Universitárias investem em empresas familiares
Feiras científicas revelam jovens pesquisadores
Descendentes de alemães cultuam o dialeto original
Corajosas, elas mudaram inclusive de curso superior para fortalecer o negócio no qual decidiram mergulhar. As jovens realizadoras assumiram riscos com apoio das mães, e estão se saindo bem Página 4
Preocupados com a degeneração ambiental do planeta, estudantes desenvolvem produtos voltados à sustentabilidade, aproveitando materiais recicláveis, evitando o desperdício de recursos naturais Página 7
Oriundos da região do Hunsrück, às margens dos rios Reno e Mosela, imigrantes que se estabeleceram no Sul do Brasil não esqueceram o hunsrückisch, a língua na qual avós se comunicam com netos e netas Página 18
Babélia São Leopoldo - Junho de 2017 - Edição 27
Isaías Rheinheimer
A nova estrada, quando concluída, aliviará o volume de trânsito da BR-116 e da RS-240 (foto). Trata-se de investimento estratégico para a melhoria da mobilidade da Região Metropolitana
Vale do Sinos aguarda ampliação da BR-448
O traçado do segundo lote da Rodovia do Parque, de 18 quilômetros, ligando Esteio a Portão, está definido. Mas faltam os recursos. Numa perspectiva otimista, as obras iniciam em 2019. Página 3
2
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
IMAGEM
A criação de cavalos da raça crioula é a especialidade da Cabanha Querência Azul, de Osório (RS). A estudante de Fotografia Franciele Paulus (autora da imagem acima) esteve lá, junto com colegas, para clicar o cotidiano do local. Confira mais imagens na contra-capa
Universidade do Vale do Rio dos Sinos São Leopoldo e Porto Alegre/RS Linha Direta: E-mail: Reitor: Vice-reitor: Pró-reitor Acadêmico: Diretor de Graduação: Gerente dos Cursos de Bacharelados e Tecnológicos: Coord. Curso de Jornalismo:
Babélia
(51) 3591 1122 unisinos@unisinos.br Marcelo Aquino José Ivo Folmann Pedro Gilberto Gomes Gustavo Borba Paula Campagnolo Edelberto Behs
Jornal produzido semestralmente pelos alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS
Textos: alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso I e II, Jornalismo Impresso e Notícia, Redação Jornalística I e II, Jornalismo Impresso e Reportagem, e Redação para Relações Públicas II. Orientação: professores Anelise Zanoni, Edelberto Behs, Daniel Bittencourt e Micael Vier Behs. Projeto gráfico: alunos Jéssica Beltrame Nunes, Maese Daniela Closs e Paola Campos Cunha, da Turma 2016/2 da disciplina de Planejamento Gráfico. Orientação: professor Everton Cardoso. Diagramação: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Diagramação: Mariana Matté. Supervisão: Marcelo Garcia.
Editorial Longe de Brasília o pulsar é outro
Q
uem está matriculado em algum curso do ensino superior, de qualquer área do conhecimento, se não estiver estagiando ou trabalhando no campo específico para o qual busca a sua profissionalização deparase, com frequência, com o dilema: como ingressar no mercado de trabalho. Pesquisa que os professores Samuel Pantoja Lima e Jacques Mick, da Universidade Federal de Santa Catarina, realizaram em nível nacional indicou que 76% dos jornalistas ingressaram no mercado de trabalho através de algum tipo de estágio ou programa de treinamento. E quem não consegue estágio ou participa de programa de treinamento? Fato é que o tradicional caminho que conduzia o egresso da escola para as redações de jornal, revista, rádio, TV, assessoria de imprensa, está parcialmente bloqueado. Enxugamento é a palavra de ordem nos conglomerados de comunicação, uma vez que o modelo de negócio sofre fortes abalos com a difusão das redes sociais. Mercado existe, escancarado até, para aqueles que
o enxergam de forma criativa, numa visão de 360 graus. Esta edição do Babélia traz o exemplo de jovens empreendedoras que descobriram brechas e talentos – nesse caso na confecção de roupas femininas, de camisas e de confeitaria. De futura assalariadas elas passaram a empreendedoras do seu próprio negócio, e estão se dando muito bem. Levantamento da Global Entrepreneurship Monitor constatou que, em 2015, esse tipo de “eu-empreendedor” representava apenas 12,6% do mercado. Mas está em expansão, porque, em diferentes áreas, o espaço da carreira encontra-se em retração. Existem, pois, espaços para o profissional realizador, que saiba, com ética, valer-se das possibilidades que a técnica disponibiliza para alcançar resultados estéticos promissores. Esta mesma edição também aponta para a importância que a ciência representa no desenvolvimento regional. O foco da reportagem volta-se ao litoral norte do Rio Grande do Sul. O retrato é animador e destaca a importância de contar com o apoio do poder público na instalação de polos educacionais com vistas à promoção da pesquisa. Produção acadêmica do Instituto Federal de Osório permitiu a criação de um plástico biodegradável feito da casca do maracujá, em benefício de comunidades de agricultura familiar da região. São sinais de um Brasil que pulsa, que vibra, longe das patifarias brasilienses.
3
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Mobilidade
À espera da Rodovia do Parque Trecho de 18 km é o elo, em um raio de 300 km, dos municípios que concentram 75% do PIB gaúcho DNIT
Isaías Rheinheimer
O
negócio do empresário Clóvis Luis Maurer, 54 anos, às margens da RS-240, em Portão, será um dos poucos a sofrer consequências do projeto de prolongamento da BR-448, a Rodovia do Parque. Ele terá que abandonar o espaço construído 13 anos atrás e abrir a casa de produtos coloniais em um novo endereço, pois o local onde hoje está instalada a Casa de Cucas será parte da malha viária do novo trecho da rodovia, com a construção de um viaduto. O empresário ficou sabendo da novidade em outubro do ano passado e não perdeu tempo: adquiriu uma nova área de terras às margens da rodovia estadual, que liga os vales do Sinos e Caí com a Serra, onde irá instalar o negócio. Seguirá em Portão, mas seis quilômetros distante de onde fica o estabelecimento hoje. “O jeito foi iniciar a construção de um outro prédio. Afinal, não teríamos como bater de frente em uma situação dessas. Vai ser bom para muita gente, inclusive para nós. É o progresso”, ponderou Maurer. Embora cause insegurança, natural de quem sai da zona de conforto, Maurer se diz otimista com a necessidade de mudança. Ele acredita que a chegada da BR-448 aumentará o movimento em seu estabelecimento. Independentemente de quando a extensão será iniciada, o traçado da Rodovia do Parque já está definido. Os 18 novos quilômetros de estrada devem iniciar nas proximidades do quilômetro seis da BR-448, em Esteio, e dali seguir rumo ao município de Portão, até a RS-240. Fora a casa de produtos coloniais, o restante da rodovia deve afetar basicamente grandes propriedades rurais pertencentes a empresários ligados ao agronegócio, onde o impacto social é bem menor, na avaliação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Meio bilhão de reais
Apesar de ter sido prometido para 2016, o início das obras do segundo lote da rodovia, entre Esteio e Portão, ainda está rodeado de incertezas. Um ano depois, o Dnit, autarquia ligada ao Ministério dos Transportes, não avançou além do Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental. A falta de orçamento impede a realização da licitação, que definirá o consórcio que construirá a estrada. Com a estimativa de custar mais de meio bilhão de reais, uma coisa é certa: a solução desse problema não ocorrerá este ano. Pelo menos é o que informou o superintendente do Dnit no Rio Grande do Sul, Hiratan Pinheiro da Silva. Ele revela que qualquer novo passo deve ser feito somente em 2018. E isso só se houver boa vontade política. Caso sejam reservados recursos
‘‘
TRAÇADO Vinda da BR-448 ao Vale do Sinos cruzará lavouras de arroz até chegar RS-240 em Portão
para a obra no orçamento do próximo ano, existe a chance de a obra se iniciar em 2019.
Esperança para a retomada de crescimento
Quem também vê somente vantagens no prolongamento da rodovia é o prefeito de Portão, José Renato das Chagas. Para ele, o município está se preparando para retomar o rumo do crescimento. A projeção é que a vinda da Rodovia do Parque até Portão provoque, no médio e longo prazo, um incremento de 35% a 40% no Produto Interno Bruto (PIB) local. E a explicação está em uma análise feita por uma comissão que passou a discutir o Plano Diretor da cidade nos primeiros meses de 2014, logo após a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) anunciar o prolongamento da rodovia. “O trecho em que será construído o segundo lote da rodovia é o ponto central, em um raio de 300 quilômetros, dos municípios que concentram 75% do PIB do Rio Grande do Sul. Nesta faixa de terras, há chances de se criar uma nova rota de cargas do Estado, pois há um sistema de rodovias, ferrovia e hidrovia, tudo muito próximo”, projetou o atual chefe do Executivo. João Hermes Nogueira Junqueira, especialista em Engenharia de Transportes, concorda com a analogia e lembra que nesse pacote pode ser acrescentado o projeto de construção de um novo aeroporto. Segundo
o engenheiro, o trecho por onde está prevista a Rodovia do Parque no Vale do Sinos é o centro de gravidade geoeconômica do Estado. Ele faz o apontamento com a propriedade de quem há 25 anos acompanha a questão do desenvolvimento da região. “O prolongamento da BR-448 é o investimento mais bem aplicado, mais necessário, mais estratégico para a melhoria da mobilidade da Região Metropolitana. Você reduz a distância de transporte, gera uma melhoria para Porto Alegre e tira da BR-116 todo aquele trânsito. Quem viver verá o acerto da decisão tomada caso ocorra o prolongamento da 448”, avaliou.
Autoestrada
Aliás, dar um descanso para a BR-116 foi o que motivou o nascimento da Rodovia do Parque. E, para evitar que a BR-448 caminhe para aquilo que se transformou a 116 entre o Vale do Sinos e a Capital com o passar dos anos, o Dnit criou uma regra: todas as empresas que já procuraram ou que irão procurar o órgão requisitando a abertura de acessos locais recebem um “não” como resposta. O engenheiro Carlos Alberto Garcia Vieira, supervisor do Dnit no Vale do Sinos, destaca que a norma se deve ao fato da autarquia trabalhar com uma ideia de fazer da nova rodovia uma autoestrada, a exemplo do que é a BR-290 (Freeway).
Vinda da rodovia pode gerar incremento de até 40% no PIB local” José Renato das Chagas Prefeito de Portão
4
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Economia
Cenário empreendedor em mudança Mulheres de 20 e 22 anos estão alterando os índices de empreendedorismo no Brasil FOTOS EDUARDA MORAES
Eduarda Moraes
J
ovens, mulheres e empreendedoras. Amanda Ribas, 22, proprietária da confecção de roupas femininas Bella Bordô, Paloma Lemos, 20, dona da marca de camisas Catanzaro e Eduarda Schüling, 20, que criou a empresa Sweet Bake, estão mudando o panorama do empreendedorismo no Brasil. R e pre s e nt am u m a m i n or i a , 12,6%, de acordo com a última pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada no ano de 2015. Mas os números tendem a mudar. Entre as taxas de empreendedores iniciais (TEA) e estabelecidos (TEE), o primeiro possui maior índice de jovens, indicando um futuro aumento na segunda categoria. Outro fato positivo identificado na TEA é que a quantidade de homens e mulheres ativos é igual. Diferente do quadro geral em que homens representam 53,3% e mulheres 46,7%.
Bella Bordô Amanda, jovem empreendedora, exibe algumas peças de sua confecção
Como tudo começou
A Bella Bordô surgiu quando Amanda decidiu entrar em um curso de corte e costura, na época com 17 anos. Cursava Publicidade e Propaganda pela manhã, estagiava em uma empresa à tarde e fazia o curso técnico à noite. Com o avançar de seu conhecimento, passou a fazer o próprio vestuário. Apoiada pelos pais decidiu trocar de curso e estudar Moda. Com o fim do estágio, ela passou a se dedicar integralmente à costura, recebendo o auxílio de sua mãe, que deixou o emprego para ajudar no atelier. A jovem universitária se desdobra entre os estudos e o trabalho. “A minha faculdade de Moda é muito prática, é muita coisa para fazer em casa e essas coisas demandam tempo”, conta Amanda, que fica até tarde da noite no atelier, que funciona em sua casa. O principal objetivo agora é ter uma loja para atender seus clientes. No futuro, deseja expandir a confecção, contratar mais funcionários, dedicando-se assim, à criação, evolução e inovação da marca. A Catanzaro veio quando Paloma viu no atelier de sua mãe, que costurava para outras marcas, a oportunidade. Produziam muitas camisas e os pedidos de compra começaram a aparecer. Junto com o irmão, a jovem conseguiu convencer a mãe a criar a própria marca. Mas assim como Amanda, Paloma não tinha na moda sua primeira opção. “Fiz um semestre de música porque eu toco violino”, conta.
longo tempo entregando currículo, ela decidiu pensar em algo novo. “Tentei me imaginar como dona do meu próprio negócio, acabei optando por confeitaria.” Com a confeitaria em funcionamento há um ano e sete meses, a jovem recebe os pedidos, atualiza as redes, faz a contabilidade, além de produzir e entregar os doces. Relata que sua rotina é definida pelas encomendas “Às vezes viro a noite e as vezes tenho o dia livre.” Eduarda atribui à mãe a coragem para investir em seus sonhos e projeta transformar a Sweet Bake em uma pâtisserie, apesar de amar o home office. Além disso, pretende buscar mais conhecimento para aperfeiçoar seu trabalho e entregar maior qualidade aos clientes. Embora em seguimentos diferentes, Eduarda, Paloma e Amanda têm muito em comum. Determinação, comprometimento com seus sonhos e muito amor pelo que fazem. Os produtos das gurias são comercializados através das redes sociais Facebook, Instagram e Whatsapp de cada marca.
Por que empreender enquanto jovem
‘‘
CATANZARO Paloma Lemos mostra as camisas que criou para a marca em seu atelier
Impulsionada pelas amigas, por ter um atelier em casa, migrou de curso “Fui pra Moda e, me apaixonei pelo negócio”, exalta. Hoje o atelier conta com quatro costureiras. A jovem também gerencia as redes sociais da marca, parte importante para popularização do produto. Foi através de uma publicação no Facebook que a Dafiti, maior site de vendas da americana latina, contatou a Catanzaro. Expandir a equipe, elaborar um catálogo e profissionalizar as costureiras, são alguns dos objetivos de Paloma para ampliar a capacidade de venda de seu empreendimento.
Sweet Bake
Eduarda descobriu-se empreendedora quando teve que mudar de cidade. Com o país em crise, os altos índices de desemprego e depois de um
Erre rápido, assuma riscos e não crie seus próprios limites” Tabatha Moraes
Empresária
O temperamento agitado da juventude é um ponto positivo destacado pela professora universitária mestre em Administração, Luciana Maines da Silva. “O próprio perfil dinâmico, inquieto, mais arrojado, faz com que muitos jovens não se vejam trabalhando em empresas tradicionais.” Outro motivo para empreender até os 25 é: “Quanto mais jovem, menos riscos”. A mestre relata que, enquanto ainda se mora com os pais e não se tem muitas responsabilidades financeiras, é mais fácil arriscar. Ponto complementado por Tabatha Moraes, empresária e fundadora da rede Mulheres que Decidem. Fazendo um alerta, “mulheres que são mães ou estão em União Estável, tendem a ser mais conservadoras na hora de empreender.” Tabatha ressalta a importância de referências de sucesso e diz: “Erre rápido, assuma riscos e não crie seus próprios limites”. Mulheres que Decidem, preocupa-se com a formação de novos empreendedores, conta com o projeto Empreendedoras do Amanhã, que atua em escolas públicas, além de ajudar jovens em seus empreendimentos. Luciana deixa uma última dica: “Correr atrás do seu sonho. Fazer aquilo que gosta e se preparar para isso é uma grande realização. Dá muito trabalho, mas muito prazer.”
5
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Ciência
Parques transformam perfil do Vale Ambiente tecnológico oferece apoio para a criação e desenvolvimento e capta R$ 1,3 bi em novos negócios Thiago Gomes Borba
THIAGO Gomes BORBA
M
uita gente sabe que Novo Hamburgo é um conhecido pólo coureiro-calçadista e que São Leopoldo tem no setor metalmecânico o maior destaque industrial de sua economia. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015 a Capital Nacional do Calçado contava com cerca de 10 mil postos de trabalho no setor, enquanto a cidade vizinha empregava, aproximadamente, 8.800 pessoas nas indústrias metalúrgica e mecânica. O que poucos sabem é que o Tecnosinos, parque tecnológico vinculado a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), emprega em torno de 6 mil trabalhadores. Em seus 20 anos de existência, o parque já conta, sozinho, com quase um terço do número de postos de trabalho dos setores de referência das duas cidades somados. De acordo com o diretor do Tecnosinos, Luís Felipe Maldaner, ”hoje, dos dez maiores contribuintes de São Leopoldo, cinco estão dentro do Tecnosinos”. Junto com o Feevale Techpark, os parques movimentam em torno de 1,3 bilhão de reais. O resultado da produção neste ambiente consegue, também, impactar além de seus limites de atuação econômica. A Criatecno trabalha na área de robótica educacional. Ela desenvolveu um kit de robótica e, a partir daí, realiza atividades em escolas da rede pública, para os ensinos fundamental, médio e técnico. A empresa passou pelo processo de incubação no Feevale Techpark e hoje é residente do parque. Oliver Barth Heinemann, sócio da Criatecno, conta que “a ideia veio a partir de atividades de robótica em escolas, onde a gente percebia que eles tinham equipamentos importados para realizar essas atividades, mas não equipamentos nacionais, com algumas características interessantes para trabalhar com os jovens”. Outra consequência importante deste ambiente é a criação de tecnologias. Ainda no ensino médio, Juliana Hoch e Eduardo Rodrigues começaram a pesquisar uma forma alternativa para a produção do ácido lactobiônico, principal componente dos líquidos conservantes de órgãos para transplante. “Recebemos bolsas integrais na Unisinos em função das pesquisa que já tínhamos desenvolvido fora”, comenta Juliana. Logo em seguida, o Tecnosinos convidou-os para se juntar ao parque. A partir daí, surgiu a Vital Soluções para a Vida. A empresa ficou incubada durante seis meses e atualmente está alocada em Porto Alegre, mas os sócios continuam visitando o parque para consultorias quando necessário. Segundo a gestora do Feevale Techpark, Daniela Eckert, “indústrias focadas em pesquisa e desenvolvimento para a área da saúde, equipamentos médicos, na-
‘‘
ROBÓTICA Em parceria com a Feevale, a Criatecno ministra cursos de extensão para capacitação de professores da rede pública
notecnologia e biotecnologia são exemplos de empresas que estão sendo atraídas para a região através das ações de fomento do Feevale Techpark”.
