ENFOQUE
REGIÃO NORDESTE
SÃO LEOPOLDO
SÃO LEOPOLDO / RS DEZEMBRO DE 2020
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ARQUIVO PESSOAL DE JUSSARA DIAS BUENO
A FORÇA FEMININA NA CHICO XAVIER
DEPÓSITO DE LIXO VIROU HORTA COMUNITÁRIA
Sonhos e Sabores é um empreendimento que reúne dez mulheres toda sexta-feira para produzir pães
Poder cuidar da terra e do que a comunidade planta para se alimentar é o projeto de vida de Flora Schneider Página 13
ARQUIVO PESSOAL
ARQUIVO PESSOAL
ARQUIVO PESSOAL
INICIATIVA GERA RENDA E ALIMENTA AMIZADES
Página 12
DIRIGIDA POR QUATRO MULHERES, A ESCOLA DESENVOLVE INÚMEROS PROJETOS QUE TORNAM CRIANÇAS E ADOLESCENTES PROTAGONISTAS DO PRESENTE Páginas 24 e 25
UM SOPRO DE ALÍVIO Através do projeto Correio Teatral, jovens da Região Nordeste trocam cartas e encontram uma maneira de aliviar o peso do isolamento Página 16
2. Editorial
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
As crianças brincam na Tenda da Resistência, enquanto suas mães fazem pão num empreendimento que chamaram de Sonhos e Sabores
Região Nordeste, região de sonhos
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este semestre, o jornal Enfoque iniciou uma nova fase, cujo foco passou a ser a rotina, a força e os desafios da comunidade da região Nordeste de São Leopoldo. Durante a pandemia, os obstáculos se tornaram maiores e a comunicação ficou mais limitada (já que, em razão das medidas de prevenção ao Coronavírus estipuladas pela Organização Mundial da Saúde, e seguidas pela Unisinos, as entrevistas foram realizadas a distância). Recebemos nas nossas aulas online membros de diversos projetos da Região Nordeste de São Leopoldo e ficamos impressionados com a força e organização de uma das comunidades mais afetadas pela Covid 19 na cidade. Saímos atrás das histórias sem poder sair de casa. Agradecemos por terem nos recebido de braços abertos e por terem dedicado uma parte de seu tempo para contar as suas histórias. Nossa missão é dar visibilidade à luta de cada um e de grupos de pessoas que enfrentam
QUEM FAZ O JORNAL O Enfoque Região Nordeste é um jornal-laboratório dirigido às comunidades dos bairros Rio dos Sinos e Santos Dumont, em São Leopoldo (RS). A publicação tem tiragem de 1 mil exemplares, que são distribuídos gratuitamente na região. A produção jornalística é realizada por alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos (campus de São Leopoldo). REDAÇÃO – Disciplina: Jornalismo Cidadão. Orientação: Sonia Montaño (soniam@unisinos.br). Reportagem: Alexsander Machado, Amanda Krohn, Anderson Dilkin, Ângelo Gabriel Santos, Gabryela Magueta, Henrique Bergmann, Henrique Tedesco, Laura Blos, Luciano Pacheco, Mayana Serafini, Paola Cunha, Tainara Mauê, Thariany Mendelski, Thiago Borba, Thomás Domanski e Tynan Barcelos. Colaboração: Danton Boatini Junior. ARTE: Realização: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Projeto gráfico, diagramação e artefinalização: Marcelo Garcia. IMPRESSÃO: Gráfica UMA / Grupo RBS.
