Babélia 37

Page 1

PORTO ALEGRE/RS SÃO LEOPOLDO/RS JUNHO DE 2022

GABRIEL MUNIZ

BABÉLIA

#37

Alto preço da gasolina é vantagem para taxistas

É a opinião de muitos profissionais da categoria, que acreditam na dificuldade de motoristas por aplicativos manterem o serviço devido ao baixo valor cobrado pela corrida e ao combustível caro /3 DOLGACHOV / ENVATO ELEMENTS

Conheça a tanatopraxia, atividade ainda pouco conhecida que cuida da aparência do corpo exposto dentro de um caixão. O trabalho do necromaquiador busca lembrar o aspecto natural da pessoa em vida. /5 Reestruturação da Orla do Guaíba na Capital prejudicou vendas de ambulantes /4

PUBLICAÇÃO EXPERIMENTAL DO CURSO DE JORNALISMO DA UNISINOS

ONG Desvira-lata oferece para adoção cães resgatados do abandono /7 Empreendimento em Gramado quer impulsionar a economia criativa da cidade /9 Vôlei de praia toma conta dos centros urbanos com jogos em quadras de areia /12


|2| BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022 MIRKOVITALI / ENVATO ELEMENTS

EDITORIAL

C

om o avanço da tecnologia, principalmente da expansão da internet, a mídia passou a ficar muito presente na vida das pessoas. Obviamente, isso facilitou as relações de comunicação e até mesmo na maneira de se buscar informação. Porém, não foram apenas pontos positivos que essa modernização tecnológica trouxe ao mundo globalizado. O aumento de fake news (notícias falsas), exigência de informação rápida (às vezes mal apurada), desemprego na área e desligamentos de veículos midiáticos, são alguns problemas da comunicação atual. Surpreendentemente, um dos motivos para a crise da comunicação contemporânea é o excesso de informações. Com inúmeras versões e visões sobre os acontecimentos cotidianos, o leitor, ouvinte e espectador não sabem mais o que é realmente verdadeiro ou falso. Com isso, gera-se uma desconfiança evidente sobre a área jornalística, já que a credibi-

JORNAL PRODUZIDO SEMESTRALMENTE POR ALUNOS DO CURSO DE JORNALISMO DA UNISINOS (CAMPI PORTO ALEGRE/RS E SÃO LEOPOLDO/RS)

Desinformação e a crise na comunicação Por GABRIEL JAEGER

Campus de São Leopoldo

lidade das notícias e informações acaba diminuindo consequentemente. Além disso, o jornalismo e mídia atual obrigam o jornalista a trabalhar ainda mais com o que é factual. Ou seja, com o aumento da utilização de internet pelos consumidores de notícia, a informação automaticamente deve ser disseminada o quanto antes. Portanto, a chance de a apuração do conteúdo ser mal realizada e não condizer com a verdade é enorme. Há também uma preocupação

maior com engajamento, parar gerar cliques, comentários e compartilhamentos. Infelizmente, a qualidade da informação tornou-se secundária. No Brasil e em outros países do mundo, a crise é evidente principalmente como desdobramento da pandemia do novo Coronavírus. Dessa forma, as demissões dentro da mídia e o desemprego são imediatos, assim como em qualquer outra área em uma situação negativa economicamente. Com tantos

TEXTOS E IMAGENS: alunos das turmas 2022/1 das disciplinas de Jornal e Notícia, Jornal e Reportagem e Jornalismo Opinativo, sob orientação dos professores Micael Vier Behs, Ronaldo Henn e Everton Cardoso. PROJETO GRÁFICO: aluna da disciplina de Planejamento Gráfico (turma 2021/1) Marília Port, sob orientação do professor Everton Cardoso. DIAGRAMAÇÃO: Marcelo Garcia (Agência Experimental de Comunicação - Agexcom). IMPRESSÃO: Gráfica UMA.

problemas, as redações estão ficando menores, os jornalistas estão mais sobrecarregados e tudo isso acaba influenciando na qualidade do conteúdo. Portanto, percebe-se uma grande dificuldade para quem quer seguir carreira na área da comunicação, já que o papel do jornalista e do comunicador está sendo deixado de lado. Fica até complicado de se pensar em ideias para solucionar essa problemática tão viciosa. Por isso, é salutar que instituições grandes, como a ONU e o Conselho da Europa, continuem a debater este tema para que se criem formas de se combater a desinformação. Trata-se de um fenômeno que, visivelmente, interfere na vida da população. Se não houver reações e ações das plataformas digitais, como Facebook, Twitter, Youtube e entre outras, contra esses tipos de problemas comunicacionais, ficará ainda mais difícil de se imaginar uma mudança positiva na comunicação contemporânea.

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Campus Porto Alegre: Av. Dr. Nilo Peçanha, 1600 Boa Vista, Porto Alegre (RS) - 91330 002. Campus São Leopoldo: Av. Unisinos, 950 - Cristo Rei, São Leopoldo (RS) - 93022 750. Telefone: (51) 3591 1122. Site: unisinos.br. Reitor: Sergio Eduardo Mariucci. Vice-Reitor: Artur Eugênio Jacobus. Pró-Reitor Acadêmico e de Relações Internacionais: Guilherme Trez. Pró-Reitor de Administração: Luiz Felipe Jostmeier Vallandro. Diretora da Unidade de Graduação: Paula Dal Bó Campagnolo. Coordenadores do Curso de Jornalismo: Débora Lapa Gadret e Micael Vier Behs.


|3| BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022

TRANSPORTE

Profissão de taxista se modifica, mas é alternativa de trabalho Motoristas de táxi dizem que preço elevado da gasolina pode derrubar a concorrência e que é melhor trabalhar com esse tipo de veículo do que para empresas de aplicativos GABRIEL MUNIZ

Por GABRIEL MUNIZ

E

Campus de São Leopoldo

nquanto muitos reclamam do aumento de preço do combustível, há motoristas que estão agradecendo o preço alto. São taxistas, que afirmam que com o aumento no valor da gasolina, motoristas de aplicativos logo não conseguirão se sustentar. A opinião vem do profissional com 33 anos de experiência Flávio Silva, que diz ser mais vantajoso dirigir táxi do que aplicativo. Isso porque o valor da corrida já cobre o preço alto da gasolina e acaba atrapalhando a concorrência. Com a chegada e ascensão dos aplicativos como o Uber, 99 POP, entre outros, é inevitável a queda de procura por viagens de táxi. Flávio não nega isso, os preços das corridas de apps são muito mais acessíveis para passageiros, mas é justamente este o motivo para ele querer ser taxista. “As corridas de aplicativos são muito baratas, não rende nada”, reclama Flávio, mostrando-se impaciente e irritado. “No táxi em dez corridas faço meu dia, e elas já cobrem o valor da gasolina”, calcula. O motorista não é a pessoa mais simpatizante com quem dirige através de aplicativos, e a opinião sobre o preço da gasolina e as vantagens do táxi é apoiada por João Rodrigues, que dirige esse tipo de veículo há 11 anos, e afirma que faz em média dez corridas por dia. Entretanto, o que pode ser um problema é que estas corridas geralmente são para contatos fixos de agenda que já confiam no serviço ou de pessoas da terceira idade. Um exemplo de passageiros de João é uma senhora que, certa vez, solicitou o táxi no centro de São Leopoldo, mas estava com pressa. Quando ele perguntou o número de celular dela para entrar em contato, ela disse que não tinha celular, ou seja, nem havia como chamar o aplicativo. De acordo com o motorista, há uma parcela de pessoas que não se sentem seguras chamando corridas por aplicativo, dando preferência aos táxis. João diz que esta falta de segurança está REIVINDICAÇÃO Taxistas exigem que prefeituras cobrem as mesmas taxas e exijam as mesmas licenças e de motoristas de aplicativos relacionada à facilidade e acessibilidade para se tornar motorista de apli(CNH). O veículo ainda deve passar por toristas de aplicativos. Além de diminuir cativo, quando comparado com a buinspeções da Secretaria de Segurança Pú- a concorrência, consideram que seria rocracia para se dirigir um táxi. blica responsável e ter laudo de mecânico, mais justo com aqueles que pagam taxas para garantir que o carro está em boas e impostos para exercer a profissão, e “No táxi em dez Para ser taxista condições. Não para por aí: o motorista mais seguro para os passageiros. corridas faço Como, para exercer a função de taainda deve desembolsar algumas taxas de A vida de motorista de táxi, hoje, não xista os interessados devem possuir uma imposto para realizar estes serviços. existe sem a pergunta se já tentou ou meu dia, e elas já licença específica, isso é motivo de certa Já para ser Uber, por exemplo, as pensou em trabalhar para um aplicaticobrem o valor indignação por conta dos profissionais da exigências do aplicativo são muito me- vo e o que acham deles. A inquietude e área. Afinal, obtê-la envolve um processo nores: o motorista deve ser maior de 21 impaciência ficam explícitas na hora da da gasolina” burocrático e demorado, sem falar no anos e possuir CNH com EAR. Quanto resposta, mas ela é unanime. “Já tentei Flávio Silva custo. Também tem que abrir um protoao carro, basta for fabricado há menos e não vale a pena, o valor das corridas é Taxista colo junto à Prefeitura para averiguar se o de dez anos, possuir ar-condicionado e muito baixo, tu tem que trabalhar muito motorista é apto a transportar pessoas e se quatro portas. É por isso que os taxistas para ter um lucro bom. Se dá um problepossui EAR (Exerce Atividade Remunecobram as prefeituras para que tenham ma no carro, lá se vai todo o lucro e o dia rada) na Carteira Nacional de Habilitação as mesmas exigências com relação a mo- de trabalho perdido”, pondera João.


