de silicone que traz grandes vantagens para a têxtil”, descreve Pedro Magalhães. Acompanhando a tendência internacional do mercado, a Mapril tem também procurado soluções sustentáveis para os seus produtos através da “escolha de matérias-primas com certificado de sustentabilidade e o reforço da procura de produtos renováveis”. Para além da comercialização e distribuição de produtos químicos para o mercado interno, a Mapril exporta cerca de 15 a 20% dos seus produtos. “Europa, Turquia e Norte de África são os mercados para os quais vendemos atualmente”, esclarece Pedro Magalhães Já no que diz respeito ao futuro, excluindo as questões ambientais – “tão intrínsecas e tão regulamentadas que já nem são questão” –, o diretor-geral entende que a competitividade é um dos fatores mais determinantes da era pós-covid: "temos de nos adaptar, ser competitivos e ágeis”, assegura. t
36 mil
máscaras por hora está a produzir a Suavecel na fábrica de Viana do Castelo
GUIMARÃES PERPETUA IMAGEM DE ALBANO COELHO LIMA
A inauguração de um monumento de homenagem ao fundador da Coelima e a atribuição do nome de Albano Coelho Lima à futura Academia de Transformação Digital são a forma de o município de Guimarães perpetuar a imagem do empresário. Esta é uma homenagem em nome da comunidade ao fundador da Coelima, “um dos mais valorosos homens da sociedade vimaranense, um exemplo e uma referência, alguém que personificou os valores da humildade, trabalho e visão”, disse o presidente da câmara, Domingos Bragança, que inaugurou o monumento, em Selho S. Jorge, no âmbito das comemorações do ’24 de Junho de 1128 – Dia Um de Portugal’.
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OPINIÃO O CONTRIBUTO DA ATP PARA UM PLANO ESTRATÉGICO DO SETOR ATÉ 2030 Mário Jorge Machado Presidente da ATP
A ANÁLISE DIFÍCIL DA SUCESSÃO Luís Todo Bom* Gestor e professor no ISCTE
Encontramo-nos ainda a recuperar de um passado recente que deixou profundas marcas em todo o setor têxtil. O presente é instável e incerto, pois a recuperação que temos assistido ao longo de todo este ano anima-nos, mas não nos tranquiliza, uma vez que o futuro é algo a construir e nenhum de nós o pode antecipar com segurança. A ATP não quis deixar de assumir o seu compromisso com a indústria que orgulhosamente representa, como tem feito sempre que um novo quadro comunitário se inicia, apresentando o seu habitual contributo para um plano estratégico para a fileira até 2030, procurando identificar as tendências que vão enquadrar o seu desenvolvimento, sugerir linhas de intervenção estruturantes para a sua afirmação, sem evitar as recomendações ao Governo e Administração Pública, aos centros de competência de apoio ao setor e, finalmente, às próprias empresas, protagonistas e destinatárias últimas de tudo que realizamos. Os anos que se seguirão marcarão um novo tempo, incluindo nele os problemas que nos habituamos a resolver, assim como as soluções que adotamos e que permitiram a resiliência e reinvenção da têxtil portuguesa, tornando-a num case study mundial, distinguindo-se pela flexibilidade, adaptabilidade, alta reatividade, inovação, criatividade e pela sua capacidade de gerar valor . Os drives mudaram e já nada nos assegura que os fatores críticos de sucesso, que fizeram a competitividade do cluster têxtil nacional na passada década, manterão a sua eficácia, especialmente quando o negócio global da moda está em profunda transformação. Já antes da pandemia, o consumo de artigos de moda nos mercados desenvolvidos estava em queda acentuada, mercê da alteração radical dos valores dos consumidores, especialmente das gerações mais novas, que exigem transparência às mar-
