Lisboa-pequim-lisboa
mototurismo
em viagem
Em Viagem
estudo nacional
4,50€ (Continente) IVA Inc.
TREVL#7 | Verão 2015 — Quadrimestral
Kangaroo Route
Ásia central • Turquia • América do Sul • Indochina
De
Cara
Lavada
O
s mais atentos estranharam. Que não haja mais uma ilustração na capa da nova TREVL.
Agora encontra uma fotografia, daquelas que conta uma história. De tenacidade, determinação e força. E é a força desta capa que nos subjuga. Que nos cerra os dentes, imaginando-nos juntos no esforço de, mesmo à distância, ajudar aquele viajante português cuja moto tombara algures no Altai mongol. E que quem lá está tem um nome e a experiência que conta é pessoal e não repetível. Que sobre os ombros do Pedro, qual Atlas, se suporta o Mundo e que assim também se ergue cada número da TREVL. Perdemo-nos nas pequenas coisas que deixa no ar, como o chinelo no pé direito do Pedro. Gostamos que a moto esteja suja e a pose imperfeita, porque as viagens são assim também. Esfregamos das mãos a lama, limpamos a testa com elas para regressarem com o suor do esforço. Tudo corre, não como antecipáramos
e planeáramos, mas sim como tem de ser. A viagem lembra-nos da inevitabilidade de tudo, do equilíbrio delicado, da urgência em partir. Lembra-nos que não estamos sozinhos, adivinhando a figura que entrevemos. Que nos momentos difíceis se revelará a verdadeira natureza dos amigos, das gentes que encontramos em viagem. O talento de Pepe Brix, autor da foto, não está na máquina que a capturou. Está na forma como leu o que os envolvia naquela adversidade, como sentiu a força do momento. Está na história que se treinou a contar em cada disparo. A TREVL tem sido em si própria uma viagem que se alimenta da força das vivências de imagens como esta. As histórias que publicamos carregam uma enorme responsabilidade: a de alimentar em si o sonho de partir. A energia entregue por cada um dos viajantes que escrevem na TREVL flui para si. É uma dádiva. Aceite-a. José Bragança Pinheiro jbpinheiro@trevl.pt @trevlmag
Foto de capa: Pedro volta a erguer a sua moto carregada com a ajuda do Hélder, durante a difícil travessia do Oeste Mongol. O degelo das montanhas leva os rios a extravasar o seu curso e o terreno torna-se um lamaçal traiçoeiro, pronto a derrubar-nos. Autor: Pepe Brix; Local: Mongolia, nas montanhas do Altai; Quando: Durante a expedição Lisboa-Pequim-Lisboa.
3
Director José Bragança Pinheiro jbpinheiro@trevl.pt
TREVLers António Nogueira Bruno Andrez Joana Sarmento João Pedro Fernandes Jorge Serpa Colaboradores José Alves José Duarte Maria Pereira dos Santos Pedro Roque Pepe Brix Telma de Brito Beato Tiago Braz
Editor Geral Hugo Ramos
A TREVL é a primeira e única revista portuguesa a tornar-se Media Partner da Ted Simon Foundation. Em cada número semeamos sugestões para prolongar e melhorar a experiência da leitura de cada TREVL, para que seja ainda melhor. Utilizamos QRCodes para permitir ao leitor desenvolver determinado conteúdo ou obter mais informação na forma de vídeos, sites ou sons. Os novos dispositivos móveis (smartphones, tablets e afins) permitem interpretar estes códigos e levar-nos ao conteúdo pretendido, onde quer que esteja.
Há histórias que estão mesmo a pedir uma banda sonora à altura. Quando vir este símbolo, é porque temos uma sugestão de música para acompanhar a leitura (normalmente associada a um QRCode).
Para que possa melhorar, analisamos a técnica da fotografia e da escrita, explorando vantagens e desvantagens das opções tomadas, com dicas de fotógrafos e viajantes.
