Enfoque Barrinha 1

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RAFAELA AMARAL

PRISCILA SERPA

OLARIAS

Metade das empresas do setor está aqui Página 5

PONTE

Moradores desejam um novo acesso Página 12

CRIANÇAS

Especial: jogo dos sete erros Página 14

ENFOQUE BARRINHA

CAMPO BOM / RS ABRIL DE 2015

VANESSA PULS

DUPLO TALENTO DARCY DA ROSA DIVIDE SEU TEMPO ENTRE SAPATOS E O VIOLÃO PÁGINAS CENTRAIS

EDIÇÃO

1


2. CLIQUE

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | ABRIL / 2015

CHEGADA Ao entrar na Barrinha, logo depois da ponte, esse cavalo pastava calmamente ao som do rio, que passa logo atrás. Essa visão marcou todos os alunosrepórteres, que tiveram seu primeiro contato com a região.

VITÓRIA SANTOS

RECADO DA REDAÇÃO

O maior receio dos alunos em seu primeiro trabalho como repórteres é lidar com o desconhecido. “Como será o lugar?”, “Qual será a notícia que me espera?”, “Como começar uma conversa com quem não conheço?”. No caso dessa edição do Enfoque, havia um duplo desconhecido; além do trabalho de campo, o fato de que seríamos a primeira turma da Unisinos a atuar no bairro Barrinha em Campo Bom. Quanta novidade e responsabilidade juntas! O que mais chamou a atenção de todos foi o modo de viver da região. Foi uma surpresa que pudéssemos estar tão perto da cidade com tantos elementos da vida rural, como a criação de animais, a agricultura e, acima de tudo, certa tranquilidade e camaradagem que parece ser difícil acontecer nas cidades maiores. Os próprios moradores contaram suas histórias que atestaram essa impressão inicial. Ao caminhar pelas ruas, o pouco movimento de carros, as ruas de terra e a escola fechada acentuavam ainda mais o bucolismo da paisagem. “Como um lugar desses pode ter notícias?” – nos perguntávamos inicialmente. Foi preciso, então, abandonar a urgência da cidade para perceber que tinha sim, muita coisa a ser contada. Mas num outro ritmo – encontrado quando andamos pelas ruas. Aos poucos fomos nos deixando tomar pelo movimentos que aconteciam ao redor – bicicletas, um ou outro carro, pessoas conversando na soleira da porta de casa – para encontrar, finalmente, nossas histórias e personagens. E nos tornarmos, na prática, jornalistas. Um dos pontos essenciais para a realização de nosso trabalho foi o empenho dos membros da Associação de Moradores, que conversaram conosco no dia anterior à saída e nos receberam pela manhã prontos a ajudar a localizar pessoas, lugares e o que mais fosse necessário para realizar as pautas propostas. O resultado é esta edição do Enfoque Barrinha, como jornal-laboratório dos alunos de Redação Experimental em Jornal, da Unisinos. Boa leitura!

- ANA FUKUI EDITORA-CHEFE

ENFOQUE BARRINHA

O Enfoque Barrinha é um jornal experimental dirigido à comunidade do Bairro Barrinha, em Campo Bom (RS). Com tiragem de mil exemplares, é publicado a cada dois meses e distribuído gratuitamente na região. A produção jornalística é realizada por alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos São Leopoldo.

FALE CONOSCO (51) 3590 8463

enfoquecampobom@gmail.com

Avenida Unisinos, 950 - Agexcom (Sala D01-001) - São Leopoldo/RS

DATAS DE CIRCULAÇÃO 1

28 / 03 / 2015

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25 / 04 / 2015

3

29 / 05 / 2015

LEGENDAS - REPÓRTER

FOTÓGRAFO

EQUIPE REDAÇÃO – Redação Experimental em Jornal / Jornalismo Cidadão – Orientação: Luiz Antônio Nikão Duarte. Edição geral (chefia): Ana Fukui. Edição de fotografia: Tatiana Oliveira da Silva. Edição: Camila Hugenthobler, Cristiano Vargas dos Santos, Émerson Luiz da Costa, Francisca Gabriela da Rosa Pereira, Jéssica Sobreira e Maria Roseli Santos. Reportagem: Ana Elisa Brum de Oliveira, Belisa Lazzarotto, Bruna Vanessa Schneider, Débora Cademartori, Filipe Rossau, Franciele Costa, Franciélen Severo, Gabriela Barbon, Glauco Bittencourt, Greyce Malta, Julian de Souza, Juliana Franzon, Luiz Paulo Teló, Renata Cardoso e Rita Correa Garrido. FOTOGRAFIA – Fotojornalismo – Orientação: Beatriz Sallet. Fotos: Alan Gressler, Aline Casiraghi Oliveira, Daniela Cristófoli, Daniela Passos, Denise Morato, Guilherme Rossini, Kamila Karolczak, Kathleen Machado, Leandro Luz, Lennon Santos, Luan Pazzini, Lucas Möller, Marta Ferreira, Nahiene Alves, Priscila Serpa, Rafael Erthal de Sousa, Rafaela Amaral, Vanessa Puls e Vitória Santos. ARTE – Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) – Projeto gráfico e arte-finalização: Marcelo Garcia. Diagramação: Gabriele Menezes. Colaboração (página 14): Paulo Junior (designer gráfico). IMPRESSÃO – Grupo RBS. Tiragem: 1.000 exemplares. Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Avenida Unisinos, 950, Bairro Cristo Rei - São Leopoldo/RS. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@unisinos.br. Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: José Ivo Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente de Bacharelados: Vinícius Souza. Coordenador do Curso de Jornalismo: Edelberto Behs.


INTERIOR .3

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | ABRIL / 2015 LENNON SANTOS

conta à Liodoro como veio de Sapiranga, há mais de 50 anos, para trabalhar nas olarias e construir sua vida na Barrinha

Bairro ainda mantém aspecto rural

não à Mesmo sendo a principal

atividade econômica do local, moradores criam animais e cultivam pequenas plantações

L

iodoro de Oliveira lembra com certo brilho no olhar quando chegou na Barrinha, no ano de 1959, poucos meses depois da emancipação de Campo Bom. Aos 81 anos, faz questão de

afirmar: “Nunca quis e não quero morar em cidade grande”. Cerca de 58,8% do território do município são considerados área rural, segundo a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora Liodoro já tenha presenciado uma série de mudanças no local, como a diminuição das enchentes, o asfaltamento e os novos moradores, o bairro ainda inspira um clima rural. Conforme o Instituto Brasileiro de Avaliações

e Perícia do Rio Grande do Sul (IBAPE-RS), todo imóvel com vocação para exploração animal ou vegetal, qualquer que seja a sua localização, é considerado uma propriedade de uso rural. Mesmo a maioria dos moradores não tendo a atividade rural como principal sustento, é muito comum encontrar inúmeras e extensas propriedades ao longo da avenida Pio XII com gado, ovelha, cavalo, plantação de milho e outros hortifrutigranjeiros. Antes de perder a espo-

sa, há poucos anos, o sítio de Liodoro era repleto de animais e pequenas plantações de legumes. “Depois que minha sogra faleceu não havia mais quem soubesse lidar com os animais e fomos nos desfazendo”, conta Juliana Ferreira de Oliveira, casada com um dos três filhos de Liodoro. O casal mora no mesmo terreno, junto com os dois filhos: uma moça de 18 anos e um rapaz de 17. Juliana, de 36 anos, é dona de casa. Marido e filhos trabalham fora

também é concorrida. Cirlei Schmitt mora há 4 anos no bairro. Com três filhos adolescentes, colocou o terreno à venda. “Eu e meu marido viemos pra cá porque gostamos desse clima calmo do interior. Mas agora que nossos filhos estão grandes, é muito longe pra estudar e trabalhar”, afirma. Segundo ela, como é raro encontrar alguma propriedade à venda na Barrinha, a procura tem sido grande.

- LUIZ PAULO TELÓ

Associação dá voz aos moradores é revertida para o benefício de algum morador em específico. As festas do Dia da Criança e do Natal são tradicionais. “A gente conta com o apoio dos moradores; nessas datas oferecemos comes e bebes e conseguimos dar brinquedos para todas as crianças” completa Maglia. Trabalhando no Bar do Paulão há mais de 16 anos, Sonira Teresinha Winck Leite hospedou as primeiras reuniões da Associação no estabelecimento que toca junto com seu marido. Inclusive a eleição da primeira chapa diretora. Sonira reconhece que “a Associação é importante, porque sozinhos não temos força, mas, com a Associação, nós somos ouvidos”. A organização também conta com um “acesso interno”, como brinca o vereador Sadi Santos (PMDB). Há cinco mandatos, Santos afirma que trabalha em apoio aos moradores da Barrinha. “Já conseguimos chamar mais atenção para o povo daqui, mas ainda temos muito a fazer. Temos que pensar em formas de educar nosso povo”, diz o vereador, ao explicar os projetos de instrução. A pauta do momento busca solução para os problemas de abastecimento de energia. Segundo Maglia, uma reunião já fora marcada com representantes AES Sul.