Cooperação
A transferência do conhecimento acadêmico para as empresas é mais um fator fundamental para o sucesso do ambiente empreendedor dos parques tecnológicos. A professora da Unisinos Aurélia Adriana de Melo explica que “a transferência acontece por meio do desenvolvimento de relações de cooperação - isto é bem mais do que simples relações de parceria - entre empresas e universidades ou centros de pesquisa”. Daniela explica que, através do programa Diálogos Empresariais, o Techpark busca “estimular a interação entre a comunidade acadêmica da universidade e as empresas instaladas no Feevale Techpark e região para que possam interagir e estabelecer parcerias em ensino, pesquisa, extensão, inovação, serviços tecnológicos e transferência de tecnologia, contribuindo para o desenvolvimento de novos negócios, produtos, serviços,tecnologias”. De acordo com Aurélia, “relações de cooperação para o desenvolvimento de empresas baseadas em ciência e tecnologia vai também muito além da universidade prestar consultoria para as empresas”. Tanto a Unisinos quanto a Feevale, contam com
disciplinas e atividades curriculares que abordam o estudo de empreendedorismo. A prática colaborativa chega até as empresas e se estende para a área administrativa. Juliana Hoch comenta que “poder tirar dúvidas junto às outras empresas que já passaram por problemas semelhantes acelera o seu desenvolvimento.” Além disso, Oliver Heinemann acrescenta mais dois benefícios importantes que um parque pode oferecer: a realização de cursos de capacitação e a possibilidade de realização de eventos, tanto para o seu público de interesse quanto para parcerias com as outras instituições.
Crescimento
Maldaner complementa. “Trata-se de um processo constante e contínuo de crescimento e fomento ao empreendedorismo que resulta em novas empresas”. Apesar de reunir empresas de áreas como tecnologia da informação, engenharias, comunicação, convergência digital, saúde, biotecnologia, energias e que, por isso, não poderem ser enquadrados em um setor econômico específico, há uma característica de atuação definida nos parques: a inovação científica e tecnológica. Hoje, as unidades de Novo Hamburgo e Campo Bom do Feevale Techpark possuem 49 empresas, enquanto o Tecnosinos conta com 75. E ambas estão em processo de expansão.
Dos dez maiores contribuintes de São Leopoldo, cinco estão no Tecnosinos” Luís Felipe Maldaner Diretor do Tecnosinos
6
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Ciência
Agentes do desenvolvimento regional No Litoral Norte, produção acadêmica contribui para valorização econômica e social da região Nínive Girardi
A
groindústrias do litoral estão sendo beneficiadas por novas tecnologias para o aproveitamento integral dos alimentos. Fora da área rural, um estudo sobre transformações urbanas discute o transporte nos bairros mais populosos. Na Barra de Imbé, é traçada uma regulamentação para proteger a fauna e normatizar a pesca na região. Três ações que se enquadrariam facilmente nas atribuições de secretarias municipais, mas que estão sendo promovidas pela pesquisa científica de instituições de ensino. No Litoral Norte, a instalação de polos educacionais da rede federal tem contribuído para questões econômicas, sociais e ambientais. Um dos expoentes dessa safra de produções acadêmicas é a criação de um plástico biodegradável a partir da casca do maracujá. O projeto, do IFRS – Campus Osório, é desenvolvido com atuação direta nas comunidades de agricultura familiar da região. A professora Flávia Twardowski, coordenadora da pesquisa, explica que os resíduos agroindustriais da fruta foram transformados em um filme plástico de rápida degradação. O material é aproveitado pelos agricultores na plantação das mudas. “O benefício direto é que eles não poluem o solo, deixam de gerar resíduos. A contribuição é a produção mais limpa”, declara. Além da questão ambiental, a pesquisa leva em conta o interesse econômico. O plástico obtido promete um impacto direto no bolso dos agricultores: o material chega a ser 129,5% mais barato que o filme comum. Com foco no aproveitamento dos cultivos do Litoral Norte, o objetivo é atender as demandas dos produtores locais quanto à utilização de resíduos. Para isso, as tecnologias desenvolvidas são transferidas à comunidade em oficinas realizadas nas agroindústrias. A agricultora Maria de Lourdes Fraga da Silva é assistida pela pesquisa há dois anos. “A experiência é proveitosa não só pelo aprendizado e pelo incentivo, mas também pela divulgação do nosso trabalho”, comenta.
esses projetos, trazendo estudos consistentes para a região”, destaca. Outra instituição que promove a ciência é o campus da UFRGS em Tramandaí, implementado em 2014. O coordenador da Comissão de Pesquisa da unidade, André Baldraia, conta que, dos 31 projetos em andamento, dez são dedicados ao estudo e à promoção do desenvolvimento regional. O próprio André atua em um trabalho sobre transformações urbanas em Imbé e Tramandaí. A pesquisa dele prevê o lançamento, no segundo semestre deste ano, de um ambiente virtual de aprendizagem de Geografia para os alunos do Ensino Básico. Um segundo foco é o estudo do setor de transporte nos bairros mais populosos das duas cidades. “Posso levar para o município um modelo que seja mais eficiente e coerente. A pesquisa traz esse produto: isso chega na mão do gestor, mas também chega aos ouvidos dos alunos”, explica. O Ceclimar completa o time de instituições com produção acadêmica focada no Litoral Norte. A diretora do centro, Carla Ozório, acredita que a principal contribuição esteja no fornecimento de informações para a tomada de decisão pública. “O desenvolvimento precisa ter um olhar para as questões ambientais”, defende. Entre os trabalhos do Ceclimar, ganha destaque o projeto Botos da Barra, que estuda o animal icônico do Rio Tramandaí.
A partir do acompanhamento da fauna, o centro constrói uma regulamentação para respeitar a qualidade ambiental e garantir os direitos das famílias que dependem da pesca para obter renda.
Incentivo público
Os projetos de pesquisa acabam estabelecendo parcerias com órgãos públicos para atuar na comunidade. Na UFRGS e no IFRS, em geral, os pesquisadores não procuram as secretarias municipais para obter recursos financeiros. A relação entre os centros de ensino e a prefeitura ocorre numa esfera logística: acesso à informação e liberação de espaços. O secretário de Desenvolvimento de Osório, Rossano Teixeira, acredita que o órgão público deve ser um agente facilitador da produção científica. “O nosso papel é de proporcionar, é criar condições para que elas as desenvolvam”, argumenta. Rossano conta que já circula na secretaria o projeto de um centro tecnológico para acesso à informação. A ideia seria uma medida para fomentar a pesquisa na cidade. A professora Carla Ozório não concorda inteiramente com essa visão. Para ela, o investimento ainda é muito tímido, o que compromete a contribuição social da produção científica. “Falta apoio das instituições públicas para que a pesquisa gere um retorno mais rápido para a comunidade”, critica.
‘‘
Além da questão ambiental, a pesquisa leva em conta o interesse econômico” Nínive Girardi
Desenvolvimento regional
Ao trabalho de Flávia, somam-se outros 22 projetos do IFRS. A diretora de pesquisa do instituto, Augusta Martiarena, acredita que a inserção social seja um dos papéis da produção científica. “Temos poucos projetos genéricos, que não estejam contextualizados no litoral. Praticamente todos esses 23 estão atendendo a região”, garante. Augusta entende que, antes da instalação do Instituto Federal em Osório, em 2010, existia uma carência em pesquisas. “O IF tem um papel de estudar o Litoral Norte. Estamos conseguindo dar visibilidade a
Benefício ambiental e econômico Projeto de pesquisa aproveitou a casca do maracujá para desenvolver um plástico biodegradável
7
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Ciência
À procura de saídas sustentáveis Estudante buscam na ciência soluções para melhorar as condições do mundo em que vivemos Fabiane Kuhn / Acervo Pessoal
Stefany Rocha
Q
uem olha para a situação atual do meio em que vivemos, pode se assustar. Poluição, mudanças climáticas e escassez de recursos naturais são alguns exemplos das degradações ambientais que ameaçam o futuro do nosso planeta. Mas como encarar esses problemas e achar saídas adequadas? Vem crescendo o número de jovens estudantes que buscam na ciência formas inovadoras para superar as dificuldades ecossistêmicas e provar que as possibilidades na área da sustentabilidade são inúmeras. Este é o caso da estudante de ciência da computação Fabiane Kuhn e do estudante de engenharia elétrica Guilherme de Oliveira, que, a partir de um trabalho de conclusão do curso técnico de eletrônica da Fundação Liberato, criaram um sistema para otimização de irrigação, que reduz o desperdício de recursos hídricos e os gastos deste processo agrícola. Motivados pela vontade de ajudar a solucionar adversidades no âmbito social e ambiental, participaram de feiras científicas expondo o trabalho que recebeu premiações dentro e fora do país. Daí veio o incentivo para dar continuidade ao projeto que começou há dois anos atrás e hoje é uma empresa startup. “Apresentamos o trabalho em feiras e recebemos ideias. Aí chegou em um momento da pesquisa que percebemos que precisávamos transformar o projeto em um produto para chegar de fato no cliente, então criamos a Raks”, conta Fabiane. As feiras de ciências vêm crescendo em todo o Brasil. O objetivo delas é divulgar os projetos que estão sendo realizados pelos estudantes e mantê-los motivados a continuarem na área da pesquisa. Normalmente, as feiras contam com premiações e bolsas de estudos para os trabalhos destaques. Para a professora Teresinha Guerra, titular do Departamento de Ecologia no Instituto de Biociências e coordenadora do Núcleo de Estudos em Educação Ambiental da UFRGS, as feiras científicas são espaços que possibilitam encontrar alunos e professores empenhados na busca por soluções. Porém, ela destaca que algumas companhias acabam nutrindo um papel limitante dentro dessas exposições. “Essas empresas dominantes empregam, financiam as pesquisas para terem o domínio, mas não disponibilizam o conhecimento e nem estes novos produtos porque ainda se mantém na antiga estrutura”, ressalta. Teresinha também afirma que a preocupação das empresas em adotar comportamentos mais sustentáveis está aumentando, o que leva muitas destas instituições a criarem departamentos de meio ambiente. Um fator que contribui para esse aumento são os jovens que buscam melhorar as condições do planeta e não apenas reali-
‘‘
JOVENS PESQUISADORES Guilherme e Fabiane iniciaram a pesquisa durante o ensino médio e, dois anos depois, o projeto se tornou a Raks
zação financeira. “Eles têm a convicção de que quando se faz o que se gosta, o dinheiro vem por acréscimo”, exorta. O estudante de engenharia de produção Cássio Freitas está entre eles. Interessado em produzir um produto que tivesse um impacto ambiental positivo e que aproveitasse um material que pode ser encontrado em todo território nacional, ele conseguiu produzir uma madeira ecológica com 60% de resíduos de plásticos polietileno e 40% de serragem da pinha, que é cinco vezes mais resistente que a madeira comum e tem zero absorção de água. Desenvolvido em seu trabalho de conclusão do curso técnico em mecânica do Cetemp, o projeto Inovaeco já recebeu o prêmio de Melhor Sustentabilidade do Brasil pela Febrace e 4° lugar no prêmio Melhor Inovação do Brasil. Para Cássio, a sustentabilidade tem muito o que ser explorada. Ele ressaltou que na escola os trabalhos relacionados à sustentabilidade são poucos, mas que nas grandes feiras científicas há muitos projetos transformadores. “São necessárias pessoas inovadoras para conseguirmos avançar nas questões ambientais”, afirma ele.
Espaços para pesquisadores
Outros meios de apoio a estudantes que estão realizando pesquisas são os institutos e movimentos que proporcionam acompanhamento, espaço físico e palestras
para os estudantes pesquisadores. Um desses movimentos é o ZisPOA, a primeira zona de inovação sustentável da América Latina. Dentro dele, há um setor de acompanhamento voltado para dentro das universidades, o Zuni. “Procuramos professores e alunos que estejam dispostos a trabalhar com inovação sustentável e desenvolvemos juntos as ideias”, explica Roberta Panozzo, que trabalha em atividades no projeto. O Instituto Soleil de Pesquisa, o Inspe, também ajuda no desenvolvimento e apóia financeiramente pesquisas que tenham retorno significativo para a sociedade. Cleiton Chiarel trabalha no instituto e conta que o grupo busca incentivar trabalhos que contribuam com o desenvolvimento sustentável. “Trabalhamos com uma série de profissionais que tem como objetivo impactar positivamente o meio em que vivem, a evolução de suas ações é muito importante e encorajamos esta iniciativa”, relata ele. Os estudantes que hoje estão pesquisando soluções nesta área, estão contribuindo para um mundo de mudanças e uma vida mais equilibrada no futuro. É importante instigar e, como destaca a professora Teresinha, acreditar nestes jovens que estão a serviço da sustentabilidade. “Este é o momento de ter esperança e confiança. Estes jovens engajados estão quase prontos para assumirem posições importantes e com novas atitudes”, conclui.
Nas grandes feiras científicas há muitos projetos transformadores” Cássio Freitas
Estudante
8
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Meio Ambiente
Taquari combate o aedes aegypti Três focos do transmissor dos vírus da dengue, zika vírus e chikungunya foram encontrados na cidade Juliano Kern
Murilo Dannenberg
O
s resultados do último Levantamento de Índices Rápido (Lira) foram divulgados no dia 3 de maio, após análise pela 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), de Lajeado. A pesquisa, que busca identificar focos de aedes aegypti, foi realizada pelos agentes de campo da Secretaria da Saúde e Meio Ambiente e abrangeu todos os bairros do município, que tem 27 mil habitantes. As visitas aconteceram no início do mês de abril. Os locais onde foram encontradas as larvas do mosquito representam um sinal de atenção para a população. Das 23 amostras recolhidas, três de aedes foram encontradas em bairros que estão entre os maiores da cidade: duas no Coqueiros e uma no Centro. Desse modo, a Coordenadoria continua classificando o município como infestado. O próximo Lira será feito no último trimestre do ano, em outubro. Conforme a agente de campo, Cláudia Helena da Silva, todas as amostras que apresentaram o mosquito foram colhetadas em residências, o que reforça o alerta aos moradores. “Em dois dos três casos, a amostra foi recolhida em material despojado de forma inadequada no ambiente, no caso, um pote plástico e um tonel abandonado”, explicou. A outra foi identificada em uma piscina. A profissional informou que o tra-
FOCOS Agentes de campo recolhem amostras das larvas em residências do município
balho da equipe segue nos próximos meses, com vistorias em locais considerados de risco e com campanhas de conscientização junto à população. Segundo ela, “dada a realidade financeira do município, a colaboração da população é fundamental para o sucesso no combate”, salientou. Ela também reiterou que um dos focos do Lira é reforçar medidas de prevenção, que muitas vezes são esquecidas pelos moradores. “As pessoas deixam
aglomerar material e esquecem que a água acumula em qualquer superfície que não tenha escoamento”, alertou Cláudia. A agente de campo recomenda que itens, como os quais continham o inseto, sejam depositados em locais fechados sempre que possível. Se inviável, deve ser colocada areia na superfície, ou ser dado um outro destino ao objeto. A moradora do bairro Coqueiros, Rosane da Rosa, 55 anos, explicou como tenta proteger sua residência
dos riscos do aedes. “Evito deixar coisas pelo pátio, os vasos de plantas aqui são de um formato que não acumulam água e quase diariamente eu ligo o motor da piscina, para a água circular”, contou a aposentada. O monitoramento sanitário é feito em intervalos de seis meses, e busca erradicar completamente os focos do mosquito. Atualmente, Taquari é considerada infestada pelo aedes aegypti, segundo a CRS. Tal identificação vem desde o ano passado, quando o Lira identificou seis pontos com a presença da espécie. Além do número de focos, o principal fator nessa classificação é se os mesmos estão dentro do próprio raio de risco, que são de 300m². Para sair dessa situação, a cidade deve erradicar completamente o mosquito. A CRS recomenda a frequência dos levantamentos assim como reforço na atenção contra a proliferação do aedes. A maioria da população acredita que em período de baixa temperatura os mosquitos não conseguem se reproduzir. Tal crença se mostra equivocada, pois é cada vez maior o número de insetos adaptado ao frio. Mas apenas os espécimes que suportam as temperaturas o ano todo conseguem sobreviver na região. Nessa última pesquisa foram visitados 1.180 locais e recolhidas 28 amostras, que, com exceção das três mencionadas, são de espécies que não oferecem risco de transmissão de doenças.