dificuldades enormes. Sempre ficamos com a sensação de que o jornal diz pouco em relação à força que move as iniciativas na região. Ter ouvido relatos de tantas conquistas no meio da adversidade nos incentiva a ir atrás de nossos sonhos. Nessa edição, conheceremos um pouco sobre o trabalho da Rede Solidária São Léo, uma parceria entre a Unisinos e outras organizações que unem suas forças à comunidade da região. Entenderemos melhor as iniciativas para responder aos desafios impostos pela segurança alimentar. Percorreremos os projetos Movidos pela Arte e Explosão de Dança, que dão esperança a jovens e adolescentes. Saberemos mais sobre o trabalho da Associação Meninos e Meninas do Progresso (AMMEP) com sua proposta de formação integral. Ouviremos parte da população mais vulnerável em tempos de pandemia, como as gestantes e os idosos. Acompanharemos a rotina das UBS com seu papel fundamental diante da Covid 19. Conheceremos os projetos do Centro de Referência de Ação Social (CRAS) que não são poucos e acompanham todas as necessidades das famílias da Nordeste. Foram diversas pautas que deixaram a comunidade mais próxima de cada um de nós, apesar dos ruídos possíveis pela distância. Esperamos que gostem de ler as reportagens tanto quanto gostamos de escrevê-las. OS EDITORES
ONDE FICA A REGIÃO NORDESTE SANTOS DUMONT l l BOA VISTA
24.543 habitantes 2º bairro mais populoso
RIO DOS SINOS l l
SCHARLAU
4.705 habitantes 15º bairro mais populoso
ARROIO DA MANTEIGA
TELEFONES ÚTEIS
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Avenida Unisinos, 950. Bairro Cristo Rei. São Leopoldo (RS). Cep: 93022 750. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@unisinos.br. Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: Pedro Gilberto Gomes. PróReitor Acadêmico e de Relações Internacionais: Alsones Balestrin. Pró-reitor de Administração: Luiz Felipe Jostmeier Vallandro. Diretor da Unidade de Graduação: Sérgio Eduardo Mariucci. Gerente dos Cursos de Graduação: Paula Campagnolo. Coordenador do Curso de Jornalismo: Micael Vier Behs.
CAMPINA SÃO MIGUEL VICENTINA
FEITORIA SÃO CENTRO JOSÉ FIÃO
PADRE REUS SÃO JOÃO BATISTA
CRISTO REI
PINHEIROS RIO SANTO BRANCO ANDRÉ CAMPESTRE JARDIM AMÉRICA
SANTA TERESA DUQUE DE CAXIAS FAZENDA SÃO BORJA
ENTRE EM CONTATO
enfoquesaoleopoldo@gmail.com
ARQUIVO PESSOAL
Bombeiros 193 Brigada Militar 190 SAMU 192 Polícia Civil 3590 3737 Hospital Centenário 3590 1111 Polícia Rodoviária Federal 3568 2837 3568 2920
Comunidade .3
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
O Natal Solidário da Jaqueline Moradora inicia ação que visa contribuir para as comemorações de final de ano das pessoas com poucas condições financeiras
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Natal se aproxima e, junto com ele, a solidariedade, o desejo de querer o bem do próximo e realizar boas ações. É com esse pensamento que o projeto Natal da Vila Progresso surgiu, com a esperança de proporcionar um final de ano mais alegre para moradores da ocupação Steigleder, na Vila Progresso. Tudo começou há 10 anos, quando Jaqueline dos Santos Rodrigues (37), recicladora e moradora da comunidade, precisou de ajuda. Seu pai – já falecido – tinha sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) e foi proibido pelos médicos de fazer esforço físico. “Nós trabalhávamos de carreta catando material, eu, ele e meu marido e não tínhamos condições financeiras de para todos que estavam ali”, excomprar os remédios e mais a plica a líder comunitária. comida pra ele. Na época, eram No ano seguinte, Jaqueline oito tipos de remédios, eu esta- precisou escrever outra carva grávida, então decidi colocar ta, mas dessa vez foi para sua uma carta nos correios pedindo cunhada que estava passando ajuda pra ele”, relembra. por uma situação difícil com A Campanha Papai Noel dos seus filhos. Sua carta foi escoCorreios é realizada, anualmen- lhida pela mesma mulher note, pelos Correios do Brasil. A vamente, que trouxe os pedidos adoção de cartas da campa- da sua cunhada e também para nha é sempre feita da mesma ela. Ela conta que um ano