O processo de sucessão num grupo familiar é sempre um processo complexo, por força das caraterísticas destas entidades em que coexistem dois sistemas – família e empresa, interligados, com os quais o sucessor tem de interagir. As questões essenciais que se colocam na sucessão podem ser agrupadas do seguinte modo: - A sucessão não é um ponto no tempo, mas sim um processo longo. - Na maioria das situações, a geração no poder envolve a geração seguinte na gestão da empresa. - A sucessão não deve ser olhada como um «modelo de repetição» em que se substitui um executivo por outro. - Uma sucessão bem-sucedida, raramente repete o modelo anterior. - Uma sucessão bem-sucedida exige um plano a longo prazo, iniciado pela geração anterior, que antecipe as decisões que a geração seguinte terá que tomar. A sucessão ocorre na sequência de um
cas e aos produtores, preocupando-se com as questões da sustentabilidade ambiental, mas também a social e a económica, pugnando por modelos de circularidade produtiva, conferindo uma segunda vida às peças de vestuário ou tornando-as matérias-primas do ciclo industrial seguinte, o que determina menos consumo, consumo mais responsável e a rastreabilidade de todo o sistema. Os novos drives estão na sustentabilidade e na digitalização, suportados pelo avanço da tecnologia, que estará não apenas focada na eficiência do processo, mas igualmente nos efeitos que a indústria terá no seu entorno. Ao mesmo tempo, não deixarão de cumprir os objetivos de sempre, uma vez que a moda não se destina a satisfazer apenas necessidades utilitárias, compreende uma imaterialidade que lhe aporta valor acrescentado e que transporta felicidade para quem a consome. Temos como meta, no contributo para o Plano Estratégico que apresentamos recentemente para o setor em 2030, cumprir um cenário ouro, no qual a fileira têxtil conserva a sua relevância, mas melhora substancialmente o seu desempenho qualitativo, o que passa necessariamente por investimentos intensivos em biomateriais, um passo seguinte na afirmação de inovação tecnológica que já é marca deste setor à escala global, pela automatização e robotização de atividades ainda muito dependentes da mão-de-obra intensiva, antecipando e colmatando a sua escassez e acelerando a produtividade do trabalho, e pela capacitação dos recursos humanos orientados a atividades terciárias de valorização da indústria, nos domínios do design, do marketing e da comunicação, para que o objetivo de gerar e gerir marcas nacionais não se fique no habitual wishful thinking.t
processo, ou seja, através de um conjunto de passos sequenciais. A gestão do processo de sucessão é importante para garantir o seu sucesso e, para tal, deve obedecer às seguintes caraterísticas: - Ser um processo estruturado, com vários passos, exigindo cada um tempo, reflexão e conhecimento. - Envolver ações na família e na empresa. - Garantir o empenho de todos os intervenientes com responsabilidades no processo. - Ser concluído com sucesso (ficar no meio da ponte é um desastre anunciado!). - Se necessário, para responder às preocupações anteriores, considerar uma fase transitória com um tutor, gestor profissional que faça a transição entre os anteriores e os novos elementos da família. O processo de sucessão do fundador é diferente dos processos de sucessão das gerações seguintes já que nesta primeira fase ocorre uma alteração significativa do perfil
de quem conduz a empresa e a família. O fundador de qualquer grupo empresarial é sempre um empreendedor, com um perfil de risco e atitude perante o sistema empresarial próprio deste tipo de intervenção. Se a ação do fundador, na construção e crescimento do grupo empresarial, for bem-sucedida, o que se exige da geração seguinte, ou seja, dos sucessores, é que sejam capazes de gerir de modo eficiente e rentável o património empresarial criado pelo fundador. Ocorre então, neste processo de sucessão, uma alteração significativa de perfil de liderança, de uma liderança para o empreendedorismo, para uma liderança para a gestão empresarial. Este facto, raramente é aceite, tanto pelo fundador como pelo sucessor, e está na origem da maioria dos insucessos que ocorrem nesta primeira transição geracional. t *Texto extraído do Manual de Gestão de Empresas Familiares, 1ª edição, Edições Sílabo, Lisboa, pp. 267, 268.
