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JORGE PEREIRA, CEO DA LIPACO
“SE AS EMPRESAS QUE TÊM ACABAMENTOS PARAREM, BLOQUEIAM TODA A CADEIA” P. 20 A 22
FOTO: RUI APOLINÁRIO
DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS
INOVAÇÃO
BARCELCOM CRIOU UM NOVO MODELO DE MEIAS PARA OS VELEJADORES
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INVESTIMENTO
PERGUNTA DO MÊS
INARBEL APOSTA NA MELHORIA ENERGÉTICA E AMBIENTAL
QUE IMPACTOS VÃO TER OS CUSTOS DA ENERGIA E A GUERRA NAS EXPORTAÇÕES?
EMERGENTE
SIMPÓSIO ATP
FILIPA CRESCEU COM A IDEIA DE SE FOCAR NO MUNDO DA MODA
GREEN CIRCLE LEVOU A MODA SUSTENTÁVEL À EXPO DUBAI
P 24
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DOIS CAFÉS E A CONTA
SUSTENTABILIDADE
CARLOS COSTA QUER FAZER O GATO LADRAR NA JOSÉ PINTO CARDOSO, S.A
LMA TEM UMA ESTRUTURA DEDICADA ÀS FIBRAS DE ORIGEM CELULÓSICA
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DIRETOR: MANUEL SERRÃO MENSAL | ASSINATURA ANUAL: 30 EUROS
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Março-Abril 2022
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n CORTE&COSTURA Seis perguntas a António Braz Costa, Diretor-Geral do CITEVE
“O iTechStyle Summit é já uma das grandes conferências têxteis da Europa”
O formato presencial está de regresso ao iTechStyle Summit. O que é que isso representa para o sucesso e impacto do encontro? Em boa verdade, o iTechStyle Summit nunca abandonou o seu formato presencial. Durante os anos de 2020 e 2021 equacionámos a possibilidade de realizar uma edição online da conferência, mas chegámos à conclusão de que esta iniciativa só faz sentido no seu formato físico. Em alternativa encontramos outras formas de promover a informação, a discussão e o networking entre a comunidade do sector, reservando para o iTechStyle Summit este formato muito interativo, verdadeiro ponto de encontro e ambiente colaborativo de reflexão sobre o que marcará o futuro. Com presenças e intervenientes de peso anunciados, quais são os grandes destaques e aqueles pontos do programa a não perder? Direi que nada do programa se deve perder, embora seja verdade que haverá momentos da conferência mais dedicados a determinadas áreas da inovação têxtil e, por esse motivo, sejam incontornáveis pelos profissionais diretamente ligados a cada um desses temas. Mas estou certo de que assistir a todo o evento valerá bem o tempo investido. Ainda assim, será sempre de destacar o primeiro painel, onde serão apresentadas visões de convidados muito destacados sobre as megatendências de evolução do nosso sector. Esta é já a quarta edição, que balanço é possível fazer? Esperamos que esta quarta edição, depois da paragem devida à pandemia, repita o êxito completo que foram as três primeiras. Com o iTechStyle Summit criou-se finalmente em Portugal uma conferência de nível inter-
nacional, com mais de 600 participantes por edição. Um evento que viu validado pelos participantes o seu modelo: presencial, envolvendo toda a comunidade (academia, administração pública e empresas, e, dentro destas, vários perfis, desde administradores a técnicos de chão de fábrica). Gerou uma enorme adesão do sector, que viu também nesta conferência uma forma de aceder a informação que, há alguns anos, só seria possível com uma deslocação ao centro da europa. Finalmente, é de assinalar o considerável nível de participação internacional que obteve, quer de oradores, quer de outros participantes. E como enquadra o iTechStyle Summit no panorama internacional do desenvolvimento e inovação têxtil? Acho que o facto de já ser hoje uma das grandes conferências têxteis da Europa é significativo e por si só já responde à pergunta. Além de académicos e investigadores, qual é o envolvimento de técnicos e empresas. Que tipo de participantes gostaria de ver mais envolvidos? O mix de tipologias de participantes tem sido exatamente a projetada e esperada. E também isso contribui para o sucesso do iTechStyle Summit.
EDITORIAL Por: Manuel Serrão
A LUTA CONTINUA Como já é costume ao longo de muitos anos, a nossa ITV está mais uma vez sem vida fácil. Ainda temos bem presentes todas as dificuldades e contrariedades impostas pela pandemia, e já se agudizaram nos últimos meses os brutais aumentos dos custos energéticos por causa da guerra da Ucrânia. As empresas têxteis e a sua associação mais representativa, a ATP, têm sido incansáveis a alertar os responsáveis governamentais para esta dramática situação. Como é fácil de perceber, também Jorge Pereira, o entrevistado que faz a capa desta nossa edição, não deixa de pôr em destaque os problemas que serão causados a toda a fileira se as empresas de acabamentos forem obrigadas a interromper a sua atividade. Aqui no T, como não podia deixar de ser, estamos também muito preocupados com esta situação, mas como também tem sido timbre da nossa ITV desde que a conhecemos, confiamos plenamente que entre a sua capacidade de resiliência e o esforço titânico das suas pressões sobre as autoridades, será possível ultrapassar esta situação, no prazo mais curto possível. Com o menor prejuízo que for possível. Até porque tanto quanto sabemos, encomendas não faltam. t
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- MENSAL - Propriedade: ATP - Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal. NIF: 501070745 Editor: Mário Jorge Machado Diretor: Manuel Serrão Morada Sede e Editor: Rua Fernando Mesquita, 2785,
O encontro é também o palco para a entrega dos iTechStyle Awards. Que balanço faz dos resultados e envolvimento das empresas neste concurso? Crescente. Sentimos que a iniciativa se foi transformando em algo aspiracional. A integração da entrega destes prémios da iniciativa iTechStyle na agenda do Summit tem ajudado ao aumento da notoriedade dos laureados. t
Ed. Citeve 4760-034 Vila Nova de Famalicão Telefone: 252 303 030 Assinatura anual: 30 euros Mail: tdetextil@atp.pt Assinaturas e Publicidade: Cláudia Azevedo Lopes Telefone: 969 658 043 - mail: cl.tdetextil@gmail.com Registo ERC: 126725 Tiragem: 4000 exemplares Impressor: Grafedisport Morada: Estrada Consiglieri Pedroso, 90 - Casal Santa Leopoldina - 2730-053 Barcarena Número Depósito Legal: 429284/17 Estatuto Editorial: disponível em: http://www.jornal-t.pt/estatuto-editorial/
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n PERGUNTA DO MÊS Texto: Cláudia Azevedo Lopes Ilustração: Cristina Sampaio
“A única solução são apoios que cubram estes aumentos de preços da energia” VITOR ABREU ENDUTEX
QUE IMPACTOS VÃO TER OS CUSTOS DA ENERGIA E A GUERRA NAS EXPORTAÇÕES?
O cenário que todos temiam tornou-se realidade. A guerra regressou ao solo europeu, juntando-se à escalada dos custos da energia numa séria ameaça à atividade industrial. Os empresários têxteis portugueses não têm dúvidas: as exportações vão-se retrair e a energia pode ser a estocada final para muitas das empresas do sector. Sem um pacote de apoios à manutenção da atividade o sector pode colapsar
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“Há um risco grande de perder clientes, com um custo irreversível para toda a indústria europeia”
“O que estamos a atravessar vai ser muito pior para o sector do que a pandemia alguma vez foi”
“Por este caminho, daqui a meio ano não há empresas, é mais vantajoso parar”
MANUEL GONÇALVES TMG
PAULO MELO SOMELOS
RUI MACHADO BESTITCH
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ão bastava já o aumento exponencial dos custos da eletricidade e do gás, o surgimento da guerra com a invasão da Ucrânia veio complicar o quadro já de si sombrio para o evoluir das exportações. “Em clima de instabilidade, os comportamentos de compra retraem-se sempre” e por isso o CEO da Adalberto, Mário Jorge Machado, não tem dúvidas de que a guerra vai afetar – e muito – as exportações têxteis. “Paralelamente, os custos da energia subiram muito mais na Europa do que em outros mer-
cados nossos concorrentes. Sabemos já de casos em que as encomendas estão a ser desviadas para países como a Turquia, que conseguem manter os preços mais baixos”, expõe o também presidente da ATP, explicando que durante as primeiras semanas de conflito, as vendas das várias cadeiras de produção caíram na ordem dos 25% em comparação com as semanas anteriores. “Há um risco grande da Europa, caso estes custos se mantenham por um período mais alargado, perder os seus clientes, que poderão deslocalizar as suas produções para a Ásia, para países como a Índia ou o Paquistão, com um custo irreversível para toda a indústria europeia” previne o Diretor Executivo da TMG, Manuel Gonçalves. Da mesma forma Vítor Abreu, CEO da Endutex, diz que “é preciso compreender que não estamos sozinhos no mercado, há concorrência de fora da UE que tem outras condições. Estamos num
problema em que a única solução são apoios que cubram este aumento de preços da energia”, conclui. António Cunha, Sales Manager e Market Director na Orfama, não tem dúvidas de que o aumento dos custos energéticos, combinado com a incerteza, trazida pelo conflito militar é a receita perfeita para que os clientes retraiam as suas compras. “A curto e médio prazo, as empresas não vão ficar imunes a todos estes aumentos dos custos e vão também começar a sofrer o impacto de um abrandamento da economia mundial, particularmente a europeia. E a junção destes dois fatores vai afetar no futuro as exportações. Só mais à frente iremos saber quanto!”, antevê, sem deixar de acreditar que para o sector têxtil o sucesso é sempre possível. “Continuo a ter grande otimismo em relação à capacidade de resiliência e inovação do sector. Precisamos ter em mente que a perspetiva de crescimento poderá ainda ser possível neste contexto, embora menos forte do que prevíamos no início do ano”, acredita António Cunha, na esperança de que os anunciados apoios do Estado possam ser o bálsamo que as empresas precisam. Por isso, Mário Jorge Machado fala em aproveitar ao máximo as ajudas anunciadas pelo governo e estâncias europeias. “Foi já aprovado pela UE um apoio aos estados membros, que deverá ser canalizado para as empresas que mais estão a ser impactadas por estas subidas. Não resolve o aumento global sentido nas empresas, mas é uma ajuda. Precisamos também de encontrar uma alternativa à Rússia, que foi quem nos pôs nesta situação dramática, como a grande fornecedora de gás da Europa”, completa. Mas há já quem não tenha dúvidas de que o sector depende da chegada de apoios. “A situação é absolutamente insuportável. Neste momento as empresas estão em estado de emergência e
muito rapidamente, se nada for feito, podemos passar a um estado de calamidade”, avisa o CEO da Inarbel, José Armindo Ferraz, certo de que apenas a ação governamental pode ajudar a aliviar este fardo pesadíssimo. “O governo tem de pôr mão nisto e baixar os impostos cobrados, tanto às empresas como aos produtos petrolíferos, ao gás e à energia. E os milhões do PRR, que estão mesmo aí à porta, devem ser usados para apoiar as empresas, com percentagens de fundo perdido muito superiores àquelas que estão a ser propostas, que são entre 25% e 35%. Afinal queremos reindustrializar o país e a Europa ou queremos acabar com a indústria?”, questiona Ferraz, reclamando que estes apoios deveriam estar perto dos 100%. “Esse dinheiro devia ser usado na colocação de painéis solares, na compra de máquinas para a criação de vapor, como termoacumuladores para as caldeiras, e assim reduzir os custos com a energia. Seria uma ajuda preciosa porque neste momento, após vários anos de pandemia extremamente difíceis. Só assim podemos ser competitivos”, garante o empresário. “Já é notório um recuo nas encomendas”, diz, por seu lado, Paulo Faria, diretor comercial da têxtil Paula Borges, que considera “inevitável o abrandamento nas exportações”. “Depois da pandemia, esta pode ser uma machadada final, da qual dificilmente nos levantaremos... E aí, aliada a uma crise laboral, teremos uma crise social a escalas nunca vistas, não haja ilusões”. Por isso, diz, “cabe ao governo português avançar o mais rapidamente possível com soluções e apoios imediatos para a indústria, caso contrário as falências vão ser em massa”. Nuno Silva, CEO da NGS Malhas, considera igualmente que está nas mãos do governo ajudar as empresas. “O Estado não se pode esquecer que é o nosso maior sócio. Se nada for
feito a nível governamental, será a morte anunciada do sector têxtil nacional”, sentencia o empresário. Paulo Melo, diretor do Grupo Somelos, entende que a par dos apoios e das linhas de crédito, o Governo tem também que diminuir IRC e outras tributações e aplicar o lay-off simplificado. “É vital que as fábricas possam encerrar um ou dois dias por semana se virem que isso é mais vantajoso. Foi o que aconteceu na pandemia e este período que estamos a atravessar vai ser muito pior para o sector do que a pandemia alguma vez foi”. Já quanto às exportações portuguesas, acredita que o conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia poderá não ter um impacto direto. “Quem sofrerá mais serão as empresas dedicadas à mass fashion e não os produtores de valor acrescentado, que representam a maioria do sector têxtil nacional”. O segredo, garante, está em não ter medo de cobrar o justo pela qualidade do made in Portugal. “Mesmo que não tivesse eclodido a guerra na Ucrânia, os preços iriam forçosamente subir devido à inflação. Claro que o conflito vem agravar esta subida, mas as empresas, se querem sobreviver, têm de fazer refletir essa subida no preço dos seus produtos”, diz, explicando que “o que não pode ser feito em momento algum é diminuir o lucro das empresas.” Mas essa não é, no entanto, uma solução fácil. “Fizemos uma revisão de preço em novembro e outra em janeiro e o que estamos a entregar agora deveria ter um aumento de 40%. Ninguém aceita aumentos de 40%”, exclama Rui Machado CEO da BeStitch. “O lucro não existe, desapareceu, não há. Já perdi clientes e foi para a Turquia”, complementa a CEO da Acatel, Susana Serrano. E por isso Rui Machado pede uma urgente intervenção do Governo: “Por este caminho, daqui a meio ano não há empresas, é mais vantajoso parar”. t
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A DOIS CAFÉS & A CONTA Grelhados Maravilha
Praceta Escola do Magistério, 2 4700-222 Braga
Entradas Pão, azeitonas e pataniscas Pratos Bacalhau com cebolada à moda de Braga e polvo assado Sobremesas Fruta e pudim de ovos Bebidas Água e copo de vinho branco do Douro
CARLOS COSTA
DESIGNER E GESTOR COMERCIAL DA JOSÉ PINTO CARDOSO, SA
FOTO: RUI APOLINÁRIO
Gosta de dizer que chegou a passear por Coimbra os livros de Direito e adota a alcunha “Alvarenga” (apelido de família) para identificar o designer que sempre foi. Como criativo, chefe de vendas, broker ou agente, está no têxtil desde os 22 anos, e aos 55 continua a apostar na leitura e no autoconhecimento - “sou por natureza exotérico”- como forma de “não ser controlado pelo ego”. A frente das múltiplas ocupações está a parceria com os filhos. Rafael, 17 anos, quer ser gestor, e Hugo, 15, webdesigner , e tem evidente orgulho na carreira de ambos como hoquistas, no Hoquei Clube de Braga.