- DANIEL GRUDZINSKI

Maglia Reinehr é presidente da Associação dos Moradores da Barrinha. Ao lado, a sede da entidade

à

As reivindicações dos cerca de dois mil habitantes do bairro Barrinha começam a ganhar atenção com a consolidação da Associação de Moradores. À beira do Rio dos Sinos, a comunidade sofre com certas limitações, principalmente de infraestrutura. Dificuldades com enchentes, instabilidades no fornecimento de luz e água são pautas costumeiras. O bairro é muito “fechado”, a criminalidade é problema menor do que outras localidades. Anúncios de venda ou aluguel de propriedades são raros. Somente em 2012 que “Seu Amândio” como popularmente é lembrado pela população - teve a iniciativa de constituir uma entidade que unisse a comunidade em uma mesma direção. Mas esse personagem da Barrinha faleceu antes de testemunhar o trabalho da Associação. A partir daí, a vice-presidente, Maglia Reinehr, tornou-se titular. Assembleias acontecem para que os moradores indiquem suas necessidades, reivindicadas pela associação junto ao poder público. Atualmente, a Associação ocupa o prédio antes usado pela Escola de Educação Infantil Princesinha. Contam com salão de festas, churrasqueiras e uma cancha de areia. Em função dos recursos limitados, o salão é alugado para realização de churrascos e eventos comemorativos. Também acontecem eventos comunitários, em que a venda dos ingressos

KAMILA KAROLCZAK

COMUNIDADE

do bairro. Embora afirme que lá todo mundo se conheça, conta que conversa muito pouco com os vizinhos. “É tudo muito distante. O pessoal aqui do lado é novo, sai cedo e volta tarde, a gente nunca se fala”, explica. O censo de 2010 aponta que há, em Campo Bom, uma população de mais de 2,7 mil habitantes em áreas rurais. Mas assim como muitas pessoas desejam se mudar para um lugar mais urbanizado, a procura por terrenos na Barrinha


4. AMBIENTAL

Diversidade para se viver

comércio em um cenário com estilo de vida rural

NAHIENE ALVES RAFAELA AMARAL

à

abriga à Bairro fábricas e

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | ABRIL / 2015

E

ntre o sossego e a agitação do desenvolvimento urbano, o bairro Barrinha apresenta a possibilidade de harmonia entre estilos diferentes de se viver. Os campos a se perder de vista, as olarias, comércios e a movimentada Pio XII – principal avenida do bairro – contrastam com as mudanças dos últimos anos. Por se tratar de um bairro em que a venda de imóveis é limitada, inúmeras são as famílias que ali vivem há muitas gerações. Conforme conta Samuel Storck, morador há 15 anos da Barrinha, avós e bisavós da família viviam na localidade há mais de 100 anos. Apesar de gostar muito do bairro e residir fora da área urbana, Storck, que mora com a esposa e a filha próximo à Associação de Moradores, na Avenida Pio XII, chama a atenção para o intenso movimento no local e a preocupação com a criança pequena. Ele ainda relata a falta de conscientização das pessoas em relação ao Rio dos Sinos: “É comum algumas pessoas de fora do bairro jogarem lixo por aqui, poluindo a água que nós usamos”. Seguindo pela Avenida Pio XII na direção que leva muitos visitantes e moradores aos balneários da Lomba

Grande, em Novo Hamburgo, e do próprio município de Campo Bom, a paisagem é campestre. Carros dividem as ruas, sem acostamento, com ciclistas e pedestres. Pelo caminho, na Tenda Nativa, Michele Mara e o marido Laercio Zimpel atendem de quinta-feira a domingo. Moradores do bairro há 26 anos, eles relatam que o local é tranquilo, apesar do movimento. Michele conta que a circulação intensa se deve aos balneários, para aonde muitas famílias se deslocam aos finais de semana: “Esta é a única rua que vai para os balneários. Então, visitantes e moradores passam por aqui durante a viagem”. Há nove anos trabalhando na Tenda, ela afirma que os vizinhos se ajudam e cuidam uns dos outros quando o assunto é segurança, mesmo distantes da área urbana do bairro.

Diferentes cenários ocupam o cotidiano do bairro e dos moradores

Além das famílias tradicionais, também há espaço para quem busca oportunidades de trabalho, caso do secador de estufa Claudiomiro Freire, o Bilo. Trabalhador da Cerâmica Ritter, próxima à área urbana da localidade, ele conta que é natural de Braga, município próximo a Três Passos, no noroeste do estado. Vivendo na Barrinha há sete anos, com a esposa e as duas filhas, chegou em Campo Bom na busca por emprego e escolheu o bairro pelas chances de trabalho e pela segurança. Ele relata que o fato de o bairro abrigar inúmeras olarias não é motivo de incômodo para os moradores que vivem nas proximidades, provavelmente por já terem se acostumado a esse ritmo, nem calmo, nem intenso, que é viver por ali.

MARTA FERREIRA

- RITA GARRIDO

RIO

Um lugar marcado pelas águas foi firmado convênio com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) para a implantação de rede de tratamento de esgoto, mas a obra ainda não está em execução. A poucos metros da margem do rio, do outro lado da rua Pio XII, está a casa de Terezinha Saldanha, 44 anos – destes, 25 vividos no local. Natural de São Francisco de Paula, ela gosta da Barirnha: “É um bairro tranquilo e as pessoas são conscientes”, comenta, quando questionada sobre a limpeza das águas que passam diante de sua moradia. Terezinha teve a residência invadida pelo Rio dos Sinos, se viu obrigada a aterrar a propriedade e, desde então ela não teve prejuízos. Na área rural do bairro, ainda no limiar do rio, está a “Hotelaria do seu Júlio”, um local para a hospedagem de

VITÓRIA SANTOS

Um dos problemas é o lançamento de esgoto nas águas do rio

à

Às margens do Rio dos Sinos a comunidade da Barrinha surgiu antes mesmo da emancipação política de Campo Bom. Segundo a doutora em História, Eloísa Helena Ramos, no período imperial, em 1824, os 39 primeiros colonos alemães chegaram à região pelas águas. “O rio na época era a porta de entrada e saída de pessoas e produtos, era a ‘estrada’ principal, para vir de Porto Alegre”, afirma. Entre a ponte de acesso ao bairro até a divisa com Lomba Grande – zona rural de Novo Hamburgo –, é possível observar placas de conscientização feitas pelas crianças da escola Princesa Isabel, homens pescando e pouco lixo. Um dos problemas é o lançamento de esgoto nas águas, ainda que a rede seja mista, e haja tratamento primário (fossa e filtro). Segundo o Município,

cavalos. Júlio César Morales Rodrigues, de 43 anos, mora no lugar com mais oito pessoas: sua companheira Suzete

Elisângela de Azeredo, seis filhos com idades entre oito e 19 anos e uma nora. Rodrigues, que sempre trabalhou com ca-

valos, se mudou para o bairro há sete meses, em busca de um lugar mais calmo para educar os filhos e cuidar dos animais: “Procuro criar eles do mesmo jeito que fui criado, com pessoas boas. Aqui, a comunidade é unida, os vizinhos se ajudam, não é como na cidade, onde as pessoas se esbarram e te olham com desdém”, afirma. Apesar do crescimento populacional, na comunidade ainda não há transporte público e nem comércio diversificado, as casas são humildes e a população amigável. O estilo de vida esboçado pela população pioneira ainda se faz presente nesse pequeno bairro de Campo Bom: pessoas tranquilas e um ambiente pacato são características marcantes do distrito conhecido por suas olarias.

- RENATA CARDOSO


COOPERAÇÃO .5

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | ABRIL / 2015

Usina retoma suas atividades

dono do depósito não pode mais atuar na Barrinha

R

ecomeço. É com essa palavra que Cristiano Aguiar, de 28 anos, dono da usina de reciclagem atingida por um incêndio em setembro de 2014, define o momento que vive. Ele montou a Ecológica na rua Pio XII há seis anos e desde a tragédia vem tentando reerguer o que foi consumido pelo fogo. Quando foi avisado sobre as chamas no depósito, Aguiar viu o seu corpo perder o controle diante da notícia: as pernas “bambeavam”, a cabeça não concatenava e os sentidos ficaram desnorteados. Estava desesperado. O taquarense - que adotou Campo Bom desde novo – chegou ao local junto com oito amigos que o acompanhavam em uma trilha de moto em Dois Irmãos, cidade vizinha. Aguiar classifica o momento como “o mais terrível de sua vida”. O cenário era de guerra: o teto, feito de metal, derreteu com o calor, o material reciclado que aguardava triagem foi todo queimado, paredes laterais quebradas com retroescavadeiras para conter o fogo e

três caminhões estacionados dentro do galpão consumidos pelo incêndio. Depois de ter perdido parte do patrimônio, o empresário pensou em desistir, mas a hipótese foi descartada depois de perceber que os moradores e amigos estavam ajudando na reconstrução do local. Com contratos para cumprir, ele alugou outro depósito na Avenida dos Municípios, no bairro Industrial e começou a trabalhar precariamente, com caminhões emprestados de olarias do bairro. Barrinha é considerada Zona Rural de Campo Bom e, por isso, a autorização para a retomada da usina de reciclagem no mesmo local foi vetada pela prefeitura. Seis meses após o acidente, Aguiar utiliza o terreno somente para guardar o caminhão recém comprado. Um dos veículos que pegou fogo continua no depósito, fazendo-o lembrar que R$ 300 mil investidos viraram ferro retorcido. A frota queimada, composta por três caminhões não segurados, foi avaliada em R$ 420 mil, com prestações não quitadas. As causas do incêndio ainda não foram apuradas. De acordo com Aguiar, os bombeiros desconfiam que o rastreador de um dos veículos provocou o início do fogo. Ele espera agora restabelecer a empresa e permanecer com os oito funcionários.

LEANDRO LUZ

Cristiano Aguiar conta com o apoio de amigos para reconstruir o que perdeu no incêndio

à

do apego à Apesar à comunidade,

Durante o tempo que ficou na Barrinha conquistou amizades inesquecíveis. “Foi mais fácil recomeçar agora do que há seis anos, porque tive apoio dos meus amigos e dos vizinhos. Já sei os caminhos. A gente guarda a amizade, porque passava mais tempo aqui do que em casa. Acabei criando muito contato e muito carinho. Sempre tive ajuda dos moradores, mesmo sem pedi-la”, diz, emocionado.

