Babélia 30

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EDIÇÃO

#030 São Leopoldo | RS Novembro de 2018

Diego da Rosa / GES

SEIS GOVERNOS E SÓ PROMESSAS A DUPLICAÇÃO DA ERS-118, NUMA EXTENSÃO DE 22 KM, COMPLETA 22 ANOS, O QUE DEMONSTRA A FALÊNCIA DO ESTADO NO ITEM INVESTIMENTOS PÁGINA 12 Ana Luiza J. Melo

Isabelle de Castro

CIDADANIA DE EXCLUÍDOS, INDIFERENTES E SEM ÓDIO ENCARCERADOS E ARTISTAS Saguão da Biblioteca da Faculdade de Psicologia da UFRGS abrigou 30 obras de 20 artistas, presos ou pacientes do Instituto Psiquiátrico Forense PÁGINA 10

A ELEIÇÃO PARA A ESCOLHA DO NOVO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E GOVERNADOR DO ESTADO PASSOU EM BRANCO PARA MORADORES DE RUA DE SÃO LEOPOLDO PÁGINA 6

MOSTRA DE SOLIDARIEDADE Canoas e Esteio deram abrigo a 646 refugiados venezuelanos, que iniciam em solo gaúcho uma nova perspectiva de vida. Agora, em busca de emprego PÁGINA 19


Editorial

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IMAGEM

Praia da Vigia, Garopaba/SC — A imagem faz parte de uma série do aluno do curso de Fotografia Zé Luiz Dias sobre fotos noturnas com longa exposição de luz. Veja mais imagens como essa em flickr.com/photos/zeluizdias.

FALEMOS DE NÚMEROS UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS São Leopoldo e Porto Alegre/RS

Linha Direta: (51) 3591.1122 E-mail: unisinos@unisinos.br Reitor: Marcelo Aquino. Vice-reitor: Pedro Gilberto Gomes. Pró-Reitor Acadêmico e de Relações Internacionais: Alsones Balestrin. Pró-reitor de Administração: Luiz Felipe Jostmeier Vallandro. Diretor de Graduação: Gustavo Severo de Borba. Gerente dos Cursos de Graduação: Paula Campagnolo. Coordenador do curso de Jornalismo: Edelberto Behs.

Jornal produzido semestralmente pelos alunos do curso de Jornalismo da Unisinos - Campus São Leopoldo/RS. TEXTOS E IMAGENS: alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso e Notícia, Jornalismo Impresso e Reportagem, e Redação para Relações Públicas II. PROJETO GRÁFICO: disciplina de Planejamento Gráfico (turma 2018/1). Orientação: professor Everton Cardoso. Projeto gráfico: alunos Ramona Reis Sander, Lucas Lanzoni e Kévin Sganzerla. DIAGRAMAÇÃO: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Diagramação e arte-finalização: Marcelo Garcia.

SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018

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izem por aí que jornalista detesta trabalhar com números. Esta edição contraria o senso comum, pois ela traz reportagens e notícias recheadas de algarismos. Não tratam, é verdade, de grandes cálculos ou fórmulas, mas são números. Vamos a alguns deles. Num louvável gesto de solidariedade, Canoas e Esteio hospedam 646 refugiados venezuelanos, que receberam um facho de esperança e se debruçam, agora, na busca de empregos. Com o apoio do marido e filhos, Márcia Becker abriga 121 cães, 15 cavalos, dois porcos, cinco ratos, um gato e uma cocota em seis hectares no sítio onde reside, em Gravataí. Para manter os animis, a família gasta 3,5 mil reais por mês. Sai do seu bolso! O amor aos bichos fala mais alto. O Estado do Rio Grande do Sul demonstra sua inadimplência na duplicação da ERS-118, estrada que liga a BR-116 até o acesso à BR-290, em Gravataí, rodovia que leva ao litoral e ao centro do país. As obras iniciaram em 1996 e, desde então, seis governos não conseguiram concluir os 22 quilômetros do empreendimento que consumiu, até o momento, cerca de 400 milhões de reais! Em Alto Rolantinho, no interior de Rolante, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa

Terezinha organizou, em parceria com o Posto de Saúde local, uma Feira da Saúde. Enquanto os 120 alunos expunham seus trabalhos, enfermeiras realizavam exames preventivos. Foram 38 exames oftalmológicos, 26 pré-câncer com apalpação de mamas. O saguão da Biblioteca de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) expôs, em outubro, 30 obras de 20 artistas presos ou pacientes do Instituto Psiquiátrico Forense na mostra “Olhares, Memórias e Caminhos: Retratos e Autorretratos no Manicômio Judiciário”. Em Dois Irmãos, um grupo de 30 mulheres voluntárias manipula, desde abril, 16.250 garrafas PET arrecadadas no município para a confecção de 30 lustres e correntes que vão enfeitar a rua principal da cidade para o Natal dos Anjos. O Brasil é o terceiro maior mercado do mundo em apostas esportivas online, movimentando cerca de 6 bilhões de reais por ano. São mais de 400 sites espalhados pelo planeta que viralizam o jogo. Os diferentes números, em diversas situações, mostram esse multifacetado e polifônico país chamado Brasil, hoje extremamente dividido pelo ódio, intriga, intolerância e falta de respeito, que têm raízes na política.


Educação

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ESCOLAS ESTADUAIS PERDEM FORÇA COM AÇÕES DO GOVERNO POLÍTICA DE MUNICIPALIZAÇÃO VISA MANTER APENAS TURMAS DE NÍVEL MÉDIO NA REDE GAÚCHA Por Murilo Dannenberg

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realidade escolar passa por mudanças importantes na educação estadual desde o início da gestão do governador José Ivo Sartori (MDB), em 2014. Os municípios têm assumido gradativamente as turmas de Ensino Fundamental. Tal fato gera apreensão e descontentamento entre a direção de algumas escolas, que apontam a redução de investimentos, atrasos e sobrecarga dos profissionais da educação. Em maio deste ano, ocorreu no Auditório do Ministério Público, em Porto Alegre, um seminário voltado para a discussão dessa temática, reunindo alguns das principais figuras do Estado, como o governador Sartori. Em declaração à revista Em Evidência, voltada para as classes A e B e formadores de opinião, o chefe do executivo gaúcho resumiu os planos do governo para a área. Ele apontou que a municipalização acompanha a proposta do Piratini de se eximir dos custos da manutenção da rede fundamental, como também isentar o governo de “lidar com este assunto historicamente deficitário”, justificou. A política de corte de gastos, porém, tem encontrado resistências, justamente nos locais diretamente envolvidos no assunto: as escolas estaduais. Na Barão de Ibicuí, de Taquari, a insatisfação aparece já na entrada da escola. “Não deixem eles roubarem teus direitos” grita uma faixa do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers), estampando os rostos do presidente da República, Michel Temer (MDB) e do governador Sartori. A diretora, Analípia Pereira e a vice-diretora, Fernanda Porto falaram sobre as dificuldades da escola. Uma delas está nos recursos de autonomia. A verba estadual chega às escolas para arcar com a manutenção, aquisição de materiais, e o pagamento de contas. Segundo ela, os pagamentos são feitos a cada dois meses e de forma fragmentada. Isto é, uma parte é destinada para custeio e outra para investimento. “Às vezes temos dinheiro para grampos e não temos grampeador, às vezes temos grampeadores e não temos dinheiro para grampos”, simplificou.

“Nós temos muita gente com 60 horas, e essa situação é muito ruim. É um prejuízo muito grande para o aluno”, revelou a diretora. Neste sentido, Fernanda salientou que impossibilidade de planejamento impede também que os alunos tenham acesso à conteúdos diferenciados, e com abordagens pedagógicas mais individualizadas para a realidade cada turma.

Às vezes temos dinheiro para grampos e não temos grampeador, às vezes temos grampeadores e não temos dinheiro para grampos” Analípia Pereira

Diretora da Escola Estadual Barão de Ibicuí

A Barão de Ibicuí convive ainda com uma situação que tem mobilizado a direção há mais de seis anos. Entre os anos letivos de 2012 e 2013, um dos prédios da escola foi demolido, em virtude do desgaste estrutural. O objetivo era construir um novo bloco. Porém, a 3ª Coordenadoria Regional de Educação (3ªCRE), responsável pelas escolas na região, alegou impossibilidade de elaboração do projeto, por motivos financeiros e de recursos humanos. Com isso, a prefeitura de Taquari assumiu a concepção, que foi enviado para a 3ª CRE em 2017. Esta retornou ao executivo do município a solicitação de mais detalhes técnicos para avançar na execução da obra, o que ainda não foi feito. O prédio, que terá 1,8 mil metros quadrados, e que incluirá todos os setores que foram realocados, mais salas de aula, segue sem previsão de construção.

Questões financeiras geram frustração

Outro caso é da Escola Barão de Antonina. A diretora Karen Machado critica a política do atual governo, especialmente aos problemas financeiros. “Estas questões geram muita instabilidade na

escola, desmotivação entre os funcionários e revolta com as dificuldades a que todos fomos expostos. Obviamente, existe muita insatisfação e em todas as oportunidades é colocado à coordenadoria a revolta com esta situação”. A queda no número de estudantes também preocupa, tendo em vista que quanto maior a quantidade, maior a capacidade da escola de receber verba. “Hoje são 389 alunos, e houve uma redução de matrículas nos últimos anos”, apontou. Ela frisou que a rede municipal tem avançado na qualificação de professores, oferece material, uniformes e transporte escolar, algo que o Estado não acompanhou. Ambas as direções destacaram que a solução para os problemas apontados é a valorização da área. “Salários dignos e em dia”, pediram. Outro ponto em comum é a formação continuada em serviço e maior autonomia para as escolas gerirem as próprias verbas, além da qualificação dos espaços escolares para melhorar as condições de trabalho. Como mostra o exemplo de Taquari, a falta de estrutura pode determinar a impossibilidade da realização de certos serviços. Murilo Dannenberg

Redução no número de alunos e queda dos orçamentos esvaziam as escolas estaduais

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Educação

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SAPUCAIA DO SUL HOSPEDA EVENTO QUE ABRAÇA PESQUISA, ARTE E CULTURA III ENCONTRO VALORIZOU A CIDADANIA E OS TALENTOS LOCAIS, DOS 10 AOS 28 ANOS DE IDADE Lisandra Steffen

Por Lisandra Steffen

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e o papel da arte é incomodar e fazer pensar, o seu protagonismo criativo na produção de eventos pode gerar uma corrente inspiradora, como uma bola de neve”, contou a estudante de Design e artista do evento, Raquel Araújo. O III Encontro de Arte, Cultura e Cidadania ocorreu nos dias 9 e 10 de outubro no Instituto Federal Sul-RioGrandense (IFSul), campus Sapucaia do Sul, e teve como objetivo aumentar a visibilidade da produção artística-cultural da região. Organizado por alunos e professoras, o evento contou com a participação de jovens artistas, expondo suas obras, além de saraus, oficinas de teatro, rodas de conversa e apresentações artísticas. A programação dividiu espaço com a mostra científica, SaberTec, que ocorreu nos mesmos dias. Segundo a organizadora do evento, Flávia Fraga, isso foi pensado com antecedência, uma vez que arte, cultura e pesquisa científica podem e devem andar juntas, justificou. O evento recebeu 400 visitantes, que assinaram o livro de presença.

A arte é necessária para entender a vida e a humanidade Mas também estiveram na exposição escolares da região, de turmas entre o 6º ano do Ensino Fundamental e o 3º ano do Ensino Médio. Grande parte dos visitantes ficou sabendo do evento por meio das redes sociais e amigos. Jady Barbosa, 20 anos, visitou a exposição e contou como esses espaços

ATLETA HERVALENSE É CONVOCADO PARA A SELEÇÃO GAÚCHA Os Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (JERGS) de 2018, realizado em 10 de outubro, no Centro Estadual de Treinamento Esportivo em Porto Alegre (CETE), contaram com a presença de Luka San Steffen, 17 anos, morador de Santa Maria do Herval, município com 6.315 habitantes. Conquistando medalha de ouro nas modalidades de octatlo e arremesso de dardo, o atleta teve sua passagem ao Campeonato Brasileiro Estudantil garantida. O evento, que ocorrerá dos dias 17 a 19 de novembro, será realizado em Natal, no Rio Grande do Norte. “Treinei duas horas, todos os dias da semana durante dois meses. E nas terças-feiras, eu fazia musculação”, contou Luka. Acompanhado pelo professor Frederico Staudt, 35 anos, o jovem recebeu todo o apoio do Instituto Ivoti, onde estuda, para participar da competição. “Ele é um atleta bem completo, resistente, veloz e explosivo. Nós ficamos muito contentes com a conquista do Luka”, afirmou o professor. (Nadine Dilkin) SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018

são importantes, pois o aluno expõe um talento que até então a escola não conhecia e, assim, inspira outros colegas a entrarem em contato com a arte. Já Gabriela Corazza, 21 anos, disse que “a educação não deve se limitar à sala de aula. Eventos como esse engajam os alunos em diversas atividades escolares, as quais enriquecem ainda mais as suas experiências e todo o processo de aprendizagem“. O Encontro abriu espaço para artis-

Primeiro Saque garante recursos federais e dá continuidade a projeto O projeto social Primeiro Saque teve o valor aprovado de 370 mil reais para investir em melhorias. A iniciativa foi contemplada pela Lei de Incentivo ao Esporte. Para garantir esse valor, foi necessário arrecadar 14 mil reais como contrapartida até o final de outubro, por meio de doações. Coordenado por Matheus Triska, o projeto surgiu há três anos em Canoas e tem a missão de incentivar crianças à prática do tênis. A iniciativa conta com profissionais voluntários. Segundo o fotógrafo e parceiro do Primeiro Saque, Bruno Alencastro, trata-se de um projeto lindo, que integra esporte, educação e, principalmente, muito amor e afeto. Cerca de 40 crianças são atendidas nas atividades de tênis, yoga, meditação, vôlei, música, entre outras. Elas acontecem na Comunidade de Aprendizagem Karuna, no Canoas Tênis Clube. (Dryelle Wyse Reck)

ta dos 10 aos 28 anos de idade exporem suas obras. Raquel, 21 anos, contou que essa foi a sua primeira exposição e que eventos como esse são grandes propulsores da criatividade do artista e da visão sobre si, fundamental para a sociedade. “Reafirmar a existência desses artistas é muito importante para desmistificar a necessidade de que precisamos nos concentrar nas capitais, nos grandes centros urbanos, para a sobrevivência. Precisamos mostrar que existem pessoas talentosíssimas em todos os lugares e elas precisam de visibilidade e apoio”, disse a artista. A coordenadora do evento, Stefanie Moreira, contou que o Encontro foi uma retomada da cultura e que, mesmo com a distância entre os eventos anteriores e as dificuldades enfrentadas, ele alcançou o mesmo nível que os seus antecessores. Ela afirmou que a arte é necessária para entender a vida. “A gente precisa dessa dimensão cultural e artística. Não só para o entretenimento, mas para nos tirar do nosso lugar, para fazer pensar e sentir coisas”, enfatizou. A retomada do evento foi, segundo as organizadoras, necessária, uma vez que incentivar a arte e a cultura é depositar esperança no mundo.

PORTO ALEGRE ABRIGA FESTIVAL QUE TERÁ MAIS DE 450 ATIVIDADES Uma oportunidade para expandir conhecimentos em marketing, tecnologia, informação e empreendedorismo, o Festival da Transformação (FT18) deverá reunir, em Porto Alegre, nos dia 24 e 25 de novembro, em torno de 4 mil estudantes, profissionais e curiosos, segundo expectativa da ADVB/RS, realizadora do evento. Mais de 450 atividades, como espaço de trabalho participativo (coworking), feira de startups, jogos e desafio de moda serão hospedados pela ESPM-Sul, além de atividades paralelas nos campi da Unisinos e da PUC. Palestrante confirmada no evento, a jornalista Taís Seibt enfocará o desafio da credibilidade de navegadores nas redes digitais nesta era da notícia falsa (fake news), fenômeno da desinformação que contaminou o debate político na última campanha eleitoral. Os ingressos para o evento podem ser adquiridos através do site oficial, ao custo de 220 reais, com desconto de 50% para estudantes, idosos, pessoas com deficiência e jovens de baixa renda. (Silva Gulart)


Educação

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ACEITAÇÃO, PREPARO E ENGAJAMENTO SÃO DESAFIOS NA INCLUSÃO ESCOLAR ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS ENFRENTAM FALTA DE RECURSOS NA ESCOLA PÚBLICA REGULAR Por Vanessa Puls

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Cecília Silveira, mãe de Luam, 15 anos, que também é portador de Síndrome de Down, conta que nos anos iniciais ele estudou em três escolas diferentes em Sapiranga, região Metropolitana de Porto Alegre, e que lá a situação era muito melhor, pois havia mais recursos e preparo por parte dos professores. Porém, a situação mudou quando precisou deslocar-se para Tramandaí, onde enfrentou uma enorme burocracia para incluir o filho na escola regular. Atualmente, Luam estuda na Escola General Luiz Dêntice e a mãe diz que, mesmo sabendo que as coisas não funcionam completamente dentro do que dita a lei, sente que o menino evoluiu em diversos aspectos, como organização, aprendizagem e comportamento. “No começo foi bem difícil, não permanecia sempre o mesmo monitor e até que encontrarem um profissional que o acompanhasse ele acabava nem indo para escola. Mas hoje eu vejo que está evoluindo, percebo a preocupação das monitoras em fazer com que ele aprenda, além do carinho e atenção que recebe”, complementa Cecília. De acordo com Dulcelei Panatta, diretora da Escola de Ensino Fundamental General Luiz Dêntice, de Tramandaí, são muitos os desafios. Ela destaca duas questões que in-

A Lei 13.146, de julho de 2015, denominada Lei Brasileira de Inclusão, determina que todas as escolas, públicas e privadas, devem adotar práticas pedagógicas que promovam condições de acesso e de igualdade para os alunos com necessidades especiais. Além disso, o estudante tem direito a um profissional de apoio escolar, que deve cuidar da alimentação, higiene e locomoção do estudante com deficiência. O artigo 2° do capítulo I define pessoa com deficiência “aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.

Para mim, a única escola inclusiva de verdade é a Apae” Cibele Moura Professora

fluenciam no trabalho da escola. Em primeiro lugar, a aceitação da família, que muitas vezes é um processo demorado e que exige suporte e determinação por parte da escola. Outro obstáculo é o apoio da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), que tem papel importante na vida da criança especial, mas que no município de Tramandaí demonstra certa resistência em aceitar o aluno a partir do momento em que ele entra na escola regular. A Apae tem como principal objetivo promover a atenção integral ao indivíduo com deficiência intelectual e múltipla. São mais de 2 mil Apaes distribuídas pelo Brasil. Nelas são prestados serviços gratuitos de saúde, assistência social e capacitação profissional em diversos ofícios. Cibele Moura, professora formada em Educação Física e pós-graduada em Educação Especial, trabalhou 13 anos na Apae de Osório. Ela considera a inclusão como o principal papel da instituição. A Apae nasceu em 1954 no Brasil e a sua fundação partiu da ideia de pais de alunos excepcionais que tinham o intuito de construir um espaço onde os filhos pudessem aprender e se desenvolver afastados de uma sociedade que, na época, era extremamente segregadora. Ela conta que no início a ideia da Apae era criar um mundo em que os alunos especiais tivessem vida social e intelectual. “Ao contrário do que muitos dizem sem ter conhecimento, as Apaes são associações seríssimas, espalhadas pelo mundo inteiro e com o único objetivo de proporcionar ao sujeito especial toda a condição para o desenvolvimento integral. A instituição desempenha esse papel muito melhor que a escola regular”, assegura. Para a professora, lá é um espaço diferente, especial e feito com amor, onde os processos são mais valorizados que os resultados. “Para mim, a única escola inclusiva de verdade é a Apae”, finaliza Cibele. Pexels

participação dos familiares é essencial para a construção de uma sociedade inclusiva, mas os profissionais da educação também precisam estar propensos a auxiliar nesse caminho. Suelen Osio Nuri, mãe da Manuela, 11 anos, que é portadora de Síndrome de Down, sonha com isso. A menina, que estuda na escola Osvaldo Amaral, em Osório, já passou por dificuldades para ser incluída. A mãe relata que não acontece a inclusão e sim uma exclusão. Não depende só da criança querer, mas também dos professores estarem dispostos a ajudá-la. “Eu acredito que por se tratar de crianças especiais, elas têm uma dificuldade muito grande de se relacionar. Levando isso em consideração, é necessário que os professores adaptem a turma ao aluno e não o contrário”, ressalta a mãe da estudante. A chegada de um número cada vez maior de alunos especiais no sistema educacional convencional está obrigando as escolas a adaptarem seus conceitos pedagógicos. Inclusive, muitas delas estão investindo em salas de apoio para Atendimento Educacional Especializado (AEE), o qual, por meio de atividades e recursos acessíveis, complementa a formação do estudante. Fernanda Almeida, educadora especial na Escola Escolas adaptam conceitos Municipal de Ensino Funpedagógicos para incluir alunos damental Erineo Scopel com necessidades especiais Rapaki, em Tramandaí, destaca que a verdadeira inclusão social ainda é um sonho “Ela acontece, mas em passos muito lentos. Não é só ter a criança dentro de sala de aula, é preparar atividades voltadas para as habilidades e limitações dela, levando em conta que cada criança é diferente”, salienta. Segundo Fernanda, é preciso pensar na inserção da família, bem como a do aluno, porque ela se torna, também, uma família especial.

O que diz a Lei

SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018


Eleições

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MORADORES DE RUA RECUSAM O VOTO EM MEIO A TANTAS OUTRAS VIOLAÇÕES, VOTAR NÃO É UMA PRIORIDADE PARA QUEM VIVE NAS RUAS Por Grégori Soranso

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duas quadras da Câmara de Vereadores, símbolo de representação democrática em qualquer município, Maicon Sperafico, 28 anos, acompanha a movimentação da Rua Independência, principal via do centro de São Leopoldo. Os degraus da entrada de um grande banco privado servem de moradia, na falta de alternativa melhor. Alheio ao vai e vem das bandeiras e cabos eleitorais em plena campanha, ele revela que a exclusão do processo eleitoral não se dá pela condição social, mas por uma escolha consciente: “Eu nunca voto, sempre justifico”. Maicon está em situação de rua há quatro anos, mas tem todos os documentos guardados, inclusive o título de eleitor. Na visão dele, o pleito não tem relevância. “Eles não pensam no morador de rua”, desabafa. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), vinculado ao Governo Federal, a projeção em 2015 era de que havia pouco mais de 100 mil pessoas morando nas ruas no Brasil. Dados mais recentes do Cadastro Único para Programas Sociais, que contemplam quem acessa os serviços públicos ofertados na área da Assistência Social, apontam o montante de 104.664 pessoas em situação de rua cadastradas no país em agosto. Em São Leopoldo não existem dados oficiais que englobem a totalidade desse público, mas, de acordo com a diretora do Albergue Municipal, Loreni de Goes, são prestados em média 170 atendimentos por mês no local. “Pelos nossos registros, a maioria não é de São Leopoldo. Esse público transita muito, principalmente pelas cidades que compõem a linha do trem”, explica. Para o sistema eleitoral, contudo, não existe diferenciação com relação à população de rua, como esclarece o chefe do Cartório Eleitoral de São Leopoldo, José Vitor Blanco Vieira: “O cadastro eleitoral não faz essa distinção. É obrigatória a apresentação de um vínculo com o município, e isso se dá pelo comprovante de residência. No caso de quem vive na rua, pode ser utilizado o endereço de um albergue, por exemplo”. Ele também ressalta que por essa razão não é possível estimar quantas pessoas em situação de rua têm título de eleitor ou mesmo exercem o direito ao voto em cada eleição. SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018

Descrença na classe política como barreira

“Desisti de ser cidadão brasileiro, não tenho mais vontade de votar”, é o que expressa Ubiratan Karpinski dos Santos, 32 anos, ao ser indagado sobre as eleições. Dividindo-se entre a coleta de material reciclável e a vigia de carros no centro da cidade, atualmente tem seu lar sob a elevada do trem, onde os bancos de concreto são usados como estrutura do abrigo improvisado que serve de dormitório. Natural de Arroio dos Ratos, conta que mora na rua há três anos, situação em que se viu após deixar um emprego em decorrência do uso de drogas. A desilusão de Ubiratan é justificada pelas dificuldades encontradas para se manter em condições mínimas de dignidade. “O Brasil é muito desigual, pra conseguir as coisas é muito ‘perrengue’. Tu trabalha pra comer e morar e só”. Mesmo tendo ensino médio completo, alega que o salário mínimo hoje em dia não é suficiente para sustentar uma casa.

Sobre o cenário eleitoral, sua posição é enfática: “Pra mim não faz a menor diferença. Pluripartidarismo é uma briga de quem tem mais poder”. Mas faz uma ressalva: “Eu só votaria de novo se alguém apresentasse um projeto que tornasse a corrupção passível de prisão perpétua”, assinala. Na outra margem do centro, sentado em um banco da Praça da Biblioteca, como é conhecida, Carlos Tadeu de Souza se mostra mais engajado

O Brasil é muito desigual, pra conseguir as coisas é muito ‘perrengue’. Tu trabalha pra comer e morar e só” Ubiratan dos Santos Morador de rua

em ações que envolvem a população de rua. Aos 36 anos e após ter cumprido pena no sistema prisional, teve invadida a casa que possui no bairro Campina, questão que espera resolver na justiça. “Estou me inserindo de novo na sociedade”, diz. Apesar de mostrar preocupação com a manutenção dos serviços públicos ofertados a quem necessita, assim como ele, de um local para dormir e fazer sua higiene, já não deposita mais crença na política partidária. “Época de eleição eles querem te ajudar, querem fazer tudo. Até dinheiro eles dão”, menciona ao descrever o dia em que ganhou 50 reais e alguns ‘santinhos’ de um determinado candidato. Assim como Maicon e Ubiratan, Carlos também não foi às urnas nestas eleições. A motivação principal, segundo ele, é a perda recente do título de eleitor. De todo modo, para eles desinformação não parece ser uma barreira para o dito exercício da cidadania, mas uma opção de quem não crê que esse seja o caminho para a mudança que esperam. Grégori Soranso

Casal se abriga na área externa da Estação do metrô em São Leopoldo


Tecnologia

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A ELEIÇÃO DAS REDES SOCIAIS ESTE ANO MARCA O PRIMEIRO PLEITO COM ATUAÇÃO OFICIAL DA PROPAGANDA NA INTERNET PixaBay

Por Gabriel Reis

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om o tempo, a internet mostrou impacto por meio de números. O aumento de usuários da rede online ocorreu de forma exponencial na última década. Atualmente, ano de eleição no Brasil, mais da metade da população conectada à internet e período eleitoral totalmente redesenhado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em fevereiro deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma pesquisa que demonstrava que 64,7% da população está conectada à internet, totalizando um número de usuários aproximado a 116 milhões de brasileiros. Em 2014, também ano de eleição, o IBGE realizou uma pesquisa que teve como resultado um total de 46,5% de usuários brasileiros conectados, totalizando 95,4 milhões de pessoas. Há um expressivo aumento no número de conectados em nível nacional, e que nas últimas eleições gerais a mídia digital não era a mais utilizada e acessível. Em meio a corrida eleitoral deste ano, uma opinião convergente de dois candidatos resplandece a verdadeira relevância do período que vivemos. De acordo com os ex-presidenciáveis Ciro Gomes e Alvaro Dias, as eleições de 2018 foram as mais importantes desde a redemocratização do Brasil após o regime militar. Ambos levantam o mesmo discurso para exemplificar assuntos divergentes. Contudo, a afirmação dos ex-candidatos à presidência demonstra o diferencial do período eleitoral vivido. A eleição que desconstrói o que a população estava acostumada a ver nas corridas eleitorais chegou, em grande parte, potencializada pela ferramenta que pode se transformar em arma, a internet. Neste ano, o Brasil tem mais da metade da população conectada digitalmente. O TSE pôs mais rigor no uso da ferramenta para realizar propaganda eleitoral. De forma geral, as regras das eleições de 2016 para a realização de campanha na internet foram mantidas. Contudo, em 2018, agregaram ênfase na proibição do uso da ferramenta “turbinar” oferecida em redes sociais, como Facebook e Twitter. Não obstante, também foi decretado um rigor na verificação dos dados que seriam circulados, citando como exemplo as fake news. De acordo com o coordenador do curso de Comunicação Digital da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Mi-

cael Vier Behs, as fake news se propagam facilmente por, em sua maioria, abordar notícias que boa parte da população deseja ler e, principalmente, os cidadãos que reconhecem as notícias falsas as propagam propositalmente para promover ou prejudicar determinado candidato. Não obstante, Behs comenta “pessoas com opiniões políticas muito definidas e expressadas na rede tendem a receber informações e produções dos candida-

As fake news se propagam facilmente por, em sua maioria, abordar notícias que boa parte da população deseja ler” Micael Behs

Professor do curso de Comunicação Digital

tos que apoia e de pessoas que possuem a mesma opinião, gerando o fenômeno chamado bolha social”. Por fim, o entrevistado cita a “checagem de notícias” como uma forma de evitar o consumo e proliferação de fake news.

Não se deixe enganar pelos números

estadual Ronaldo Teixeira, popularmente conhecido como Professor Nado, a televisão representa 52% da influência do resultado de uma campanha. Posteriormente, conclui que, a web, apesar de ter a interatividade como diferencial, o meio digital exige a interação, não à fornece, diferentemente da televisão que, exclusivamente, oferece a informação. Em 2022, de acordo com a 19ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia, realizada pela PricewaterhouseCoopers (PwC), é estimado que 82% da população brasileira esteja conectada à internet por dispositivos móveis. O número aproximado de brasileiros virtualmente conectados em 2022 será de 170 milhões, aponta a PwC. Uma pesquisa realizada pela IDC Brasil em 2017 indica que ocorre um aumento de 9% na compra de smartphones nacionalmente a cada ano. O Brasil se manterá como quarto país com maior número de usuários de internet, ficando atrás dos Estados Unidos, China e Índia.

A palma da mão com um mundo de informações. As redes sociais mais populares do mundo em um único aparelho

Apesar do crescimento exponencial do número de usuários da internet no Brasil, o TSE divulgou no dia 18 de setembro de 2018 que, até o dia 8 de setembro, os postulantes aos cargos políticos destinaram a sutil porcentagem de 1,6% dos gastos da campanha para propaganda online. Em uma pesquisa realizada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) em 2016, foi constatado que a cada 70 milhões de residências brasileiras, 2 milhões não tinham televisão. Os dados apresentados comprovam que a mídia mais popular do Brasil se mantém sendo a mídia televisiva. Segundo o ex-candidato ao cargo de deputado

SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018


Política

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POLÍTICA TAMBÉM É PARA MULHERES NO CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO, A PRESENÇA FEMININA É UMA REALIDADE NÃO MUITO EXPRESSIVA Por Lucieli Faedo

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maioria da população brasileira é feminina, porém, a representação da mulher no cenário político é bem menor comparada aos homens. A eleição de 7 de outubro, contou com 147,3 milhões de eleitores aptos a votar nas eleições 2018, destes 52,5% referem-se a mulheres. Pesquisas apontam que a presença feminina na política modifica o padrão do gasto público, com mais investimentos em direitos sociais, sobretudo em áreas como educação e saúde, e contribui para a diminuição da corrupção. O acadêmico Sergio Zanatta, de Ciências Contábeis, e Ariane Luiz da Silva, formada em Direito comentaram sobre as estatísticas. Para eles votar em mulher abre o campo para combater as desigualdades: social e de gêneros. Segundo dados do TSE, na última eleição em 2016, foram eleitas 641 mulheres para exercer o cargo de prefeitas, esse número representa somente 11,57% do total de 4.898 prefeitos eleitos. O número de vereadoras igualmente abaixo, do total de 50 mil vereadores eleitos, Fernanda Melchionna (esq) foi a primeira mulher deputada federal mais votada do Rio Grande do Sul. À direita, Juliana Brizola e Luciana Genro. Juliana foi eleita deputada estadual nas eleições de 2018

mulheres foi menos de 8 mil vereadoras eleitas. Nos legislativos estaduais e federais, a situação é parecida, dos 513 deputados, somente 10,5% são mulheres, e dos 81 senadores, apenas 16%.

Palavra do especialista

No Brasil, apenas uma mulher foi presidenta, a Dilma Rousseff. Para o professor doutor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Aragon Érico Dasso Junior, que tem experiência e atua com políticas públicas. É um fato histórico. “A vitória de Dilma foi algo inédito na história política e eleitoral brasileira, pois nunca antes uma mulher havia sido eleita presidente. Não tenho dúvida alguma de que ela representou bem a mulher na política. Quanto ao legado ou balanço dos seus dois governos para a mulher, podem ser enumerados avanços no combate à violência doméstica, na autonomia financeira da mulher e, principalmente, na representatividade na política. Dilma nomeou o maior número de ministras mulheres no Brasil. Porém, se desejarmos ser críticos, penso que o tema do aborto é uma questão que ficou pendente”, relata. Aragon completa que para modificar a realidade de que política também é coisa de mulher, será necessária uma mudança na legislação eleitoral. “O aspecto cultural de que a política não é coisa para mulher ainda é muito forte”, conclui. Divulgação / Assembleia Legislativa

SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018

“O aspecto cultural de que a política não é coisa para mulher ainda é muito forte” Aragon Érico Dasso Junior Professor da UFRGS

A deputada estadual (RS) PDT Juliana Brizola relata que entrou na política por acaso, pois ela nunca tinha imaginado, quando jovem, ter um mandato. Embora na casa dela “respirassem” política o dia todo, por meio do avô Leonel Brizola. “Eu vivia aquilo meio que inconscientemente”, confessa. Juliana entrou na vida acadêmica e concluiu o curso de Direito. No entanto, a política iniciou em sua vida, quando ela percebeu que para ter voz e mudar aquilo que achava errado, era necessário ter mandato. Juliana cita também que a sociedade é revestida por um machismo silencioso. “Na Assembleia, somos apenas nove mulheres. Quando nos posicionamos ou aumentamos a voz, o julgamento sempre vem. Inclusive, às vezes, acaba tirando o foco do próprio debate ”, expõe. A vereadora de Porto Alegre do PSOL Fernanda Melchionna é bibliotecária de formação, começou na política ainda quando

adolescente, em 1998. Na época participava de passeatas contra as privatizações do Governo. “No meu primeiro mandato sofri muito, tinha 24 anos, mulher, jovem e socialista. Tive que enfrentar muitos homens do poder para ser respeitada. E o fato de ter mais mulheres na política vai reverter esse resultado para batalhar por mais espaço”, disse ela. Iara Cardoso, vereadora de São Leopoldo pelo PDT, com formação em Direito, teve seu engajamento na política a partir da constatação de que é o principal instrumento capaz de conferir as diretrizes de um povo, seja no quesito do desenvolvimento social, humano e econômico. Para Iara, a política ainda é um ambiente machista. “ A participação da mulher é fundamental e complementa o espectro sociológico, emprestando aos espaços de poder, outros tons e ações que priorizem os anseios das mulheres. Se quisermos evoluir enquanto civilização, imprescindível que as mulheres busquem o efetivo protagonismo nas esferas de poder promovendo a verdadeira igualdade de direitos e oportunidades”, afirma. Fernanda, Iara e Juliana também fazem menções sobre a jornada das mulheres. Muitas têm filhos, casa e família para cuidar, além de trabalho fora de casa. Tantas sofrem com abusos sexuais, preconceito, violência física e moral. O salário, comparado do colega homem, é sempre menor, fazendo a mesma função. Arquivo pessoal


Economia

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JOVENS INVESTEM EM CRIPTOMOEDAS A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA ESTÁ GANHANDO CADA VEZ MAIS ESPAÇO NO MEIO FINANCEIRO David McBee / Pexels

Por Luana Ely Quintana

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á ouviu falar de bitcoin? Moeda virtual? Criptomoeda? Já é falado sobre esse assunto há um tempo, sempre de maneira mais discreta. Porém, recentemente elas viralizaram e estão rodando o mundo pelos computadores. Para tentar explicar este “novo” meio, tome como exemplo bitcoin, que é apenas uma entre as várias moedas virtuais que existem. Bitcoin é dinheiro, como o real ou o dólar. A maior diferença é que não há instituições financeiras ou governo ligados a ele, é 100% virtual, ou seja, não existem monopólios que controlam a impressão de dinheiro que pode valorizar ou desvalorizar uma moeda e, não existem taxas de operação exorbitantes como o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). As criptomoedas são meio de troca que utiliza da tecnologia de blockchain (Base de Dados Distribuída que guarda um registo de transações permanente e à prova de violação) e da criptografia para assegurar a validade das transações e a criação de novas unidades da moeda através de um processo chamado mineração. No blockchain, ou “protocolo de confiança”, cria-se um índice global para todas as transações dentro do mesmo mercado. É uma espécie de livro-razão, totalmente público e compartilhado. Só há um jeito de comprar, vender e transferir as criptomoedas: pela internet. O Bitcoin, citado anteriormente, foi a primeira criptomoeda lançada no mercado em 2009 e desde então muitas outras surgiram e se alastraram pelo mundo cibernético.