"O QUE É PRECISO É PÔR O GATO A LADRAR"
Carlos Costa é acima de tudo um homem prático. Com a noção de que “primeiro somos emoção e só depois racionais”, que “é fundamental diversificar clientes” e que “o mercado pede constantemente novidades, coisas fora da caixa”. Quer com isto dizer que as empresas têm que ser hoje mais proativas, flexíveis e inovadoras, adequando-se a um novo modelo de procura por pequenas séries e resposta rápida. O importante é que sejam capazes de tirar partido do seu potencial, das suas caraterísticas e capacidades. “Quem não tem cão caça com gato. Mas primeiro é preciso pôr o gato a ladrar”, sentencia. Quando falamos da José Pinto Cardoso, SA, no entanto, não é propriamente de um gato qualquer que estamos a tratar. Pioneira do pronto-a-vestir em Portugal – e provavelmente hoje a única sobrevivente desses tempos iniciais da confeção – a empresa de Braga continua a apostar no vestuário de homem, cobrindo os segmentos sport, executivo, gala e tayloring enquanto se apronta para o lançamento da novidade Active, com que quer sacudir o mercado. “Aos anos que andamos aqui, é porque fazemos alguma coisa bem”, diz o homem que é designer e gestor comercial e acei-
tou o desafio de regresso à empresa com a ambição de imprimir novas dinâmicas. Na verdade, nunca esteve completamente afastado, dada a proximidade com o fundador e as gerações que lhe sucederam. “Esta é a empresa da minha vida, onde gosto mais de estar. Sinto-me em casa, muito acarinhado”, explica, para dar conta da inevitabilidade do sim quando José Pinto Cardoso o “puxou” de regresso ao interior da organização. Também por isso, explica como tudo começou, quando em meados do século passado “o Comendador”, como se refere a José Pinto Cardoso pai, abriu em Braga a loja Cardoso da Saudade e arrancou com as Confeções Facho. “Com o 25 de Abril e o ambiente que a seguir se vivia, a marca chegou a ser associada à política, mas os nomes não tinham nada a ver com isso”, explica, dando conta de que o Comendador nasceu e cresceu em Penafiel, na Travessa da Saudade, de onde avistava o Monte do Facho. O pai já fazia feiras, negócio que continuou com a venda de cortes para fato e que depressa fez evoluir para a venda de fatos feitos. A abertura da loja em Braga e a fábrica de confeção foram os passos seguintes que acabaram por popularizar a marca Facho.
Com o sucesso, segue-se a criação de uma marca de segmento superior, a Pierlorenzo, a participação nas feiras Portex, ainda no Palácio de Cristal, e Clube do Homem, na FIL, que alavancaram o fornecimento para clientes e marcas de França e Inglaterra ao mesmo tempo que a Pierlorenzo se afirmava como referência para homem em Espanha. Hoje, com perto de 200 colaboradores, as marcas próprias ocupam cerca de metade da produção diária de mais de 500 peças da José Pinto Cardoso, SA, enquanto outra metade tem como clientes marcas dos mais diversos países da Europa. “Somos uma empresa com enorme know how, dinâmica e com enorme potencial” atira Carlos Costa para explicar que o foco está agora nas pequenas marcas, com sentido estético, propostas muito personalizadas, focadas no online e para as quais o design tem também um objetivo de função. “Portugal é uma solução fantástica para as marcas online. Fabrico rápido, pequenas séries sem stock, com custo justo e sustentabilidade. Temos que ir a jogo, entrar na equação ir de encontro ao paradigma do momento”, conclui o homem que para isso aposta em pôr o gato a ladrar. t
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de 21 a 24. 6. 2022 Frankfurt am Main
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1. PELOS CORREDORES DO PAVILHÃO PASSARAM AO LONGO DOS DOIS DIAS DE CERTAME CERCA DE 5 MIL VISITANTES, O QUE CONSTITUI UM NOVO RECORDE
FOTOSÍNTESE Por: Bebiana Rocha e Cláudia Azevedo Lopes
O REGRESSO DO MODTISSIMO À CASA ANTIGA De regresso aos pavilhões da Exponor, ultrapassou as melhores expetativas e deixou todos satisfeitos: os expositores, que voltavam ao ambiente das grandes feiras internacionais; os visitantes, que apreciaram o espaço alargado e a comodidade de ter todos os stands das diferentes áreas no mesmo espaço. E a organização – contente por agradar a todos – não podia estar mais satisfeita com a aposta mais do que ganha. A cereja no topo do bolo foi o novo recorde de visitantes e o regresso dos compradores dos EUA. E também da Rússia, quem imaginaria… Assim foi o MODTISSIMO 59, que estará de volta à Exponor a 6 e 7 de setembro
6. EM ESTREIA ABSOLUTA ESTEVE A JOSÉ PINTO CARDOSO, COM A MARCA PRÓPRIA PIERLORENZO. UMA APOSTA GANHA, DISSE O DIRETOR COMERCIAL CARLOS COSTA
5. A SUSTENTABILIDADE, ALIADA À INOVAÇÃO, ESTEVE MAIS UMA VEZ EM FOCO NO ITECHSTYLE SHOWCASE DO CITEVE
11. UMA DAS NOVIDADES NESTA EDIÇÃO 59 FOI A APRESENTAÇÃO DA REVISTA THE GREEN WAVE FROM PORTUGAL, UMA INICIATIVA DA ATP
10. A TMG APOSTOU NAS CORES PASTEL E TECIDOS MACIOS E SUAVES PARA ATRAIR OS COMPRADORES
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3. NO STAND DA ITALPOR, NÃO SE PAROU DURANTE OS DOIS DIAS, COM O STAFF A TER DE SE DESDOBRAR PARA ATENDER TANTOS COMPRADORES
4. SEM MÃOS A MEDIR ESTEVE TAMBÉM CARLOS ARAÚJO, FABRIC SALES MANAGER DA ADALBERTO, A MOSTRAR A NOVA LINHA DE TECIDOS COM AROMAS TERAPÊUTICOS E NOVAS FIBRAS SUSTENTÁVEIS
2. A PINTA E O ESTILO DA EQUIPA DO MODTISSIMO 59 FICARAM À RESPONSABILIDADE DA MARJOMOTEX, COM O DENIM COMO PROTAGONISTA
8. JÁ A LMA APRESENTOU NO MODTISSIMO UM CONJUNTO DE MALHAS ECO-FRIENDLY COM APLICABILIDADE AO DESPORTO
7. E O MOVIMENTO QUE ENCONTROU NO STAND DA ALEC GROUP (ALEC, GBTX, GABRITEX E IRIS) NÃO DEIXOU DÚVIDAS SOBRE A VITALIDADE DA TÊXTIL NACIONAL
9. CONHECIDA PELA QUALIDADE DOS SEUS TECIDOS, A RIOPELE TAMBÉM CHAMOU A ATENÇÃO DA DESIGNER KATTY XIOMARA
13. EM DOIS PALCOS DISTINTOS – CITEVE E MODTISSIMO –, O PROGRAMA PARALELO CONTOU COM 14 TALKS E COMPLETOU AS NOVIDADES DA FEIRA
12. ... TAL COMO O PROJETO SUSTAINABLE FASHION FROM PORTUGAL QUE EXIBIU UM SHOWCASE, COMPOSTO POR 10 COORDENADOS 100% SUSTENTÁVEIS
14. ORGULHOSA DE MAIS UMA EDIÇÃO DE SUCESSO, A EQUIPA DO MODTISSIMO ESTÁ DE REGRESSO À EXPONOR NOS DIAS 6 E 7 DE SETEMBRO
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JUDY SANDERSON QUER CRESCER AINDA MAIS FORA DE PORTAS Fundada em 2016 pelas mãos da designer sul-africana Judy Sanderson, a marca portuguesa que adota o nome da sua criadora quer aumentar ainda mais a sua veia exportadora, que representa já cerca de 90% da sua faturação. Alemanha, França, Bélgica e Espanha são os principais destinos para a marca que quer conquistar novos mercados. “A presença no Modtissimo correu muito bem. Fomos visitados maioritariamente por clientes B2B, que eram precisamente o nosso alvo, pois a nossa marca é em grande parte vendida em boutiques”, revela Judy Sanderson, que criou a marca já a pensar no mercado internacional.
"Se não se fizer nada, quando esta geração for para a reforma, ficaremos apenas com ateliês, com o design" José Lourenço CEO da Anjos&Lourenço
BARCELCOM CRIA NOVO MODELO DE MEIA PARA VELEJADORES
TENDAM AVANÇA COM NOVA MARCA FEMININA DE DESPORTO
TAJISERVI FAZ PARCERIA COM ISRAELITA TWINE SOLUTIONS
O grupo espanhol Tendam está a finalizar o lançamento em 14 estabelecimentos espanhóis e um português de uma nova marca própria especializada em moda desportiva para mulher: será a nona marca do grupo, a juntar-se à Women’Secret, Springfield, Cortefiel, Pedro del Hierro, Fifty, Hoss Intropia, SlowLove e High Spirits e vai chamar-se Dash and Stars.
A Tajiservi conta com um novo parceiro na área da transformação digital: a Twine Solutions – empresa israelita responsável pela primeira e única tecnologia no mundo de tingimento digital de linha e fio poliéster on-demand sustentável (TS-1800). A empresa de Vila das Aves passa agora a ser a distribuidora oficial em Portugal daquela tecnologia.
18%
foi o crescimento das vendas da Salsa em Espanha no ano passado
A inovação não pára na Barcelcom, empresa especializada em produtos têxteis de compressão graduada, que conta agora com um novo modelo de meia concebido de raiz para velejadores. O desafio partiu da 147 Sailoring, que convidou a empresa a desenvolver um novo modelo de meias que fosse simultaneamente leve, respirável, termorregulador e sustentável. Após uma extensa fase de testes e servindo-se da sua vasta experiência na área médica e do desporto, a Barcelcom respondeu com uma meia
de design anatómico “com ajuste perfeito ao pé” e com uma elevada capacidade de respirabilidade, o que “permite libertar a humidade produzida pelo pé e mantê-lo seco”, explica a empresa. O novo artigo é também capaz de regular a temperatura e conta com soft cushion, uma espécie de almofadado macio, “para reduzir as vibrações e proporcionar um maior conforto”, detalha a empresa. A vertente sustentável está também cumprida uma vez que foram usados fios recicla-
dos de plásticos recolhidos nos oceanos. “Este novo produto permitiu o desenvolvimento e testes de outros materiais 100% recicláveis” acrescenta a Barcelcom, dando conta de que passam agora a integrar o portefólio da empresa. Fundada em 1921 – celebrou em dezembro os 100 anos de atividade – , a Barcelcom posiciona-se hoje nos artigos tecnológicos e inovadores, com destaque para as meias e mangas de compressão graduada, orientadas para o sector da saúde e desporto.t
SANÇÕES À RÚSSIA BLOQUEIAM 25 MIL MILHÕES NOS TÊXTEIS As sanções que a União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Reino Unido (entre muitos outros países) impuseram à Rússia na sequência da invasão da Ucrânia podem ter um impacto mundial no sector do vestuário e da moda de mais de 25 mil milhões de euros. A Rússia era o nono maior mercado de moda do mundo, atrás da Itália e à frente do Canadá, segundo dados da Euromonitor, mas no caso de Portugal a exposição dos têxteis nacionais àquele mercado é residual: faz parte do agregado de cerca de 15% do total das exportações, correspondente aos mercados extra-União Europeia sem contar com os Estados Unidos e o Reino Unido. As sanções podem atingir particularmente gigantes do luxo como a LVMH, Kering e Richemont.
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Salão Internacional do Presente e Decoração.
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2022 Recinto Ferial
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A MAIOR LOJA DA ZARA DO MUNDO SERÁ EM MADRID A Inditex projeta abrir este ano em Madrid uma nova loja da Zara, que será a maior do mundo. Esta nova superfície comercial ficará no Edifício Espanha, no centro de Madrid, com uma área total de 9.000m2 divididos por quatro pisos. O novo espaço, que se anuncia também como uma referência em termos de sustentabilidade e integração entre loja física e comércio online deverá incorporar uma opção de Pay&Go, para pagamentos com telemóvel, outra para reserva de provadores e ainda a possibilidade de o próprio cliente encontrar sozinho os artigos que procura.
“O principal fator crítico é a falta de recursos humanos nas áreas técnica e de vendas” Clementina Freitas CEO do grupo Latino
DESIGNERS AFRICANOS VISITAM A GIVACHOICE
Os designers africanos que marcaram presença no Portugal Fashion aproveitaram para conhecer a Givachoice. A empresa de Paços de Ferreira deu-lhes a conhecer as suas instalações, dinâmicas de trabalho e capacidade produtiva. “O Grupo CANEX visitou várias fábricas e escolheu a Givachoice para conhecer a realidade da indústria têxtil em Portugal. Gratos pela confiança. Serão sempre bem-vindos!”, partilhou a empresa na sua conta de Instagram, juntamente com um conjunto de fotografias que registam o momento. t
FRANCISCO BATISTA PASSA A CHAIRMAN DO GRUPO TÊXTIL CBI Com fábricas em Mangualde, Arganil e Cabo Verde, o grupo têxtil CBI tem desde o início de abril um novo modelo de gestão, tendo passado o CEO Francisco Batista a assumir a posição de Chairman com a criação do novo cargo de secretário-geral ocupado pelo antigo secretário de Estado da Administração Local, Paulo Júlio. O objetivo é consolidar uma estratégia de crescimento assente na sustentabilidade económica, ambiental e social. Atualmente com cerca de 700 colaboradores, e dedicado à confeção de calças e casacos de gama média/alta, o grupo impulsionado por Francisco Batista conta com uma carteira de clientes com marcas como a Massimo Dutti, Polo Ralph Lauren, Calvin Klein ou Sacoor, e exporta acima dos 95%, sobretudo para os mercados da Europa e EUA. A estratégia para o crescimento futuro passa pela consolidação económica, tendo por base a
melhoria de processos como a transição digital e sistemas de informação e consequentes ganhos de valor acrescentado na produção. Para isso, o empresário quer avançar com uma aposta decisiva nos vetores de sustentabilidade ambiental e social. O recurso crescente a materiais recicláveis e a procura da sustentabilidade energética são os objetivos de uma ação que passa também pela adoção de uma cultura organizacional onde as pessoas são o centro da ação, como forma de estabilizar e desenvolver os recursos humanos das fábricas do grupo. Licenciado em Engenharia Eletrotécnica, Paulo Júlio foi presidente da Câmara de Penela antes de assumir o cargo de secretário de Estado no governo presidido por Passos Coelho. Era o CEO de uma indústria alimentar de ultracongelados desde 2013, de onde saiu para se juntar a Francisco Batista no grupo têxtil CBI.t
ALBANO MORGADO QUER CONSOLIDAR MERCADOS EUROPEUS A completar 95 anos de laboração, a Albano Morgado mostrava-se no início do ano otimista com as perspetivas de negócio para 2022, com um posicionamento estratégico focado na consolidação da sua presença nos mercados europeus, alavancada na apresentação de lãs cada vez mais sustentáveis. Presente no MODTISSIMO 59,
Albano Morgado, diretor-geral da empresa, considerou que “é altura de consolidar a carteira e focar no mercado de proximidade perante uma nova realidade e uma nova aprendizagem para todos os intervenientes”, que foi a experiência da pandemia Para trás ficou um ano melhor que o de 2020, “com uma recuperação interessante”,
mas ainda abaixo da faturação de 2019. Durante os dois dias da feira nacional chegaram ao stand da Albano Morgado não só os habituais clientes portugueses e espanhóis, mas também compradores da Alemanha e Suíça atraídos pelos tecidos de algodão orgânico, misturas de algodão e linho e a clássica lã.t
PORTUGAL FASHION COM CORNER NO EL CORTE INGLÉS É uma nova parceria que o Portugal Fashion desenvolve com o grupo El Corte Inglés, que resulta na criação de um novo corner onde estão expostos para venda artigos de designers apoiados pelo evento de moda portuense. Nesta fase de arranque conta com criações de Sophia Kah, Pé de Chumbo e Diogo Miranda. “Temos coordenados de três designers, sendo que a ideia é ir rodando esses mesmos nomes de tempos em tempos”, explicou André Atayde, do departamento de comunicação do Portugal Fashion.
PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE MODA PARA AGENTES DO SECTOR É com foco nos gestores, quadros e colaboradores de marcas e empresas ligadas à indústria têxtil e vestuário que a Católica Porto Business School avança com a pós-graduação em gestão de moda. Com uma metodologia assente na exploração de casos práticos e orientada para a partilha de conhecimentos, a equipa de formadores conta com profissionais do sector com bastante experiência em cada área do têxtil. Ricardo Silva (administrador da Tintex) e Miguel Pedrosa Rodrigues (vice-presidente da ATP e administrador da Pedrosa & Rodrigues) contam-se entre os docentes convidados.
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foi o crescimento das receitas da Farfetch em 2021
PROJETO SERRA QUER RELANÇAR A MODA DO PASTOR Projeto Serra é uma nova marca 100% portuguesa de roupa de outwear que pretende relançar “a moda do pastor”: as camisolas que nas montanhas do Soajo, Freita, Estrela e Pico, protegiam do frio com grande eficácia. Estreia-se com uma coleção-piloto de quatro modelos e parte das vendas será usada para ações de promoção dos territórios representados.
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X A MINHA EMPRESA Por: Cláudia Azevedo Lopes
Metralha Worldwide
Centro Comercial Vinova, Loja 25 4760-114 Vila Nova de Famalicão
O que faz? Streetwear exclusivo e único, que mais do que roupa pretende proporcionar uma experiência a quem o usa Peças Para além das calças que deram o mote à marca, produzem também hoodies, t-shirts, casacos e acessórios Conceito Exprimir a sua arte através de peças de roupa, o que levou a parcerias com artistas plásticos Espaços de venda Collective (Trofa), Skills (Braga) e Looping (Famalicão), para além da loja online
MODATEX RECEBE VISITA DE INSTITUTO DE FORMAÇÃO DE MADRID Duas professoras de Modelação e Confeção do IES Santa Engracia, de Madrid, estiveram no Modatex, no Porto, numa visita que decorreu no âmbito do programa Erasmus+ e centrou-se em atividades de job shadowing – estratégia de estágio que permite que os alunos acompanhem a rotina de um profissional experiente para aprenderem mais sobre o desemprenho diário da profissão. As visitantes tiveram ainda a oportunidade de acompanhar os formadores do Modatex nas áreas de Modelação, Confeção e Design de Moda no decorrer das nas suas atividades letivas, com o objetivo de estudar a metodologia de ensino da escola de formação e a estruturação das suas ações.
“As encomendas são cada vez menores e os prazos de entrega mais apertados” Fátima Antunes Administradora do Grupo Lasa
REINO UNIDO SAI DO TOP 3 DAS VENDAS DE MODA EUROPEIA O Brexit começa a fazer estragos: o Reino Unido foi o único dos principais destinos da moda europeia que reduziu as suas importações em 2021, com uma queda de 22,8%, para 14,9 mil milhões de euros, segundo dados da Icex Spain Export and Investment, tendo caído do Top 3 dos mercados mais importantes. No último ano, Suíça, Itália e Estados Unidos ultrapassaram o Reino Unido como destino preferencial da moda europeia, com as ilhas britânicas a não irem agora além da sexta posição. Alemanha e França continuam a ocupar as duas primeiras posições, com compras de, respetivamente, 39,4 mil milhões e 25,4 mil milhões de euros.
O desejo de ser único virou marca Pode-se dizer que a paixão pelo streetwear veio dos tempos em que, ainda adolescente, se dedicava à prática do skate, mas o salto para a confeção de roupa deu-se já no liceu, e foi motivado pelo drama de qualquer adolescente: a vontade de se expressar e dessa forma ter o próprio dinheiro, sem ter de o pedir aos pais. Foi nessa altura que se duplicou como Mr. Anderson, o seu alter-ego, criativo e empreendedor. Andava Mr. Anderson a personalizar as suas próprias calças de ganga, com pinturas, patches, rasgões e, mais tarde, técnicas mais avançadas como a impressão de imagens diretamente no tecido, quando os colegas começaram a reparar e a querer igual. “Foi aí que eu percebi que havia um mercado para a minha arte. Era algo que eu gostava de fazer, e passou de ser um hobby a um full time! Um sonho tornado realidade”, explica. Assim começou então o seu pequeno negócio, que levou consigo quando partiu para Manchester para estudar Produção Musical. E longe dos seus clientes habituais, acrescentou-lhe um upgrade: as vendas no ebay. “Fizemos uma coleção cápsula de 100 peças e correu muito bem, e aí começou tudo a tornar-se mais a sério”, revela. Um processo que não foi fácil. “Ao início cometi muitos erros. Não percebia nada de têxtil. Mas depois fui-me aconselhando e por tentativa erro comecei a afirmar-me. Numa das vindas a Portugal, entrei em contacto com várias fábricas que me fecharam as portas, mas depois de muita persistência, consegui encontrar um fornecedor que
acreditou no projeto e aí nasceu uma parceria que perdura até aos dias de hoje. No início fiz um pouco de tudo: comercial, ia às lojas, era designer, fazia logística, levava as encomendas aos correios…”, conta. No entanto, e porque Mr. Anderson nunca faz nada pela metade, não bastava criar mais uma marca de streetwear. Esta teria de ser diferente, de se destacar, de carregar o seu cunho. “Escolho um tema que faz sentido para mim e depois dou-lhe uma roupagem mais street, mais trashy, mais suja”, explica. Até porque para Mr. Anderson a moda é ela também em si uma das mais sublimes formas de arte. “Ao convidar artistas para intervir nas peças, o que estamos a fazer é criar não só roupa mas uma galeria de arte em movimento”, enfatiza. “É também por isso que trabalhamos para um nicho e produzimos pouca quantidade. Não queremos estar em todo o lado, não nos interessa isso. As nossas peças estão direcionadas para um público específico, selecionado, e nós gostamos disso”, explica. Tanto que, para além da sua loja online, até ao momento só estão presentes em três lojas físicas. “Fazemos uma expansão lenta porque só queremos estar em lojas que elevem a nossa marca”. Quanto ao nome, a explicação é simples. “Desde do início, surgiram imensas dificuldades, desde o registo à primeira produção e ao desenvolvimento dos modelos, foi bastante complexo e senti que a marca precisava de um nome forte. Percebi que o “Metralha” era um bom nome, que implica força e resistência”. t
ZEITREEL ATINGIU UMA FATURAÇÃO DE 345 MILHÕES EM 2021 Detentora das marcas Salsa, Mo, Zippy e Losan, a Zeitreel atingiu um volume de negócios total de 345 milhões de euros em 2021, ligeiramente acima do valor de 2020. Estes resultados tiverem um contributo positivo dos negócios internacionais B2B. Em termos de rentabilidade, a Zeitreel registou um EBITDA subjacente de 27 milhões de euros, um aumento de 14 milhões comparativamente ao ano anterior.
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foi o número de pedidos de registo de patentes internacionais apresentados pela China em 2020
PARA A MILAGRUS, SUSTENTABILIDADE É COISA SÉRIA Para a marca de moda Milagrus, a sustentabilidade é muito mais que um chavão do momento. É uma coisa séria e que vai dos materiais aos recursos humanos e até à maneira como é pensada a coleção. “Começamos logo pelos materiais, que são de origem vegetal. Ou seja, são feitos de polpa de árvore”, explica Vanda Eugénio, a designer da marca.
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MOBILIÁRIO E OBRAS DE INTERIORES
Remodelação de interiores Lojas
Showrooms
www.buildingdesign.pt geral@buildingdesign.pt 967 016 601
www.globaltendas.com
events & exhibitions
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A FASHION FORWARD Por: Luís Buchinho
PELA ESTRADA FORA Uma incursão ao universo de um clássico: o filme “Easy Rider” e as suas imagens inesquecíveis de uma vida passada na estrada. É um tema recorrente quando os designers procuram transmitir uma atitude “cool” e rebelde às suas coleções, conseguindo deste modo que as mesmas sejam imbuídas de um espírito jovem, mas com um grau de intemporalidade acoplado desenhando propostas que idealmente, passem o teste do tempo. Tal acontece porque a iconografia deste tema é retirada a uma tribo urbana - os “biker”- detentora de uma das peças mais queridas e desejadas no planeta Fashion - o “perfec to”. Esta já conheceu centenas de apropriações e reinter pretações, e aparece nas coleções das mais variadas marcas já com o estatuto de um “básico”, quando apresentado na sua forma mais pura, ou numa atitude “trendy ”, quando desenhado de acordo com os temas e tendências das coleções. O material de eleição para esta peça é sem dúvida o cabedal negro, estruturado e pesado, embora sejam hoje em dia possíveis todos os tipos de abordagem, mais próximas dos ideais sustentáveis e de conforto, tais como napas, couro “vegan”, jerseys cardados e denim . A paleta elege o preto como cor favorita, tendo também em conta tons ferrugem, castanhos e laranjas queimados pelo Sol. As interpretações são à escolha de cada um, bem como o styling ! Nunca esquecendo o essencial: a utilização de Zips metálicos bem visíveis em toda a peça.t
MOVIMENTO E BONS CONTACTOS NA LONDON TEXTILE FAIR Muito movimento nos corredores e bons contactos estabelecidos pelas marcas e empresas portuguesas, quer com clientes já tradicionais quer com novas marcas de grande potencial, marcaram o balanço da última edição da London Textile Fair. Fábrica Tecidos Vilarinho, Fitecom, Lemar, LMA, Troficolor Denim Makers são as empresas que integraram a comitiva ‘From Portugal, às quais se juntaram ainda Adalberto e Paulo de Oliveira.
TÊXTIL KEUPE COMPRADA PELO GRUPO CATALÃO NEXTIL Desde sempre dedicada à confeção de artigos em malha para o segmento luxo, a têxtil Keupe, em Ponte de Lima, foi comprada pelo grupo catalão Nextil, que depois de já ter comprado a SICI93 e a Playvest, passa a ter cinco unidades de produção em Portugal. A incorporação da confeção de Ponte de Lima vai permitir à Nextil aumentar em 20% a capacidade de produção da sua unidade de moda de luxo, que tem um modelo de fabrico próprio em que toda a produção e é controlada sob padrões de qualidade comuns.
RIOPELE COM CERTIFICAÇÃO PARA LINHO A Riopele foi reconhecida pela European Flax, da Confederação Europeia de Linho e Cânhamo, como produtora de tecidos em linho sustentável. A nova certificação é aplicável a todos os artigos que contenham pelo menos 50% de linho na sua composição. “O linho sustentável europeu é uma fibra natural cultivada sem sementes geneticamente modificadas e sem irrigação artificial”, explica a empresa.
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A Wise HS Protection é o seu aliado estratégico para fazer face à nova realidade da segurança e saúde do mercado global
SEGURANÇA
SAÚDE
NEGÓCIO
RENTABILIDADE
Foque‑se no seu core business, nós focámo‑nos nas novas diretrizes de saúde e segurança, ajudando‑o a rentabilizar ainda mais o seu negócio A Wise HS Protection concebe Planos de Contingência para eventos,num serviço integrado Chave na Mão, que cumpre as Normas da DGS, com acompanhamento permanente em: ► ► ►
auditoria técnica diagnóstico de necessidades implementação de procedimentos Safety & Security
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OS BLUSÕES DE GANGA ÚNICOS DA BLUFF DENIM A versatilidade de um blusão de ganga é inesgotável e várias marcas apostam nesta peça ano após ano, mas a Bluff Denim tem-no feito de uma forma particularmente interessante misturando franjas, com apliques e lantejoulas. O resultado é um casaco único, irreverente e que já conquista o mercado nacional. A produção é do inicio ao fim made in Portugal. Maria Prim, criadora da marca, partilha que “tanto o fornecedor como os materiais são portugueses, assim como a mão de obra, feita num ateliê local”.
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“Somos ambiciosos, queremos fazer mais e melhor e tornar a Endutex líder a nível mundial” Vitor Abreu CEO do Grupo Endutex
QUASE 60 FÁBRICAS PORTUGUESAS TRABALHAM PARA A MANGO A necessidade de diminuição das cadeias de fornecimento induzida pela pandemia e as restrições aos transportes internacionais aprofundadas pela invasão da Ucrânia obrigaram a um reposicionamento das marcas em termos de fornecedores – e a espanhola Mango, que não é exceção, tem neste momento 58 unidades industriais portuguesas no seu radar. Das 1.009 fábricas que abastecem a Mango, quatro em cada dez fábricas já são fornecedores de proximidade: no total são 395, com clara preferência dos espanhóis pela Turquia (onde trabalha com 210 fábricas), segundo o último relatório anual publicado pela empresa.
INTRA COLLETIVE ESTREIAM EM GRANDE NO PORTUGAL FASHION
Chamam-se Intra Colletive, são concorrentes do projeto PFN – Portuguese Fashion News, promovido pela Associação Selectiva Moda e não deixaram ninguém indiferente após a apresentação no Portugal Fashion. É um trio de jovens designers – Catarina Duran, Leonardo Moura e Mafalda Fidalgo – marcado pela irreverência. Nas suas palavras, o desfile e estreia resulta de “uma refle-
xão sobre o impasse, a dúvida e o bloqueio que sentimos num momento de pós-licenciatura, leva-nos a confrontar um sistema individualista e capitalista que cultiva a noção de artista como entidade exclusiva, desenvolvida apenas dentro de si próprio”. Uma reflexão que se materializou em cinco looks apresentados na abertura da 50ª edição do Portugal Fashion. Uma coleção pequena marcada
pela irreverência de manequins sem género que pareciam deambular num universo paralelo onde predominavam as bases de castanhos e brancos perolados com apontamentos magenta, correntes ao pescoço e longos brincos. Os cortes também estes mereceram a ousadia do trio da Intra Colletive, com especial enfoque para as formas improváveis entrelaçadas entre si.t
LMA APOSTA NAS FIBRAS NATURAIS E ORIGEM CELULÓSICA Alexandra Araújo, CEO da LMA, foi uma das protagonistas do programa PM+, do canal Sapo, onde explicou como a empresa criou “uma nova fábrica dentro da LMA” inteiramente dedicada à produção de fibras naturais e de origem celulósica. Uma estratégia para responder à procura por materiais mais sustentáveis, que resulta do trabalho feito nos últimos anos com a criação do Departamento de
Melhoria Contínua. A empresária referiu o compromisso da empresa com a sustentabilidade e a crescente procura que têm sentido no pós-pandemia, sobretudo como resultado das deslocalizações da produção asiática. “Os americanos estão a vir para Portugal procurar têxteis técnicos”, diz, destacando marcas como a Nike e a Adidas, que continuam a encontrar dentro da LMA um parceiro estratégico.
