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A luta contra a naturalização do trabalho infantil

A infância roubada produz impactos e consequências futuras nos cidadãos que muitas pessoas não se dão conta

As abordagens normalmente ocorrem de forma pacífica. E é assim que a equipe deseja ser vista. O flagrante de uma situação não deve ser motivo de insegurança. Pelo contrário, o diálogo é a principal ferramenta utilizada pelos profissionais para obter a confiança das pessoas. Através dele são estabelecidos vínculos com as famílias, cidadãos em situação de vulnerabilidade.

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Inúmeras famílias já passaram pelo atendimento da rede de apoio. No momento, cerca de 40 famílias mantêm vínculo ativo com o Serviço de Abordagem Social do Fé e Alegria.

Saímos com a Micro Equipe Família e nos dividimos em dois grupos para acompanhar as abordagens e observações. Muito para não causar estranheza, constrangimento, chamar atenção. Essa, definitivamente, não era a intenção. Poucos minutos caminhando pelas ruas junto da dupla de colaboradoras Maiara Freitas e Fayola Ferreira, e nos deparamos com a primeira situação: uma mulher segurando um pote com paçoquinhas em uma mão, e na outra mão, um bebê.

A moça relatou às duas que estava comercializando o doce para ter dinheiro para comprar comida e completar o valor que faltava para pagar as contas da casa. As educadoras sociais conseguiram dar o primeiro passo para obter um futuro vínculo e explicaram o serviço. A mãe com o bebê relatou que não morava naquele território, mas o escolheu por ser uma região mais movimentada. Disse que no momento, apenas o esposo tem vínculo empregatício, remuneração mensal, benefícios e direitos trabalhistas garantidos.

Import Ncia Do Servi O

Quando determinada situação se repete e, após os cidadãos receberem as orientações dos colaboradores e começarem a receber algum tipo de benefício, ajuda, em todos os flagrantes seguintes é possível notar que as pessoas ficam com medo, sentem medo de perder os auxílios e avanços que deram.

Nos dias seguintes a equipe procura os moradores identificados nessa reincidência, retomam as orientações e explanam os motivos que fizeram aquela pessoa, famílias se sujeitarem novamente às velhas práticas e ajudá-las no que for possível. A equipe garante que há um outro caráter, um outro nível de sensibilização com uma criança junto. E ao mesmo tempo nota-se uma certa “romantização do trabalho infantil”, oriunda da sociedade como um todo.

“Há um problema muito grande a ser enfrentado, que quando a criança é um pouquinho maior, quatro ou cinco anos, percebemos que há uma naturalização do tra- balho infantil e muitas vezes essa postura que ignora todos os direitos individuais dessa criança como: acesso à escola, brincar, se divertir, ter uma infância saudável. E é possível ouvir frases como: ‘é melhor estar ali junto trabalhando do que roubando ou correndo rua’. Essa percepção é lamentável”, ressalta Wagner Mello, Educador Social há mais de sete anos no Fé e Alegria.

“O lugar correto de criança estar é na escola, num espaço protetivo, num ambiente de convivência e que tenha a sua infância garantida. Não é o momento de ela trabalhar, o respeito com cada fase é primordial”, afirma o Educador.

“Essa é uma parte difícil de fazer com que a comunidade compreenda. Até mesmo para os filhos de pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social, os direitos devem ser garantidos, sem exceções. Trabalhamos com a comunidade como um todo para ter uma com - preensão mais estendida dessa realidade", relata.

“Todas as abordagens ficam registradas. Quando pegamos casos de famílias que já tiveram muitas abordagens e, mesmo assim, menores de idade continuam sendo expostos, é necessário um outro tipo de encaminhamento visando a proteção dessas crianças”, enfatizou Fayola.

Uma coisa que é comum de se observar é a presença de famílias inteiras nas ruas. Pai e mãe se dividem e cada um fica com pelo menos um filho. Na maioria das vezes, são só mães crianças. E que não sabem, sequer dos direitos que têm.

“Dependendo de como as pessoas veem e têm experiências com serviço de assistência, a resistência é muito maior. Por isso, cuidamos muito desse primeiro contato, para não fragilizar o vínculo”, ressalta Maiara. n

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