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O popular Silva

Perceptivo, com sólida formação musical, o capixaba que brilha no mundo indie desde que surgiu, há sete anos, faz sua transição pop sem renunciar a uma estética própria

por_ Leonardo Lichote ∎ do_ Rio ∎ fotos_ Breno Galtier ∎ em_ Vitória

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Em 2011, um EP com cinco músicas de um jovem de 23 anos, produzido de forma independente, chamou a atenção de quem acompanha a nova produção da música brasileira. A curiosidade se aguçava ainda mais com o nome (Silva, apenas) e a origem inusual do artista (Vitória, cidade fora do eixo badalado de capitais como Rio, São Paulo, Salvador ou Recife). Sete anos depois, e com cinco discos de estúdio, um ao vivo, prêmios no currículo (além de indicações importantes, como ao Grammy Latino) e elogios de nomes como Lulu Santos e Marisa Monte, Lúcio Silva de Souza não é mais uma talentosa revelação, uma promessa da MPB. O crescimento consistente e constante de sua carreira a cada passo afirma isso.

Um exemplo em números: lançado em 12 de junho, o clipe de “Fica Tudo Bem”, dueto com Anitta gravado em seu recém-lançado álbum “Brasileiro”, já teve cerca de oito milhões de visualizações no YouTube.

“Fica Tudo Bem” teve bom desempenho no Spotify além das fronteiras, entrando nas listas virais do Paraguai (31º lugar), Argentina (41º lugar) e Chile (37º lugar). Também figura na lista global, do mundo todo.

Marcelo Soares, presidente da Som Livre, gravadora que lançou todos os álbuns de Silva por seu selo SLAP, aposta num crescimento ainda maior: “Entre os muitos talentos que o SLAP lançou em seus onze anos de vida, Silva é hoje o que está mais pronto para grandes voos, para conquistar o grande público, seguindo o que já aconteceu com Maria Gadú e Tiago Iorc. É um artista excepcional e completo: grande compositor, produtor e dono de uma voz firme e suave, com muita personalidade.

Não tenho dúvida de que será um dos grandes nomes da música brasileira em pouco tempo.”

E ENTÃO SURGE MARISA

Abraçado pelo público indie e pela crítica nos primeiros momentos de sua carreira, Silva começou seu movimento na direção de plateias maiores a partir de “Silva Canta Marisa”, álbum lançado em 2016. Ao investir no repertório consagrado de Marisa Monte, hoje sua amiga e parceira, ele trouxe para perto milhões de pessoas que até ali não conheciam seu trabalho. Lançado em versão de estúdio e ao vivo, o disco soma 25 milhões de audições no Spotify.

A turnê de “Silva Canta Marisa” estreou em 2016 e foi gravada em junho de 2017 na Casa Natura Musical, em São Paulo, com sucessos como “Ainda Lembro”, “Amor I Love You” e “Beija Eu”.

“Filho de uma professora de música, Silva é um músico extremamente intuitivo mas com sólida educação formal”, avalia Marisa. “Quando ele veio à minha casa pela primeira vez, pude escutá-lo tocando algumas peças de piano erudito. Schubert, Liszt, Mozart e Satie fazem parte de seu repertório doméstico. Amei isso. Nossa parceria, junto com seu irmão e parceiro, Lucas, fluiu suave. Suave é um bom adjetivo para ele. Seu projeto ‘Silva Canta Marisa’ fez-me sentir uma mulher de sorte”, elogia a estrela.

LUCAS, IRMÃO E PARCEIRO

Citado por Marisa, Lucas Silva é parceiro do irmão na maior parte de suas composições. Ele é também um dos vértices da trinca formada pelo produtor André Paste e pelo próprio cantor. Juntos, pensam cada passo de sua carreira.