|4| BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022

COMÉRCIO

Revitalização da Orla amplia os custos dos vendedores locais Comerciantes relatam as dificuldades e as mudanças na rotina de trabalho com o passar dos anos em um dos locais mais visitados de Porto Alegre

Campus de São Leopoldo

E

m um passeio pela Orla do Guaíba, em Porto Alegre, o que não faltam são opções de lanches. Diversos vendedores ficam horas parados às margens de um dos principais cartões postais da cidade com seus carrinhos em busca de renda. Um deles é José Alberto Boanova Silva, 59 anos, que já trabalha na Orla há mais de três décadas. “Eu sou o mais antigo vendedor ambulante da Orla. Já trabalhei com crepe, milho e churros. Agora estou trabalhando com pipoca e, no inverno, com quentão também”, detalha. Para garantir seu espaço no local, José já inicia o mês com um custo fixo. “O gasto para estar aqui é de aproximadamente 1.3 mil reais, um salário-mínimo. Tudo é pago. O cara me ajuda e eu tenho que pagar”, justifica o vendedor, que precisa arcar com os custos de aluguel da garagem onde deixa o carrinho, bem como com o serviço de transporte do carrinho da garagem até o ponto de vendas. Outra comerciante que atua há 17 anos na Orla é Eveline Oliveira, 72 anos, que desde jovem vende churros. “Fazer a massa do churros eu mesmo aprendi e a receita eu não ensino para ninguém”,

Quando saio da minha casa eu já tenho que ter 20 reais na bolsa para alguém trazer o carrinho aqui”, relatou a vendedora, já pensando como faria para se organizar à tarde para tirar um tempo na venda dos churros e conseguir almoçar. A Orla do Guaíba passou por uma reforma nos últimos e, com isso, passou a receber públicos de diferentes cidades. Porém, para os comerciantes, a reestruturação do local diminuiu as vendas. “Essa reforma espalhou o público. Antes era melhor pra mim porque o povo ficava todo concentrado”, argumenta José. Já no caso de Eveline, além de aumentar o número de vendedores de lanches ao lado do seu carrinho de churros, o preço para trabalhar na Orla também reajustou após a revitalização do espaço. “Para mim piorou”, sentencia, Apesar das dificuldades, os dois vendedores seguem firmes com o intuito de garantir o sustento mensal. Um ponto SUSTENTO MENSAL Mais antigo vendedor ambulante da Orla do Guaíba, José Alberto importante para eles são os clientes de Boanova Silva, 59 anos, investe no preparo do quentão nos dias de inverno longa data. “Eu tenho um bocado de compradores fiéis, felizmente”, garante garante. Ela trabalha ao lado do Lago Mas da última vez vendi apenas um pote José, ao mostrar orgulhoso a foto com Guaíba nos sábados e domingos, pois, du- de massa, porque sexta-feira tem pouca a jornalista e ex-senadora Ana Amélia rante a semana, cuida dos afazeres da casa gente caminhando aqui”, esclarece. Lemos, que visitou o carrinho e come acompanha o marido doente. Cada quilo de massa produzido por prou dele. Já Eveline sempre aprovei“A única renda de casa vem da venda Eveline rende aproximadamente 20 chur- ta para conversar e rir um pouco com dos churros. Quando chove, no fim de ros, que ela vende a 5 reais cada. “Hoje os conhecidos que passam pela Orla. semana, eu venho aqui tentar sexta-feira. eu cheguei umas 9h30. Eu vim de ônibus. É o jeito dela seguir em frente. GUSTAVO BAYS

Por GUSTAVO BAYS

LITERATURA

CULTURA

Projetos no Instagram desenvolvem gosto pela leitura Num país em que a média de habitantes leitores assíduos é de apenas 52%, segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, as redes sociais representam uma alternativa para impulsionar o hábito da leitura e gerar produtivas discussões em torno das obras. Formada em Literatura, a professora Ana Karina é a idealizadora do “daliteratura”, perfil no Instagram voltado a desenvolver o gosto pelos livros. Através do Clube da Leitura Online, que reúne cerca de 20 membros mensalmente, ela lê e discute as obras indicadas. Ana começou o projeto em 2012, no formato de blog. Desde então, ela e os participantes do clube já leram mais de 120 obras. “A leitura sempre esteve presente na minha vida, já que minha mãe era profes-

sora e incentivadora”, afirma. Estudante de Direito e apaixonada por literatura, Vitoria Zimmer também administra uma página no Instagram, criada em 2020, chamada “relendovi”, em que publica resenhas. Ela já participou dos clubes de leitura promovidos por Ana Karina, os quais tiveram a participação do escritor de romances policiais, Victor Bonini. Vitoria conta que a sua maior motivação com o projeto é a troca de experiências com os seguidores. “Gosto muito de compartilhar minha visão do que leio com outras pessoas, justamente por ter uma troca”, ressalta. Além disso, ela acredita que a socialização de leituras nas redes sociais pode contribuir para desenvolver o gosto pela literatura.

Retomada da Semana Farroupilha de Esteio gera expectativa De 13 a 20 de setembro, o Parque de Exposições Assis Brasil voltará a sediar a Semana Farroupilha de Esteio. A edição de 2022 marcará o retorno de um dos maiores acampamentos farroupilhas do Rio Grande do Sul, após dois anos de restrições em razão dos protocolos de enfrentamento à pandemia de Covid-19. “Aos poucos conseguimos recuperar a liberdade que a pandemia nos tirou”, comemora o aposentado Luiz Henrique Medeiros, 51 anos. O maior festejo da cultura gaúcha é aguardado com ansiedade pelo público tradicionalista. “A saudade da lida no acampamento é grande”, declara Luiz Henrique, responsável pelo piquete Osório. “Durante o ano temos que participar de reuniões na prefeitura, escolher o tema e organizar tudo. Isso gera ainda mais expectativa”, explica.

Longe da organização do evento, o aposentado Pedro Flores, 77 anos, considera a Semana Farroupilha a época mais importante do calendário. “Nós esperamos o ano inteiro por essa semana e adaptamos toda a nossa rotina para aproveitá-la ao máximo”, afirma. “É época de enaltecer a nossa tradição”, acrescenta. A volta dos tradicionais piquetes do Acampamento Farroupilha aos pavilhões do Parque Assis Brasil também representa a superação do período mais crítico da pandemia. A expectativa da retomada é ultrapassar os números atingidos pela Semana Farroupilha de 2019, última antes do isolamento social, que bateu recorde de público. De acordo com dados divulgados pela Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (SMCEL), mais de 100 mil pessoas passaram pelo Parque de Exposições Assis Brasil naquele ano.