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Paulo Vaz Administrador da AEP e Consultor da ATP
“PRIVATE LABEL”, UMA INVENÇÃO DA ITV PORTUGUESA DIFÍCIL DE IMITAR (*) O “private label”, na sua versão mais completa e complexa, é uma invenção da indústria têxtil e vestuário portuguesa, tendo no subsetor das malhas o melhor exemplo da construção de um modelo de negócio dinâmico, que garantiu, na última década, não apenas a sobrevivência desta fileira produtiva, mas a transformou num caso de sucesso global. Em mais de 30 anos de carreira profissional dedicado ao setor têxtil e moda, em empresas e como quadro e dirigente associativo, tive o privilégio de testemunhar e até participar na mudança que a indústria realizou ao longo das últimas décadas. O doutoramento em Design Moda que conclui na Universidade do Minho foi a oportunidade para condensar e sistematizar todos os ensinamentos entretanto recolhidos e a experiência adquirida no setor. Assim, partindo do fenómeno das empresas de malhas do concelho de Barcelos como base de estudo, facilmente se pode extrapolar para toda a fileira, que funciona hoje como um cluster organizado e sinérgico, aproveitando as vantagens comparativas das complementaridades e da intensidade das interações entre as empresas e instituições. Durante longas décadas, o setor em Portugal afirmou-se e desenvolveu-se assente essencialmente nas vantagens do baixo custo produtivo, na mão-de-obra abundante e na proteção que o Acordo Multifibras (AMF) oferecia. Este modelo permitiu o crescimento acelerado da ITV portuguesa, sobretudo os subsetores da malha e da confeção a partir do início dos anos 80, sempre jogando no argumento do preço, atraindo os compradores das marcas e do grande retalho de toda a Europa e dos Estados Unidos. Em 1995 tudo mudou, com o fim do Acordo Multifibras, que permitiu a criação da “OMC – Organização Mundial do Comércio”, estabelecendo-se um período de desmantelamento de dez anos, em que Portugal conseguiu que as categorias mais sensíveis ficassem para a última fase. Tudo isto não evitou o brutal impacto da mudança: a entrada da China na OMC, a invasão dos mercados de produtos a preços cada vez mais baixo e o evidente desrespeito daquele país pelos mais elementares princípios do livre e justo comércio internacional. A têxtil portuguesa primeiro reagiu em negação e depois em sobressalto procurou reagir, conseguindo-se um período suplementar de transição até 2007, tempo precioso para as empresas mais capazes se reestruturarem e reinventarem o respetivo modelo de negócio, de modo a resistirem à concorrência avassaladora da Ásia. Nem todas conseguiram, mas muitas puderam fazê-lo e estão aí para contar a história, sendo que a mudança, hoje, é simples de sintetizar: passaram da concorrência do preço para a competição pelo valor, passaram de passivos tomadores de encomendas para ativos vendedores de soluções orientados ao cliente, e, finalmente, alinharam as estratégias individuais com as políticas públicas, criando um contexto propício à inovação, à internacionalização e à capacitação do seu capital humano. Um ecossistema de sucesso Assim se forjou aquilo que é hoje o ecossistema que o private label da ITV portuguesa apresenta como único: um cluster estruturado, predominantemente localizado no litoral Norte do país, em que a fileira têxtil e vestuário se acha completa, atualizada tecnologicamente, e em que mais do que fazer valer as suas complementaridades propicia uma interação intensa e sinérgica entre os seus stakeholders, permitindo oferecer aos clientes internacionais um package de serviços de valor, onde se encaixam produtos industriais, desenvolvimento de materiais, inovação tecnológica, I&D, design, logística avançada e modelos de negócios que se destacam pela flexibilidade, rapidez, criatividade e antecipação. Tudo isto ainda para mais enquadrado por um sistema científico e tecnológico, composto pelas universidades e centros tecnológicos, de formação e think tanks, que permitem uma eficaz transferência de conhecimento, especialmente aquele que é útil para resolver problemas às empresas e conquistar