Revista UBC #21

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4/UBC : Notícias

NOVIDADES NACIONAIS

Por Bruno Calixto, do Rio

Despontar na farta seara de talentos originais pernambucanos é tarefa dura, não? Realmente, Pernambuco é um grande celeiro, tem uma energia poderosa e, culturalmente, é uma nação em si. Mas não acho que eu tenha sido repetidamente encontrado pelo Sudeste e pelo cinema Pernambucano por acaso. Acho que meu trabalho é fundamentado em aspectos universais, apesar do sotaque de Recife. Como você se encaixa neste cenário? Eu acho que não me encaixo. Nunca me senti muito acolhido por nenhum "cenário" na verdade. As pessoas inclusive tiveram e têm um preconceito enorme comigo em Pernambuco. Não estou generalizando, não é todo mundo. Tem gente que me ama de verdade, mas tem gente que me odeia de verdade também.

Simplesmente libertário Um papo com o cantor, compositor, ator, performer e (por que não?) pensador pernambucano Johnny Hooker, um artista de estilo único que faz barulho na TV e muito além dela Não são a maquiagem forte, o figurino abusado, original, e a atitude libertária que fazem o multiartista Johnny Hooker. Personalidade ele tem até desmontado desse aparato todo. Prova disso é a elogiada atuação como um dos destaques de “Geração Brasil”, da TV Globo, sua primeira telenovela. Além de atuar nela, também empresta uma de suas canções à trilha. “Alma Sebosa”é tema do personagem do ator e humorista Leandro Hassum. Antes, Johnny já havia atuado na série “A Menina Sem Qualidades”, da MTV, no curta “Não Me Deixe em Casa”, de Daniel Aragão, e no longa “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, pernambucano como ele. Recém-filiado à UBC, Johnny bate um papo rápido com a gente sobre carreira, estética, machismo, caretice, Ney Matogrosso, Pernambuco, grana...

Qual foi a mudança mais radical que já fez na vida? Esse conceito de mudança radical eu aplico na minha vida todo dia. A cada dois meses. A cada ano. Sabe aquela música de Caetano Veloso que diz “Você não vai me reconhecer quando eu passar por você”? Essa letra representa muito do que eu sou. Vivo recolhendo os pedaços, os cacos, respirando fundo e começando tudo de novo. E isso se traduz em todos os níveis da vida, até no meu trabalho. Se, de repente, sinto que quero fazer música eletrônica, em vez dessa música latina que é o foco do meu trabalho agora, eu pego minha coisas e me transformo. Já sou outro. Você gosta de ser descrito como “artista que adotou a estética andrógina”? Muitas pessoas repetem o termo sem saber o que é? Eu acho que me apontar por esse caminho, que realçar isso ao me descrever, é muito fruto do machismo dominante do nosso país. E na música, então! É um meio muito machista. Já me perguntaram até “por que você se veste de mulher?”. Eu respondo que não, eu não me visto de mulher, maquiarse não é se vestir de mulher. Não sou uma mulher porque exponho meu corpo, porque rebolo. Não, isso não é coisa de mulher. Isso é coisa de gente. Então, cresçam. Me perguntam também “você quer ser o próximo Ney Matogrosso?”, e essa eu acho especialmente estúpida porque nunca existirá o próximo Ney Matogrosso, só existe um Ney, no mundo inteiro, é completamente única a união da voz com a apresentação no palco, aqueles olhos arregalados, maravilhosos. O que é ser careta para você? Ser careta é ser conivente com o abuso moral, sexual, sociológico, histórico, por motivos religiosos ou políticos. Ser careta é achar tudo lindo, todo mundo talentoso e bacana, quando não é. Ser careta é viver essa música pastelão que virou a “música popular brasileira” que toca em rádio. Ser careta é viver de passado. Ser careta é achar que a grama do vizinho é sempre mais verde. Poderia passar o dia falando para você o que é ser careta. Sejamos libertários. Por um mundo mais fabuloso. Quais são suas expectativas ao se filiar à UBC? Ganhar um dinheirinho, porque a pindaíba na minha vida é muito forte!


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