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PUBLICAÇÃO EXPERIMENTAL DO CURSO DE JORNALISMO DA UNISINOS PORTO ALEGRE/RS SÃO LEOPOLDO/RS DEZEMBRO DE 2022 #38 BABÉLIA Parlamentares negros ampliam protagonismo no RS e no país /4 Grupo de Equidades realiza ações em prol da comunidade LGBTQIA+ /5 Feira do livro de Dois Irmãos visita escolas da cidade /7 Ser jornalista é nunca parar de buscar liberdade e verdade /8 REPRODUÇÃO / TWITTER MATHEUS GOMES Famílias atingidas por incêndio na vila Cai Cai, em Porto Alegre, recebem ajuda de voluntários /3 BÁRBARA CEZIMBRA

EDITORIAL

Algumas coisas mudam com o passar dos anos. Outras, não. No caso da faculdade de jornalismo, acho difícil que as primeiras aulas do curso tenham sido diferentes nas últimas décadas. É de praxe que os alunos comecem entendendo o que é lead e quais são os critérios de noticiabilidade. Isso não muda, e nem deve mudar tão cedo, porque essa é a essência do jornalismo desde que o mundo é mundo. Mas, se compararmos o jornalismo de hoje com o jornalismo de antigamente, as diferenças são brutais.

O primeiro meio de comunicação de verdade, por exemplo, foi um jornal impresso. Ou seja, era apenas através da escrita e da leitura que as pessoas se comunicavam. No ano passado, a circulação de jornais impressos teve queda de 13,6% no Brasil, segundo dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC). E esses leitores migraram para outras plataformas, como a digital, que teve crescimento de 6,4% no nosso país.

Jornalismo contemporâneo é a prova de que a luta nunca acaba

Só que, obviamente, esses não são os únicos meios de comunicação que existem. Se primeiro só tínhamos o impresso e depois passamos a contar com o rádio e com o audiovisual, hoje são inúmeras (e quase incontáveis) as formas de se informar. Pode ser ouvindo podcast, pode ser apenas acessando as redes sociais ou então só assistindo vídeos no famoso TikTok.

Se pensarmos rapidamente, a ideia de poder escolher tantos meios para ficar por dentro dos acontecimentos do mundo é genial. Acontece que, se analisarmos com calma, são diversos os problemas do jornalismo contemporâneo.

O primeiro deles é justamente a diversidade de informações. São tantas pessoas criando conteúdos e passando

TEXTOS E IMAGENS: alunos das turmas 2022/2 das disciplinas de Jornal e Notícia e Jornalismo Opinativo, sob orientação dos professores Micael Vier Behs e Ronaldo Henn. PROJETO GRÁFICO: aluna da disciplina de Planejamento Gráfico (turma 2021/1) Marília Port, sob orientação do professor Everton Cardoso. DIAGRAMAÇÃO: Marcelo Garcia (Agência Experimental de Comunicação - Agexcom). IMPRESSÃO: Gráfica UMA.

dados e notícias adiante que fica difícil filtrar em quem realmente podemos acreditar ou não. Aliás, foi graças a esse movimento que hoje escutamos tanto a expressão fake news , e claro, lemos e vemos tantas mentiras.

E se é difícil para quem apenas busca notícia de verdade, imagine para quem quer e precisa passar informação real. Jornalistas de profissão precisam (cada vez mais) provar o quanto seus trabalhos são importantes para a sociedade. E mais que isso, precisam se reinventar a cada dia para se adaptar às novas formas de noticiar.

Esses problemas são impossíveis de serem solucionados. É assim que a sociedade é atualmente e ponto final. Daqui uma década, os problemas da profissão serão outros. Talvez piores. Talvez não tão ruins. A única coisa que os jornalistas podem fazer é continuar lutando pelo jornalismo, porque, em resumo, ser jornalista é nunca parar de buscar liberdade e verdade.

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Campus Porto Alegre: Av. Dr. Nilo Peçanha, 1600Boa Vista, Porto Alegre (RS) - 91330 002. Campus São Leopoldo: Av. Unisinos, 950 - Cristo Rei, São Leopoldo (RS) - 93022 750. Telefone: (51) 3591 1122. Site: unisinos.br. Reitor: Sergio Eduardo Mariucci. Vice-Reitor: Artur Eugênio Jacobus. Pró-Reitor Acadêmico e de Relações Internacionais: Guilherme Trez. Pró-Reitor de Administração: Luiz Felipe Jostmeier Vallandro. Diretora da Unidade de Graduação: Paula Dal Bó Campagnolo. Coordenadores do Curso de Jornalismo: Débora Lapa Gadret e Micael Vier Behs.

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JORNAL PRODUZIDO SEMESTRALMENTE POR ALUNOS DO CURSO DE JORNALISMO DA UNISINOS (CAMPI PORTO ALEGRE/RS E SÃO LEOPOLDO/RS)
/ FREEPIK
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SOLIDARIEDADE

Voluntários constroem casas para famílias atingidas por incêndio

Após ocorrido na Vila Cai Cai, grupos da sociedade civil se mobilizam para garantir moradia digna aos desabrigados

Um incêndio causado por uma sobrecarga de energia deixou 28 pessoas desabrigadas na Vila Cai Cai, na Zona Sul de Porto Alegre, no início de 2021. Diante disso, grupos da sociedade civil, com o apoio de escritórios de arquitetura, se mobilizaram para desenvolver o projeto “Levanta Cai Cai’’, que teve como objetivo reconstruir as casas consumidas pelo fogo. Segundo João Francisco Pereira Neto, coordenador do projeto e professor da escola municipal Neusa Goulart Brizola, “a ideia das novas construções era atender às necessidades de cada família, e não apenas reconstruir as casas com a precariedade que antes existia’’.

