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\"Estou apaixonado pelos meus 60 anos\"
Moacyr Luz festeja a boa aceitação a seu novo disco, “Natureza e Fé”, e colhe os frutos de uma bem-sucedida carreira de 40 anos no samba
por_ Fabiane Pereira ∎ do_ Rio ∎ fotos_ Marluci Martins ∎ no_ Rio
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Um dia após os principais jornais do país publicarem boas resenhas de seu oitavo disco de carreira, “Natureza e Fé”, Moacyr Luz — ou Moa — reunia os amigos num churrasco no Aterro do Flamengo, um enorme parque à beira-mar no Rio, para celebrar as duas indicações na 29ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Eram reconhecimentos pelo disco “Ao Vivo, no Bar Pirajá” e pelo seu grupo Moa e Samba do Trabalhador, ambos na categoria samba. Moacyr Luz, 60 anos de idade, 40 de carreira, estava ainda às vésperas de viajar a Portugal, para tocar no festival MIMO.
Agora, além de manter as apresentações do seu Samba do Trabalhador a cada segunda, no Clube Renascença, no Andaraí, Zona Norte do Rio, ele se dedicará aos ensaios com a Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo para uma apresentação em 29 de setembro, no Memorial da América Latina, na capital paulista. Na ocasião, sua estreia com uma orquestra, mostrará 16 músicas suas arranjadas pelo maestro Nelson Ayres.
Ser artista e sambista em 2018 é mais fácil do que há 40 anos?
Recentemente, estava a caminho de um show e ia cantar apenas duas músicas. Eu havia recebido um bom cachê. Aí, um cara comentou: “que beleza, vai ali cantar duas músicas e ganhar essa grana toda”. Eu disse “não. Quando eu subir no palco para cantar essas duas músicas, haverá uma história de 40 anos por trás”. Acho que hoje talvez seja mais fácil para mim, porque estou há quatro décadas batendo nesta tecla, mas não para todo mundo. O lado bom é ter a internet, uma boa alternativa para que sua música aconteça. Vejo que, no Samba do Trabalhador, evento que faço semanalmente há 13 anos, o público canta as minhas músicas, e eu mesmo nunca as ouvi no rádio. Tirando uma ou outra que o Zeca Pagodinho tenha gravado, a maioria ficou conhecida por causa da internet.
Moacyr Luz
Quais são as maiores dores e delícias de ser compositor?
A principal dor é o silêncio. É fazer uma música para poucos ouvirem. Quando você é um compositor profissional, há sempre a esperança de que aquela música seja gravada e ouvida por muita gente. Mas, às vezes, fica escondida numa gaveta por anos, décadas. Por isso, eu digo à nova geração: tenha paciência. Fiz “Vida da Minha Vida” em 2006, pensando no Zeca Pagodinho, e ele só gravou em 2010. Esses casos se repetem inúmeras vezes.
Você reuniu no novo disco um time dos sonhos: Zélia Duncan, Teresa Cristina, Fagner, Jorge Aragão, Martinho da Vila e Fred Camacho. Como chegou a esses nomes?
Foi um estalo. Eu não queria fazer algo emblemático de 60 anos, embora esteja apaixonado pelos meus 60 anos, então me cerquei de ícones e signos. Me cerquei de pessoas que, de certo modo, representam estes meus 60 anos. O Fernando Merlino é um músico que tocou comigo quando eu tinha 15 anos e foi o primeiro nome que me veio à mente. Pensei em mudar alguns parceiros também. Queria me desvincular da coisa sambista, então misturei o Jorge Aragão c om o Fagner, o Martinho com a Zélia Duncan. Foi uma provocação, até o fato de o piano dominar o disco. Acho, modestamente, que criei um conceito.
Como a espiritualidade atravessa a sua música?
Fui criado próximo a todo tipo de crença. Ia à igreja, ao centro espírita, ao terreiro de umbanda. Morei num lugar muito pobre chamado Vila Aliança, e lá havia alguns centros que eu frequentava. Sou devoto de São Jorge. E acredito nas energias boas. Quando estou em algum lugar onde sou abraçado, abraço mesmo, porque, para mim, essa troca é uma coisa de muita fé. O título do disco, “Natureza e Fé”, não é um título de disco, é o da minha vida. Eu falo de São Jorge, de Xangô, de Iemanjá e de outras entidades. E, claro, sem me esquecer da natureza. E isso tudo atravessa minhas composições.
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