4/UBC : NOTÍCIAS
NOVIDADES NACIONAIS
Por Fabiane Pereira, do Rio
'MAIS DO QUE SER EXEMPLO, QUERO SER
REFERÊNCIA' ÍCONE DA CHAMADA MPBTRANS, SUBGÊNERO COM LETRAS E ATITUDE QUE DISCUTEM IDENTIDADE DE GÊNERO, LINIKER É UMA BEM-VINDA NOVIDADE NA CENA MUSICAL BRASILEIRA Artista da prolífica nova geração da MPB. Talvez seja esse o único rótulo que se possa aplicar a Liniker, 21 anos, natural de Araraquara (SP), um fenômeno surgido na internet em meados de 2015, com três vídeos fantásticos, e que se converteu numa granada estética e social de alto poder explosivo. Propõe, a um só tempo, sonoridades e imagens profundamente atrativas e discute sexualidade num país marcado por tanto conservadorismo. Liniker nasceu menino, mas prefere o pronome ela. Sua voz potente pede respeito para alguém que se define como “preta, bicha, que usa brinco, batom e turbante com roupas que são femininas em um corpo masculino”. Virou símbolo da MPBTrans, um movimento que põe a identidade de gênero na parte superior da lista de temas de que trata a nossa música. Liniker, aliada a sua banda Os Caramelows (Rafael Barone no baixo; William Zaharanszki na guitarra; Pericles Zuanon na bateria; Márcio Bortoloti no trompete; Renata Éssis no backing vocal) ganha ainda mais significado por despontar e fazer sucesso num momento de recrudescimento do reacionarismo nas mesmas redes sociais onde viceja. Ganha fãs em profusão. “Mais do que ser exemplo, quero ser referência. Levar tudo isso para o palco faz com que muitas pessoas se sintam representadas ali. Isso é o mais importante. A gente, todo mundo, pode tudo”, define.
Seu disco de estreia, “Remonta”, foi lançado em 2016 e lhe garantiu o troféu de revelação no Prêmio Multishow de Música Brasileira. Por onde passa, lota casas de shows. Não é força de expressão. Se os ataques verbais pela rede são uma realidade, a sede de mudança de uma certa juventude lhe dá legitimidade. Liniker crê inserir-se na mais lógica tradição da MPB, que acolhe artistas – compositores e intérpretes – que cantam as liberdades individuais e a justiça social, sobretudo quando estas estão ameaçadas. A seguir, confira um rápido pingue-pongue com ela: Um artista brasileiro: Elza Soares. Um sonho: poder propagar cada vez mais nossa arte e ocupar muitos lugares com ela. Uma frustração: ainda não ter me engajado num instrumento. Quero muito tocar. Uma música que representa você: “Oldboy”, da Tulipa Ruiz (dos versos “Não tem fim nem começo/ O agora é agora, voa/ Já passou, olha, passou/ E fica também na tua memória/ Sempre você/ O tempo e você/ Viver, viver/ Envelhecer”. Um desejo para 2017: alcançar cada vez mais esses espaços, e que cada vez mais estejamos unidos. Não somente eu com a banda. As pessoas, todo mundo.
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