Muro de escola de Gravataí receberá horta comunitária
Iniciativa busca parcerias para manutenção de praças
Projeto de castração animal está na Câmara Municipal
A Escola Estadual Etelvina Silveira Vieira, de Gravataí (RS), criará, a partir de junho, horta suspensa nos muros do educandário. O projeto, que pretende valorizar os cuidados com a natureza, vai angariar recursos com a venda de garrafas pet, doadas pela comunidade. A horta integra o programa “Somos Todos Etelvina: Juntos pela preservação do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida”, e vai enfatizar a educação ecológica às 130 crianças matriculadas, do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental. As professoras Andressa Loete Gatino e Maria Isabel Pereira da Silva aprimoraram a proposta, que buscou o envolvimento da comunidade local na rotina do processo, com atividades e eventos voltados aos familiares dos alunos. De acordo com Andressa, esse é um projeto de longo prazo. “Provavelmente, não veremos resultados impactantes agora, mas no futuro, com certeza”, diz. A horta é a maior expectativa de todos. Nela serão cultivados pequenos vegetais, como alface, cenoura e tomate. A ideia é que os recursos angariados tornem o projeto autossustentável. “Não gostaríamos que esses recursos fossem bancados com verbas do Estado, mas pelo próprio projeto”, afirmou Maria Elisangela da Silva Justin, diretora da escola desde 2011. Oficinas de confecção e sabão, palestras e festa julina com tarefas sobre a natureza também estão no cronograma da Etelvina Silveira Vieira. | Vitorya paulo
Com o objetivo de prover a manutenção adequada de espaços públicos, a prefeitura de Osório lançou a ação Abrace Osório. A iniciativa possibilita que instituições privadas adotem praças, canteiros centrais e rótulas. O adotante será responsável pela conservação e manutenção do mobiliário de lazer, esporte e diversão. Como contrapartida, a empresa poderá divulgar a parceria com a instalação de publicidades. A necessidade de implantar o movimento surgiu para diminuir os gastos públicos após a modificação da estrutura da Petrobrás, que ocasionou a redução do ICMS municipal. O secretário de Desenvolvimento, Planejamento e Turismo, Rossano Teixeira, resgatou o plano de ação idealizado há 20 anos. “Nós temos 42 praças, a prefeitura não consegue mais fazer a manutenção”, afirmou o secretário. Para ele, a ação busca a parceria com empresas privadas para fazer uma troca. Para ser um parceiro, é necessário não ter restrições de natureza fiscal ou trabalhista e apresentar um projeto para a aprovação. O empresário Ugo Dalpiaz, proprietário dos Supermercados Dalpiaz, disse que Abrace Osório valoriza a imagem das empresas, além de despertar a empatia dos osorienses com o embelezamento da cidade. “É uma iniciativa válida. Será uma maneira da nossa empresa devolver algo à comunidade e um agradecimento pelo apoio que recebemos em Osório”, afirmou. | Caroline Tidra
Visando a aprovação do projeto que prevê a contribuição financeira do município de Imbé, litoral norte do Rio Grande do Sul, na castração de animais abandonados, a Associação Imbeense de Proteção aos Animais (AIMPA) encaminhou ao Legislativo da cidade um projeto de lei. Neste ano, a presidente da associação, Virnaalice Marciel, assumiu cadeira na Câmara Municipal. Ela é a autora do projeto de lei. Se aprovado, o município contribuirá com os gastos para as castrações, com um valor inicialmente estipulado em dez mil reais por mês. o presidente da Câmara Municipal, Leandro Candiago, salienta que, por enquanto, o único empecilho para a aprovação do projeto é o regulamento de gastos do município, perante a crise na qual o país se encontra. Atualmente, todos os gastos da AIMPA são pagos através de doações feitas por apoiadores da causa animal. Nos dois últimos meses, foram castrados 60 animais, conforme a presidente. O número ideal de animais castrados por mês deveria ser o dobro. A presidente da associação, que demonstra confiança na aprovação da lei, assinala “que até o momento todos os vereadores estão apoiando a causa animal”. Concretizado o projeto, a situação dos bichinhos vai melhorar e a quantidade de animais abandonados na cidade também. | Dandara toniolo
9
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Ciência
Autismo, em busca de respostas A falta de informação e de conhecimento dificultam o diagnóstico precoce do transtorno do espectro autista ANIELE CERUTTI
ANIELE CERUTTI
“M
amãe” é a palavra mais desejada por muitas mulheres ao se descobrirem grávida. Aproximadamente 12 meses de idade é o prazo médio aguardado para esse acontecimento. O tempo de espera de Dalila Susana Gauss Silva foi 96 meses até ouvir pela primeira vez o filho, Josué Lindomar Santana Silva, chamá-la de mamãe. Josué foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos três anos e meio. “Quando Josué tinha um ano e meio, suspeitei que tivesse alguma coisa errada. Até então, ele falava, caminhava e agia como uma criança normal” relata Dalila. Com dois anos, a criança mudou o comportamento e depois de um longo período, o diagnóstico foi dado no Hospital São Lucas da Pontifícia Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Segundo a especialista em Neuropsicopedagogia do Transtorno do Espectro Autista e membro do Comitê Científico do Instituto Autismo & Vida (IAV), Vivian Missaglia, o transtorno é relativamente novo. O TEA foi descrito em 1943, e para os diagnósticos com essa denominação um pouco tardiamente. Muitas vezes, a dificuldade está em não possuir um marcador biológico que possa confirmar 100% a caracterização do transtorno. “Para fazer a identificação precoce, temos ainda muita resistência ainda dos pediatras para realmente encaminhar a criança que tem um atraso para um especialista”, afirma. Conforme o portal da ONG Autismo e Realidade, o transtorno é uma condição geral para um grupo de desordens complexas do desenvolvimento do cérebro, antes, durante ou logo após o nascimento. Esses distúrbios se caracterizam pela dificuldade na comunicação social e comportamentos repetitivos. Hoje, atinge mais de 150 mil brasileiros por ano. As pessoas com autismo podem ter alguma forma de sensibilidade sensorial em um ou mais dos cinco sentidos. O TEA possui três níveis: leve, moderado e grave. No caso de Josué, o transtorno é moderado, com um tipo de demência e hiperatividade. Em 2007, começou a freqüentar uma clínica pública, na qual foi paciente até ser fechada pelo governo. A família descobriu que a Prefeitura de Eldorado do Sul, cidade em que moram, possuía convênio com o Centro Terapêutico e Psicopedagógico (CETEPE) em Porto Alegre. No centro terapêutico é utilizado o método TEACCH, que foi desenvolvido nos anos 1970 nos Estados Unidos. O TEACCH se baseia na adaptação do ambiente para facilitar a compreensão da criança em relação ao meio. Josué faz
‘‘
DIAGNÓSTICO O transtorno do espectro autista é identificado através de diversos testes, exames clínicos e psiquiátricos
musicoterapia, terapeuta funcional, Educação Física e treina tomar banho. Precisa seguir sempre uma rotina específica, senão se desestabiliza e sente-se perdido. “Tem que fazer tudo igual, senão ele se desorganiza e não sabe mais o que vai acontecer. Já está tudo montado na cabeça dele. Se algo não acontece, ele fica muito agitado, surta, fica irritado”, completa a mãe. Um método utilizado no exterior é o Jasper, que foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Califórnia (EUA). Em 2014, iniciaram um experimento para avaliar como o tratamento funcionaria em salas de aula, ministrado por assistentes de ensino treinados e supervisionados por terapeutas profissionais. Outros tratamentos desenvolvidos são o Applied Behavior Analysis (ABA) e Picture Exchange Communication System (PECS). O primeiro, originário de uma linha de tratamento chamada terapia comportamental, usada para reduzir os comportamentos inadequados e aumentar os desejados por meio de recompensas. O segundo é um método de comunicação alternativa para os indivíduos que não conseguem falar, mas apontam para figuras como forma de conversação. Há também uma técnica que pode ser utilizada por pais e pessoas envolvidas com autista chamada de Rapport, que consiste em criar uma ligação de empatia
com outra pessoa. “É uma forma de nos aproximarmos do mundo do outro, é algo que já praticamos de forma inconsciente, tendemos a falar mais tecnicamente com quem fala mais tecnicamente e mais informalmente com quem assim se comunica sem mesmo nos dar conta disso”, explica a psicóloga e master practitioner em PNL, Michelle Pajak. Tratamentos como equoterapia, estudo da linguagem, reformulação de dietas são meios encontrados para conseguir uma espécie de interação com o autista. Entretanto, não há técnicas e práticas gratuitas disponibilizadas pelo Governo do Rio Grande do Sul. Ao ser questionada como é a vida convivendo com um filho autista, Dalila desabafa: “É uma caixinha de surpresa, há dias que ele está muito bem, outros não. A questão social ainda está sendo trabalhada, a parte cognitiva está melhor. Hoje ele é mais carinhoso, olha no olho”. Lidar com o preconceito das pessoas e os julgamentos é a tarefa mais difícil para mãe e não as dificuldades para encontrar tratamentos e auxílio do governo “Sabemos o que fazer quando Josué surta. Conseguimos agir e entendemos a forma com que ele se comporta. Mas para quem está em volta não adianta explicar. As pessoas olham torto para ele”, lamenta.
Não há provas de marco biológico que determine se o indivíduo possui a doença” Vivian Missaglia
Especialista em Neuropsicopedagogia
10
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Ciência
As histórias das comidas funcionais
‘‘
Alimentos com capacidade nutricional acima do normal marcam o início de um novo ciclo alimentar zotti, fundadora da empresa Prolight, que trabalha desde 2014 na fabricação e venda de alimentos funcionais. “As pessoas também buscam praticidade”, acrescenta Bárbara, que possui a Comidinhas a seis meses e tem uma média de 40 clientes por dia. “Dá muito trabalho lavar tudo, higienizar, cortar. As pessoas vêem que o produto é de qualidade e fresquinho, feito na hora”. Mesmo a venda de refeições prontas estar em alta, grande parte do mercado também vem da venda de industrializados. Esses alimentos são os mais regulamentados pela Anvisa, necessitando de pesquisa científica para sua comprovação nutricional. Tais pesquisas podem vir de um pedido direto da indústria ou de laboratórios independentes, como o Laboratório de Desenvolvimento de Alimentos Funcionais, em São Paulo. “Nosso foco é a pesquisa de alimentos funcionais para prevenção de doenças cardiovasculares, utilizando principalmente o Ômega 3, Esteróis Vegetais e
Luiza Dellegrave relata que “as pesquisas são realizadas normalmente om vários potes descartáveis através da aplicação dos compostos que refrigerados, Bárbara Basler, são presentes nos alimentos como, por estudante de nutrição, sai com exemplo, antocianinas (presentes na uva), seu carro para fazer as entregas isoflavonas (soja), catequinas (chá verde), da manhã. A maioria dos clientes havia bem como outros compostos que já foram pedido uma salada leve que fosse um café identificados em um grupo de pessoas saudável para aquele dia que começava. para saber o que alterou/melhorou, comBárbara é uma das donas da empresa parando a outro grupo que não recebeu Comidinhas, que faz entrega de lanches os compostos”. funcionais em Gravataí. “Os clientes proJá Inar diz que a identificação de curam porque as pessoas, cada vez mais, um dos benefícios cardiovasculares das além de estética, estão preocupadas prinantocianinas veio ao observar que pessoas cipalmente com a saúde”, diz Bárbara. que viviam em alguns países europeus, Alimentos funcionais podem ser como França, tinham menos propensão descritos como comidas que trazem bea esse tipo de doença mesmo sua dieta nefícios à saúde além de sua capacidade sendo baseada em várias gorduras. Foi, nutricional básica. “[Eles] caracterizam-se então, visto que isso se devia ao consumo por oferecerem vários benefícios à saúde, de bebidas derivadas da uva. podendo desempenhar um papel potenAntioxidantes presentes principalmente A nutricionista Luiza relata que cialmente benéfico na redução do risco na uva”, diz Inar Castro, coordenadora “os pacientes procuram para auxiliar de doenças crônicas degenerativas, como do LADAF e professora pela USP. Ela na melhora, principalmente, de exames câncer e diabetes, dentre outras”, define afirma que o laboratório faz pesquisas laboratoriais e de sintomas que podem a nutricionista especializada em alimenindependentes da indústria. ser tratados através de uma alimentação tação esportiva funciona, saudável”. Esses alimentos Bárbara Basler / Acervo Pessoal Luiza Dellegrave. vêm sendo recomendados Alimentos que têm por diversos profissionais alta capacidade nutritiva da saúde e utilizados por e usados para fins de saúdiversas pessoas. de existem há centenas de Com 54% de sua poanos, mas o teor funcional pulação com sobrepeso, surgiu pela primeira vez em segundo dados do Minis1933, quando o Japão criou tério da Saúde, em março o termo FOSHU (Food for de 2017 o Brasil estipulou Specific Health Use), que três metas para combater em tradução literal signiesse problema: deter o fica “Alimentos para Uso crescimento da obesidade Específico de Saúde”. na população adulta, que Os japoneses também agora é de 20%, até 2019; foram os primeiros a criar reduzir em 30% o consuregras específicas para esse mo de refrigerantes e sutipo de comida. No Brasil, cos artificiais; e reduzir em as regras só foram criadas 17,8% o consumo de frutas em 1998, quando a Agêne hortaliças. Mesmo a obecia Nacional de Vigilância sidade tendo aumentado Sanitária (Anvisa) os classiem 16% até 2015, também ficou como “alimentos com houve aumento em 23,5% alegações de propriedades no consumo de frutos e funcionais e ou de saúde”. hortaliças e de 15,7% na Dentre as regras em vigor, atividade física. existe a descrição e o alerA população está mais ta de alimento funcional consciente do saudável e na embalagem desde que disposta a mudar seus hábinão contenha promessa tos, deixando as metas posde tratamento ou cura de síveis de alcançar dentro do doenças. tempo estipulado. Sendo A partir da regulaconsumidor ou vendedor, mentação, o mercado de os alimentos funcionais alimentação funcional foi estão apenas começando um dos que mais cresceu. sua caminhada dentro do “Ele já vinha crescendo, universo nutricional. Bármas hoje percebo que não é bara complementa: “além uma questão de modismo, de saudável, fica gostosa e é uma realidade no qual a pessoa tem a comodidaas pessoas entenderam a de de receber no trabalho”. importância desse tipo de Não há mais desculpas para alimentação”, diz Carla Ba- SAÚDE Novas opções de refeições saudáveis, como as ofertadas por Bárbara, dão mais possibilidades aos consumidores não ser saudável.
CAREN RODRIGUES
C
Ministério da Saúde estipulou metas para combater sobrepeso brasileiro”
11
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Geral
Qualidade de vida em um caminho Lenta obra de acesso asfáltico complica vida de moradores e desenvolvimento de Caraá, no Litoral Norte Bolívar Gomes
BOLÍVAR GOMES
Q
uem vai a Caraá, município da nascente do Rio dos Sinos, pode notar que a qualidade de vida dos moradores poderia ser melhor. A obra de oito quilômetros seria rápida, mas inúmeras paralisações colocam medo em quem foi prejudicado pela lentidão da construção. Antônio e Elza Gomes eram proprietários do último comércio existente na localidade de Morro da Laje, bairro que fica às margens da ERS-030 AM-10 que liga Caraá com Santo Antônio da Patrulha. O minimercado Gomes atendia a região, mas fechou em 2015 com um dos motivos mais fortes a quantidade incontrolável de poeira, segundo o proprietário. Dona Elza afirma que limpava todo o prédio diariamente e, mesmo com a porta fechada, o acúmulo de pó era visível para quem chegasse no ambiente sempre receptível com o bom papo de seu “Tona”, como é conhecido. Darlete Tedesco é professora, faz o trajeto todos os dias e afirma que quem passa pela rota sofre com a má conservação. “Há 17 anos moro em Santo Antônio e uso a estrada para ir ao meu trabalho”. Ela afirma ter prejuízos com pneu, desgaste de carro e até mesmo cansaço, pelo estresse com os buracos e a piora em dias de chuva. Ela revela que outros passam por situações semelhantes ou até piores. Quem empreende no município encontra dificuldades. Magdiel Santos é empresário e morador de Caraá, onde gerenciou um posto de gasolina por 11 anos. Segundo ele, tudo é mais complicado. “O frete era mais caro em relação ao de Santo Antônio. Hoje, ninguém quer entrar de carreta no Caraá”. Ele compreende a falta de vontade de quem entrega o produto. “Não tem como trafegar com equipamento grande naquela estrada”.
A poeira
O grande estopim veio em 2012. A paralisação com a base da rodovia, o piche recém colocado e a intensa quantidade de carros que trafegam fez com que o produto se misturasse com o solo. Em poucos meses, a estrada ficou deplorável, com pedras soltas e uma “poeira preta”, como definem os moradores. O pó acabou gerando problemas de saúde em quem vive nas margens da via. É o que afirma Ana Suzete Cadorin. Seu caso piorou com a poeira era inalada. “Não só eu, muitos que moram na beira desta estrada têm problemas respiratórios como renite e sinusite”. A moradora afirma que melhorou quando a base foi refeita, mas teme a última paralisação. “Antes não dava mais para respirar, cau-
‘‘
ATRASO Entre agosto e dezembro de 2016, máquinas refizeram a base para a colocação de asfalto, o que acabou não acontecendo
sou até sangramento no nariz”, lamenta. Com a retomada das obras em agosto de 2016, foi construída uma nova base em mais de um quilômetro de onde havia a “poeira preta” e o problema foi amenizado. Moradores como Nelson e Nerita Oliveira comemoram que conseguem abrir a casa tranquilamente. “Aquele milho, que plantamos ali na frente – apontando para a plantação - não dava pra ter. Tomara que Deus ajude e continue (a obra) ”, disse dona Nerita.
Mobilização respeitada
Em 2013, após um chamado à uma audiência pública na Câmara dos Vereadores de Caraá com o DAER e uma paralisação proposta por moradores de uma localidade patrulhense que também fica na beira da estrada, foi organizado o Movimento Asfalto Caraá-SAP, que conta com 1,6 mil adeptos no Facebook. A mobilização passou a atuar em audiências e faz pressão nos agentes políticos, estando em inúmeras vezes em Porto Alegre tratando do tema com o Governo do Estado e deputados em busca de apoio e respostas. Uma delas foi respondida pelo Secretário Pedro Westphalen, esclarecendo que a verba licitada na gestão de Yeda Crusius foi colocada no Caixa Único do Estado no governo Tarso.
Entenda a “novela” 1957 – Governador Ildo Meneghetti projetou a obra. 1995 – Caraá é emancipado de Santo Antônio da Patrulha. 1997 – É feita a licitação pelo Governo Estadual. 1999 – Paralisada a obra, com a retirada de materiais. 2009 – Novo processo licitatório. 2010 – Reinício das obras. 2011 – Paralisação no começo do ano, retomada em agosto. 2012 – Após cerca de 2 km de terraplanagem, base e aplicação do insumo (piche) em 1 km, mais uma paralisação, desta vez em maio. 2013 – Audiência Pública na Câmara de Vereadores que originou o Movimento Asfalto Caraá – SAP. Paralisação da via nos dois municípios duas vezes. Em junho, houve a primeira de uma série de visitas ao DAER. 2014 – Anúncio da retomada em março. Sem máquinas no trecho, em junho o secretário de Infraestrutura e Logística do Estado, João Victor Domingues, anuncia a retomada das obras. A obra parou em outubro. 2015 – Mais audiências públicas. Uma na Casa Civil, com o governador José Ivo Sartori, marcada pela sondagem do que seria a solução: recursos da CIDE, imposto sobre a gasolina; 2016 – Continuaram as reuniões com o poder público. Obra foi retomada em agosto e interrompida em dezembro. 2017 – Foram feitos apenas alguns reparos. Em março o maquinário voltou e ficou por menos de uma semana, sob a alegação de reparos nas máquinas e falta de piche. A comunidade está mobilizada, continuando seu caminho de cidadania e perseverança.