Arte Rita Pereira José Bragança Pinheiro Publicidade António Albuquerque
antonio.albuquerque@fast-lane.pt
Telefone: (+351) 939 551 559 Assinaturas: assinaturas@trevl.pt
Proprietário e editor
FAST LANE - Media e Eventos, Lda.
Administração, Redacção e Publicidade:
Por vezes apetece saber mais sobre um assunto, destino ou personagem. Quando vir este símbolo quisemos convidá-lo a seguir esse apelo.
página
64
BMW R1200GS Adventure
BMW R100GS
@Turquia, Bernardo Feio
@América do Sul, Europa, Ásia 44 Jorge Serpa, Pedro Roque, 58 Hélder Matos, Nuno Pires, Pepe Brix
BMW F650GS
12
BMW R1200RS
22
BMW R1200GS
40
BMW R1200GS (LC)
Raio-X
@América do Sul, Joana Sarmento @América do Sul, Bruno Andrez “Zarpando p’las Américas” 28 “Zarpando p’las Américas”
Rua Vitor Hugo, 4D 1000-294 Lisboa Telefone: (+351) 218 650 244
Depósito Legal: 357231/13 ISSN: 2182-8911 Impressão e acabamento:
Fernandes e Terceiro, S.A. Rua Nossa Senhora da Conceição, 7 2794-014 Carnaxide
Distribuição:
VASP – Distribuidora de Publicações, Lda. Quinta do Grajal – Venda Seca 2739-511 Agualva-Cacém
Periodicidade Quadrimestral (3x por ano) Todos os direitos reservados de reprodução fotográfica ou escrita para todos os países.
Honda Win “Socco”
74
Honda Africa Twin
18
@Cambodja e Vietname António Nogueira
@Colômbia, Maria Pereira dos Santos
@Europa, Kangaroo Route João Pedro Fernandes 86
Estatuto Editorial TREVL é uma revista lúdica e informativa sobre a temática do motociclismo nas suas vertentes de lazer, mobilidade e transporte, desportiva, cultural e, especialmente, turística. TREVL dará especial relevo ao rigor da escrita e à componente artística do desenho gráfico e da fotografia. TREVL empenhar-se-á num jornalismo apaixonado e comprometido com a temática que é seu objecto. TREVL é independente do poder político, económico e de quaisquer grupos de pressão. TREVL defende e respeita o pluralismo de opinião sem prejuízo de assumir as suas próprias posições. TREVL assumirá uma postura formativa. TREVL respeita os direitos e deveres constitucionais da liberdade de expressão e de informação e cumpre a Lei de Imprensa.
64
Yamaha XT660Z
64
Yamaha XTZ600
@Turquia, Tiago Braz @Turquia, António Cunha
“Qualquer”
@Turquia, Irão Tiago Braz, Bernardo Feio, António Cunha
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“Numa aldeia qualquer de um nome qualquer parámos para comer qualquer coisa. Há neve, há chuva, há pessoas a olhar.”
“Diários da Conchichina”
@Cambodja, Vietname António Nogueira
do acoarescrita
Revist uguês. t em Por ÃO foi N , o g o L ordo do o ac a t p o d a fico. or tográ
74
“Arrisquei atravessar a floresta. A chuva deixa-me encharcado e a terra, vermelho. Em Battanbang, no caminho para Siem Riep e os templos de Angkor Wat, seguindo durante 3 dias junto ao mar.“
36
Fotos de viajantes
40
“Colômbia”
@Suiça, Mongólia
@Colômbia Maria Pereira dos Santos
BMW R1200RS Raio-X
Sierra Norte de Sevilla
12
@Andaluzia, Espanha
“Coccinelle Voyageuse”
@América do Sul 28 Joana Sarmento (Zarpando p’las Américas)
86
“Kang-Europa route”
@Europa João Pedro Fernandes (Kangaroo Route)
“Tentei manter uma cara séria, enquanto tomava o terceiro copo. Estremeci um pouco, mas depois soltei o sorriso que estava, malandro, escondido à espreita. Preparei-me para mais um copo de rakija.“
8
“Lisboa-Pequim-Lisboa”
@Mongólia, China, Ásia Central Pepe Brix, Pedro Roque
“Os bois pelos nomes” José Duarte (TrailOut)
44
“A província onde daríamos entrada na China tem sido alvo de violentos ataques Islamitas nos últimos anos. Na fronteira era bem visível o selo do exército militar.“
58
“The Americas: capítulo final”
32
Estudo Nacional Mototurismo
98
Índice de Destinos
6 página
@América do Sul Jorge Serpa
Telma de Brito Beato
Raio - X.