- DÉBORA CADEMARTORI

TRABALHO

O sustento que vem do barro A Olaria Ritter fica em um dos raros trechos não asfaltados da Barrinha, e sua história se confunde com a do bairro. A empresa familiar é mais antiga do que o próprio município. Fundada há 62 anos, é uma das únicas fábricas do setor que usa maquinário automatizado em Campo Bom. A modernização começou no final dos anos 80 e, hoje, boa parte da fabricação é mecanizada. O uso de serragem para alimentar o forno, reduz o calor enfrentado pelos funcionários, caso de Claudiomiro Tavares, que desde 2006 mora na Barrinha, e há cinco anos trabalha na Olaria. Natural de Braga, a 441 quilômetros de Porto Alegre, se mudou para o bairro com a mulher e os filhos. “Saímos de lá pela falta de emprego e encontramos aqui”, comenta. Para ele, o trabalho tem ficado mais simples. “Agora é melhor, é quase tudo automático, já não precisa tanta gente para levar material para as prateleiras”, conta Tavares, um dos responsáveis por secar os tijolos na estufa. Quem explica as mudan-

ças pelas quais a empresa passou é Eduardo Ritter, filho do fundador da Olaria. Com 53 anos, ele nasceu depois de seu pai montar o negócio. “Temos 45 funcionários em nossas duas fábricas, e vendemos material para todo o estado. A produção chega a 15 mil tijolos por dia”, conta Eduardo, que com mais seis irmãos administra a empresa. A Ritter é uma das seis olarias da Barrinha, que tem metade das firmas do setor de Campo Bom. Em uma realidade diferente, está a MM Indústria de Cêramicas. A poucos metros da barragem do rio, a empresa foi fundada em 2010, por Moacir Martins. O número de pessoas trabalhando é menor, chega a 15. No entanto, o ritmo de trabalho é intenso. Leandro de Lima, de 39 anos, não precisa falar muito para demonstrar o esforço que é necessário. Em frente ao forno de carvão, ele organiza pilhas de lenha e alimenta o fogo e o calor fica estampado na testa suada e nos olhos marejados. “No verão é cruel, mas a gente se acostuma”, conta ele, que

de serem à Apesar empresas com

tamanhos, número de funcionários e ritmo de produção diferentes, as diversas olarias preservam algo importante: o companheirismo

trabalha de segunda a sábado. Com todas as funções sendo manuais é preciso bastante disposição. “Eu trabalhei por mais de dez anos com forno. É bastante “puxado”, e muitos não aguentam. Tem gente que entra por uma porta, olha o serviço e sai por outra”, brinca ele, enquanto mostra o espaço que divide com os fornos e com as prateleiras de tijolos, que chegam a 3m de altura. Além da dificuldade do trabalho, Lima fala do companheirismo. “A amizade vem antes de tudo. Se não formos amigos, não há clima no serviço. E aqui precisa ser assim”, finaliza.

- FILIPE ROSSAU

RAFAELA AMARAL


6. FINANÇAS

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Redes são fonte de renda extra

pesca, a fabricação manual de redes atrai clientes do Litoral

Q

uem passa na frente da casa de Inácio Paulo Thiesen logo nota que ali há algo diferente. Três redes e uma tarrafa estão estendidas, à mostra. Poderia ser comum em uma comunidade ribeirinha, mas a Barrinha não utiliza o Rio dos Sinos para pescaria. Thiesen mora desde os 16 anos no bairro e hoje faz das redes uma distração e complementação da renda, que é de um salário mínimo. “Aprendi a consertar e fazer redes durante o tempo que morei em Tramandaí. Como não gosto de ficar parado e sempre precisamos de dinheiro, eu faço as redes”, conta. Aos 76 anos, Thiesen tem sete filhos, 16 netos e 11 bisnetos. Trabalhou em olarias do bairro e na prefeitura. As tarrafas são feitas artesanalmente e ficam prontas em três semanas. “Geralmente faço por encomenda, mas também para ter quando querem na hora”, fala. Apesar de gostar do oficio, Thiesen diz que o lucro é pequeno. Uma tarrafa é vendida por cerca de R$ 300,00, sendo que o material custa mais de R$ 100,00. A esposa, Lioni Thiesen, de 68

anos, conta que alguns clientes vêm do Litoral para comprar as redes. “Nas lojas são mais caras, e ele faz com um fio mais grosso”, diz, explicando a preferência dos clientes. Lioni chegou a Barrinha com 15 dias de vida. De acordo com ela, muitas coisas mudaram nesses mais de 60 anos, mas o essencial continua igual. “Aqui é tranquilo, a gente não se preocupa com violência, podemos deixar tudo aberto. Mas faltam algumas coisas, como farmácia. A Barrinha é o único bairro de Campo Bom que não tem posto de saúde”, reclama. Para quem não tem carro, os meios de transporte são: o ônibus escolar, a bicicleta ou andar a pé, o que dificulta a locomoção de pessoas mais velhas - como Lioni, que sofre de labirintite.

DENISE MORATO

DA BARRINHA PARA O MUNDO A família grande se espalhou. Alguns ainda vivem no bairro, mas a maioria dos filhos e netos foi buscar outros rumos. Muitos em outras cidades, como Novo Hamburgo, outros em Santa Catarina, enquanto alguns foram para fora do país. “Um dos meus filhos começou a trabalhar em fábrica de calçado e foi crescendo, fez faculdade, aprendeu outras línguas. Já morou em vários países. Mas eles sempre voltam um pouquinho”, conta

a mãe orgulhosa. Em maio, quando Lioni faz aniversário, querem reunir toda a família para tirar uma foto parecida com uma que está em destaque na sala. Em preto e branco a foto registrou toda a família de Thiesen, os avós, os pais, tios e primos. “Hoje a maioria já morreu e a casa não existe mais”, relata ele, emocionado.

Acima, Thiesen mostra as redes artesanais que produz para aumentar a renda da família. Sua esposa, Lioni, fala orgulhosa da família que construiu na Barrinha

à

bairro em que à No não se vive da

- GREYCE MALTA

COMÉRCIO

Põe no caderninho, por favor? 66 anos. Ainda criança, ela se mudou com seus pais da Colônia de Santa Maria do Mundo Novo, área atualmente pertencente aos municípios de Igrejinha, Taquara e Três Coroas, para a região da Barrinha, em 1959. Seu pai montou o negócio, e ele sobrevive dele até hoje. “Meu pai construiu o primeiro mercado do bairro. Aqui só tinha barro, barcas e não tinha ponte. Vendíamos mantimentos e tinha uma cancha de bocha do lado de fora”, conta. Após o falecimento do seu pai, ela e suas irmãs desmancharam o antigo casarão. Foi então que Zaira e o seu marido, Frederico José da Silva - já falecido -, decidiram construir seu próprio estabelecimento, que hoje é comandado pela filha do casal, Mônica Regina da Silva, de 48 anos, que nasceu e cresceu na Barrinha. “Com o falecimento do meu pai eu fiquei responsável por tocar o mercado” relata Mônica. Foi decisão dela seguir

ALINE CASIRAGHI OLIVEIRA

com o uso do caderninho, possibilitando a venda fiado. “Riscos existem, mas como sempre moramos aqui e as pessoas geralmente são residentes do bairro há muitos anos e essa prática já vem de

tempos, então ela só continua”, diz Mônica. Antônia Carneiro da Silva, de 48 anos, residente na Travessa Calfama há mais de quatro anos, sempre faz suas compras no Mercado da Mônica. “Aqui

a gente compra fiado, mas eu sempre pago direitinho. Eu compro sempre ração para os bichos e o pão daqui que é muito bom”. Apesar de se considerar aposentada, é Zaira quem coordena o estabelecimento

A praticidade do serviço e a opção de compra via “caderninho” fazem a diferença no Mercado da Mônica

à

Um vendedor anotando as compras fiado de seus clientes em um caderno parece não fazer parte do cenário do comércio atual, onde o cartão de crédito é indispensável. Chamar o cliente pelo nome, então, é raro em uma época dominada pelas relações impessoais no varejo. Mas ainda há alguns minimercados, como o Mercado da Mônica, que resistem à pressão das grandes redes de supermercado. O casarão cinza com piso de lajotas de cerâmica, localizada na rua Pio XII, não tem grande requinte, somente um tapete escrito “Mercado da Mônica. Seja bem-vindo”. Sua freguesia é variada: desde operários das olarias, até moradores dos bairros vizinhos. O que buscam? O pão mais gostoso da região, e a possibilidade de “anotar no caderninho” suas compras e pagá-las apenas no fim do mês. A parte de trás do mercado é a casa onde vive Zaira Maria da Silva, de

quando sua filha não está. O mercadinho abre de manhã e só fecha à noite, por volta das 21h. O expediente é de segunda a segunda. “Sem folga”, diz ela, sorridente.