Ao todo, seis casas foram completamente atingidas pelo fogo e uma parcialmente. Adriana Escobar de Oliveira, moradora da Cai Cai, estava trabalhando quando soube da notícia do incêndio. “Minha filha me ligou e disse que tínhamos perdido tudo”, recorda. Além da casa, Adriana perdeu a lancheria que ficava em frente a sua residência e representava uma das suas principais fontes de renda.

Para captar recursos foi criada uma identidade visual para divulgar o projeto,

em parceria com a Associação Mães e Pais pela Democracia (AMPD). A iniciativa ganhou amplo apoio da população, especialmente através das redes sociais.

Além da doação de 26 toneladas de

alimentos, o projeto arrecadou dinheiro para custear o aluguel das famílias desabrigadas, que também contaram com um auxílio de R$ 500 pagos pela Prefeitura de Porto Alegre. O restante

Programa distribui refeições para famílias vulneráveis

No intuito de amparar famílias em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar, a prefeitura de São Leopoldo desenvolve o projeto “São Léo + Mais Comida no Prato”, criado em junho deste ano. A iniciativa distribui cerca de 18 mil refeições por mês em bairros da periferia da cidade.

Moradora do bairro Cohab Feitoria e beneficiária do programa, Madalena Parede, 70 anos, ressalta a importância do projeto, que garante a primeira refeição do dia para muitas crianças.

“Tem crianças que não almoçam em casa porque a mãe sai para trabalhar, ficam sozinhas e vêm comer aqui, vão para o colégio e comem de novo. A situação está meio ruim, né? Às vezes não tem um feijão e arroz, ou tem tudo isso e falta o óleo”, enfatiza.

Desenvolvido em parceria com a Associação Meninos e Meninas de Progresso (Ammep) e a Organização da Sociedade Civil (OSC), a Secretaria de Assistência Social realiza o assessoramento de 27 cozinhas envolvidas no projeto. O valor repassado diariamente pela prefeitura, por refeição servida, é de R$ 2,50, sendo acrescido 1 real para as cozinhas sociais localizadas em áreas de ocupação urbana.

Olinda Silveira, 66 anos, vice-presidente da Associação de Moradores da Cohab Feitoria (Amocf) e voluntária do programa se sente gratificada pela oportunidade de trabalhar em prol da comunidade onde vive. “Na igreja que frequento sempre faço algo. Durante a pandemia, fazia sabão para doar, já que a indicação era lavar muito as mãos. Eu gosto de trabalhar como voluntária. É um prazer e faço com amor”, destaca.

De acordo com o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio Grande do Sul (Consea-RS), mais de 1 milhão de pessoas passam fome no Estado. A cada dez lares gaúchos, cinco enfrentam algum tipo de insegurança alimentar e em dois falta comida.

dos recursos foi destinado à execução do projeto arquitetônico, desenvolvido pelo escritório Mãos - Arquitetura, Terra e Território, uma organização de trabalho associado e coletivo entre técnicos, arquitetos e profissionais de outras áreas do conhecimento.

O projeto inicial previa a construção das casas num prazo de 6 meses, mas a necessidade de aterrar e nivelar a área atingida pelo fogo atrasou o cronograma das obras. Percorridos 19 meses desde o incêndio, em agosto de 2022 quatro casas foram entregues às famílias da Vila Cai Cai. Neste meio tempo, duas famílias decidiram vender seus terrenos e deixaram o local.

Para Adriana, o projeto desenvolvido na Vila Cai Cai representa o pontapé inicial para outras iniciativas que objetivam garantir moradia digna a pessoas em situação de vulnerabilidade. Contudo, João Francisco ressalta que, apesar do projeto ter alcançado a sua meta, ele ainda se sente um pouco frustrado. “Há muita desigualdade e nós somos muito impotentes’’, enfatiza.

Atualmente, o Projeto “Levanta Cai Cai” está em fase de prestação de contas. A região segue recebendo cestas básicas de um grupo de voluntários e a lancheria de Adriana está sendo reconstruída.

O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, destaca que o programa “São Léo + Comida no Prato” representa uma estratégia de governo para que nenhuma família passe fome no município. “O nosso objetivo é amenizar o sofrimento desse povo

mais pobre no ponto de vista da alimentação. O desemprego em nosso país atinge 10 milhões de pessoas, por isso tomamos muitas iniciativas, através das cozinhas comunitárias e distribuição de cestas básicas”, explica.

INSEGURANÇA ALIMENTAR Voluntárias do projeto “São Léo + Comida no Prato” se reúnem nas quartas e sextas-feiras para prepararem os alimentos

PERDEU TUDO Além da casa, fogo destruiu também a lancheria de Adriana, que era uma das suas principais fontes de renda; obra de reconstrução do estabelecimento está em fase de finalização
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BÁRBARA CEZIMBRA LUAN OLIVEIRA

REPRESENTATIVIDADE

Bancada Negra ganha protagonismo nas eleições de 2022

Pela primeira vez na história, mulheres negras gaúchas garantem cadeira no Legislativo Estadual e na Câmara Federal

Nas eleições de 2022, o Rio Grande do Sul conquistou um feito histórico. A eleição de Bruna Rodrigues (PCdoB) e Laura Sito (PT) tornou as vereadoras de Porto Alegre as primeiras mulheres negras a garantirem uma cadeira na Assembleia Legislativa gaúcha. Juntamente com o também vereador de Porto Alegre e 5º deputado estadual mais votado do Estado, Matheus Gomes (PSOL), elas formam a Bancada Negra na Legislatura Estadual. A representatividade histórica também aconteceu na Câmara Federal, já que, pela primeira vez, o Rio Grande do Sul terá duas deputadas federais negras: Daiana Santos (PCdoB) e Denise Pessôa (PT).