O motivo é simples: “prestamos um serviço de acordo com o que o cliente procura”, afirma Alexandra Araújo. “O nosso core business é trabalhar de forma personalizada. As marcas vêm à procura de produtos que não encontram na Ásia ou no made in Italy, que não fazem personalizações. Conseguimos prestar um serviço que o cliente realmente precisa e não aquelas coleções rígidas”, acrescentou. t
ADOLFO DOMINGUEZ MULTIPLICOU A PRODUÇÃO EM PORTUGAL A aposta do grupo de origem galega Adolfo Dominguez na sustentabilidade foi em parte suportada pelo aumento da produção alocada à indústria têxtil portuguesa, “que no ano de 2021/22 foi multiplicada por quatro”, revelou a CEO do grupo, Adriana Dominguez (foto), em conferência realizada na Associação Empresarial de Portugal (AEP). Foi na indústria portuguesa que a Adolfo Dominguez encontrou – para além da proximidade com a sede galega do grupo e com os seus centros de distribuição – uma viragem estratégica para a sustentabilidade, que respaldou a aposta da empresa galega nos materiais de menor impacto na natureza. “Portugal é um partner da sustentabilidade” da Adolfo Dominguez, afirmou a administradora do grupo desde 2018. Numa conferência que serviu para dar a conhecer o sistema de sustentabilidade do grupo – que começou em 2010 com o fim do uso de matéria-prima de origem animal – a CEO explicou que o sistema tem de ser uma opção clara mas também, por outro lado, precisa de ser suportado por uma racionalidade de negócio que não coloque em causa a própria sobrevivência da operação. Nesse sentido, disse, “a sustentabilidade tem de ser suportada pelos clientes”, sendo certo que a função da empresa é tornar evidente que essa é, por um lado, a opção certa em termos do planeta e do uso do seus recursos, mas também, por outro, uma escolha que faz sentido para o consumidor.t
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"NENHUMA FERRAMENTA DIGITAL SUBSTITUI O MODELO PRESENCIAL"
FOTO: RUI APOLINÁRIO
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n ENTREVISTA Por: António Freitas de Sousa Jorge Pereira Aos 57 anos, o CEO da Lipaco está “desde sempre” na empresa fundada pelo pai – “se me despedirem, não sei fazer mais nada” – e enfrenta agora o impacto de sucessivas crises externas que colocam desafios que até ao momento não eram sequer antecipáveis. O aumento das matérias-primas, dos transportes e das energias, a que se soma uma inflação que dá mostras de não ser meramente transitória.
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epois de passar pelo impacto da Covid – “que comparado com o que se passa atualmente parece um hotel de cinco estrelas” – a Lipaco confronta-se agora com um dos seus momentos mais desafiantes. Mas tem as armas para isso: aposta na investigação e desenvolvimento na área da inovação com azimute na sustentabilidade e investimentos que, nessa área, já estão a dar os seus frutos. Qual é a dimensão da empresa? A Lipaco tem 34 anos, cerca de 60 trabalhadores e fatura perto dos três milhões de euros. Andamos no negócio das linhas desde o início e mais tarde acabámos por investir no negócio dos fios e na sua tinturaria, tanto para prestação de serviços como para utilização interna. Há cerca de dez ou 12 anos atrás começámos a olhar para o mercado internacional e fizemos uma primeira prospeção, correndo quase meio mundo até percebermos como é que as coisas funcionavam. Hoje vendemos em 22 países, para a quase totalidade da União Europeia, norte de África, um pouco na América do Norte, Canadá. Vendíamos também na Rússia... Estão expostos à Rússia? Tínhamos algum mercado na Rússia... Que fechou entretanto? Está fechado, nem sabemos se as empresas com que operávamos estão a trabalhar ou não, sabemos que uma delas está... Qual é a percentagem das exportações em termos da faturação? São cerca de 50% e são para crescer cada vez mais. Foi uma aposta que fizemos – na fase
pré-Covid tínhamos acabado de fazer um investimento significativo. Foram 1,8 milhões? Exatamente, muito a contar com o futuro. Infelizmente para nós e para todos veio a Covid, o que atrasou todos os nossos projetos. Já em 2021 acabámos por conseguir recuperar a empresa até aos níveis de 2019 e 2022 era um ano de crescimento – e que agora não sabemos como é que vai terminar. Até aqui, temos registado um ritmo de crescimento dentro daquilo que nós esperávamos ou até acima, mas temos agora muitas dúvidas. Os níveis de preços das matérias-primas, o preço da energia e do gás em particular e com a conjuntura internacional, não conseguimos fazer previsões fidedignas para o final do ano. Primeiro houve o aumento das matérias-primas e dos transportes e depois o aumento da energia. Qual é o impacto na Lipaco? Sofremos e ainda estamos a padecer do primeiro problema, que foi a Covid. Tivemos vários fornecedores afetados em diferentes fases, o que acabou por gerar atrasos em expedições de mercadorias que, juntamente com o problema dos transportes, acabaram por aumentar o problema. Contratávamos contentores para uma determinada data, com produção feita para essa data, mas os embarques não aconteciam com menos de 30 dias de atraso. Depois, os contentores ainda acabavam por ficar em terra, por falta de navio...Ainda no início deste ano tivemos aqui um contentor com três meses de atraso. Depois na China houve problemas com a energia, de excesso de poluição, o que afetou a disponibilidade de matérias-primas no mercado. A China é vosso fornecedor? É um deles. Trabalhamos muito com a China, com a Índia – mas cada vez mais estamos a tentar diversificar para outras origens... Mais próximas? Sim, o mais possível. Compra-
"Ter preços fixados durante meses e meses acabou" Há mais de dez anos, e cumprindo uma estratégia que se afigurava vencedora, a Lipaco apostou tudo nos mercados externos. Hoje, os mais de 22 mercados em que atua respondem por cerca de 50% das exportações e continuam a ser um dos desígnios da sua gestão. Num contexto em que tudo está a mudar “a uma grande velocidade”, há um indicador que Jorge Pereira considera muito positivo: a indústria dos Estados Unidos está interessada em substituir as empresas asiáticas como fornecedores. E aí surge a grande oportunidade para a Lipaco e para as empresas da sua dimensão: a Europa é, na ótica norte-americana, um mercado de proximidade e suficientemente estável para poder corresponder àquilo que são as suas exigências. Para mais, é fácil de trabalhar com os empresários norte-americanos: dizem o que querem e aquilo que esperam pagar e esperam uma proposta que possa encaixar-se nos seus parâmetros. A partir daí, a relação negocial desenvolve-se sem sobressaltos. Mas os tempos são de enormes desafios e a Lipaco – assim como transversalmente todo o sector – espera que o novo Governo faça a sua parte. Desta vez sem atrasos e com foco naquilo que são as necessidades reais das empresas. A energia está no topo das preocupações e Jorge Pereira sabe que não há no horizonte qualquer expetativa de o mercado regressar àquilo que se conhecia há apenas quatro meses. “Incerteza” é uma palavra que o gestor usa diversas vezes para caraterizar um contexto que veio para ficar. E deixa um recado: os aumentos têm de ser absorvidos pela totalidade da cadeia de produção, sendo certo que no limite os consumidores serão confrontados com o aumento dos preços.
mos muito na Europa, mas não é possível encontrar tudo. A Europa desindustrializou-se há muitos anos e por isso há falta das matérias-primas que compramos – acontece também na tinturaria, nomeadamente com os corantes. No fim do ano assistimos ao aumento do custo da energia e chegámos este ano a um nível que as coisas se tornam incomportáveis. É impossível as empresas continuarem a laborar se não passarem este diferencial para os clientes. Consegue fazer essa transferência? Os clientes têm estado renitentes, uma vez que têm o mesmo problema em transferir para os clientes deles. Mas uma coisa é certa: se não passarmos esses custos, ou morremos nós ou morrem eles. Se as empresas que têm acabamentos pararem, bloqueiam toda a cadeia. Não há outra solução senão quem tem unidades de acabamentos passar este acréscimo de custos sucessivamente na cadeia até ao consumidor. Até que ponto as medidas de apoio podem atenuar o problema? Esperava-se que o Governo fosse muito mais pró-ativo. Estamos à espera de medidas concretas que cheguem às empresas e que possam atenuar todos estes custos excessivos. Quando empresas que recebiam faturas de 80 ou 90 mil euros por mês de energia, passam a receber faturas de 400 e 500 mil euros, a tesouraria desaparece em pouco tempo. Estamos a produzir sem saber exatamente qual é o custo que temos. Quando propomos um custo para o cliente, se ele demora dois ou três dias a decidir, no dia em que decide, o preço já não pode ser o mesmo, por causa dos custos da energia e de outras parcelas de equação. Isso é uma boa maneira de destruir a indústria? Nem mais. É impossível trabalhar desta forma. O que me parece que as empresas estão a fazer é lançarem preços para o
mercado e depois vêm até onde podem ir, até que, chegando ao limite, voltam a lançar outros preços. Aquilo de ter preços fixados durante meses e meses acabou. Um novo paradigma perante o qual muitas empresas vão ter de fechar? É isso mesmo. Até porque, associado a isto tudo, vem a inflação. Não é normal a indústria pedir nada aos governos, mas neste momento ou o Governo atua diretamente nas empresas ou vai acabar por atuar com subsídios de desemprego – problemas mais graves que aqueles que encontra agora e que pode ajudar a resolver. Seja de que forma for, o Governo vai ter de atuar sobre as empresas que consomem sobretudo gás, mas também na energia elétrica. Foi um erro crasso termos desativado as centrais de carvão – fizemo-lo como medida de sustentabilidade e depois vamos comprar energia a outros países, produzida por carvão. Quando olhamos para um país como o nosso, que diz que fez uma grande aposta na sustentabilidade, podemos perguntar: a nossa energia não é sol e vento? Estarão o sol e o vento mais caros? Alguma coisa aqui está muito errada. O nosso tecido empresarial vai começar a desaparecer. Acha que neste contexto a reindustrialização na Europa não vai acontecer? Sou capaz de discordar. Não podemos continuar eternamente a depender de países de fora da Europa. Durante a Covid, vimos que dependíamos da Ásia e a Europa assistiu a isto impávida e serena. Não faz sentido. Por outro lado, os governos disponibilizaram incentivos para substituir estas importações, mas depois mantinham os concursos públicos abertos a esses produtos importados. Ou seja: por um lado financia, e por outro não compra. Há aqui um contra-senso. Temos de defender a indústria da Europa, para gerar emprego, haver criação de riqueza e acabar com dependências.
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Apaixonado pela água em todas as dimensões Estava em Gestão na Católica do Porto quando o pai fundou a Lipaco “como uma brincadeira”, nunca ali tendo trabalhado. Resultado: teve de desistir do curso para tomar conta da empresa e nunca mais saiu. No exterior das suas paredes, são múltiplos os interesses de Jorge Pereira: dono de uma biblioteca com mais de três mil volumes, é ainda assim no mar que encontra o seu elemento de paixão. Ou mais propriamente na água: “no mar, no rio, num lago, até numa poça de água – tenho de estar perto da água”, confessa. Não admira que seja o feliz dono de um barco e não acredita no ditado segundo o qual os dois dias mais felizes de um marinheiro é o dia em que compra uma embarcação e o dia em que a vende. O hipismo e as viagens de turismo em família também fazem parte dos seus gostos pessoais.
O novo elenco do Ministério da Economia está alerta para essa necessidade? Sou muito cético em relação a tudo o que tenha a ver com política. Em teoria, se calhar sim, mas na prática tenho muitas dúvidas. Sou mais a favor de políticos com experiência na indústria, por exemplo, que em políticos de carreira. Obviamente que a conjuntura não é fácil, mas esse é o papel deles – supostamente são os melhores, mas depois vemos uma grande passividade. De qualquer modo, o sector têxtil tem passado com distinção todas as provações… Soube-se reinventar, soube encontrar soluções. Que saída para uma empresa como a Lipaco? Gastar o menos possível – nomeadamente concentrando produções – e investindo em processos que nos permitam usar menos gás, menos eletricidade, menos água, como já vínhamos fazendo. Isso de que fala, a sustentabilidade, é uma estratégia da Lipaco? Sim, temos até várias distinções nessa área, como é o caso da TechTêxtil. Tudo começou quando investimos na tinturaria, há sete, oito anos. Desde o início foi uma preocupação montar uma tinturaria que fosse moderna: que consumisse o menos possível de água, de gás, de eletricidade. Mas há também formas de fazer reaproveitamentos de fontes que são libertadas (águas, cargas térmicas) e nós investimos em todas essas tecnologias que estavam disponíveis. Neste momento, estamos a fazer um estudo referente às águas que utilizamos para tentar reaproveitar ainda mais que aquilo que já fazemos. Mas as coisas levam o seu tempo, porque as tecnologias ainda não estão maduras. O mesmo se passa nas matérias-primas: os fios têm de ser sustentáveis? Exatamente. Há cerca de três ou quatro anos que vínhamos
muito que tem essa apetência.
"Estamos prontos para apresentar os fios biodegradáveis, que se vão massificar" fazendo tentativas de lançar fios reciclados. Mas havia o problema da retração das empresas face aos preços. Hoje, no geral, todas as empresas têm produtos para oferecer com base em matérias-primas recicladas – e ainda bem para nós, que as produzimos, e cada vez com maior procura – quer o poliéster quer a poliamida. Estamos também a olhar muito para os biodegradáveis – que vamos agora apresentar ao mercado. O projeto das biodegradáveis surgiu no interior da empresa? Surgiu também com um fornecedor: ele entra com uma componente da produção, nós fazemos o resto. Vai ser um produto que de futuro será massificado. Quer isto dizer que a I&D é importante para a Lipaco? Claro que é. Até passamos a ter quadros técnicos e laboratórios, não conseguíamos entender o que é fazer I&D. Sub-contratar não faz sentido: nem sempre se consegue passar as necessidades. À medida que fomos investindo em quadros e equipamentos percebemos que podíamos fazer desenvolvimentos à nossa medida – por isso temos produtos que fizeram sucesso e é isso que queremos continuar. Há mercados onde a sustentabilidade já não é mera opção? Quanto mais para norte formos, maior mercado há para esses produtos. Foram sempre os que olharam para esses produtos com naturalidade e mostraram disposição para pagar por eles. O mercado norte-americano também há
E que terá sido o primeiro a acordar do pior da Covid? Desde o conflito comercial que houve entre os Estados Unidos e a China, que se nota um investimento em alternativas internas, também na indústria têxtil, privilegiando produções próximas. Más notícias para Portugal? Se calhar não. Nós estamos mais perto que a China. Podemos até tirar algum partido da conjuntura que rodeia os transportes. Tenho a sensação que, ao nível da confeção, estamos a ganhar terreno nos Estados Unidos. É claro que leva tempo crescer nestes mercados, que são enormíssimos. São mercados interessantes, até por uma razão: põem as regras do jogo em cima da mesa. O regresso às feiras presenciais é importante para a Lipaco? Fazíamos feiras mensalmente. Sou muito a favor do modelo presencial, quer em feiras quer em visitas aos clientes: nenhuma ferramenta digital é a mesma coisa. Ninguém percebe qual é vantagem de um produto sem o tocar. Ainda não estive em nenhuma feira – optámos pelo modelo de convidar o cliente a visitar-nos ou por fazer visitas a clientes – e estamos ansiosos por voltar às feiras, mas temos de sentir que as feiras têm visitantes: encontramos clientes que ainda se sentem inseguros. Esta é a mais deslocada de todas as perguntas: perspetivas para o final do ano? Só Deus sabe. Está à espera da sua sucessão familiar? Não estou preocupado com isso. Não sou obcecado pela sucessão na família: se entendermos que sim, melhor, se não… logo se vê. Há muitos bons gestores no mercado que precisam de trabalhar. Se virmos os grandes grupos, à sua frente não estão os filhos. Em muitas empresas de grande sucesso não há familiares diretamente na gestão. t
As perguntas de
Pedro Guerreiro
Ana Paula Dinis
CEO da Costa & Guerreiro
Diretora Executiva da ATP
Qual a estratégia da Lipaco face à cada vez maior exigência do mercado no desenvolvimento de novas cores e prazos de entrega mais curtos?
Estamos a apostar no reforço do nosso laboratório para que possamos ser mais rápidos no desenvolvimento de novas cores. Como vê a loucura dos aumentos nos custos da energia face à competitividade pelos preços?
Sem um apoio direto do governo nos custos energéticos ou no controlo dos preços, será muito difícil as empresas no curto prazo terem soluções. Óbvio que todas as empresas de uma forma ou de outra já vinham a trabalhar em soluções de otimização de processos e de racionalização energética, mas tudo leva o seu tempo e não serão suficientes para combater esta escalada de preços. t
Qual a melhor forma para lidar com a escassez e aumento de preços das matérias-primas?
Esta é uma matéria sensível. Desde que o Covid surgiu o mercado tem estado a sofrer permanente alterações de diversas ordens, condicionando muito a disponibilidade e aumentando a pressão sobre os preços. Não há uma receita por si só válida. Cada momento é um momento. A que tem feito mais sentido tem sido tentar comprar a longo prazo por forma a evitar o mais possível as roturas, embora no que diz respeito a preços haja sempre riscos. Quais deveriam ser as principais medidas a tomar pelo Governo e pelas empresas para fazer face à crise energética?
Muito rapidamente e sem mais atrasos, ou as empresas não resistirão, será condicionar os preços do mercado das diversas fontes de energia usadas na indústria e/ou apoiar diretamente os custos acrescidos. A pensar no futuro, lançar de imediato medidas agressivas de apoio direto, simples e eficazes que cativem e motivem as empresas para a mudança do paradigma da sustentabilidade, levando a renovação de equipamentos por soluções mais eficazes e sustentáveis. t
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INARBEL INVESTE NA MELHORIA ENERGÉTICA E AMBIENTAL
DINASTIA FAMILIAR NAS EMPRESAS JÁ É SÓ UM MITO O primeiro ‘Estudo sobre os Grupos Empresariais Portugueses de Raiz Familiar’ realizado pela consultora Arboris revela que a velha noção de dinastia familiar nas empresas nacionais é um mito: 80% dos acionistas inquiridos assinalam que o CEO deverá ser o que melhores condições demonstrar para desenvolver o negócio e criar valor, seja ou não membro da família. “Esta visão materializa-se no facto de mais de metade (53,3%) dos inquiridos confirmarem que existe uma clara separação de poderes entre o corpo acionista e a gestão executiva do negócio, com apenas 6,7% a considerarem que esta separação formal não existe”, revela o estudo.
“Ficaríamos muito vulneráveis se nos mantivéssemos apenas na tinturaria” Rui Teixeira CEO do grupo Gulbena
MAIS DE MIL M2 PARA O MADE IN PORTUGAL NA HEIMTEXTIL Com foco numa produção cada vez mais sustentável e amiga do ambiente, a Inarbel está a avançar com um projeto tecnológico que vai permitir reduzir de forma drástica o consumo de água no processo de lavandaria. “Com 50 ou 100 litros de água vamos fazer o mesmo em que agora gastamos milhares de litros por dia”, avança o CEO José Armindo Ferraz, que aposta na importância da inovação tecnológica como fator decisivo para a poupança energética e melhoria ambiental. A novidade foi deixada pelo empresário numa conferência sobre “Crescimento e Sucesso Empresarial em Marco de Canaveses”, que teve lugar por iniciativa da Câmara Municipal através do projeto MarcoInvest, em parceria com o Jornal Vida Económica. Questionado sobre a sustentabilidade e a cooperação como fatores de crescimento, José Armindo Ferraz sublinhou a necessidade de investir em tecnologia e inovação para uma produção sustentável, dando precisamente como exemplo os projetos que tem em mãos na Inarbel.
Uma poupança que além da água representa também menor consumo de energia e menor poluição ambiental, realçou ainda o CEO da Inarbel que, mais uma vez, alertou para o problema dos custos descontrolados da energia. “Hoje até estou aterrorizado, acabei de receber a fatura e dos oito mil euros do mês anterior passa para os 28 mil. É insuportável para as empresas”, concluiu. Quanto aos novos investimentos, o empresário explicou ao T Jornal que fazem parte dos planos de remodelação anteriores à pandemia, e aguardam agora pela definição dos critérios do PRR. Além da lavandaria, que trabalha em dois turnos, e das caldeiras, que estão a trabalhar 24 horas por dia, o caminho da eficiência ambiental passa também pela instalação de painéis solares para produção de energia e de iluminação LED em todas as instalações. “Se calhar não vai arrancar este ano, temos os projetos mas depende ainda da definição do PRR”, explica o empresário. t
As marcas e empresas portuguesas vão estar em destaque na Heimtextil Summer Special, tendo já garantido mais de mil m2 do espaço expositivo da feira que decorre de 21 a 24 de junho próximo em Frankfurt. “As empresas portuguesas querem aproveitar esta oportunidade única de afirmarem a sua capacidade de produção num contexto propício a encontrar novos clientes, até porque esta feira se realiza em paralelo com a Techtextil e a Texprocess, permitindo ao visitante aceder às três feiras com um só bilhete de ingresso”, explica a organização do evento num comunicado.
ITECHSTYLE SUMMIT DE REGRESSO AO TERMINAL DE CRUZEIROS
KATE MIDDLETON VESTE BLUSA CRIADA PELA PEDROSA & RODRIGUES
Agendado para os dias 25 a 27 de maio, o iTechStyle Summit está este ano de regresso ao Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, depois das duas edições em formato online decorrentes da pandemia. Organizada pelo CITEVE com a colaboração da Associação Selectiva Moda, esta é uma das mais importantes reuniões globais do mundo têxtil, tanto em termos de lançamento dos novos desafios do futuro como de enquadramento do setor com a envolvente económica. O foco desta edição está orientado para as áreas Decarbonização; Novos modelos
de negócio; Dupla transição: verde e digital; Revolução nos materiais; e Skills para a indústria. Para além destas áreas, o iTechStyle Summit 2022 abrirá, como nas edições anteriores, com o painel “Os próximos passos”, que se debruçará sobre as megatendências globais. A participação confirmada de diversos oradores de renome garante à partida que “esta 4ª edição da Conferência Internacional do Têxtil e Vestuário – iTechStyle Summit, trará apresentações, intervenções e painéis de debate de inegável qualidade e inte-
resse”, refere a organização. A par da entretanto nomeada ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato (Universidade NOVA/CENIMAT/i3N), entre os moradores estão nomes como Lisa-Lang (Climate-KIC), Thomas Gries (RWTH Universidade de Aachen), Giusy Bettoni (C.L.A.S.S.), Antonio-Murta (Pathena), Isabel Furtado (TMG Automotive/ COTEC Portugal) e Adriana Dominguez (Adolfo Dominguez), que irão partilhar os seus contributos sobre as tendências atuais, estratégias, oportunidades e desafios.t
80%
das vendas da Daily Day em 2021 resultaram do fabrico de máscaras
A Duquesa de Cambridge foi fotografada com um blazer vermelho acompanhado de um top branco, este último criado pela portuguesa Pedrosa & Rodrigues. Orgulhosa, a empresa de confeção partilhou nas redes sociais o look , dando conta que “o corpo do colete foi cortado em jersey macio e elástico e apresenta também uma inserção de tecido com um babado chic em forma de V”. A peça foi produzida para a marca de luxo ME+EM, informa ainda a empresa de Barcelos.
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X DE PORTA ABERTA Por: Cláudia Azevedo Lopes
Daily Day
CC Bombarda - Rua Miguel Bombarda, 285 Loja 13 4050-381 Porto
Ano de abertura 2015 Produtos Vestuário feminino e masculino, máscaras e golas para adulto e criança Público-alvo Cliente adulto, urbano e eclético, que procura algo diferente da oferta mainstream Empresa-mãe Daily Day Studios, que incorpora as marcas Daily Day e a Lagofra Outras lojas Espaço multifunções em Ermesinde que junta loja e centro de operações do online
ELSA DIONÍSIO LANÇA SERVIÇO DE CONSULTORIA DE MODA Há 15 anos a ajudar as marcas a expandirem os seus negócios, Elsa Dionísio acaba de lançar o Elsa Dionísio Fashion Business Management, orientado para as áreas da moda. A sua carteira de serviços engloba: consultoria em implementação e gestão de marcas de moda; consultoria em soluções e implementação de modelos de negócios de moda; coordenação de projetos de expansão e internacionalização de marcas de moda; fashion buying e merchandising; e formação e workshops em empresas.
“A flexibilidade é algo inerente ao nosso modelo de negócio” Pablo Isla Presidente do Grupo Inditex
O dia-a-dia que leva ao sucesso Os registos oficiais dizem que foi fundada em 2015, mas a verdade é que a história da Daily Day começou – tal como todas as boas histórias – bem antes. Foi em 1934 que Manuel Prata, o avó de Filipe Prata, atual diretor-geral da Daily Day, decidiu estudar alfaiataria, ofício que não só exerceu como passou a cinco dos seus dez filhos – cinco homens e cinco mulheres. Foi aos homens que ensinou a arte. E a doutrina deve ter sido boa, pois todos os cinco se dedicaram à atividade. Entre eles estava o pai de Filipe, Emanuel Prata, que viria a fundar a Prata & Borges, que fabricava vestuário para empresas maiores em regime de subcontratação. Dos seus três filhos, nenhum deles fez formação ligada à têxtil mas quando a crise bateu à porta em 2009, Filipe, engenheiro civil, decidiu largar a profissão para ajudar a empresa da família. “O primeiro problema que identifiquei foi a excessiva dependência de terceiros. Tínhamos de subir na cadeia de valor e arranjar os nossos próprios clientes, e partir para a exportação”, explica Filipe Prata. Ao fim de poucos meses estavam a trabalhar praticamente a 100% para a exportação e o sucesso fez com que em 2012 criassem a marca Lagofra, orientada unicamente para o mercado da exportação. A ideia de criar uma marca própria de venda direta ao público borbulhava nos pensamentos de Filipe, que em 2014 cria a Daily Day, que tem como bandeira o know-how, qualidade e design
do made in Portugal. Um ano depois, inauguravam a primeira loja da marca, de frente para a Avenida dos Aliados, que funcionava como espaço multimarca e incluía peças de outros criadores nacionais. Aí ficaram até que a pressão imobiliária sentida na Baixa do Porto obrigou a procurar um novo poiso, altura em que receberam um convite do Centro Comercial Bombarda para integrarem o portefólio das suas lojas. “Aceitámos de imediato. Este espaço está inserido num quarteirão muito especial, que nos diz muito”, explica Filipe. Com a pandemia, tudo mudou. As vendas sofreram uma quebra de 90% e mal se começou a falar da necessidade de máscaras sociais, Filipe decidiu-se a não deixar escapar a oportunidade. Quando o CITEVE publicou a lista das primeiras três empresas certificadas, a Daily Day era uma delas. “Durante o primeiro mês, trabalhámos cerca de 18 horas por dia. Portugal inteiro caiu em cima de nós. A afluência era tanta que a loja online bloqueou”, conta Filipe. Desde então, a loja online sofreu melhorias e alargou a gama de produtos, o que ditou a inauguração de mais um espaço Daily Day, desta vez em Ermesinde, onde para além de mais uma loja, está centralizada toda a operação online da marca. Para além disso, está presente em lojas multimarca nos Estados Unidos e vende para toda a Europa através da plataforma online. O avô Manuel ficaria orgulhoso. t
SRI LANKA AUMENTA EXPORTAÇÕES DE VESTUÁRIO
INTERFILIÈRE E SIL PASSAM PARA O MÊS DE JUNHO
As exportações de vestuário do Sri Lanka atingiram os 5.415 milhões de dólares em 2021, 2% acima dos níveis pré-pandemia de 2019 e 23% mais que em 2020, demonstrando por um lado o dinamismo da indústria e, por outro, a dificuldade de as marcas internacionais apostarem na transferência de produção para mercados de proximidade. O vestuário cresceu 25,7% em relação ao ano da pandemia, enquanto as exportações de tecidos. aumentaram 99,8%.
As feiras parienses Intefilière e SIL – Salão Internacional de Lingerie , que deveria ter lugar em finais de Janeiro, foram adiadas para os dias 18 a 20 de junho, na Porte de Versailles. O adiamento é justificado com as restrições de viagens colocadas em vários países devido à pandemia. Os passes de entrada já adquiridos continuarão válidos para a edição de junho. Até lá a organização compromete-se a partilhar as últimas tendências no digital.
63%
foi a queda de lucros da Primark em 2021
ADIFAFE DIVERSIFICA MERCADOS PARA MANTER INDEPENDÊNCIA
Produtora de passamanarias e acessórios para a indústria têxtil, a Adifafe aposta em aumentar a sua quota internacional. O objetivo é diversificar mercados e eliminar os riscos associados à dependência de uma carteira de clientes reduzida e os contactos estabelecidos durante o MODTISSIMO trazem confiança. “Muitos clientes que produziam longe estão agora a virar-se para Portugal e temos de aproveitar isso”, explica Carlos Vaz, consultor da área internacional da empresa.