mercados. Esta fórmula parece, em teoria, fácil de imitar, mas, de facto, torna-se praticamente impossível replicar um ecossistema tão equilibrado, onde todos os componentes se encontram alinhados para permitirem não apenas a sua existência, mas a capacidade regenerativa e de adaptação, capacitando-o para vencerem uma crise e outra a seguir, por mais difíceis que sejam, por mais exigentes que se apresentem os desafios. E o futuro? Mas aquilo que permitiu ao setor têxtil e vestuário prevalecer nas últimas décadas, mudando o seu perfil de especialização, adaptando-se à inconstância e incerteza dos mercados, encontrando novos elementos de diferenciação, ou seja, os drives clássicos da inovação, da criatividade e do serviço, podem não ser bastantes para o que nos aguarda no ciclo que se seguirá à pandemia. A indústria da moda já enfrentava dificuldades, especialmente nos países mais desenvolvidos, com o mercado de consumo a alterar-se radicalmente por força da emergência de consumidores mais jovens, mais informados e inspirados pelos valores da sustentabilidade e responsabilidade social. Esta tendência possivelmente será adensada nos anos mais próximos, tal como a digitalização em toda a cadeia de valor, da indústria à comercialização, da automação à rastreabilidade dos produtos e processos, à massificação do comércio eletrónico, tudo fortemente catalisado pela circunstância pandemia e seus impactos, e que perdurará depois dela. O que aí virá não será necessariamente negativo para a indústria têxtil e vestuário portuguesa, que tem vantagens comparativas na inovação e na sustentabilidade, num quadro de reindustrialização na Europa, de modo a tornar mais próxima a produção do consumo, reduzindo os impactos ambientais e a dependência das cadeias de fornecimento longas. Desta vez há que ser proativo e não reativo, pois estamos, pela primeira vez, em muitos domínios nesta indústria, como trendsetters e não como simples followers, como sucedeu no passado. Há que procurar sobretudo as margens, muito mais que crescer nos indicadores, incluindo o emprego ou exportações, pois será na geração e partilha do valor que se estabelecerá a solidez da indústria até final de 2030. t (*) Tema que o autor desenvolveu na tese do Doutoramento que concluiu na Universidade do Minho
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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara
É com a pele dos comuns mortais, um look simples e singelo, que Katty Xiomara equipa o casal mais mediático do mundo. A ideia é que assim equipados, Cristiano e Georgina divulguem neste verão a CR-Cola pelas costas do Algarve. Ou pensavam que o estardalhaço com as garrafas de Coca-cola na conferência de imprensa do Europeu era mesmo para recomendar o consumo de água?
CR–Cola é fresca, natural e muito tuga Na ressaca do Europeu de futebol itinerante, depositamos todos os nossos esforços, rezas e velinhas nos olímpicos de Tokyo e fazemos figas para que algumas medalhas acompanhem os nossos atletas na viagem de regresso. Entretanto, e até para não dar mau augúrio, desviámos as nossas atenções para o rescaldo do Europeu. Onde deixámos por renovar o título de que tanto nos orgulhávamos, ficando este entregue aos nossos cuginos Italianos. Eles que este ano inesperadamente açambarcaram as Euro… Que o digam os estrondosos Mäneskin, que sem meias medidas nem papas na língua acabaram por ganhar o concurso Eurovisão. Contudo, Portugal ainda trouxe qualquer coisa. Trouxemos mais um recorde para o Cristiano e mais uma polémica para brincarmos à apanhada. Refiro-me, claro, ao drama das Coca-Colas fora da mesa… Pois bem, toda esta performance trazia água no bico, uma nova jogada, ou melhor, um novo produto. Assim nasce uma estrela, a nova e fresquíssima CR-Cola com os sabores naturais e nutritivos da cereja do Fundão, dos citrinos do Algarve, do morango de Odemira e da banana da Madeira. Uma nova bebida de cola quase 100% natural e made in Portugal. E para publicitar este novo produto, tão jovem como familiar, Ronaldo viaja de mãos dadas com Georgina, vestindo a pele dos comuns mortais com um look simples e singelo. Ela, com um bikini pequenino às bolinhas amarelas, um chapeuzinho de palha e umas alpargatas. Ele, apenas de sunga e chinelinho, mas com um grande reclame tatuado pelos raios UV. Assim, fazem-se eles à vida num luxuoso moliceiro de 15 metros, equipado com camarotes ao ar livre, e claro, com uma geladeira repleta de CR-Cola. As paragens são feitas em todos os apeadeiros da costa algarvia, onde, de praia em praia, vão oferecendo um refresquinho por águas que nunca antes navegaram! t