A eleição desses parlamentares é fruto de um processo histórico conquistado pelo movimento negro e pela luta antirracista. No Rio Grande do Sul, mais de 1,2 milhão de pessoas se autodeclaram negras. Contudo, até então esses eleitores não se viam politicamente representados.

Eleita deputada federal com mais de 44 mil votos, a vereadora por quatro mandatos Denise Pessôa (PT) relata que o protagonismo da Bancada Negra no Parlamento

Gaúcho e Federal traz uma representatividade simbólica. Contudo, ela esclarece que a comunidade negra precisa ocupar ainda mais os espaços de poder. “Com estes mandatos, poderemos reforçar a necessidade da ampliação de políticas públicas destinadas à comunidade negra, principalmente para mulheres jovens e mães negras. Nos próxi-

PAUTAS NEGRAS E ANTIRRACISTAS

mos quatro anos, teremos um grande desafio na Câmara dos Deputados, composta majoritariamente por homens brancos. Mesmo com as dificuldades que prevemos, estou muito feliz”, destacou.

Militante do movimento, Matheus Gomes ressalta que a vitória da primeira Bancada Negra do RS representa um fato

São Leopoldo realiza o 1° Congresso Popular Antirracista do Brasil

Em homenagem ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, estabelecido em 20 de novembro, o Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais da Prefeitura de São Leopoldo (Nerer), o Grupo Identidade da Faculdades EST e o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Unisinos (Neabi) promoveram, nos dias 16 e 17 de novembro, o 1° Congresso Popular Antirracista do Brasil, no campus São Leopoldo da Unisinos. Com o objetivo de estreitar a relação dos estudantes das escolas públicas com a academia, o encontro, que durou dois dias, propiciou debates acerca das pautas negras e antirracistas da atualidade, em

concordância à lei que obriga o estudo da história e da cultura afro-brasileira na educação básica.

Na avaliação de Wesley Oliveira, coordenador do Neabi, a criação de coletivos antirracistas foi conquistada com muita dificuldade. Contudo, recentemente houve “a ascensão de uma polarização que regrediu duramente os progressos étnicos-raciais, dando origem a um racismo explícito, mascarado de opinião, mas que é crime de injúria racial”. Para se continuar avançando, é necessário “ter cada vez mais projetos antirracistas organizados por pessoas negras e indígenas para brancos e não indígenas”, visto que o “racismo é problema de algumas pessoas brancas, que estruturalmente afetam a democracia racial e perpetuam a violência para a maioria negra e indígena, que é minorizada socialmente”.

Advogado, comunicador e psicanalista, Antônio Carlos Côrtes

abriu o congresso lembrando que “os negros já existiam antes do Brasil, mas não existe Brasil sem os negros”. Citando Nelson Mandela, disse que “nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados. Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além de qualquer medida. Quem somos nós para sermos poderosos?”,

histórico, não apenas para o povo negro, mas para toda a população gaúcha. “São mais de dois séculos de atividades na Assembleia Legislativa. A população negra sempre fez parte dos grandes momentos políticos e de desenvolvimento econômico, cultural e social no Estado, mas nunca teve representação. Então, a gente inicia uma nova tradição política a partir da presença coletiva do movimento social negro na Assembleia Legislativa”, destaca.

Vindo de um mandato na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul e Porto Alegre, Denise Pessôa (PT) e Matheus Gomes (PSOL) têm ideais similares quando se trata de políticas públicas. Ao ser questionada sobre seu mandato na Câmara Federal a partir de 2023, Denise relata a pretensão de ampliar o acesso à educação e à saúde pública de qualidade, assim como incentivar a agricultura familiar e o estímulo ao desenvolvimento econômico e social. Além disso, seu mandato estará centrado na luta pelos direitos de mulheres, comunidade LGBTQ+, pessoas com deficiência e idosos. Já para a Assembleia Legislativa, Matheus Gomes defende que as políticas públicas devem atender às demandas urgentes da população, tais como o acesso à saúde, educação, transporte, habitação, direito ao trabalho e liberdade de expressão.

questionou. Côrtes é o único membro negro da Academia Riograndense de Letras em 113 anos.

Ao lado de outros colegas, Cortês fundou, em Porto Alegre, o Grupo de Pesquisa dos Palmeiras, entidade responsável por trocar o 13 de maio, dia da Abolição da Escravidão no Brasil, pelo 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, como dia representativo da luta negra no país.

Para Jorge Teixeira, que também coordena o Neabi, um dos objetivos do congresso foi “aproximar o tempo de luta dos antigos [afrodescendentes] com a juven-

tude”, produzindo um processo inovador no país.

O reitor da Unisinos, Sérgio Mariucci, falou na abertura do encontro, enfatizando que esse congresso estimula a conquista de mudanças políticas. “Não acho que o jovem negro não queira ser médico ou juiz. No Brasil, a palavra é dada a uns e não a outros”, afirmou.