Muitos que moram na beira desta estrada têm problemas respiratórios como renite e sinusite” Ana Suzete Cadorin Moradora
12
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Geral
Praça do CEU movimenta Sapucaia O Centro de Arte e Esporte Unificado oferece atividades culturais e esportivas gratuitamente Mariana Sperb GrosS
Mariana Sperb GrosS
O
Centro de Arte e Esporte Unificado (CEU), mais conhecido por “Praça do CEU”, está direcionando centenas de pessoas a ações solidárias. O projeto tem gestão compartilhada entre a Prefeitura Municipal de Sapucaia do Sul e o Governo Federal. A escolha do bairro Vargas levou em consideração a inclusão social em regiões de vulnerabilidade, objetivo norteador da proposta. O público alvo do Centro é a comunidade da região, porém, moradores de bairros não prioritários também podem se inscrever nas atividades, conforme a abertura de vagas. Mesmo não oficialmente inaugurado devido à falta de equipamentos, o CEU já iniciou suas atividades e atrai moradores que utilizam os espaços disponíveis ao ar livre para tomar chimarrão, conversar e praticar atividades físicas. O programa conta com aproximadamente 400 alunos matriculados nas oficinas, integrando crianças, adultos e idosos. Até o momento, são 17 professores, em sua maioria voluntários, que ministram 17 oficinas, incluindo artesanato, ballet clássico, cachepô, capoeira, costura, crochê, cultura urbana (hip hop), dança de rua, desenho, escotismo, ginástica laboral, violão, teatro, tricô, pintura em tecido, zumba e outros ritmos. “Esse mundo era desconhecido para muitas crianças”, enfatiza a professora voluntária
LAZER Espaço ao ar livre reúne comunidade em atividades esportivas e culturais
da oficina de ballet, Adriana da Silva, 51, ao destacar que muitas famílias ficaram felizes pela oportunidade de colocarem suas filhas em atividades que elas não te-
riam condições financeiras de participar. Além das oficinas oferecidas, o CEU tem parceria com a Guarda Municipal e com o Centro de Referência da Assistên-
cia Social (CRAS). A colaboração com a Guarda surgiu como uma necessidade para aumentar a segurança local, o que motivou a execução de projetos educacionais com as crianças, na praça do CEU, voltados para ações sociais, educação no trânsito, música, noções de cidadania e preservação do patrimônio público. Já a parceria com o CRAS foi planejada tanto para a prestação de serviços à comunidade, quanto ao acolhimento social, acompanhamento familiar, passe livre, encaminhamento de documentos civis, visita domiciliar, serviço de convivência e inclusão, e atualização no Cadastro Único. De acordo com o morador do bairro e gestor da praça, Guido Bizarro, 57, a comunidade, através do Centro Unificado, “está compreendendo que cultura e esporte são elementos essenciais para as pessoas”. Segundo ele, o CEU recebe críticas por estar ocupando o espaço de um possível posto de saúde. Ainda assim serão implementados, na praça, espaços destinados ao cinema, biblioteca e oficinas de esporte. O Centro planeja, futuramente, expandir as oficinas, incentivando as crianças a estudarem ainda mais. Interessados em conhecer o Centro de Arte e Esporte Unificado podem entrar em contato pelo e-mail contatopracaceu@gmail.com ou pelo telefone 51 3450-4180. A Praça está localizada na Avenida Valdemiro Machado, 158-206.
Apesar da crise financeira turismo cresce em Gramado
Unisinos proporciona 12 programas de Intercâmbio
Esteio desenvolve projeto Casa da Cultura hip hop
Em meio a um panorama de crise, Gramado tem superado o atual momento econômico e impulsionado o turismo local. Grandes eventos e feiras, aliados à beleza das paisagens e atrativos naturais, são fatores que contribuem para o sucesso do município. A cidade desenvolveu uma ampla infraestrutura receptiva e uma forte vocação para o turismo, o que a levou ser eleita como o melhor destino turístico do país em 2015 pelos usuários do site de viagens TripAdvisor. A crise, causada pelo aumento do dólar, alterou as intenções de viagens dos brasileiros ao exterior. Levantamento feito pelo Ministério do Turismo mostrou que 78% dos brasileiros que desejam viajar preferem um destino nacional a um estrangeiro. Diante desse quadro, Gramado segue recebendo turistas de todo Brasil. Nos últimos feriados de Páscoa e do Dia do Trabalhador, a rede hoteleira registrou índices de cerca de 90% de ocupação, de acordo com o Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares e Similares da Região das Hortênsias. A Secretaria de Turismo do município destaca que o sucesso de Gramado se deve à realização e captação de eventos e à criação de roteiros para diversos públicos. “Junto com a autarquia municipal GramadoTur desenvolvemos diversas parcerias para divulgar o nome da cidade. Nossa meta é mostrar o turismo de qualidade que construímos”, afirma a turismóloga da Prefeitura de Gramado, Bárbara Konrath. | Martina Belotto
A Universidade tem, hoje, 12 editais divulgados para intercâmbios, entres eles o da Mobilidade Unisinos, com duração de até dois semestres e o das Bolsas Ibero-Americanas Santander, que oferece bolsas-auxílio. As atividades podem ser desenvolvidas por alunos e professores em universidades estrangeiras por períodos de curta, média e longa duração Entre 2015 e 2016, os graduandos em Direito, Gabriel Faleiro e Natália Boeira, estudaram em Coimbra. Gabriel reiterou que a Universidade portuguesa é referência no curso de Direito e tem uma história quase milenar. “Ter estudado lá e aprender sobre direito europeu é algo que agrega muito ao currículo”, frisou. Natália garantiu que esse tipo de experiência precisa ser aproveitado ao máximo. “Não há dúvidas de que para chamar a atenção do empregador é necessário oferecer um diferencial e, o meu, é a Universidade de Coimbra”. Formulário de inscrição e passaporte são solicitações importantes, especialmente para programas de longa duração. Após o envio dos documentos é realizada seleção conforme coeficiente de rendimento, e então, deve-se aguardar a carta de aceite para iniciar os trâmites dos encaminhamentos para a viagem. Os editais estão disponíveis no site da universidade e dúvidas podem ser sanadas pelo e-mail mobilidade@unisinos.br. | Bibiana Faleiro
Hip hop não é apenas um gênero musical e pouca gente sabe disso. Para preencher essa lacuna, nasceu a Casa da Cultura Hip Hop de Esteio. O projeto, que está em fase de desenvolvimento, abrirá as portas no segundo semestre de 2017. A Casa será um centro cultural com diversos espaços para troca de saberes, dentre eles, oficinas de Deejay, Emcee, Escrita Graffiti e Breaking, além de um Centro de Inclusão Digital, estúdio de gravação, espaço para coworking, quadra poliesportiva e biblioteca. A Casa foi idealizada pela Associação da Cultura Hip Hop de Esteio e por seus integrantes Geovane Neves da Silva, Alan da Silva Bitello, Rafael Diogo dos Santos, Suzane Rodrigues Cardoso e Paulo Roberto de Oliveira Barboza. A ideia nasceu para suprir a necessidade de um centro cultural que fosse plural e abordasse o hip hop como arte e impacto social por meio da música, dança, moda, cinema e teatro. A iniciativa busca o desenvolvimento integral da pessoa humana, a prevenção das situações de risco, o fortalecimento do vínculo familiar e comunitário, bem como a valorização da importância da arte e da cultura. Serão 15 profissionais dispostos a atender jovens de 15 a 18 anos em situação de vulnerabilidade social. O projeto é independente e precisa de doações. Para mais informações sobre o projeto e possíveis doações, contate Geovane Neves pelo e-mail achesteio@gmail.com ou pelo telefone: 051 984 776 911. | Laura Hahner Nienow
13
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Educação
vídeo aulas como geradores do futuro Curso dá chance aos alunos de estudar conteúdos do Ensino Médio de forma gratuita com qualidade ARQUIVO PESSOAL
MARIA CAROLINA DE MELO
O
Rei Arthur da Grã-Bretanha talvez nunca tenha existido segundo os historiadores. Mas acredita-se que o poderoso nome evoca sabedoria, justiça e igualdade. Em Cachoeirinha, o acadêmico de Direito Arthur Becker, 18 anos, carrega a força deste nome e desperta na família o orgulho de ter sido o primeiro a entrar numa universidade federal, em 2016, estudando apenas em casa. Mesmo que um Arthur seja Rei e o outro estudante, eles têm algumas semelhanças: ambos triunfaram no que atuaram e tinham o desejo de proporcionar às suas famílias um futuro melhor. A primeira batalha do aluno foi passar por um Ensino Médio precário, realidade da maioria dos brasileiros. “Eu estudei num colégio público conhecido por ter pessoas de má índole, além de ser muito ruim em infraestrutura”, expôs. Na contramão de muitos que culpam a instituição pelo andamento do aluno, Arthur acredita na vontade pessoal. “Mesmo que a escola não tenha sido muito boa, eu sempre me interessei bastante por história e português, sendo que desde novo eu já escrevia e lia muito”. E, a partir do 3º ano, como o Rei, ele só focou em uma meta: garantir a entrada no curso de Direito da UFRGS, que teve 17 concorrentes por vaga. O método de estudo do futuro advogado diverge dos demais processos usados por outros para entrar no Ensino Superior. “Um cursinho pré-vestibular é bem dispensável quando se tem uma rotina de estudos, e também não vejo muita diferença em ter um professor próximo”, explica. A forma como traçou as prioridades na preparação é um exemplo aos que querem ingressar na universidade federal ou precisam de uma bolsa de estudos na rede privada. Mas, ao definir onde estudar, o próprio Arthur não se considera referência. “Enquanto eu estudava, às vezes havia pessoas falando e música ao meu redor, pois não há muito espaço por aqui”, lembrou. Porém, ele mesmo justifica como conseguia: “Se estou focado não tenho problemas mesmo que eu ainda escolha um lugar menos caótico, como a cozinha”.
(A)postando no YouTube
‘‘
OBJETIVO O foco de Arthur é ganhar espaço dentro da profissão e fazer contatos
aos poucos passei para as mais complicadas”, detalhou. “Por mais que eu tivesse alguns livros de simulados, com a internet a disposição, eles não eram tão necessários”. E, a partir deste meio, descobriu um dos gêneros que mais crescem: as vídeo aulas. Todo o esforço não foi suficiente para o ENEM. “Depois do meu desempenho ruim, regrei os horários de estudo”, explicou. Após três meses, veio à surpresa por um amigo. “Meu nome não estava MARIA CAROLINA DE MELO
O canal ajuda quem quer e precisa de mais possibilidades” Ibirá Costa
Professor de literatura
A ascensão de Arthur
O 10º curso mais disputado da UFRGS exigiu que Arthur desse o melhor de si de segunda a sexta-feira, cinco horas por dia. Além disso, no período da escola e às vezes no sábado, quando não tinha nada para fazer, mas “Domingo, nunca”, recordou. “Comecei estudando as que julgo fáceis para que tudo começasse leve, e
para o primeiro semestre, então pensei que nem tinha mais chances, até que viram e me falaram”. Assim, o futuro advogado venceu a sua batalha, e como o seu xará, cumpriu o dever imposto a si.
ESTILO Na sala ou em frente à câmera, Ibirá ensina em meio a piadas e explicações
Se de um lado Arthur acompanhava vídeo aulas, quem estava atrás das câmeras não eram apenas professores vindos das salas, mas pessoas que buscam a equidade na educação do país. É notório aos olhos de quem entra na pequena sala do grupo AulaDe, canal do gênero criado em 2013, os frutos deste sonho: a placa de 100 mil inscritos recebida em 2015. No início, as gravações eram feitas na garagem do pai da coordenadora Karina Leira. “Investimos com o nosso próprio dinheiro, era difícil, mas a nossa vontade de dispor um Ensino Médio gratuito era maior”, expressou Karina. Começar na garagem como uma banda deu sorte ao canal. Afinal, alunos de Ensino Médio e pré-vestibulares de norte a sul do país conhecem – e surtam, quando encontram seus “ídolos”. O professor de Literatura Ibirá Costa relembra que em férias no Ceará com a esposa, duas alunas o encontraram para dar um abraço. No mesmo período, Ibirá recorda outro encontro com um fã. “Fiz um voo duplo de parapente e depois um menino me mostrou as fotos. Questionei quanto custava e se professor tinha desconto, acabei pagando menos pois ajudei ele numa prova”, divertiu-se. “O AulaDe nasceu para isto: ajudar quem quer e precisa de mais possibilidades”, contextualizou. Estes alunos, que também expõe o carinho pelas redes sociais, antes tinham poucas chances de adequarem-se às tantas competências que o ENEM avalia. O teste, que foi prestado em 2016 por 5.848.619 pessoas, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, é o que mais abre portas aos que querem estar nas Universidades Federais ou Privadas. Neste ano, o Ministério da Educação já divulgou algumas mudanças, entre elas a aplicação da prova em dois finais de semana, não mais em um. O professor de literatura questiona. “E os alunos que precisam se deslocar para fazer a prova?”. Mesmo que mudanças aconteçam, haverá sempre dentro de uma sala branca com adesivos coloridos nas paredes, professores lutando pelo futuro com dedicação e diversão, garantiu o coordenador administrativo Vinícius Costa. “O AulaDe é um caminho democrático para a educação de qualidade, mas, vale lembrar que não são só provas que formam o cidadão”, provocou.
14
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Educação
Corte de verbas complica escola canelense Diminuição de verbas ameaça oferta de almoço para 800 alunos de famílias de baixa renda Luana Ferreira
Luana Ferreira
A
falta de repasse de recursos federais à Escola Estadual de Educação Básica Neusa Mari Pacheco, de Canela, pode deixar 800 dos seus 1.147 alunos sem almoço. As refeições, servidas a escolares de famílias de baixa renda, consomem R$ 5 mil por dia. O quadro é semelhante ao de 2016, quando o estado contribuiu com 44% para a manutenção do projeto. Os outros 56% foram gerados por recursos próprios oriundos da comunidade escolar. A representante da 4a Coordenadoria de Educação, Renata Mesquita, informou que não há previsão para o pagamento total dos valores. “Não se trata de um fato isolado. Muitas escolas estão passando pelas mesmas dificuldades. Estamos trabalhando para pagar os valores em aberto, mas não podemos dar maiores garantias”, assinalou. Desde o início do ano letivo a comunidade escolar vem buscando recursos junto aos pais, professores e simpatizantes do projeto para manter as atividades extracurriculares – aulas de natação e o almoço. Muitas são as ações para amenizar os impactos sofridos pela escola, dentre elas, contribuições espontâneas dos pais, “ações entre amigos” rifas e sorteios, iniciativas culturais promovidas pelos alunos.
RESULTADO A introdução do turno integral na Escola Básica Neusa Maria Pacheco e a oferta de almoço diminuiu a violência no bairro
A escola está implantando equipamento de energia solar para diminuir os custos de energia e busca ampliar as parcerias com empresas e instituições com o intuito de amenizar a situação. Em momentos como esse, frisou o diretor da escola, Márcio Gallas Boelter, é preciso ser positivo e proativo, mobilizar professores, funcionários, pais e alunos a se envolver nas ações que visam minimizar a falta de verbas. A escola está inserida numa região
que abriga famílias de baixa renda. Muitas crianças dependem da oferta de almoço por parte da escola. “Tenho três filhos e não sei como seria nossa vida se não tivesse almoço na escola. Sempre que posso eu ajudo. Sei que, sem isso, muitas crianças não terão onde comer”, disse Carla Moreira. “Mais de 90% dos pais contribuem e isso motiva o grupo escolar a buscar novas alternativas”, informou o diretor. A escola também conta com um
Centro Agrícola, uma extensão do projeto, que fornece 40% dos alimentos consumidos nas refeições diárias. Para que esse recurso seja possível, os alunos trabalham na produção agrícola. Com a implantação do turno integral na escola e a oferta do almoço houve diminuição de 70% do índice de criminalidade no bairro. A queda deve-se, segundo aos pais, ao fato de as crianças passaram a maior parte do período do dia na escola.