- JOANE GARCIA


TRANSPORTE .7

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se juntam aos sábados para passeios

L

ocalizada às margens do Rio dos Sinos a Barrinha atrai muitos visitantes, principalmente nos finais de semana. Grupos de ciclistas fazem do lugar um ponto de encontro devido à natureza, ar puro e tranquilidade que encontram ali. O professor de Educação Física Lincoln Belegardes, de 25 anos, é exemplo disso. Há mais de um ano ele reúne seus alunos para passeios de bicicleta ao ar livre. “Fazemos um trajeto de 45 quilômetros. Saímos de Novo Hamburgo, passamos por Lomba Grande, pela Barrinha e depois retornamos por Campo Bom”, conta. A rua Pio XII é o caminho por onde o grupo, intitulado Galera Bike Indoor, transita durante os passeios pelo bairro. A via é asfaltada, com bastante curvas, tem em torno de seis metros de largura e na maior parte de sua extensão não tem acostamento ou calçadas. Pedalando há seis meses com o grupo, Mônica Debarba, de 49 anos, ressalta que pedalar na rua é melhor por conta da adrenalina,

mas que uma ciclovia na Pio XII “traria mais segurança para os ciclistas”. Conforme a Prefeitura de Campo Bom não há projetos para a implantação de uma ciclovia no local. “Por envolver processos como questões ambientais, deslocamento de rede de alta tensão e até desapropriações, projetos para implantação de uma ciclovia ou alargamento da Pio XII - que é uma via de escoamento de produção rural e de olarias - se tornam inviáveis financeiramente neste momento”. Além de pedalar com o grupo, Mônica incentivou o filho para que se juntasse a eles. Aos 15 anos, Henrique Amaral Silva é o mais jovem do grupo. “Eles fizeram uma janta lá em casa e me convidaram”, revela Henrique, que fez seu primeiro percurso com o grupo no dia 7 de março de 2015. “Estou achando divertido. Nunca tinha acordado às 7 horas em um sábado”, completa. Para o eletricista Marcos Souza, de 29 anos, a Barrinha é um dos lugares preferidos para andar de bike. Morador de São Leopoldo, ele percorre mais de 16 quilômetros pedalando apenas por lazer e para desfrutar dos sucos naturais da Lancheria Tenda Nativa,

NAHIENE ALVES

localizada às margens da rua Pio XII. “Aqui tem menos poluição, pouco movimento e o suco é ótimo”, fala Souza. O trajeto também é um velho conhecido de João Pedro Blange, de 53 anos. “Eu moro em Novo Hamburgo e ando de bicicleta por aqui desde 2007”, afirma. Mesmo a Barrinha sendo um antigo destino de Marcos e João, no dia 7 de março foi a primeira vez que fizeram o trajeto juntos. “Conheci-o por meio da minha esposa, pois eles são colegas”, diz Blange.

Trânsito intenso de bicicletas é comum no bairro, principalmente aos finais de semana

à

de à Grupos ciclistas da região

Natureza atrai atletas

PRISCILA SERPA

- CAMILA HUGENTHOBLER

LOCOMOÇÃO

De bicicleta, de carro ou de carona A falta de circulação de ônibus no bairro faz com que os moradores da Barrinha busquem outras opções de transporte. A bicicleta é o meio de transporte mais utilizado. É difícil encontrar quem não tenha a sua. Morador da Barrinha há 3 anos, Adão Pereira, 61, utiliza a bicicleta para se locomover dentro do bairro e para ir até o centro. “Vou até o mercado em Campo Bom ou compro coisas fora do Barrinha, tudo de bicicleta”, comenta. Atualmente desempregado, ele afirma que sem a bicicleta tudo seria muito mais complicado. “Como o bairro é afastado, se eu não tivesse a bicicleta não teria como fazer nada”. O trabalhador rural Paulo Vinck, de 71 anos, relata que utiliza sempre a bicicleta como transporte porque esse é o meio mais rápido que encontra de fazer suas coisas. “A bicicleta é mais ligeira, se eu quero ir para casa, vou. Não preciso ficar esperando ônibus ou que meu filho me busque em algum lugar”. A falta de circulação de

ônibus complica muito a vida do bairro. O transporte público passa em três horários do dia. Há ônibus às 6 horas da manhã, ao meio dia e às 18 horas. Porém esses horários são apenas para o período escolar. Não tem aulas, não tem ônibus. Segundo informações da Viação Campo Bom, responsável pelo transporte público no bairro, a empresa está realizando um estudo para saber se há um número suficiente de usuários de ônibus na região. “Até o final do ano pretendemos colocar novas linhas de ônibus na Barrinha e também no bairro Aurora”, comenta o representante da Viação Campo Bom, Fabricio Oliveira. Uma atitude pouco vista em outras cidades da Região Metropolitana é algo comum na Barrinha: a carona. “Como quase não tem ônibus, se o perdemos por algum motivo, vamos de carona para a escola, sempre tem alguém que para e pega a gente”, comenta o estudante Erick Leal, 13 anos. A irmã do garoto Naiara, 12 anos, conta que

também recorre à opção. “Se quero ir para Campo Bom e não tem ônibus ou está chovendo, pego carona, às vezes para o meu avô ou vou com outro morador”, comenta. Esse sistema alternativo de transporte só funciona porque quase todos no bairro se conhecem. O oleiro Moises Espírito Santo, de 32 anos, comprou um carro recentemente e costuma dar carona a outros moradores. “Se tem algum conhecido na estrada, eu paro o carro e dou carona”, comenta. “Nunca tivemos nenhum problema com isso, mas é porque só levamos conhecidos, se for alguém que não conheço, não paro”, ressalta o oleiro.

- GABRIELA BARBON

à Caronas e o uso de

bicicletas são características da Barrinha

KATHLEEN MACHADO


8. GENTE

ENFOQUE BARRINHA | CAM

Entre notas musicais e pedaços da Rosa é à oDarci único sapateiro

artesanal da Barrinha e toca sertanejo de raiz

N

as veias de Darci da Rosa duas paixões pulsam fortes: o couro e a música. Durante os 58 anos trilhados pelos pampas da vida, o homem dedicou boa parte do tempo para a arte de produzir calçados artesanais – o único que domina a técnica na Barrinha – e à canção sertaneja de raiz. Casado com Marisa Lesnieski há 26 anos, Rosa tem três filhos, todos com segundo nome diferenciado: Aná Casturina, de 24; Mateus Duilio, de 22; e Maria Nina, de 15. A escolha pelos prenomes foi dele, que os achou interessantes e bonitos. Nos três hectares da propriedade onde mora há 15 anos, está o ateliê de botas e artigos fabricados por ele, além da residência da família. O ingresso no mercado de trabalhou deu-se cedo. Quando tinha 14 anos, Rosa, que não chegou a concluir o ensino fundamental, foi empregado em uma fábrica coureiro-calçadista. Aos 20, passou por um curso de modelagem e aprendeu a técnica de confecção de sapatos. Lidar com couro e transformá-lo em peças é uma paixão cultivada desde 1976, quando começou a produzir as primeiras botas. A experiência com o passar dos anos o fez aprimorar e começar a confeccionar acessórios campeiros, como guaiacas, cintos, alpargatas, botinas. Nesta época, da parceria com o amigo Chico Bertuol confeccionou o primeiro par de botas torneadas, com solas de couro e pinos de madeira de Campo Bom – modo mais antigo e cada vez mais raro de montar de um calçado. A parceria com o primo-irmão Clóvis Eugênio Adams, na década de 1980, fez surgir a dupla Clóvis & Darcy – que percorreu mais de cem cidades nos quase 13 anos de apresentações. O penteado escorrido e divido em meio à cabeça, na época, segundo Rosa, teve inspiração na banda inglesa The Beatles. A substituição da letra “i” pela “y” no final do nome era o detalhe entre a personagem artística e o sapateiro que habitavam nele. Enquanto dedicava-se aos shows, também realizava trabalhos autônomos de modelagem de calçados a um amigo e parceiro de vida. Os olhos verdes de Rosa reluzem ao lembrar-se dos bons tempos em que era músico. Enquanto vêm à mente as recordações, acena com um sorriso positivo e natural. “Foi uma época muito boa”, garante. A influência para o sertanejo de raiz veio das canções que escutava em programas de rádio em meados da década

de 1960, quando cantores e compositores regionalistas como Gildo de Freitas, Pedro Raimundo e Teixeirinha destacavam-se no cenário nacional. Em família realizavam-se cantorias, contando, inclusive, com a participação da mãe, Maria Leontina da Rosa e do pai, Francilio Maria da Rosa. A família de Clóvis era proprietária de um circo, fato importante para a carreira da dupla. Com o deslocamento entre uma cidade e outra, os jovens músicos aproveitavam para apresentar o seu repertório. Era dentro de um fusca que os primos anunciavam a chegada dos espetáculos circenses. Foram dois anos – entre 1987 e 1989 – vivendo sob a lona. A rotina no picadeiro exigia trabalhos de montagem de estrutura, bilheteria e portaria. Ainda tinham tempo para os shows, baseados em “modão sertanejo”. O primeiro LP da dupla foi gravado em 1983, em São Paulo, e lançado em 1985, alcançando mais de cinco mil cópias vendidas. A concorrência com outros músicos e as responsabilidades com viagens e shows começaram a esfriar a carreira musical de Clóvis e Darci. O derradeiro golpe veio quando a gravadora em que eles haviam produzido o segundo LP quebrou. “Não conseguimos recuperar nem o rolo das músicas”, lamenta. Desta forma, em 1988, lançaram por conta própria as

músicas que haviam preparado, conseguindo vender mais de mil exemplares. A última turnê dos dois percorreu 1.050 quilômetros dentro de um maverick ano 76, passando por São José do Norte, Pantano Grande e Porto Alegre. A maratona de apresentações foi, na avaliação de Rosa, “muito boa, mas tá louco!”. Depois de findada a dupla, em 1994, Rosa ficou quase dez anos sem tocar, até que, em 2003, por apoio da mulher, voltou a se dedicar ao que hoje chama de hobby. Da viola abraçada ao corpo saem notas de velhos arranjos sertanejos na companhia de amigos. A dedicação maior é sobre o pequeno negócio de botas e artigos em couro. O ruído das máquinas acompanha o processo de produção dentro do ateliê, que se inicia pela escolha do couro curtido por um fornecedor de confiança. No pequeno prédio em alvenaria, Rosa estica a pele sobre uma mesa inclinada. Debruça-se com um estilete e com a ajuda de um modelo faz os recortes necessários. A peça ainda passará pelo chanfrado, preparação, costura, finalização e acabamento. São 24 horas para concluir uma unidade manualmente, enquanto que na indústria centenas de sapatos são produzidos por hora. Além dele, existem três sapateiros artesanais em Campo Bom. A produção é modesta: cerca de cinco pares de botas