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O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão
A Carvalha N225, Tavanca 4690-798 Cinfães
DUAS VITELAS A VER O PAIVA A Cantina de hoje assenta arraiais em Cinfães e o leitor mais distraído pode desde já perguntar com toda a razão: o que é que Cinfães tem a ver com a indústria têxtil e de vestuário? Como meu cliente, o meu estimado leitor tem sempre razão! Mas permita-me por favor uma explicação. Antes de assentar arraiais eu no restaurante A Carvalha, pode ser verdade que nunca tinha estado em Cinfães. Mas posso desde já garantir que é seguro que voltarei a calcorrear caminhos de Cinfães, nem que seja só por causa deste Carvalha. Aviso já que a partir do Porto, chegar à Carvalha não é canja. Devo dizer que tudo ficou mais fácil porque o meu cicerone foi o meu amigo Paulo Teixeira, ex-Presidente da Câmara de Castelo de Paiva, para já não falar da ajuda do meu cunhado António Branco, que tem fundas raízes nesse território, como agora se diz. Mas se o ponto de partida for de alguma boa empresa têxtil ou de alguma confeção de Penafiel ou do Marco de Canaveses (e eu conheço tantas!), a tarefa fica muito simplificada. Como já devem ter percebido é esta a explicação que esperavam e eu prometi dar.
UM ALVARINHO COM O SELO TMG
Se é verdade que Cinfães não é um concelho têxtil, ir ao Carvalha é um bom conselho que eu posso dar às empresas têxteis, especialmente às que medram nos concelhos limítrofes. Acabada esta espécie de justificação GPS, tenho mais três dicas imperdíveis. Para quem se aventurar a seguir o meu estímulo para ir ao Carvalha de Cinfães, para além da vista inolvidável sobre o rio Paiva, também está “proibido” de perder o arroz de aba de vitela, a vitela assada com arroz de forno e o pão-de-ló caseiro feito pelo irmão da Amelinha. Em relação ao arroz é simples concluir que foi o melhor que comi até hoje... porque na verdade nunca tinha experimentado um arroz de aba de vitela . Mas a vitela estava igualmente poderosa e a fazer-me lembrar outras paragens em que só o cotejo com o arroz de forno pede meças. O pão-de-ló vale por ser de lá mas pode ser comparado com outros do mesmo estilo, molhados como eu gosto e pequenos como se pretende para a função prevista. A conta é outra boa surpresa e quando eu não me canso de repetir que não gosto se surpresas, claro que não é destas que estou falar. t
CASA DE COMPOSTELA | ALVARINHO Pois é! Aqueles que pensavam que o grupo TMG era só indústria estão bem enganados. A Casa Agrícola de Compostela já existe desde os anos 60, sendo conhecida sobretudo pela produção de Vinhos Verdes. Atualmente liderada por Isabel Furtado, foi fundada, tal como o grupo têxtil, por Manuel Gonçalves, a partir da quinta de Requião, Famalicão, onde estão as raízes da família. Mas o ramo agrícola dos negócios da família estende-se hoje também ao Douro, com uma participação qualificada nas Caves Transmontanas. O nome pode até não soar especialmente, mas dizendo-se que se trata dos famoso espumantes Vértice – os melhores de Portugal, no entender de especialistas – e dos vinhos Quanta Terra, isso já é vinho de outra pipa! Na Casa de Compostela, cerca de 60% da produção é exportada para países da Europa, América e Ásia, sendo atualmente o Alvarinho Superior o mais reputado. Tanto que ainda recentemente foi distinguido nos Prémios da TAP como “Best Wine”, tendo sido selecionado para ser servido nos voos de longo curso da companhia. Mas o melhor é mesmo não esperar para levantar voo e saboreá-lo em terra. Com mariscos, peixes frescos, ou mesmo um belo arroz de frango. Bom proveito!