Por DANIELA SILVEIRA / Campus de São Leopoldo Por LETÍCIA FLORES / Campus de São Leopoldo


|5| BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022 REPRODUÇÃO/FUNERALDIGITAL.COM

TRABALHO

A beleza que pode estar na morte Maquiagem e preparação de corpos de pessoas falecidas para o velório são feitas por profissionais bastante especializados, mas que ainda recebem pouco reconhecimento e baixa remuneração no país

TANATOPRAXIA Clientes ainda desconhecem o serviço oferecido por empresas funerárias, mas cursos que formam necromaquiadores são bastante procurados em Porto Alegre Por LUCIANA FONTOURA ABDUR Campus de São Leopoldo

O

velório é o momento em que familiares e amigos despedem-se de alguém falecido, e a aparência do corpo exposto dentro de um caixão busca lembrar o aspecto natural dessa pessoa em vida. Para isso, por questões estéticas e, também, éticas, existe a tanatopraxia, que é o preparo do corpo para o sepultamento. Traje, cabelo, unhas e, principalmente, maquiagem são alguns dos serviços que estão inclusos no cuidado. E o que muitas pessoas não reparam é que há alguém que se dedica profissionalmente a isso: o necromaquiador, uma profissão pouco destacada no Brasil. Luciano Pereira de Borba exerce o cargo há 11 anos e meio em um grupo funerário de Canoas. Morador de Gravataí, o gaúcho de 39 anos escolheu seguir a profissão para dar a familiares de falecidos a oportunidade de despedirem-se de forma digna. Borba conta que, para exercer as atividades, foi preciso passar por um curso específico. “Eles ensinaram a lidar tanto com a parte pro-

fissional quanto emocional. Por exemplo, antes de iniciar o preparo, converso com a família. Normalmente, trabalho somente com pó compacto, base líquida, batom e esmalte, mas se a família decide algo a menos e simples, ou algo a mais e produzido, conversamos em particular. Gosto sempre de me basear em um retrato da pessoa em vida”, explica. Quanto à questão mental, Luciano diz ser algo com o que consegue lidar bem. “A funerária costuma receber corpos de pessoas de 30 a 85 anos. Não costumo sentir medo, somente uma vez, que me senti desconfortável, quando chegou um falecido do Departamento Médico-Legal (DML) que tinha levado vários tiros no rosto. Foi preciso fazer uma reparação facial completa no homem, isso me deixou perturbado por alguns dias”, confessa. Ele complementa informando que, em caso de acidentes ainda mais graves, dependendo da situação do corpo, uma equipe médica de hospital deve fazer os reparos. Ele acrescenta que o reconhecimento por essa profissão é pouco: “A média salarial, hoje, no Brasil, é de R$ 1.600 reais. Não é um valor tão alto, mas se a pessoa realmente gosta do que faz, a quantia basta”.

Formação estética e emocional

do embelezamento é uma forma de tentar amenizar a dor da família. “A Há mais de 30 anos no mercado, tanatopraxia antes temida e não aceita a Funerária São Pedro, localizada em por muitos devido ao desconhecimenPorto Alegre, oferece curso técnico em to dos benefícios para os familiares tanatopraxia. O especialista na estéti- dos falecidos, hoje não é apenas uma ca da morte Carlos Eduardo Alves de necessidade e, sim, uma forma de deFraga, de 42 anos, é quem ministra o monstração de afeto e preocupação, curso há cinco anos estética com a imagem e, também, se responda pessoa falecida. É sabiliza pelo laboraimportante realizar “A tanatopraxia tório da empresa na atividades de conseré uma área. A procura pelo vação e higienização curso é surpreendendo ente querido, reademonstração temente grande. “Na lizar procedimentos de afeto e maioria das edições, de reparação facial ou preocupação, temos uma lista de reconstrução trazendo espera com nomes um aspecto natural da com a imagem da de interessados para pessoa”, diz. Em sua pessoa falecida” a próxima. Pois o núopinião, a maioria das mero de vagas é respessoas não procuram Carlos Eduardo Alves de Fraga trito, principalmente o serviço de tanatoEspecialista na estética da morte pela limitação das praxia por não sabeaulas práticas”, inrem do que se trata. forma. E complementa: “Não há uma “Nós explicamos para a família como época específica em que a procura é realizado esse procedimento e alé maior, desde que iniciamos o cur- gumas optam por ser tão eficaz e não so a procura sempre foi alta”. ter constrangimento e odor do ente De acordo o profissional, a cultura querido no velório”, finaliza.


|6| BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022

OPINIÃO

Notas sobre o Carnaval

Lançamentos automobilísticos para 2022

de bateria transexual a levar grande representatividade à cultura brasileira. A Campus de São Leopoldo Escola Colorado do Brás, trouxe uma homenagem à escritora Carolina Maria de A Imperadores do Samba, de Porto Jesus. O samba-enredo de 2022 retrata a Alegre, se consagrou campeã pelo gru- história de uma das primeiras, e mais impo de ouro. O samba-enredo faz refe- portante, autoras negras no Brasil. rência a cidade, Um espetáculo entre os O que temos visto é uma contravenpalcos da cidade, em homenagem aos ção, muitos enredos abordam a cultura 250 anos da capital ocorrido em 2022. negra, porém o número de mulheres Uma discussão entre os carnavalescos negras como rainhas de bateria é baigerou atritos, nem todos concorda- xo. A tradição das escolas, é manter ram com a decisão dos jurados. pessoas da comunidade, mas com o Momentos antes da entrada da Man- passar dos anos, elas foram substituícha Verde para seu desfile em São Paulo, das por celebridades. A visibilidade que um dos braços da estrutura se soltou, essas famosas dão à escola é alta, pomas a equipe conseguiu reverter a si- rém, como fica a diversidade? tuação, o que não impediu o primeiro lugar no grupo especial. O samba-enredo Comentário tinha como tema “Planeta Água”, dando No final de fevereiro, a Covid-19 chedestaque a preservação e valorização gou. Foi então que passamos momentos para a natureza e para as religiões. tensos, sem muita informação, e com muita A Grande Rio, que desfilou pela desinformação. Todos passamos momenSapucaí, conquistou um marco histó- tos de tristeza, o país estava de luto. rico em sua trajetória, pela primeira No ano seguinte, uma luz no fim vez se tornou a campeã do grupo es- do túnel: vacinas poderiam dimipecial. Em todo desfile, teve apenas nuir o risco de morte e internações. um décimo perdido. O tema trouxe Neste ano, com quase 60% da popudiversas manifestações culturais liga- lação vacinada, aos poucos voltamos das a história de Exu, uma divindade às ruas. Dessa forma, o carnaval traz presente nas religiões africanas. felicidade a muita gente, pode aconFoi em São Paulo também que Ca- tecer. Não em fevereiro, mas em abril, mila Prins fez história. Primeira rainha com brilho, samba e alegria.

Falando um pouco sobre o segmento que mais cresce entre o mercado veicular, os SUVs, o novo Honda HR-V e seu suFord Maverick cesso deve ser ampliado ainda este ano. Na proposta de ser uma pick-up O objetivo é tomar posse da parte que média, Ford Maverick apareceu no mer- seu concorrente Jeep Compass ocupa. cado no primeiro trimestre de 2022 O modelo 2022 ficará maior em tamacom objetivo de abalar a concorrência, nho e deve contar com motores 1.8 16V a Fiat Toro. Sendo uma das maiores flex de 140 cv nas versões de entrada e promessas do mercado neste ano, apre- manter o 1.5 turbo de 173 cv na opção senta uma série de componentes de topo de linha Touring. Além da motoconforto e segurança, e muito desem- rização, o HR-V ganhou um visual impenho partido do motor 2.0 turbo a ponente frente ao concorrentes. gasolina de 253 cv - o mesmo que equipa o Bronco Sport – e câmbio automáti- Chevrolet Equinox RS co de 8 marchas. A picape, importada Assim como seu irmão menor o Cruze, do México, tem tração AWD. a SUV da Chevrolet Equinox desembarca em 2022 com a opção esportivada RS. Com Jeep Renegade 1.3 visual mais apimentado, o veículo feito Muito criticado no seu passado importado do México não traz novidades presente, o Jeep Renegade passou por mecânicas, mantendo o conhecido 1.5 de algumas modificações estéticas e per- quatro cilindros com turbo e injeção direta formáticas. Neste ano, Renegade terá de gasolina de 172 cv acoplado ao câmbio opção de equipar o motor 1.3 turbo já automático de seis velocidades. usado pelos familiares maiores, o Jeep Compass e a Fiat Toro. A estimativa é Kwid que o modelo tenha 185 cv de potência Com a proposta de ser o carro máxima e opção de câmbio automático zero km mais barato do Brasil, o Rede 9marchas na versão topo de linha. nault Kwid também ganhou mudanSerá mesmo que deixar de lado o motor ças. A montadora reestilizou o hatch E.torQ e mudar o visual poderá mu- compacto para deixar com cara de dar a visão dos consumidores? SUV, mas não obteve sucesso.