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X O MEU PRODUTO Por: Bebiana Rocha
Vestido e Capa
Atelier Grácia Sofia
O que é? Um coordenado feito a partir de desperdícios de cordel e outros excedentes têxteis Produtos Capa com capuz, vestido e colete Fator Inovador Utilização da técnica crazywool Estado do Projeto Concluído, em fase de apresentação ao mercado
CENTI TEM OITO MILHÕES PARA A DIGITALIZAÇÃO DAS EMPRESAS São já quase meia centena as empresas com acesso a um conjunto de serviços de valor acrescentado, que vão da testagem e manufatura de produtos eletrónicos ao suporte ao desenvolvimento e à formação, desenvolvidos no âmbito de um projeto europeu que tem oito milhões de euros para acelerar a digitalização das empresas e do qual o CeNTI faz parte. Lançado em janeiro de 2020, o SmartEEs2 nasceu “para revolucionar a Indústria e acelerar a sua transição tecnológica e digital”, refere o organismo de I&D em comunicado.
“Agora mais do que nunca, as empresas precisam de apoio ao investimento” Sérgio Neto CEO da Petratex
DAILY DAY/LAGOFRA CONFIANTE NO REGRESSO DAS MARCAS À EUROPA “Penso que 2022 vai ser o primeiro verdadeiro ano pós-covid”, afirma Filipe Prata, CEO da Daily Day/LaGofra, revelando o otimismo da empresa para o ano corrente. Depois de em 2020 ter duplicado a faturação com a venda de máscaras e um 2021 difícil com a queda generalizada nas vendas de moda, a empresa que exporta praticamente a 100% mostra-se confiante. “Estamos a receber muitos clientes novos, que estão a abandonar a produção em países mais longínquos e até mesmo na Europa de Leste”, afirma Filipe Prata, que no MODTISSIMO recebeu desta vez mais clientes estrangeiros que nacionais.
PRADA FECHA 2021 COM CRESCIMENTO DE 8% FACE A 2019
Grácia Sofia conjuga estilo com sustentabilidade A comemorar 17 anos de atividade este ano, o Atelier Grácia Sofia reforça a sua preocupação com a sustentabilidade com a criação de um coordenado totalmente reciclado, composto por capa, vestido e colete. É feito a partir de excedentes de tecidos e restos de cordões da produção e foi apresentado na 59ª edição do Modtissimo, no showcase iTechStyle, organizado pelo CITEVE. “A nossa ideia era criarmos algo com recurso a desperdícios de produção. Como durante os trabalhos sobravam muitas pontas de cordões, pensamos em reaproveitá-los para uma capa. Quanto à flor do capuz, foi feita com tecidos de sobras, aos quais demos um banho de gelatina para obter a consistência pretendida”, desvenda a criadora, que empresta o nome próprio ao atelier. Já o colete é todo ele feito com lã reutilizada, com recurso à técnica crazywool, que não é mais do que o original efeito de emaranhado visível não só no colete, mas também na capa. “Este projeto, a nível interno, foi um passo gigante para nós. Fiquei muito contente por termos sido nomeados finalistas dos iTechStyle Awards, significa que as ideias de todos foram valoriza-
das por alguém do exterior”, partilha a criativa, que realça ainda ter sido um trabalho totalmente em equipa: “Aqui todas as pessoas fazem sugestões, fiz questão que todos participassem neste projeto. Quando ganhamos, ganhamos todos”. O ateliê de Grácia Sofia dedica-se à criação de todo o tipo de peças manuais, desde o vestuário ao calçado, passando ainda pela joalharia e têxteis para o lar. As criações saem de Braga para o mundo, já que trabalham praticamente só para exportação, sendo o principal mercado a Inglaterra. “Fizemos também um vestido em macramé para o Dubai e temos ainda clientes franceses e de outras geográficas, mas trabalhamos essencialmente com o Reino Unido”, completa Grácia Sofia. Embora estejam numa altura de grande volume de trabalho, “sem tempo para olhar para o lado”, Grácia Sofia está a preparar o lançamento de uma marca própria – a mhodzi – da qual este coordenado fará parte. “No mundo em que estamos é urgente fazermos isto”, conclui referindo-se à apresentação de peças que unem a preocupação com o planeta ao design e à moda. t
A Prada encerrou o exercício de 2021 com vendas e lucro líquido acima do registado em 2019, antes do início da pandemia: a receita do grupo subiu 8% em relação a 2019 para 3.365 milhões de euros, mais 41% que em 2020. Os lucros atingiram os 294,2 milhões de euros, que comparam com prejuízos de 54,1 milhões de euros no ano anterior. A Europa e o Japão foram os dois únicos territórios onde a Prada não recuperou as vendas pré-pandemia. Na Europa, a receita de 2021 caiu 11% em relação a 2019, enquanto no Japão a queda foi de 17%. Já na Ásia-Pacífico a receita cresceu 30% e na América aumentou 69%.
19%
foi o crescimento das vendas da Nike em 2020
EL CORTE INGLÉS LANÇA MONTRA DIGITAL DE MARCAS PORTUGUESAS A aposta do El Corte Inglés em marcas com o selo made in Portugal é cada mais evidente: o grupo espanhol acaba de lançar uma montra digital composta apenas por marcas e produtos portugueses. Insígnias de moda como Salsa, Mike Davis e Fátima Lopes, mas também os têxteis-lar da Lameirinho, Abyss, Habidecor e Bovis Homes e as toalhas de praia da Futah fazem parte do catálogo.
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[CASSIANO FERRAZ] www.cassianoferraz.com
PHOTOGRAPHY FASHION / ADVERTISING
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MANGO INVESTE 88 MILHÕES NA ÁREA LOGÍSTICA NA CATALUNHA A Mango, empresa catalã que assegura o segundo lugar das vendas no segmento da moda em Espanha, vai investir 88 milhões de euros no centro logístico de Lliçà d’Amunt (Barcelona), com a construção de cerca de 90 mil m2 de área útil a acrescentar àquela que já existia e que atualmente ocupa 190 mil m2. Dos 88 milhões de euros de investimento, 42 milhões serão destinados à obra propriamente dita, 41 milhões à logística e desenvolvimento tecnológico, e cinco milhões à sustentabilidade: painéis fotovoltaicos e outros mecanismos de controlo de consumos de energia fazem parte do projeto.
“A Polopiqué é agora uma marca que mostra a fibra com que chega ao mundo” Luís Guimarães CEO da Polopiqé
CONCRETO LANÇA COLEÇÃO DE MALHAS
Os melhores fios e tricotagem clássica foram aplicados na nova coleção de malhas da Concreto. Walk in Clouds é uma cápsula composta por cinco peças quentes e confortáveis que realçam o expertise da marca portuguesa na área do tricô. “Em tantos anos de moda, reinvenções, coleções, editoriais, conceitos… o denominador comum da Concreto sempre foi o mesmo: as malhas. Como estilistas em tricô, esta sempre foi a bandeira da marca e aquela que irá continuar a hastear, com orgulho”, introduz a empresa em comunicado. t
TMR AUMENTA EM 50% A SUA CAPACIDADE PRODUTIVA Era uma necessidade estratégica face ao crescente volume de encomendas, que a TMR Fashion Clothing há muito pretendia concretizar: a recente aquisição de uma nova unidade fabril, concretizada no final do ano passado, vai permitir à empresa de Guimarães aumentar a capacidade produtiva em 50% e assim responder às solicitações dos seus principais mercados. Foi no final de 2021, conta Miguel Máximo, responsável financeiro da TMR, que a empresa uniu a necessidade à oportunidade e adquiriu uma unidade fabril em Creixomil, mantendo os 25 colaboradores a laborar. “Foi uma oportunidade muito boa não só do ponto de vista de espaço, que precisávamos, mas também de aquisição de mão-de-obra que, como sabemos, é um problema atual de toda a indústria”.
Mas os investimentos não se ficam por aqui, já que a empresa avançou também com obras de remodelação interna na sede, que preveem a ampliação dos escritórios e a construção de um novo showroom. Contas feitas, trata-se de um investimento global de 250 mil euros, 100 mil euros dos quais correspondem à aquisição da unidade de Creixomil. Dedicada à confeção de vestuário de senhora e homem do segmento médio-alto, a TMR Fashion Clothing tem como objetivo ampliar a carteira de clientes norte-americanos já durante o ano de 2022. “Para além desse objetivo, queremos também aumentar a produção de vestuário de homem para o mercado alemão e crescer na área do desporto”, avança Miguel Máximo.t
ANJE REGRESSOU A LONDRES COM A MODA PORTUGUESA Após duas edições de sucesso, o projeto ‘Local Goes Global’, promovido pela ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários, levou mais de uma dezena de marcas e designers portugueses a Londres, de forma a posicionar a moda nacional nos principais mercados da Europa, recorrendo ao conceito das pop-stores. Estas ações integram o projeto Next Step, “cujo objetivo é o de apoiar a internacionalização da atividade empresarial, promovendo a exportação de bens e serviços transacionáveis, através da participação em eventos de dimensão global em mercados prioritários e não tradicionais criteriosamente identificados”, explicou a ANJE.
42 milhões foram as vendas do grupo Impetus em 2021
CRIADORES AFRICANOS NA 50 O EDIÇÃO DO PORTUGAL FASHION
AJUDAR TAMBÉM FAZ PARTE DA ATIVIDADE DA MUNDOTÊXTIL Com o objetivo de fomentar o voluntariado entre os seus colaboradores, a Mundotêxtil lançou o projeto FazPartedeNós#Ajudar, um programa de voluntariado empresarial para responder aos desafios sociais e ambientais. Assente na sua estratégia de Responsabilidade Social Corporativa, tem por base a participação ativa dos colaboradores. Enquanto referência mundial na produção de atoalha-
dos de felpo, a empresa de Vizela quer contribuir para um desenvolvimento global mais equitativo, participativo e sustentável. “Este é um compromisso da Mundotêxtil para com a comunidade envolvente, através da participação livre e de forma estruturada dos seus colaboradores, em atividades orientadas e promovidas pela organização”, informa a Mundotêxtil. O objetivo é contribuir
para o alívio de problemas como a pobreza e exclusão social e a minimização do nosso impacto ambiental, seja através da recolha de alimentos, recuperação de espaços, plantação de árvores ou outras formas encontradas. O projeto FazPartedeNós#Ajudar quer, assim, intervir de forma direta no combate a desafios sociais e ambientais identificados nas comunidades onde a Mundotêxtil opera. t
A 50ª edição do Portugal Fashion contou com a participação de 20 designers e marcas made in Africa. Nos shows principais cinco designers africanos apresentam as suas coleções, enquanto três jovens criadores marcaram presença no espaço Bloom, a par de 12 marcas made in Africa no showroom Brandup. A parceria entre a Anje e o Afreximbank, que se desenvolve através do Programa Canex e visa fortalecer a ligação da indústria têxtil e do vestuário africana e portuguesa, acontece pelo segundo ano consecutivo.
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M EMERGENTE Por: Mariana d'Orey
Filipa Azevedo CEO Filipa Azevedo Brand, Moda e Design
Família Vive com os pais e a irmã mais velha, Catarina Casa Moradia na Trofa, onde cresceu Formação Licenciatura em Fashion Design pela Universidade de Birmingham Carro Ford Focus Portátil Asos Telemóvel Iphone X Hobbies Adora desenhar, mas é também fã de práticas de mindfulness como yoga e meditação e de caminhadas na praia Férias Desde pequena que vai ao Algarve com a família no Verão. Agora, com o namorado, tem dado também uns passeios pelo norte de Espanha Regra de Ouro “Planear tudo ao pormenor”
FOTO: RUI APOLINÁRIO
Movida pelo gosto de fazer bem Cresceu no seio de uma família unida e com a ideia vincada de se focar no mundo da moda e de um dia mais tarde vir a estudar fora de Portugal. Um sonho que se começou a cimentar logo aos 12 anos e que foi ganhando alicerces ao longo da adolescência. “A primeira vez que pensei nessa possibilidade foi quando aos 12 anos comecei a trabalhar como manequim. Nessa altura fiz muitos desfiles, sessões fotográficas, etc, mas continuei sempre a corresponder nos estudos”, conta a jovem empreendedora, que à época era substancialmente mais alta do que as suas colegas de escola da Trofa. Boa aluna desde sempre, “não por um objetivo, mas pelo gosto de fazer bem”, Filipa foi crescendo apaixonada pela moda, pelos desenhos e pelos pormenores, com um gosto muito especial pelas linhas mais femininas e luxuosas de algumas das maiores marcas da Europa. “Foi num desfile da Inês Torcato, no Portugal Fashion, que decidi mesmo que queria estudar moda e ir para fora”, conta Filipa, que na altura estaria próxima de fazer os 18 anos. Conspiração dos astros ou pura coincidência, o que é facto é que pouco depois na escola secundária da Trofa, onde estudou até ao 12 o ano, tomou contacto com um programa de apoio à internacionalização de jovens portugueses. “Foi uma oportunidade de ouro porque a verdade é que nenhum curso cá me satisfazia: ou eram muito práticos ou muito teóricos, por isso aí fui eu para Birmingham”. E lá foi ela durante três anos realizar o seu sonho de viver e estudar moda fora de Portugal. Um sonho carregado de desafios, sobretudo a nível social e cultural uma vez que demorou a fazer amizades, do qual trouxe na bagagem uma experiência completa. “Eu sentia alguma pressão para corresponder porque o investimento foi elevado, mas a verdade é que adorei o curso e aprendi imenso”, recorda. O plano seria seguir, eventualmente, para Londres à procura da primeira experiência profissional, mas eis que surge a Covid-19, e ela, que tanto gosta de planear, teve que alterar o rumo. “A pandemia mudou-nos as voltas a todos e eu tive de vir para Portugal pelo que decidi implementar o meu plano B: criar uma marca própria”. E assim nasceu, uns anos mais cedo do que Filipa tinha planeado, a marca própria de moda feminina. A Filipa Azevedo Brand é uma marca de estilo clássico para mulheres dos 30 aos 50 anos, com cintos afinados, ombros largos e blazers que nos transportam para a silhueta feminina dos anos 80. “É tudo feito cá em Portugal com o deadstock de empresas como a Riopele e a Troficolor, sendo que o objetivo é levar a marca além-fronteiras”, afirma. Por enquanto limitada à venda online , a marca prepara já a presença em algumas feiras internacionais para se lançar no caminho da exportação. Os olhos voltam-se para os mercados inglês e italiano, enquanto espera também subir ao palco do Bloom do Portugal Fashion. “Adoro o Bloom, quem sabe um dia destes não levo lá a minha marca”, remata a jovem sonhadora.t
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11 Kg
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a MUNDO VERDE
é a média anual de roupa deitada ao lixo por cada pessoa na Europa
Susana Serrano CEO da Acatel
FROM PORTUGAL LEVOU A MODA SUSTENTÁVEL À EXPO DUBAI O Pavilhão de Portugal na Expo Dubai recebeu a mostra “From Portugal to the World”, um showcase iTechStyle Green Circle - Sustainability Showcase focado em dar a conhecer ao mundo como Portugal está a conduzir a indústria têxtil para o sonho obrigatório da economia circular. Organizada pelo CITEVE e a Associação Seletiva Moda (ASM), com curadoria criativa de Paulo Gomes e a colaboração de conceituados designers portugueses – que deram forma aos produtos das empresas portuguesas presentes na exposição – esta é uma mostra destinada a promover nos mercados internacionais a excelência da indústria têxtil e de vestuário portuguesa em termos de sustentabilidade e economia circular, aplicada a sectores como moda, desporto e têxteis-lar. Segundo a AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo, tratou-se de uma iniciativa que mostra ao mundo como “o nível de excelência dos têxteis e vestuário portugueses não se baseia apenas nas credenciais de qualidade e inovação reconhecidas internacionalmente, sendo que a abordagem sustentável já é uma realidade e um compromis-
FAMALICÃO EM MANIFESTO PELA SUSTENTABILIDADE Com a marca Cidade Têxtil e tendo no seu território muitas das empresas do setor que se destacam na produção de artigos sustentáveis, Vila Nova de Famalicão é a única cidade portuguesa que integra o Manifesto – Cidades para a Indústria Sustentável. O acordo junta várias cidades europeias na aplicação da nova Estratégia Industrial da União Europeia para uma economia mais verde,.