Jovens de Viamão participam de ações de saúde preventiva
Feira do Livro de Canoas homenageará Ziraldo
Um pouco de aprendizado e muitas lições de vida
A Secretaria Municipal de Educação (SME), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do município de Viamão, lançou, no dia 4 de maio, o projeto “Galera Curtição”, que abrange 60 escolas da rede pública, 37 municipais e 23 estaduais, reunindo cerca de seis mil alunos. Um dos motivos que levaram à implantação do projeto é o fato de a cidade ocupar o sexto lugar no ranking estadual de incidência de Aids, atingindo 61,2 casos a cada 100 mil habitantes. Segundo a coordenadora dos programas, projetos e eventos da SME, Carina Appel, o foco principal do programa é informar jovens sobre a prevenção e orientação sexual, além de direcioná-los sobre problemas das drogas e violência de todo tipo. O índice notificado de Aids no município, de jovens entre 15 e 24 anos, é de 27 casos para cada 100 mil habitantes, segundo dados do Ministério da Saúde. “A importância de trabalhar sobre esses assuntos é que Viamão está entre os 15 municípios com mais casos de AIDS no Rio Grande do Sul. Queremos que esses indicadores diminuam entre os jovens”, disse a coordenadora da Política de HIV/Aids em Viamão, Maria Letícia Ikeda. O projeto quer educar de forma inovadora e com atividades lúdicas a abordagem de temas polêmicos como: drogas, álcool, doenças sexualmente transmissíveis, gênero, sexualidade, diversidade sexual e violência. | Elias vargas
A Praça da Bandeira, próxima à Estação Canoas da Trensurb, receberá, a partir do dia 24 de junho, a 33ª Feira do Livro de Canoas, a segunda maior do Estado. Neste ano, o evento tem como escritor homenageado o cartunista Ziraldo, que vem a Canoas nos dias 24 e 25 de junho para sessões de autógrafo. A cidade homenageada é Guaíba, depositária de sítios arqueológicos guaranis. A Feira do Livro contará com artistas e escritores da própria cidade. “Nesse ano estamos aumentando o número de artistas de Canoas na feira. Além disso, queremos agregar outros tipos de cultura, porque isso vai resultar em renovação”, afirmou Mauri Grando, secretário de Cultura. O escritor Demétrio Alves Leite, 68 anos, foi escolhido para ser o patrono da Feira do Livro de 2017. Ele mora em Canoas há 25 anos, mas é natural de Alegrete. Para o escritor, o “patrono é o protetor dos livreiros, dos livros, e um difusor e defensor das letras. O patrono é o relações públicas de uma Feira do Livro. Nós não devemos estar ali apenas para tirar foto com os políticos, mas para recepcionar os visitantes”, disse. O escritor, que tem três obras publicadas e participação em várias coletâneas, pretende lançar mais um trabalho na feira, que se intitula “História, memória e imagem da cidade”. | William Martins
A Magia das Ervas é o nome da oficina que acontece na cidade de Taquara, desde o dia 26 de abril. O curso abrange determinadas ervas a cada etapa e é realizado pelo Espaço Holístico Mantras, que atualmente tem sede no Centro de Umbanda Tsara Esmeralda. A oficina é ministrada pelo pai de santo Carlos Faoro, de 48 anos, que trabalha com os chás há pelo menos seis anos. O curso está aberto a pessoas de qualquer crença religiosa e até mesmo por quem ainda precisa ser cativado pelos benefícios das ervas. O primeiro módulo já teve três encontros e acontece até o final de maio, mediante a taxa de R$26,00. A partir de junho ocorre o segundo módulo, às quartas-feiras. A matriarca do Centro, a mãe de santo Cláudia Simone Martins, acompanha o curso como aluna, já que, segundo ela, quando percebe que além do espiritual a pessoa precisa tratar o corpo físico, indica Carlos, com quem trabalha há seis anos, desde que o Espaço foi criado. O caso mais marcante, segundo Cláudia, foi de uma paciente diagnosticada com um quadro grave de depressão crônica, que tentara suicídio por duas vezes antes de buscar ajuda no Espaço Holístico. Há três anos no tratamento, a melhora dela é visível, e o uso de antidepressivos foi totalmente trocado pela ingestão de chás e acompanhamento fitoterápico com ervas, contou a mãe de santo. | Bruna lago
15
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Educação
Os desafios de ser uma au pair
‘‘
Jovens que foram para os Estados Unidos como au pair tiveram experiências diferentes de suas expectativas Tamires Trescastro
O
sonho de morar no exterior e aprimorar novos idiomas está muito presente na vida das pessoas. Mas, nem sempre, há dinheiro para sustentar um intercâmbio caro. E o au pair tem sido uma saída viável para quem quer conhecer outro país e estudar sem gastar muito. No entanto, este é um processo que carrega surpresas que nem sempre são boas, pois o trabalho consiste no cuidado de crianças. A au pair Isabella Micheloni, 20 anos, é um ótimo exemplo do quanto o programa pode ser surpreendente. Há um mês morando em Nova Iorque, a jovem já está na segunda host family. A menina paulista que cresceu cultivando o desejo de morar fora, conseguiu alcançá-lo ainda nova. Porém, não imaginava enfrentar problemas logo no início do intercâmbio. Ela conta que não se adaptou à primeira família que teve o match, pois tinha que trabalhar muito mais do que o que havia sido tratado no contrato. Isabella, que estava lá para cuidar das crianças, teve que limpar até mesmo o quarto de seus anfitriões. Além do excesso de tarefas, o pagamento sempre chegava atrasado e somente após cobranças da estudante. Os pais não comiam em casa, nem com-
O tempo era curto e o medo de voltar para casa se fazia presente o tempo todo”
pravam comida para ela. Esse foi o momento decisivo, em que escolheu pedir o rematch e procurar por outra família. Mesmo com toda a insegurança, Isabella permaneceu confiante na decisão e encontrou uma host family. Prestes a fechar contrato, mais um problema apareceu: os anfitriões fizeram uma avaliação negativa da menina, o que fez com que a nova família desistisse dela. Foi aí que começou a angústia. O tempo era curto e o medo de voltar para casa se fazia presente o tempo todo. Faltando apenas três dias para acabar o prazo, Isabella conseguiu o match e pôde, então, prosseguir com seu intercâmbio. Para ela, a troca de família foi a melhor escolha, pois não estava satisfeita e não seria capaz de aguentar um ano lá. Agora está em uma nova casa, com crianças da faixa etária que desejava. Quando questionada sobre uma definição do intercâmbio, não exitou em dizer que “infelizmente o programa é um tiro no escuro”, mas que vale a pena pelo aprendizado. Para Flávia Torres, 24 anos, as coisas não foram tão diferentes. Com pouco mais de um mês de au pair, decidiu pedir rematch pois não conseguiu se adaptar. Com o psicológico bem abalado, mal conseguia dormir e passava horas sem comer, na tentativa de evitar sua ARQUIVO PESSOAL
primeira família. Seu maior medo era ter que voltar para o Brasil antes de concluir o intercâmbio, mas, ainda assim, disse que foi apenas quando entrou em rematch, que passou a ter esperança. Flávia encontrou uma nova família e está completando dois meses nos Estados Unidos. Apesar de ter feito a troca de família, ainda tem dificuldades em lidar com as crianças, pela questão da cultura, já que as experiências que tinha no Brasil eram com sobrinhos e vizinhos. Nem todos os hábitos que os brasileiros possuem nos cuidados com as kids são aceitos lá. Para ela, o Brasil, em geral, tem um estereótipo de que as crianças americanas são mimadas. Todos os empecilhos não foram o suficiente para abalar o sonho da jovem. Ela não pretende voltar para o Brasil tão cedo, pois considera que o país não esteja em um bom momento. Mas indica, para quem possui condições, a procura de um outro tipo de intercâmbio.
O programa
Au pair é um intercâmbio indicado para pessoas de 18 a 26 anos que querem aprimorar um outro idioma. Para ser au pair é necessário se encaixar em uma série de requisitos, como possuir inglês intermediário, CNH e carga horária com crianças. O processo se inicia com entrevistas e chamadas de vídeo com as famílias, através do Skype até que aconteça o match. Já no exterior, caso o au pair ou a família não consigam se adaptar, inicia o período de rematch. A busca por uma nova família tem curta duração e é acompanhada pela Conselheira Local(LCC). Se o candidato não encontrar novos anfitriões dentro do prazo, retorna para o Brasil.
Quais os direitos de um au pair?
Um au pair ganha em torno de 195 dólares por semana. Além de ter direito a folga de um final de semana por mês, tem duas semanas de férias remuneradas e quatro semanas para viajar como turista no final do intercâmbio, que tem duração de 12 a 24 meses. Recebe bolsa de estudos de até 500 dólares, custeado pela host family e suporte durante todo o programa, pela coordenação local da agência.
Quanto custa para fazer o intercâmbio de au pair?
NOVOS LUGARES Quando não está cuidando de crianças, Isabella Micheloni, 20, dedica tempo para explorar cidades, como Nova York
No campus da Unisinos há uma agência de viagens e intercâmbios, a CI. Os valores apresentados aqui são com base nos custos dela. Você gastará, em média, R$1600 com o au pair e cerca de R$2.155 com taxas, passaporte, passagem, hospedagem e outros requisitos.
16
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Mobilidade
Pelo fim do transporte individual Gestão da mobilidade urbana em cidades deverá prever inserção de modais não-motorizados charles scholl / PREFEITURA DE ALVORADA
IVAN JÚNIOR
A
lcimar Pereira da Rosa, residente de Alvorada, é um entusiasta da utilização de bicicleta como forma de condução. Ele usa o modal para se deslocar ao trabalho, levando em média 15 minutos. Muriel Gorges, também moradora do município, usa ônibus diariamente para ir a faculdade e ao trabalho. Ambos se locomovem para suas atividades diárias com os modos de transporte não-motorizado e coletivo. Em 2012, entrou em vigor a Lei Nacional de Mobilidade Urbana, que prevê o desenvolvimento sustentável das cidades com foco no aumento do uso de transporte alternativo. Com a imposição do Governo Federal, municípios com mais de 20 mil habitantes terão que elaborar planos de mobilidade urbana integrado ao plano diretor. Segundo Izabele Colusso, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unisinos, um ponto importante da lei é a mudança na forma que a mobilidade é tratada no Brasil. “A gestão da mobilidade urbana será sustentável com a inserção de modais de transporte não motorizados”, elucida. Para Alcimar, é importante saber que o poder público pensa no transporte alternativo. No entanto, ele atenta para a necessidade do projeto não ficar só no papel: “Caso contrário vai ser mais uma lei que não é cumprida”. Nívea Oppermann, diretora de desenvolvimento urbano da WRI Brasil Cidades Sustentáveis, lembra que a proposta do Governo Federal prioriza os pedestres e ciclistas, ou seja, os modos de transporte não-motorizados, e “depois o transporte coletivo, e os transportes de carro e de cargas”. Inicialmente, a União deu o prazo de três anos para os municípios se adequarem às exigências da lei. De acordo com Nívea, o Governo Federal solicitava a apresentação do plano para conceder financiamentos. Como muitas cidades não o executaram, uma medida provisória do ano passado estabelece que as prefeituras terão até 2019 para se adequar ao conjunto de normas. Conforme Izabele, o novo foco da gestão pública no incentivo aos modais sustentáveis pode facilitar a implantação de projetos como os BRTs – forma de locomoção feita por um sistema de transporte coletivo focado em uma mobilidade urbana rápida. Muriel, usuária de ônibus, acredita que, ao estimular essa forma de locomoção, a pessoa poderá ver no que está sendo empregado os investimentos para melhorias no transporte público. A lei também prevê o aumento a participação social no planejamento da mobilidade, de acordo com Nívea. Isso porque uma das determinações do plano de mobilidade é de que as cidades devem realizar audiências, envolvendo diversos atores sociais com o tema. “As prioridades (dos municípios) não
‘‘
PROJETO Lei deve focar no investimento em transporte coletivo, além da implantação de BRTs para deslocamento mais rápidos
podem ser estabelecidas só pelo prefeito ou secretários porque eles não conhecem as necessidades de determinados bairros e segmentos da população”, argumenta. Izabele acredita que as cidades que se adequarem e elaborarem seus PlanMobs terão como benefícios a restrição da circulação de veículos em horários predeterminados, cobranças de tarifas para utilização de infraestrutura urbana, espaços exclusivos para o transporte público e para modais não-motorizados. Mas faz um alerta. “A existência da lei por si só não garante. É necessária vontade política, ampliação dos investimentos na melhoria dos serviços públicos de transporte e do engajamento da sociedade para implantação do plano”.
Alvorada e Canoas SE PREPARAM Alvorada
Em Alvorada, o Plano de Mobilidade de Urbana está suspenso por dificuldades financeiras que o município vem enfrentando. Segundo o secretário de Segurança e Mobilidade Urbana, Sérgio Coutinho, apesar da situação, a prefeitura possui empresa contratada para realizar o estudo dividido em cinco etapas. Mesmo com o PlanMob suspenso, as metas do órgão público estão claras. “A ideia é implantar ciclovias, linha rápida com os BRTs e estacionamento rotativo, e melhorar
o acesso ao passeio público para pedestres e portadores de necessidade especial.” A expectativa de Coutinho é que em 2018, com o estudo concluído, a cidade possa buscar recursos na União para mobilidade urbana.
Canoas
Na cidade que possui a segunda maior população da Região Metropolitana de Porto Alegre, o plano de mobilidade foi vinculado ao estudo de implantação do aeromóvel. Porém, com a mudança de gestão, se identifica a necessidade de o plano ser feito de forma independente, conforme explica Francisco Horbe, assessor geral do Instituto Canoas XXI. Agora, a prefeitura vai elaborar um termo de referência com as diretrizes para contratação de consultoria e assessoria de transporte para execução do PlanMob. De acordo com o ex-diretor da Metroplan, o começo do plano será com a pesquisa origem–destino domiciliar para diagnosticar as necessidades da população e iniciar o planejamento da cidade. “A ideia é fazer em quase 4 mil domicílios, abrangendo umas 12 mil pessoas”, elucida. Mesmo sem terem ido a campo, a ideia é transformar a cidade de canoas “mais humana” com o plano de mobilidade urbana. “A nossa ideia é lançar o edital até o segundo semestre deste ano e que a empresa licitada realize o estudo do plano de mobilidade urbana em até 12 meses”, projeta.
Apresentação de plano é condição para aprovação de novos financiamentos” Nívea Oppermann
Diretora de desenvolvimento urbano da WRI Brasil Cidades Sustentáveis
17
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Mobilidade
Medo e insegurança andam de Uber Motoristas e clientes detalham as diversas situações vivenciadas usando o transporte privado urbano João Rosa
É
noite de sábado e você quer ir no apartamento de uma amiga fazer o famoso “aquece” antes da balada em uma casa noturna qualquer da Cidade Baixa, em Porto Alegre. Para poder beber a vontade, sem se preocupar com riscos como acidente de trânsito ou os constantes assaltos que rondam a Capital, a melhor ideia que vem em mente é solicitar um carro pelo aplicativo do Uber. Logo quando chega o veículo, em ágeis dois minutos que não servem nem para você retocar a sua maquiagem ou avisar sua mãe que chegará antes das três da manhã, uma espécie de sinal de alerta é ligado: o motorista ao volante é homem. Você decide sentar atrás, mas antes disso, o condutor fala para o acompanhar na frente com ele. Em seguida, chegam os primeiros receios. Ele começa a puxar papo com perguntas indiscretas como “mas essa hora da noite saindo de casa? Tá indo pra onde?”. Você, que já estava desconfortável com o fato dele ser homem, começa a ficar irritada. Responde o mínimo possível e decide virar o rosto para o canto oposto, mas de nada adianta. O assédio segue. Nicole Amabile, 24 anos, estudante de Arquitetura e Urbanismo na Uniritter, passou por algo bem semelhante meses atrás quando chamou um carro da empresa, que passou a ser regulamentada em Porto Alegre no início de dezembro. Segundo o relato, o motorista fez “perguntas invasivas”, como indagar sobre o que ela “estava fazendo tão tarde na rua”, além de ficar elogiando suas tatuagens e seu piercing. “Fiquei nervosa por estar sentada do lado dele, ele ficou me olhando de cima a baixo. Estava louca pra sair do carro”, desabafa. Ela não é a única a ser vítima de assédio em viagens entre um bairro e outro. Aristóteles Júnior, de 21 anos, também é ex-cliente do aplicativo e conta algo mais grave, como perguntas do tipo “posso te levar pra casa?”, seguido de um toque cheio de segundas intenções em seu corpo. “Eu disse não. Ele ficou insistindo e colocou a mão na minha perna. Fiquei assustado e comecei a pensar em uma maneira de sair”, comenta. Outras situações também são comuns para quem aderiu ao novo sistema de corridas. Se antes o grande vilão da cidade eram os taxistas, agora motoristas do Uber começam a figurar também no quesito furtos, como conta Nicolas José Ramos, de 32 anos, que teve seu celular roubado durante uma viagem. “Ele (motorista) desligou o aparelho. Contatei a empresa de todas as formas possíveis, mas sem retorno”, declara. Mas nem tudo tende a arrebentar
no lado mais fraco da corda. Motoristas do aplicativo também são vítimas da criminalidade nas grandes cidades, além de passarem por ocasiões constrangedoras e tristes. É o caso do haitiano Sorel Rene, de 30 anos, que já passou por situações bem difíceis em seus meros quatro meses no Uber. “Ele (o passageiro) não quis pagar o serviço. O cara ainda cheirou (cocaína) e me xingou antes de sair. Não quis pagar também porque ele só tinha cartão”, completa o morador de Cachoeirinha. E quando a situação vai do desrespeito e parte para o risco de vida do funcionário? Quem sabe muito bem disso e viveu na pele essa situação foi Barton Habbab, de 47 anos. “Início do ano colocaram uma arma na minha cabeça. Foi horrível. Não sabia o que fazer, agir, sabe? O bandido perguntou se eu puxaria uma arma, porque fiquei um pouco nervoso na hora. Respondi que minha arma era a Bíblia.” A resposta do paulista, que mora há mais de dez anos na capital gaúcha, comoveu o bandido, que desistiu do assalto. Questionado sobre a falta de segurança de motoristas e clientes nas viagens, Reinaldo Ramos, presidente da Associação dos Motoristas Privados e de Tecnologias (Ampritec), fundada em 2016, é enfático. Para ele, “a segurança é uma
das maiores prioridades da associação.” Ramos ainda comenta que até setembro de 2016 o “índice de roubo a motoristas era zero”, porém, a partir do mesmo mês começaram a surgir os primeiros relatos de insegurança, tendo em vista que a empresa começou a aceitar dinheiro nas corridas. Segundo dados da Ampritec, atualmente ocorrem de dez a 12 roubos ou assaltos por semana, que afetam os 12 mil motoristas que trabalham na Região Metropolitana. Desta soma, a entidade conta com mil condutores ativos. A reportagem procurou o Uber na sede onde são feitos os cadastramentos dos motoristas, localizado na avenida Padre Cacique, em Porto Alegre. Questionados se a empresa impede que candidatos com alguma ocorrência policial ou na Justiça possam se registrar no serviço, os funcionários alegaram que “não teria problema” e que “apenas uma carteira de habilitação e um carro dentro dos padrões” seriam necessários para se tornar um condutor da empresa. A última vítima fatal em Porto Alegre envolvendo um motorista do Uber foi o assassinato de Moisés Doring, de 33 anos, no dia 7 de março. Ele foi encontrado morto no mesmo dia que aconteceram manifestações por mais segurança e pelo fim do uso de dinheiro nas corridas.