Rastros de esperança em tempos de pandemia

Filme tematiza a argumentação

Por LEILA INÊS DONHAUSER

Por HENRIQUE ANSELMO KIRCH Campus de São Leopoldo

Talvez a grande maioria da população mundial não sabia o verdadeiro significado da palavra “Pandemia”. Confesso que eu também não tinha conhecimento sobre o termo. Porém, em cada segundo de nossas vidas, estamos expostos a aprender o dicionário da vida. Assim, naturalmente, sem termos a escolha de querer ou não compreender sobre o assunto. Hoje, essa palavra percorre 24 horas o vocabulário da sociedade. São mais de 530 milhões de pessoas infectadas ao longo dessa Pandemia de Coronavírus. Sendo assim, perguntamo-nos: podemos extrair fatores positivos desse cenário aterrorizante? Eu respondo: sim, e muitos! Primeiramente, a solidariedade. Barão, São Pedro da Serra e Salvador do Sul, com certeza, estão de parabéns nesse quesito. Doações, ações sociais e “vaquinhas online” provaram que os munícipes estão engajados com a saúde coletiva. Segundamente, ressalto a tecnologia. Em tempos de pandemia, você chega em uma agência bancária, solicita ajuda ao gerente para consultar o extrato e recebe a seguinte resposta:

“faça esta função por aplicativo, é mais prático!”. Num primeiro momento, o cliente pode não gostar da ideia. Porém, quando chegar em casa e algum familiar ou amigo ajudá-lo com as questões financeiras pela tela do seu celular, verás que um simples dispositivo pode lhe amparar a não enfrentar as famosas filas e concentrar uma grande porcentagem de suas ações econômicas em seu próprio conforto. Claro, considerando que você tenha todos os equipamentos necessários. A educação municipal teve que recorrer a ambientes virtuais. Alunos e professores se readaptando às novas tecnologias. Após a pandemia, essas plataformas de interação (que inclusive já existiam) poderão ser mais uma forma de aproximação entre estudantes, pais e professores. Desta forma, trouxe apenas dois fatores dos inúmeros recursos positivos que podemos extrair da doença. Eles marcarão os livros de história das próximas gerações. Neste sentido, abastecemos nossa saúde mental com relevância. As adversidades, muitas vezes, são desencadeadoras de novas posturas e podem produzir muitas ondas de solidariedade. Basta que estejamos atentos aos sinais de necessidades que surgem à nossa volta. A esperança ganha vida.

Por JOÃO VICTOR TEIXEIRA

Honda HR-V

Campus de São Leopoldo

Por GABRIELLI ZANFRAN Campus de São Leopoldo

Em aula desse semestre, foi nos apresentado o filme “12 homens e uma sentença”, do diretor Sidney Lumet. O longa-metragem, lançado em 1958, relata a história de um júri formado por 12 indivíduos, que tinham que decidir se um adolescente era culpado pelo assassinato de seu pai, baseado nos relatos apresentados ao longo do julgamento. Se o réu fosse considerado culpado, a pena seria a morte. Logo no início do júri, eles decidem realizar uma votação para saber quantos consideravam o adolescente culpado, sendo que dos doze jurados, onze votaram a favor da condenação do réu, visto que o caso parecia estar resolvido, porque existiam testemunhas oculares da suposta ação do adolescente. Os jurados pareciam estar ansiosos para encerrar o mais rápido possível seu trabalho para a justiça, mas foram impedidos por um dos jurados que resolveu não seguir a opinião da maioria. Uma longa rodada de discussões foi iniciada, uma vez que o jurado que não condenou o réu, pediu aos

colegas que repensassem tudo que viram no julgamento para que tivessem certeza de que o adolescente era o assassino de seu pai. Em virtude disso, alguns jurados ficaram exaltados, quase como se estivessem em uma competição de quem estava certo ou errado. Muitos deles tiveram que passar por cima de seus preconceitos e suas crenças para poder dar ao réu um julgamento justo. A sensação é que os jurados que tinham certeza de que o adolescente era culpado, pareciam ignorantes pelo fato de não conseguirem abrir suas mentes para analisar outra visão do caso, que estava sendo apresentada pelo jurado que não culpou o adolescente. O jurado que não condenou o réu, apresentou extrema coragem ao ir de encontro com as opiniões de seus colegas, dado que alguns mudavam de opinião a cada novo argumento apresentado. Muitas dúvidas sobre o que as testemunhas apresentaram no julgamento, foram sendo levantadas e algumas até sendo comprovadas impossíveis de serem verídicas. Após muitas horas de discussões, brigas, e eventualmente conversas, os jurados acabaram entrando em um consenso unânime de que o adolescente era, por fim, inocente no caso.


|7| BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022

SOLIDARIEDADE

Projeto Desvira-lata proporciona acolhimento a animais de rua Grupo de proteção resgata cães abandonados e, através da atuação nas redes sociais, oportuniza o encontro de um novo lar ARQUIVO PESSOAL / VITÓRIA LUÍSA DOS SANTOS

POR AMANDA CAROLINE DA ROSA Campus de São Leopoldo

Q

uase 200 animais já tiveram a vida transformada pelo projeto Desvira-lata desde a sua fundação, em 2019. A ONG de São Leopoldo teve origem a partir da união de quatro mulheres que atuavam como protetoras independentes e utiliza as redes sociais como principal instrumento para aproximar os animais da solidariedade das pessoas. O Desvira-lata não possui uma sede física. Por isso, a sua presença nas redes sociais é essencial para que as pessoas conheçam os cães disponíveis para adoção e saibam como ajudar. O projeto funciona a partir do resgate de animais abandonados que são levados para um lar temporário solidário ou financiado pelo grupo. De lá, recebem cuidados como vacinação, castração e, caso se aplique, o tratamento de alguma doença. Depois de devidamente cuidados, os animais aptos são divulgados nas redes sociais e apresentados nos espaços de adoção. Uma das fundadoras do projeto, Vitória Luísa dos Santos conta que a divulgação conquista candidatos para adoção. “Selecionamos o lar e a família ideal de acordo com o perfil do animal para que,

RESGATE Em espaços de adoção em São Leopoldo, as protetoras do projeto Desvira-lata divulgam

o seu trabalho voluntário e apresentam os animais que estão em busca de um novo lar

dessa forma, quem foi recuperado da vida nas ruas não corra o risco de ser devolvido a elas”, diz a protetora. Conforme Vitória, “o principal desafio na proteção é encontrar um lar temporário para que os cães fiquem seguros até o momento da adoção”. Por isso, quem

ENGAJAMENTO

acompanha o projeto pode contribuir com um lar temporário solidário ou com doações espontâneas e aquisição de itens personalizados da ONG. “Disponibilizar um lar temporário é ofertar algo que sobra para nós e falta para eles, que é acolhimento e espaço”, conta

Lia Clarissa de Oliveira, que decidiu ceder a sua casa após identificar no Instagram do grupo voluntário que filhotes de cães precisavam de auxílio. “Ajudar o Desvira-lata com um lar temporário é uma experiência única, cheia de amor e alegria”, relata a colaboradora do projeto. O auxílio do Desvira-lata vai além do processo de adoção. Conforme Layane Zanellato D’avila, que passava por um período difícil antes de encontrar um amigo de quatro patas através do projeto, as protetoras realmente se importam com a qualidade de vida dos animais adotados. “Contatei as meninas da ONG, preenchi uma ficha com todos os dados e respondi diversas perguntas. Depois, conheci o Amendu pessoalmente e foi ainda mais apaixonante”, diz Layane. Ela conta que o processo de adoção durou em torno de 20 dias e que a Vitória ainda acompanha a vida do Amendu para saber como ele está. “Adoção é um ato de amor e cumplicidade”, ensina Layane. Mesmo que não adote, uma pessoa pode contribuir para que isso aconteça. Nas redes sociais do Desvira-lata é possível conferir diversas formas de contribuir com o projeto e, ao compartilhar as publicações dos animais disponíveis para adoção, uma pessoa pode ajudar no acolhimento daqueles que mais precisam.

com a campanha”, relata. O valor é depositado diretaMônica Machado, morado- mente para as famílias. ra de Capivari do Sul, arrecada “Para mim é muito gratampinhas para ajudar crianças tificante. Além de todo o com atrofia muscular espinhal sentimento bom que sinto, (AME). Ela busca as tampas em penso que poderia ser um casas, comércios e associações filho meu, ou alguém muito e, após o recolhimento, as se- próximo a mim. Me coloco que criar uma vaquinha e começar para por cores e as vende para sempre no lugar das famílias a ir atrás, pois é um valor alto. Cla- uma empresa de reciclagem. que precisam”, afirma. ro que temos tempo, ainda bem, só que 75 mil reais é um valor fora da realidade”, relata. A família de Heitor também organiza outas ações, como rifas e prêmios, além de mobilizar a comunidade para a arrecadação das tampas plásticas. A ajuda não está restrita à cidade de Osório. Comerciantes de Tramandaí, Taquara e Parobé disponibilizam caixinhas para a arrecadação de valores destinados à cirurgia de Heitor em seus estabelecimentos. Administrador comercial em Osório, Edson da Rosa disse que arrecada tampinhas desde fevereiro, e que a cada duas semanas as entrega para a família de Heitor. “Clientes e amigos também 75 MIL REAIS Heitor nasceu com uma má-formação na orelha direita e a família contribuem frequentemente angaria fundos para realizar a cirurgia de reconstrução na rede particular

Ação solidária ajuda criança com má-formação rara POR AMANDA FERRARI Campus de São Leopoldo

ARQUIVO PESSOAL / ROVANI BRANDÃO

Heitor Wallauer Brandão nasceu no dia 10 de novembro de 2021 com uma má-formação na orelha direita, chamada microtia, que não foi identificada nos exames gestacionais. A equipe do hospital onde nasceu, em Osório, também não soube definir o diagnóstico imediatamente. A microtia é uma má-formação congênita do ouvido, caracterizada por um pavilhão auricular pequeno, ocasionando problemas na audição e no formato da orelha. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza a cirurgia de reconstrução, porém, o procedimento

inicia em torno dos 10 anos de idade, dependendo da estrutura óssea do paciente. O pai de Heitor, Rovani Brandão Pereira, e a mãe, Clauciane Altenhofen Wallauer, buscam alternativas para realizar a cirurgia do filho na rede particular. O procedimento, feito na cidade de São Paulo, é simples e exige apenas a retirada de parte da pele da virilha para cobrir a orelha, podendo ocorrer a partir dos três anos da criança. Contudo, a cirurgia custa 75 mil reais. Para arcar com a despesa, Clauciane começou a arrecadar tampas, mesmo sem ter para quem vendê-las no momento. Uma campanha para angariar fundos teve início no dia 2 de fevereiro deste ano, com o lema “Todos pelo Heitor”. “Vamos ter


|8| BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022

OPINIÃO

A coragem tem limites Por JOSÉ HAMEYER

Campus de São Leopoldo

Alguém falou perto de mim que a previsão do tempo para uma dessas noites recentes era de frio intenso. Como o interlocutor do diálogo não era eu, decidi não pedir mais detalhes, embora curioso. Recorri ao Google. Ao constatar que o desconhecido ou desconhecida bem informado (a) - nem percebi se era homem ou mulher; pudera: não costumo reparar a vida alheia - estava coberto (a) de razão fiquei deveras preocupado: e o meu banho, hoje? Privilegiado em ter um teto, água encanada e um chuveiro, alguns podem pensar. E eu concordo. Contudo, lhe explico, dedo em riste: li às nove da manhã que faria três graus no fim do dia e eu só conseguiria chegar em casa perto da meia noite. Mas meu filho querido, diria minha mãe - ela que sempre me incentivou a cultivar os mais diversos hábitos de higiene pessoal -, regule a temperatura do teu chuveiro e tome um banho quentinho. Sim, minha mãe querida, responderia, eu adoraria fazer isso. Mas há algo

que me impede e, nem é o fato de ser eu quem paga a conta de energia aqui do apartamento: meu chuveiro não trabalha em dias frios. Suspeito que seja movido por um motor à combustão de etanol, tamanha sua dificuldade em ligar quando os termômetros marcam baixas temperaturas. Dramas de um jovem solteiro que vive sozinho - mas inimigo da solidão, saliento. Ao fim do dia se confirmou a profecia dos meteorologistas: frio tão intenso que seria capaz de deixar manco um cachorro que a ele fosse exposto! Entrei no apartamento e corri para frente do fogão. Acendi o fogo apressado para esquentar a sopa que havia feito uns dias atrás - e ainda seria capaz de me alimentar por mais algumas refeições. Me aqueci com um prato da minha sopinha e uma taça de vinho e fui em disparada para o quarto - necessitava de calor, de abrigo. Embaixo de um sem-fim de cobertas lembrei da mãe. Senti vergonha, confesso, mas sair da minha cama quentinha para enfrentar aquele meu chuveiro preguiçoso e nefasto seria como deixar o colo da mãe e ir enfrentar o mundo sozinho. E eu não poderia fazer isso outra vez.

The Bold Type: a série preferida do momento Por LOHANA EMANUELLE DE SOUZA Campus de São Leopoldo

A série acompanha três amigas em seus vinte e poucos anos que vivem em Nova York – o que é clichê por si só – e trabalham em uma revista feminina chamada Scarlet Magazine, que é para ser uma espécie de Vogue e Cosmopolitan. Dentro e fora da revista, acompanhamos a vida pessoal e profissional de Jane (Kate Stevens), que acabou de ser promovida a redatora, Kat (Aisha Dee), a diretora de mídias sociais, e Sutton (Meghann Fahy), uma assistente que busca seu lugar no mundo da moda. A narrativa sai do lugar comum ao inserir temas extremamente relevantes em um contexto leve, quase sem que o espectador perceba que está discutindo o assunto. Questões como machismo, racismo, homofobia e saúde feminina são sempre temas de discussão ou estão inseridos em um drama pessoal. A mistura de comédia romântica com questões sociais é que o faz de The Bold Type uma série leve, sem ser superficial. A editora-chefe da revista é Jacqueline Carlyle (Melora Hardin). Em sua primeira aparição, logo no pri-

meiro episódio, pode-se achar que a personagem é uma espécie de Miranda Priestly, de O Diabo Veste Prada. Porém, Jacqueline sabe como pressionar seus funcionários na medida certa para serem a melhor versão de si mesmos. É firme, mas sabe ouvir. Cada uma das personagens carrega consigo bagagens e objetivos diferentes, que se desenvolvem ao longo da série e têm desfecho na quinta e última temporada. Os últimos episódios começam com Jane, Sutton e Kat em frente a decisões importantes em suas vidas adultas, que envolvem o amor, a carreira e outros personagens queridos pelo público. A linearidade da série dependia desses fechamentos para agradar os fãs na season finale. Os conflitos são muitos, mas há uma coisa extremamente importante para a construção de uma série cheia de desafios: a amizade sincera dessas três mulheres. O diálogo aberto, a priorização da amizade e apoio incondicional nos fazem acreditar que talvez essa seja a receita para tramas que dão certo. Para além de um enredo que agrada muito quem assiste, podemos entender que há ambição e inspiração, o que é saudável e energizante para quem torce para aquelas meninas. A série é uma ótima escolha para o final de semana.

Uma ida ao trabalho e várias reflexões para a vida Por LAURA ROLIN

Campus de São Leopoldo

Dia desses, enquanto estava indo para o trabalho, me peguei refletindo sobre algumas coisas da rotina. Muitas vezes vemos o hábito de reclamar presente nos nossos pensamentos, nas nossas falas e na nossa vida. É involuntário. Quando percebemos, lá estamos nós, mais uma vez, reclamando sobre alguma coisa. E, na maioria das vezes, algo pequeno. Pela simples mania de fazer isso. Porém, nesse dia, tentei me colocar no lugar de algumas pessoas que vi ao longo do trajeto. Analisei cada um que entrava e saía do trem. Uns pareciam mais cansados que outros. Ou mais tristes. Alguns só estavam com sono. Acho que percorrer o mesmo caminho todos os dias deve fazer isso com o humor das pessoas. Mas a questão é que todos tinham algo em comum: estavam indo para algum lugar começar o dia. Seja a trabalho ou não. Feliz ou triste. Afinal, o trem é isso mesmo. Sem falar daquelas tantas pessoas que passam oferecendo produtos, doces, roupas, a fim de tentar conseguir algum trocado. Quando cheguei na estação Mercado, em Porto Alegre, uma multidão

de pessoas desceu do vagão do trem. Mais uma vez, todos indo na mesma direção. Eu segui em frente pela Avenida Borges de Medeiros, pois precisava pegar o ônibus até o meu destino final. Comigo, mais uma dezena de pessoas seguia pela mesma rota. Na avenida, havia alguns passeando. Outros aguardando o ônibus. E muitos, mas muitos mesmo, vendendo mercadorias de todos os tipos. Enquanto isso, alguns paravam para olhar. Perguntar o preço. E outros até compravam. Na volta para casa, depois de um dia longo de trabalho, lá estava eu, descendo do ônibus no mesmo lugar que havia embarcado mais cedo. Mas a volta foi diferente. Ao invés de percorrer aquele caminho até a estação pensando que estava cansada, reclamando da chuva ou do caos que estava aquele Centro, pensei nas coisas boas que aconteceram no dia. Uma delas, foi perceber que ao longo dos últimos anos alcancei a maturidade que sempre quis. Além disso, notei o quanto sou independente. Eu posso ir e estar onde eu quiser. Foram os meus primeiros dias andando sozinha na Capital. Aprendi que nem tudo é tão ruim como a gente pinta ser. É possível tirar coisas boas em percursos com o trem lotado.

“Quem me dera ser a dona do tempo” POR MICHELE ALVES

Campus de São Leopoldo

Quem me dera ter a agilidade e habilidade de voar como a dos pássaros que vejo pela janela da sacada. Eles vêm e vão, sem aparente preocupação. Quem me dera acordar pela manhã com tamanha disposição, como nos tempos em que as únicas inquietações eram a de brincar e dedicar-me aos estudos. Quem me dera ter a oportunidade de tomar um banho de chuva e não esboçar nenhuma reclamação sobre a temperatura da água, pois a adrenalina oriunda de mais uma brincadeira de criança, fazia com que as minhas veias vibrassem de felicidade. Quem me dera poder acessar por alguns minutos um lapso temporal que me levasse ao passado para uma visita, e para o futuro para me dar indicativos de decisões mais assertivas para garantí-lo, desde o tempo presente. Quem me dera fazer no presente o que ansiosamente esperava que acontecesse quando eu virasse gente grande. As coisas me parecem tão mais complexas, complicadas, entediantes. Nada parecido com o que “gente grande” me transparecia em minha tenra idade.

Quem me dera, hoje poder voltar alguns anos e reviver momentos. Estar sentada à mesa com pessoas tão adoráveis, compartilhando bem mais do que comida, mas sim, alimentando a alma. Cheiros, vistas, sons, compõe a cena que é colocada em ação na tela dos meus olhos. Altas gargalhadas, prantos que pareciam incontroláveis, sussurros de um segredo, experiências que seguidamente falávamos em dar “replay”. Vivi os últimos dois anos da minha existência com uma intensidade alucinante. Coisas que não havia experienciado em duas décadas e meia. O destino se encarregou de adicionar nitro em minha linha do tempo. Confesso que foi um pouco assustador. Foram tantas coisas que planejava vivenciar muitos anos à frente, sendo comprimidas em apenas dois. Parecia que o fim se avizinhava. Momentos de felicidade esplêndida, seguido de uma angústia profunda de um futuro que parecia incerto. Não tenho dúvidas de que o que sobreviveu em mim diante do caos, jamais morrerá. Quem me dera poder reviver estes dois anos com tamanha segurança de que tudo ficaria bem. Quem me dera ser a dona do tempo.


|9| BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022

ECONOMIA CRIATIVA

Gramado caminha para se tornar um ecossistema de inovação Verso - Habitat Criativo é um empreendimento colaborativo que surgiu com o objetivo de mudar a perspectiva da cidade, impulsionando a economia criativa na região

Campus de São Leopoldo

G

ramado, nacionalmente conhecida por suas paisagens, restaurantes e atrações turísticas, tem um lado pouco conhecido, mas que cresce em ritmo acelerado. A economia criativa ganha espaço no município e um dos impulsionadores desta nova visão de empreendedorismo é o Verso - Habitat Criativo. O empreendimento surgiu com o objetivo de reunir pessoas e negócios dos segmentos de inovação, tecnologia, moda, arte, arquitetura, design, comunicação e sustentabilidade, criando uma rede que acompanha os movimentos e tendências do mercado. A gramadense Maria Julia Bezzi, idealizadora do Verso, explica que o local é um espaço de trabalho colaborativo, mas que vai além disso. “Também promovemos encontros para reunir pessoas com o objetivo de trocar experiências, e planejamos iniciativas nas frentes de educação e conexão com a comunidade local. Queremos dar voz ao público jovem e unir forças para gerar impacto positivo na região e além”, explica. Empreendedora por natureza, a cidade de Gramado pauta seu crescimento na economia da experiência e do encanta-

econômica da cidade. “Estar em um coworking faz eu querer entregar cada vez mais e isso aumenta a produtividade. Outro ponto positivo é o networking (rede de contatos), porque nunca sei quem vem trabalhar aqui e, às vezes, acabo encontrando alguém que representa uma grande empresa. Isso gera contatos importantes para mim e que podem impactar toda a cidade”, comenta. Outra iniciativa que impulsiona o setor criativo da cidade é a Gramado Summit. Considerado o maior brainstorming da América Latina, o evento chegou em sua quinta edição neste ano com recorde de público e de expositores, reunindo todo o ecossistema de inovação nacional. O poder público do município também acredita e investe nesta mudança de perspectiva econômica da cidade. Prova disso foi a criação do Grupo de Inovação de Gramado (GIG), uma iniciativa público-privada apresentada TROCAR EXPERIÊNCIAS Os ambientes de trabalho dinâmicos e interativos do Verso ajudam durante a Gramado Summit e que une a trazer inspiração para as pessoas que optam por trabalhar nas salas compartilhadas a Secretaria de Inovação de Gramado a empresas privadas como o Verso, através mento. Contudo, Maria Julia acredita que dade de opiniões e perspectivas, dados na do programa Cidade Empreendedora, ainda há muito espaço para um cresci- tomada de decisão e maior preocupação em parceria com o Sebrae. O objetimento mais acelerado na área da inovação. com a sustentabilidade”, completa. vo do GIG é criar um ecossistema de “Entendo que essa vivência já conhecida O designer Franco Stopassola trabalha inovação, fazendo com que Gramado e praticada na cidade deve ser mesclada em uma empresa instalada no Verso e se torne uma referência na área e descom a energia jovem e com tendências acredita que fazer parte de um ambien- perte novas possibilidades de mercado, cada vez mais necessárias, como diversi- te colaborativo ajuda nessa mudança principalmente para os jovens. DIVULGAÇÃO / VERSO

Por LARISSA SCHNEIDER

E-COMMERCE

EDUCAÇÃO

Empreendedoras gaúchas investem no mercado digital As empreendedoras da Serra Gaúcha Poliana Fuhr Quevedo e Kelin Schneider iniciaram, em 2018, negócios direcionados ao ambiente virtual. Segundo dados divulgados na 7ª edição da pesquisa Perfil do E-Commerce Brasileiro, o comércio digital no país cresceu em 2021, totalizando quase 1,59 milhão de lojas online, 22,05% a mais do que em 2020, quando o varejo digital saltou 40%. Poliana vislumbrou uma oportunidade de empreender de modo a conciliar os negócios com a profissão de comissária de bordo. Ela criou uma loja online especializada em moda feminina, a Ahhazo Store. “Optei pela loja online por ter menos gastos e menos burocracias”, enfatiza. Graduada em Moda, Kelin desenvolveu, ao lado da sócia e amiga Tatiani Mendes, sua própria marca de camisetas femininas. Ela decidiu apostar no comér-

cio online, pois relata que “para iniciar uma loja física é preciso investir um capital muito grande”. Segundo Kelin, a loja online exige somente um investimento inicial para a aquisição de estoque. Ainda assim, ela pondera que é preciso ter muita força de vontade para não desistir. Ao enfatizar as vantagens do e-commerce, Poliana comenta que uma loja física engloba somente o público local, no máximo regional. “No ambiente virtual você tem uma infinidade de clientes. Basta captá-los e cativá-los para que comprem e permaneçam comprando, pois a concorrência é bem maior”, afirma. Segundo ela, a sociedade atravessa um momento de empoderamento feminino e as mulheres estão se valorizando como nunca. “Ser uma mulher e poder fazer com que outras mulheres fiquem mais bonitas através de suas vestimentas me deixa muito feliz”, finaliza.

EJA favorece a reinserção de trabalhadores na escola Para os trabalhadores que precisaram iniciar sua trajetória profissional muito cedo, a possibilidade de concluir os estudos é vista como a reconquista de um grande projeto. O Serviço Social da Indústria (SESI) oferece, de forma gratuita aos trabalhadores da indústria, o acesso à Educação de Jovens e Adultos (EJA). “A EJA permite um resgate da autoestima dos alunos. É gratificante participar da conquista de cada um deles, pois acompanhamos de perto as dificuldades de conciliar a rotina de trabalho, tempo com a família e estudos”, afirma Silvia Gallino, gerente de educação da unidade Novo Hamburgo. Fatores como persistência, dedicação e compromisso são determinantes para quem deseja retornar à sala de aula depois de alguns anos. “Cheguei no Sesi com a 4ª série e consegui concluir. Era um sonho

que eu tinha e consegui realizar”, relata Noedir Pires, 42 anos, egresso da escola. Frente à necessidade de formar profissionais cada vez mais qualificados, é natural que as empresas façam o movimento de direcionar seus colaboradores às escolas parceiras. “Algumas empresas encaminham o funcionário para se matricular já no processo de admissão. É uma acolhida importante para que eles sintam que há oportunidade de desenvolvimento, independente da sua idade”, disse Silvia. São diversas as motivações que levam os alunos a retomarem os estudos. Cristiane Batista, 47 anos, decidiu voltar a estudar na pandemia para auxiliar os filhos nas tarefas escolares. “Tomei a decisão de que precisava continuar acreditando que também podia crescer. Consegui concluir o ensino fundamental e, agora, estou cursando o ensino médio”, conclui.