Invista no seu futuro

Cada vez mais os jovens buscam investir e investem no tal dinheiro digital como forma de aplicar e visar um futuro onde nossos poderes aquisitivos não serão limitados por governos ou o domínio bancário. A cotação, compra e venda acontecem anonimamente e de forma bem simples: pela internet. A moeda digital é armazenada em uma carteira e administrada em um computador pessoal ou dispositivo móvel. No mercado brasileiro das criptomoedas, chamado Ecoin, há opções como o Mercado Bitcoin e a Braziliex. É preciso criar gratuitamente uma conta e informar o valor em reais e/ou a quantidade de moedas virtuais que deseja. Empresas internacionais como a Bittrex, Poloniex e Bitfinex permitem que qualquer pessoa invista em criptomoedas utilizando dólares. Na Braziliex, o

Bitcoins e Ethereum são ótimas alternativas para quem quer adentrar no mundo de finanças online

usuário pode requisitar o saque para suas carteiras virtuais, no caso de criptomoedas, ou para sua conta corrente, em caso de saque em reais. Imagine um cenário onde uma criptomoeda valoriza 276% da divisa do ano, enquanto a bolsa brasileira segue apresentando alta de 25% no mesmo período. Onde você investiria? Porém, é necessário estar atento às oscilações desta moeda, pois há quedas e altas diariamente. De acordo com o consultor Leonardo Stoffel, a melhor maneira de investir sem conhecimento técnico é comprar Bitcoin, Ripple ou Etherium e mais umas duas ou

Novas criptomoedas são criadas todos os dias e muitas delas valorizam em questões de minutos” Léo Mattos Brentano Investidor

três potências e deixar na carteira virtual por alguns anos. Ou aconselha procurar empresas que gerenciam contas ou, até mesmo, fazer um curso de Day Trade (que ensina como começar a investir e a ganhar dinheiro na bolsa de valores). Léo Pedro Mattos Brentano, 20 anos, estudante de Matemática e Finanças na Queen’s University of Belfast, investidor deste meio há 9 meses, diz que decidiu investir em criptomoedas, para diversificar seu portfólio e também para ter a chance de adentrar em um mercado que ainda está em desenvolvimento e tem uma boa proposta para o futuro. E comenta que o maior

benefício de investir neste empório seria a possibilidade de diversificar seu dossiê de investimentos com algo que realmente pode ter uma grande liquidez no futuro, mas é importante lembrar que o segredo deste mercado é a diversificação de ativos. Para finalizar, ele ressalta que “novas criptomoedas são criadas todos os dias e muitas delas valorizam (ou desvalorizam) muito em questões de minutos, tornando as possibilidades de aumentar seus investimentos muito maior, assim começar a investir seria uma boa opção basta abrir uma carteira digital em uma das muitas empresas existentes deste meio no Brasil.”

Dicas para se tornar um investidor n

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Evite deixar o dinheiro na corretora caso não vá negociá-lo, é muito comum ouvir relatos de ataques às corretoras de criptomoedas por hackers, que roubam o dinheiro aplicado pelos investidores; Deixe o dinheiro em uma carteira própria, recomendase aos investidores que façam

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uma conta de segurança com hardware-wallet, que é semelhante a um pen-drive; Invista em corretoras conhecidas, o ideal é o investidor colocar o dinheiro em exchanges com maior volume transacionado, com mais tempo no mercado e maior número de clientes. Fonte: Forbes Brasil

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Saúde

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FEIRA DA SAÚDE OFERECE TESTES PRÉ-CÂNCER E OFTALMOLÓGICOS EVENTO MOVIMENTOU A REGIÃO DO ALTO ROLANTINHO, EM ROLANTE, COM EXPOSIÇÕES E EXAMES GRATUITOS Karolina Bley

Por Karolina Bley

“É

preciso um trabalho contínuo de conscientização para a mudança de hábitos prejudiciais à saúde”, destacou a professora Caritatis Guimarães Schmitt, ao falar da Feira de Saúde dos alunos da escola Santa Terezinha, no Alto Rolantinho, município de Rolante, ocorrida no dia 20 de outubro. O evento foi uma parceria entre o posto de saúde da região e a escola, que trouxeram trabalhos de conscientização e ofereceram exames gratuitos para a população na quadra de esportes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Terezinha durante toda a manhã. Cerca de 120 alunos, com idades entre 4 e 15 anos, expuseram trabalhos voltados para a saúde, com o propósito de conscientizar os rolantenses. Diversas áreas da saúde pública foram abordadas pelas crianças, desde os benefícios das plantas medicinais até dicas de como parar de fumar. Segundo Caritatis, o principal objetivo da Feira foi ensinar os alunos a valorizarem a própria saúde, bem como de seus familiares. “A comunidade escolar enfrenta muitos proble-

Alunos e professores receberam medalhas de participação mas decorrentes da falta de informação. Temos inclusive casos de gravidez na adolescência e precisamos conscientizar e prevenir essas questões”, disse a professora. Para a enfermeira coordenadora do posto de saúde e idealizadora da Feira, Glécia Linden, o envolvimento

das crianças é essencial. “Devemos educar os alunos primeiro, pois os adultos já têm suas manias e hábitos, e o fato de ser uma feira para a comunidade envolve pessoas e as sensibiliza, já que são crianças pedindo consciência e fazendo promoção da saúde”, destacou Glécia. Enquanto a Feira acontecia na quadra de esportes, no outro lado da rua o Posto de Saúde oferecia exames gratuitos. Estavam disponíveis coleta

de pré-câncer, solicitações de mamografias, verificação de pressão, verificação oftalmológica e testes rápidos para detectar HIV, sífilis, hepatite B e C. Segundo Glécia, o objetivo do evento foi a promoção da saúde para que as pessoas evitem doenças ao invés de apenas tratá-las e estimular as crianças a se prevenirem desde cedo. A Feira de Saúde não teve custos para o posto do Alto Rolantinho, pois os exames feitos ali já são oferecidos no dia a dia. O único custo foi motivado com a aquisição das medalhas de participação para os alunos da escola, oferecidas pela Secretaria da Saúde de Rolante. Outro custo foi a premiação dos nove melhores trabalhos que ganharam uma ida ao cinema, com transporte também pago pela Secretaria da Saúde. Os ingressos foram financiados por dois vereadores da cidade. A população abraçou o evento, que se manteve movimentado pelas famílias dos alunos e moradores da região no decorrer de toda a sua duração, das 8h às 11h. Além disso, no Posto de Saúde foram realizados 38 exames oftalmológicos, 26 exames pré-câncer com palpação de mamas e 70 testes rápidos.

MOSTRA TRAZ EXPRESSÕES DE 20 ENCARCERADOS Como uma verdadeira oportunidade de existir e resistir, a mostra “Olhares, Memórias e Caminhos: Retratos e Autorretratos no Manicômio Judiciário”, reuniu, em outubro, 30 obras de 20 artistas, e presos ou pacientes do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF). A exposição, que marcou também o Dia Internacional da Saúde Mental, trouxe cor, vida e renovação ao saguão da Biblioteca de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A exposição foi produzida pelos integrantes do Ateliê Artinclusão e idealizada pelo professor estadual e também artista Aloizio Pedersen. Há pouco mais de um ano, o projeto literalmente colore e dá vida aos corredo-

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Ana Luiza J. Melo

res internos no habitat dos pacientes. Além das intensas pinceladas expressionistas, as obras vieram acompanhadas de breves relatos dos autores. “Pintar é escrever sem letras, sem números, falar sem palavras um infinito código de vida. Um desafio colocas os meus traços, meu jeito, minha identidade, como eu sou, para o mundo. Dá um choque a gente se ver”, desabafou Cleber Correa Barbosa. Para Martin Mork, o processo terapêutico está sendo uma verdadeira catarse. “Pensei em mim. Procurei colocar que eu tô de guerra. Estou preso aqui. Não sei nada do que está acontecendo, não tenho previsão de nada... aí me senti mais aliviado. Eu me sinto bem pintando,

parece que o sofrimento diminui. Aqui eu me sinto mais eu mesmo. Pretendo continuar pintando quando sair daqui”, prometeu. Os autorretratos evocam uma gama diversa de histórias, desde um amante apaixonado, até o filho que homenageia a mãe, ou o pai que se supera envolto em tintas na esperança de reencontrar a filha. “Esse retrato que eu fiz é sobre a vida, a minha vida. Algo de mim que eu botei pra fora. Ao pintar este retrato eu pensei na diferença deste lugar onde se faz arte, diferente dos outros lugares daqui e de onde passei antes. É muito bom vir pintar, sabe?”, comparou Antônio Fernando José da Rosa. (Ana Luiza J. Melo)


Geral

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PRODUTOS LIVRES DE AGROTÓXICOS GERAM LUCROS PARA GARIBALDENSES CIDADE CONTA COM UMA DAS PRIMEIRAS ROTAS TURÍSTICAS EM PROPRIEDADES ORGÂNICAS Ketlin de Siqueira

Por Ketlin de Siqueira

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casal natural de Garibaldi Joel Nespolo e Roberta Girelli produzem morangos orgânicos na comunidade Linha Alencar Araripe desde o começo de 2018. Nespolo comenta que passou a cultivar de forma orgânica ao perceber o que o uso de agrotóxicos causa na saúde dos seres humanos. Além da Dalla Colônia - Morangos Semi- Hidropônicos, ele sempre está em busca de um alimento que traga saúde às pessoas. “Queremos que nossos clientes saibam que trabalhamos com rigor e dedicação para que nossos frutos sejam saudáveis e saborosos”. Outro casal é Tranquilo e Lucia Debiasi, que produz frutas e legumes há 22 anos na comunidade de São Luiz do Araripe e comercializa produtos na Feira do Produtor Rural. Eles contam com as certificações Ecovida e Ecocert, que garantem a produção de acordo com as diretrizes do cultivo orgânico. Conforme Debiasi, a família deles luta para as pessoas perceberem que optar por uma alimentação natural pode melhorar a saúde e a vida do ser humano no geral. “Nosso empreendimento cresceu com a variedade de produtos com o passar dos anos, porque sempre queremos mais qualidade dos alimentos do que quantidade. Nós plantamos batata, cebola, tomate, milho crioulo, batata-doce, feijão, laranja, figo, uva, bergamota, abóbora e fazemos doces e molhos, entre outros itens”, salienta o produtor. O município conta com 30 estabelecimentos agropecuários que praticam a agricultura orgânica, de acordo com os dados da Emater Ascar/ RS, centro Ecológico e os grupos de produtores. São considerados orgânicos alimentos produzidos de forma sustentável, respeitando e não agredindo o meio ambiente, sem a utilização de fertilizantes químicos e agrotóxicos.

Turismo rural

A Secretaria de Turismo e Cultura de Garibaldi, junto ao SEBRAE/RS, teve a iniciativa de criar em outubro de 2016 a Via Orgânica, com empreendimentos ligados à produção agroecológica e artesanal de Garibaldi, que virou uma das primeiras rotas turísticas em

Desenvolvimento dos morangos na estufa da propriedade do casal Nespolo

propriedades certificadas do Brasil. A Via tem turismo rural, restaurante, vinhos e espumantes alternativos, cooperativa, comércio, hospedagem e indústria. São dez empreendimentos que a integram: Sítio Crescer, Cooperativa Vinícola Garibaldi, Família Boroto, Família Mariani, Econatura, Sabor Ecológico, Sítio do Celo, Valle Rustico, Davida e Fit Up.