AMS LAB TESTA DURABILIDADE DA ROUPA
so incontornável”. A agência sublinhou ainda que “o iTechStyle Green Circle mostra como Portugal está a conduzir a indústria têxtil para o sonho obrigatório da economia circular, produzindo produtos de alto desempenho à base de fibras recicladas e recicláveis, fibras orgânicas, naturais e renováveis, processos de coloração sem químicos, materiais têxteis obtidos a partir de resíduos de outras indústrias, upcycling, redesign e reutilização”. A participação das empresas e
designers portugueses neste showcase é resultado de mais uma iniciativa da Selectiva Moda e da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, no âmbito do From Portugal, o projeto que visa promover a internacionalização das empresas portuguesas da área da Moda. O projeto é co-financiado pelo Portugal 2020, no âmbito do Compete 2020 – Programa Operacional da Competitividade e Internacionalização e de Lisboa 2020, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. t
IMPETUS INTRODUZ USO DE ALGODÃO COM CARBONO POSITIVO O grupo Impetus acaba de reforçar os seus objetivos de sustentabilidade com o uso de Good Earth Cotton, o primeiro algodão do mundo com carbono positivo e rastreável, produzido de forma sustentável. “O nosso objetivo é vestir o mundo com vestuário técnico que se ajuste como uma segunda pele e que se adapte a um futuro sustentável para todos”, afirma Ricardo Figueiredo,
“Queremos estar à frente das leis e trilhar o nosso caminho de sustentabilidade"
administrador do grupo. Liderado pela inovação, dados de medição e melhores práticas, o Good Earth Cotton abre caminho, a partir da Austrália, para a cultura do algodão sustentável a nível mundial. Ao empregar práticas agrícolas inteligentes, o Good Earth Cotton sequestra mais carbono do que emite durante todo o processo de produção da fibra, tendo assim um
impacto positivo no planeta. O grupo desenvolveu malha com fio Good Earth Cotton para incorporar em produções para a sua marca própria mas também para o private label, prevendo o lançamento de novas coleções com o uso desta matéria-prima já em 2022. Este fio de algodão é 100% rastreável desde a sua plantação até ao produto final através da tecnologia FibreTrace. t
O laboratório de controlo de qualidade AMS LAB disponibiliza um novo pacote de testes designado AMS Durability, que permite determinar a durabilidade de qualquer artigo têxtil. As análises variam conforme o produto e servem como um controlo de qualidade extra, não só para as empresas mas também junto do consumidor final que procura cada vez mais a sustentabilidade. Uma vez testada a peça, é enviado ao cliente um relatório que inclui um índice de durabilidade e recomendações para melhorar o produto.
“Portugal é um partner da sustentabilidade da Adolfo Dominguez” Adriana Dominguez CEO Adolfo Dominguez
MAXI LEAF UMA MARCA COM IDENTIDADE VERDE Propor um sleepwear eco-responsável está na base da criação da Maxi Leaf, que entende que os pijamas e camisas de noite também devem ser produzidos de forma sustentável, dando origem a peças elegantes e duradouras. Há propostas básicas e com estampados variados, confeccionadas com viscose ecovero e botões feitos a partir de fibras de coco.
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B SERVIÇOS ESPECIALIZADOS Por: Mariana D'Orey
BoldDesign Studio - Artworks originais pintados à mão Rua de São Gonçalo, 1 4710-310 Braga
O que faz? É um estúdio de design têxtil que privilegia a exclusividade e o processo criativo Fundação Agosto de 2020 Escritórios Braga Equipa Cinco colaboradores diretos
PARFOIS ESTREOU NOVA GERAÇÃO DE LOJAS EM BARCELONA Uma imagem renovada, com superfície mais ampla e estética minimalista, é este o novo conceito para as suas lojas que a Parfois estreou em Barcelona. Inaugurado em meados de fevereiro, o novo espaço tem mais de 200 m2 e funciona como a flagship store da marca portuguesa. Na apresentação do conceito a Parfois disse apostar numa estética minimalista, com o objetivo de transformar a experiência de compra, oferecendo um ambiente mais próximo, natural e confortável. “Para esta renovação de imagem foram introduzidos novos materiais, como o revestimento texturizado das paredes ou elementos naturais como as plantas, que convivem com o mobiliário”, informou a marca.
“Já não estamos a pensar na pandemia, estamos a pensar num novo segmento a longo-prazo” Pedro Morgado Co-fundador da Lineforyou
TMG COMO EXEMPLO DE INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL E RESPONSÁVEL A TMG, como exemplo paradigmático de uma empresa que muito mais do que fabricar, cria, inova, acrescenta valor, foi escolhida pela Câmara Municipal de Famalicão para o arranque do roteiro Famalicão Created IN, que visa valorizar, divulgar e homenagear a indústria do concelho. Manuel Gonçalves, Executive Bord Director do Grupo TMG, foi o anfitrião da comitiva na visita inaugural. “A sustentabilidade não é para nós um produto, é um processo, um conceito presente no dia a dia da empresa e nas diferentes etapas de produção”, destacou perante a comitiva liderada pelo presidente da autarquia, Mário Passos.
BoldDesign Studio quer ser uma referência internacional Foi fruto de uma necessidade do mercado de criar em Portugal um estúdio criativo dedicado ao design têxtil que no verão de 2020 Jorge Ballester e Tatiana Castro, ambos com larga experiência no sector, decidiram criar a Bold Design. “Depois de trabalhar diretamente com vários clientes, tanto portugueses como internacionais, sentimos que existia a necessidade de um estúdio criativo em Portugal, com conhecimento técnico, com liberdade artística, e ainda assim, com orientação para o mercado e tendências”, explicam os mentores do projeto. Com clientes espalhados por toda a Europa – com destaque para a Alemanha, Itália, França - e pelos Estados Unidos a Bold Design trabalha para todos os segmentos da ITV (criança, senhora, homem e têxteis-lar) e distingue-se pelos desenhos sempre originais e exclusivos para cada cliente, a maioria deles pintados à mão (ou digitalmente) com apoio tecnológico avançado. “É importante para nós, quando selecionamos os nossos designers , entender que eles adoram esta indústria, de forma a que
a entrega seja grande. Todos têm habilitações em áreas especializadas como design de moda, Belas Artes e experiência profissional na área têxtil. Temos conhecimento profundo da integração do desenho artístico na produção industrial”, acrescenta Jorge Ballester. Com uma localização privilegiada em Braga, o estúdio da Bold design beneficia de uma grande proximidade com a indústria o que, explica Jorge Ballester, permite “otimizar o produto final e satisfazer plenamente o cliente mas sem a pressão da indústria”. Com o grande objetivo de tornar a Bold Design Studio uma referência internacional, os dois sócios planeiam a participação em várias feiras do sector já em 2022, nomeadamente a participação na PV Paris, PV NY, Heimtextil e Munich Fabric Start. Um plano estratégico para dar a conhecer o estúdio a clientes de todo o mundo e cujo o primeiro exercício se deu, com grande sucesso, no MODTISSIMO59, onde a Bolddesign mereceu a visita de clientes de diversas nacionalidades, sempre com casa cheia. t
1,9 milhões
de toneladas de algodão importadas pela China em 2020
MATOSINHOS MOSTRA OS ÚLTIMOS 50 ANOS DA MODA PORTUGUESA
É uma retrospetiva dos últimos 50 anos da moda em Portugal. “Portugal POP: A Moda em Português 19702020” está até meados de setembro na Casa do Design, em Matosinhos, e apresenta mais de 200 coordenados de designers e celebridades portuguesas como Amália Rodrigues, António Variações, Doce, Heróis do Mar, Conan Osíris ou Joana Vasconcelos. É uma co-produção entre as câmaras municipais de Matosinhos e de Lisboa.
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OPINIÃO FOI PRECISO UMA GUERRA PARA DISCUTIR A ENERGIA Mário Jorge Machado Presidente da ATP
A NOVA (DES)ORDEM MUNDIAL Paulo Vaz Assessor da direção da ATP
A ATP tem sido a voz mais ouvida na defesa dos interesses das empresas nesta crise energética. É uma situação crítica que começou no final do ano passado, quando os preços da energia elétrica e do gás natural começaram a subir. Foi a partir daí que reforçámos os nossos contactos com o Governo, sensibilizando para as dificuldades do sector e para as consequências desta situação não só para as empresas mais afetadas, mas para todo um sector e para a própria economia nacional. Apelámos sobretudo à necessidade de se tomarem medidas urgentes e eficazes de apoio às empresas. Nessa altura, apenas conseguimos uma redução nas tarifas de acesso às redes de energia elétrica e as cogerações passaram a poder vender energia à rede a preços de mercado. Medidas ténues para a gravidade do problema que estávamos a enfrentar. Aparentemente para o problema do gás natural, cujos preços aumentaram 600%, o Governo nada podia fazer. São as regras do mercado internacional, nada podemos fazer, diziam os responsáveis políticos. Precisamos de apoios diretos às empresas que não querem, nem podem, endividar-se mais e precisamos de um lay-off mais flexível, o lay-off simplificado, que possa responder às necessidades atuais das empresas que já se encontram a fazer paragens de produção, devido à impossibilidade de repercutir estes aumentos nos clientes. Não podemos esquecer que atuamos num mercado altamente concorrencial e globalizado, onde facilmente os clientes internacionais, que procuram sempre o preço mais barato, encontrarão noutras geografias alternativas de fornecimento. É que apesar das regras serem definidas no mercado internacional, todos sabemos que existem países cuja energia é bem mais barata do que em Portugal. E alguns deles são nossos concorrentes e
Vivemos tempos de profunda transformação de paradigma. Há dois anos tudo mudou com a pandemia do COVID 19, e, há pouco mais de um mês, tudo voltou a mudar com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Tudo isto tem tido impactos profundos na ordem internacional, que estava assente no processo de globalização, em que, pela simultânea cedência da soberania dos estados e pelo desenvolvimento exponencial e disseminação das novas tecnologias de informação, usufruímos por um longo período de ampla liberdade de circulação de pessoas, de capitais e de mercadorias. Democratizamos o acesso a um grande número de bens e serviços, controlando a inflação e possibilitando a saída da miséria a centenas de milhões de pessoas, embora com a contrapartida de vermos sair dos países industrializados atividades transformadoras, como o têxtil e o vestuário, apagando-se em definitivo as competências e a memória do “saber fazer”, para as transferir para geografias longínquas. Com a pandemia, muitas cadeias de fornecimento entraram em colapso, evidenciando a
já estão a beneficiar com o desvio de encomendas. Sobre os apoios diretos diziam-nos “apenas com a autorização de Bruxelas”. Já sobre o lay-off, “as empresas tem no Código de Trabalho um lay-off que poderão utilizar”. Enfim, sempre muito disponíveis, mas pouca ação em prol da defesa de economia nacional! Infelizmente, foi preciso acontecer uma guerra na Europa para que este assunto fosse de novo discutido em Bruxelas (e porque Portugal não é o único afetado) que acabou por autorizar os Estados -Membros a apoiar diretamente as empresas, mas também a discutir a implementação de tetos máximos de preços para a energia ou a reformulação da fórmula do preço, bem como a interconexão das redes de aprovisionamento para que se possa falar de um verdadeiro mercado único, já para não falar da extrema dependência da Europa num recurso fundamental para a economia europeia. É difícil perceber que se fechem centrais a carvão, quando não estão garantidas as condições de fornecimento alternativo. É também difícil perceber como é que Portugal, um dos países que mais tem investido nas energias renováveis, continua a ter uma das energias mais caras da Europa.… Não podemos falar em descarbonização da economia e da indústria, sem falar em competitividade das empresas. Se queremos que as empresas invistam na descarbonização, é fundamental que haja uma relação de custo-benefício que promova esse investimento! Para empresas que concorrem no mercado internacional, como é o caso do sector têxtil e vestuário, a sustentabilidade terá sempre de estar alinhada com a melhoria da competitividade. E enquanto essa não for uma verdadeira prioridade, não andem a dar tiros nos pés! t
dependência do Extremo-Oriente de produtos simples, como máscaras cirúrgicas, a complexos, como ventiladores. O aumento exponencial custos dos transportes e a falta de matérias-primas foram efeitos duradouros, mostrando que nada iria ficar como dantes. A reindustrialização e a relocalização da produção em proximidade voltaram ao discurso dos políticos. A invasão da Ucrânia e as sanções à Rússia acrescentaram novos motivos de ansiedade e de incerteza, com o escalar dos preços das “comodities” e da energia. Tudo mudou subitamente. O próprio processo de globalização entrou num novo estádio, com o mundo a procurar reorganizar-se em blocos económicos e comerciais, atendendo que, mesmo que a situação da pandemia se resolva a breve prazo e se alcance um compromisso para a paz, uma nova ordem mundial está a ser irreversivelmente criada, o que acrescenta riscos difíceis de prever, mas indiscutivelmente inquietantes. Algo é certo, na incerteza geral: não voltaremos a 2019, teremos de nos adaptar aos
novos desafios, algo que coloca ameaças e abre oportunidades. Nestes novos tempos, resulta claro que não é uma fatalidade que o epicentro do mundo se situe exclusivamente na Ásia/Pacífico, pois a necessidade de uma defesa e segurança comuns, naquilo que é a salvaguarda sem complexos ou culpa dos valores do Ocidente, da liberdade, da democracia representativa e do livre mercado, volta a unir os Estados Unidos à União Europeia, criando nova centralidade no Atlântico Norte, abrindo caminho para a negociação de um novo acordo de livre comércio e investimento entre os dois maiores blocos económicos do mundo, arrastando igualmente a América Latina para, finalmente, ratificar o acordo União Europeia com o Mercosul. Em tudo isto, a indústria têxtil e vestuário portuguesa, inovadora e competitiva, tem muito a ganhar, haja resiliência e políticas públicas orientadas a apoios concretos e reprodutivos, capazes de oferecer o caminho possível para que os melhores possam prevalecer e o sector sobreviva, sempre melhor e mais forte. Hoje, como ontem, e certamente amanhã. t
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Bernardo Aguiar-Branco Sócio da Aguiar-Branco & Associados – Sociedade de Advogados
Alexandra Cruchinho Professora da Universidade Lusófona, Investigadora do CICANT e Diretora da área de Design de Moda
ANTICORRUPÇÃO: UM NOVO DESAFIO DAS EMPRESAS
O ENSINO DE MODA E A INDÚSTRIA TÊXTIL PORTUGUESA