BMW F650GS (2006) edição “Zarpando p’las Américas”
E como se aventurou a Joana a decidir conduzir uma moto nesta viagem? Conhece a sua história na secção “Viajante”.
Os jogos de pneus alternaram entre os Heidenau K60 Scout, os Continental TKC80 e os Karoo 2. Alguns optámos por carregar connosco ao longo da viagem, enquanto outros expedimos para locais no destino.
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4
O sistema de lubrificação automático Scottoiler alivia a tarefa de manutenção frequente de lubrificar a corrente cada 1.000kms como é aconselhável.
10
!
A suspensão traseira de série revelou-se demasiado mole, insuficiência evidenciada pela carga elevada e exigência dos pisos mais acidentados.
Opções e extras
Parte do carisma de uma moto de viajante é aquele ar que traz tudo consigo e não tem problemas em mostrá-las, desde pneus a roupa interior a secar no retrovisor. Para fazer face a todos os estilos e preferências de cada viajante o mercado vai-se adaptando, oferecendo os extras para colmatar o que de série seria difícil acomodar. As motos do Zarpando p’las Américas não são diferentes. Estes são os extras e alterações que cada moto tem
26
1
“Bico de pato” (modelo Dakar/Sertão)
7
2
piscas brancos (modelo Dakar/Sertão)
8
3
Farolim traseiro LED (modelo Dakar/Sertão)
4
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Bolsa de depósito VP45 Touratech com duas bolsas laterais extras malas de alumínio Zega Touratech 38L
14
Luz nevoeiro Hella de Xenon
15
Luz auxiliar Hella de Xenon
9
Bidon gasolina Modelo Touratech 2x2L
16
Punhos protectores Ampliação
Protecção do motor (modelo Dakar/Sertão)
10
17
Banco alto Adaptado com Visco-gel
vidro alto + deflector Puig
“Pata de camelo” Ampliação base do descanso lateral
11
Lubrificação corrente Scottoiler
18
Grelha de carga Ampliação H&B
12
Protecção suspensão Acerbis, neopreno
19
Saco estanque Ortlieb 22L rack-pack M
13
Luzes dianteiras Bi-Xenon (H4)
20
Rede de cabo de aço Packsafer
Tomada USB
Raio - X.
BMW R1200GS (2006) edição “Zarpando p’las Américas”
A iluminação auxiliar tem sido essencial para ser bem visto em dias de pouca visibilidade e para alguma inevitável chegada tardia ao destino. Este “upgrade” de iluminação colmata a insuficiência lamentável de série, especialmente antecipando serem motos para grandes viagens.
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! 8 23
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! 15 Para além destes itens, decidimos equipar esta moto com protecções para o potenciómetro, cárter, radiador e um descanso central.
1
Vidro Alto Viseira original BMW da R1200GS Adventure
7
Farolim LED traseiro Original BMW da R1200GS Adventure
2
“Bico de Pato“ Original BMW da R1200GS Adventure
8
Protecção de motor Original BMW da R1200GS Adventure
3
Grelha de carga Original BMW da R1200GS Adventure
9
4
Malas alumínio Original BMW da R1200GS Adventure
5
6
O retentor do cardan (transmissão por veio) rompeu-se e perdeu o óleo, tendo sido o ponto mais fraco da moto. O interruptor do servo freio acumula sujidade e humidade causando falhas no sistema de travagem ocasionais.