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c MALMEQUER Por: Cláudia Azevedo Lopes
Luís Miguel Malheiro, 45 anos, é o diretor geral na PT Mills, uma empresa de serviços de equipamentos para a metalomecânica, que a pandemia empurrou também para o fabrico de equipamentos de proteção individual. Apoiado numa boa dose de teimosia e persistência, descreve-se como um eterno optimista, que nunca baixa os braços, mas confessa que por vezes o coração bate forte. Mas neste caso é pelo FCPorto, “o clube do coração”.
SOUVENIR
UMA HERANÇA DE GRAVATAS
Gosta
Não gosta
Conviver com a família Estar com os
Esparguete e qualquer prato italiano com
amigos Praticar desporto Países frios De
massa Falta de respeito Má educação
neve Tradições De Portugal e da nossa
“Fura-filas” Pessoas convencidas Gente
história Música rock Jazz FCPorto Blues
cobarde e choramingas Arrependimentos
Experimentar culturas diferentes De planear
De desculpas Desorganização Da sensação
Programar e delinear estratégias Desafios
de perder o controlo Ansiedade De pessoas
Participar ativamente no desenvolvimento
com mãos transpiradas Acordar cedo
de soluções Honestidade Humildade Pessoas
Quando me colocam mais problemas do
com educação Persistência Otimismo Filmes
que soluções Não conseguir deixar de
de ficção científica Thrillers Comédias
fumar Insectos Fanfarronice Musicais e
Da noite Da cor azul Tecnologia Animais Automóveis clássicos Do cheiro a gasolina Bom senso e coerência Automação e programação de máquinas De projeto mecânico Meritocracia Da expressão “elefante numa loja de porcelana”
filmes românticos Chuva Fast food Doces de natal Funk, rap e hip hop Atrasos Compromissos desmarcados à última Reuniões prolongadas
Não é o adereço que use com maior frequência, mas as gravatas acabam por ter para mim um significado muito especial, já que funcionam como uma homenagem e elo de ligação à memória do meu pai. É sobretudo nas ocasiões oficiais, em que me apresento em representação da Comissão Vitivinícola da Bairrada, que utilizo a gravata, recorrendo sempre a uma coleção que era do meu pai, de que ele muito gostava e que usava no seu dia-a-dia. Sendo o único homem entre os oito filhos que deixou, é uma espécie de herança de género, na qual tenho muita honra e orgulho. Ainda por cima tendo o meu pai dedicado toda a sua vida de trabalho a uma empresa de produção de espumantes, a Caves da Montanha. Como guarda-livros, como então se denominava a função administrativa. Também por isso nutro um carinho muito especial por esta coleção de gravatas, que não sendo especialista em moda me parecem normais, o mais clássico que se possa imaginar. Num estilo que me parece mais inglês que italiano, são peças que ele foi acumulando ao longos do tempo, muitas delas como prendas que sempre recebia por altura do Natal. São uma 15 ou 20, mas é claro que já não as consigo usar todas. Umas porque completamente desatualizadas, outras porque já muito desgastadas, mas que continuo a guardar como um tesouro. E gosto mesmo de as usar. Não só porque a gravata dá o necessário formalismo e dignidade para essas ocasiões, mas sobretudo pelo que significa para mim de homenagem ao meu pai e de ligação ao setor que represento. É claro que é por essa relação afetiva, mas o certo é que quando as uso isso me faz sempre sentir o peso formal das ocasiões. Até parece que me sintoum pouco mais importante nessas funções de representação. t Pedro Soares
Presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada