Babélia 36

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PORTO ALEGRE/RS SÃO LEOPOLDO/RS DEZEMBRO DE 2021

SILVANA PIRES / ARQUIVO PESSOAL

BABÉLIA

#36

Mulheres presidiárias enfrentam solidão mesmo em dias de visita Elas são as que mais fazem visitas em presídios masculinos, mas são as que menos recebem familiares na cadeia quando estão encarceradas. Projetos sociais tentam suprir abandono /7 CAROL BARCELOS / PMG

Em Gravataí, óculos inteligentes são testados por estudantes com deficiência visual na rede pública de ensino como forma de melhorar autonomia e facilitar a aprendizagem na escola /3 Estudantes criam projeto de absorvente sustentável /5

PUBLICAÇÃO EXPERIMENTAL DO CURSO DE JORNALISMO DA UNISINOS

Mobilização retira 45 kg de lixo da Lagoa Tramandaí /11 Taquara ganha espaço voltado à arte /14 A crise de imagem no Facebook /16


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EDITORIAL

É

notável uma mudança de entendimento a respeito do Jornalismo. Desde seu início, ele passou por transformações e recebeu novas concepções, pautadas à medida que o contexto social e econômico também foram sofrendo alterações. Dado este cenário, as práticas jornalísticas encarregam-se de acompanhar essas evoluções, e para tanto, podemos interpretar a profissão como um objeto complexo e mutável. Esta instabilidade impacta em maior ou menor nível na atuação dos profissionais. Para ilustrar, podemos citar a deterioração do mercado de trabalho com redações cada vez mais enxutas, funcionários terceirizados e a possibilidade de exercer as atividades em diferentes espaços. Neste sentido, a convergência de pessoas, somada ao caráter online, modificou as rotinas e a natureza dessas organizações. De um lado, temos os processos tecnológicos contribuindo à favor das

JORNAL PRODUZIDO SEMESTRALMENTE POR ALUNOS DO CURSO DE JORNALISMO DA UNISINOS (CAMPI PORTO ALEGRE/RS E SÃO LEOPOLDO/RS)

As transformações do jornalismo

do, como é da essência do Jornalismo. Novas tendências surgem, e o jornalista é desafiado constantemente a se adaptar e se reinventar no meio. Inclui-se aqui também como a variedade de instituições e atores sociais influenciam o modo de compreender e atuar. A era digital, por exemplo, suscitou atos de jornalismo praticados por diversos indivíduos. Essas POR MILENA SILOCCHI tecnologias viabilizaram e ampliaram as possibilidades de produção. produções, interferindo nos formatos com pensamento hegemônico. Ao mesConcluo meu pensamento pondee possibilitando a existência de “novos mo passo, o público possui expectativas rando que existem uma multiplicidade jornalismos”. Por outro, é perceptível quanto a essa entrega de conteúdo. de fatores que interferem direta e indium mercado hostil e frágil, que gera Em contrapartida, diante dessas in- retamente na credibilidade do Jornalisinsegurança, uma vez que trabalham por certezas e impasses, vejo que jornalistas mo. Com base nos apontamentos acima, contratos e com menores condições sa- manifestam maior comprometimento vislumbra-se uma complexificação do lariais e de estabilidade no que tange sua do serviço prestado a fim de garantir a ecossistema midiático. Essas observações permanência, como o seu crescimento sua vaga de emprego. Isso não necessa- discutidas revelam que é preciso continudentro de uma mesma empresa. riamente significa declínio na qualida- ar questionando o que o Jornalismo está Em consonância, temos outras adver- de do trabalho realizado, muito menos se tornando, e não apenas o que ele é. Isso sidades, como jogos de poder, conflitos elimina a capacidade e as finalidades de pois como descrito, trata-se de um sistema de interesses e concentração dos meios informar o público de modo qualifica- complexo e passível de mudanças.

TEXTOS E IMAGENS: alunos das turmas 2021/2 das disciplinas de Jornalismo Impresso e Notícia, Jornalismo Impresso e Reportagem e Jornalismo Impresso e Opinião, sob orientação dos professores Micael Vier Behs, Ronaldo Henn e Taís Seibt. PROJETO GRÁFICO: aluna da disciplina de Planejamento Gráfico (turma 2021/1) Marília Port, sob orientação do professor Everton Cardoso. DIAGRAMAÇÃO: Marcelo Garcia (Agência Experimental de Comunicação - Agexcom). IMPRESSÃO: Gráfica UMA.

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Campus Porto Alegre: Av. Dr. Nilo Peçanha, 1600 Boa Vista, Porto Alegre (RS) - 91330 002. Campus São Leopoldo: Av. Unisinos, 950 – Cristo Rei, São Leopoldo (RS) – 93022 750. Telefone: (51) 3591 1122. Site: www. unisinos.br. Reitor: Marcelo Aquino. Vice-Reitor: Pedro Gilberto Gomes. Pró-Reitor Acadêmico e de Relações Internacionais: Alsones Balestrin. Pró-Reitor de Administração: Luiz Felipe Jostmeier Vallandro. Diretor de Graduação: Sérgio Eduardo Mariucci. Gerente dos Cursos de Graduação: Paula Campagnolo. Coordenadores do Curso de Jornalismo: Débora Lapa Gadret e Micael Vier Behs.


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ACESSIBILIDADE

Tecnologia a serviço da inclusão de deficientes visuais Com o surgimento de novos acessórios e soluções tecnológicas, pessoas com deficiência encontram novos caminhos para romper barreiras, principalmente em ambientes educacionais FOTOS CAROL BARCELOS / PMG

INOVAÇÃO Ativado por voz e adaptável em qualquer armação, óculos inteligentes OrCam MyEye, fabricados em Israel,

estão sendo testados na rede pública de ensino para dar mais autonomia a estudantes deficientes visuais de Gravataí

POR JÚLIA MÖLLER

P

ara que pudesse acompanhar as aulas na escola regular, a servidora pública Patrícia Lisboa, hoje com 39 anos, precisava contar com a dedicação da professora para adaptar o material didático especialmente para ela. Todo o conteúdo precisava ser reproduzido em braille sistema de escrita e leitura tátil - de forma manual pela professora. “Uma folha escrita em tinta equivale a duas folhas e meia em braille. Era um grande esforço que a professora tinha que fazer para produzir o meu material acompanhando uma sala de aula regular”, conta. Moradora de Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, Patrícia perdeu a visão aos dois anos de idade após um erro médico. Na cidade dela, atualmente, há cerca de 1200 estudantes com algum tipo de deficiência na rede municipal de ensino, destes, 24 têm baixa visão. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) destaca que mais de 17 milhões de pessoas acima de dois anos de idade têm algum tipo de deficiência no Brasil, sendo que 3,4% desses brasileiros possuem algum tipo de deficiência visual, conforme reportagem publicada pela rede de televisão CNN. Com a evolução da tecnologia no ambiente educacional nos últimos anos e com a consequente chegada da pandemia da Covid-19, que acelerou o ritmo com que ferramentas digitais fossem inseridas nas escolas, Patrícia teria uma educação mais

“As tecnologias nos auxiliam muito na aquisição de autonomia e ela não pode ficar restrita somente às pessoas que podem pagar” Patrícia Lisboa

COLABORAÇÃO Presidente da Associação das Pessoas com Deficiência Visual e

Amigos de Gravataí, Patrícia Lisboa ajudou a Prefeitura na escolha da nova tecnologia

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Servidora pública

inclusiva. Diversos dispositivos foram desenvolvidos, ao passar do tempo, e podem auxiliar na leitura de textos, na escrita e na mobilidade das pessoas que convivem com algum tipo de deficiência e necessitam frequentar as escolas. Atualmente, Patrícia é presidente da Associação das Pessoas com Deficiência Visual e Amigos de Gravataí (ADDVA), onde presta de maneira voluntária suporte para adultos e crianças que convivem sem o sentido da visão. Ela entende e defende que este avanço tecnológico tem de estar cada vez mais presente na vida das pessoas com deficiência visual, em destaque as que vivem em vulnerabilidade social e dificilmente têm acesso a esses recursos. “As tecnologias nos auxiliam muito na aquisição de autonomia e ela

não pode ficar restrita somente às pessoas que podem pagar”, destaca.

Óculos inteligente

Nessa perspectiva, a servidora pública apresentou uma proposta para a Prefeitura Municipal de Gravataí: a compra do óculos inteligente OrCam MyEye, desenvolvido por uma empresa israelense. Ele funciona como um dispositivo ativado por voz e é vestível, ou seja, pode ser acoplado a qualquer tipo de óculos. “Desde 2018 que trabalhamos nessa sugestão, mas o município ainda demorou para compreender a importância dessa compra”, diz Patrícia. Foi somente em 2021 que a tecnologia finalmente foi comprada para teste na cidade. Uma aluna, com deficiência visual, estudante da Escola

Municipal Santa Rita de Cássia, vem utilizando o óculos em suas aulas com o objetivo de trazer mais conforto, autonomia e inclusão no âmbito educacional. O professor Eleandro Carlos Rossatto, 45 anos, que ministra as aulas da estudante com o uso do óculos, conta que a jovem sofre com cegueira em ambos os olhos e com autismo de alto funcionamento. No colégio, Rossatto destaca a importância desta tecnologia para geração de autonomia da sua aluna. “A principal contribuição do OrCam (My Eye) foi a descoberta de mais uma alternativa de leitura e consequentemente o rompimento de barreiras para acessar os conteúdos comuns da turma”, pontua. Para Marco Bonito, 48 anos, especialista em cultura midiática digital e acessibilidade comunicativa para pessoas com deficiência, esse tipo de inteligência é uma espécie de tecnologia assistiva, ou seja, um recurso que dá assistência para que as pessoas com deficiência possam interagir com o restante do mundo. A inclusão em tempos tecnológicos mostra o lado positivo que o investimento em tecnologias pode gerar. Mostra uma crescente com novos significados, um grande protagonismo e a certeza de que faz parte de um caminho rumo a um mundo mais preparado e empático com o próximo. Hoje, Patrícia se diz grata pela oportunidade de fazer parte desse avanço e mudar a realidade para o que acredita ser o mais certo: um tratamento igualitário para as crianças nas escolas, independentemente de suas deficiências e dificuldades.


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CARREIRA

O peso de dominar inglês para crescer no mercado de trabalho

Estudar o idioma oferece uma série de benefícios ao concorrer a vagas, além de tornar o profissional apto a ir para outros países sem preocupação de enfrentar problemas de comunicação ARQUIVO PESSOAL / PATRÍCIA PERONI

E

studar inglês para encontrar melhores posições no mercado de trabalho é tão fundamental que até mesmo os profissionais mais antigos de uma empresa sentem a necessidade de aprender o novo idioma, já que diversas funções precisam do conhecimento básico dessa língua. Lucas Nicolini Brufatto, que aos 21 anos é um dos diretores da Hedger International, empresa no ramo da importação e exportação de produtos de diversos segmentos, se antecipou. Estudante de inglês desde 2005, ingressou na carreira empresarial já com domínio do idioma. Mas muitos profissionais acabam perdendo oportunidades por não estudarem inglês. Brufatto afirma que a importância do inglês não se volta somente para o mercado de trabalho, mas para a vida. “A gente recebe muitas informações em inglês todo dia, tem muito conteúdo em inglês, a maior parte das informações que valem ouro estão em inglês”, comenta. Para ele, o estudo do idioma abre diversas oportunidades dentro e fora de uma empresa. Outro ponto importante pontuado pelo profissional foi a necessidade da língua em uma viagem para o exterior a

De diferencial a pré-requisito

Proprietário da Imperium Auto Shop e estudante da língua inglesa, o empresário Alexandre Ferronato, 25 anos, destaca que ter o domínio do inglês já deixou de ser um diferencial para inserção no mercado de trabalho. Na visão dele, diversas funções precisam do conhecimento básico dessa língua, principalmente nas negociações. Segundo “Tem muita o empreendedor, o inglês demanda de se tornou um atributo essencial para que a empresa pessoas que crie oportunidades fora do precisam de Brasil e aumente o seu networking. Por sua vez, já profissionais que necessitou de auxílios na falem em inglês, comunicação com pessoas estrangeiras durante uma escrevam em viagem em família para inglês” os Estados Unidos. “Se naquele momento eu souPatrícia Peroni besse o idioma, creio que Professora de inglês conseguiria me expressar melhor”, pontua. Além de se tornar apto a ir para outros países sem preocupação de comunicação, aprender a língua inglesa oferece uma série de benefícios ao profissional durante a inserção no mercado de trabalho. Atualmente, ter o domínio da língua já é esperado por muitas empresas, como destaca a professora de inglês, Patrícia Peroni, 30 anos. “O inglês é, sim, um diferencial, todas as áreas têm escassez de profissionais que falam inglês”, observa a professora. Muitas companhias estão sendo compradas por grupos internacionais, os quais possuem CEOs que falam a língua inglesa, logo os treinamentos e os comunicados passam a ser em inglês, exigindo dos empregados o conhecimento no idioma. Empresas brasileiras também buscam relações internacionais para exportação de produtos e precisam de representantes que tenham fluência em inglês. Patrícia afirma que muitas pessoas não se preparam com antecipação para estudar, buscam as instituições para aprender em meses, por determinação de chefes, e acabam ficando frustradas por não adquirirem fluência, perdendo oportunidades. “É importante também as pessoas estarem preparadas com o inglês, porque tudo isso pode acontecer do dia para a noite, de uma semana para a outra, e a gente não aprende inglês de uma semana para outra”, observa a professora. “Às vezes as pessoas perdem a chance, perdem a NETWORKING Para o empresário Alexandre Ferronato, 25 anos, dominar a língua inglesa é oportunidade porque não estão preparadas fundamental para se comunicar com clientes e fornecedores no mercado de trabalho quando a oportunidade chega”, conclui. ARQUIVO PESSOAL / ALEXANDRE FERRONATO

POR JOÃO VICTOR COMIN TEIXEIRA

negócios. “Qualquer lugar do mundo, vai ter pelo menos um atendente que sabe se virar no inglês”, pontua. Em uma viagem de avião para o Chile, por exemplo, ele recorreu ao idioma. “Sentei no avião do lado de um chileno e não conseguia falar em espanhol, tinha dificuldade de entender e me expressar, e acabei falando inglês”, relembra.


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SUSTENTABILIDADE

Jovens pesquisadoras cooperam no combate à pobreza menstrual Alunas de Ensino Médio criam projeto que objetiva desenvolver absorventes sustentáveis, uma alternativa mais acessível à população e menos prejudicial ao meio ambiente

O

projeto “Absorventes Sustentáveis”, elaborado pelas estudantes do 2º ano da Escola Sesi de Ensino Médio Arthur Aluízio Daudt, de Sapucaia do Sul, Alanna Chaves, Caroline Costa e Gabriela Pacheco, conquistou o 1º lugar na Feira Nacional de Ciência e Tecnologia Dante Alighieri (FeNaDante) Virtual 2021, na categoria de Ciências Sociais. A iniciativa conta com recursos da bolsa-auxílio Jovem Pesquisador Sesi de incentivo à pesquisa científica. A ideia consiste na criação de uma alternativa para o absorvente convencional, produzindo uma versão biodegradável do item de higiene a partir de fibras vegetais e biopolímeros (compostos a base de fontes renováveis com menor tempo de decomposição após descartados). A proposta do absorvente é não agredir o meio ambiente e ser acessível a indivíduos em situação de carência que menstruam. O relatório “Livre para Menstruar”, produzido por membros do Girl Up, organização sem fins lucrativos que busca alcançar a igualdade de gênero, aponta que, no Brasil, o gasto com o absorvente comum pode variar de 3 mil reais a 8 mil reais ao longo da vida.

pacto da precariedade menstrual, as estudantes pensaram no desenvolvimento de uma ação que combinasse a questão social e ambiental. Segundo o Atlas do Plástico de 2020, uma pessoa produz 150 kg de lixo em decorrência do descarte de absorventes comuns durante um período fértil médio de 40 anos. “É incrível, porque são dados próximos de nós e, mesmo assim, não percebemos esse problema”, analisa Caroline. Estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) indica que 23% das brasileiras de 15 a 17 anos não têm condições de adquirir artigos seguros para passarem pelo período menstrual. “Por que a camisinha é distribuída e o absorvente não?”, indaga Gabriela, ao defender a distribuição gratuita de absorventes na rede pública de saúde, item que sofre tributação de mais de 30% do seu valor. O projeto está em fase de desenvolviALTERNATIVA Caroline Costa, Alanna Chaves e Gabriela Pacheco estão na fase de testes do mento, iniciando sua etapa de testes na projeto, selecionando os materiais que serão utilizados na produção do absorvente sustentável procura pelos melhores materiais para comporem o absorvente sustentável. SeLevantamento coordenado pela antro- mais sobre e saber como poderíamos fa- gundo as idealizadoras, caso o produto se póloga Mirian Goldenberg, da UFRJ, zer algo para mudar essa situação”, conta mostre eficiente e seguro, o próximo pasapontou que uma a cada quatro jovens Alanna. O cenário de escassez de recursos so será levantar parcerias para sua distrijá precisou faltar aula por não ter con- para que pessoas que menstruam passem buição entre a população em situação de dições de comprar o produto. pelo ciclo de forma digna e segura se ca- vulnerabilidade social, tornando este ab“Esses dados tocaram muito a gente. racteriza como pobreza menstrual. sorvente um símbolo da busca por igualEntão, pesquisamos para nos inteirarmos Instigadas pelo entendimento do im- dade de acesso à higiene básica.

SEGURANÇA

EDUARDA FEHLBERG / ARQUIVO PESSOAL

POR KAROLINA KRAEMER

ros, ficamos mais apreensivos”, o Apoio de Motocicletas (ROdisse. Ele acredita que andar em CAM) e da Cavalaria. Ademais, grupos diminui as chances de as- o policial disse que a Polícia Misaltos e afirma que a polícia tem litar realiza um movimento de feito rondas constantes no bairro. aproximação com os ciclistas, o “Acredito que seria uma seguran- que inclui reuniões de consciença a mais vigiar quem entra e sai tização, criação de grupos no de Lomba Grande”, sugere. WhatsApp e cadastro de grupos foram registrados apenas casos Segundo o tenente Alfonso, a de ciclistas que pedalam na reisolados de roubo no bairro. polícia realiza barreiras nas vias gião. “Tudo isso visa promover Em reunião com grupos de principais e secundárias do bair- medidas preventivas de seguranciclistas realizada no mês de no- ro, além de promover operações ça e evitar que incidentes como vembro, o tenente Alfonso disse que especiais aos finais de semana com os registrados em 2020 voltem a há desinformação entre o público. o auxílio da Ronda Ostensiva com acontecer”, explica. “Existem muitas informações falsas circulando, por isso há tanto medo”, pontua. No encontro, que contou a presença de diversos grupos de ciclistas, o tenente indicou que, no ano de 2020, ocorreram sete assaltos na Lomba Grande. Segundo o oficial, esse é um número baixo em comparação à quantidade de ciclistas que circulam na região. Ciclista e gerente da loja Roda Bikes, de Campo Bom, Joel Luciano Agnes ainda se sente inseguro ao praticar sua rotina de treinos no bairro. “Nos lugares onde não tem muitas casas e moradores, APREENSÃO Para diminuir a chance de assaltos, muitos ciclistas pedalam nem mesmo movimento de car- em grupo quando visitam as belas paisagens do bairro de Novo Hamburgo

Ciclistas se sentem inseguros em pedalar na Lomba Grande POR NÍCOLAS DE SOUZA RODRIGUES

NÍCOLAS DE SOUZA RODRIGUES

Com a chegada do verão o tráfego de ciclistas aumenta no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo, sobretudo por aqueles que utilizam a bicicleta como forma de lazer. Segundo a Brigada Militar, o número de pessoas que pedalam na região se aproxima de 1 mil nos finais de semana. Contudo, apesar da quantidade, os ciclistas enfrentam o medo de assaltos. Elias Weiss pedala há mais de 15 anos e foi vítima recente de roubo na Lomba Grande. O ciclista foi assaltado no dia 2 de outubro, na localidade de São João do Deserto, quando pedalava sozinho na região. Apesar do roubo, ele reconhece que há

policiamento no trecho. “Não tem muito o que se possa fazer, pois não tem como ter policiamento o tempo todo”, afirma. Subcomandante do 3º Batalhão da Brigada Militar de Novo Hamburgo, o tenente Rodrigo Ribeiro Alfonso reforça que há policiamento ostensivo no bairro Lomba Grande. Segundo ele, o caso de Elias representa um fato isolado. “Esse foi o único caso registrado no ano”, esclarece. O tenente atribuiu o clima de insegurança no bairro a uma série de roubos a ciclistas registrados em 2020 por uma única pessoa que conseguiu se infiltrar nos grupos de ciclistas. “Com isso, ele descobriu as rotas e horários para cometer os roubos”, explica o oficial. Após a identificação e captura desse homem, que cumpre pena,


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MATERNIDADE

Covid-19 prejudica a saúde emocional de gestantes Efeitos do novo coronavírus, especialmente o isolamento social, também são sentidos no desenvolvimento de bebês

J

eniffer Miritz, 20 anos, descobriu que estava grávida em novembro de 2019. Seu filho nasceu saudável, com 3,8kg e 49cm, em julho de 2020, ano em que, por decorrência do novo coronavírus, o número de nascimentos no Brasil foi o menor desde 1994, segundo dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc). O trabalho de parto foi complicado e durou 30 horas, entretanto, não teve problemas relacionados à Covid-19. Mesmo assim, Jeniffer enfrentou momentos difíceis desde o período gestacional por conta das restrições impostas pela pandemia. “Sem o vírus tudo seria diferente. Eu não pude fazer o chá de fralda do meu filho, algo que eu queria muito! Quando ele nasceu, não pude receber visitas. A rede de apoio acabou se tornando pequena. Além disso, minha mãe estava com suspeita de Covid e demorou 15 dias para conhecer o neto”, relata. A psicóloga e especialista em mães e crianças Débora Laks indica que o período de isolamento afetou a maneira como a gravidez e a maternidade são vividas. “Gestantes tiveram que buscar outros meios de compartilhar o cres-

cimento da barriga e 1 ano e 4 meses, chora confraternizar ao final muito se ela não estiver deste período. Muitas junto dele. Essa demanda mães de bebês perdeconstante dificulta a reram a rede de apoio e as tomada de Jeniffer às atitrocas sociais, elementos vidades regulares. importantes para se estaAs adversidades que belecer um bom modelo crianças nascidas durande maternagem”, explica. te a pandemia podem soCom a pandemia, frer foram apontadas por os medos habituais da um estudo divulgado por gestação, como a antepesquisadores do Deparcipação do parto, por tamento de Pediatria da exemplo, foram somados Warren Alpert Medical a outras preocupações. School, da Brown UniO Observatório Obstéversity, nos Estados Unitrico Brasileiro (OOBr) dos. A pesquisa indica aponta que a morte de impactos negativos que grávidas e puérperas podem ocasionar desde (mulheres em período diminuição de QI até dipós-parto), em funficuldades no desenvolvição do novo coronavímento da fala. “Estes são rus, triplicou em 2021. alguns indicativos sérios Jeniffer foi diagnos- ADVERSIDADES Jeniffer enfrentou a gestação em meio à pandemia com coragem das repercussões, sem ticada com Covid-19 e esperança, sempre tomando cuidados para não desencadear complicações falar nas emocionais”, quando seu bebê estapontua Débora Laks. A va com 9 meses. Seu filho não teve ne- da amamentação. Foi extremamente psicóloga explica que a saúde emocional nhum sintoma, mas o fato de precisar cansativo e pavoroso”, relembra. é fundamental para lidar com momentos cuidar dele sozinha, enquanto estava Ela acrescenta que pelo fato de não de crise e oferece um conselho às novas com a doença, foi muito difícil para conviver diariamente com outras pes- mães: “Busque uma rede de apoio para ela. “Pareciam dias infinitos por não soas, uma vez que o contato familiar tentar se fortalecer e melhor cuidar dos poder receber ajuda de ninguém e fi- diminuiu bastante em tempos de pan- seus filhos. Se você já percebeu dificulcar em isolamento com ele por causa demia, seu bebê, que atualmente tem dades, busque ajuda profissional.” LUANA CHARÃO / ARQUIVO PESSOAL

POR ÂNDREA MIRITZ

MAIS LEITOS

Hospital de Gravataí vai triplicar área de emergência POR NÍCOLAS CÓRDOVA

ção dos leitos de UTI. No início de dezembro, a nova Unidade de Tratamento Intensivo já estava 65% pronta, com a promessa de entrega à população até o final de 2021. Já a área triplicada do setor de emergência tem como prazo de finalização o segundo semestre de 2022.

na capacidade de atendimento do hospital da cidade, mas também demonstra preocupação com as contas do município: “É importante a ampliação da rede pública de saúde para que todos tenham acesso. No entanto, é necessário que exista um planejamento financeiro para que não haja um endividamento do município, o que, no futuro, pode acabar desgastando a saúde. Também é preciso avaliar quais áreas estão mais necessitadas para que não haja um desperdício de verbas”, disse. De acordo com o superintendente do hospital, os recursos para a realização da obra são originados dos setores públicos, como a Prefeitura Municipal de Gravataí, a Câmara de Verea- UTI EM OBRAS Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Dom João dores da cidade e de emendas Becker vai duplicar de capacidade, passando para 20 leitos após ampliação

NELSON DUTRA / HOSPITAL DOM JOÃO BECKER

No início do mês de novembro, a Prefeitura de Gravataí, junto à diretoria da Santa Casa de Misericórdia, anunciou o começo das obras de ampliação do Hospital Dom João Becker. Em um pequeno evento, o prefeito Luiz Zaffalon ressaltou que o setor de emergência da cidade vai triplicar sua capacidade de atendimento. Antes do início das obras, a emergência do hospital tinha capacidade para apenas nove leitos, ocupando espaço de 405 metros quadrados. Após a execução da obra, a área será ampliada para mais de 1.2 mil metros quadrados

e o número de leitos irá saltar para 24. Hoje, com mais de 50% do prédio pronto, pacientes já estão sendo internados nos novos ambientes. Além da emergência, a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) também será contemplada na obra. De acordo com o superintendente do Hospital Dom João Becker, Dr. Antônio Weston, os leitos de UTI vão duplicar de capacidade, passando de 10 para 20. “O apoio e a relação estreita da Santa Casa com o poder público municipal, as lideranças empresariais e as organizações locais têm sido fundamentais nesse processo”, enfatizou. Apesar da obra já estar em andamento, a moradora da região central de Gravataí, Manuela Alves, apoia o aumento

federais. Além disso, o custeio também foi feito pela iniciativa privada e pela própria Santa Casa de Misericórdia. Ao todo, 16 milhões de reais estão sendo investidos na realização da obra, sendo 10 milhões de reais direcionados para a ampliação da área de emergência e 6 milhões de reais para a duplica-


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CONDENADAS

Mulheres e prisões: abandono e solidão dentro e fora das celas

Afastadas de filhos e companheiros, tanto as que cumprem pena em presídios do Rio Grande do Sul quanto as que acompanham de fora seus familiares encarcerados sofrem de dores em comum FOTOS SILVANA PIRES / ARQUIVO PESSOAL

POR AMANDA DE ANDRADE BERNARDO

N

a sacola, a barraca, algumas roupas e o kit de higiene. É sábado. O bolo está pronto, mas falta cortar — assim permanece fofinho por mais tempo. Tudo pronto para enfrentar algumas horas de ônibus e uma noite dormindo na barraca, ao lado da penitenciária. Do lado de fora, chove fino. Na madrugada, carros passam gritando ofensas. No domingo, inspeção e revista são realizadas para que duas horas ao lado do familiar sejam concedidas. Essa é a realidade de milhares de mães, esposas e filhas com um familiar encarcerado nos dias de visita e de sacola, como chamam os produtos de higiene, roupas ou alimentos para a pessoa apenada. Na cela, oito mulheres dividem o espaço, o tempo e as refeições. O trabalho começa às 7h30, na cozinha. O descanso e o almoço começam às 11h. Às 13h30, a aula inicia e vai até às 15h. No meio da tarde, um lanche — o chamado “cuique”, que consiste em uma massinha e um café. À noite, o jantar — geralmente arroz com feijão. Foi dia de visita também, mas a rotina não mudou. Há um ano presa, Maria*, 35 anos, nunca recebeu ninguém. Na hora de dormir, os remédios receitados pelo médico da penitenciária ajudam a trazer o sono. Histórias como essa acontecem todos os dias nas prisões do Rio Grande do Sul e marcam duas realidades distintas conectadas por um ponto em comum: não importa de que lado do cárcere estão, são as mulheres que convivem com o abandono e a solidão. Em novembro de 2021, o Rio Grande do Sul tinha 2,3 mil mulheres presas. Entre os homens, são 40,4 mil presos. Em média, um a cada três presos homens recebem ao menos uma visita, enquanto apenas uma a cada cinco mulheres são visitadas. As sacolas consistem em kits de higiene (uma lista com 18 produtos que não são contabilizados) e até outros cinco produtos, que podem variar entre alimentos, roupas, itens de papelaria, eletrônicos (como TV e rádio) e itens de beleza. Apesar de poucas presas receberem visitas, quem faz fila para visitá-las são outras mulheres.

Filhas, mães, esposas

“Aqui [na Penitenciária Estadual de Bento Gonçalves], em dia de visita, é 95% mulher, [...] geralmente mãe, esposa, irmãs e filhas”, conta Silvana de Castro Pires, diretora e monitora da Comissão Carcerária de Bento Gonçalves. Do lado de dentro, na ala feminina, o cenário é outro. “Aqui, das 24 presas, cinco recebem sacola e, dessas, três recebem visita”, conta Silvana. A Comissão, pioneiro no Estado, nasceu em 2019 e reúne familiares de presos com foco no apoio emocional e assistência jurídica — busca pela Defensoria e mediação com a Superintendência dos Serviços

COMISSÃO Penitenciária Estadual de Bento Gonçalves foi a primeira no Rio Grande do Sul a contar

com serviço de apoio emocional e jurídico a apenados através de Comissão Carcerária

“Entendemos a Lei 160 e fizemos ela valer dentro e fora dos presídios”, diz Silvana. A Lei 160 é, na verdade, a Portaria Nº. 160/2014 – GAB/SUP, que regulamenta o ingresso de visitas e materiais em estabelecimentos prisionais. A partir de ações como essa, os familiares recebem apoio necessário para enfrentar todo o processo. Por mês, são 150 visitas, em média, que o grupo ajuda a organizar, além de dar espaço para conversa e desabafos. “Os braços do Estado não alcançam a base, quem alcança somos nós”, conta Silvana. O trabalho da Comissão acontece de maneira presencial nas quartas, sábados e domingos, dias de visita e de sacola. Em um dos sábados de maio de 2020, Lisiane cruzou seu caminho com Maria, que estava progredindo do regime fechado para o regime domiciliar. No encontro, Lisiane auxiliou a apenada a conseguir carona para reencontrar a família. Maria cumpriu um ano e três meses antes de ser liberada com base na Lei nº 13.257/16, que garante que gestantes e mulheres com filhos de até 12 anos passem da prisão preventiva para a prisão domiciliar.

Um ano sem vistas

VISITAS Como diretora da Comissão Carcerária de Bento Gonçalves, Silvana de Castro Pires ajuda

a organizar em torno de 150 visitas de familiares de presidiários todos os meses

Penitenciários (Susepe), órgão responsável por executar a política penitenciária estadual. A partir dessa Comissão, outras foram nascendo, até que surgiu a Frente dos Coletivos do Rio Grande do Sul. Silvana entrou na Comissão alguns meses depois da fundação. Ela é irmã da idealizadora e fundadora, Lisiane Pires. Esposa e visitante de um apenado, Lisiane tomou a frente para resolver problemas que o grupo de familiares enfrentava no antigo presídio da cidade. Os visitantes deixavam seus pertences nas barracas na rua e, por vezes, seus objetos eram furtados. Com o apoio da Comissão, os objetos passaram a ser guardados em um espaço da penitenciária que estava inutilizado e ficavam sob a supervisão de Lisiane.

“Os braços do Estado não alcançam a base, quem alcança somos nós” Silvana Pires

Diretora da Comissão Carcerária de Bento Gonçalves

“O sistema é falho”, esta é a frase com que Maria inicia seu relato sobre o período. No tempo de reclusão, a detenta trabalhou e estudou de segunda a sábado. O intuito era diminuir a pena — a cada três dias trabalhados ou a cada 12 horas de frequência escolar, a pena diminui em um dia. “Era uma pressão muito, muito grande”, conta Maria sobre os dias que passou encarcerada. Ao todo, foram 365 presa, sem receber visitas. Para suportar, contou com apoio médico fornecido pela Susepe: “Eu trabalhava, estudava e tomava remédio para dormir, era assim todo dia”. Já em prisão domiciliar, a apenada retomou a guarda dos filhos, que passaram parte do período de reclusão da mãe em um abrigo. “A gente aguenta no peito e vamos embora”, finaliza Maria, que tem mais três anos de pena para cumprir em regime domiciliar. O denominador comum entre histórias de visitantes e de não-visitadas é o abandono por parte do Estado e da sociedade. Uma frase que se repete nos relatos de familiares e egressos é de que o maior problema é o preconceito, além da sensação de abandono. Questões que superam os problemas estruturais e as condições precárias — e acabam levando a problemas psicológicos, dependências e, novamente, ao crime. Questionada pela reportagem, a Susepe não informou sobre a existência de programas públicos nas penitenciárias ligados ao abandono das detentas e à escassez de visitas e materiais. (*) O nome verdadeiro da entrevistada foi preservado


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SUBNOTIFICAÇÃO

Feminicídio cresce, mas violência ainda é pouco denunciada

Assassinatos de mulheres por questão de gênero subiram 28% no RS nos primeiros oito meses de 2021 em comparação com o mesmo período de 2020. Isolamento social pode ter impactado em denúncias de agressões PIXABAY

POR GABRIEL JAEGER

A

s marcas, cicatrizes e lembranças do medo constante continuam convivendo com Mariana Souza, de 27 anos, moradora da cidade de São Leopoldo. Agora, a faxineira não precisa se preocupar com os ataques psicológicos e físicos, visto que terminou o seu relacionamento abusivo. Porém, em um período de cinco anos, a jovem teve sua vida em risco por diversos momentos. Foi graças a uma denúncia anônima que ela conseguiu se libertar. “Eu vivia presa e com medo de contar o que eu estava passando. As ameaças eram frequentes e tinha medo de morrer quase todos os dias”, relata Mariana. As histórias impressionam, pois foram quatro episódios violentos, com socos, chutes, tapas e até mesmo espancamento com objetos perigosos. O ex-marido da faxineira chegou a tentar esfaqueá-la duas vezes, mas ela conseguiu escapar e foi buscar refúgio na casa de parentes. “Acredito que a vizinhança já havia escutado parte dos episódios, pois era extremamente violento e barulhento”, conta a vítima. E foi graças a um vizinho, o Vilmar, que ela conseguiu ajuda, já que ele ligou para realizar a denúncia, e a Polícia Civil prendeu o ex-marido preventivamente por alguns dias. Após isso, foi aberta uma medida protetiva, em que o agressor teria de manter ao menos um quilômetro de distância da vítima e não poderia tentar qualquer contato comunicativo com ela ou qualquer familiar próximo. Mariana ainda viveu alguns meses de maneira apreensiva até poder viver tranquilamente outra vez.

zerado. Já na capital gaúcha, no ano passado foram sete mortes e, neste ano, o número aumentou para oito. Segundo Gabriela Souza, advogada especialista em casos de violência contra mulheres, o número em relação à violência doméstica não é real, devido à subnotificação. “Infelizmente, o número Mulheres sob ameaça das tabelas divulgadas representa cerca de Em meio à pandemia da Covid-19, 20% do total de ocorrências. É impossíeste é outro problema grave na sociedade: vel que em Novo Hamburgo não tenha a violência contra a mulher. Segundo acontecido alguma morte neste período dados divulgados pelo Observatório da registrado”, lamenta a advogada. Para Violência Contra a Mulher pela Secretaria Gabriela, as denúncias não realizadas da Segurança Pública (SSP-RS), houve acontecem ainda mais durante o períoum aumento de 28% do de isolamento social de mortes por gênero devido ao coronavírus, nos oito primeiros mejá que em algumas si“As ameaças eram ses de 2021 em relação tuações os ambientes frequentes e tinha ao anterior. Foram 57 de apoio estão fechaassassinatos no ano dos, o que dificulta medo de morrer passado, enquanto em registrar os casos quase todos este ano chegou ao tode agressões. tal de 73 mortes. Já em A juíza-corregedora os dias” relação ao número de da Coordenadoria EsMariana Souza ameaças, houve uma tadual das Mulheres em Vítima de violência queda de quase 7% no Situação de Violência mesmo período citaDoméstica e Familiar do, de 22.661 ataques para 21.105. do Tribunal de Justiça (TJ-RS), Gioconda Na cidade de Novo Hamburgo, na Fianco Pitt, ressalta o fato dos números região do Vale do Sinos, foram regis- serem ainda mais altos, já que as mulhetradas duas mortes como feminicídios, res agredidas estão vivendo confinadas enquanto em 2020 este número ficou com seus agressores devido às medidas

ciar: “Não pode ter medo da denúncia! O silêncio ajuda o agressor, complica a vida da vítima, que muitas vezes não sobrevive a tantas agressões físicas e psicológicas”. Para denunciar, o número 180 deve ser discado, que é a Central de Atendimento à Mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos. Especialista no assunto, Gabriela disponibiliza publicamente seu contato para assuntos urgentes e pontuais, como ameaças e estupros. Por WhatsApp é (51) 98454-4858 e o telefone fixo é (51) 3085-5431. Outra forma de denúncia é via lojas da rede Mazagine Luiza, que ampliou o uso de uma de suas ferramentas de combate à violência contra a mulher. O botão de denúncia, disponível no aplicativo da varejista desde o ano de 2019, passará a ter uma nova função, que direciona ao projeto “Justiceiras”. Este meio oferece um serviço completo de acolhimento e apoio e atende as vítimas em até 24 horas. Há três anos, o aplicativo da loja já contava com um botão que permite acesso direto ao Ligue 180 e, desde 2020, via chat, ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, recebendo as denúncias virtualmente. Além disso, o Magazine Luiza possui desde 2017 o Canal da Mulher, que ofesanitárias que exigem ficar mais tempo rece ajuda às funcionárias da companhia em casa. Além disso, ela reforça a impor- vítimas de violência. O Canal da Mulher tância da denúncia, seja vinda da vítima, já deu apoio a mais de 600 mulheres. Por de algum parente ou conhecido. “Não se meio dele, qualquer funcionário da loja pode pensar duas vezes em relação à de- pode denunciar ou notificar a existência núncia, já que, muitas vezes, infelizmen- de mulheres em situação de perigo. A te, é feita tarde demais”, pontua. partir disso, psicólogos da empresa entram em contato com a vítima para compreComo denunciar ender a situação e oferecer a ajuda mais A advogada Gabriela também co- adequada ao contexto da mulher agredida, mentou sobre a necessidade de denun- seja física ou psicologicamente.

Número de mortes por gênero no RS Os dados são relativos aos oito primeiros meses de 2021


|9| BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | DEZEMBRO DE 2021

OPINIÃO/Crônicas

Liberdade de expressão contra a desinformação POR ANDERSON DILKEN

Você já pensou como tudo funcionava nos tempos da ditadura, período em deveríamos pensar, agir, falar somente o que o governo queria? Uma música não podia ser tocada nas rádios, em shows ou fazer parte de um disco se não tivesse o aval da censura prévia. As pessoas não podiam emitir a sua opinião. Certa vez conversei com um amigo produtor de teatro, que me dizia que na época a peça era apresentada antes a um representante do governo para que aí ela fosse liberada ao público em geral. Eram tempos de censura prévia. Os mais jovens não têm ideia do que isso significa, de como era, de quantas pessoas foram presas, torturadas e até mortas. Por isso sou a favor da tantas vezes falada liberdade de expressão e a da liberdade de imprensa. Ah, a imprensa: quantos jornais foram fechados por não manifestar o que os poderosos queriam ler? Hoje, por mais que

muitas vezes aconteçam brigas entre jornalistas, com responsabilidade, pode se abordar qualquer assunto. Desde que não se esteja mentindo. Um é de direita o outro é de esquerda, um é a favor da legalização da maconha outro é contra. Todos temos que ser livres para termos a nossa própria opinião e poder manifestá-la. Isso, no entanto não nos dá o direito de desrespeitar, humilhar qualquer pessoa por ter uma opinião diferente da nossa, algo que acontece frequentemente principalmente no mundo das redes sociais. Nesse espaço, perdemos a liberdade de expressão e vamos para uma ditadura ditada pelas próprias pessoas. Lembrando que a liberdade que temos por direito, já que vivemos em uma democracia, não significa que podemos espalhar notícias inverídicas, as chamadas fake news: já ouviu falar? Notícia é notícia, opinião é opinião, precisamos ficar atentos para isso, e quando passamos a diante de uma informação, precisamos ter certeza de que ela é verdadeira.

O apito sempre é protagonista POR LEONARDO OBERHERR

Reclamar da arbitragem é quase um hobby para qualquer praticante dos esportes profissionais do país. Torcedores, dirigentes, jornalistas, todos se tornaram especialistas das 17 regras do futebol. E é com imensa dor no peito que eu preciso concordar com essa postura. Diferentemente do futebol americano (football), as regras do soccer (futebol da bola redonda) são muito mais interpretativas do que conclusivas. O mesmo acontece no vôlei e no tênis, em que as tecnologias advindas da arbitragem de vídeo concluem, por si, a definição do que ocorreu. Bola fora, ou bola dentro? A bola toca o chão? Cruzou o plano de goal line? Nisso o vídeo colabora. Agora, se perguntar à máquina: “o jogador teve a intenção de tocar com a mão na bola?”, o algoritmo, por mais preciso e aritmético que seja, não saberá dizer. Não estou aqui para criticar o equipamento. Longe disso. Estou aqui para dizer o quanto a arbitragem do soccer é ruim, e não somente no Brasil. Pela proximidade, vemos muitos er-

ros daqui, mas, sabemos que no mundo não é diferente. Tenho certeza que já ouviste a frase: O VAR veio para ajudar, facilitar, não para definir. Infelizmente, a arbitragem confortou-se pelo recurso de vídeo e os juízes passaram a se tornar menos ativos. Estão mais distantes das jogadas, apitam com mais insegurança, estão notadamente relaxados porque sabem que há um vídeo para salvá-los. O problema é quando a arbitragem precisa interpretar a jogada. O vídeo, congelado frame por frame, não dá a real situação do que houve em campo. Uma imagem parada não define uma situação interpretativa que somente um ser humano pode dar e interpretar, dentro do campo. A solução mais prática, seria - de vez - a profissionalização da arbitragem no país. Mesmo que seja um sonho antigo, acredito que somente dessa forma, como é na NFL, no football, a arbitragem terá somente um foco: arbitrar. Mais do que isso, é um trabalho melhor construído para que os árbitros tomem para si as decisões, tenham mais confiança e deixem de usar o VAR para absolutamente tudo.

Apontamentos sobre o tempo POR ARTHUR MOMBACH SCHNEIDER

Após um dia cansativo, eu gosto de me sentar na sacada de minha casa e olhar o sol se pôr, ver as pessoas caminhando, os carros passando. Nesse mesmo momento me pego pensando sobre a vida, sobre como o tempo tem passado rápido. Analisando os últimos minutos de luz do sol, me dou conta que devemos buscar aproveitar ao máximo cada situação, até mesmo aqueles momentos em que estamos sozinhos aproveitando a solitude que o universo nos proporciona. Com isso, tento me lembrar de dias bons, dias que eu gostaria que fossem infinitos, onde o que só me importava era aquele momento e as pessoas que estavam vivenciando aquilo comigo. Porém, vejo que isso é apenas um sonho, na verdade uma lembrança boa de uma coisa que vivi no passado e aprendo que não podemos voltar para trás e sim apenas podemos andar para frente. Sempre que vivemos novas experiências, nos abrimos para o novo, um mundo cheio de possibilidades. Basicamente é possível afirmar que

entramos em um novo universo a nossa volta, com novas energias e isso é bastante intrigante. Em outros momentos gosto de prestar atenção ao cair da chuva, sentir o cheiro de grama molhada, é uma coisa tão relaxante, ao mesmo tempo todos se recolhem para suas casas ou algum lugar para se abrigar da chuva. Outros aproveitam para se banhar com as águas que caem do céu, principalmente em dias quentes, onde a chuva refresca o dia e traz consigo um vento refrescante que muda por completo o clima. Por fim, aos fins de semana, costumo me resguardar em minha casa, assisto a filmes e séries que deixo de lado durante a semana pela falta de tempo, devido aos compromissos do dia a dia. Nesses momentos posso tenho a paz e tranquilidade, isso me remete a infância onde não havia preocupações e eu passava o dia todo apenas assistindo a desenhos e filmes na sessão da tarde e comendo um lanche junto, bons tempos, mas infelizmente a vida segue apenas para frente, para que com isso, possamos ter novas vivencias.

O amor expressado POR MARÍLIA PORT

Nessa casa, existe uma gata. Ela ama a luz da manhã. Todos os dias, deita no encosto do sofá ou na caixa de papelão que conquistou no quarto da minha irmã e passa horas sentindo o calorzinho que vem da janela. Quando eu saio para tomar sol, ela vai junto. Rola na grama, observa atenta as borboletas do jardim, caminha na terra ao redor das flores. É a minha amazona favorita. O pelo de um castanho escuro quase preto volta para dentro de casa com uma cobertura poeirenta inacreditável. Ela lambe e lambe e lambe esse mesmo pelo escuro por horas. De tão limpo que fica, no primeiro sinal de carícia ela olha torto, e lambe mais uma vez o recorte do seu corpo que as mãos humanas tiverem tocado. Ela é carinhosa do jeito dela; prefere fazer carinho do que receber e adora companhia. Quando recusa o toque, ainda dá uma chance: finge que vai

morder, mas não morde. Ela ensina as pessoas que gosta a respeitarem seu espaço. Também compartilha comigo e com os outros membros da família momentos de preguiça em frente à televisão, mas eu não saberia dizer qual de nós é a primeira a dormir durante o filme. Nos meus piores dias, ela se aproxima. Sente e se faz presente. Deita no colo, esfrega as bochechas e, dependendo da magnitude da crise, até passa a noite junto. No fim das contas, conhece tão bem os meus estados de espírito quanto eu conheço os dela. Nesses sete anos de convívio, acompanhamos os processos uma da outra. Li vários livros e completei vários ciclos na sua companhia. Com ela eu aprendi sobre respeito, confiança e, sobretudo, amor. A Pê, para mim, é a pura forma de acolhimento e fidelidade. Eu vou descobrir o mundo, mas uma parte do meu coração sempre fica. Toda vez que volto, os meus olhos procuram os dela na janela. E então me sinto em casa.


| 10 | BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | DEZEMBRO DE 2021

UBERIZAÇÃO

Falta de direitos e saúde mental de motoristas de aplicativo Atualmente, motoristas da Uber trabalham por mais de 8h diárias para ter sua renda, e veem saúde mental em segundo plano ARQUIVO PESSOAL / JORGE FRANÇA

POR RAFAELLA SCHARDOSIM

A

estimativa mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que em 2019, nada menos que 4 milhões de brasileiros entraram na atividade de motorista de aplicativos. Muitos desses prestadores de serviços subsistem em condições precárias, submetidos a jornadas superiores a 12 horas diárias, com baixo faturamento e, consequentemente, fragilizando a saúde mental. Em 2020, com o avanço da pandemia de Covid-19, o aplicativo Uber passou a servir como opção para quem perdeu fontes de renda. Jorge França, 37 anos, morador de Gravataí, foi um dos que viu nos aplicativos de transporte uma alternativa em 2020. Atualmente, ele trabalha na Uber mais de oito horas durante a semana e 12 horas nos finais de semana. “Quando eu era vendedor, eu tinha que cumprir horário, e mesmo com todos os direitos, não tinha flexibilidade. Hoje, eu faço meu horário, de acordo com a necessidade”, comenta. Além da carga horária semanal de 60 horas, o motorista dá aulas de Taekwondo diariamente, das 17h às 20h. Nas poucas horas vagas que sobram, França costuma reunir-se com os amigos para fazer churrasco e prestigiar seu JORNADA Motorista de aplicativo desde 2020, Jorge França trabalha transportando passageiros durante o dia e ainda dá aulas de Taekwon-do à noite time do coração, o Internacional. Nos últimos meses, contudo, o tra- individual, que conecta motoristas e dias em dezembro”, resume França. turado, pode desenvolver transtorbalho na Uber tem sido menos vanta- passageiros por meio de seu aplicativo. O motorista sente que vem se desgas- nos de pânico e ansiedade. joso para França e outros motoristas. Em um processo, a empresa alegou que, tando psicologicamente com o excesso Para que os motoristas de aplicativos Em Porto Alegre, a frota de 25 mil conforme o artigo terceiro da Conso- de trabalho: “Fazer essa carga horária consigam desempenhar um trabalho condutores recebia, em 2015, R$ 1,25 lidação das Leis do Trabalho (CLT): alta para ter um retorno me desgasta saudável e consciente, a primeira orienpor quilômetro rodado, e hoje recebe “Empregado é toda pessoa física que bastante. O trânsito nos eleva a tensão, tação que a psicóloga coloca é que cada entre R$ 0,90 e R$ 0,95, na direção presta serviços de natureza não even- ficamos muito tempo focados.” condutor deve conhecer seus limites, contrária da inflação, que está em torno tual a empregador, sob a dependência Conforme a psicóloga Ana Pau- do corpo e da alma, entendendo suas de 10% em 2021, sem contar o aumento deste e mediante salário”. Assim, não la Tomacheski, 27 anos, mestranda necessidades, e organizando sua rotina do preço da gasolina em mais de 70%. constitui nenhum vínculo empregatí- em terapia cognitiva comportamen- de trabalho de acordo com suas metas. Diante do não aumento proporcional cio ou de prestador de serviços, não tal, de 2020 para cá, muitos foram os Por estarem em contato com o veículo, da remuneração dos motoristas, muitos tendo obrigações trabalhistas com os relatos de pessoas que, ao perderem precisam manter-se atentos aos sinais deixaram a função, de acordo com o motoristas, na visão da empresa. seu emprego, deparam com transtor- de cansaço excessivo ou esgotamento. Sindicato dos Motoristas de TransPara o motorista entrevistado, a fal- nos psicológicos e, por isso, precisam Nesses casos, buscar auxílio psicolóporte Individual por ta desses direitos vem buscar auxílio de especialistas. “Não gico. Além disso, reservar um tempo Aplicativo do Estado em contrapartida da sabemos como será o dia de amanhã, para realizar boas refeições, manter “Desgasta (Simtrapli-RS): 15% liberdade do trabalho e essa incerteza aumentou”, observa uma carga horária adequada de no da classe abandonou a autônomo, uma vez Ana Paula. “No caso dos motoristas de máximo oito horas e ter pelo menos bastante. O profissão até outubro que não dá nenhuma aplicativo, que trabalham diretamente oito horas de sono, lembrando tamtrânsito nos eleva de 2021. Na tentativa garantia de renda ou com o público, torna-se ainda mais bém de reservar um tempo para mode buscar melhores descanso. Com gas- difícil, porque há uma falta de direitos mentos de lazer e descontração. a tensão, ficamos condições, grupos de tos de 50 reais di- e cargas excessivas de trabalho”. Em nota oficial à imprensa, publimuito tempo motoristas de aplicaários com o carro, cada pela CNN, a Uber afirmou que tivos realizaram maentre manutenções e Sinais de alerta “tem intensificado seus esforços para focados” nifestações na capiabastecimento, França A psicóloga atenta para a impor- ajudar motoristas parceiros a reduziJorge França tal gaúcha em março, estabelece uma meta tância de reconhecer os limites do rem seus gastos, com parcerias que Motorista de Uber junho e setembro. diária, geralmente corpo e da mente, porque muitas ve- oferecem desconto em combustíveis, de R$ 200, para que zes os pacientes relatam um cansa- por exemplo, assim como tem feito Falta de direitos consiga ter uma estabilidade finan- ço físico e mental, mas que, se não uma revisão e reajustado os ganhos A falta de direitos trabalhistas é ceira. “Tem que ter uma meta. Eu não tratados, podem gerar transtornos dos motoristas parceiros em diversas um problema recorrente, visto que a tenho 13º e muito menos férias, se eu maiores e mais prejudiciais. A espe- cidades” para amenizar os efeitos do Uber se autoclassifica como plataforma não correr o ano todo e me organizar, cialista alerta que, se a pessoa não aumento no preço dos combustíveis de compartilhamento de transporte não tenho o luxo de descansar uns tem um equilíbrio emocional estru- na remuneração dos motoristas.


| 11 | BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | DEZEMBRO DE 2021

CONSCIENTIZAÇÃO

Ceclimar realiza ação de limpeza das margens da Lagoa Tramandaí Mesmo com a forte chuva que atingiu Imbé, operação mobilizou voluntários e recolheu quase 45 kg de resíduos, entre materiais plásticos, espuma de colchões, metais e objetos diversos FOTOS JOSÉ LUIZ FILHO

POR JOSÉ LUIZ FILHO

O

Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar/UFRGS) realizou a segunda edição do projeto de limpeza das margens da Lagoa Tramandaí, que reuniu cerca de 20 voluntários e recolheu quase 45 kg de resíduos. A ação, ocorrida no dia 6 de novembro, auxiliou a conscientizar os participantes em relação ao montante de lixo consumido diariamente e irregularmente descartado no ambiente. Entre os resíduos coletados estiveram materiais plásticos, espuma de colchões, metais e objetos diversos. A Lagoa Tramandaí fica localizada entre os municípios de Imbé e Tramandaí, no Litoral Norte gaúcho. Além do trabalho de voluntários, a ação contou com o auxílio de funcionários do Ceclimar e com o apoio da equipe Eco Imbé, da empresa JP3 Empreendimentos e da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana, que disponibilizaram materiais para o recolhimento do lixo e caminhões para o transporte do material retirado das margens da lagoa. O uso de máscara foi obrigatório durante toda a ação, assim como a higienização frequente das mãos e o distanciamento social. Além disso, todos os participantes estavam imunizados com a segunda dose da vacina contra a Covid-19. O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Enéas tante, 1,1 kg de plástico fragmentado Ricardo Konzen, participou da ação de e 0,8 kg de latas de alumínio. limpeza. Atuante no Ceclimar desde 2019 A moradora de Imbé, Ademira dos na área de ensino, pesquisa e extensão, ele Santos Maria, 54 anos, é proprietária de reforçou a importância do projeto para uma casa na margem da Lagoa Tramandaí a preservação da vida desde 1988. Ela conta no entorno da lagoa. que quando adquiriu “Essas ações “Essas ações contrio terreno a área do enbuem para a redução torno da lagoa era, em contribuem temporária da quansua maioria, habitada para a redução tidade de resíduos às por pescadores. Porém, margens da lagoa. Não com o passar dos anos, temporária da é raro encontrar animuitos deles venderam quantidade de mais mortos na beira ou locaram seus imóda praia por terem veis para veranistas. resíduos. Não é ingerido materiais “Nestes 33 anos em que raro encontrar sólidos”, constatou. acompanho o desenanimais mortos na volvimento da região, A relação de itens recolhidos deixou mesmo com o passar beira da praia por evidente o descaso da do tempo e a mudança terem ingerido população em relação frequente de pessoas ao descarte correto do que vivem aqui, uma materiais sólidos” lixo. Durante a ação, coisa nunca mudou: Enéas Ricardo Konzen que durou apenas 30 o descarte de lixo na Professor da UFRGS e participante minutos em função lagoa é uma constanda ação de limpeza nas margens da da forte chuva que te”, desabafou. Lagoa Tramandaí atingiu Imbé, foram A principal murecolhidos 10 kg de dança positiva para o espuma molhada, 8,8 kg de plástico ambiente foi a alteração na forma de duro, 7,99 kg de garrafa pet, 7 kg de lidar com o saneamento básico da reredes e fios de pesca, 2,8 kg de calça- gião. Esgotos e outros resíduos eram dos, 2,3 kg de isopor e copos plásticos, descartados diretamente na lagoa, o que 1,8 kg de vidro, 1,8 kg de perfurocor- não acontece mais. Porém, as marcas do

DESCASO Voluntários

reúnem materiais descartados irregularmente. Entre os itens coletados, estão garrafas pet, redes e fios de pesca, calçados, isopor, copos plásticos, vidros e latas de alumínio. Somente de espumas molhadas (abaixo), foram recolhidos 10 kg

descaso com a natureza permanecem. Em 2016, um grupo de estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) analisou a qualidade do pescado da Lagoa Tramandaí. Os resultados apresentaram valores elevados de arsênio em algumas espécies de

peixes, o que preocupa a população local que se alimenta desse pescado. A Lagoa Tramandaí é ponto para práticas esportivas, como remadas com caiaques e pranchas de stand-up paddle, além de promover lazer para banhistas e pilotos de lanchas e jet-skis.


| 12 | BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | DEZEMBRO DE 2021

E-SPORTS

Mulheres buscam reconhecimento no cenário de esportes digitais Além de conviver com desconfianças sobre suas habilidades e lidar com comentários machistas, jogadoras de e-sports ainda recebem menos incentivo para profissionalização do que os jogadores homens

O

s e-sports fazem parte de um cenário que vem se consolidando e se expandindo cada vez mais no Brasil. No que se refere à igualdade de gênero, contudo, ainda existe um longo caminho a ser percorrido. O investimento das marcas nesse universo é inegável, porém nota-se certo descaso quando o assunto é sobre mulheres inseridas em grandes competições. A falta de incentivo não está relacionada ao desinteresse do público feminino em participar, mas sim pela escassez de investimento e credibilidade. Não é de hoje que o meio dos jogos e a comunidade gamer apresentam aumento na participação feminina. No Brasil, por exemplo, foi levantado que mais mulheres do que homens têm o costume de jogar jogos digitais. Segundo uma pesquisa da PGB Brasil 2021, 72% dos entrevistados disseram ter o costume de jogar. Desse total, 51,5% são mulheres e 48,5% homens. Mesmo assim, no cenário dos esportes eletrônicos, as oportunidades não são dadas igualmente para as jogadoras. Apesar de serem metade dos jogadores brasileiros, as mulheres convivem com a predominância masculina no cenário competitivo, principalmente, nas competições profissionais. Um dos fatores que dificulta a inserção feminina no mercado dos e-sports é o machismo e o sexismo que as jogadoras precisam enfrentar, tanto de organizações

Distinção dos cenários

Vitória e lágrimas no reencontro de colorados com o Beira-Rio Depois de 581 dias sem torcedores nas arquibancadas, o Estádio Beira-Rio voltou a receber público em 10 de outubro de 2021, com 30% de sua capacidade. O placar não poderia ser melhor para os colorados. Na ocasião, o Internacional enfrentou a Chapecoense pela 25ª rodada do Brasileirão 2021, e a equipe gaúcha aplicou uma goleada por 5x2, somando mais três pontos na disputa por uma vaga na Copa

do que na inclusão, então acabam investindo em equipes maiores e mais estabelecidas, que têm predominância masculina”, comenta Hanna.

O cenário feminino do FPS da Riot Games “Valorant” vem recebenLuta por do muita atenção desde inclusão o lançamento. Por conta Sabendo das dificuldo impacto do jogo na codades que a maioria das munidade gamer, lançado mulheres enfrenta no meio em junho de 2020, a Riot dos jogos, surgem orgaGames anunciou o Game nizações para possibilitar Changers, projeto voltado mais inserção feminina. para dar mais visibilidaO Sakuras E-sports é uma de às mulheres, contando organização criada em com campeonatos oficiais 2018 com o intuito de promovidos pela própria fomentar a participação desenvolvedora. Além INVESTIMENTO Marcas dão preferência a equipes com predominância masculina, feminina no ambiente desses torneios oficiais, mas há organizações que buscam melhorar a inserção feminina no cenário gamer em diversos âmstreamers e organizações bitos, para que se sintam também promovem eventos exclusivos jogo, que não se resume só a comentários acolhidas e confortáveis, não somente para mulheres, mas nem assim as jo- desagradáveis. “Em outra partida, eu es- no competitivo ou no casual, mas em gadoras deixam de ser atacadas. tava jogando sozinha e assim que perce- qualquer lugar. A organização é hoje em Hanna Vieira, conhecida no YouTube e beram que eu era mulher começaram a dia a maior referência em representatina Twitch como “Hanna Wick”, é criadora me xingar, sem motivo. Mas depois que vidade e incentivo à participação feminide conteúdo e streamer de Valorant. Han- respondi no mesmo tom, rebatendo as na em games da América Latina. na já participou de diversos campeonatos ofensas, o jogador que estava me xingando Um dos projetos que envolvem a orgapromovidos por organizações e streamers parou, como se no início fosse legal me nização é o Atena, que auxilia mulheres do da comunidade e, mesmo tendo suces- humilhar, mas só se eu ficasse quieta, acei- cenário competitivo e casual, oferecendo so nas partidas, foi alvo de comentários tando as grosserias”, diz a gamer. apoio psicológico, jurídico, fisioterapêumaldosos feitos por homens que acomMuitas vezes, durante as partidas, tico, nutricional e de assessoria de comupanhavam o campeonato. “No chat tinha momentos que deveriam ser de lazer, nicação de forma gratuita. Além do provários espectadores dizendo que a gente acabam tendo o efeito contrário, e essa jeto Atena, a organização também tem o estava jogando mal, mas na verdade eles só é a realidade da maioria das jogadoras. projeto Monarca, iniciativa que visa trazer estavam querendo dar hate”, conta. “A gente percebe que a maioria das em- mais oportunidades para a profissionaliOs relatos citam o ambiente tóxico do presas tem muito mais interesse no lucro zação feminina na área dos e-sports.

TORCIDA

POR GEOVANA DE ARAUJO

OLYA ADAMOVICH / PIXABAY

e marcas patrocinadoras quanto de outros players.

POR SOFIA PADILHA GULART

Libertadores de 2022. Um dos felizardos que retornou ao estádio foi Tales Silva, de 24 anos. O colorado de Esteio não ia ao Beira-Rio desde o último jogo com público no estádio. Foi em março de 2020, quando foi disputada a partida entre Internacional e Brasil de Pelotas, pelo Gauchão daquele ano. Depois disso, as medidas sanitárias impostas pela pandemia de Covid-19 impediram que os torcedores empurrassem seus times nos jogos em todo o Brasil. “Inexplicável o calor da torcida dentro do estádio.

Para os jogadores, a motivação é fundamental, aquele alento, amor dos torcedores é fundamental para a busca da vitória”, conta Tales.

Explosão de emoção

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) publicou o Protocolo de Recomendações para Retorno aos Estádios para liberar público nos jogos no segundo semestre de 2021, quando a vacinação começou a avançar no país. O documento foi elaborado em conjunto com a Comissão Médica Especial (CME) e pela Diretoria

de Competições (DCO), contendo medidas de segurança para o retorno da torcida aos estádios em competições organizadas pela CBF. E não foi apenas a bola rolou no Beira-Rio no reencontro entre torcida e estádio. Lágrimas também rolaram. Mas o choro de Tales foi de alegria. “Motivo de agradecer por estar vivendo novamente aquele sentimento que só quem é torcedor sabe”, conta o torcedor e frequentador assíduo do Estádio João Pinheiro de Borda, que é o nome oficial do Beira-Rio. Tales Silva também nos contou que a sua expectativa ao retornar ao estádio era de rever os amigos e sentir novamente a emoção de estar à beira do gramado. Todas as expectativas foram superadas, segundo ele, porém a rotina pré e pós jogo não pôde ser a mesma de

antes da pandemia. Uso de máscara, álcool em gel e o controle de aglomerações nos corredores do estádio foram algumas das medidas protetivas adotadas pela equipe colorada, além da apresentação da carteira de vacinação ou de um teste negativo para a Covid-19 para acessar o estádio. “Costumávamos chegar mais cedo pra ficar na rua fazendo um churrasco quando dava, uma cerveja gelada era de lei”, lembra o torcedor. Nessa volta, a “ceva” veio junto, já o churrasco ainda não tem data de retorno para Tales e os amigos. Eles acreditam que neste momento o importante é voltar com segurança e ficar sem máscara o mínimo de tempo possível, além de evitar aglomerações desnecessárias.


| 13 | BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | DEZEMBRO DE 2021

OPINIÃO

Já que não temos nada para jogar, vamos jogar conversa fora No universo dos jogos digitais, existe uma infinidade de gêneros. Desde aqueles que focam em batalha e trabalho em grupo (Overwatch – FPS e League of Legends – MOBA), jogos que focam em contar uma história (Life is Strage - aventura gráfica e The Last of Us - ação-aventura), ou aqueles que te fazem pensar (Portal - quebra-cabeças). Porém, de vez em quando, um jogo com uma mecânica nova aparece no cenário para mostrar que o céu é o limite na hora de criar. Como é de costume, as empresas que aparecem com as inovações são as desenvolvedoras Indies, ou seja, aquelas empresas novas, menores e desconhecidas. Desta vez, a desenvolvedora responsável por uma mudança foi a Witch Bean, criada em 2013 e com sede em Brisbane, na Austrália. Ela lançou, essa semana, um jogo diferente e extremamente interessante, sendo esse seu segundo produto. Em Unpacking, vemos a trajetória da protagonista de uma maneira pouco comum. Diferentemente da maioria dos jogos, onde a visão é em primeira ou terceira pessoa, neste, temos a visão de fora, normalmente conhecida como isométrica (estilo The Sims) e a trajetória da protagonista é vista através dos itens nas caixas de mudança. É através destes

itens que o jogador tem que montar a história do game. Seja por uma miniatura de RPG, que ficou colorida, ou um ursinho de pelúcia, que teve remendo ao longo dos anos, o jogador é responsável por organizar os objetos e ambientes de acordo com alguns fatores. O jogo mistura elementos de criatividade com quebra-cabeças, ou seja, em alguns ambientes é possível guardar o laptop da protagonista no armário ou nas gavetas, mas não é possível colocá-lo no banheiro. Tudo começa em 1997, no quarto de infância, e vai progredindo, passando pelo dormitório na faculdade e depois por um apartamento compartilhado com os amigos, entre outros ambientes. Essa pluralidade do mercado de jogos é o que faz esse segmento crescer. Desde os jogadores mais hardcore, que querem os jogos competitivos e vão atrás de todos os objetivos, até os jogadores que só querem relaxar, aproveitando um ambiente virtual, há um produto perfeito para cada um. Com uma pontuação de 84 pontos no Metacritic, Unpacking mostra que o mercado está aberto para esta variedade. No final, este é um jogo para relaxar e absorver a história aos poucos, sem que todos os elementos precisem ser explicados. Desta forma, o jogo tem um ritmo mais lento, perfeito para quem não tem muita experiência em games.

REPRODUÇÃO / INSTAGRAM

POR GABRIEL M. FERRI

Henrique Abrahão

Melody afirma em entrevista já ter trocado ideia com atriz Mel Maia A cantora Melody agitou a internet após uma declaração durante o podcast “Pod da Dri” na terça-feira, 9 de novembro. Na entrevista, ela foi questionada sobre já ter se envolvido com uma mulher: “Eu sou de boa, inclusive, Mel Maia... estamos aí”, declarou a artista. Seguindo a conversa, a entrevistadora e youtuber Dri Paz rebateu, dizendo que ela estava interessada na atriz, então Melody respondeu: “Mas não sou só eu [que estou querendo]. Quem deu ideia primeiro foi ela. Estamos juntas nessa”, disse.

Atriz nega afirmações Em conversa com a revista QUEM, Mel Maia negou os boatos que estaria se envolvendo com a cantora: “Melody e eu nunca nem nos conhecemos pessoalmente, mas já nos falamos. Uma vez, estávamos conversando sobre como as pessoas comentam bastante sobre nós, e como pararia tudo se um dia nós aparecêssemos namorando... não foi nenhum tipo de flerte. Acho que isso já faz mais de um ano”, declarou a atriz.

REPRODUÇÃO / STEAM

Jennifer Lopez e Ben Affleck são vistos aos beijos em aeroporto No sábado, dia 6 de novembro, a atriz e cantora Jennifer Lopez e o ator Ben Affleck foram vistos mais uma vez juntinhos na pista de um aeroporto em Los Angeles. Eles estavam prestes a embarcar em um jatinho particular.

O casal que não sai dos holofotes Desde que foram vistos pela primeira vez juntos, em maio deste ano, J-lo e Ben Affleck resgataram uma memória afetiva dos fãs e público. Isso porque os dois já haviam namorado, entre 2002 e 2004, chegando até a ficar noivos. Na época, eles eram um dos casais mais badalados de Hollywood e contracenaram juntos, no filme Contato de Risco.

Dando início aos trabalhos O mais novo contratado da Band, Faustão, deve ter 10 horas de programação na emissora por semana, segundo afirmou a colunista de O Globo, Patrícia Kogut. Ainda, a ideia seria combinar o “DNA da Globo” com a descontração do programa “Perdidos na noite” e juntar humor com a reprodução das “Videocassetadas”.

Apoio durante um momento delicado Após revelar no sábado, dia 6 de novembro, que está enfrentando uma batalha contra o câncer de mama, a âncora do Globo News em Pauta, Lilian Ribeiro, usou seu Instagram para agradecer ao apoio dos internautas. “Eu queria dizer muitas coisas. Mas os sentimentos ainda estão misturados aqui. O que consigo dizer agora é MUITO OBRIGADA, por cada palavra de incentivo e apoio. No mar revolto, vocês me presentearam hoje com uma onda de amor”, escreveu Lilian.


| 14 | BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | DEZEMBRO DE 2021

ESTREIA

Companhia ÓMaria inaugura casa de artes em Taquara Novo espaço, que será lançado oficialmente em 2022, planeja oferecer aulas de teatro, música e artes visuais para contribuir com o desenvolvimento cultural da cidade

C

omandada pelo ator e diretor João Ieffet Parada, a Companhia ÓMaria de Teatro estreou um espaço de atividades em Taquara com o objetivo de se tornar um centro artístico na cidade. A Casa ÓMaria abriu as portas no dia 15 de setembro e já conta com 27 alunos de teatro, mas a inauguração oficial está agendada para 2022. “Agora em 2021, assim como no nascimento de uma criança, estamos dando os primeiros passos. Inaugurado o espaço já foi, mas em 2022 eu quero fazer uma inauguração oficial. E como eu quero que seja essa inauguração? Com um espetáculo, na rua, em frente à Casa”, revela João. A peça autoral “Tonto José e Louca Maria”, uma sátira do clássico “Romeu e Julieta”, foi a escolhida para a abertura e está em fase de produção. A Companhia iniciou suas atividades no final de 2018, marcando passagem por eventos culturais de Taquara com apresentações como “Maria Bela” e “Cabaré ÓMaria”, que lotou o Centro Educacional Índio Brasileiro Cezar. “Nós vendemos 150 ingressos, mas foram 170 pessoas. Foi um sucesso, um espetáculo muito legal”, relembra João. Além da inauguração oficial, a Casa

o que sempre quis, que é ser diretor de teatro e ter o meu espaço, onde posso fazer o que der na telha”, comemora. As aulas são abertas para todos os públicos, com turmas separadas por idade. Os pequenos com até 5 anos podem participar das aulas de musicalização infantil, enquanto crianças maiores e pré-adolescentes têm aulas focadas em jogos teatrais lúdicos. Já alunos a partir de 16 anos trabalham com expressão corporal e vocal, dança teatro, consciência corporal e técnicas teatrais. “Eu vou lá, dou aulas, monto textos... É um espaço muito legal, vou pra lá e me entrego. Os alunos se entregam”, relata João. Aluna desde 2018, Mariana Weber celebra a conquista do mentor e destaca a importância da Casa ÓMaria para a cidade. “Acho que Taquara realmente precisa ter esse incentivo, essa veia artística. E fico muito feliz por termos uma representação no centro da cidade e que é acessível. Taquara precisa, sim, EXPANSÃO DE ATIVIDADES Liderada pelo professor João Ieffet, companhia teatral se prepara para desse centro cultural”, reforça. oferecer aulas de música e artes visuais no próximo ano, com meta de chegar a 100 alunos Mariana acredita que a cidade tem um apreço pelo teatro, o que ficou níÓMaria tem outros planos para 2022. matriculados, mas João tem a meta de tido através das apresentações na Feira Um deles é expandir suas atividades para alcançar 100 alunos para o ano que vem. Literária e pelo fato de um dos espetáalém do teatro. Nesse sentido, o espaço “Minha finalidade nunca foi ter lucro para culos da Companhia ter lotado. “Acho se prepara para oferecer aulas de música mim, mas sim ter um espaço. Hoje eu pos- que as pessoas só precisam ser direcioe de artes visuais, tornando-se uma casa so dizer: tenho dinheiro para pagar o alu- nadas, dizer ‘aqui tem teatro, aqui tem de artes. Atualmente, a Casa se sustenta guel, wi-fi, luz, água e não sobra nada, mas cultura, você não precisa ir para a Reatravés da mensalidade dos estudantes estou muito feliz. Porque eu estou fazendo gião Metropolitana’”, concluiu. MARIANA WEBER

POR MARINA DA SILVA TUSSET E VINICIUS ALVES

DIVULGAÇÃO / HOSPITAL BOM PASTOR

SOLIDARIEDADE

Voluntariado da Oktoberfest ajuda hospital durante a pandemia POR MARINA DA SILVA TUSSET

Após o cancelamento das festividades presenciais devido à pandemia, a Oktoberfest de Igrejinha encontrou alternativas para celebrar a cultura alemã no Vale do Paranhana e continuar auxiliando entidades da região. Como de costume, todos os valores arrecadados são divididos entre o planejamento da próxima edição e doações realizadas pela organizadora do evento, a Associação de Amigos da Oktoberfest de Igrejinha (Amifest), para cerca de 70 instituições de áreas como saúde, educação e segurança. “Quando surgiu a pandemia e a ameaça de não realizar o evento, a diretoria da Amifest

discutiu por vários meses as possíveis alternativas para mobilizar o voluntariado e alcançar recursos para as áreas com maior necessidade, adequando-se à legislação e aos protocolos sanitários”, relata o diretor administrativo da Amifest, Cassiano Brenner. A solução para manter os festejos foi o Oktober em Casa, realizado em 2020 e 2021. O evento é composto por um drive-thru destinado à venda de comidas e bebidas típicas alemãs, além de uma live musical que contou com a audiência de 40 mil pessoas em 2020. Tradicionalmente, o maior repasse é destinado ao Hospital Bom Pastor, localizado na cidade de Igrejinha. A entidade é referência na região no tratamento da Covid-19. Desde 2014, utiliza todos os valores doados pela Amifest para melhorias

em infraestrutura. Em 2019, a maternidade foi reformada e ampliada graças aos 425 mil reais recebidos após a edição de 2017. Em 2020, com a venda das bebidas no Oktober em Casa, foi possível arrecadar 10 mil reais para o Hospital Bom Pastor, que somados a 5 mil reais doados pela Floricultura Igrejinha, possibilitaram a compra de produtos para construir e inaugurar o Jardim do Voluntariado. “Esse é um espaço de acolhimento e descanso ao ar livre, onde pacientes, acompanhantes e colaboradores podem sentir o ar, tomar um sol e recarregar as energias”, descreve a profissional de relações públicas do hospital, Renata Ghiggi. Com o sucesso da edição de 2020, o Oktober em Casa teve

DOAÇÃO Jardim do Voluntariado foi construído no Hospital Bom Pastor

com a arrecadação com a venda de bebidas no Oktober em Casa

a sua segunda edição em 2021: “Ainda estamos apurando os resultados, mas preliminarmente sinalizamos uma grande satisfação da organização em relação ao movimento de público no Parque de Eventos Almiro Grings e ao sucesso da live. Eventuais repasses serão deliberados pela diretoria da Amifest em novembro”, celebra Cassiano. Apesar da diminuição dos valores doados, o espírito comunitário inspirado pela festa incentivou ações da Amifest junto ao voluntariado, que arrecadou cerca

de 10 mil litros de leite e toneladas de alimentos que foram destinados às entidades mais afetadas pela pandemia. “Doações desse gênero sempre são bem-vindas no Hospital, pois o consumo é alto e a quantidade dessas doações, que era bem grande, diminuiu bastante”, conta Renata. Nas últimas edições, cerca 3 mil voluntários participaram da Oktoberfest, representando 10% da população de Igrejinha, reconhecida como a Capital Estadual do Voluntariado.


| 15 | BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | DEZEMBRO DE 2021

PERFIL

Nas outras, ela encontrou sua causa e paixão Através de uma petição escrita à mão, Karen Klatte, advogada especialista em Direito da Mulher em casos de família, encontrou seu propósito na carreira ARQUIVO PESSOAL / KAREN KLATTE