13
Luz Nevoeiro Touratech xenon
19
Mala de ferramentas dsBikes toolbox
14
Bidon óleo motor 2 litros
20
Saco estanque Ortlieb 22L rack-pack M
GPS BMW Navigator IV, suporte Touratech com chave
15
“Pata de camelo” Ampliação base do descanso lateral
21
Rede de cabo de aço Packsafer
10
Depósitos de gasolina 16 litros adicionais
16
Punhos protectores Ampliação
22
Bolsa de depósito VP45 Touratech com duas bolsas laterais extras
Tomadas 12V e USB
11
ocular dianteira Grelha de protecção; lâmpadas xenon (H7)
17
Banco adaptado Visco gel
23
Protecção boxer Touratech
Barra guiador Original BMW da R1200GS Adventure
12
luz auxiliar Touratech xenon
18
Guarda-lamas traseiro MudGuard
27
os elos profundos Lisboa • Pequim • Lisboa
44
Em viagem
�
As viagens dentro da viagem têm mesmo que tomar tempo e espaços diferentes, para que se salvaguardem os elos mais profundos.
45
Peru Lima 1 6 5 0 0 kms Machu Pichu Linhas de Nazca
La Paz 1 4 4 0 0 kms
Lago Titicaca
Bolívia Salar de Uyuni
OCEANO PACÍFICO
Quebrada de Humahuaca
Chile
Paraguai
Salta OCEANO Atlântico São Miguel das Missões Brasil
Santiago do Chile 0 0 0 0 0 kms
Uruguai Punta del Este Montevideo Washington DC, EUA 0 0 0 0 0 kms
Argentina
Yellowstone, EUA 0 4 2 0 0 kms
Villarrica Maicolpué Puerto Varas
Publicada na TREVL #5 Puerto Madryn
Carretera Austral
Peninsula Valdes
Bellingham, Canadá 1 2 9 0 0 kms
Cabo Raso
San Francisco, EUA 1 5 0 0 0 kms
Comodoro Rivadavia Chile Chico Ruta 40
Publicada na TREVL #6
Fitz Roy
Perito Moreno
River Ridge 2 3 3 0 0 kms
Santiago do Chile 2 5 5 0 0 kms Estreito de Magalhães Terra do Fogo Ushuaia 0 5 6 0 0 kms
58
St. George 1 6 7 0 0 kms
Washington DC 2 5 5 0 0 kms
El Calafate
Punta Arenas
Whittier, Alaska 1 2 6 0 0 kms
O projecto “The Americas - Top 2 Bottom” começa na América do Norte, nas duas edições anteriores da TREVL. Chega ao fim a viagem, 62mil kms depois e 22 semanas.
Ushuaia, Argentina 3 1 1 0 0 kms La Paz, Bolívia 4 5 5 0 0 kms Lima, Peru 6 2 0 0 0 kms
Curtinhas
S Americas The
par
te
“S” como em Sul: América do Sul; De Sedutora, Sensual. Jorge Serpa
E
Ushuaia, Argentina - 2015, Fev. 10
screvo desde a Ilha Grande da Terra do Fogo. Mais precisamente num lugarejo que reclama para si o título de “cidade no fim do mundo”. Não me prendo com o rigor geográfico; fica apenas a enorme carga poética que Ushuaia carrega. E que força tem este nome: “Terra do Fogo”, como se apenas cavaleiros caçadores de dragões a ela tivessem direito. Partira no meu corcel de Santiago do Chile e até aqui rolara 3.500 milhas. Gosto mais do som da versão imperial “milhas” à mais sanitizada do “Sistema Internacional”: “metros”. Uma milha tem sabor a aventura; 1km são apenas mil metros. Desde Santiago medem-se então 5.600kms, se quiserem. Precisei de 3 semanas e ocorre-me a palavra “Sonho”. Por isso belisco-me. Não é, afinal. Até Puerto Varas “zigzaguiei” entre a costa do Pacífico e a Cordilheira dos Andes. Atravessei a região de vinhos de Santa Cruz. De Lonquimay a Villarica recordo o azul profundo dos lagos que reflectem os vulcões dos Andes. Perto de Orosco na praia de Maicolpué a Hosteria Miller soube-me a cinema.