por mês ao custo de entre R$ 220 a R$ 350 a unidade. Rosa garante ser o suficiente para uma boa renda. Os trabalhos são feitos sob encomenda e 90% das peças saem do ateliê e ganham os campos. A procura é maior de pessoas que lidam com cavalos ou com a agricultura. “Queria saber tocar o que sei em fazer bota”, afirma, rindo da brincadeira. Enquanto confecciona uma peça, a cadelinha Preta desfila pelo espaço. Além da companhia animal, conta com a parceria do filho Mateus, que está desenvolvendo uma marca de alpargatas personalizadas. “Ele tem o dom”, garante o genitor sobre o desempenho do jovem. Mateus tem um estilo diferente do pai, mais moderno, mas diz gostar de sertanejo de raiz, muito embora prefira as notas metálicas do rock’n’roll. O rapaz é ambicioso, quer se especializar e produzir uma marca própria de alpargatas. Uma fotografia com a dupla Milionário & José Rico enfeita a parede do ateliê de Rosa. O quadro é uma recordação com os ídolos. Para Rosa, José Rico, falecido em março deste ano, foi a maior voz da música brasileira. “Nesta longa estrada da vida”, o homem que cultiva a simplicidade dos tempos antigos almeja continuar por mais dez anos na labuta com o calçado. “Aqui eu trabalho com prazer”.

- CRISTIANO VARGAS


.9

MPO BOM (RS) | ABRIL / 2015

s de couro Ofício aprendido na juventude de Rosa, e que hoje fornece seu sustento, está sendo transmitido para o filho Mateus

à

LENDAS

Histórias de bruxas e lobisomens Lugares como a Barrinha costumam guardar histórias que passam de geração para geração e que alguns moradores mais antigos dizem ser verdade. A existência da bruxa que roubava alma de criança e do lobisomem, que arrastava correntes e que podia se transformar em qualquer animal, são as mais contadas. Há até quem diga que chegou a enfrentar um deles com o facão, colocando o bicho para correr. Não precisava ser altas horas. Desde que fosse noite de lua cheia, um vulto com focinho de lobo e corpo peludo como um macaco e arrastando uma corrente já podia ser visto pela margem tomada de mato do Rio dos Sinos. Roupas não podiam ficar no varal, pois o danado rasgava tudo. Quinta-feira de lua cheia, então, ninguém ficava na rua depois de escurecer. Quem conta essas histórias e afirma ter tido um irmão, de oito meses, que foi morto por uma bruxa, é Delmir do Espírito Santo, de 74 anos. “Bi”, como é conhecido, foi morar na Barrinha com oito anos e de lá nunca saiu. Muito dedicado ao trabalho e à família, manteve-se solteiro até os 60 anos, quando se casou com Jacir Ferreira Maciel, 24 anos mais jovem que ele. Ele diz que durante sua vida cruzou muitas vezes com lobisomens na Barrinha, acompanhou a passagem da maldição de um lobisomem para um filho. “É algo triste de se ver, pois o velho estava penando para morrer e não pode descansar enquanto o rapaz, sem saber que se tratava da maldição, disse sim ao que o velho estava lhe presenteando”, explicou. “Também teve os dois irmãos que se transformavam e juntos atacavam as pessoas,” acrescenta. “Eu mesmo tive que correr de um, e só não fui pego porque estava com meu facão para me defender” explica o pai de Bruna Ferreira Maciel, de 17 anos, que concorda com tudo que Delmir relata. Apaixonado por animais, “Bi” divide a casa com dezoito gatos, três cães e um pássaro. Bruna relata que seu pai acredita que ainda deva existir lobisomem na

Crença antiga e maldições, que passam de pai para filho, fazem da Barrinha um lugar de mistério

à

VANESSA PULS

ALAN GRESSLER

Barrinha e que ele dorme com todos os felinos dentro de casa, e é o pai dos gatos do bairro, pois quem encontra algum abandonado o leva para ele criar e ele aceita com muito gosto. “Os gatos que aqui chegam acabam se reproduzindo e a família cresce”, diz. “O pai dorme com três felinos na cama com ele, pois tem medo que os bichinhos sejam mortos por algum lobisomem que ainda exista por aqui”, completa a jovem. Outros moradores antigos também confirmam terem ouvido muitas histórias. É o caso de Valdemar Marcos da Silva, de 84 anos, de sua esposa Terezinha Pereira da Silva, de 82 e de Ari Luiz Winck, também com 82. “Certa noite de lua cheia, quando era jovem, me deparei com um homem muito grande a cavalo e com dois lobos negros ao lado”, fala Ari. “Os olhos, não dava para enxergar, escondidos sob a aba do chapéu. Fiquei apavorado, meti o relho no meu cavalo e só parei quando cheguei em casa. Acho que eram lobisomens”, conclui. Seu filho Luiz Winck, de 40 anos, faz parte da outra geração e também vive na Barrinha. Ele afirma acreditar nas histórias contadas pelo seu pai Ari. “Lobisomem é coisa séria, não é lenda, é real, não dá para brincar com isso”, diz. “Essas olarias daqui são muito antigas, são tudo assombradas, os lobisomens adoravam se esconder por lá, eu não me arrisco a ir lá a noite, muito menos se for de lua cheia”, completa. Delmir e Ari, assim como Valdemar e Terezinha, vivem há mais de 60 anos na Barrinha e são amigos. Dos quatro, o mais convicto da existência da maldição que passa de pai para filho é Delmir, que tem muitas outras histórias para contar. Quem quiser ouvi-las é só ir ao bairro e procurar por ele. Vai encontrá-lo em uma casa à beira do rio, rodeado de gatos e de Leão, o seu cão cego, o qual adotou há 15 anos. Ou então ele estará passeando de bicicleta por umas das ruas da Barrinha.

- TATIANA OLIVEIRA


10. GENTE

60 anos de companheirismo

são exemplo de longevidade

“E

u não sairia da Barrinha pra morar num apartamento nem se me dessem de presente”, é o que diz o aposentado Waldemar Marcos da Silva, de 84 anos, 60 deles vividos no bairro. Sentado à sombra da enorme taquareira que ladeia sua casa, “Filhinho” – como é conhecido na comunidade – conta que na época em que chegou à Barrinha não havia mais do que cinco casas em toda a localidade. “Ninguém aqui tinha carro, fazíamos tudo a cavalo ou de carroça”, explica. Ao lado da esposa, Teresinha Pereira da Silva, de 82 anos, Waldemar construiu, ao longo de seis décadas no bairro, uma família de três filhos, dez netos e dez bisnetos. Os dois nasceram em Santa Maria do Butiá, distrito de Novo Hamburgo, e se conheceram ali mesmo. “Toda vez que eu passava por ela, já namorávamos mesmo sem ela saber”, conta, entre risos, o aposentado. Casaram em 1954 e construíram uma casa na Barrinha, onde abriram um bar. Filhinho lembra com gosto das rinhas de galo, das carreiras

de cavalo e tiros de laço que aconteciam no bairro, seus passatempos preferidos na juventude. “Ele caía muito dos cavalos, estava sempre se quebrando”, ri Teresinha. Aposentados desde os 60 anos, o casal passou a dedicar suas vidas a um par de coisas simples como catar goiabas para fazer chimia, varrer as folhas que caem dos pés de taquara e tratar as galinhas que correm soltas pelo pátio. “Quem traz as galinhas é o Adelar, ele gosta de deixar elas aí”, conta Teresinha. Adelar é o único dos três filhos do casal que ainda mora na Barrinha, suas irmãs Rosana e Regina vivem em cidades vizinhas. O que não impede que a presença da família seja uma constante na vida de Waldemar e Teresinha. “A casa está sempre cheia, nunca estamos sozinhos”, conta ela. O crescimento do bairro incomoda um pouco Waldemar. “Depois que chegou o asfalto, acordo de madrugada com o barulho dos carros”, reclama. Mas ele entende que o progresso faz bem. “Agora os mais novos constroem suas casas e ficam aqui”. Mesmo com o crescimento dos últimos anos, a Barrinha continua sendo um local tranquilo, onde todos se conhecem e se ajudam. “Aqui nunca teve bandidagem, é muito bom de viver”, relata Teresinha. O prazer de ver os bis-

GUILHERME ROSSINI

netos brincando é uma realização para o casal, que esbanja vitalidade. Segundo eles, a longevidade não tem segredo. “Viver feliz, com otimismo, é o que tentamos fazer”, diz Teresinha. “O Waldemar come de tudo e não há problemas com a saúde. Ele está sempre de bom humor e bem disposto”. Para Filhinho, trabalhar, poupar e ajudar os outros é a chave de uma vida longa. “Deus ajuda quem faz a sua parte. Quem é bom vive mais”, define.