Queremos que nossos clientes saibam que trabalhamos com rigor e dedicação para que nossos frutos sejam saudáveis e saborosos” Joel Nespolo

Produtor de morangos

A responsável pela comunicação da rota, Ana Cláudia Chiesa, lembra o início do projeto, ainda em 2014, quando foi criada a Comunidade do Alimento do Convivium Slow Food, Primeira Colônia Italiana, dando início ao processo de qualificação para o serviço turístico. “Cada visitante que vem conhecer se sente próximo da natureza. Precisamos de um mundo mais sustentável, e esta foi uma ótima inciativa”, analisa. “Muitas pessoas procuram por um turismo que valorize o patrimônio natural e cultural. Essa relação fortalece a agricultura familiar e a produção orgânica. O atendimento pela família aproxima o visitante da rotina, podendo conhecer melhor a fauna e a flora”, salienta a presidente do projeto, Salete Mariani.

Cooperativismo

A propriedade ecológica dos produtores rurais Breno Bortolini e Siana Vieira Bortolini produz dentro de estufas três tipos de alface, temperos, radite, beterraba e rúcula. Bortolini comenta que antes de trabalhar com produtos orgânicos teve outra profissão. “Trabalhei como caminhoneiro por 23 anos, e com o tempo fiquei cansado desta vida. No

momento em que deixei esse ramo, fui incentivado a trabalhar com produtos naturais. Iniciei neste setor faz 11 anos e desde aquele tempo tenho a parceria da Coopeg. O incentivo é saber que temos como contar com a cooperativa, e nosso lema é produzir um produto saudável ao nosso consumidor”, salienta. A Cooperativa de Produtores Ecologistas de Garibaldi foi constituída juridicamente em 25 de julho de 2001. Em 2008, mudou suas atividades, com produção de hortifrutigranjeiros orgânicos, com variedade de produtos. Com 53 associados, presentes em nove municípios, a organização incentiva a permanência do homem no campo, contribuindo para uma sociedade mais justa e um planeta mais limpo e sustentável. Os produtos da Coopeg podem ser encontrados em feiras ecológicas, mercados especializados e nas sessões de grandes redes. Além de ter um modelo de gestão diferente dos formatos tradicionais, o cooperado recebe o lucro no momento da saída do produto. “É um sistema que beneficia o cooperado já no ato da venda. Ele não precisa esperar o fim da safra”, explica o diretor executivo, Damian Paulo Chiesa. SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018


Geral

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DEMORA PARA CONCLUIR ERS-118 REVOLTA POPULAÇÃO DA REGIÃO OBRAS EM TRÊS MUNICÍPIOS DEVEM SER ENTREGUES ATÉ O FIM DO ANO, SEGUNDO O DAER Por Letícia Guintani da Costa

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uando é que vai terminar? Esse é o principal ponto levantado por quem trafega todos os dias pela Rodovia Mário Quintana, a ERS-118. São mais de 20 anos de obras no acesso que liga Sapucaia do Sul a Viamão. Os trabalhos, que iniciaram em 1996, já passaram por seis governos. A falta de insumos parece ser o principal impasse para que haja a entrega dos 22 quilômetros. A duplicação começa a partir do entroncamento com a BR 116, e segue até o acesso à BR-290, a Freeway, em Gravataí. As obras entre os quilômetros 11 e 21,5, em Gravataí, permanecem em andamento. O trecho inicia no acesso à BR-290 e segue até a Avenida Itacolomi, próximo ao campus da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). O viaduto sobre a Itacolomi, localizado no km 18,2, já tem 90% das obras concluídas. A previsão de entrega estava marcada para março deste ano. Segundo o superintendente do Departamento Autônomo de Estrada e Rodagem (DAER) de Esteio, Ernesto Luis Vasconcellos Eichler, o repasse dos insumos depende da Petrobras e da Construtora Sultepa. Isso porque as pistas têm materiais diferentes. “A faixa da restauração direita, sentido Sapucaia para Gravataí, é de Cbuq, um tipo de revestimento asfáltico. O material é fornecido pela Petrobras. A pista da esquerda é revestida de concreto Portland, fornecido pela Sultepa. O elevado sentido Sapucaia-Freeway foi liberado há poucos dias para teste”, explicou.

Quando tu menos esperas, já caiu em um buraco”, reclamou. Maicon Giordani Lopes, motorista da Linha Transversal Metropolitana (TM3), que liga Porto Alegre a São Leopoldo, também se queixa da falta de sinalização e do atraso, que tem sido seu maior problema. “Temos horários para cumprir, tem dias que acabo demorando mais que o estimado porque pego tranqueira em alguns pontos. Espero que fique tudo pronto logo para que diminuam os transtornos”, destacou. Outro trecho que causa bastante problema é o entroncamento entre a

Obras em andamento

Desde 2007, o investimento aproximado das obras chega a R$ 400 milhões

SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018

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Sapucaia do Sul – Viaduto sobre a estação Luís Pasteur, no km 1; construção de três pontes sobre o arroio Sapucaia, no km 8 Cachoeirinha – Construção do viaduto da Avenida Marechal Rondon Gravataí – Construção do acesso ao viaduto sobre a estrada Itacolomi

Fonte: DAER

De acordo com Ernesto Eichler, a previsão é que a restauração e duplicação dos 22 quilômetros sejam entregues até o final do ano. Além da recapeação, o Superintendente destacou que estão sendo construídas ruas laterais em praticamente todo o trecho. Ele ainda comentou a evolução das obras entre os km zero e cinco, que iniciaram há poucos meses.

As passarelas

No último ano, por conta das obras, as poucas passarelas da rodovia precisaram ser removidas. Eichler afirmou que há um processo de licitação em andamento junto à Secretaria dos Transportes para a construção de seis novos pontos de passagem elevada para pedestres, que devem ser instaurados em Sapucaia do Sul, Cachoeirinha e Gravataí. Dados fornecidos pelo DAER apontam investimento aproximado de 400 milhões de reais nas obras de duplicação da ERS-118. Eichler explicou que desde a retomada das obras, em 2015, o investimento chegou a 150 milhões de reais. As obras devem ser entregues no final deste ano. Cristiano Bondan / Sultepa

Quem vive a rodovia

Moradora de Gravataí, a estudante Angel Guedes Macedo passa todos os dias pela ERS-118, pois precisa se deslocar até o Vale dos Sinos para trabalhar. “Eu torço para que fique pronta logo, acho um descaso com quem pega ônibus. A gente sofre com atraso e a falta de pontos para se abrigar. Como enfrento horários de pico, às vezes demoro mais de uma hora para chegar ao meu trabalho em São Leopoldo. Quem vai de carro é ainda mais prejudicado. Não tem sinalização e, com tanto desvio, fica confuso, principalmente à noite.

ERS-118 e a ERS-020, também em Gravataí. O acesso liga a rodovia à faixa de Taquara e causa transtornos pela falta de sinalização. “Estava indo para Unisinos um dia e tinha vários caminhões trabalhando na pista. Cheguei a esperar mais de 10 minutos em um trecho. Os desvios e acessos mudam constantemente, e a sinalização não é muito satisfatória. O acesso à ERS-020 teve uma alteração recentemente, o que causou uma confusão entre nós, motoristas, sobre qual caminho deveríamos pegar”, desabafou o estudante Guilherme Ramos.

Trecho na rodovia entre Gravataí e Cachoeirinha está em processo de duplicação


Geral

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VONTADE DE FAZER A DIFERENÇA UNE PESSOAS A UMA CAUSA PROTETORA RESPONSÁVEL POR CANIL MUNICIPAL DE GRAVATAÍ ABRIGA MAIS DE 100 ANIMAIS EM CASA Fotos arquivo pessoal

Por Saskia Ebenriter

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orreria, dedicação, amor e força de vontade fazem parte do dia a dia de Márcia Becker, 49 anos. Engajada na causa desde a infância, quando, escondida da mãe, levava alimentos para os bichinhos de rua, ela é uma das mais ativas no resgate de animais em condição de risco em Gravataí e arredores. Famosa pela persistência e voracidade em meio aos resgates, Márcia sempre obteve auxílio de pessoas que apoiam a causa e dedicam o tempo a ampará-la como podem. É o caso da Petsperk, petshop que recebe animais para tratamento e revisão assim que são resgatados. “É muito gratificante fazer o bem a alguém ou a algum ser vivo. E estar junto, ao lado de pessoas maravilhosas que proliferam o bem”, comenta Thiago Sperk, 30 anos, responsável pelo estabelecimento. Em meio a inúmeros chamados e altas demandas, a protetora enfrenta dificuldades para que a justiça possa ser feita pelos animais. Segundo ela, as leis brasileiras não suprem as necessidades e não dão o apoio que deveriam para a punição de tutores e da população que maltrata e abusa destes seres. “Hoje, quando os responsáveis pelo mau trato são identificados, assinam um termo circunstanciado ou uma advertência. Enquanto não houver punição severa, com multa ou até mesmo cadeia, a crueldade não terá fim”, salienta. Além de se dedicar ao Canil Municipal, que hoje abriga 344 cães, nove gatos, 21 cavalos e 12 galos de rinha, a defensora ainda abriga animais em sua residência. São 121 cães, 15 cavalos, dois porcos, um gato, cinco ratos e uma cocota. Todos vivem juntos com ela, o marido e os filhos em um sítio de seis hectares. No espaço os animais vivem soltos e em harmonia, contando com toda a infraestrutura e o amor de sua nova tutora. Para manter os bichinhos em casa, o gasto médio é de R$ 3,5 mil por mês, valor retirado do próprio bolso. Márcia enfrenta, além das

Marido e filhos ajudam Márcia no dia a dia de denúncias. Animais resgatados ficam soltos na propriedade

dificuldades de clima e localização, a resistência dos tutores que não aceitam a ideia de que causam mal aos animais. Existem casos também de denúncias falsas, típicas de brigas de vizinho, ou até mesmo de pessoas que simplesmente querem se livrar dos pets.

O auxílio da prefeitura e da comunidade

Neste longo caminho, há ajuda da Guarda Municipal de Gravataí, que dá suporte aos resgates, principalmente os de difícil desfecho. Como é o caso dos cavalos, que são maltratados por carroceiros diariamente pelas ruas da cidade. “Sonho em acabar com as carroças, e que os responsáveis sejam punidos severamente”, diz Márcia. Na Guarda, ela conta com o amigo e admirador de seu trabalho, Diógenes Rodrigues, que sempre está a postos para atender cada ocorrência e agilizar o processo de salvamento. “Eu trabalho no setor que recebe as denúncias, peço logo ajuda para a Márcia e juntos vamos tentando sempre resolvê-los o mais rápido possível. Afinal, tem uma vida lá”, salienta o oficial. Embora a população ajude nas denúncias, acolhendo os animais ou divulgando, é necessário conscientização, investimento na educação in-

fantil e nas castrações para animais de rua e de animais com tutores de baixa renda, afirma a protetora. Em meio a muitas ocorrências de maus tratos, é possível notar a falta de planejamento estratégico para que esses índices possam diminuir e o

Moro em um sítio de seis hectares e todos os animais vivem soltos e em harmonia” Márcia Becker

Protetora animal

trabalho dos protetores se torne um pouco mais ameno. Por enquanto, buscam apoio junto à população, órgãos públicos e todos que possam contribuir com a causa. Os animais são seres indefesos e por isso necessitam tanto do carinho, comida e afago dos humanos. “É uma pena que a punição aos maus tratos seja tão amena, e que o ordenado jurídico ainda veja os animais como coisas ou produtos, utilizando uma lei branda e sem eficácia”, ressalta Diógenes. “Quando olhamos nos olhos de um animal ferido que implora ajuda, a transformação acontece! Sou realizada na vida que escolhi. Resgatar vidas, poder dar dignidade e carinho a estes seres que sofreram tanto não tem preço”, afirma Márcia. SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018


Ensaio

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UM OUTRO OLHAR Texto e fotos de Josué Braun

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um mundo onde a tecnologia colocou a fotografia ao alcance de qualquer um com acesso a um smartphone e onde até mesmo o clique se tornou mero efeito sonoro, todos os lugares são fotografados à exaustão. Esse trabalho busca fazer o movimento de registrar um lugar bastante frequentado e - por consequência muito fotografado - sob uma outra ótica. A Unisinos é o ambiente perfeito para o experimento por ser bastante arborizado e, com o efeito da luz infravermelha notável nas áreas verdes, revela-se uma paisagem oculta no campus. A fotografia infravermelha permite revelar aspectos desconhecidos ou diferentes deste local. Criar estranheza onde havia uma familiaridade. Causar tensão. Ressignificar o conhecido. Trazer à tona imagens que apenas o experimentalismo pode proporcionar. Assumir seus defeitos, suas imperfeições. Buscar imagens que existem, no entanto num espectro invisível e que só um equipamento adaptado pode revelar.

SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018


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Apostas

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APOSTAS ESPORTIVAS ONLINE GANHAM ADEPTOS NO BRASIL PAÍS É O TERCEIRO MAIOR MERCADO DO MUNDO E MOVIMENTA CERCA DE 6 BILHÕES DE REAIS POR ANO César Weiler

Por César Weiler

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futebol é um esporte que não envolve apenas a técnica, mas muito mais que isso: paixão. “Algumas pessoas acreditam que futebol é questão de vida ou morte. Fico muito decepcionado com essa atitude. Eu posso assegurar que futebol é muito, muito mais importante”, disse Bill Shankly, ex-técnico do Liverpool. Essa frase consegue expressar bem o que o futebol significa para muitas pessoas. E quando o esporte se mistura com dinheiro, a combinação tem tudo para se tornar explosiva. Isso leva milhares, talvez milhões de pessoas pelo mundo a apostarem dinheiro na vitória, ou na derrota, de equipes no esporte bretão. Surge, então, as apostas esportivas. Apesar da má fama, apostar em futebol tornou-se um hábito para os brasileiros. Com a modernidade, tudo é feito via internet, em sites das casas de apostas sediadas em países onde é isso permitido. São mais de 400 sites pelo mundo. Para apostar no Brasil existe uma brecha na legislação. Um decreto-lei de 1941, proibiu todas as formas de “apostas desportivas não autorizadas”. Na era da internet, ainda não houve regulação. Desde 21 de maio de 2014, tramita o Projeto de Lei do Senado (PLS) 186/2014, que pretende regulamentar os jogos de azar no país. A PLS está aguardando inclusão em ordem do dia. Para muitos, apostar é um hobby. “Comecei com 30 reais e em pouco tempo, transformei em 150 reais. Depois disso, ‘quebrei a banca’ (termo para perder todo o dinheiro)”, revelou Emerson dos Santos, 21 anos, apostador. Ele se baseia em seus conhecimentos para jogar. O jovem mantém um grupo de apostadores em um aplicativo de mensagens instantâneas, que funciona como apoio para acompanhar todos os jogos. “Cada um fica assistindo um jogo, e quando tem um acontecimento importante na partida, todos os outros acompanham. Existe uma relação de confiança”, confirma. Sobre a possibilidade de regulamentação dos jogos de azar no Brasil, Santos garante que nenhum integrante do grupo fala no assunto.

Ajuda extra?

Quem deseja apostar pode buscar auxílio de quem se diz profissional. SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018

Debruçados sobre o computador, milhares apostam pelo mundo

Sites, blogs, canais de vídeos e aplicativos são produzidos diariamente. Além de conteúdo online, cursos presenciais são realizados pelos experientes. Um deles é Jorge Alves, 26 anos, produtor de conteúdo do blog Clube da Aposta. Ele mora em Aveiro, Portugal, e afirma ter maior renda com as apostas e não com os cursos. “O que eu ganho com cursos eu nem mexo, vai direto para uma conta poupança, para o futuro. Se fosse para viver dos cursos, nem as contas de casa eu pagaria”, brinca.

A pessoa começa a mentir e tem que aumentar o nível das apostas para ter a excitação que o jogo proporciona” Daiane Meireles Psicóloga

Para o estudante Mateus Friedrich, 21 anos, as apostas começaram como brincadeira na Copa do Mundo, por indicação de amigos. Para ele, o fator sorte é preponderante no ramo. “Hoje mesmo apostei em um favorito, e o azarão venceu”. O estudante não se considera viciado no

Histórico de confusões A fama de apostas no futebol não é boa. Em abril de 1915, na Inglaterra, já se teve registros de fraudes. Na ocasião, sete jogadores do Manchester United e do Liverpool foram banidos do esporte porque arranjaram um resultado no campeonato nacional. O caso se repetiu na década de 1960, quando três jogadores do Sheffield Wednesday foram presos e suspensos por oito anos do esporte. O caso mais notável aconteceu na Itália, em 2006, quando houve venda de resultados, e Juventos, Fiorentina e Lázio foram rebaixados para a segunda divisão. O Milan iniciou o campeonato do ano seguinte com menos pontos.

jogo, apesar de reconhecer o potencial risco e o estresse causado pelas apostas. Ele confirma que faz por diversão e que não necessita da atividade para viver.

E como fica a saúde?

A saúde mental de quem começa a apostar é uma preocupação dos profissionais da psicologia. Para Daiane Cristine Meireles, psicóloga do Centro Apoio Psicossocial (CAPs), de Estância Velha, para ser considerado jogador patológico precisa ter mais que recorrência na ação. “A pessoa fica extremamente preocupada com o jogo e não consegue se afastar disso, começa a mentir e tem que aumentar o nível das apostas para ter a excitação que o jogo proporciona”, explica. Segundo Daiane, o vício é um problema de saúde pública à medida que afeta não só o paciente, mas também os familiares. “É como um dependente químico, mas com um tratamento diferente”, ressalta. O tratamento pode depender da gravidade do caso. Segundo a psicóloga, vai de farmacoterapia (tratamento de distúrbios por meio de medicação), psicoterapia (terapia com psicólogo ou psiquiatra) a ainda com a intervenção familiar.


Comportamento

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SMARTPHONE: INIMIGO DA SAÚDE FÍSICA, MENTAL E EMOCIONAL DE APARÊNCIA INOFENSIVA, USO DEMASIADO DO APARELHO PREJUDICA NA QUALIDADE DE VIDA Por Anderson Machado

É

só dar uma olhada ao redor e perceber que o celular se tornou a principal fonte de informações e entretenimento para muitos. Os adventos das novas tecnologias facilitaram a comunicação entre as pessoas e também a propagação de notícias, fatos, acontecimentos, vídeos, entre outros. Porém, como em tudo, o uso dos smartphones pode provocar danos nocivos aos usuários como problemas emocionais, mentais e até físicos, alertam especialistas. Segundo levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em fevereiro deste ano, 138 milhões de brasileiros tinham pelo menos um smartphone. O dado complementar da pesquisa realizada revela que 77,1% da população acima de 10 anos possui um aparelho de celular próprio em 2016. A faixa entre 25 e 34 anos é a que apresenta a maior concentração de aparelhos de telefonia, 88,6%. A psicóloga Dora Goes, participante do Programa de Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP, alerta: “Muita gente usa o celular o tempo todo, mas ainda tem controle da situação. Quando a pessoa coloca em risco alguma atividade que faz ao usar o celular ou quando não consegue concentrar em outras tarefas, aí já pode ser um problema’’.

“Evite ao máximo deixar a cabeça muito flexionada (caída para a frente) e tente não ficar no celular deitado na cama e no sofá, de maneira errada”, alerta o especialista.

Depressão e ansiedade

Um estudo produzido por pesquisadores da Universidade da Coreia, em Seul, na Coreia do Sul, aponta a partir de exames de ressonância magnética que a dependência pelo celular provoca desiquilíbrio químico no cérebro, aumentando as chances destes jovens tornarem-se ansiosos e deprimidos. ‘‘Muitas pessoas usam o celular como muleta, porque se sentem sozinhas, e veem

Postura inadequada diante do celular está formando uma geração corcunda e com sérios problemas na coluna”

o celular como companhia. São ansiosas, tem pânico. E o celular faz contato com o mundo’’, ressalta a psicóloga Dora Goes.

Sono

No passado, era comum as pessoas antes de dormir, lerem um livro ou uma revista, mas aos poucos os avanços tecnológicos (televisão, computador, celular), entraram nas casas das pessoas mudando os hábitos. Nos dias atuais, é difícil um jovem que não leva o celular na cama. Uma pesquisa da School of Mass Communication Research, comprova as alterações hormonais provocados pela luminosidade da tela do celular, pois a luz envia

ao cérebro que ele deve ficar ligado , ou seja, uma ordem que não é hora de dormir. Nesta pesquisa, foram feitos testes com 884 participantes belgas, entre 18 e 94 anos de idade, a maioria apresentou problemas de sono, sendo o smartphone o principal responsável. A melatonina, essencial para uma qualidade de sono, é alterado como outros hormônios são essenciais para o bom funcionamento do organismo humano. “A interação com esses dispositivos ativa regiões do cérebro que controlam a atenção e a memória, espantando o sono”, explica o neurologista Raimundo Nonato Delgado Rodrigues.

Alguns motivos para não ir a cama com celular n

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Especialistas recomendam sair do celular pelo menos 30 minutos antes de dormir. Menos tempo de radiação: telefones emitem radiações eletromagnéticas que podem ser absorvidas pelo organismo humano. Menos barulho, mais relaxamento: Estudos apontam que a tensão e a ansiedade

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aumentam se o celular estiver perto. Tempo livre para colocar a leitura em dia, para refletir e meditar Tempo para descansar o corpo e a mente. Dormir mais cedo: o celular é estimulante e envia para o cérebro que o corpo precisa ficar ligado.

Sarah Pflug

Coluna

Estudo do Centro Médico de Cirurgia Espinhal e Reabilitação de Nova York, aponta que o uso constante de smartphone prejudica a coluna e pode provocar grandes danos. A cabeça adulta pesa, em média 6 kg, quando a postura está ereta, a coluna cervical sofre uma pressão entre 4,5 kg a 5,5 kg, a partir do momento que ela é inclinada a pressão aumenta drasticamente, chegando até aos 27,2 kg. Devido ao fato de passar um tempo excessivo olhando para baixo, de olho na tela do celular, este comportamento repetitivo e duradouro pode causar danos permanentes na coluna. O quiropraxista Luiz Heihati Miyajima Neto, que atende alguns famosos como Sandy e Sophia Abrahão, aconselha que a melhor postura é colocar o celular na altura dos olhos, deixando as orelhas alinhadas com o ombro.