Rumo então a El Calafate seguindo pela Carretera Austral no Chile e pela Ruta 40 na Argentina. São duas rotas que simbolizam muito no mundo das aventuras em moto. A primeira persiste em gravilha e terra, sendo de uma beleza única, bordejando o lago General Carrera pelo Paso de las Llaves. Permito-me os pequenos desvios à Cordilheira para visitar o Fitz Roy, junto a El Chaltén e o glaciar Perito Moreno, próximo de El Calafate. Durante esta porção da viagem tive Harry por companhia. Este austríaco granjeou algum fama e reconhecimento por ligar a sua terra natal à Austrália (cerca de 120 mil kms) em 2 anos e meio. Conhecemonos ao comprar o bilhete para o ferry de Hornopirén, logo no principio da Carretera Austral. Juntos e em motos idênticas, viajámos entre Punta Arenas e o Estreito de Magalhães. Partilhamos a opinião que este modelo (BMW R1200GS Adventure) se adapta muito bem a esta viagem. Na parte mais austral da Patagónia alternamos múltiplas vezes entre Argentina e Chile, procurando o Parque Nacional de Torres del Paine. A travessia do Estreito de Magalhães faz-se ao vento, forte, muito forte quase de través, o que torna a passagem memorável.
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Curtas em viagem
Qualquer Tiago Braz
Um cachorro é um cachorro, em Portugal ou na Turquia. Então porque com uma pessoa seria diferente?
António, Bernardo e Tiago escolheram o Inverno de 2012 para viajar pela Turquia e Irão. Durante 2 semanas, levaram as próprias motos ao longo de 3 mil kms, aquelas que conhecem e não lhes falham e não se negaram a fazer de autocarro 1.600kms. Traçaram por objectivo percorrer o sudeste da Turquia e noroeste do Irão, para contactar com as pessoas e conhecer a realidade de um povo para além do que aparece nos jornais. Motos: Yamaha XT660Z; BMW R100GS; Yamaha XTZ600 1VJ. Viajantes: António Cunha; Bernardo Feio; Tiago Braz.
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Em viagem
Diários da
Conchichina António Nogueira (TREVLer)
Sobre a pequena Honda Win 100 recai uma grande responsabilidade: cruzar o Cambodja
A
os 35 anos descobri onde era afinal a Cochinchina e foi daqueles momentos em que nos voltamos a sentir crianças. Já em miúdo me perdia em aventuras e, ao chegar tarde para lanchar, a minha mãe perguntava-me se havia ido até à Conchichina. Tornarase um lugar mítico até ao dia em que compro um voo para Saigão. Por entre artigos e mapas, aparece como um tesouro lá no extremo sudeste do sudeste asiático. A Cochinchina. Saigão... O som bate-nos nos tímpanos sem sabermos bem porquê. Paris! Dakar! Como outras cidades cujo nome parece estar vivo. New York! Rio! O som é mais mais forte que as as suas letras soltas. Saigão. São as bombas, os filmes, uma tremenda cidade para 13 milhões, 6 milhões de scooters e outras coisas fantásticas de 2 e 3 rodas. Parece uma teia duma aranha que não te quer deixar sair. Tinha 3 semanas para arranjar uma mota e dar uma volta e ir sem plano. Ho Chi Minh “Saigão”, Vietname (15 Abril)
No aeroporto tudo é calmo. Entrego a carta de aprovação, peço visto à chegada para múltiplas entradas: $65. Atravesso a única pista da bagagens e, já com o meu saco, troco dinheiro. Aguardo o autocarro. À volta tudo está tranquilo, sem assédio de guias ou taxistas. Mal o 126 mergulha em Saigon o cenário muda: motas por todo o lado, em
contramão, no passeio e toda a gente buzina. O trânsito flui, contudo. Para qualquer direcção que olhe não vejo o chão, mas há uma calma que impera. Às 8h faço check-in num Hostel no backpackers quarter, uma espécie de bairro onde se concentram os turistas “pés-rapados”. O Sol vai alto, parece meio-dia, está calor mas não ofegante como temi. No dia seguinte, faço check-out e zarpo para Sul numa mota que comprei por $300. Decidiu-se tudo numa hora. Tinha marcado mais uma noite em Saigon, ia testar uma mota para alugar, ia ver a cidade… mas uma vez inventado este novo plano, comprar uma Honda Win 100, que de Honda tinha muito pouco, não aguentei o frenesim e fiz-me à estrada. Era fácil o caminho para Can Tho: apanhar a A1 por 170km durante 3 a 5 horas. Perdi-me. E ainda bem, pois foi a melhor parte do dia, cheia de gente prestável e, mesmo não percebendo patavina de inglês, indicaram-me sempre o caminho certo, por atalhos claro, mas fiquei a confiar mais nos vietnamitas, depois de um dia de cidade onde era mais forte a antipatia e cinismo.