‘‘
O bandido perguntou se puxaria uma arma. Minha arma era a Bíblia” Barton Habbab
Motorista do Uber João Rosa
DESRESPEITO Morador de Cachoeirinha, o haitiano Sorel, de 30 anos, diz que já passou por diversas situações difíceis como motorista do Uber
18
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Comportamento
Uma cultura preservada pela fala A variação linguística do alemão que se mantém conservada em comunidades do interior Camila Tempas
A
o passear pelo centro de cidades como Bom Princípio e São Vendelino, é comum depararse com conversas diferentes. O Hunsrückisch dá o tom nessas comunidades de forma marcante. Desde muito tempo famílias descendentes de colonos germânicos mantêm vivo esse costume e trabalham na conscientização e ensino de jovens sobre a variação do alemão. Atualmente o Hunsrückisch é a segunda língua mais falada nas cidades fundadas pelos migrantes, no interior do Estado. O índice de falantes caiu, mas se mantém estável. Fluente no dialeto, Marlon Klering de 25 anos, acredita que “existe um pouco de preconceito pelas pessoas que não entendem [o Hunsrückisch]”. E completa: “Eu acho que, se procurassem entender um pouco mais da cultura alemã, elas gostariam e respeitariam.” Hoje, as prefeituras já oferecem oportunidades de intercâmbio, cursos de especialização na língua, além de eventos culturais germânicos. A preservação deste traço se dá sobretudo dentro das famílias. Jonatas Hoffelder Dalcin, de 18 anos, e Josefa Hoffelder Dalcin, de 23 anos, são exemplo disso. Os dois aprenderam a variação simultâneamente com o português. Isso facilitou o convívio com a avó - que só se comunicava por meio do Hunsrückish. Além de, como salienta a linguista Mariléia Sell, aprender duas falas juntas possibilita maior reflexão sobre os usos da língua e maior sensibilidade “para as questões que envolvem língua e cultura e falantes”. Isso acontece desde que a cultura alemã entrou em contato e sofreu influências de outros países. A partir do Hunsrücksch, os descendentes puderam preservar costumes e manter viva a essência de seu país de origem. Entre 1824 e 1960, famílias vindas da Alemanha, grande parte da região de Hunsrück, no sudoeste do país, instalaram-se no interior do Estado. Uma comunidade completamente alicerçada na cultura germânica surgiu no Brasil. Fugindo de uma depressão social, política e econômica, construíram nessas terras suas casas, igrejas e escolas. Foi adotada uma fala que representava uma interposição entre todos as variações de línguas faladas na Alemanha, a fim de criar um linguajar padrão que fosse uma intercomunicação entre todos os falantes. Essa variação linguística alemã sobreviveu mesmo após o período de censura e foi passada adiante, o que acontece até hoje. Entretanto, poucas pessoas utilizam o Hunsrückisch como fala principal, dando preferência ao
português, em consequência, principalmente, da grande miscigenação que ocorreu nos últimos anos. A mistura de etnias e nacionalidades fez com que os falantes procurassem uma língua que fosse comum a todos, e a portuguesa deu conta desse papel. Em 1942, quando o Brasil declarou guerra contra a Alemanha, deu-se início um período de repressão para os descendentes alemães. Escolas e igrejas foram proibidas de fazerem seus discursos na sua língua-padrão. Pessoas foram humilhadas e violentadas. A pronúncia da variação foi censurada. Estevão Carlos Tempas conta o relato do pai, que viveu nessa época. Aldivo Aloísio Tempas recordava que todo o homem que tivesse um bigode reto, um costume para a época, era obrigado a tirá-lo sob a acusação de ser um filiado ao partido nazista. Caso se negasse, o tiravam a força com canivete. A professora aposentada Ledvina Jandira Wiederkehr Rodrigues da Silva, de 75 anos, lembra da história do tio Balduíno Wiederkehr, que foi preso a força por negar-se a parar de falar o Hunsrücksch. Para os imigrantes e seus descendentes era muito difícil se comunicar de outra forma, senão por meio da variação. Marieta Hoffelder Dalcin, funcionária estadual, lembra: “minha mãe não sabia falar o português DIVULGAÇÃO / PREFEITURA DE BOM PRINCÍPIO
e pediu para uma vizinha, de origem italiana, que a ensinasse a falar. Mas não se adaptou e teve de se manter calada.” Os costumes alemães entraram em declínio, mas não foram perdidos ou esquecidos. Apesar da proibição do uso da língua e à submissão ao português em público, famílias mantiveram o costume dentro de casa. O principal traço que se manteve foi o Hunsrücksch. O relacionamento da fala germânica com o português resultou no que hoje é chamado de Hunsrückish (hunsriqueano). Para a doutora em Linguística Mariléia Sell, “as línguas são órgãos vivos e estão em constante mutação. O Hunsrückisch está em permanente contato com a Língua Portuguesa nas comunidades de descendentes alemães e é, assim, influenciado por ela”. O que fica evidente é que as tradições e as origens alemãs não estão em decadência. Para a estudante de ciências contábeis Caroline Reuss, de 20 anos, “sempre é bom manter essa cultura viva”. A cargo das futuras gerações ficam reservadas as heranças culturais, e sob suas responsabilidades conservar as lembranças, os costumes e o Hunsrückisch. A história e a cultura fazem parte da vida das pessoas. E o tradicionalismo germânico corre nas veias de seus descendentes que perpetuam essas peculiaridades.
‘‘
TRADIÇÃO O Hunsrückisch se faz presente diariamente em encontros sociais como os bailes de idosos
Atualmente o Hunsrückisch é a segunda língua mais falada nas cidades”
19
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Comportamento
Sinais de alerta na infância Como o comportamento agressivo pode afetar no processo de formação da vida adulta Lianna Kelly
Lianna Kelly
É
difícil explicar para os pais porquê as crianças podem ser autoras de comportamentos agressivos, impulsivos, absolutamente fora do controle dos adultos, como ataques de ira, depredação de bens e vocabulário desrespeitoso. Quando as crianças são pequenas, por uma questão de proximidade amorosa ou até por negligência, a família vai deixando passar as melhores ocasiões para educar, repreender e orientar. O que falta para muitos pais são esclarecimentos sobre o desenrolar futuro no modo de agir do seu filho. Segundo o jornalista e doutor em Sociologia Marcos Rolim, pais e mães que punem fisicamente seus filhos aumentam muito as chances de que essas crianças sejam agressivas, pois elas aprendem em casa a resolver conflitos por meio da violência. Em uma de suas pesquisas com uma escola de Porto Alegre, Rolim encontrou novas evidências a respeito desta correlação. Os adolescentes mais violentos eram precisamente aqueles que relataram terem sofrido surras frequentes de seus pais quando crianças. Assim, conversando com os familiares, a escola procura saber da história da criança, identificando pontos necessários para entender o que está se passando. Na maioria das vezes, a criança pode ser o reflexo do que vive. A partir disso, os educadores passam a situação para os profissionais da Psicologia, como afirma Rúbia Marques, pedagoga especialista em psicopedagogia. A psicóloga Patrícia Arnhold acrescenta que a hora de procurar um profissional é quando as situações fogem do controle, principalmente quando pais e educadores já não entendem a criança, e ela própria também não os entende. Impulsos agressivos estão presentes quando a criança é bem pequena, pois ela precisa aprender a se organizar socialmente e lidar com as situações que enfrentará no dia a dia. Ainda mais se ela for para uma escola desde cedo, local onde será necessário se adaptar e lidar com a divisão de atenção. “Sempre levamos em conta que a escola precisa estar atenta aos sinais de agressividade e reconstruir valores, estabelecendo uma relação de respeito e apreço ao próximo. É nesta fase que a criança está construindo a sua identidade” explica Marina Winter, diretora de uma escola de educação infantil de Bom Princípio. Anna Clara, de três anos, costuma se queixar do comportamento agressivo dos colegas na escola que freqüenta. Os pais, Gisele e Gerson Kroetz, salientam: ”Ao chegar em casa, a Anna relata que
CONDUTA Ações agressivas são frutos de uma etapa de autonomia e descoberta de identidade
alguns coleguinhas bateram nela no decorrer do dia.” Aos três anos de idade, a agressividade é essencialmente manipulativa. Esse tipo de conduta é a maneira que ela encontra para controlar o ambiente e satisfazer suas necessidades. Muitas crianças agem deste modo porque os adultos, inconscientemente, satisfazem todas as suas necessidades, incentivando esse comportamento. Ataques de fúria, irritação, impulsividade exagerada e intolerância à frustração são comportamentos que devem chamar a atenção dos pais e professores em qualquer que seja a idade da criança. A professora e escritora Mayre Vigna explica em seu livro “Gênios de fraldas” que a agressividade não é algo próprio da natureza das crianças, mas sim um tipo de comportamento que tem uma função no desenvolvimento delas. Sendo assim, como a criança aprendeu determinado tipo de comportamento, como a agressão, ela pode substituí-lo por outras condutas. A psicóloga Patrícia concorda com o argumento e acrescenta que nenhuma criança é agressiva, mas que está agressiva em determinado momento. “Vejo a agressividade como uma questão de comunicação. Ela pode ser vista de várias formas, maneiras de estar comunicando algo, como brabeza,
frustração, ou até mesmo uma ajuda que a criança está pedindo, uma ajuda pelo fim da situação que está vivendo naquele momento.” Outro fator que pode influenciar nessa agressividade é o sono e a alimentação. Noites mal dormidas ou falta de uma alimentação correta podem tornar a criança mal-humorada, desencadeando mais motivos para se frustrar com facilidade e agir de forma agressiva. Conforme explica a nutricionista Letícia Boesing, já existem estudos que mostram a influência da alimentação no comportamento infantil. Por isso, a importância do acompanhamento desses profissionais nas escolas. “Quando a criança possui má alimentação, consequentemente a má nutrição leva a um comportamento agressivo, o que pode se estender para a adolescência e vida adulta”, explica. Quando os pais e educadores não conseguem mostrar para a criança que existem outras formas dela se comunicar e resolver situações rotineiras, ela acabará se tornando um jovem ou até mesmo um adulto agressivo. São questões que devem ser resolvidas ao iniciar o processo de descoberta de identidade e autonomia. Caso contrário, esse comportamento fará parte da constituição e da cultura dela, repetindo ações agressivas até chegar a vida adulta.
‘‘
Aos três anos de idade a agressividade é essencialmente manipulativa”
20
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Comportamento
Jovens encontram futuro em viagens Os destinos mais procurados são os de língua inglesa, em especial Austrália, Inglaterra e Canadá ARQUIVO PESSOAL
Karina Verona
M
uitas pessoas crescem tendo uma visão concreta do que as espera no futuro. Podem não saber exatamente qual é o emprego dos sonhos, mas normalmente se imaginam trabalhando com algo que gostam, ganhando um bom salário, saindo da casa dos pais aos 20 e poucos e tendo uma vida estável. Essa estabilidade pode incluir umas plantas que sobrevivam mesmo quando esquecidas por uns dias, um parceiro e um cachorro, mas essas são apenas variáveis. Ao longo da vida dessas pessoas, algumas vezes esse projeto sofre pequenas variações. Mas, hoje em dia, vários jovens transformam completamente o cenário que haviam imaginado inicialmente. O modo como eles encaram o futuro mudou drasticamente. É muito mais fácil encontrar pessoas que optam fazer o que acreditam que as trará felicidade ao invés de se dedicar a conseguir a tal estabilidade. Dinheiro, uma carreira, formar uma família e obter um diploma o quanto antes: questões que antes eram vistas como essenciais para uma vida satisfatória, já não são mais prioridade para muitos. Ao invés de concentrar esforços para obter isso, muitos jovens estão optando por outro caminho: viajar. Para alguns, a necessidade de mudança sempre foi algo presente, para outros, é algo que acontece por acaso. Muitas vezes jovens decidem viajar por alguns meses, a grande maioria para estudar, e nem imaginam o quanto isso poderá mudar as suas concepções de felicidade e sucesso. A World Study Educação Intercultural, empresa especializada em intercâmbios, conta que muitas pessoas saem do Brasil com a intenção de passar um determinado período de tempo fora e acabam decidindo não retornar, ou voltam com a ideia de viajar de forma definitiva num futuro próximo. Essas pessoas percebem que o que tinham em mente antes não era o melhor para elas, começam a enxergar que manter as raízes que criaram no Brasil não é o ideal. Foi o que aconteceu com Karin Fassina, uma jovem de 25 anos que teve sua vida transformada pela primeira vez que viajou para a Inglaterra. Tudo começou em janeiro de 2012, quando, aos 21 anos, decidiu trancar a faculdade para passar um período no país da rainha, visitando sua melhor amiga e estudando inglês. Ao chegar lá, arranjou emprego como camareira e faxineira e ficou por dez meses. Karin conta que nunca tinha pensado em sair do Brasil, mas que depois de ter a oportunidade de morar fora por um tempo, não conseguiria continuar sua
‘‘
MUDANÇA Paula largou uma vida estável no Brasil para viver novas experiências na Austrália e seguir o sonho de morar fora
vida onde estava. Ao se formar, aos 23 anos, em fevereiro de 2014, ela voltou pra Londres, mas, dessa vez, sem a intenção de retornar ao Brasil. A história já foi outra com Paula Martina Peloso. Ela, hoje com 23 anos, sempre quis viver em outros países e ter experiências diferentes. Paula realizou viagens mais curtas antes de sair definitivamente do país, mas não foram elas que determinaram o que ela queria fazer no futuro. “Foi uma coisa que sempre esteve dentro de mim, eu sempre senti isso, essa vontade de morar fora”, explicou. Atualmente, mora na Austrália, e, assim como Karin, teve que trabalhar muito, em empregos pouco valorizados e não na sua área de formação, que é moda.
EXPERIÊNCIA É UM DOS MOTIVADORES DE MUDANÇAS
Os motivos que levam as pessoas a saírem do Brasil para viajar, morar, estudar e trabalhar fora do país são diversos. Karin acredita que muitos jovens estão considerando deixar uma vida certa e planejada para viajar e morar no exterior pois “a incerteza de morar fora, apresenta, atualmente, mais segurança do que uma vida planejada no Brasil”. Paula Martina diz que espera que seja pela experiência. Que gostaria que os jovens decidissem fazer isso por imagi-
narem o quão valioso pode ser para eles, o quanto eles podem crescer. Mas, afinal, por que tantas outros jovens decidem fazer isso? Por que tantos deles sentem que é o caminho certo, que é isso que lhes trará felicidade? “Acho que mais do que buscar felicidade os jovens que viajam estão em busca de se encontrar”, afirma a psicóloga e psicanalista Andressa G. Hoewell. Segundo ela, é algo natural da juventude buscar pelo novo. “É um período de transição entre ser criança e a vida adulta. Buscar o novo faz parte do processo de independizar-se”. Viajar se tornou um meio para isso, pois é mais fácil viajar nos dias de hoje. Andressa Hoewell atribui isso, entre outros motivos, à internet, que ampliou as fronteiras tornando muito mais fácil e acessível estar conectado com outros países e pessoas. Essa tal felicidade que a pessoas procuram pode vir em forma de viagem e grandes mudanças, mas pode, também, ser manter o mesmo projeto de vida por muitos e muitos anos. Tem gente que vai sempre enxergar sair da casa dos pais aos 20 e poucos, ter uma vida estável que inclui umas plantas que sobrevivam mesmo quando esquecidas por uns dias, um parceiro e um cachorro como a receita ideal, já outros deixarão tudo isso para trás para descobrir o mundo.
A incerteza de morar fora apresenta mais segurança do que uma vida planejada no Brasil” Karin Fassina
Estudante
21
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Saúde
Palmas para quem acredita na vida A Associação de Apoio a Pessoas com Câncer é o socorro de quem não pode pagar o tratamento da doença Guilherme Pech
H
istórias de luta e lições de vida para quem enfrenta uma das doenças mais complexas da medicina: o câncer. Dona Maria de Fátima Albino, 61 anos, tem muitas delas. Ela conta que passou por grandes dificuldades quando descobriu a doença nas mamas. Endividada e sem condições de pagar um tratamento, a ex-cuidadora de idosos se lembrou de um informativo que havia lido sobre uma entidade chamada Associação de Apoio a Pessoas com Câncer, a Aapecan, a qual seu marido costumava fazer doações. Pela necessidade, recorreu à instituição. Depois disso, a doença ganhou outro sentido para ela. Maria de Fátima se trata na sede da Aapecan, em Porto Alegre, desde julho do último ano. Além dela, 935 pessoas sem condições de financiar um tratamento para o câncer recebem apoio de recursos, amparo emocional e social. Os pacientes, ou usuários, como são chamados, são acompanhados por assistentes sociais e psicólogos, que os acolhem, orientam e identificam suas necessidades. Tudo de forma gratuita. “Apesar das dívidas, não faltou uma medicação”, comenta dona Fátima, cheia de emoção. Ela menciona que a doença foi uma chance de mudar o modo de ver a vida. “A Aapecan motiva o paciente e a família a não se entregar”, explica. Em meio a sorrisos, Maria de Fátima conta que a acolhida e o amor desprendidos pelos funcionários da entidade contagiam. Hoje em acompanhamento na instituição, ela diz que já retornou a cuidar de idosos, ocupação que havia parado devido à doença. Também contribui com doações e ajuda a divulgar o trabalho da instituição. Em um dos encontros do Grupo de Apoio Renascer, que funciona na sede da Aapecan, às terças e quintas,Fátima compartilha lutas e vitórias junto com a psicóloga e a assistente social da unidade, junto aos outros pacientes. Ganha uma salva de palmas. Nesses momentos, além da troca de ideias e abraços, há sorrisos de quem valoriza a vida, olhares otimistas e palavras de coragem. Luiz Vanderlei Paim da Silva, 59 anos, também nutre um carinho especial pelo Grupo Renascer. Ele confessa que chegou à Aapecan em um momento crítico, enfrentando um câncer difícil no intestino. Há mais de três anos como usuário na associação, Vanderlei afirma que o espaço o ajudou a mudar seu modo de agir e pensar: “Aprendi a dar mais importância à vida. A doença me fez ver que tudo é para ensinar”. Assim como dona Fátima, ele está em acompanhamento na instituição, ajudando do jeito que pode. “De usuário, virei colaborador”, completa.