Colegas olhando para um celular, cena que reflete que o aparelho se tornou o centro das atenções

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Entretenimento

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VOLUNTÁRIAS PRODUZEM LUSTRES PARA ENFEITAR NATAL DOS ANJOS CADA PEÇA ABSORVE 524 GARRAFAS PET BRANCAS ARRECADADAS NA COMUNIDADE DE DOIS IRMÃOS Rosane Dillenburg

Por Caroline G. Stein

O

Grupo de Voluntárias do Natal dos Anjos de Dois Irmãos tem se encontrado desde abril desse ano para confeccionar 30 lustres natalinos com garrafas PET, idealizados pela artista plástica Ana Gehlen Kuhn, moradora da cidade. Para a confecção de um deles são utilizadas 542 garrafas brancas e 390 correntes com 25 cristais – também feitos de PET, material arrecadado através de doações da comunidade local. Um total de 16.250 garrafas estão sendo aproveitadas na produção dos lustres para a edição do Natal dos Anjos de 2018. A equipe de voluntárias é composta por 30 mulheres, de 30 a 60 anos, que se reúne todas as terças, quartas e quintas-feiras no “QG do Natal”, localizado no centro da Dois Irmãos. A maior motivação do grupo é ver o seu trabalho enfeitando as ruas do município para que as famílias o apreciem e curtam o evento. A prefeita do município, Tânia Terezinha da Silva, agradece à comunidade e às voluntárias por fazerem o Natal dos Anjos cada vez mais reciclável. Além da produção de lustres, o grupo comentou que tam-

bém auxilia na montagem do presépio e na decoração da Praça do Imigrante. Um dos pontos turísticos mais frequentados em Dois Irmãos, a Praça do Imigrante é tomada por enfeites natalinos diferentes todos os anos. O local conta também com a Casa do Papai Noel, uma das atrações mais visitadas durante o evento. A prefeita afirmou que haverá atores locais para encantar a comunidade ao redor e dentro da casa do bom velhinho. “Vai ter

PALESTRANTE RECONTA HISTÓRIA DA CIDADE COM FOTOS ANTIGAS Cerca de 30 mil pessoas passaram pela Hamburgerbergfest nos dias 20 e 21 de outubro, segundo a produtora executiva do evento, Luana Khodja. A festa, que celebra a origem alemã da cidade, teve na sua programação a oficina de palestra e caminhada fotográfica como forma de resgatar a cultura e história locais. O publicitário Daniel Luciano da Silva contou a história de Novo Hamburgo desde quando ainda era um distrito de São Leopoldo, através de fotografias feitas por Max Milan, e demonstrou aos presentes a importância de dar ênfase na imagem para o que se quer mostrar. Após a contextualização histórica, os 12 participantes da oficina passaram a fotografar os edifícios históricos próximos à Fundação Scheffel, seguindo as orientações de ângulo e contando o histórico da imagem, assim como Milan quando retratou Novo Hamburgo. Ao final da manhã de domingo, as ruas já estavam mais cheias com o público que foi almoçar e conhecer os diversos estandes de produtos coloniais e apreciar shows gratuitos. (Júlia Cabral) SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018

Grupo de mulheres recebeu 16.250 garrafas PET desde abril abraço do Papai Noel, dos anjos, dos duendes e vai ter grandes surpresas”. Ela revelou que haverá uma decoração inédita este ano. “Cabe a cada um que virá ao Natal dos Anjos ver com os seus próprios olhos”, observou. A 23ª edição do evento iniciará no dia 23 de novembro, mas a progra-

Copa Mercosul de Patinação Artística agita Campo Bom O Ginásio Municipal de Campo Bom foi palco da Copa Mercosul de Patinação Artística. Entre os dias 12 e 20 de outubro, cerca de 1.059 atletas passaram pelo evento, que reuniu competidores de todas as faixas etárias de 76 clubes do Brasil, Uruguai e Paraguai. Em nove dias de disputa, houve mais de 1.600 apresentações em categorias como Livre, Free Dance, Solo Dance e Dupla de Dança. O valor da entrada era 1kg de alimento não perecível e foi arrecadado mais de 1,5 tonelada, que será distribuída pela Prefeitura para pessoas carentes. Durante os finais de semana que envolveram a competição, a cidade presenciou um movimento intenso e anormal no local, com a presença de torcedores, pais e filhos, casais, além de carros e ônibus que trouxeram os atletas de outros estados e países para o evento. (Pedro Gabriel Viero)

mação ainda não foi divulgada. Tânia afirmou, entretanto, que o formato permanecerá o mesmo dos anos anteriores: com atrações no Largo Felipe Seger Sobrinho, onde estará localizada a Árvore-Símbolo do Natal gaúcho, apresentações no palco da Praça do Imigrante, música natalina nas ruas e comércio aberto até mais tarde. “O DNA do Natal dos Anjos é baseado na cultura local. Nós queremos que as pessoas que colocam os pés aqui saibam o que acontece na área cultural, nas nossas escolas, na educação infantil, nos grupos de terceira idade, de teatro, de dança, nas orquestras e nos coros”, disse a prefeita. A presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Dois Irmãos, Margareth Spohr Finkler, afirmou que a entidade orienta o comércio a ficar aberto por mais tempo para atender a população. “A expectativa é de aumento das vendas durante o Natal dos Anjos, por isso o horário durante o evento é estendido.” Para estimular o comércio, a CDL incentiva que as lojas credenciadas decorem suas fachadas e adotem a Árvore do Comércio, que são pinheirinhos de Natal enfeitados por comerciantes e expostos nas calçadas do Largo Felipe Seger Sobrinho.

PRIMEIRA EDIÇÃO DA OKTOBERBIKE ANIMA NOVA PETRÓPOLIS Mais de 80 pessoas trouxeram suas bicicletas para praticar o esporte e celebrar a cultura através do chopp e da comida típica na a primeira edição da Oktoberbike. O evento esportivo, reunido no dia 4 de novembro, ocorreu em paralelo à tradicional festa alemã, a Oktoberfest, em Nova Petrópolis. O trajeto passou por estradas de chão rurais desativadas em meio à natureza, divididas em três percursos, curto (20 km), médio (35 km) e longo (55 km). Os participantes inscritos receberam um kit contendo placa numerada, camiseta e um par de meias personalizadas. Também contaram com pontos de apoio disponibilizando água, frutas e assistência médica e mecânica. Ao final do passeio, todos desfrutaram um almoço alemão com barris de chopp e som de bandinha típica. Rafael Evandro Martins, 28 anos, participou do evento passando pelo trajeto médio. Ele relatou que “o percurso estava bem sinalizado, teve apoio e segurança, porém faltou acompanhamento mais de perto dos profissionais da saúde, mas que, mesmo assim, participaria de novo.” (Camila Schwaab)


Cultura

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CANOAS E ESTEIO ABRIGAM 646 REFUGIADOS VENEZUELANOS MUNICÍPIOS GAÚCHOS FORAM ESCOLHIDOS APÓS CRISE IMIGRATÓRIA EM RORAIMA Por Isabelle de Castro

“P

refiro morar no Brasil porque aqui posso alimentar meus filhos”. É o sentimento da venezuelana Argelis Rodriguez, 20 anos, que agora chegou no país. Essa é a realidade dos moradores de lá, que desde a morte do presidente Hugo Chávez, há cinco anos, não enfrentavam uma crise como a de hoje. O ex-presidente chegou a promover melhoras na qualidade de vida da população, mas Nicolás Maduro, que assumiu o comando depois, e é o atual presidente, tentou levar o seu governo na mesma linha política de Chávez. Porém, a situação que ele encontrou foi bem diferente. Agora, os venezuelanos enfrentam uma situação muito mais complicada. Faltam produtos básicos nos mercados, como os de higiene e remédios, e a inflação se encontra acima de 800% ao ano, o que aumenta o preço de alimentos básicos. A situação no país, que hoje é caótica, já ocasionou uma onda migratória de venezuelanos para os países vizinhos da América Latina, principalmente o Brasil. Cerca de 50 mil venezuelanos chegaram no país após a crise econômica ter se agravado. No início, a maioria desembarcou no Estado de Roraima, que resultou em um total de mais de 16 mil pessoas no Estado. O número é tão impressionante que o fluxo de venezuelanos em Roraima foi 20% maior já em maio de 2018 do que em todo o ano de 2017. Mas, com todos esses imigrantes, e sem muito policiamento, houve uma série de confrontos, que começou a ocorrer depois que a população de Roraima iniciou protestos contra a chegada dos imigrantes. Após os ataques, o Ministério do Desenvolvimento Social confirmou a entrada de venezuelanos vindos de Roraima para a região Sul. Um total de 646 imigrantes desembarcaram de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) na base de Canoas, cuja chegada começou no dia 6 de setembro. A partir disso, 425 imigrantes foram levados para três prédios localizados na própria cidade e outros 221 ficaram abrigados em dois prédios de Esteio.

O prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, explica como o projeto de trazer os imigrantes para a cidade lhe foi apresentado. “Todo o processo se iniciou em agosto, entraram em contato conosco perguntando se a cidade poderia receber os venezuelanos e aceitamos de imediato. Esteio foi escolhida por índices de Desenvolvimento Humano e de qualidade de vida. No total, temos 221 venezuelanos, que já se encontram bem ambientados na cidade”. Quando questionado sobre o impacto que a chegada causou no município, ele diz que se manteve um bom ambiente para receber os imigrantes, e a maioria se mostrou favorável ao projeto. Os abrigos ficam nas ruas Senador Salgado Filho e Liberato Salzano Vieira.

Doações da Marinha do Brasil

Em Canoas, a secretária do Desenvolvimento Social, Luísa Camargo, que atua no atendimento das necessidades de pessoas em situação de vulnerabilidade social, e que é uma das responsáveis pela gestão desse proje-

to, diz que visitou os lugares onde os imigrantes estavam em Roraima. “A decisão de mudá-los de Estado foi da ONU, junto com o Governo Federal, e o melhor foi levá-los para lugares onde houvesse melhores condições de vida para todos. O prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato, aceitou e recebeu o total 646 venezuelanos”. Ela afirma que o fornecimento de comida e itens básicos são feitos pela Marinha do Brasil e que a Secretaria também recebe doações de empresas e empresários. Argelis, que tem uma filha de dois anos chamada Isabella e é casada com Domingos, 28 anos, relata

Prefiro morar no Brasil porque aqui posso alimentar meus filhos” Argelis Rodriguez Refugiada

como foi sua experiência de viver nas ruas de Roraima. “Foi desesperador, assim como na Venezuela. Aqui no Sul é muito mais tranquilo”. Ela conta que o marido está à procura de trabalho, e que ela infelizmente não consegue por estar grávida do segundo filho. “Aqui recebemos comida, roupas e uma opção de ter uma vida melhor. Teremos seis meses para nos adaptar à cidade e achar um emprego. Depois podemos continuar, mas aí teremos que sair dos alojamentos e alugar nossa própria casa”. Para ela, mesmo não tendo a certeza de que vão conseguir emprego, o Brasil é o lugar mais tranquilo que já viveu. Para a secretária Luísa Camargo, o fundamento principal de tê-los acolhido é para passar aos outros que nunca é demais ajudar quem precisa. Ela relata que a maioria perdeu tudo, e que a Venezuela se encontra em completo estado de emergência. A ideia principal é que eles fiquem nas cidades por seis meses, mas que, se for necessário após esse período, Porto Alegre e região metropolitana estarão dispostas a ajudar. Isabelle de Castro

Venezuelanos refugiados estão vivendo em prédio doados pela ONU

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Cultura Cartola

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ESCOLAS DE SAMBA DE PORTO ALEGRE VIVEM INCERTEZAS FORMATO DOS DESFILES E RECEBIMENTO DE VERBA PARA O CARNAVAL DE 2019 SEGUEM INDEFINIDOS Por Renan Silva Neves

O

s componentes das escolas de samba de Porto Alegre convivem com incertezas em relação à realização dos desfiles oficiais no carnaval da Capital. Faltando menos de seis meses para o Carnaval de 2019, poucas escolas já iniciaram os trabalhos, tendo em vista a crise financeira que assola o cenário carnavalesco desde 2017. A falta do aporte financeiro da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, que ocorre desde o início da gestão de Nelson Marchezan Jr., e a dificuldade na busca por parcerias na iniciativa privada, foram determinantes para a histórica não realização dos desfiles em 2018 e colocam em xeque a festa de 2019. Em 2017, Marchezan, no início de sua gestão, anunciou que não realizaria repasse às escolas de samba, quebrando uma parceria de quase 70 anos. Na época, o prefeito alegou a situação financeira da Capital como o fator principal para a decisão e justificou que outras pastas também sofreriam com a falta de repasses, não somente a da cultura, na qual está inserida a verba. Os desfiles de 2017 ocorreram apenas na Série Ouro, a primeira divisão, e sem nenhum recebimento de valores. As escolas organizaram as apresentações com seus próprios recursos. O desfile das Séries Prata e Bronze não ocorreu. Em 2018, a falta de empresas da iniciativa privada interessadas no evento fez com que, inicialmente, o desfile fosse remanejado para um caráter não competitivo, fora do Porto Seco. Contudo, na data marcada, um forte temporal atingiu Porto Alegre e as apresentações foram canceladas. De acordo com o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre (LIESPA), Juarez Gutierres de Souza, para 2019 a prefeitura manterá a política de não destinar verba para o carnaval. “A exemplo dos dois últimos desfiles, não receberemos recursos públicos. A relação com a prefeitura é apenas institucional”, declarou. Como alento, o presidente confirmou a realização dos desfiles de 2019. “A LIESPA SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018

e as entidades estão buscando leis de incentivo à cultura e parcerias comerciais com empresas. Em breve, pretendemos anunciar a data e o formato oficial dos desfiles”, confirmou. Com a não realização do carnaval, o Complexo Cultural do Porto Seco, sede dos desfiles oficiais e dos barracões das escolas de samba desde 2004, tornou-se um terreno abandonado. O Complexo é ponto constante de uso de drogas, prostituição, violência sexual e abandono de automóveis roubados.