Também estiveram presentes ao congresso Nadir Jesus (PT), primeira vereadora negra eleita em São Leopoldo, Renata de Mattos, representante da prefeitura e Valério Guilherme Schaper, pró-reitor da Faculdades EST.

CONQUISTA Bruna Rodrigues (PCdoB), Denise Pessôa (PT), Matheus Gomes (PSOL), Daiana Santos (PCdoB) e Laura Sito (PT) formarão a Bancada Negra no Parlamento Gaúcho e Federal em 2023
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ENCONTRO Abertura do 1° Congresso Popular Antirracista contou com representantes de instituições parceiras
BABÉLIA
ARQUIVO PESSOAL / BRUNA RODRIGUES
STEPHANY ORELI

INICIATIVA

Santo Antônio da Patrulha cria Grupo de Equidades ligado à saúde

Município foi o único do Litoral Norte gaúcho a aceitar recursos para a instauração do projeto, que já realizou ações em prol da comunidade LGBTQIA+ e promoveu seminário sobre a Consciência Negra

OGrupo de Equidades da Secretaria Municipal da Saúde (Semsa) de Santo Antônio da Patrulha vem mobilizando a comunidade através de ações em prol de grupos historicamente discriminados. Um recurso de R$ 2 mil destinados pelo Governo Federal viabilizou o início do projeto, que funciona a partir de reuniões mensais do grupo, composto por uma equipe multiprofissional formada por psicólogo, enfermeiro, nutricionista e farmacêutico.

O objetivo, além de conscientizar a população sobre a importância da garantia de direitos de grupos minoritários, é capacitar a equipe da Semsa para lidar com as diferenças, garantindo que os pacientes se sintam seguros e respeitados durante os atendimentos.

Em junho, o Grupo de Equidades expôs a bandeira LGBTQIA+ em frente ao Posto de Saúde Central, ato que gerou polêmica na internet. Contudo, a maioria dos comentários enalteceu a iniciativa. “Parabéns à Secretaria de Saúde e a todos os envolvidos, pois me sinto representado pelos profissionais que tomaram essa iniciativa. Sem dúvida, a melhor saída para acabar com

SUSTENTABILIDADE

o preconceito é o diálogo aberto, o respeito e o amor ao próximo”, destacou o patrulhense Yuri Duarte.

Após as críticas, o Grupo de Equidades utilizou a tribuna da Câmara de Vereadores para defender a causa, ato que chamou a atenção do jovem Vi -

nícius Alves. “Fico muito feliz de ver que pautas como essa estão ganhando atenção na nossa cidade. Por muitos anos nunca me vi representado em nenhuma ocasião. Me enche de alegria saber que pessoas tão importantes estão levando esses assuntos para a nossa cidade. Viva

Brechós permitem que consumidores garimpem peças originais

No sábado, 12 de novembro, o Centro de Eventos de São Leopoldo recebeu a 20° edição da Feira Bem Vestida. Idealizada pela empreendedora leopoldense Cláudia Sá, 45 anos, o projeto tem como objetivo oferecer um espaço descontraído para o público “garimpar” produtos de qualidade e com preço justo. Nesta última edição, a feira contou com 80 expositores, que receberam um público visitante de 600 pessoas.

Entre os expositores estava Débora Fão, proprietária do brechó Garimpo Turck. Apaixonada por brechós desde

a infância, ela descobriu nesse setor uma forma de vestir-se de maneira autêntica. Ela conta que, durante a pandemia, decidiu “desapegar” de peças que estavam paradas no seu armário. “Sempre gostei e sempre frequentei brechós. Eu gosto da proposta de poder encontrar peças únicas e exclusivas, que venham de outros tempos. Mas, também vejo que o brechó nos acompanha desde sempre quando herdamos roupas dos irmãos ou primos mais velhos”, afirma.

Aos poucos, o negócio de Débora ganhou projeção, dando origem ao Garimpo Turck, que atualmente vende para consumidores de todo o Brasil. Além de uma loja física, Débora é proprietária do primeiro brechó móvel do Brasil, que

garante boa parte das vendas e desperta curiosidade por onde passa. “Levamos cerca de 10 meses para deixar o brechó móvel do jeito que queríamos, mas foi emocionante ver tudo depois de pronto”, relembra.

Débora observa que os clientes se surpreendem ao entrar no brechó móvel, que ela considera um “lugar de garimpo”. Ainda assim, menciona que há certo preconceito com as roupas de brechó, por se tratarem de peças usadas.

O estudante de Ciência da Computação Lucas Brasil visitou a feira e conta que sua primeira experiência com brechós aconteceu em 2019. Ele relata que visita brechós em busca de peças especiais, mas também deixando-se surpreender com

a diversidade e xô preconceito”, declarou o estudante de biomedicina.

Durante todo mês de novembro, o grupo abordou o tema da Consciência Negra. Dentro da programação do Novembro Negro, a cientista política Vera Beatriz Soares Rodrigues conduziu um seminário aberto sobre Negritudes, que reuniu comunidade, agentes comunitárias de saúde e representantes do poder executivo.

Patrulhense de 48 anos, Maria Emília dos Santos é mulher preta e esteve presente no seminário. “Meu sentimento foi além do que eu esperava. Me emocionei, porque é uma luta constante de nós sermos o que somos de verdade, de não ter medo, de não abaixar a cabeça para ninguém, pois somos todos humanos. O que difere é a cor. Cor esta da qual, acredite, tenho muito orgulho”, disse a funcionária pública do Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS).

