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Sujou!

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Força Ancestral

Força Ancestral

Vertente do rap com batida desalinhada e glamourização do submundo, trap vira mainstream lá fora e, por aqui, divide opiniões na cena hip hop

por_ Gilberto Porcidonio ∎ do_ Rio

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Batidas propositalmente desalinhadas que beiram o experimental, marcação firme de chimbal, inserções metálicas minimalistas e destaques aos médios e agudos, em oposição aos tradicionais graves do “gênero-mãe”. Praticamente onipresente nas produções atuais do rap nacional, o trap, outrora subversivo, é o queridinho da vez entre os criadores do universo hip hop.

A influência, assim como ocorreu com o próprio rap, veio de fora, a partir de uma batida nascida na década passada, no Sul dos Estados Unidos. Grosso modo, é uma forma mais suja de se cantar e tocar o rap, marcada por gírias e sotaques locais, bem como uma associação glamourosa com o mundo das drogas e do crime — nas letras e na estética. O próprio termo que batiza o subgênero vem das trap houses, como são chamadas as bocas de fumo estadunidenses.

Hoje, a cilada virou pote de ouro. A despeito da origem no submundo, desde que o DJ americano Baauer (branco de origem latina) estourou com o Harlem Shake em 2012, virando meme na internet global, o estilo cresceu exponencialmente. Diplo, Kendrick Lamar — que abraçou o trap no álbum “DAMN”, de 2017 —, e a espanhola Rosalía (numa particular mistura com o flamenco) já pegaram a viagem de trap para chamar de sua. Rappers da antiga e da nova escola, como MV Bill, Baco Exu do Blues, BK e Froid, também são íntimos do estilo.

A CENA ESTÁ BONITA E TEM TALENTO. O QUE SE DESTACA É CADA UM CANTAR SUA REALIDADE PRÓPRIA.”

Choice

O rapper Akira Presidente se lembra de que, quando escutou pela primeira vez o curioso som trapeiro do americano Gucci Mane, não tinha ideia do que se tratava. “É que a minha escola sempre foi a nova-iorquina. Toda geração é muito agarrada a uma sonoridade, mas agora se criou uma espécie de mutação. É até mais permitido usar um flow criado por outro, o que, na minha geração, era um crime”, diz Akira.

Para Black Alien, continua a ser. Ao jornal “O Globo”, o medalhão do rap disse que, com algumas exceções, não gosta do trap: “A minha escola considera o flow, a levada, como uma arte dentro da arte. São infinitas linhas para explorar. A batida do trap só permite dois jeitos de rimar. Isso, para mim, é antiarte, é estreitar um canal aberto para um monte de mané sair como bom no que faz.”

TODA GERAÇÃO É MUITO AGARRADA A UMA SONORIDADE, MAS AGORA SE CRIOU UMA ESPÉCIE DE MUTAÇÃO.”

Akira Presidente

O rapper Choice, que foi introduzido ao trap através de “Red Bandana”, do americano The Game, acredita que os adeptos deste subgênero do rap no Brasil vão aprender a se estruturar mais com os anos. “A cena está bonita e tem talento. Tem uma galera de São Paulo que já viraliza umas gírias próprias e veste roupas que expressem nossa ‘agressividade’ de discurso, já que o trap também é a atitude. Os flows tendem a ser parecidos, e tem quem tente imitar as joias e as roupas do exterior porque as pessoas entendem que tem uma fórmula por trás. Mas o que se destaca é cada um cantar sua realidade própria.”

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