Trabalho que engrandece
Quem chega na sede da Aapecan, em Porto Alegre, se depara com uma pequena biblioteca e joias para venda, confeccionadas pelas próprias pacientes. Em um dos murais, o pensamento chama a atenção: “tenha tempo para seus sonhos e realize tudo aquilo que te deixa feliz”. Mais adiante, há a oficina de informática e a brinquedoteca. Em seguida, vem o espaço onde ocorre o Grupo de Apoio Renascer. No segundo andar, está a Casa de Apoio, que realiza o serviço de acolhimento institucional provisório aos pacientes que não têm condições de pagar uma hospedagem. Os usuários, então, são encaminhados aos grandes hospitais da Capital para receberem os cuidados médicos. Existem nove Casas de Apoio no Estado, localizadas junto às 14 unidades de atendimento. A assistente social da Aapecan de Porto Alegre, Lauriana Nardini, explica que o atendimento tem três modalidades: fornecimento de recursos necessários ao tratamento - como remédios, cestas básicas, fraldas descartáveis e outros materiais -, serviço social e psicológico. “Contudo, o tratamento do paciente é feito no hospital”, aponta Lauriana. Para ela, esse trabalho é uma missão de vida. Desde 2009 na Aapecan, a assistente social descreve, emocionada, o sentimento de poder ser útil: “Proporcionar qualidade de vida aos nossos pacientes nos engrandece”.
A psicóloga da sede, Fernanda Pupe, informa que a terapia é em grupo e individual, podendo incluir os familiares dos usuários. Para ela, o apoio psicológico, além de lidar com o físico e o emocional, contempla também o espiritual, que não remete à crença religiosa, mas ao significado da vida. “Dar sentido aos pacientes nesse momento difícil é o que nos motiva”, conta, com um sorriso de satisfação. As duas profissionais relatam que há muitas histórias de luta e ressignificação na Aapecan.
Iniciativa surgiu de grupo de voluntários
Com o slogan “Nós acreditamos na vida”, a Aapecan foi fundada no dia 5 de março de 2005, em Caxias do Sul. A ideia de abrir uma entidade que apoiasse portadores de câncer partiu de um grupo de voluntários que realizava visitas em hospitais, bairros e associações beneficentes. Durante os encontros, o grupo percebeu a dificuldade financeira das pessoas com a doença, principalmente na pós-internação, já que a continuidade do tratamento é de alto custo. A associação se mantém com a ajuda de doações. Também é possível se voluntariar e fazer parte da Aapecan, que, para pessoas como Dona Fátima e Seu Vanderlei, vai muito além de apenas um tratamento para o câncer - é um novo significado para a vida, por meio de um trabalho de caridade.
‘‘
Dar sentido aos pacientes nesse momento difícil é o que nos motiva.” Fernanda Pupe
Psicóloga da Aapecan de Porto Alegre Guilherme Pech
AJUDA Prestar apoio emocional, social e financeiro para pessoas com câncer em situação de baixa renda é a proposta da Aapecan
22
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Saúde
A doença lembrada em maio Disfunções inflamatórias intestinais são representadas no dia 19 do mês Natan Cauduro
Natan Cauduro
A
Doença de Crohn, também chamada DC, tem origem incerta, não possui cura e é caracterizada por causar inflamações no aparelho digestivo. O sistema imunológico fica desregulado e ataca componentes do próprio corpo, gerando inflamações na mucosa do trato gastrointestinal. O mês de maio e a cor roxa representam as Doenças Inflamatórias Intestinais, entre elas a Doença de Crohn, que é a mais mortal. De acordo com a médica Belisa Gomes Müller Contin, residente em Coloproctologia pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre e mestranda em Ciências Cirúrgicas pela UFRGS, o tabagismo e fatores genéticos multiplicam as chances do indivíduo ser acometido pela patologia. Suspeita-se que a nicotina presente no cigarro afete a resposta imune, a permeabilidade e a microvasculatura da mucosa. A estimativa é que de 10% a 25% dos pacientes com DC tenham algum parente de primeiro grau que possui Doença Inflamatória Intestinal (DII), reforçando a ideia de uma predisposição genética envolvida no processo de desenvolvimento do quadro. Os sintomas da Doença de Crohn são variados, sendo diarreia, vômito, febre e perda de peso as mais comuns. Essa variedade de sinais complica o diagnóstico exato, pois tais indícios estão associados a
SINTOMAS Dores Abdominais estão entre os principais indícios da Doença de Crohn
inúmeras outras patologias. “Os pacientes, muitas vezes, não dão a real importância aos sintomas, pensando serem decorrentes de infecções intestinais passageiras e demoram para procurar ajuda, o que atrasa o início do tratamento”, afirma Belisa. O diagnóstico da doença é alcançado através de avaliação clínica e de exames laboratoriais e endoscópicos. Caso haja
suspeita, radiografias contrastadas e colonoscopia são realizadas. Do conjunto de órgãos que formam o sistema digestivo, o intestino delgado é o mais afetado. Há possibilidade de o paciente com DC apresentar sintomas extraintestinais como artrite, trombose e inflamações oculares. O motivo dessas manifestações ainda é desconhecido, mas se acredita que
a inflamação da mucosa possa iniciar uma reação imune em tecidos e órgãos fora do trato digestivo. Algumas das doenças paralelas podem ser tratadas a partir dos medicamentos para Doença de Crohn, outras não. Essas devem ter uma atenção específica e não há restrições quanto ao uso de remédios em função da DC. Existem dois exames de sangue que podem detectar a Doença de Crohn. Segundo Belisa, o “ASCA e o p-ANCA são marcadores sorológicos (anticorpos) encontrados no sangue quando temos inflamação no organismo, não sendo exclusivos das doenças inflamatórias intestinais”. A principal função dos exames é ajudar a diferenciar Doença de Crohn de Retocolite Ulcerativa. A dosagem de ambos anticorpos poder ser positiva para DC, porém é comum ter apenas o ASCA positivo. Por ser uma enfermidade sem cura, o tratamento envolve o uso de medicamentos para melhorar a qualidade de vida do paciente. Os remédios variam na forma de agir e de uso, local de ação e efeitos adversos, mas têm o mesmo objetivo: diminuir e controlar a inflamação. A cirurgia também é um recurso possível, porém apenas em situações extremas. Caso o tratamento via remédios falhe, é retirada a parte mais inflamada do sistema digestivo, mas, como não há cura para a doença, a sua recorrência é frequente. Em cerca de 25% dos pacientes que fazem a cirurgia a doença reincide. O principal fator associado a isso é o tabagismo.
Unisinos tem ponto de vacinação contra gripe
Jejum intermitente: a dieta da moda
Entendendo a cirurgia bariátrica
Desde o dia 14 de abril a Unisinos participa, em parceria com a Secretaria de Saúde de São Leopoldo, da Campanha Nacional de Vacinação contra a gripe Influenza. O ponto disponibilizado para atender as demandas de vacinação é o ambulatório da universidade, localizado no Centro Comunitário (prédio redondo). O horário de atendimento é das 9h às 21h. De acordo com o técnico em enfermagem, Adriano Teixeira, que atende no ambulatório, a Secretaria de Saúde faz o repasse das vacinas todos os anos, conforme as demandas de cada posto de vacinação. Por enquanto, somente quem faz parte do grupo prioritário, formado por idosos, gestantes, puérperas, indígenas e portadores de doenças crônicas não transmissíveis, jovens de 12 a 21 anos que estejam sob medidas socioeducativas, detentos, professores e profissionais da área da saúde podem receber a dose da vacina. “Não precisa estar com a carteira de vacinação, mas gestantes e usuários de medicação contínua devem trazer algum documento que comprove a situação”, explica Adriano. O técnica em enfermagem destaca ainda que crianças menores de nove anos não estão sendo vacinadas no local, mesmo que façam parte do grupo prioritário. A campanha, que já foi prorrogada, segue até o dia 26 de maio. | Julio Hanauer e Sofia Höescher
Algumas pessoas acreditam que parar de comer seja uma boa maneira para emagrecer. Elas não estão tão erradas. O jejum intermitente é uma alternativa para você ter boa forma. Não considerado como uma dieta, o método é um estilo de alimentação que tem longos períodos sem ingestão de alimentos e outros com alimentação. Normalmente, os jejuns duram 16 horas diárias, ou 24 horas por duas vezes na semana. Segundo a nutricionista Neusa Schaefer Schmidt, muitos colegas estão indicando este método, mas alerta para alguns cuidados. Quanto mais longo for o jejum, maior será o gasto energético da pessoa. Por isso, o processo precisa ser realizado gradativamente, em um dia da semana, aumentando ao longo do mês. O odontologista Artur Stelzer iniciou com 12 horas sem comer, aumentado para 16 e depois 24 horas. “Faço este protocolo de segunda a sexta, praticando exercícios e mantendo o cuidado com a qualidade dos alimentos”, acrescenta. Após jejuar, os pacientes são indicados a ingerir vitaminas, sais minerais, proteínas e carboidratos que são responsáveis por dar energia ao corpo. Também é preciso se hidratar com líquidos não calóricos. Para perder peso e ter uma vida saudável, procure um profissional que indique uma dieta específica. Uma avaliação deverá ser feita antes de iniciar mudanças na alimentação levando em conta diversos fatores do paciente. | Júlio Hanauer
A obesidade é uma doença que cresce no mundo todo, podendo atingir níveis extremos em que a única solução é a Gastroplastia, conhecida como cirurgia bariátrica. Um dos objetivos da cirurgia é reduzir o peso de pessoas com o IMC elevado. Segundo Tarcia Dalmas, paciente operada há 3 anos quando pesava 135 kg, a recuperação do procedimento foi tranquila. “Fiquei hospitalizada por três dias e, nos dois primeiros, não pude ingerir nada. Somente no terceiro dia iniciei uma dieta líquida”, sublinhou. Atualmente com 85 kg, Tarcia diz que não sentiu dores durante o processo e que precisou realizar sessões de fisioterapia respiratória para evitar a embolia pulmonar. Conforme especialistas, o principal cuidado após a cirurgia é com a alimentação. Por isso, o ideal é ter um acompanhamento com nutricionista no pós-operatório. Nos primeiros 15 dias após a cirurgia, Tarcia comia dieta líquida, ingerindo 50 ml de hora em hora e aumentando gradativamente até chegar aos 100 ml. “A minha nutricionista indicava quando eu devia aumentar a quantidade de líquido e, depois de 15 dias, iniciei a nova dieta pastosa”, completa. A maioria dos pacientes se diz satisfeita e toma os cuidados necessários para que não ocorram complicações após a cirurgia. É importante que se entenda que a Gastroplastia não é recomendada para fins estéticos. | RAFAELA BAVARESCO STEFFANI
23
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Comportamento
Amor acima da orientação sexual Jovens relatam suas experiências de aceitação e os desafios do preconceito na sociedade Matheus Miranda
Matheus Miranda
E
mbora a sociedade tenha evoluído em vários aspectos, quando se fala em homossexualidade, ela nos apresenta homofobia e pouca oportunidade de direito à igualdade. Ainda vista como um tabu, muitas pessoas sentem dificuldade de aceitação de sua orientação sexual, seja no meio social ou para si próprio, criando uma insegurança comportamental da qual faz com que muitos não se revelem por receio: sentem-se sozinhos, rejeitados e alvo de críticas. Luís Rudinei Lopes tem 40 anos, é auxiliar de limpeza e lembra que, nos tempos de escola, foi vítima de agressões físicas e verbais por causa da orientação sexual. “Lembro que eu apanhava no colégio, que eu era a ‘bixinha’ da escola, e aquilo foi horrível. Sofri muita discriminação. Muitas vezes, desistia de estudar por medo de ser morto. Eu tinha vergonha e medo”, comenta. O apoio da família é fundamental no momento de descoberta e aceitação, mas nem todos conseguem lidar facilmente com isso logo no início. Lopes comenta que sofreu dificuldade em tratar do assunto com o pai, sendo vítima de violência dentro da própria família “A relação com meu pai não foi uma das melhores. Ele me espancava muito, ele me amarrava, me dava de relho, de chicote. Eu apanhei muito dele”, relata. Os direitos de igualdade ainda são poucos para a comunidade LGBT e, devido a isso, os casos de homofobia e violência não diminuem. Para Fernanda Bragato, professora de Pós-Graduação em Direito e Coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), é preciso desconstruir e desafiar permanentemente os discursos que inferiorizam esses grupos e enaltecem o padrão branco, heterossexual, proprietário. “É necessário questionar a fundo o discurso que converte diferença em hierarquia e encoraja o desrespeito e a opressão, mostrando a que interesses realmente serve”, afirma. Somente em 2016 foram registradas mais de 343 mortes, entre janeiro a dezembro. Ou seja, a cada 24 horas, um LGBT foi assassinado, o que faz do Brasil o país com recorde mundial de crimes contra as minorias sexuais. Segundo Fernanda, ainda há várias formas de diminuir a violência à comunidade LGBT. “É preciso reconhecer que há homofobia, na mesma senda do que ocorreu com o racismo, feminicídio e violência doméstica contra a mulher. É preciso reconhecer a motivação, agravar as penas e criar estratégias para prevenir atentas à condição de vulnerabilidade das vítimas”, reforça. Já para o estudante Nicolas Almeida,
‘‘
RECEIO Por vezes, a rejeição pode fazer com que homossexuais tenham dificuldade de aceitar sua orientação sexual
de 17 anos, foi diferente. O jovem relata que, ao assumir a homossexualidade, teve apoio da mãe e que isso aconteceu de forma natural. “A minha mãe sempre foi uma pessoa que me auxiliou, é minha melhor amiga. Quando eu quero contar alguma coisa, ela é a primeira a saber de tudo da minha vida”, comenta. Para a mãe, Rosilene Almeida, o amor fala mais alto. “Eu acredito que o que mais pesa é o amor, independentemente de tu ser quadrado, redondo. É amor. Se tu ama, tu vai amar de qualquer maneira. E isso é uma escolha dele. Eu vou amá-lo do mesmo jeito e, sendo meu filho, vou defendê-lo com unhas e dentes”, comenta. A não aceitação da homossexualidade para si próprio pode ser refletida por vários motivos, dentre eles, os princípios que o indivíduo possui. Nelson Castro tem 22 anos, é professor da rede municipal de ensino e conta que não foi fácil assumir a condição. “Na Igreja, eu aprendi muitas coisas, mas eles não falavam a questão homossexual. E pelo fato de conhecer a Bíblia, e de ser tratado não necessariamente só como preconceito, mas sim um pecado, isso foi muito difícil. Eu aprendi que eu tenho que pregar o amor, não interessa de que forma, eu tenho que amar as pessoas. Então foi desse quesito que eu parti para a minha aceitação”, disse. Para Cristiane Loreto da Silva, psi-
cóloga especialista em terapia sistêmica individual, conjugal e familiar, muitos jovens possuem dificuldade de aceitação da homossexualidade pelo preconceito que a sociedade mostra. “A homofobia e o fato de muitos considerarem a homossexualidade como algo desviante da norma estabelecida sócio-culturalmente, propicia que os jovens tenham dificuldades em aceitar sua sexualidade”, afirma. Na opinião dela, o apoio da família e amigos próximos contribui bastante para a forma como a pessoa se percebe, assim como contribui para a aceitação da homossexualidade.
Temática LGBT é discutida na internet
O assunto também virou pauta de vários canais no YouTube, como o Põe na Roda, e o canal do Daniel Bovolento, escritor e youtuber. Em um dos vídeos postado na plataforma, Bovolento assume a homossexualidade ao público, mas comenta que não foi nada fácil. “O vídeo é um dos mais vistos do canal e teve muito apoio. Muita gente se identificou, elogiou a coragem, brincou que perdeu o crush. Muita gente também parou de me acompanhar (no mesmo dia, o canal perdeu um número considerável de seguidores). Mas foi a decisão mais acertada e feliz da minha vida”, disse.
Eu vou amá-lo do mesmo jeito e, sendo meu filho, vou defendê-lo com unhas e dentes” Rosilene Almeida
24
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Entretenimento
Sexto ano de Batalha do Mercado O evento já inseriu mais de 200 artistas do meio hip-hop, colocando-os em parceria com estúdios Pablo Freitas
Gabriela da Silva
A
Batalha do Mercado comemora o sexto ano de atividade com mais de 60 edições realizadas. O evento incentiva a cultura hip-hop e insere os participantes no meio musical através de parcerias com estúdios. Ele ocorre no último sábado de cada mês, às 22h, em frente ao Mercado Público, no Centro Histórico de Porto Alegre, reunindo Mc’s e fãs do estilo. A cultura hip-hop instalada pela Batalha do Mercado começou com a sua organizadora, Aretha Nunes, juntamente com seus amigos Vitinho Names, Nicolas, Pecs, Matheus Crunck e com a parceria da produtora SN Lombra, em 2011. A ideia principal é inserir Mc’s – artistas que atuam com hip-hop – sem oportunidade nesse meio. O estopim para a criação partiu da carência de eventos desse tipo na capital gaúcha, que, na época, ainda não eram populares. Desde o começo, o objetivo é ver a evolução de cada Mc que se dedica e encara a Batalha do Mercado como oportunidade para obter aprendizado. A cada mês, a Batalha premia um vencedor. As atrações são as clássicas Batalhas de Mc’s, Batalhas das Minas, Batalhas de Beatbox e Pockets Shows de break e street dance. Em edições
ANIVERSÁRIO A festa, em fevereiro, animou a plateia formada por jovens da capital
passadas, havia uma forte presença de DJs, grafite e dança. Nas festas de aniversário, geralmente comemoradas em dezembro, acontece a união de todos esses elementos. As edições já contaram com mais de 200 participantes. A maior parte do público ainda é composto por homens, porém mulheres também estão se inserindo nesse meio, entre espec-
tadoras e participantes. Todas as edições contam com premiações, porém, no início não havia a gravação em estúdio, que hoje é o principal prêmio. A parceria com o estúdio Trinca Records começou em 2016 e desde então houve um crescimento significativo quanto ao número de participantes, atualmente com uma média de
16 pessoas por edição, enquanto antes participavam seis pessoas, em média. A Batalha ainda conta com outras premiações: beat com o Mc gaúcho Jayson Machado, o livro “Pajador do Brasil, Estudo Sobre a Poesia Oral Improvisada”, de Paulo de Freitas Mendonça; um lyric videos doado pelo Projeto 051; uma tatuagem realista em preto e cinza de 21 a 28 cm doada pelo tatuador Nicolas Lima e a vaga para representar a Batalha do Mercado na Eliminatória Rio Grande do Sul versus São Paulo, que acontecerá neste mês. Cerca de 50 artistas já foram beneficiados com premiações. Como estratégia de popularizar os shows, foi escolhido o Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público de Porto Alegre, no Centro Histórico, que é um dos maiores pontos turísticos da capital e de fácil acesso. Além disso, o Largo é conhecido como um local no qual pessoas mostram sua arte de forma independente. Para participar do evento, basta ser maior de 18 anos e gostar de hip-hop. As inscrições são gratuitas e ocorrem antes das apresentações, das 21h50 às 22h20. Os shows, que começam por volta das 22h30, são sorteados na hora do evento, separados por dois rounds e são selecionados os Mc’s que possuem 40 segundos para “atacar” e “responder” através da improvisação. O vencedor é eleito pelo público. Aquele que receber mais palmas é o vencedor da edição.