A sombra da taquareira é o lugar preferido de Waldemar e Teresinha. Mesmo na casa dos 80, o casal cuida dos afazeres domésticos com disposição

à

e à Teresinha Waldemar

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | ABRIL / 2015

- ÉMERSON DA COSTA

ESPORTES

O atleta da Barrinha um hobby, o esporte é um estilo de vida para Celio. “A corrida só me trouxe benefícios. Além de me motivar a estar sempre cuidando da saúde, me sinto mais disposto para realizar minhas atividades e dificilmente tenho gripe, por exemplo”, conta o atleta. A corrida proporcionou a Celio conhecer diversos lugares pelo Brasil. O último troféu foi conquistado em Bombinhas, Santa Catarina, no ano de 2013. Todo ano ele também está presente na Travessia Torres – Tramandaí (TTT), 82 quilômetros de corrida na beira da praia. Os demais colegas de esporte não o deixam ficar de fora de nenhum evento. “Fico sabendo sobre as corridas pelas redes sociais e por colegas que também praticam. Sempre que há algo novo, sou avisado”, conta. “O corredor”, como é conhecido pelos vizinhos da Barrinha, gosta de estar sempre ajudando a comunidade com o que pode. Para a entrevista, teve que

interromper o corte de grama que fazia em frente à igreja. “Gosto de colaborar com o bairro. Estou sempre em contato com a Associação de Moradores para saber o que é preciso,

e no que eu posso, estou ajudando”, diz. Natural de Giruá, Celio mora em Barrinha há 30 anos. As oportunidades no mercado de trabalho foram um dos principais motivos

para a mudança de cidade. “Aqui tive mais opções de empregos. E como lá morávamos em colônias de terra, também sofríamos com chuvas. Aqui é bem mais tranquilo”, conta. En-

quanto as ruas da Barrinha puderem ser usadas como pistas de treino, “O corredor” estará pronto para as próximas maratonas.

- MARIANA NUNES

DANIELA PASSOS

Celio tem mais de uma centena de medalhas e troféus para exibir

à

O corpo atlético de Celio Paulo Parahyba não o deixa esconder que o esporte faz parte da sua vida. Aos 48 anos, o gráfico aposentado tem como principal hobby a corrida, modalidade que pratica há 13 anos. As ruas da Barrinha são o local dos treinos para as maratonas que disputa. Quem entra na casa que divide com a mãe, dona Hilda, é recebido logo na entrada por uma parte das 260 medalhas que conquistou desde 2002. Ele faz questão de exibi-las na parede. Já os mais de 30 troféus, também frutos do esporte, estão enfeitando a sala. A história de Celio com a corrida começou em Ivoti, quando disputou sua primeira maratona, convidado por uma academia. A decepção com as lesões no futebol também o motivou. “Sempre gostei de jogar futebol, mas sofria muitas lesões. Então, resolvi optar pela corrida e fiz a escolha certa, pois em todo este tempo, nunca me machuquei”, completa. Mais que


ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | ABRIL / 2015

RESPONSABILIDADE SOCIAL .11

Abandono de animais é crime

e gatos à Cães são deixados

MARTA FERREIRA

em via pública frequentemente

O

morador Sadi Santos, que já resgatou doze cães das ruas. “Eles aparecem na minha casa, eu me apego e eles ficam”. São animais que por algum motivo não superaram as expectativas de

seus donos e foram “descartados”. Cresceram demais, adoeceram, não eram educados, geraram gastos ou aborrecimentos e foram abandonados nos mais diversos lugares. A rua Pio XII concentra um

grande número de atropelamento de cães, já que a via não possui sinalização ou controle de velocidade de veículos. Dos muitos animais que são deixados no local, pouquíssimos são adotados.

Muitos bichos deixados na via acabam adotados por moradores

à

s moradores do bairro Barrinha em Campo Bom são cercados diariamente por olhares tristes que refletem abandono. A Pio XII, principal rua do bairro, é moradia de grande quantidade de cães, contrapondo o Art. 32, da Lei Federal 9.605, de 1998, que prevê como crime de abandono de animais para aqueles que introduzirem ou deixarem animais em propriedade alheia e vias públicas. A pena prevista pelo Art.32 da Lei de Crime Ambientais é de detenção de 3 meses a 1 ano e multa. A situação de animais de rua representa hoje um problema de saúde pública. Cães e gatos sujos, magros, famintos e doentes, muitas vezes invisíveis aos olhos da sociedade, reviram lixo atrás de comida,vivem sob o sol forte ou o frio intenso do inverno. A solidariedade dos moradores do bairro Barrinha, no município de Campo Bom permite que alguns desses animais sejam adotados e finalmente tenham um lar. É o caso do

Evaldo Nunes mora na Barrinha há 25 anos, e já deu um lar a vários animais da rua. “Eles estavam perdidos. Fiquei com pena. Como não tinha nenhum, resolvi adotar”, conta o industriário, que atualmente cuida de dois cães e três gatos que deixaram em frente à sua residência. Segundo o secretário do Meio Ambiente, José Orth, a conscientização da população acerca da guarda responsável de animais domésticos é o primeiro passo para amenizar o abandono. Considerando o fato de a cidade de Campo Bom não possuir um canil municipal, a cada 15 dias a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sema) promove o Dia D Adoção. Uma feira com o propósito de tirar das ruas animais que sofriam maus tratos ou encontravam-se em situação de vulnerabilidade. A maioria, recolhidos e levados por moradores do bairro para adoção. Ações como essa trazem benefícios imediatos aos cães e gatos que sofrem diariamente com os maus tratos e a vida nas ruas, fornecendo a eles um lar saudável, seguro e protegido.

- MARIA ROSELI

PRESERVAÇÃO

Moradores reclamam do lixo no rio um monte de coisa”. Pensando em mudar essa realidade que a Escola Municipal Princesa Isabel desenvolve um trabalho com os estudantes. Lá, as crianças da Barrinha aprendem que é errado jogar lixo na rua. São elas, inclusive, que fazem as placas – colocadas nas margens do rio – que lembram o fato de que poluir é errado. Outro projeto feito pelos alunos é o plantio de árvores na orla do Rio dos Sinos. A Secretaria de Meio Ambiente (Sema) de Campo Bom realiza ações com o mesmo intuito: a cidade tem coleta seletiva e o Cacotreco recolhe móveis, eletrodomésticos e pneus de quem não os usa mais. A assessora de Gestão Ambiental da Sema, Cristiane Hermann, diz que “o objetivo do programa é diminuir o descarte irregular”. Porém, a ação não conseguiu acabar com os despejos no rio. Segundo Maglia, quando isso acontece, os moradores buscam a prefeitura. “Um fiscal vai até o local e tenta descobrir quem é o responsável”, explica Cristiane. Se identificado recebe

uma autuação para que retire os resíduos. Se não, a Sema faz a limpeza. E é assim, tentando conscientizar a população por meio de ações como a das crianças e com a ajuda de programas que incentivam a não poluir o ambiente, que os moradores da Barrinha esperam reverter a situação. Storck deseja que a geração da filha, Tauana – que acaba de entrar para a escola –, mude a realidade em que o rio se encontra.

ALINE CASIRAGHI OLIVEIRA

- FRANCIELE COSTA ALAN GRESSLER

Descarte de resíduos no rio é uma constante no bairro

à

Barrinha está na beira do Rio dos Sinos, que abastece 32 cidades do Estado. É pensando na importância do rio que os moradores querem impedir que descartes de resíduos aconteçam nas margens. Entre as placas que sinalizam “Não jogue lixo”, estão restos de materiais de construção, sacolas e garrafas. Os moradores tentam ajudar: barram cargas de lixo que iriam para a água e limpam a sujeira. Trabalhos de conscientização também são feitos na escola. “Caminhões de empresas de fora vem despejar coisas aqui”, diz a presidente da Associação de Moradores do bairro, Maglia Reinehr. “Esses tempos, um morador conseguiu barrar um caminhão que pretendia largar uma carga de pneus e ligou para a Polícia. Mas nem sempre conseguimos fazer isso”, conta. Para Samuel Storck, que mora no bairro desde que nasceu, é triste ver a realidade em que o rio se encontra. Ele adora pescar e reclama: “Quando colocamos a rede, além dos peixes, vem junto lata, garrafa pet, papel e mais


12. OBRAS

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | ABRIL / 2015

Nova ponte é o sonho de todos

acesso à Principal se tornou

PRISCILA SERPA

pequeno para o progresso local

A

Sapiranga, Lomba Grande, que passa também”, salienta. O sonho de todos é que outra seja construída, cerca de 100 metros abaixo. “Durante a semana, principalmente, no horário do meio-dia, o fluxo é intenso. Outra ponte ajudaria, já que é por ali o acesso principal. Poderia ser feita uma para ir e outra para voltar”, destaca Mateus Schein, funcionário da BS Pneus. “Seria o certo, ainda, colocar quebra-molas, porque o pessoal costuma passar muito rápido

na curva, sem diminuir a velocidade. Isso já deu muitos acidentes aqui”, informa. Édila Schein, mãe de Mateus, lembra: “Recentemente, teve acidente com duas motos. Na ponte, ainda, aconteceu de um caminhão ficar empenhado no horário do meio-dia e se formaram filas dos dois lados. Trancou tudo. Apenas dava para passar a pé, de bicicleta ou de moto”. A presidente da Associação de Moradores, Maglia Reinehr, afirma

que são realizadas reuniões uma vez por mês, nas quais todos podem dar sugestões. Na última, foram recolhidas assinaturas para um abaixo assinado reivindicando a construção de uma nova. “Combinamos, igualmente, de alguém ficar próximo para contar quantos veículos passam e, assim, termos esse mapeamento. Dessa forma, mostrar que há muito fluxo”, argumenta. Sadi Santos, vereador (PMDB), pondera que já

foram recolhidas aproximadamente cinco mil assinaturas. “Um projeto foi apresentado em Brasília, porém o Governo Federal respondeu que a responsabilidade disso cabe ao Governo Estadual e Municipal”, explica. “É necessário que esses dois, então, entrem em acordo, já que a Administração Municipal reconheceu que não há verbas suficientes para bancar essa obra sozinha”.