Ms. Ha
Chego a Can Tho e percebo onde me havia metido. Lançara-me à estrada sem ver onde ficar ou comer, como era o centro ou sequer qual a dimensão real da cidade. Estava assoberbado: Can Tho era a 4ª maior cidade do Vietname e centro
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Segue dia-a-dia as aventuras do João na sua página de Facebook do projecto Kangaroo Route.
Tara
Em Sarajevo havia feito uma revisão na mota e estava cheio de vontade de voltar à estrada. Os avisos eram no entanto de que a estrada pretendida estaria coberta de neve. Regressar não era uma opção, mesmo passando a noite imaginando as temperaturas negativas. Parti decidido, acreditando que se os montenegrinos não limparam a estrada, talvez a mãe natureza o tivesse feito. Esse fora o melhor dia da viagem e a estrada mais emocionante na Europa inteira até então. O piso estava excelente e o Sol não se fez tímido. Conduzir ao longo do vale do Tara, pelos mais profundos desfiladeiros da Europa, densas florestas de pinheiros e lagos cristalinos foi algo realmente único.
Madre Teresa ao volante
Albânia é uma espécie de máquina do tempo. Entrar nesta nação é como retroceder uns bons vinte anos. A Albânia abriu-se para o mundo apenas em 1991, com a queda de um regime comunista duríssimo implantado no final da Segunda Guerra Mundial. Entre outras coisas, eram proibidos o uso de barba (um ícone tanto ortodoxo como muçulmano), a televisão a cores, a máquina de escrever e apenas funcionários do Partido tinham permissão para conduzir, o que explica muita coisa sobre a forma como eles conduzem hoje em dia. Na Albânia as ruas não são um lugar para os fracos de coração, carros voam a partir de todas as direcções e não iriam parar nem que a mais famosa albanesa, a Madre Teresa, estivesse a atravessar a rua. É um destino com muito para oferecer; talvez mesmo o local certo na procura de aventura sem sair da Europa.
Ficar sem ar Pág. Seguinte: Montenegro é um pais abençoado pelo deus das Montanhas e provavelmente um dos meus países favoritos durante esta viagem (@Montenegro)
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Quando me preparava para sair de Dubrovnik reparo que o pneu traseiro estava em baixo. O compressor eléctrico devolveu-lhe um ar composto e decido seguir até à Albânia onde procuraria uma solução mais definitiva e digna. Não é preciso falar albanês para explicar o problema. Desmontado o pneu, revelou-se que a câmara-de-
ar chinesa não fora feita para tantos kms, tendo rasgado. Surpreendeu-me contudo que Spiro e os seus restantes colegas da Moto Tirana dedicassem uma manhã inteira de volta da minha mota. No final, recusam que lhes pague o seu trabalho. Saía reforçada a minha convicção que os mecânicos de motas estão entre as pessoas mais caridosas.
Jovem emancipada
A mais jovem nação do planeta é também a mais pobre da Europa. Talvez por isso para entrar no Kosovo é necessário um seguro adicional adquirido na fronteira, excluído da cobertura da minha carta verde europeia, inválida aí. Passei alguns dias em Prizren, a antiga capital do Império Sérvio, percorrendo as encantadoras ruas de calçada, por entre as casas de pedra ao longo das margens do rio e entre as colinas. Este país não disfarça ter ainda um longo caminho pela frente, a braços com uma enorme crise financeira.