Para o Secretário de Saúde Antônio Selistre, o recurso destinado ao projeto é irrisório e a instauração do Grupo na cidade se daria independente desse valor. “As causas que abordamos são motivo mais do que suficiente para o desenvolvimento do trabalho. Saúde e equidade andam juntas, e nós queremos ser a Secretaria da Saúde, não só da doença”, afirmou.

o que encontra entre os expositores. “A vontade de comprar mais em brechós é grande. Normalmente, adquiro roupas específicas que me chamaram a atenção, ao invés de pensar que preciso ir atrás de uma camiseta, por exemplo, e procurar em diversos lugares”, explica.

desde 2017 e conta com três edições anuais. Durante a pandemia as atividades do projeto migraram para o ambiente digital. Mais de 200 transmissões foram realizadas até o final de 2020, número que consagrou a feira de São Leopoldo como o maior evento online de brechós do Brasil.

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LIDAR COM AS DIFERENÇAS Com reuniões mensais, Grupo de Equidades já promoveu seminário sobre negritude, reunindo sociedade, agentes comunitárias de saúde e representantes do poder público THIELE REIS DESAPEGO Cláudia Sá é a idealizadora da Feira Bem Vestida, que recebeu, na edição anterior, mais de 600 pessoas no Centro de Eventos de São Leopoldo MARIA CAROLINA VARGAS

Atleta gaúcha é convocada para a seleção de voleibol sentado

Mesmo após sofrer grave acidente de moto em 2017, Danielle Barcelos seguiu persistindo no objetivo de se tornar uma atleta profissional

Osonho de ser atleta e disputar campeonatos está cada dia mais presente na vida de Danielle Barcelos, 37 anos, moradora de Porto Alegre. Em 2021, ela conquistou a sua primeira convocação para a Seleção Brasileira de Voleibol sentado e, atualmente, se prepara para disputar o Parapan-Americano 2023, na cidade de Santiago, no Chile. “Através da natação me tornei atleta e, hoje, com o voleibol sentado, vivo o sonho de participar de uma Paraolimpíada”, destaca.

Jogadora da Associação dos Deficientes Físicos do Estado de Goiás (Adfego), Danielle sonha com uma convocação para os Jogos Paraolímpicos 2024. Desde a infância ela tinha o objetivo de se tornar uma atleta profissional de vôlei, meta que não foi abandonada mesmo após sofrer um grave acidente de moto em 2017 e precisar amputar a perna esquerda.

Após a conquista de diversas medalhas na natação, Danielle conheceu o vôlei sentado em 2019 e não demorou para ser convidada a integrar a Seleção Brasileira da

modalidade. À época, ela integrava a equipe da Associação Esporte+, de Porto Alegre, e chegou a ser pré-convocada para as Paraolimpíadas de Tóquio daquele ano. Contudo, devido à pandemia e ao fato de trabalhar como Técnica em Radiologia no Hospital Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre, o sonho acabou sendo adiado.

Ao recordar os momentos delicados vividos após o acidente, Danielle enfatiza que nunca desistiu do sonho de se tornar uma atleta profissional.  “Nunca baixei a cabeça e disse a mim mesma que voltaria a fazer tudo que fazia antes”, enfatiza.

Sandro Viegas é treinador de Danielle na Associação Esporte+ e reforça o espírito aguerrido da atleta, mesmo após o acidente que mudou totalmente a sua vida. “Vejo que ela conseguiu, com muito esforço e dedicação, ser reconhecida e admirada por todos. Sei que terá um futuro brilhante e inspirador”, destaca. O treinador reforçou ainda que, atualmente, Danielle é fonte de inspiração para outas jogadoras, sempre incentivando-as a treinar e a perseguir seus objetivos no esporte. Segundo Sandro, ela é um exemplo de que podemos olhar e nos adaptar a diferentes contextos.

Projeto aproxima jovens do esporte TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

sio A do Parque Centenário de São Sebastião do Caí todas as quartas-feiras para aperfeiçoar a sua técnica no esporte.

muito legal, eu não sabia jogar nada de vôlei quando comecei o projeto, mas agora já sei fazer várias jogadas e até qual a posição dos pés para sacar a bola”, relata Arthur Marques, 12 anos, que começou a praticar a modalidade como punição pelo baixo rendimento na escola. Hoje, sua participação no projeto “Vôlei Transforma” é um dos momentos mais aguardados da semana. Ao lado de 80 colegas, ele frequenta o giná-

Iniciado em junho de 2022 nas cidades de São Sebastião do Caí e Montenegro, o projeto tem como objetivo aproximar as crianças do mundo dos esportes através de aulas de vôlei oferecidas gratuitamente à comunidade. Segundo Laryssa Fernanda Goelzer, professora responsável pelas aulas em São Sebastião do Caí, “a intenção é fomentar a prática do voleibol e o poder de transformação social na vida das crianças, unindo esporte, educação e protagonismo”.

Segundo Laryssa, além de ensinar as técnicas do esporte, o

“Vôlei Transforma” contribui para educar os alunos em questões que extrapolam o esporte, ajudando-as a melhorar o rendimento escolar e o relacionamento com os colegas de turma. “É gratificante fazer parte de um projeto tão importante. Não se trata apenas de fomentar a prática do voleibol, mas de usá-lo como ferramenta de aprendizado de novas experiências, de reforço de valores e de formação de ótimos cidadãos”, destaca.

Kátia Finger, mãe do aluno Arthur Marques, 12 anos, conta que seu filho nunca teve muito envolvimento com os esportes, pois sempre preferiu jogos de videogame. Contudo, desde que começou a participar das aulas ele mesmo teve a iniciativa de pedir uma bola de vôlei para treinar saques e jogadas em casa.

O “Vôlei Transforma”, que pretende alcançar 100 alunos no próximo ano, não conta com a participação financeira do setor público, tendo como único

envolvimento direto do município de São Sebastião do Caí a abertura do espaço do ginásio A do Parque Centenário para a realização das aulas. O projeto recebe o incentivo da Lei de Incentivo ao Esporte, sendo

coordenado pelo ex-jogador de vôlei Gustavo Endres. Empresas privadas da região contribuem financeiramente para a aquisição de bolas, redes e demais equipamentos necessários para os treinos.

FERRAMENTA

“É
ESPÍRITO AGUERRIDO Danielle se prepara para disputar o Parapan-Americano de 2023, em Santiago, no Chile
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DE APRENDIZADO Prática do vôlei contribui para a melhora do rendimento escolar dos alunos e na relação entre colegas
SUPERAÇÃO DIVULGAÇÃO
CBVD
HEMELLY MARQUES Por RAFAEL MOREIRA Campus São Leopoldo Por HEMELLY MARQUES Campus São Leopoldo

Feira do Livro de Dois Irmãos percorre as escolas da cidade

Estudantes do município tiveram a oportunidade de encontrar e trocar ideais com autores discutidos em sala de aula, iniciativa que incentiva o hábito e o gosto pela leitura

dantes e no entendimento de textos de outras disciplinas escolares”.

Após dois anos de pandemia, a Feira do Livro de Dois Irmãos inovou, “resgatando o espaço escolar como um ambiente de promoção da cultura, da arte e da educação”, afirma Carine Bier, professora de Português e Literatura na Escola 10 de Setembro. Segundo a Prefeitura Municipal, a 33ª edição do evento, celebrada em outubro, contou com mais de 100 atividades artísticas e culturais em sua programação.

Todas as escolas do município receberam a visita de estandes de livreiros para incentivar a leitura, aproximando os estudantes do ambiente da feira. Entre as diversas atrações, as escolas foram contempladas com peças teatrais e com a visita de autores dos livros discutidos pelos estudantes ao longo do ano letivo.

Amanda Nylan, 10 anos, relata que gostou da Feira do Livro, tanto que visitou várias vezes o Parque Romeu Benício Wolf, local que sediou o evento. A estudante conta que leu cinco vezes a obra “Quanto valem os centavos”, da autora Denise Kern. “Quando ela veio na minha escola, eu até peguei um autógrafo”, disse.

A estudante da Escola 10 de Setembro reconhece a importância da leitura e acrescenta que, “quanto mais a gente lê, mais fácil é responder aos ditados na escola”. Sua professora, Cris-

ELEIÇÕES TRICOLORES

tine Lindenmeyer, completa dizendo que a diferença causada pelo hábito de leitura é clara na construção de vocabulário, assim como “na coesão e coerência no pensamento dos estu -

A aluna Maysa Staudt, 15 anos, conta que se sentiu envolvida pela peça “Meu Querido Diário”, da Companhia Teatral 3 em 1, de Dois Irmãos, apresentada na feira. Segundo ela, “a apresentação foi interessante e dinâmica”, pois trata sobre o cotidiano de jovens de sua faixa etária e que, por isso, conseguiu se identificar com a história. A professora Carine Bier disse que os jovens estão retomando o hábito da leitura, o que reforça a importância da feira adentrar o ambiente escolar.

Para a escritora e professora Marciana Bernardes, patrona da feira, “ler e imaginar é essencial, mas incluir é o que muda vidas”. Neste sentido, ela destaca que ao visitar as escolas do município pôde identificar que vários alunos se sentiram valorizados pela oportunidade de conhecerem e trocarem ideias com ela, o que inspira novos leitores.

O encerramento da feira, cujo tema foi “Leia, imagine, inclua, transforme!”, marcou a celebração de 50 nos de fundação do atual espaço da Biblioteca Pública Municipal Professor Paulo Arandt. O evento ocorreu na área coberta da Praça do Imigrante, no Centro da cidade, em virtude da previsão de chuva, e contou com música ao vivo, peça teatral e atividades recreativas.

Grêmio tem novo presidente para o

Oadvogado Alberto Guerra contabilizou 57,9% dos votos dos associados tricolores e se tornou o novo presidente do Grêmio. Os desafios da nova gestão envolvem questões financeiras, reorganização do elenco e corpo diretivo, além da gestão da Arena. Adversário de Guerra na eleição, o economista Odorico Roman conquistou 41,5% dos votos. Os votos brancos e nulos totalizaram 0,6%. Dirigente do Grêmio em três gestões, Guerra terá a missão de comandar a reconstrução de um time que

triênio 2023-2025

recém voltou à Série A do Campeonato Brasileiro e que precisa se restabelecer para voltar a conquistar protagonismo no cenário nacional. “Contrataremos jogadores bons tecnicamente e comprometidos com o projeto. Queremos atletas que queiram conquistar algo na vida. Jogadores que valorizem o Grêmio e deem tudo em campo”, disse o presidente eleito.

Em 2022, a discussão sobre a administração da Arena - hoje terceirizada – gerou críticas por parte do torcedor, especialmente por conta das filas no acesso ao estádio. Na visão do novo presidente, o torcedor do Grêmio precisa ser mais bem tratado na Arena. “É inadmissível que algumas situações sigam ocorrendo

no acesso ao estádio. O meu compromisso é melhorar a experiência da nossa torcida. É preciso melhorar o site, o acesso e outras áreas. Nós vamos fazer isso”, garantiu

As críticas do novo presidente em relação à administração da Arena foram reafirmadas pelo recém-eleito conselheiro do Grêmio, Minwer Daqawiya, que apoiou o candidato Odorico Roman.

“Não é possível que o setor que mais recebe público - Arquibancada Norte - tenha apenas duas ou três catracas funcionando, sendo que há espaço para cinco vezes mais. Enquanto o Grêmio não assume a gestão do estádio, é preciso que haja uma negociação para resolver isso”, pontuou.

INOVAÇÃO Alunos de todas as escolas de Dois Irmãos tiveram a oportunidade de receber livreiros e autores em ação que contou com mais de cem atividades artísticas e culturais na programação
BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | DEZEMBRO DE 2022 | 7 | LEITURA
DESAFIOS Alberto Guerra terá como missão enfrentar questões como finanças, reorganização do elenco e corpo diretivo, além da gestão da Arena
DIVULGAÇÃO / PMDI
LUCIANO AMORETTI / GRÊMIO Por MAURIVAN GIEHL Campus São Leopoldo Por

OPINIÃO

Santo Antônio da Patrulha para além das manifestações

Não é a primeira vez, nos últimos dias, que Santo Antônio da Patrulha é mencionada na mídia. Manifestações antidemocráticas, listas de boicote a empresas petistas e licitação municipal ligada à constelação familiar marcaram semanas recentes dos patrulhenses. Seja bem-vindo, você também, a terra da cachaça, do sonho, da rapadura e do fascismo. Digo, da cana-de-açúcar.

O candidato a deputado do PL, André Machado, abriu a semana pós-eleições com uma manifestação antidemocrática interrompendo o fluxo do trânsito dos gaúchos que voltavam de Porto Alegre. Os manifestantes tinham uma caçamba de terra, pneus, gasolina, isqueiro e tempo livre. Não foi localizado com nenhum manifestante vontade de trabalhar ou carteira assinada.

A Freeway, liberada na manhã de terça-feira, deu espaço a nova polêmica patrulhense: a corrente de WhatsApp com uma lista de empresas e profissionais que seriam alvo de boicote por apoiarem o PT nas eleições. O movimento não ganhou força após patrulhenses relatarem dificuldade de boicotar o cacetinho do Mercado da Família e o pastel

de carne com ovo da EuKiFiz.

A próxima polêmica não esperou virar o dia: uma licitação no mínimo curiosa viralizou no Twitter da PhD Gabriela Bailas. Com recursos livres nos cofres da Secretaria de Saúde, após a parada nas compras de Cloroquina pela Prefeitura, a Administração resolveu investir na formação dos profissionais. R$ 24.298,00 estão em disputa por empresas aptas a ministrarem curso sobre leis sistêmicas e constelação familiar, através da Licitação 181/2022. A piada, aqui, é apenas o contribuinte.

Ufa. Enfim, essa coluna se encerra — motivada muito mais pelo prazo final de publicação do que pelo encerramento dos escândalos. A terra da Moenda da Canção e uma das quatro primeiras cidades do estado poucas vezes recebeu tanta atenção. Não deve ser desmerecida pelos últimos acontecimentos, é verdade — entre os boicotados e os que não conseguem abrir mão do café na EuKiFiz, ainda há gente boa. Fica o convite, aqui, para que em uma passada pela Freeway o leitor faça uma parada para um café com sonho e rapadura. Não garantimos, apenas, que a parada não seja forçada por algum candidato a deputado — talvez a manifestação seja em apoio ao turismo local, afinal. [F]

Santa Maria do Herval oferece encantos a turistas

A cidadezinha é também conhecida como Teewald, de pouco mais de seis mil habitantes, onde todos se conhecem. Possui pontos turísticos interessantes, como a Cascata do Herval, que contém cerca de 125 metros de queda d’água, e a Cascata da Marcondes, de 65 metros de atura. Sem falar na Caverna dos Bugres, que, do mesmo modo, possui uma simpática cascatinha.

Uma boa parte de imigrantes, que vieram da Alemanha, habitaram o município e trouxeram o dialeto Hunsrück. A língua até hoje é falada no local, mas, aos poucos, vai perdendo a força, pois, muitos jovens não se interessam mais, ou mesmo os pais deixam de transmitir os ensinamentos. Bem diferente de outros tempos, quando muitas crianças aprendiam somente o alemão em casa, mesmo que, nas escolas, fossem proibidas de falar a língua.

A Festa da Batata, mais conhecida pela região como a Kartoffelfest, acontece em dois finais de semanas, todos os anos no mês de março, no interior do município. Ela chama a atenção de muitas pessoas que não residem no município. Colada a essa festividade, anualmente, no mês de setembro, o município pro-

move o baile da escolha das soberanas, com desfile e entrevistas das candidatas para a corte. O evento segue com a animação da banda e muito chope.

Semanalmente, nos sábados de manhã, ocorre a Feira do Produtor, no pavilhão, que fica atras da prefeitura. Os agricultores vendem seus mais variados produtos. Ocasionalmente, o calendário festivo da cidade oferece eventos especiais, como apresentações de alunos da cidade, Dia das Crianças, encontros de jovens, shows, jogos, entre outros. E, às vezes, os interessados são contemplados com a caminhada ecológica. Lucas Molling, que é guia turístico, organiza essas caminhadas pelo munício, que atrai muitos turistas para desbravar as estradas de chão e apreciar as paisagens naturais.

O município também é conhecido pelos campeonatos de futsal, em que os times são formados por habitantes da cidade. Dependendo do número de times, os jogos desenvolvem-se nos sábados, em cada comunidade diferente, em competições cuja duração varia entre um a dois meses. No final, os jogadores recebem as premiações. E para encerrar, outra atração: os campeonatos veteranos, da encosta da Serra, com jogos de futebol de campo, em que mais municípios disputam. Enfim, há muito do que desfrutar em Teewald. [F]

Wakanda Forever supera expectativas e trabalha luto

Como todo bom filme que ganha uma continuação, Wakanda para Sempre tem a difícil missão de superar as expectativas geradas pelo seu antecessor. Além do marco cultural e das arrecadações estrondosas de bilheteria que sempre acompanham as estreias de produções da Marvel, o filme ainda carrega a difícil responsabilidade de se despedir de Chadwick Boseman – ator que vive o Pantera Negra no UCM e que faleceu em agosto de 2020, antes do início das filmagens, em decorrência de um câncer.

Dar adeus ao fictício Rei T’Challa (Rei de Wakanda e o Pantera Negra) foi, possivelmente, uma das decisões mais acertadas de Ryan Coogler, roteirista e diretor do filme; imitando a vida, faz-se desse uma grande homenagem, em eco ao que aconteceu com Boseman, que enfrentou toda sua doença longe dos holofotes. Dessa forma, não sendo escalado nenhum outro intérprete para o personagem, a ansiedade (que já dominava os fãs) envolta acerca da sucessão do manto protetor do Pantera Negra é vivida também no script – e agora?

Com os últimos eventos, que impactaram o universo, e a revelação de

Wakanda como uma nação altamente desenvolvida, a Rainha Ramonda (mãe de T’Challa) ganha a atribuição de proteger Wakanda, usando todos os meios ao seu alcance, impedindo a cobiça de outras nações para com o poderoso metal, só encontrado em seu território, chamado de vibranium. A ganância leva à procura do tesouro em outros locais, a partir de um detector desenvolvido por uma jovem estudante americana, derrubando o mito de que este poderia ser encontrado apenas na nação africana.

À medida que a história vai se desenvolvendo, em aproximadamente duas horas e quarenta minutos de filme, diversos perigos vão sendo despertados e, de forma muito natural, histórias de outros personagens vão se revelando e sendo conhecidas para que, posteriormente, se encaixem.

Imerso em sua própria tradição, o filme se mantém fiel às suas origens fictícias e às discussões, sempre muito bem articuladas, de temas como a representatividade, racismo e colonialismo. Ainda que abordando fortemente temas sensíveis como o luto, o sacrifício e o protagonismo, a obra surpreende por seu fim e pela sua capacidade de mergulhar fundo (!!) o espectador em suas emoções. [F]

Quando a Argentina foi lar, com suas muitas semelhanças

É difícil algum brasileiro se atrever a elogiar a Argentina, nosso país vizinho, nossos “Hermanos”. Talvez a principal e única desavença seja o futebol, afinal eu nunca soube responder: quem foi o melhor, Maradona ou Pelé? Não me atrevo a contestar, dois gênios da “pelota”. Do mesmo modo, nunca consegui compreender essa suposta rivalidade, provavelmente decorrentes de construções oriundas, sobretudo, da mídia esportiva.

Mas aqui no Rio Grande do Sul somos obrigados a concordar que esse estado e o país vizinho são extremamente semelhantes: temos o chimarrão, eles, o mate (bebidas quentes a base de erva moída da grossa), a cuia feita de porongo que abriga esses líquidos típicos, a bombacha, o chapéu, e ambos somos conhecidos como “gaúchos” com acento ou sem acento, leva o mesmo significado: tradição.

Me apego a essas semelhanças quando lembro que fui morar ali do lado para estudar espanhol. Longos meses longe de casa, mas que sinceramente desde o primeiro dia, pare-

ce que eu fui viajar para uma Porto Alegre “um pouco maior”. Tudo me lembrava minha casa, cresci no interior do Rio Grande, logo as tradições da gigante Buenos Aires ainda me remetiam ao conforto do lar. A temperatura é igual. Lembro-me do inverno frio, congelante e chuvoso. A capital argentina, com cara de cidade pequena, tem cultura por todos os lugares, comida igualzinha a de domingo no RS, churrasco, muita batata, fartura e família reunida.

Aprendi a amar cada cantinho daquele país, afinal depois de 2017 quando morei e estudei na capital bonaerense nunca mais deixei de ir anualmente pro país que virou minha segunda casa, que tem um jeito único, uma linha de metrô que me remete ao Trensurb nosso de cada dia (linhas lentas, com problemas diários, as vezes param no meio do trajeto, e acontece de as estações estarem fechadas). Cidade pacata, movimentada, mas acolhedora, Buenos Aires não para, mas ao mesmo tempo tem cara de casa, que te abraça, que te faz querer sentar-se em qualquer cafeteria de esquina e passar horas tomando café, folheando um livro, e pensando como é bom estar ali do lado, do lado de casa. [F]

BABÉLIA | SÃO LEOPOLDO | DEZEMBRO DE 2022 | 8 |
Por TORRIÊ ALIÊ BREIER Campus São Leopoldo

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