Governos Estadual e Municipal precisam se unir para que outra seja construída

à

ponte da Barrinha é o ponto de referência desse bairro de Campo Bom. Construída no final da década de 1960, é a principal entrada e saída. Os tempos passaram, o comércio se desenvolveu e ela continua sendo a mesma. Dessa forma, os moradores sonham com a construção de uma nova. Ilse Nikititz reside há 24 anos no local. “Quando um carro passa na ponte, o outro tem que esperar. Há muito cuidado com as crianças e bicicletas”, comenta. “Seria uma boa a construção de outra, pois daria mais fluidez. Essa treme muito quando passa caminhão”. Leandro da Silva, diretor da Transportadora Mandacaru, observa que houve grande progresso comercial. “Meu pai comprou o terreno em 1968 e a ponte foi construída em seguida. Antes as barcas eram a opção para se mover de um lado para o outro do rio”, conta. “Utilizamos bastante e tem gente do interior de Novo Hamburgo, Taquara,

- JÉSSICA SOBREIRA

TECNOLOGIA

Sinal ruim é queixa dos usuários de internet Seis anos depois de Campo Bom ser destaque na mídia como o primeiro município brasileira a cobrir 100% de seu território com internet gratuita, a Barrinha ainda enfrenta dificuldades para se conectar à rede sem fio. A busca por lugares estratégicos, onde o sinal é melhor, e a contratação de serviços particulares são algumas das opções dos moradores. As imediações da Escola Municipal Princesa Isabel são um dos lugares mais disputados por quem busca o acesso web gratuito. É lá que se reúnem nas horas de lazer a estudante Ariane Eloísa Nikititz e a ex-auxiliar administrativa, Ana Paula dos Santos. As amigas costumam se encontrar na frente da escola para conversar e acessar, via celular, a internet gratuita oferecida pelo município. Para Ana Paula, essa é a principal alternativa de inclusão digital. “Às vezes uso o 3G no celular, mas é caro. Gosto de me conectar para falar com a família e para

me informar, saber da inscrição da creche, o horário dos estabelecimentos, coisas práticas”, exemplifica. Elas explicam que o problema da conexão na Barrinha é o ponto de distribuição do sinal wireless, instalado na escola: para captá-lo é preciso comprar uma antena. Por não ser plano e ao mesmo tempo ser muito arborizado, o território oferece obstáculos naturais que dificultam a conexão. É preciso estar muito próximo à Princesa para conseguir acessar a internet. Na casa de Ana Paula, mesmo com a compra da antena, não foi possível captar sinal. Os moradores com recursos financeiros para contratar um serviço particular de internet também enfrentam dificuldades. É o caso da professora e proprietária de olaria, Carla Juliana Müller Caberbon. “Tem dias que está tudo bem, em outros é péssimo. Estou há três dias sem conexão e não consigo imprimir as notas fiscais, o que prejudica a olaria”, desabafa.

LUAN PAZZINI

Proprietário de uma das empresas que prestam serviços particulares de internet no bairro, Cesar Nazário diz que tem se empenhado em melhorar a situação. Entre as medidas está a colocação de postes mais altos para captar o sinal e o corte de vegetação ao redor das casas.

Para a professora, o ideal seria que a Barrinha inteira pudesse se conectar à rede gratuita. “O serviço privado custa em torno de R$ 99 mensais. Para a nossa realidade, ainda é um valor alto e que restringe o acesso para a maioria dos moradores”.

- JULIANA FRANZON

à Ariane (acima)

e Ana Paula (ao lado) buscam locais estratégicos para conectarem-se ao wi-fi


VARIEDADES .13

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | ABRIL / 2015

Campo de jogos é opção de lazer

já foi à Local Centro de

LUCAS MÖLLER

O campo recebe jogos, ações beneficentes e atividades de lazer que atraem os moradores da Barrinha. O local é como um filho para seu Gomercindo

à

Treinamentos do 15 de Novembro

O

futebol, uma paixão nacional, também é uma das atividades de lazer da Barrinha. Existem campos onde alguns clubes disputam seus jogos. É o caso do Esporte Clube Santa Maria, localizado na divisa com o bairro Lomba Grande, de Novo Hamburgo. O campo foi construído em um terreno costeado pelo Rio dos Sinos e conta com 30 anos de atividades, 20 destes foram utilizados pelo Clube 15 de Novembro para treinamentos. Foi o primeiro Centro de Treinamentos (CT) do clube profissional. “Lembro de dois momentos em que a imprensa lotou as cercas com câmeras e repórteres, na semifinal da Copa do Brasil de 2004 e na final do Gauchão de 2005 contra o Inter”, destaca o dono do campo, Gomercindo Guimarães, de 65 anos. Ele conta que já viu e conversou com treinadores e jogadores conhecidos no Estado. Mano Menezes, Luiz Carlos Winck e Sandro Sotilli são os mais famosos. O campo recebe jogos de clubes amadores. Em

sua história já recebeu o Campeonato Varzeano de Campo Bom e o Circuito de Verão da Lomba Grande. O local também é cedido para realização de ações beneficentes. A professora Maura Krause, de 43 anos, que lecionou na Escola Presidente Washington Luiz, conta que trazia seus alunos

para atividades. “Devido à falta de estrutura na escola, trazia eles para jogar bola. Como o Rio dos Sinos é ao lado, em muitas visitas realizávamos estudos”, ressalta. Uma pesquisa realizada na Barrinha apontou que o campo é uma referência quando o assunto é lazer. Samir Martins, de 34 anos,

que joga há quatro no campo, confirma a estatística. “Aqui posso praticar meu esporte com harmonia e ainda trazer a família, são poucos espaços como este na região”. O local futuramente deverá receber uma praça para proporcionar mais espaço para diversão.

- JULIAN DE SOUZA

ASSISTENCIALISMO

Ação social auxilia morador sentando vários ritmos, desde música gaúcha, passando por sertanejo e samba. No momento, está impossibilitado de tocar, mas os filhos estão acompanhando o seu lado musical. O pai lhe ensinou a lidar com instrumentos, tanto que entrou para o Exército de Bagé e em seguida foi transferido para Cruz Alta, onde permaneceu na banda do exército. Depois de Cruz Alta, foi mandado para a Brigada Militar de Campo Bom, quando acabou se estabelecendo na Barrinha, há aproximadamente 30 anos. A esposa dele, Janeci Ferreira de Moura, de 37 anos, é natural do bairro. Após um ano de atividade na cidade de Campo Bom, abandonou a Brigada e começou a trabalhar nas fábricas da

região. Ele está contente com a realização do evento, o que certamente será de grande importância no seu processo de recuperação.

- ANA ELISA OLIVEIRA

Sabará se recupera de um AVC

à

Irio de Moraes Leal, de 55 anos, mais conhecido como Sabará, é o motivador de uma ação social para ajudá-lo na recuperação de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A comunidade se uniu em torno da causa e realizou um show de viola beneficente na sede da Associação de Moradores do Bairro Barrinha. Sabará ficou em coma por dois dias, perdeu boa parte dos movimentos e a fala. Há dois meses está em casa e já consegue ter alguma movimentação e conversar. Ele se mostra alegre com o apoio dos vizinhos, enfatiza que lá sempre há causas solidárias, já que todos se conhecem. O grupo que tocou no evento para auxiliar Sabará já contou com a presença do próprio. Eles tocavam em bailes e festas pela região, apre-

Igrejas atraem poucos fiéis

DANIELA PASSOS

À primeira vista, ela parece um galpão. A cruz de madeira no chão, no entanto, revela que ali está a única igreja católica da Barrinha, que completa 20 anos neste ano. Mais imponente, a sede da igreja evangélica Assembleia de Deus chegou em 1999 na comunidade. Ambas buscam levar uma palavra espiritual para os moradores, que, em muitos casos, acabam se distanciando da religião. Na vida de Teresinha Pereira da Silva, de 82 anos, a religiosidade está presente desde a infância. Uma das mais antigas moradoras da Barrinha, ela cuidou por mais de uma década da organização da igreja católica. Desde 1954 vivendo no bairro, a dona de casa participou do grupo de moradores que reuniu doações para a construção do templo, que fica ao lado de sua casa. “Eu tenho muita fé. Acredito que quem tem fé consegue o que quer”, revela. Segundo Teresinha, cada vez menos fiéis comparecem

às missas, que ocorrem duas vezes por semana. A comunidade se reúne em maior número na festa anual em homenagem à Nossa Senhora dos Navegantes. O evento serve como arrecadação de fundos e como lazer para a comunidade. Seguidora da Assembleia de Deus, Marilene Alves da Maia de Bastos, de 35 anos, também tem uma forte crença. É com orgulho que ela fala sobre a sua missão como líder dos jovens, os quais considera como seus filhos, uma vez que ainda não é mãe. “Nós criamos um vínculo com o povo daqui”, destaca. Para Marilene, o trabalho junto aos adolescentes é fundamental a fim de que se diminua a quantidade de jovens nas ruas. Além dos cultos, realizados todas as semanas, missionários da Assembleia de Deus percorrem as casas para catequizar a população, que comparece pouco aos encontros.

- BELISA LAZZAROTTO


14.