Por SABRINA STEIN / Campus de São Leopoldo Por NATHÁLIA GALLINO / Campus de São Leopoldo


| 10 | BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022

Michele Alves

Lohana Souza USER3802032 / FREEPIK

FREEPIK

OPINIÃO

Educação: chega de promessas No Brasil, a educação está na ponta da língua, em pauta e na lista de urgências para soluções e reformas há muito tempo. Quem nunca ouviu promessas, em meio aos holofotes de campanhas eleitorais, de uma educação de melhor qualidade e mais digna aos discentes e profissionais da área, que atire a primeira pedra. Dados divulgados recentemente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, revelaram que o Brasil, dentre 76 países avaliados, ocupa a 60ª posição do ranking de qualidade da educação. Um país com tamanho continental, rico em todos os sentidos da palavra, tem ocupado os piores lugares do ranking de educação mundial. Infelizmente, é mais viável fazer uma pesquisa dos piores países que fica mais fácil de encontrá-lo

na lista. Mas o que pode estar impedindo a ascensão ao topo? Avaliando sobre esse prisma, é necessário nos atentarmos ao que se apresenta como realidade. Os problemas educacionais são, mormente: falta de segurança, salário dos profissionais de educação não compatível com a carga horária e esforço físico e psicológico para a atividade laboral, estrutura precária dos ambientes escolares, falta de recursos para realizar as tarefas, evasão escolar devido à pobreza ou situação econômica desfavorável, distância da escola, dificuldade de aprendizagem e falta de apoio, entre muitos outros empecilhos que acabam afastando crianças e adolescentes da escola desde o Ensino Fundamental. É preciso encontrar uma solução para o problema.

Ensino básico pede por socorro No Brasil, o sistema educacional é dividido entre a Educação Básica e o Ensino Superior. A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB - 9.394/96), a educação básica passou a ser estruturada por etapas e modalidades de ensino que contemplam: a Educação Infantil, o Ensino Fundamental obrigatório de nove anos e o Ensino Médio. De tempos em tempos detalhes técnicos são reformulados, para supostamente proporcionar uma melhor aprendizagem aos alunos. Entretanto, não é isso que constatamos diante dos nossos olhos. O que se pode ver são muitos incentivos, bolsas de estudo para a ascensão ao ensino superior, mas as bases para que o aluno chegue ao nível mais avançado de educação, estão em ruínas. Não há mais tempo de “brincar” com sonhos e futuros, um dos maiores pilares da sociedade pede socorro. Falta de incentivo, falta de recursos, esgotamento dos profissionais, falta de interesse, oriundo muitas vezes do desânimo, por parte dos alunos, entre outros. Hoje é possível escutar no noticiário diversos motivos que esmorecem o interesse pela educação. O que, infelizmente, não é novidade, mas mesmo após uma pandemia

que afastou os estudantes da sala de aula e trouxe consigo diversos prejuízos, o medo ainda tem sido o maior obstáculo para crianças que vivem em zonas de confronto diário, possam frequentar a escola. Um caso recente é o da “Guerra do tráfico no Rio de Janeiro”, enquanto traficantes rivais trocam tiros, escolas precisam ser evacuadas e fechadas para garantir a segurança de todos. Outro aspecto a ser observado é o valor destinado pelo Ministério competente para a Educação Básica no país. De acordo com documentos divulgados, em 2020, foram destinados quase 43 bilhões de reais para suprir as necessidades. Um questionamento cabível após uma informação dessas, seria: “Porque professores ainda precisam tirar de seus próprios bolsos, comprometerem seus salários, para fazerem atividades que estimulam uma aprendizagem eficaz? ” “O dinheiro não é suficiente, ou o montante não chega ao seu destino de maneira íntegra? Injetar mais dinheiro faria com que a posição do país no ranking mundial melhorasse? ” Muito se fala, mais ainda se promete. A solução que o Brasil tanto pede, um dia quem sabe, aparece.

Possível desaceleração ainda não produz efeitos A inflação desacelerou, mas segue em alta no Brasil. O índice Nacional de Preços do Consumidor Amplo, avançou 1,62% em março esse é o maior resultado para o mês desde 1996. No ano o indicador acumula alta de 4,29% e nos últimos 12 meses, de 12,13%. A inflação no país se manteve entre as maiores da América, atrás apenas de Venezuela e Argentina, países que já viviam uma situação de descontrole antes das pressões geradas pela pandemia e Guerra da Ucrânia. Enquanto isso o presidente, Jair Bolsonaro, segue falando publicamente sobre armamentos e guerra civil. Em abril, os principais impactos da inflação vieram do grupo de alimentos e bebidas que registrou uma variação de 2,06%, em seguida o transporte com 1,91% de aumento. Somente a cesta básica do brasileiro subiu 50% mais que em 2020. Bens de consumo duráveis subiram tanto que hoje o carro usado vale mais que quando foi lançado, zero km, há dois anos. O brasileiro está mais pobre, porque a renda das famílias não está acompanhando os altos índices de reajuste dos produtos. A inflação está corroendo o poder de compra dos mais pobres.

Os aumentos prejudicam mais a população mais vulnerável e o Brasil segue como um dos países mais desiguais do mundo. Quase metade da riqueza foi para a mão do 1% mais rico da sociedade. Esses números são mais altos do que outros países latino-americanos, como, México e Chile. Os 10% mais ricos ganham quase 59% da renda nacional total. Já a população mais pobre ganha 10% do total da renda nacional. Além disso, a metade mais vulnerável possui somente 0,4% da riqueza brasileira. Como consequência da crise política e econômica, 20 milhões de brasileiros afirmaram que passam períodos de 24 horas sem ter o que comer. Além disso, atualmente são cerca 11,9 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho, isso amplia o efeito da retração da economia. Com altos índices do desemprego formal em alta, o empreendedorismo cresce no Brasil com uma expansão de 42%. É cada vez mais comum também encontrar profissionais graduados aderindo a aplicativos de transporte para conseguir pagar todos os boletos no final do mês.

Pandemia Por outro lado, a pandemia deixou em evidência a problemática da educação no Brasil segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) o país é uma das cinco economias mais desiguais. A cor da pele é um dos principais fatores de desigualdade, ao se falar

em renda e emprego. De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2020 cerca de 58,3% da população negra concluiu o ensino médio até os 19 anos. O racismo estrutural se materializa dentro das salas de aula, e essa população é tratada com menos expectativas.


| 11 | BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022

CONSCIENTIZAÇÃO

EPTC promove atividades interativas sobre o trânsito

A segunda edição do Circuito Urbano trouxe oficinas para a Orla do Guaíba com o intuito de alertar a população sobre a importância de ações preventivas na direção

Campus de São Leopoldo

E

stimular reflexões sobre atitudes no trânsito. Esse foi um dos objetivos da segunda edição do Circuito Urbano, evento promovido pela EPTC no sábado, dia 14 de junho, em Porto Alegre. Através de atividades e diálogos, o evento possibilitou que motoristas, ciclistas e pedestres que circulavam pela Orla do Guaíba pudessem interagir com as dinâmicas propostas e refletir sobre a importância dos cuidados no trânsito. A EPTC, em parceria com o grupo A7, disponibilizou durante o evento simuladores para que o público vivenciasse os riscos que ações imprudentes no trânsito podem causar. Um dos simuladores presentes no local replicava as consequências de um capotamento. O objetivo dessa atividade foi alertar sobre a importância do uso do cinto de segurança e orientar os participantes sobre como se proteger em caso de acidentes. O estudante de Jornalismo da Unisinos Gustavo Bays passou pela experiência do simulador e conta que “não é muito confortável ficar girando dentro do carro e, com certeza, a pior parte é sair depois. Você fica de cabeça para baixo e não tem muita noção, mas os instrutores explicam bem”, disse. SIMULADORES Frequentadores da Orla puderam experimentar as consequências de um capotamento

NATHÁLIA GALLINO

Por AMANDA CAROLINE DA ROSA e NATHÁLIA GALLINO

O Corpo de Bombeiros de Porto Alegre também realizou uma atividade de simulação de resgate em que as vítimas estavam presas às ferragens. “A simulação nos auxilia a mostrar para a população quais são os cuidados necessários para evitar infrações e acidentes, mas também serve como treinamento para as nossas equipes”, explica Denis Andrade, agente de trânsito da EPTC.

Conscientização a partir de vivências

A EPTC desenvolve diversos projetos voltados à educação no trânsito para a comunidade. Um deles é o projeto “Agente por um dia”, que já contou com a participação de figuras conhecidas como o Guri de Uruguaiana e o radialista Luciano Potter. O modelo consiste em oportunizar ao cidadão a vivência de ser agente de trânsito por um dia, acompanhado das equipes oficiais da EPTC. Para Bruno Machado, colaborador da área de educação para crianças e jovens na EPTC, “introduzir a educação no trânsito nas escolas é importante para que os estudantes tenham contato com essa pauta. Nós já ouvimos muitos relatos de crianças contando que notificaram seus pais após ações erradas no trânsito. É muito bacana termos esse retorno, pois nos dá a certeza de que o caminho a seguir é esse”, comemora.