No final do ano de 2021, foi aprovado o novo Regime Jurídico de Prevenção da Corrupção que tornou obrigatória a implementação de um Programa de Conformidade Anticorrupção nas empresas com 50 ou mais trabalhadores. O prazo para a implementação de tal Programa termina em 7 de Junho de 2022. Esta nova obrigação decorre do objetivo, fixado pelo Governo, de prevenção da corrupção, consagrado na Estratégia Nacional de Combate à Corrupção, aprovada em Março de 2021. Destaca-se, neste âmbito, a obrigatoriedade de adoção de programas de conformidade anticorrupção, tanto nas empresas do setor privado, como em diversas empresas do setor público, em linha com o que já sucede noutros países como, por exemplo, em França com a Lei Sapin II. Para cumprimento deste novo Regime Jurídico, as empresas terão de incluir, pelo menos, no seu Programa de Conformidade: (i) um plano de prevenção de riscos de corrupção e de infrações conexas, (ii) um código de conduta, (iii), um programa de formação, (iv) um canal de denúncias interno, (v) designar um Compliance Officer Anticorrupção; (vi) um sistema de controlo interno e (vii) criar um regime sancionatório próprio. A não implementação do Programa de Conformidade Anticorrupção gera a responsabilidade contraordenacional das empresas dando origem a coimas e sanções acessórias. O controlo e a responsabilidade para instaurar, instruir e decidir os processos de contraordenações ficou a cargo do Mecanismo Nacional Anticorrupção, entidade administrativa independente que foi criada especificamente para este efeito. Realçamos que, apesar de obrigatória, a implementação do Programa de Conformidade Anticorrupção traz vantagens para as empresas, como, por exemplo, e entre outras: (i) a possibilidade de exclusão da responsabilidade penal da empresa e subsidiária dos seus administradores, por atos de corrupção praticados no seio da organização, (ii) a proteção da marca e reputação, (iii) redução dos riscos de corrupção. Acresce que, não raras vezes, as empresas exportadoras portuguesas já experienciaram a necessidade de estabelecer compromissos anticorrupção com empresas estrangeiras para a celebração de determinadas transações. Pois bem, a adoção deste Programa vai de encontro às exigências dessas empresas estrangeiras, constituindo, por isso, uma vantagem competitiva para as empresas portuguesas na medida em que poderá ser um requisito importante (ou mesmo determinante) para a realização da transação comercial. A experiência prática diz-nos que o sucesso da implementação deste tipo de Programas depende da adesão ao mesmo por todos aqueles que trabalham na organização. Essa adesão consegue-se com a implementação de medidas que não criem entropias na atividade, que tem de continuar a fluir, e com a disseminação eficaz de uma cultura de ética e de integridade por toda a organização. O desafio é, pois, desenhar um programa adequado, proporcional e à medida de cada empresa. t
A implementação do Processo de Bolonha, concluído em 2010, colocou as Instituições de Ensino Superior (IES) perante novos desafios referentes a novas mentalidades para o ensino. A natureza do processo de ensino-aprendizagem muda de sentido e no centro passa a estar o estudante ao invés do professor. O processo de Bolonha formaliza ainda a necessidade de se estreitarem laços com a indústria, potenciais empregadores, aproximando as IES ao meio empresarial e industrial. Se até então algumas IES podiam não auscultar o meio empresarial e industrial sobre o seu processo de ensino e sobre as necessidades que os empregadores têm, ao nível de perfis profissionais e de domínio de competências, a partir de 2010, essa relação passa a ser óbvia. Bolonha impõe precisamente que para a criação dos novos cursos e a reformulação dos já existentes sejam tidas em conta essas premissas. A realização de protocolos entre as IES e o meio empresarial e industrial acentua-se de forma muito significativa. Da indústria espera-se que se abram portas aos futuros diplomados pela realização de estágios e que seja facilitada a realização de visitas de estudo entre outras atividades que aproximem os estudantes do meio profissional onde irão inserir-se. Porém, apesar de se verificar a existência destas parcerias e de se perceber que algumas têm vindo a dar frutos, decorrida mais de uma década não estão reunidas efetivamente as ligações que seriam expectáveis, entre as IES e o meio empresarial, pois continua a lacuna de que a auscultação do meio empresarial e industrial se reflita nos planos de estudo, nas metodologias de ensino e nas atividades desenvolvidas no seio das IES. A Indústria Têxtil Portuguesa demostra grande capacidade de se adaptar às novas realidades, quer no que respeita ao tema da sustentabilidade quer no que às novas tecnologias se, porém, esta ainda não é uma realidade generalizada, pois implica grandes investimentos quer na formação de trabalhadores, quer na aquisição de equipamentos que permitam acompanhar a evolução das tecnologias e dos meios digitais. O grande desafio para as IES passa por procurar perceber como é que os planos de estudo e os conteúdos abordados ao longo da formação se revelam atuais. Os futuros diplomados, além de competências técnicas e processuais na área da moda, têm de reunir outras competências ligadas a processos de comunicação digitais, a comunicação de marca, ao domínio de tecnologias que permitam aumentar a capacidade da ITV se munir de meios para comunicar digitalmente os seus produtos no mercado internacional. Importa consolidar esta relação e para que a formação ministrada nas nossas IES na área da Moda seja realmente determinante e diferenciadora para potenciar maior empregabilidade pela ITV, colaborando também no seu crescimento e internacionalização. Assim, urge sentar todos os intervenientes neste processo de formação de novos profissionais para o atual mercado, altamente competitivo, sendo industrias, empresários, IES, ex-estudantes, stakeholders, da fileira da moda para realmente auscultar as necessidades reais dos empregadores por competências que definem os perfis profissionais que se estão a formar nas IES portuguesas. t
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U ACABAMENTOS Por: Katty Xiomara
Por ter saltado apenas uma cadeira na dança de ministros, João Gomes Cravinho pode parecer muito pouco atlético, mas não é pelo salto que Katty avalia as competências. Corajosamente despido, sem camuflados, destaca antes a capacidade de alongamento, ao estilo Jean-Claude Van Damme, que deixa bem visível a sua agilidade e flexibilidade duas características bem importantes para negociar de forma ponderada e firme
E finalmente temos governo! Na verdade, Costa deu a conhecer a composição da sua “corte” de uma forma algo precipitada, com tanta urgência que até fez o nosso Presidente Marcelo amuar. Talvez fosse a ânsia de anunciar o primeiro governo paritário de Portugal, contudo, dá para perceber que a igualdade e a inclusão ficaram apenas por ministros e ministras. As origens, essas, são muito menos igualitárias, quase todas limitadas ao burgo da capital. Lançados os nomes verificamos que nem todos surpreendem, mesmo assim, não é caso para ficarmos indiferentes, sobretudo pela cadeira que alguns ocupam. Neste jogo das cadeiras, Helena Carreiras transforma-se na primeira mulher a ocupar a cadeira do Ministério da Defesa Nacional, deixada vaga por João Gomes Cravinho. Contudo, vamos dar-lhe tempo para mostrar serviço, não será a estreante a vítima desta nossa rubrica, mas sim o repetente. João Gomes Cravinho pode parecer muito pouco atlético por ter saltado apenas para a cadeira do lado, mas, se analisarmos melhor, não é pelo salto que podemos medir as suas competências, mas sim pela sua capacidade de alongamento ao estilo Jean-Claude Van Damme, que deixa bem visível a sua agilidade e flexibilidade. O Ex-ministro da Defesa Nacional, ocupa agora a cadeira do Ministério dos Negócios Estrangeiros que, no atual panorama geopolítico, é uma das cadeiras mais quentes que o governo tem para oferecer. Não deixando de ser óbvia, esta escolha é também uma solução brilhante para a polémica nomeação do nosso herói do mar, Henrique de Gouveia e Melo, para Chefe de Estado-Maior da Armada Portuguesa, escolha feita e comunicada por Gomes Cravinho e que fez irar o Presidente dos afetos. Não podemos, porém, tirar mérito ao visado, pois além do seu invejável curriculum, João Gomes Cravinho é conhecido pelas suas capacidades diplomáticas. Ora, se há momento em que será necessária perícia diplomática é agora, que a Europa vê e sente a guerra tão de perto. Uma guerra vestida com um daqueles disfarces baratuchos de intervenção militar, para camuflar uma mente mimada e de humor instável, que joga, indiferente, com os seus pesados brinquedos de guerra. Por isso, depositamos em Gomes Cravinho todas as nossas esperanças e aqui o retratamos corajosamente despido, sem camuflados, deixando bem à vista a sua resistência e elasticidade, duas características importantes para negociar de forma ponderada e firme. t
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Março-Abril 2022
O AS MINHAS CANTINAS Por: Manuel Serrão
Restaurante Alkimya Av. Frei Heitor Pinto, nº 1 6200-113 Covilhã
A TARTE DE FAISÃO E A RESERVA DO PATRÃO Era uma vez uma antiga escola e biblioteca municipal que hoje dá de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede. Podia co meçar assim a estória desta Cantina de hoje dedicada ao restaurante Alkimya, na zona histórica da Covilhã. Como no T sempre gostamos de dar os louros a quem os merece, tenho que começar por agradecer esta descober ta ao meu amigo e Presidente da ANIL, o engenheiro José Robalo. Créditos reconhecidos, há que reconhecer en passant que a escolha se revelou totalmente acer tada. A Chef Sandra Duar te não brinca em ser v iço e trata por tu os ingredientes orgulhosamente sazonais e endógenos. Fazendo p endant com o Sr. Fernando que nos recebe a perguntar porque nome queremos ser tratados durante a refeição. Duas excelentes escolhas dos proprietários Jorge Pessoa e ElgaCorreia. E assim co-
BRANCO DE LUXO AO ESTILO FITECOM
meça uma química especial neste Alkimya. A comitiva do Norte quis honrar os pergaminhos gastronómicos e vínicos da Região Centro e por isso estiveram em foco e em grande destaque os v inhos branco e tinto da Quinta dos Termos e um portefólio de entradas regionais que se mostraram à altura das nossas expetativas. Guardado estava o clímax para o casamento festivo entre a Tarte de Faisão e a Reser va do Patrão, que nos deixou totalmente rendidos a este local em que os liv ros foram trocados por outros elementos sem que o mester do ensino se tenha perdido de vez . Quem quiser aprender mais sobre a boa mesa covilhanense pode demandar este Alkimya onde facilmente encontrará um espaço e uma gente que o ajudará a também tratar por tu os excelentes produtos desta região serrana e beirã.t
QUINTA DOS TERMOS | RESERVA BRANCO 2021 João Carvalho, já se sabe, não é homem para brincadeiras. Tanto na indústria como na agricultura ou na universidade, onde deu aulas, tudo afina pelo padrão da exigência e da melhor qualidade. É conhecido o sucesso industrial com a Fitecom, mas também o seu nome está escrito com letras maiores na recuperação do prestígio dos vinhos da Beira Interior, com o forte impulso dado pela Comissão de Viticultura Regional sob a sua liderança. Para lá da Fitecom, a Quinta dos Termos será sempre a menina dos seus olhos. Propriedade de família à qual está ligado por nascença, é hoje a imagem de qualidade e diversidade dos vinhos da região, com uma oferta alargada e uma produção cuidada, com foco na sustentabilidade e equilíbrio ambiental. Já sabemos que a sua escolha é sempre a Reserva do Patrão, um tinto soberbo e especial por ele selecionado a cada colheita, mas vale mesmo a pena provar o reserva branco da última colheita. Ainda por cima a um preço convidativo, e por isso um dos melhores brancos do país na sua categoria. Bom proveito!
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MALMEQUER Por: Cláudia Azevedo Lopes
Diogo Patrício Marques, 40 anos, é o diretor de mercados internacionais da Meia Pata. Apaixonado por festas e eventos, é nas feiras internacionais que se sente em casa. Nasceu em Lisboa mas foi a Lourinhã que o viu crescer. Com a proximidade à praia e ao campo veio a paixão por cavalos, mas é o ski o seu desporto de eleição. Casado, é pai de uma menina com 10 anos e de um menino com oito
SOUVENIR
O FATO ETERNO DA CRIALME
Gosta
Não gosta
Família Amigos Viagens Festas e eventos Mar
Estar parado Cigarros Hipocrisia Inveja Má
Neve Frio Calor Não ter vícios Pessoas bem
Disposição Falta de Respeito Falta de palavra
dispostas Discussões saudáveis Trabalhar fora
Atrasos Mentiras Deslealdade Altivez Gritos
de horas Sporting Mergulhar Música Jantar
Tatuagens Piercings Fazer a Barba Favas
com amigos Criar processos Agenda ocupada
Picante Café Cerveja Laços Vento Chuva
Azul Verde Escapadelas Comer bem Degustar
Autocarros Gatos Crocs Natal Crianças Cabelo
diferentes sabores Doce de ovos Chocolate
rapado Comer com as mãos Mangas cavas
Gelados Salgados Carne Peixe Vegetais
Maçã Nozes Avelãs Imprevistos Pó Corrupção
Gravatas Ténis Mocassins Camisas Calças
Óculos Lençóis polares Unhas compridas
Havaianas Fogo de artifício Parques aquáticos
Telenovelas mexicanas Trance music Heavy
Parques de aventura Floresta Passeio ao ar
Metal Poluição Ferrugem Roxo Abutres
livre Andar de Bicicleta Cães Meias Pizza Sushi
Cheiro a lixo doméstico Cheiro a suor Guerra
Iogurtes Frutas variadas Chás Motas
Pobreza
Como é normal, todos temos uma segunda vida, uma espécie de lado B que é o contraponto daquilo que fazemos oficialmente. No meu caso, o cozinheiro diplomado e dono de restaurante teve antes uma vida ligada ao sector têxtil. E foi através dessa atividade que acabei por me apaixonar por este país, deixando a Itália natal e de forma definitiva. Cheguei já em finais da década de 1970, após a revolução de abril, como coordenador de um projeto da marca Wrangler para colocar parte da sua produção em Portugal. Foi neste contexto que acabei depois por me envolver na parte empresarial como um dos fundadores da Crialme, especialista na confeção de fatos e calças para homem que leva no nome os apelidos dos três fundadores: Crivelli, Alves e Meireles. É um fato da Crialme que uso ainda quase como farda para todos os momentos importantes ou mais cerimoniosos. Tem já quase 20 anos mas contínua impecável. Até faço alguns sacrifícios para continuar a caber nele! Está como novo, é um belo exemplo do rigor e qualidade que desde o início procuramos para a Crialme. Até mantenho ainda os bolsos cosidos para não deformar. Um fato clássico que é quase eterno, com três botões, dois bolsos laterais e outro no peito. Feito por medida num estilo que fazíamos para um cliente italiano, que depois acabou por ser absorvido pela Giorgio Armani. Desses tempos de empresário têxtil, tenho ainda um lote e camisas de uma fábrica que fiz na China. Fabricávamos apenas para o Japão, com tecidos de qualidade que por lá encontrávamos. Devo ter para aí uma dezena que ainda não usei, mas a referência é, sem sombra de dúvida, o fato da Crialme. Um clássico elegante, de cor cinza antracite. Em tecido de pura lã, fresco, super leve e muito fácil de transportar: se se enrolar ou amarrotar, basta estender para voltar à forma. Impecável! t Sérgio Crivelli