ENFOQUINHO Tia Éza cuida das crianças

de trabalho à União e amor às crianças

leva senhora a auxiliar os pais da vizinhança

O

bairro humilde e muito familiar possui uma escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Mesmo com todos os benefícios que a escola possui para acolher as crianças, os pais ainda preferem o modo antigo que normalmente é adotado no interior das cidades, que é o de deixar com familiares ou vizinhos. Lenira Pinto, 52 anos, a tia Éza, como é conhecida no bairro, faz esse serviço há aproximadamente 12 anos e iniciou apenas com um bebê de um vizinho que solicitou seus cuidados porque tinha confiança e ofereceu uma ajuda de custo. Na época desempregada, sem pensar muito, a senhora concordou e logo recebeu mais indicações. Atualmente, em sua própria residência, ela cuida diariamente de seis crianças, de segunda a sexta-feira. “Quando eles não estão eu sinto falta, estou acostumada com os meus bebês”, afirma Lenira. Sentada em frente de casa, tendo a sua atenção disputada por vozes fininhas

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | ABRIL / 2015

que mal sabem pronunciar as palavras, a autônoma se sente realizada. “Quando chega criança nova é um desafio, quanto mais berrão, mais eu gosto e quero tirar a balda e assim eu me apego com eles”, afirma, sorridente. Embora tenha livros espalhados pelo pátio e no interior de casa, eles são utilizados mais para distração do que para o ensino. O pátio possui um balanço, mas a árvore é onde a criançada mais se diverte, subindo e descendo durante longas horas. A poucos metros da residência de Lenira, está localizada a EMEF Princesa Isabel juntamente com a EMEI Princesinha, que possui de turmas de berçário, a partir dos quatro meses, até o 5º ano do fundamental. A diretora, Zoraia Ramm, acredita ser de suma importância que as crianças comecem a frequentar a escola desde o berçário. “Assim eles não possuem problemas de adaptação, pois ao passarem para o ensino fundamental já estarão inseridos no mesmo espaço”, destaca Zoraia. Este ano abriram oito vagas no berçário I, que atende crianças de quatro meses a um ano, e 16 vagas para o berçário II, que vai de

se sentem à Pais seguros ao

FRANCIÉLEN SEVERO

deixar os filhos sob os cuidados de Lenira Pinto, a famosa tia Éza por aqui

um até dois anos de idade. Mesmo com este número de vagas, a diretora afirma que sobraram lugares para as turmas de Educação Infantil, que foram cedidas aos moradores de bairros vizinhos. A coordenadora da escola, Ursula da Silva, salienta que as aulas de educação infantil ganharam novas atividades, que são as aulas de dança, inglês, música e informática, e que, com tantos benefícios oferecidos, desconhecem os motivos pelo não preenchimento das vagas. Patrícia Pacheco Macedo, 23 anos, trabalha em uma empresa de calçados e deixa seu filho Vitor, 2 anos, aos cuidados da dona Lenira. Ela deixa claro que não

Jogo dos 7 erros

troca os cuidados da tia Eza por nada. Vitor, desde os 4 meses de idade, frequenta a casa de Lenira e, segundo a mãe, ela não mede esforços para agradar as crianças. Ela muitas vezes faz até a comida

preferida que eles solicitam. “Não vale a pena colocar ele em escola, ele é apaixonado pela Tia Eza e a gente se sente mais seguro porque sabe que ela trata bem ele”, afirma a mãe, que não abre mão de

Os desenhos parecem idênticos, mas não são! Descubra onde estão as sete diferenças entre eles. As respostas serão publicadas na próxima edição. Depois, aproveite e pinte as imagens de forma bem coloridas. ILUSTRAÇÃO DE PAULO JUNIOR

deixar seu filho com alguém da sua confiança, pois já está cansada de ver na mídia notícias tristes de agressão contra crianças.

- FRANCIÉLEN SEVERO


.15

ENFOQUE BARRINHA | CAMPO BOM (RS) | ABRIL / 2015

Brincadeiras ocorrem ao ar livre

identidade à Ainfantil da

DANIELA CRISTÓFOLI

comunidade

B

BICICLETA, FUTEBOL E ANDAR A CAVALO É COMUM AQUI

ano que Frederico faz a viagem de van até Porto Alegre, três vezes por semana, para conquistar um de seus sonhos - o de ser jogador de futebol. Mas Frederico também se diverte com os amigos sempre que pode. “É impossível pensar em uma Barrinha sem amigos”, diz Eduardo da Costa, de 12 anos, ao lembrar que a maioria dos amigos que tem são do bairro e os conheceu na escola. Ele, que tem uma grande amizade com Frederico, compartilha com o amigo as diferentes atividades que se envolvem durante o dia. Além do estudante, Débora Ribei-

ro, de 17 anos, diz que na Barrinha as pessoas têm uma amizade solidária umas com as outras, pois sempre que alguém precisa, a população do bairro está disposta a ajudar. E isso a faz pensar em não sair de onde mora desde pequena. Ela, que passa seus sábados cuidando, brincando e se divertindo com o sobrinho, Rafael Ribeiro Nunes, de 4 anos, almeja ingressar na faculdade, para cursar Gastronomia ou Artes Cênicas, que está bem ligada ao teatro, que, conforme os seus amigos, ela tem talento.

- FRANCISCA GABRIELA

A natureza é o cenário que incentiva a diversão entre amigos fora do mundo virtual

à

rincadeiras com bola, panelinhas, playstation 2, bicicleta e brincar com os animais domésticos são as diferentes atividades que envolvem as crianças do Bairro Barrinha, no município de Campo Bom. Algumas mais despojadas. Outras, nem tanto. Os gostos pelas brincadeiras variam de meninos para meninas, mas isso não impede que eles tenham gostos idênticos uns dos outros. Para as crianças, na Barrinha não falta nada. Eles têm tudo de que precisam ali: amigos com quem brincar. Esses amigos podem ser da família ou não. Isso não importa. O que importa é brincar. É curioso pensar em um ambiente em que as crianças não possuem tanto contato com a tecnologia, e sim, com a natureza e com brincadeiras mais simples, como é o caso Kéthlin da Costa, de 5 anos e Luiza Müller, de 12. Ambas possuem uma preferência aparentemente singular, mas no bairro Barrinha, há outras crianças que praticam o gosto pela mesma aventura: andar a cavalo. A pequena Kéthlin precisa de ajuda para subir no cavalo e que alguém o conduza para ela. Já Luiza, que conhece a prática de andar a cavalo desde os quatro anos de idade, demonstra bem sua postura ao montar. Não pratica esportes com cavalos, apenas anda por hobbie, com seus amigos, ali mesmo, na Barrinha. Além de cavalos, na maioria das residências da Barrinha há outros animais, como pato, galinha, porcos, bois e cachorros. Os meninos da Barrinha também gostam de brincar bastante, porém a preferência deles é com jogos. Tanto com o playstation 2, que é uma brincadeira mais para dentro de casa quanto para jogos com bola, no caso o futebol, que entre a gurizada é disputado na cancha de areia, perto da Associação de Moradores do Bairro Barrinha. Para Frederico da Silva, de 13 anos, a brincadeira começou a ser levada mais a sério. Ele, que jogava no Sport Club Americano, de Novo Hamburgo, foi convidado por um grupo de olheiros a integrar o time da Escolinha do Grêmio Guaíba, em Porto Alegre. Há um

A bicicleta é uma atividade divertida para os pequenos, que pedalam velozmente na rua sem movimento dos automóveis, como faz Dienifer Freire Frazão, de apenas 3 anos. Para os irmãos Eduardo da Costa, de 12 anos e Alex Júnior da Costa, de 13 anos, a bicicleta, que era um brinquedo, vira um meio de transporte e os leva ao barbeiro para cortar o cabelo. Frederico da Silva Santos, de 11 anos, que acompanha seus amigos Eduardo e Alex, revela que gosta muito de jogar futebol. Seu empenho o levou a treinar primeiro no clube Americana, em Novo Hamburgo e, em seguida, a treinar na escola de base do Grêmio em Porto Alegre. Para isso, ele se desloca até o clube três tardes por semana. Quando podem, os três amigos se reúnem para jogar videogame ou ver filmes de ação na TV. A diversão de Kathlin da Costa, de 5 anos e Luiza Muller Caberlon, de 12 anos, é mais inusitada. Elas gostam de montar a égua Menina, de 15 anos e passear pelo campo. Além disso, Kathlin acabou de ganhar um cachorro, Sno-

opy, de 2 meses e que já se tornou um grande companheiro de brincadeiras. Débora Ribeiro, de 17 anos, já é responsável por cuidar de seu sobrinho Rafael Ribeiro Nunes, de 4 anos, que adora o futebol. Rafael também ajuda a cuidar dos cachorros da casa e diz não ter medo de nenhum deles, mesmo os mais bravos. Gabriel da Silva Santos, de 5 anos, acompanha o pai na olaria no sábado de manhã. Para ele, os brinquedos mais interessantes são o carrinho e a bicicleta. Na escola, se junta com seus amigos para balançar na gangorra. No sábado cedo, as irmãs, Ana Laura Capela Wirilli, de 9 anos e Maria Eduarda Capela Wirilli, de 10, se espalham no sofá para assistir televisão. Mas a aparente monotonia é quebrada pela irmã menor, Júlia Rafaela, de 2 anos, que anda por todos os lados com o boneco da Peppa Pig. Esse descanso contrasta com a descrição das atividades da escola – queimada, futsal e xadrez, que nas quais Maria Eduarda se destacou em torneios entre as escolas.

- ANA FUKUI


ENFOQUE BARRINHA À beira do rio

A

rua Pio XII é a principal via que atravessa o Bairro Barrinha. É por ela que seus moradores interligam suas casas, mercados, bares e escolas ao Rio dos Sinos. O problema é o acúmulo de lixo - atitude muitas vezes tida pelos próprios moradores - à beira do rio, tornando o local impróprio para viver. Como modo de perpetuar maior conscientização com o ambiente local, parte da comunidade trabalhou na colocação de placas - algumas com menos de 10 metros de distância em relação às outras - que pedem por aquilo que está em falta: mais sensatez com o meio onde se vive.

CAMPO BOM (RS) ABRIL DE 2015

EDIÇÃO

1

LEANDRO LUZ

DANIELA PASSOS

VITÓRIA SANTOS

DANIELA PASSOS

RAFAELA AMARAL


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