O reinício nas cordas, gaita e voz de Pedro Nascente
Iberê Camargo recebe a Noite dos Museus gaúcha
Sapiranga festeja Dia do Trabalhador em grande estilo
Natural de Novo Hamburgo, Pedro Nascente, 20 anos, canta, lida com guitarra, gaita, bateria e piano. Em suas músicas de estúdio, toca todos os instrumentos e ainda adiciona vocais de apoio e percussão. Ele já tem em sua bagagem dois álbuns autorais. Atualmente, se apresenta em bares da região metropolitana e divulga seu novo álbum, Back to the Start, em formato digital, lançado pelo seu site no dia 9 de junho. “Nesse álbum, quis passar uma sensação crua e verdadeira, como se as pessoas estivessem me ouvindo ao vivo na sua sala, por isso não tem tanta pós-produção”, esclareceu. Dessa vez, as músicas são em inglês e contam com a participação dos guitarristas Felipe Saul e Franco Bittencourt. Com esse toque de amizade e companheirismo, Back to the Start fala sobre a melancolia da confusão e do medo, e aponta uma luz de esperança, incentivando o recomeço. Pedro já está trabalhando em um novo projeto para o ano que vem e não quis dar detalhes. Ele promete que será algo completamente novo, diferente do que lançou até o momento. Enquanto essa fase não chega aos ouvidos de todos, continua com shows e apresentações pockets na Grande Porto Alegre, tocando suas canções acompanhadas de alguns covers, ora unido a uma banda, ora encantando a todos com voz, gaita e violão. | Gabriel a. ost
No sábado, 20 de maio, aconteceu a segunda edição da Noite dos Museus, em Porto Alegre. A Fundação Iberê Camargo, um dos locais do projeto, contou com exposição de obras do catálogo do artista para o público e atrações musicais. O local, que normalmente funciona das 13h às 18h, teve seu horário modificado para integrar a proposta. Inspirado em evento que acontece em Berlim, Alemanha, desde 1997, o projeto teve sua primeira edição em 2016. Este ano, ocorreu a entrada de dois novos museus nas atividades: o Instituto Goethe e o Museu Júlio de Castilhos. Quem esteve na Fundação Iberê Camargo pôde visitar a exposição das obras do artista, além de curtir apresentações de músicos como Pedro Dom, Milene Aliverti, Zé Flávio Trio e Amauri Iablonovski & Michel Dorfman. O espaço acolheu, ao todo, mais de 2.950 pessoas. Os visitantes podiam apreciar obras de arte expostas no museu. Além disso, o público conseguiu assistir os músicos mesmo postado em todos os andares. O idealizador do projeto no Brasil, Rodrigo Nascimento, disse que “os museus tornam-se palco de um encontro comunicativo, gerando a sensação de pertencimento do cidadão e criando uma nova perspectiva de relacionamento com a cidade”. As atividades contaram com mais de 40 apresentações musicais espalhadas pelos dez espaços. | Clarissa Bessa
O 1º de Maio foi celebrado, na Cidade das Rosas, com canções das bandas locais: o Portal da Serra, a Barbarella e os atuais fenômenos da internet Adson & Alana, que soma mais de 25 milhões de acesso no YouTube. A tradicional festa do município recebeu a população que foi prestigiar o evento organizado pela administração municipal. A banda Portal da Serra iniciou suas canções trazendo o ritmo tradicional de baile. A festa seguiu com apresentação da dupla paranaense Adson & Alana, que agitou o público com vários hits. A dupla de irmãos paranaenses já esteve no Programa do Faustão participando do quadro “Garagem do Faustão”. Na sequência, a Banda Barbarella cantou uma série de músicas do pop rock nacional e internacional e mostrou canções que marcaram sua trajetória. No evento, a prefeita Corinha Molling, do Partido Progressista (PP), destacou que “todos os munícipes trabalham pelo crescimento de Sapiranga e que de forma ordeira contribuem para o crescimento da cidade e destaque na região”. O secretário municipal de Indústria e Comércio, Fernando Hanauer, também discursou no evento e destacou o esforço da administração municipal no planejamento de ações que visam o progresso e a geração de vagas de empregos na cidade. | Rodrigo da Silva
25
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Cultura
O peculiar modo de vida de Los Uros Povo indígena vive em plataformas que flutuam sobre o Lago Titicaca, no Peru Helen Appelt
Helen Appelt
A
quase 4 mil metros acima do nível do mar, está um lago de água límpida e gelada que divide o espaço entre o reflexo do azul do céu e as várias flutuantes plataformas amareladas de totora. Os habitantes caminham e trabalham com roupas coloridas - a maioria de lãs – muito amarelo, verde, vermelho e roxo. Com chapéu ou toucas, também em cores vibrantes, maçãs do rosto queimadas pelo sol forte, mulheres de tranças enfeitadas com tecidos e lãs coloridas entrelaçadas chamam atenção. O Lago Titicaca tem uma extensão de aproximadamente 8,3 mil metros quadrados. Tão grande que é dividido entre a Bolívia e Peru. Um povo indígena de cultura e costumes distintos que vivem em cima de uma plataforma que boia no lago a pelo menos oito séculos. Antes mesmo da habitação dos Incas. A arquitetura e hábitos do lugar permanecem. As casas e os barcos também construídos com a planta aquática abrigam e transportam famílias, cerca de dois mil Uros. Pode-se considerar em extinção. Porém, a continuidade aos seus estilos de vida, está diminuindo devido a busca dos jovens por novas oportunidades fora das ilhas. “É notável um temor da parte dos Uros mais velhos. O temor que seu povo e seu modo de vida mudem pelo fato de muitos jovens irem embora para a cidade em busca de estudos”, conta o profissional autônomo Vitor Guarise, que visitou a ilha no ano passado. Ainda assim, a cultura permanece na maioria de seus hábitos e costumes. É preciso que as plataformas sejam cravadas de ponta a ponta no fundo do lago para que a correnteza não as desloque. As casas, também feitas de totora, tem apenas dois estilos: um mais quadrado, moderno e comum para nossa cultura, geralmente construída pelos mais jovens, e o tradicional na cultura, lembrando uma oca. As casas são pequenas, apenas um cômodo. Lá ficam apenas camas e seus poucos pertences, como roupas, calçados e materiais de artesanato. “Eles vivem de maneira simples, não têm luxo, não precisam de um conforto como nós estamos acostumados. E os sorrisos no rosto demonstram felicidade”, comenta a professora Mariângela Velho Brolini, que visitou a ilha em 2016. Eles utilizam o ambiente para descanso, visto que suas rotinas são ao ar livre. Enquanto uma das mulheres prepara as refeições em um fogão de barro e pedras, as demais trabalham em seus artesanatos. “É diferente da nossa realidade. A organização entre eles chama muito atenção. Os detalhes mínimos da construção das casas, das plataformas e seus artesanatos”, relatam Mariângela. Os homens ficam com o trabalho mais pesado. Colhem totora como combustível para o fogão a lenha, para construção de barcos e trabalhos manuais e artesanais.
Totora
A espécie de junco que se cria no lago dá origem à totora, uma planta herbácea aquática, comum nos pântanos da América do Sul. Pode medir até três metros de comprimento. O xaxim que provém da planta é muito leve e oco por dentro, pode ser comparado com um isopor por sua leveza, o que facilita as construções das bases das ilhas. Esses xaxins podem demorar 10 anos para atingir um metro de altura e então poder ser utilizado.
Os artesanatos
Os artesanatos em cerâmica, tecidos e totora são as únicas fontes de renda que povo local possui. Os valores de venda variam e dependem do material. Eles têm duas formas de passar adiante seus artesanatos. Eles vendem aos turistas que os visitam ou as mulheres vão até a cidade de Puno aos domingos, que é dia de feira, para trocar por alimentos. Sempre coloridos, valorizando seu próprio povo, todos os trabalhos são manuais. Tapetes bordados com figuras dos Uros em suas ilhas ou em barcos, réplicas de seus barcos, ou até mesmo de suas famílias.
Cultura
A cultura se mantém nas ilhas. Os Uros prezam muito pelo matrimônio. Na maioria das vezes quando um casal forma sua família eles constroem sua própria ilha. Há alguns
COSTUMES Acima, feira de artesanatos, apresentada pelos moradores aos turistas. No detalhe, representação de Los Uros de como é a rotina dos Uros
enterram sem identificação. Na espiritualidade de seu povo eles creem que homem é terra e a ela deve retornar sem identificação. O povo utiliza dois tipos de barcas, uma simples e a outra que possui um segundo andar, que chamam de Mercedes Benz.
Língua Quéchua
casos em que as famílias dos noivos se unem e moram juntos. Caso as famílias não queiram mais dividir a mesma ilha, podem serrar a estrutura flutuante.
Curiosidades
Quando um membro da ilha morre os Uros levam o corpo até o solo firme e o
De origem latina americana, a língua Quéchua é falada por indígenas de diversos países como, por exemplo, Argentina, Peru, Bolívia, Colômbia, Chile e Equador, nas regiões dos Andes. Esta língua jamais teve escrita correspondente, até a introdução do alfabeto pelos espanhóis, que usaram o quéchua para pregação religiosa e conversão dos índios. Haviam apenas registros feitos através de sequências de nós em fios de lã.
26
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Junho 2017
Esporte
Atleta do Caí, de 82 anos, busca superação Detentor de mais de 2 mil medalhas, Alceu Chaves é o único tetracampeão máster da São Silvestre Mateus Friedrich
Mateus Friedrich
M
esmo não tendo nascido no Vale do Caí, o professor de técnicas comerciais e corredor Alceu Moojen Chaves é um ícone na região. Aos 82 anos, o catarinense de Rio do Sul vive uma fase complicada da vida após perder seu único filho, baleado no ano passado. Sozinho, ele busca motivação no atletismo, esporte pelo qual se apaixonou há 67 anos. Desde então, empilha troféus e medalhas em suas prateleiras. Atualmente, Alceu guarda suas premiações em São Sebastião do Caí, município do Vale do Caí em que reside há 14 anos. Entretanto, apesar de ter se tornado um multicampeão, o corredor conseguiu competir poucas vezes após o falecimento do filho. Convivendo somente com a neta e com uma vizinha nos últimos meses, Alceu não esconde a tristeza com o atual momento, mas ressalta que não quer e nem pode ficar parado. “Mataram meu filho com dez tiros, roubaram e desmancharam o carro dele. Ele não bebia e não fumava, apenas jogava futebol. A tristeza é muito grande”, lamenta. Para o corredor, a solidão é o maior problema. “Sou sozinho, tenho que fazer alguma atividade, senão fico barrigudo. Também nunca fumei e bebi e tomo os remédios necessários”, frisa. Nascido no estado vizinho, Alceu
extremamente competitivo. “Não existe segundo lugar para mim. Corro pensando na vitória. Segundo lugar é último. Essa é a minha motivação”, enfatiza.
Alceu descarta parar de correr
PERSISTÊNCIA Alceu não correu em 2017 por falta de recursos, mas garante que não vai parar
Chaves veio morar no Rio Grande do Sul logo nos primeiros anos de vida, mudando-se de Rio do Sul para Lagoa Vermelha. Morou ainda em Porto Alegre e em Viamão antes de se estabelecer no Vale do Caí. Primeiramente em Montenegro, onde ficou por duas décadas, e agora em São Sebastião do Caí. Atleta desde 1950, Alceu já correu em todos os estados do Brasil, conheceu boa parte das grandes cidades do país e também já competiu na Argentina, no
Uruguai, no Paraguai e na Bolívia. Conhecimento não lhe falta. Em Montenegro, estimulou a criançada a ingressar no esporte, criando e organizando dezenas de corridas de rua por conta própria. As prateleiras da casa do corredor em São Sebastião do Caí estão pequenas para abrigar as mais de duas mil medalhas conquistadas nas centenas de provas que participou, somados aos troféus obtidos nesses 67 anos. Além do talento mostrado nas pistas de corrida, Alceu considera-se
Há pouco mais de dois anos, Alceu Chaves foi diagnosticado com labirintite, caiu, bateu a cabeça no chão durante uma prova e precisou ficar dois anos sem correr para se recuperar da cirurgia. No segundo semestre de 2016, voltou a fazer o que mais gosta e em grande estilo. Conquistou o título do Troféu Brasil de Atletismo e o Mercosul, ambos em Porto Alegre, e também venceu o Brasileiro de Atletismo Máster, em Brasília. Entretanto, a maior conquista veio no último dia do ano. Em São Paulo, venceu a Corrida de São Silvestre pela quarta vez na categoria máster. “Sou o único atleta homem da categoria máster a ser tetracampeão da São Silvestre. No atletismo, ganha o melhor, quem está melhor. E nesse esporte não tem idade e não depende de condição social”, enaltece. Em 2017, Alceu não disputou nenhuma prova e ainda não sabe se vai competir, por dificuldades financeiras. Apesar disso, o atleta não cogita parar. “Tenho a ideia de participar de corridas neste ano, em setembro, mas falta dinheiro. Além disso, não tenho data para parar. Vou correr enquanto estiver vivo”, finaliza.
Atleta encara preconceito e intolerância no jiu-jitsu
Day Run acontece em 18 de junho, em Novo Hamburgo
A capital gaúcha esteve em festa no primeiro final de semana de maio. O espetáculo Brasileirada - Uma história de Amor, liderado por Clóvis Rocha, lotou o Centro Histórico Cultural Santa Casa em três dias de apresentações. Com 35 bailarinos, sete músicos e quatro coreógrafos, o espetáculo, organizado sem apoio nem divulgação de entidades públicas, enriqueceu os espectadores com danças dos quatro cantos do Brasil. A peça conta a história de um casal nordestino, Avelino e Severina, que são separados pelo destino e, por amor, resolve conhecer as diferenças culturais de todas as regiões do país. De norte a sul, o folclore brasileiro foi tema de ensaios, estudos e encontros do grupo, que já está na terceira temporada de apresentações. O próximo destino do grupo será em outro continente. A Holanda se tornará palco dos gaúchos, que foram escolhidos para representar o Brasil no Festival Internacional do Folclore, que acontecerá de 26 de junho a 11 de julho, reunindo bailarinos de todo o mundo. “O desafio do nosso grupo é mostrar para o mundo o resultado positivo que a dança traz para as pessoas”, disse o publicitário e dançarino Luan Santos, que há sete meses participa do projeto e encontrou na dança uma nova filosofia de vida. | Júlia Maciel
A jornada de Francielle Cunha, 26 anos, no esporte iniciou há dois anos e meio durante um momento delicado da sua vida, quando a lutadora enfrentava depressão e problemas gerados pelo sobrepeso. Para superar as dificuldades resolveu se dedicar à luta, já que sempre acompanhou pela televisão campeonatos de artes marciais. Depois de praticar muay thai por três meses, Francielle começou a lutar jiu-jitsu influenciada pelo professor Alex Tchaka. “No começo me achava incapaz de treinar e sentia até vergonha porque muitas vezes não conseguia realizar todos os exercícios”, recordou. Apesar das conquistas no esporte, a lutadora revela que ainda há muito preconceito em relação às mulheres. A premiação feminina às vencedoras das competições é inferior à masculina. “Nós treinamos tanto quanto os homens, fazemos dieta, preparação física e treinamos de igual para igual”, enfatizou. Francielle enfatiza que o preconceito se manifesta nas arenas até mesmo em dias de competição. “Muitas vezes, em campeonatos, vejo pessoas me olhando torto, não sei dizer se é receio por eu ser gorda. Todos esperam uma atleta magra, sarada e sexy sendo campeã, mas nem sempre é assim.” | Gustavo Machado
A corrida Ginástica Novo Hamburgo Day Run, organizada com o apoio da Prefeitura Municipal, reunirá atletas profissionais e amadores no dia 18 de junho. O percurso será dividido em duas modalidades – 3 km e 5 km –, tendo premiações do 1° ao 5° lugar no resultado geral e do 1° ao 3° por categoria. A largada acontece na Sede da Sociedade Ginástica Novo Hamburgo, no bairro Rio Branco, às 9 horas da manhã. “A expectativa é que o evento reúna centenas de participantes de toda a região metropolitana”, disse o organizador da corrida, Rogério Karpinski, representante da LGOE Multieventos. A novidade do Day Run, em relação aos demais eventos de corridas de rua, será a participação de atletas femininas de Kangoo Jump, modalidade realizada sob um par de botas similares aos patins, porém com molas. Além disso, o evento proporcionará uma corrida kids direcionada a crianças de 3 a 12 anos. As inscrições antecipadas para o evento ocorrem através do site www.sprinta.com.br/lgoe, onde estão especificadas as categorias oferecidas. O valor da corrida varia de 68 a 92 reais, com desconto de 50% para idosos. | Camila Gabriela de Nascimento an Iw
Grupo Andanças reúne apaixonados por dança
Bei
jes /
F R E EI M AG E S
Babélia | Unisinos | São Leopoldo | Edição 27 | Junho 2017
ENSAIO FOTOGRÁFICO
Crioulos à beira-mar
O
ensaio que segue é da graduanda em Fotografia Kyung Ha Dotto Alves. Ela e mais alguns colegas de curso estiveram visitando a Cabanha Querência Azul, localizada no município de Osório/RS. A cabana é especializada na criação de cavalos da raça crioula, e o objetivo dos estudantes foi registrar o cotidiano do gaúcho na lida do campo.