POR TAI MAUÊ

“E

u queria ser astronauta, comissária de bordo. Queria fazer alguma coisa que me levasse para outros horizontes”. Esta é Karen Klatte, 31 anos. Desde a infância, ela pensava em fazer a diferença. A conversa começou na maior pista de skate da América Latina, recém-inaugurada em Porto Alegre, e o brilho nos olhos se intensificou quando ela contou o que fazia. A decolagem para a vida profissional começou aos 16 anos, em um escritório de advocacia. “Eu nem sabia o que era processo, direito, nada. Era um estágio de ensino médio”, conta. Mais ou menos na mesma época, ela também já aprendia o que era um relacionamento abusivo: afastou-se de amigos por ciúmes, foi traída, trabalhava sem perspectiva de fazer faculdade, só pensava em namorar e tinha esquecido o sonho de ser astronauta e conquistar o espaço. O incentivo para iniciar a graduação em Direito veio da ex-chefe Tânia Knorr. “Com ela, aprendi a ser muito mais humana em meus atendimentos”, relembra. Estudando, estagiando e trabalhando no escritório, ela ainda não se encaixava na profissão: “Eu não me via como aquelas advogadas do fórum, mulheres formais, falando difícil”. Mesmo assim, REALIZAÇÃO Depois de ajudar a cunhada em um caso de relacionamento abusivo, Karen encontrou a verdadeira vocação na advocacia feminista formou-se na Unisinos de São Leopoldo, em 2017. O término do relaciona- mação não podia ser feita por telefone e perdas e incertezas por conta do início casais desfeitos, 24% a mais do que no mento abusivo veio na sequência, junto envolvia muita demora. Incrédula com da pandemia, Karen decidiu que era a primeiro semestre do ano anterior. com a sensação de libertação. a morosidade e falta de tato, Karen de- hora de ter seu escritório voltado para Bruna Ambrozio faz parte dessa estatísInclinada para a Defensoria Pública, cidiu fazer a petição a próprio punho o direito das mulheres. O incentivo do tica. Ela procurou Karen para dar início a em busca de uma carreira estável, Karen para o juiz, pedindo a intimação via companheiro Daniel foi primordial em seu processo de separação. Depois de nove decidiu fazer um estágio voluntário no telefone. Não aceitava que seriam 48 seu processo de decisão e montagem de anos, a jovem teve coragem de encerrar o fórum de Porto Alegre. Até que um caso horas para o agressor ser intimado. Era seu espaço. “Eu pressiono ela, às vezes relacionamento. A incompatibilidade de a fez repensar: a defesa de um acusado a vida de uma mulher em risco. demais até, mas sempre pautado nos ob- pensamentos acabou afastando o casal de estupro infantil. “Foi a pior coisa que Daniel, que observava Karen no jetivos que ela tem”, conta Daniel. de forma natural. Sem muita noção de tive que fazer”, conta. Ela percebeu que fórum, perguntou se ela nunca havia Mesmo com pouco volume de clientes seus direitos, teve a orientação de Karen não era aquilo que queria. Além da insa- pensado em trabalhar em causas rela- no ano que passou, Karen se manteve para lutar pelo que também era seu. “Ela tisfação profissional, estava vivendo mais cionadas às mulheres, pois isso ia muito firme em seu propósito, que era, e ainda me fez enxergar de forma diferente. Ela é um namoro abusivo, além da irmã dele. Na é, de ajudar o maior número de mulheres advogada e psicóloga”, brinca Bruna. que a levou a passar tarde do mesmo dia, possível. Ainda entre o conflito entre Marlise Souza dos Santos, colega de por outro término. Isso ela teve a surpresa: o negócio e propósito, ela tenta flexibilizar profissão, descreve Karen como uma das “O direito deve a incentivou a fazer juiz aceitou o pedido o que pode para acompanhar os casos de profissionais mais éticas que conhece e que chegar nas sua primeira viagem e o agressor seria in- perto. Uma das pautas que a advogada está sempre buscando aprimorar seus cosozinha para Buenos timado por telefone. defende entre tantas outras no univer- nhecimentos em prol dos direitos das mumulheres, seja Aires, em pleno Natal, Foi a primeira vitória so de direito de mulheres é falar sobre lheres. Mas a libertação não acontece socom aplicativos de na jornada da advo- dinheiro, pois segundo ela, as mulheres mente na vida profissional. O feminismo de contrariando a família e trazendo a sensação grandes marcas ou cacia feminista. Ela não são socializadas a falar sobre ne- Karen vai além das leituras, dos conceitos de independência. entendeu que poderia gócios, vida financeira. Muitas clientes e das peças jurídicas. Na prática, ela é indivulgação da Lei fazer diferente. chegam até o escritório renunciando a centivadora da mãe, irmã e amigas. Advocacia O e pis ó d i o foi seus direitos e bens. É uma desconstruPara Karen, o direito deve chegar às Maria da Penha” feminista o combustível para ção que Karen faz diariamente. mulheres, seja com aplicativos de granKaren Klatte A grande virada de que ela começasse a des marcas, com a divulgação massiva Advogada chave aconteceu em buscar referências na Divorciadas, não sozinhas da Lei Maria da Penha, com conversas maio de 2019, quando advocacia feminista. Desde o início da pandemia, os di- nas rodas de amigas. Seu grande orgulho seu companheiro, Daniel Grudzinski, Pesquisou, fez cursos e descobriu que vórcios no Brasil aumentaram. Segundo é fazer parte dessa construção. Agora, o pediu para que ela auxiliasse no caso poderia, sim, mudar o mundo das mu- dados do Colégio Notarial do Brasil, em próximo passo para a garota que queria de sua irmã, que estava em um relacio- lheres que a procuravam, ajudando-as a 2020, houve um crescimento de 1,5% de ser comissária de bordo é criar uma rede namento abusivo e precisou solicitar passar pelo delicado processo da sepa- divórcios em relação a 2019. No primeiro de mulheres para ajudar outras a encontrar medida protetiva. Até então, uma inti- ração. Justamente em um ano cheio de semestre de 2021, um recorde de 37.083 seu próprio brilho e poder voar.


| 16 | BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | DEZEMBRO DE 2021

OPINIÃO

Adágio nostálgico Eu sou uma pessoa nostálgica, em todos os sentidos. Acredito que finais de ano costumam aumentar ainda mais essa minha tendência natural, pois é nesse período que penso detalhadamente sobre o que aconteceu durante os últimos 12 meses — exercendo aquela velha tradição de resoluções anuais. Além disso, eu também sou dessas que sente nostalgia, ou até mesmo saudade propriamente dita, de coisas que eu não exatamente vivi. É um paradoxo curioso — e muito disso tem raiz na minha propensão instintiva de romantizar tudo o que me cerca. Por vias de dúvidas, meu signo solar e minha lua estão muito bem localizados na constelação de peixes; e isso explica muita coisa. Gosto da região central de Porto Alegre, onde as ruas encontram o antigo e o moderno na mais bela das danças urbanas. Sei que para muitos é decadente e fede a xixi, mas, para mim, é ali que bate o coração da nossa pequena grande cidade-província. Ali, observo e sinto saudade de coisas que eu não vivi. Uma das minhas melhores memórias de infância foi o dia em que eu fui em um cinema de rua. Na época, o conceito de cinema de rua provavelmente dava os seus últimos suspiros; visto que já eram os anos 2000. O local em questão era o Cine

Baltimore, que ficava na Avenida Oswaldo Aranha, logo em frente ao Parque Farroupilha — exatamente como diz a canção “Amigo Punk”, da Graforréia Xilarmônica. O filme em questão era Pokémon 2000 — Sim, aquela mesma animação japonesa que foi fenômeno cultural entre as crianças nascidas no final dos anos 90; e o meu pai, muito incentivador, me fez muito feliz somente por proporcionar aquela experiência inédita. O faixada do cinema, o cheiro da pipoca e a sala cheia de crianças ainda vivem nitidamente no baú de minhas recordações. É agridoce pensar que aquele seria o último ano de atividade do cinema. Hoje, o local é um prédio comercial de péssima estética. E os cinemas de rua são raridades na cidade. Apesar de eu ter tentado repetir a experiência de assistir um filme em cinemas de rua — seja no belíssimo Capitólio, na majestosa Casa de Cultura Mário Quintana, no Cine Santander, no Cine Bancários ou no antigo Guion —, nada chega perto daquilo que eu tive na infância. Talvez seja a minha insistência na romantização de um passado distante e inatingível, ou talvez seja simplesmente assim que a roda-viva da vida rege a sua própria sinfonia de andamento em adágio. Aqui, observo e sinto saudades do que eu vivi — e do que eu queria repetir.

Facebook dobra a aposta POR TYNAN BARCELOS

Segundo grande parte dos manuais de assessoria de imprensa, a melhor maneira de iniciar uma gestão de crise de imagem é dar algum tipo de resposta nos primeiros 30 minutos. Já para o Facebook, essa lógica não existe. A empresa enfrenta a sua segunda crise de imagem pública, em um espaço de seis anos. Muito além das denúncias e das explicações vazias que a empresa dá, muitas delas para o próprio Senado americano, é preciso prestar atenção nas ações que sucedem o turbilhão de documentos vazados. Historicamente, o Facebook não pisa no freio quando se depara com uma crise. Ao contrário, acelera ainda mais. O Metaverso é um símbolo para esta metáfora. Depois de prometer unir e conectar o mundo de forma democrática, Mark Zuckerberg agora quer criar um mundo para chamar de seu. Uma espécie de Second Life, só que com uma base enumerável de possibilidades, dado a quantidade de usuários que hoje utilizam produtos da marca californiana - mais de dois

bilhões de contas. Porém, tanto na mídia quanto em conversas informais, nunca se questionou tanto o papel da rede na comunicação digital e na sociedade. Conectar o mundo, ignorando os diferentes contextos culturais e, principalmente, princípios básicos de democracias, como combate a disseminação de desinformação e ao ódio contra grupos minoritários e específicos, não é mais bem visto pela opinião pública e por uma parte considerável de usuários. O ponto é; até quando a jogada arriscada de se manter em silêncio e apostar em projetos mirabolantes, até mesmo como a troca do nome da companhia, dará certo? Até quando jogar para frente problemas que já deveriam ser resolvidos e esclarecidos há seis anos dará certo? Pode ser que o Facebook nem queira saber a resposta. Ao mesmo tempo em que a empresa segue em silêncio, o faturamento semestral cresce cada vez mais. Mesmo assim, em algum momento, respostas precisarão ser dadas, mesmo que até lá o estrago já esteja consolidado e seja irreversível.

PIXELKULT / PIXABAY

POR MARIANA NECCHI

Tynan Barcelos

Redes sociais enfrentam o olho do furacão A Não é a primeira vez que o Facebook enfrenta uma crise de imagem e opinião pública. O escândalo da Cambridge Analytica com a empresa de Mark Zuckerberg, que influenciou diretamente as eleições americanas de 2016 e a saída do Reino Unido do Brexit, testou o poder e influência da maior rede social mundial. O Facebook até perdeu alguns bilhões e precisou responder ao Senado, mas, não mudou em nada sua forma de atuar conforme as suas próprias regras dentro do seu próprio jogo.

Facebook Papers Entre setembro e outubro de 2021, o Facebook precisou lidar com mais uma crise de imagem. A ex-funcionária da empresa, Frances Haugen, vazou para algumas autoridades e para o The Wall Street Journal uma série de documentos internos que detalham como o Facebook sabia que seus sites eram potencialmente prejudiciais para a saúde mental dos jovens. Nada que não estivesse sobre o radar de quem já analisa as inúmeras ações e políticas internas controversas exercidas pela empresa.

Meta Historicamente, as plataformas de redes sociais, em especial o Facebook, sabem muito bem lidar com crises. Basta não comentar e dobrar a aposta. Seguindo à risca essa cartilha, Mark Zuckerberg mudou o nome da companhia para META, uma espécie de abreviação do que vem a ser o grande projeto da empresa: o Metaverso. Explicar o que é o Metaverso é um pouco complicado. Talvez nem o Facebook saiba bem o que é. Enquanto isso, a empresa escapa, mais uma vez, das devidas críticas.

Aviso presidencial Já o YouTube não teve que enfrentar nenhuma crise, mas sim um problema que já vem procrastinando há algum tempo. A plataforma excluiu a live do dia 21 de outubro de Jair Bolsonaro, em que o presidente associa a vacina da Covid-19 com o desenvolvimento de Aids. Ao todo, o YouTube já excluiu 33 vídeos de Bolsonaro por desinformação. Isto é apenas um prelúdio do que virá em 2022.

Apenas observando Enquanto isso, o Twitter segue apenas acompanhando de fora. Na verdade, a plataforma até se beneficiou do grande apagão do Facebook, no início de outubro. Na falta de um lugar para se estar, os usuários migraram para o pássaro azul. Por enquanto, o Twitter não teve maiores dores de cabeça. Por enquanto.


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