RENATA COUTINHO FOTOGRAFIA

EMPREENDEDORISMO

Empresas familiares de doces se destacam entre marcas consolidadas preço é justo e a qualidade é boa”, relata. Outro ponto positivo é a venda através das Campus de São Leopoldo redes sociais e o sistema delivery. A cidade de Gramado costuma estar sempre cheia de visitantes Mesmo com diversas opções de marcas que pelas ruas, fazendo com que os moradores evitem vendem chocolate artesanal em Gramado, ain- sair de casa para determinadas tarefas. A maior da há espaço para o surgimento e crescimento parte das lojas de chocolate da cidade não oferece de negócios caseiros na cidade. É o caso da o serviço de venda online e nem de entrega domiDoceleto, empresa familiar idealizada na Pás- ciliar, o que acaba sendo uma vantagem para as locoa de 2022 com o objetivo de comercializar jas menores que trabalham com essa opção. produtos como brigadeiro gourmet e browO cliente Henrique Jardim diz que comnies produzidos na própria casa dos funda- prar de uma marca pequena, ao invés de escodores e vendidos através do Instagram. lher uma empresa já consolidada, só apresenLauren Meyer, uma das empresárias ta vantagens. “Essas lojas de grandes marcas por trás da marca, afirma que usa estra- estão sempre lotadas, não é muito cômodo tégias para vender seus produtos de for- para mim. Outro ponto importante é a vama competitiva na cidade, considerada a lorização dos pequenos negócios, pois comCapital Nacional do Chocolate Artesanal. prando de marcas caseiras eu sei exatamente “Punimos a concorrência porque nosso para quem está indo o dinheiro”, afirma. Por LARISSA SCHNEIDER

EMPRESA CASEIRA Doceleto comercializa pelo Instagram produtos como

brigadeiro gourmet e brownies produzidos na própria casa dos fundadores


| 12 | BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | JUNHO DE 2022

VÔLEI

Vôlei de praia conquista espaço longe das cidades litorâneas

Competidores relatam como é a prática da modalidade em quadras de areia na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde o esporte se difunde em praças e centros esportivos GUSTAVO BAYS

Por GUSTAVO BAYS

Campus de São Leopoldo

C

omo o próprio nome sugere, o vôlei de praia remete a um esporte que, em tese, deveria ser praticado em frente ao mar. Mas, não é sempre assim que acontece. A modalidade tomou conta dos centros urbanos em quadras de areia localizadas em praças e centros esportivos. A Região Metropolitana de Porto Alegre possui diversos praticantes do esporte. Um deles é o metalúrgico Gian Carlos Miranda, 22 anos, que joga desde 2019. “Tudo começou quando entrei para uma equipe de vôlei de praia. Eu e minha dupla jogamos nosso primeiro torneio e vimos que era muito diferente do vôlei de quadra, muito melhor”, lembra. A dupla citada é o estudante Gustavo Giroldi, 19 anos, que apresentou Gian à modalidade. Ele conta que já praticava vôlei de praia e, na escola, identificou que Gian levava jeito para o esporte. “Eu vi ele treinando e percebi que jogava bem, então trouxe ele junto para a equipe”, detalha Gustavo. Os dois treinam em São Leopoldo, na equipe Vôlei Gert, escola que também representam nas competições. Desde 2021, quando começaram a disputar torneios com mais frequência, já

LONGE DO MAR Gustavo (E) e Gian durante a primeira etapa do Circuito Novo Hamburgo

de Vôlei de Praia, competição em que a dupla ficou entre as oito melhores colocadas

competiram em cidades como Pantano Grande, Sapiranga, Parobé e Sapucaia do Sul. Foi em Sapucaia que conquistaram o resultado que mais orgulha a dupla, um troféu de vice-campeões. Os dois também já jogaram vôlei na beira da praia, mas ainda prefe-

ESPORTE

rem as quadras de areia. “Na praia tem muita diferença, como o vento forte e a areia mais fofa e fina. A gente prefere jogar em areia assim, compacta, que não afunda”, explica Gian. Em abril, a dupla disputou a primeira etapa do Circuito Novo Hamburgo de

Vôlei de Praia, organizado pela prefeitura da cidade. A competição costuma receber em torno de 50 competidores, tem inscrições gratuitas e entrega medalhas para as três melhores duplas. “Existem quatro etapas de vôlei de praia abertas para inscrições. Já na etapa dos campeões, no final do ano, só vão jogar aqueles que tiverem a melhor pontuação no ranking”, explica o chefe de departamento da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, Breno Deher, sobre o funcionamento dos torneios em Novo Hamburgo. Nesta primeira etapa, Gian e Gustavo chegaram até as quartas de final. Quem também participou da competição foi o estudante Matheus Machado, que começou a se interessar pelo esporte depois de assistir à animação japonesa Haikyuu, baseada no voleibol. Sempre que surge uma competição ele troca mensagens com sua dupla, Guilherme Dutra, com o intuito de se inscreverem. Entre os desafios da dupla para disputar os torneios de vôlei de praia estão o uniforme, que é emprestado de um time de futebol pelo pai de Matheus, e o treino semanal, realizado em quadra de piso. “Eu treino segundas, quartas e sábados, mas na areia mesmo é uma vez ou outra”, detalha Matheus. Mesmo assim, a dupla segue com o objetivo de seguir disputando os próximos torneios na região.

TECNOLOGIA

Beach tennis proporciona benefícios físicos e psicológicos O beach tennis chegou ao Brasil em 2008, sendo uma das modalidades esportivas que mais cresce no país atualmente. Praticante do esporte há mais de um ano, Carlos Ferreira conta que jogava vôlei e padel, mas decidiu investir somente no beach tennis devido aos ganhos físicos e psicológicos. “É um esporte simples e dinâmico. Para a preparação física também é bem completo, porque trabalha várias partes do corpo”, enfatiza. Segundo Carlos, o beach tennis contribuiu para o seu condicionamento físico e mental e para o fortalecimento muscular. A atividade também foi decisiva para ele atravessar o período de pandemia de forma saudável. “Além disso, ajuda a reduzir o estresse diário e a criar novos laços de amizade”, afirma.

Se valendo da expansão do esporte, Eduardo Ferreira inaugurou, em Porto Alegre, a Open Beach Poa. “Iniciamos as obras em outubro de 2019 partindo do zero e abrimos no dia 20 de março, logo após o estouro da pandemia”, relata o empreendedor que, antes de investir na empresa, praticava tênis de quadra casualmente. Eduardo conta que o local está equipado com um programa personalizado de aulas para quem quer aprender a jogar o esporte. “A Open ainda não tem escolinha ou professor fixo. Os professores que temos são parceiros e locam as quadras. Por isso, indicamos todos os profissionais que atuam no espaço para os clientes que solicitam aula, que custa em média 60 reais”, explica.

Jogos oferecem recompensas em criptomoedas Ganhar dinheiro investindo em jogos parece algo futurístico, mas é uma realidade através dos games conhecidos como play to earn, em português, “jogar para ganhar”. Esses jogos envolvem missões e batalhas, assim como os jogos convencionais. A diferença é que seus jogadores são recompensados monetariamente ao completarem cada tarefa. Os pagamentos são feitos através de criptomoedas, as famosas moedas digitais que, segundo a plataforma de capitalização CoinMarketCap, atingiram o seu pico de valorização em 2017. Segundo o estudante Rafael Soares Pagnussatt, que já investiu assiduamente em jogos play to earn, para começar a jogar e garantir recompensas é preciso, antes, investir uma determinada quantia, seja adquirindo personagens ou cartas

com as criptomoedas próprias de cada game, as quais são vendidas por corretoras. “Eu recomendo que a pessoa estude o mercado para saber a hora mais propícia de entrar e sair”, ressalta. O investidor da bolsa de valores e estudante de Engenharia Mecânica Yuri Steffen de Vargas evidencia a semelhança do novo método de investimento com a tradicional compra de ações, mas destaca que os jogos play to earn geram lucro de forma mais rápida. “A principal vantagem é que os jogos play to earn garantem a recuperação do dinheiro investido em, geralmente, um mês”, explica o investidor. Tanto Rafael quanto Yuri enfatizam a importância de os iniciantes não se arriscarem com investimentos elevados e procurarem jogos de desenvolvedoras conhecidas e com histórico de alta qualidade.

Por LORENZO MASCIA / Campus de Porto Alegre Por EDUARDA CIDADE / Campus de Porto Alegre


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.