“Temos quase sempre inúmeras alternativas, propostas, possibilidades, e as nossas escolhas quase todas têm a ver com arte, e quase nada com dinheiro. Demora mais, mas compensa. Eu nunca enxerguei para o Silva uma coisa de oportunidade. Sempre vi como uma carreira”, diz Lucas. “Olhando desta maneira, eu preciso ter critérios que sustentem as escolhas não para alguns meses, mas para décadas. É mais difícil, custa mais caro, mas é a forma de trabalhar em que eu acredito. Se houver algum atalho, vai ser pela própria música, e sem preconceitos. A carreira do Silva sempre foi uma crescente. Até hoje, nunca houve uma linha descendente.”

Antes de se dedicar à carreira do irmão, Lucas teve sucesso como cantor de rock cristão, chegando a lançar dois álbuns de estúdio e cinco ao vivo, com o nome de Lucas Souza. Como ele, Silva também tem formação evangélica.

Silva explica que tenta conjugar o cuidadoso planejamento da carreira com a ampla liberdade musical, mirando numa estrada longa de artistas como, ele cita, Marisa e Caetano Veloso. “A gente pensa no próximo passo da carreira, mas a música eu deixo intuitiva, não é planejada. Esse é o caminho que quero seguir. Como vou poder ser artista por mais 30 anos? Se estiver vivo, quero fazer bem, quero fazer direito. Tem gente que tem ambição de tocar no Maracanã lotado. Não vou reclamar se tocar no Maracanã, mas quero fazer show que vai chegar a um nível que faz a pessoa pensar naquilo por um mês, que marque. É a esse lugar que quero chegar como artista”, diz o cantor e compositor, que vislumbra fazer também projetos paralelos parar dar vazão a caminhos alternativos de sua música.

Tinha mil inseguranças de não corresponder ao papel do artista.”

Silva

A importância da música para Silva é perceptível em poucos minutos de conversa (“Sempre tive prazer com música, se eu não fosse cantar estaria numa orquestra, ou produzindo, fazendo arranjo”). Ele conta que, no primeiro dia de terapia, ao ser colocado frente ao desafio de se definir, só conseguiu dizer: sou músico.

“Tinha mil inseguranças de não corresponder ao papel do artista. Não tenho a desenvoltura da Anitta, da Ivete, não sou um cara do entretenimento. Ficava pensando: ‘Meu Deus, não vou conseguir falar no (Instagram) Stories’ (risos). Comecei a quebrar isso, entender que podia fazer do meu jeito. Hoje não tenho mais medo nem de palco nem de câmera. Mas ouço sempre: ‘na TV tem que falar mais animado, fala mais animado’. Mas eu não sou animado, sou assim. Comecei a perceber que eu sou assim.”

RAZÃO E SENSIBILIDADE

A música, para Silva, é algo nato, segundo sua mãe, Letir Silva de Souza. Ela conta que ele começou a ir à escola de música quando tinha apenas 1 ano — não como aluno, mas para acompanhar a irmã de 5 anos, que era muito tímida e ficava mais confortável com a presença dele.

“Ele começou a fazer tudo na aula, aprendia tudo o que era ensinado. Aos 3, já começou na flauta doce, depois de um tempo foi para o violino, aos 7 para o piano” lembra Letir. “A educação musical dele foi toda voltada ao erudito, temos muitos músicos na família. Nunca esperava que ele fosse para esse ramo do popular. Isso tem a ver com o tempo que ele passou na Irlanda do Norte, um ano estudando inglês. Lá, começou a tocar nas ruas com uma banda, até para ganhar um dinheiro.”

Com a observação de mãe, Letir dá uma chave para se entender a sensibilidade de Silva. Ela, a sensibilidade, talvez seja melhor para explicar sua música do que a simples análise de sua técnica ou das tendências do mercado: “Ele é muito perceptivo, pesca as coisas longe. Um suspiro que você dá ele já interpreta e entende.”

OUÇA MAIS! As 13 faixas do álbum “Brasileiro”. ubc.vc/brasileiro

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