Trabalho+Seguro | Revista Sindical sobre SST - 15ª Edição - Setembro 2021

Page 3

TEMÁTICAS EM DESTAQUE

EM DESTAQUE: REFLEXÃO ETUI: COMO A PANDEMIA AGRAVOU OS RISCOS PSICOSSOCIAIS RELACIONADOS COM O TRABALHO Após uma pausa de dois anos devido à pandemia, a 7.ª reunião da ETUI sobre prevenção de riscos psicossociais no trabalho teve lugar durante um seminário online organizado em outubro de 2021. O foco foi colocado na incidência dos riscos psicossociais durante a pandemia do Covid-19. Embora os riscos psicossociais sejam um fenómeno relacionado com o trabalho, cujos efeitos já são bem conhecidos, a pandemia expôs as desigualdades e agravou os riscos existentes, tornando o problema ainda mais crítico. Os participantes apelaram à adoção de uma diretiva da UE, uma vez que os riscos devem ser abordados como uma questão coletiva que exige soluções coletivas. Um estudo da OCDE e da Eurofound sobre a saúde mental desenvolvido durante a pandemia, evidenciou que a saúde mental se deteriorou, em todos os países da OCDE em 2020, com uma percentagem mais significativa da população a sentir ansiedade e depressão. Os trabalhadores dos setores da saúde e dos cuidados e apoio sociais estavam entre os grupos profissionais que foram mais expostos aos riscos psicossociais. A pandemia afetou-os fortemente, uma vez que as fontes destes riscos surgem de uma conjugação de fatores organizacionais, de gestão, sociais e económicos. A falta de equipamentos de proteção individual, o conteúdo do trabalho, incluindo os turnos irregulares e novas funções, a carga de trabalho pesada e as longas horas de trabalho contribuíram para o aumento dos riscos. De acordo com Paula Franklin, investigadora da ETUI que mapeou o fenómeno, os resultados físicos e psicológicos observados englobam o burnout, a ansiedade, a depressão, os estados de insónia e fadiga ou os sintomas de stresse pós-traumático. Afirma que a implementação das medidas preventivas deve enquadrar-se na realidade dos trabalhadores e devem permitir-lhes participar nesse processo. Consequências mentais e físicas Os riscos psicossociais incluem sentimentos de insegurança (relacionados com o trabalho, os rendimentos, os direitos e a proteção social, o tempo de trabalho, o futuro do emprego ou empregabilidade, a representação do trabalhador) e

a falta de justiça. Estes fatores explicam porque é que os trabalhadores em situação precária se encontram numa situação particularmente mais frágil. Com efeito, existe uma ligação clara entre a qualidade do trabalho e o emprego precário e entre o emprego precário e a saúde mental, como explicou Christophe Vanroelen, professor de sociologia na Universidade de Bruxelas. A pandemia afetou profundamente as profissões pedagógicas, caraterizadas por condições de trabalho desleais e por salários deficientes. Também perturbou os laços emocionais devido ao distanciamento social e ao isolamento social. De acordo com Susan Flocken, diretora europeia da ETUCE, até metade dos professores sentiram stresse e ansiedade, enquanto até um terço apresentava sinais de depressão. Além disso, Hélène Sultan-Taïeb, professora da Universidade de Montréal do Quebec, e Isabelle Niedhammer, diretora de investigação do Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica sublinharam que os riscos psicossociais também podem levar ao surgimento de doenças cardiovasculares. Os efeitos adversos do teletrabalho Para os profissionais da educação, que incluem um vasto número de trabalhadores de vários setores, o teletrabalho tornou-se uma norma durante a pandemia. O trabalho remoto tem contribuído para aumentar a carga de trabalho, perturbar o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal e dar origem a sentimentos de isolamento social. Pierre Bérastégui, investigador da ETUI, explicou que o teletrabalho pode ser considerado uma solução temporária para enfrentar a crise e uma transformação a longo prazo das modalidades de trabalho. Para ser eficaz e viável, a transição para o teletrabalho estrutural deve implicar uma reorganização dos processos de trabalho. De acordo com Slavica Uzelac, diretora executiva da Eurocadres, o teletrabalho levantou questões relativamente à desigualdade, uma vez que as grandes empresas estão mais bem equipadas, fornecem formação e têm acordos de empresa. Além disso, a falta de equipamento adaptado e ergonómico em casa pode resultar no surgimento de distúrbios músculo-esqueléticos. TRABALHO+SEGURO | Setembro 2021 | 3


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.