Salada macedónia
É caso para dizer que visitei Skopje quase por acidente. O meu plano original passava por Meteora. Uma amiga da Macedônia convence-me do contrário, levando-me a adiar a Grécia, preterida para a antiga capital da República Jugoslava. A Ivana que também está a viajar pelo mundo de mota com o namorado. Não é estranha ao que é passar meses na estrada. Talvez por isso faz-me prometer que passaria alguns dias em casa dos seus pais para recarregar baterias, lavar roupa. A sua mãe encarregar-se-ia de dar uma folga às minha latas de atum em troca da sua deliciosa comida. Há algo sobre os Macedónios que realmente gostei, com o seu grande sentido de humor e natureza acolhedora, indiferentes a que não nos compreendamos, cada um nas suas línguas.
Em lume brando
Balcãs, Balcãs, Balcãs... Em tempos trabalhei na Roménia, em Bucareste
1.456 metros
Altitude máxima atingida na estrada Zabljak-Suvodo. (@Durmitor, Montenegro)
-6ºC A bater o dente
(@Astúrias, Espanha)
21ºC Calor?
(@Dubrovnik, Croácia)
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Destinos Portugal
Açores Alto Alentejo Alta Estremadura Alto Douro Serra Algarvia Serra da Arrábida Tejo dos Castelinhos
“Desaconselha-se formalmente qualquer deslocação [...]” “[...] riscos de infiltração islamistas e perigo de explosão de minas anti-pessoal.”
Quatro portugueses em duas motos na terra do Leopardo-das-Neves
Espanha
Deserto de Bardenas Picos de Europa Ruta de la Plata Sierra Norte
Kirguistão Tajiquistão Na edição Outono 2015 da TREVL
África
África do Sul Angola Argélia Botswana Malawi Marrocos Mauritânia Moçambique Namíbia Quénia Sahara Ocidental São Tomé e Príncipe Senegal (Dakar) Sudão Victoria Falls Zâmbia
Cambodja Índia Kirzgistão Mongólia Nepal Vietname
Oceânia Austrália
América
Alaska (E.U.A.) Argentina Belize Bolívia Brasil Canadá 98
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Europa
Ásia
Brevemente...
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China Chile Colômbia Costa Rica El Salvador Equador E. Unidos América Guatemala Nicarágua Panamá Paraguai Peru Uruguai Venezuela
6 10 1 2 3 1
3
3 4 1 3 4 14 14 4 4 4 14 5 2 2 4 4
7 3 6 7 7 5 7 4 9 7
7
5
4 6 5 2
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Albânia Alpes Balcãs Bósnia-Herzegovina Bulgária Córsega Croácia 1 Espanha 1 Escócia Eslovénia Gales Grécia Inglaterra Irlanda Islândia Itália Kosovo Montenegro Noruega Pirinéus Rússia Sérvia Turquia
Conheça aqui quais os destinos de viagem de moto sobre os quais já publicámos, tanto na TREVL como na REV.
Edições passadas 5 4 6 13 7 5 4 11 7 4 6 7
4 5
Cada entrada nas tabelas seguintes tem a indicação de qual o número onde foi publicada (a amarelo na TREVL, a azul na REV), junto a um pequeno texto descrevendo o tipo
7 4 7 5 5 7 7 5 5 5 6 7 7 4
7 1 2 3 7 7 7 1 7 4 5 7 5 6 12 7 2 7 2 6 2 1 3 5 7 2 7 7 1 8 1 5 7 3 7 2 7 2 7
e conteúdo do artigo.
Nesta edição
Os destinos incluídos nesta edição estão destacados com um fundo amarelo.
Interactivo
Para uma experiência mais interactiva com visualização sobre o Mapa Mundi, sugerimos visitar o nosso site na secção “TREVL no Mundo”.