O descaso do poder público em relação ao fomento da cultura popular é o principal fator para a crise” Érico Leotti

Presidente da Imperadores do Samba

Em janeiro de 2018, a prefeitura assinou termo de concessão do Complexo à Liespa e à União das Escolas de Samba do Grupo de Acesso de Porto Alegre (UECGAPA), com o intuito de facilitar a busca por parcerias na iniciativa privada que explorem o local durante todo o ano. Porém, a situação permanece inalterada. Recentemente, o grupo carioca Artplan manifestou interesse no local.

Mesmo sem recursos, escolas estão trabalhando

Recém empossado presidente da escola campeã de 2017, Érico Leotti, da Imperadores do Samba, conta que o impacto gerado pela falta de apoio financeiro e pela não realização dos desfiles é enorme. “A escola trabalha o ano todo, mas o grande ápice ocorre no desfile. A partir do momento em que não há aporte financeiro, é natural que ocorram dificuldades. Nossa situação financeira não está equacionada, mas não estamos deixando de trabalhar”, afirmou. O presidente não se exime de culpa quanto à situação atual vivida pelas escolas, mas

citou que a falta de recursos públicos e apoio da prefeitura municipal é o fator majoritário. “A busca pelo aporte na iniciativa privada já estava em discussão há alguns anos. Porém, entramos em uma zona de conforto e acabamos deixando de lado essa demanda. Todavia, o descaso do poder público em relação ao fomento da cultura popular é o principal fator para a crise. Marchezan vendeu um discurso de que remanejaria os recursos da cultura para outras áreas, o que sabemos que é ilegal. Isso é brincar com a inteligência do cidadão”, afirmou. Sem desfilar há quase três anos, as escolas de samba das divisões inferiores também enfrentam dificuldades, afirmou Arilson Soares Trindade Macedo, diretor de carnaval da Unidos da Vila Isabel, escola de Viamão que compõe a Série Prata. “Quando fui contratado, encontrei uma comunidade abatida por ter preparado um desfile lindo para 2017 e não ter tido a oportunidade de mostrar seu trabalho até agora. Estamos trabalhando, mesmo sem recursos. Precisamos respeitar nosso componente. O povo carnavalesco não desiste”, declarou. Humberto Macedo/ASCOM Imperadores do Samba

No último desfile oficial da Série Ouro, em 2017, Imperadores do Samba conquistou o título


Esporte

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IDOSOS ENFRENTAM A ROTINA COM LUVAS DE BOXE EM ESTEIO TREINAMENTO MUDA PARA MELHOR O COTIDIANO DE IDOSOS NO MUNICÍPIO Lucas Lanzoni

Por Lucas Lanzoni

A

fim de melhorar a saúde e autoestima dos senhores e senhoras do município de Esteio. Esse é o objetivo do projeto “Boxe para a terceira idade”. Tudo começou de uma ideia originaria da cabeça de Neuza Brum, nascida no Rio Grande do Sul, mas criada desde pequena no Uruguai, ela retornou para Esteio, sua cidade natal, há 12 anos e passado todo esse tempo começou a pensar em algo diferente para a população mais velha da cidade. Ao longo dos 75 anos de idade, Neuza já se sentia sem nenhum pingo de paciência para fazer os mesmos tipos de atividades para o público da terceira idade. O que ela não esperava era que um dos esportes com mais contato físico fosse o responsável por essa mudança na vida de inúmeras pessoas com idades já avançadas. O começo da história ocorreu após o professor Abílio Mobus dar uma aula de boxe para os idosos, e a partir disso ela começou a pensar no assunto. “O professor Abílio nos deu uma aula especial no dia do idoso e todos gostaram muito. Após um mês eu fiz uma proposta para ele, para saber se seria possível fazer aula de boxe para os idosos aqui de Esteio”, relata Neuza. Com tudo em mente para dar início ao desejo de ter aulas de boxe, ela conta que: “O projeto só começou realmente tomar forma após Abílio ter gostado da ideia e ter apoiado juntamente com a nossa vice-presidente do conselho do idoso, Janete”, completa Neuza. Janete Batista de 70 anos de idade e há mais de cinco anos vice-presidente do conselho do idoso, disse que: ” Eu achei muito interessante a ideia, pois fugia de toda aquela mesmice de ginastica e bailinho”, finaliza Janete. Treinador de boxe desde 2002, após fazer o curso e se qualificar na federação, Abílio já treinou muito atletas, entre eles o boxeador Paulo Eduardo Teixeira, competidor esse que conquistou o título gaúcho de boxe de forma invicta em 2005. Abílio que trabalha com projetos sociais desde 2009, conta que: “Nunca havia trabalhado com o boxe para os idosos, mas achei interessante. Eu

Professor Abílio com todos os seus respectivos alunos de boxe já havia desenvolvido trabalho com a terceira idade no CRAS, e foram apenas caminhadas com o pessoal. Foi uma surpresa o fato de ter tido lista de espera pela grande procura do pessoal pelas aulas de boxe”, comenta Abílio. O esporte ao longo dos anos já mostrou a sua força em todos os lugares possíveis, e isso não foi

Nós trabalhamos sempre para que o projeto tenha mais apoio, ainda existe a necessidade dos materiais” Janete Batista

Vice-presidente do Conselho do Idoso de Esteio

diferente em Esteio. Muitos alunos comparecem e cada vez mais se interessando pelo boxe, entre esses alunos e alunas temos o carismático Estélio Hoffman, 64 anos. Para ele o esporte é muito importante, pois como ele mesmo fala: “Isso tudo melhorou muito a minha saúde, pois eu também danço bastante com a minha namorada. As aulas do Abílio são muito boas, principalmente para mim que só quero saber lutar para me defender quando isso for necessário”, comenta Estélio. Outro aluno muito satisfeito com as aulas é Gilberto Carolino, aluno desde o início do projeto, ele conta que: “Eu participo das aulas e ajudo o professor quando é preciso, e quando consigo vou na academia dele fazer aula de boxe também”, relata Gilberto. O objetivo agora do projeto é continuar crescendo para trazer cada vez mais adeptos, pois de acordo com Janete: “Nós trabalhamos sempre para que o projeto tenha mais apoio,

ainda existe a necessidade dos materiais. Nós ainda utilizamos os que são cedidos pela CUFA (Central Única das Favelas) ”, finaliza Janete. Com os anos passando e o aumento da procura pelas aulas, é muito provável que o “Boxe para a terceira idade” se torne cada vez mais conhecido pelo Estado. Neuza explica exatamente como as coisas foram mudando conforme o tempo foi passando, nas palavras dela: “Na primeira aula tivemos de 3 a 4 idosos, na segunda tivemos um aumento para 15 e agora somos cerca de 35 alunos. Esse foi o principal motivo para aumentar em 2 dias de aulas na semana”, completa Neuza. O projeto “Boxe para a terceira idade” serve de exemplo não só na região metropolitana, e sim para todas as cidades e municípios do Rio Grande do Sul, por mostrar que é sim possível mudar a vida de pessoas mais velhas com um esporte diferente daqueles que esse público específico é acostumado a praticar. SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018


O PERIGO DO REPÓRTER ESPORTIVO REVELAR SEU TIME DO CORAÇÃO CREDIBILIDADE DO REPÓRTER E CONFLITOS COM CLUBES E TORCIDA PODEM FICAR EM XEQUE Arquivo pessoal

Por Lucas Rafael Alves

A

paixão por um determinado clube de futebol motiva grande parte dos estudantes de Jornalismo a seguirem na área esportiva. Ao decidir embarcar nessa carreira, o estudante se depara com um dilema: vou poder revelar meu time se eu trabalhar com jornalismo esportivo? A discussão não é novidade e gera dúvidas entre todos por terem várias problemáticas envolvidas. Hoje, os principais motivos dos repórteres não revelaram para quem torcem estão ligados a credibilidade a também a questão da violência no futebol. Até mesmo entre os profissionais que atuam na área o assunto divide opiniões. Alguns afirmam que jamais receberam orientação para não revelar o time do coração, outros entendem que manter esse segredo é uma espécie de pré-requisito para quem quer trabalhar na área. Também há casos em que empresas orientam os jornalistas a não divulgaram por conta de conflitos com os próprios clubes rivais. Além, é claro, dos problemas com as torcidas. Uma das freses mais ouvidas pelos profissionais de imprensa esportiva no Rio Grande do Sul é: “mas tu és gremista ou colorado”. O caso é comum no país inteiro, mas por causa da supremacia Grenal que há no RS, isso acaba se tornando uma obsessão do torcedor gaúcho. A repórter Renata de Medeiros, da Rádio Gaúcha, diz que essa obsessão também é manifestada nas redes sociais. “Os torcedores vivem uma paranoia e partem do princípio que há má fé na divulgação de alguma informação, sempre acham que aquela informação tem outra intensão. Isso não existe ”, desabafa. Também há aqueles que buscam saber o time para qual o jornalista torce simplesmente pela curiosidade sem a intensão de duvidar do serviço prestado por aquele profissional ou por aquela emissora. Muitas vezes o torcedor esquece que o repórter consegue separar a razão da emoção e que está naquele SÃO LEOPOLDO NOVEMBRO DE 2018

lugar prestando serviço a ele mesmo. “Eles estão tão ‘presos’ torcendo e acabam não percebendo que existem pessoas que sabem diferenciar o torcer do trabalhar”, afirma o repórter João Batista Filho, comunicador da RDC TV.

Dúvidas nas informações

A credibilidade é outro fato que gera dúvidas e divide opiniões entre estudantes e profissionais. Porém, é o estudante que fica mais receoso por estar em meio a uma transição de torcedor para profissional. Muitas vezes, ele mesmo, já criticou ou ofendeu alguém da imprensa. A estudante Dana Moraes, do curso de Jornalismo da Unisinos, acredita que terá problemas para trabalhar na área pois é torcedora assumida do Grêmio. “Com a rivalidade que a gente tem (no RS) o fato de você ser torcedora assumida de um clube já pode fazer com que você e seu trabalho não preste aos olhos da torcida adversária”, afirma a estudante. O repórter César Fabris, que atuou por três anos e meio no Esporte Interativo, acredita que a credibilidade de um profissional passa a ser questionada pela torcida a partir do momento que eles

sabem para qual time também luta pelo espaço Os repórteres ele torce. “Qualquer da mulher no Jornalismo César, Renata notícia negativa que for e no Futebol. e João preferem informada vai ser quesSaber lidar com não revelar o time tionada. Infelizmente é todo tipo de situação é para qual torcem assim”, opina Fabris. O fundamental no meio da importante é manter o imprensa futebolística. profissionalismo sempre noticiando Há casos mais extremos em que o o que foi preciso noticiar. “Não vejo fanatismo do torcedor acaba geque a credibilidade será afetada. rando ofensas, ameaças e também Quem confia no teu trabalho vai agressões. “Dar uma informação entender. Quem só quer complicar, ‘ruim’ sobre o Inter, por exemplo, vai complicar”, discorda JB Filho. vai fazer com que o torcedor colora“A gente vai aprendendo e do te ‘ofenda’ de gremista”, relata JB descobrindo que é necessário saber Filho, complementando que o caso trabalhar com o bom senso. Acho também ocorre quando a notícia que no futuro vou estar mais madu- negativa é para o lado do Grêmio. ra quanto a isso”, conclui Dana, que Casos mais extremos acontecem quando as ofensas se tornam ameaças e acabam em agressões. Durante o clássico Grenal, válido pela primeira fase do Campeonato Gaúcho 2018, Renata de Medeiros foi agredida por um torcedor do Inter no estádio Beira-Rio. O agressor relatou à polícia que agiu daquela maneira por achar que a repórter era gremista. “O torcedor me viu com o microfone da Gaúcha, disse que a rádio era gremista e que poderia ‘dar’ em mim. Fui Dana Moraes agredida por supostamente torcer Estudante de Jornalismo para um time diferente do dele”, relembra Renata.

Achava mais irreal conciliar o fato de eu torcer com o de querer fazer jornalismo esportivo”


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