depois forma. As cartas foi procurada por são enviadas por a mulher “Para não deixar Lula, crianças e por que vinha ajupessoas que pre- ninguém triste dando-a ao longo cisam de ajuda e dos anos. Nessa eu pedi que ela depois são lidas visita, Lula proe selecionadas. escolhesse um pôs a Jaqueline Em seguida, são a ideia de reunir disponibilizadas presente para as cartinhas das para adoção. Ja- cada um dos crianças e das queline conta que mães das crianescreveu a sua meus filhos e ças para que um carta e deixou no o resto poderia grupo de profescorreio, quando sores, ao invés de foi no dia 24 de distribuir para ir aos correios, dezembro uma todos que pegassem direto mulher chamada com ela as carLula Ávila apare- estavam ali” tinhas. ceu na sua casa Jaqueline Rodrigues O projeto Nacom os pedidos Recicladora tal da Vila Proe também com gresso foi criado presentes para seus filhos: “Ela pela Jaqueline, que é líder da chegou com o porta-malas do comunidade, e pela Lula Ávila. O carro cheio, e como o pessoal projeto reúne um grupo grande aqui quase nunca ganhava nada, de professores e amigos que toquando eles viram o carro já es- dos os anos pegavam cartas nos tavam vindo para perto. Ela toda Correios para ajudar diferentes sem jeito me explicou que só comunidades. Todo ano a Jaquetinha trazido coisas para mim line mobiliza a comunidade a e para as crianças e na próxima escrever suas cartas para o Papai vez ia trazer para os outros. Mas Noel. Assim que ela recebe essas para não deixar ninguém triste cartas, lê uma por uma e organieu pedi que a Lula escolhesse um za todos os pedidos para que o presente para cada um dos meus grupo de professores consiga se filhos e o resto poderia distribuir organizar para atender.
Na entrega dos pedidos, Papai Noel faz a distribuição dos presentes. Cartinhas, como a da Kemily, de 4 anos, foram escritas pelos moradores
Jaqueline relata que em média são recebidas até 300 cartinhas por ano: “É feito um cadastro de todas as pessoas que escrevem as cartas sendo crianças de 0 a 18 anos, ao completar 18 anos a gente retira do projeto para dar lugar a outras crianças. Mães, pessoas com problemas de saúde e idosos também podem participar, o único critério para escrever a cartinha é escrever seus três pedidos, seu nome, idade e contar um pouco da sua história”, ressalta. Os pedidos mais frequentes são leite, fralda, alimentos, roupas, calçados, brinquedos, materiais escolares e doces. As entregas desses presentes são realizadas no dia 25 de dezembro pela manhã, os presentes são colocados no caminhão, todos IURA ÁVILA
identificados. Cada pessoa recebe uma etiqueta com o nome completo, de modo a ser chamado pelo nome e conferido antes de receber o presente. Devido à pandemia do novo Coronavírus, a maioria dos eventos foi cancelada, mas a programação de Natal da Vila Progresso segue firme: “Pensamos em não fazer, mas como todos os anos acontece, as crianças já estavam ansiosas na espera de um presente. Então, decidimos fazer em tamanho menor, diminuindo a quantidade de presentes para dois. Muitos pais aqui na ocupação não têm dinheiro para comprar um presente pro seu filho. No começo da pandemia as crianças já estavam me perguntando se ia ter cartinha”, acrescenta Jaqueline.
Segundo Lula Roberta Avila (47), professora, atualmente são realizados outros projetos com o mesmo objetivo na comunidade. Em épocas de dia das crianças e páscoa também são arrecadados presentes e doces para as crianças. O grupo de voluntários, que faz a entrega das doações, não possui nenhum tipo de auxílio financeiro, cada voluntário pode escolher uma ou mais cartinhas e decidir se vai presentear com todos os presentes que a criança pediu ou se vai poder contribuir com menos. “A sensação de poder ajudar essas pessoas é muito boa, inclusive temos um grupo no WhatsApp de medicamentos, lá nenhum medicamento vai para o lixo. Sempre repassamos para quem precisa. Também, temos um outro de pedidos de ajuda e assim vamos trabalhando. A Vila Progresso ficou marcada no nosso coração”, conta a professora. Para Lula, o sentimento de poder ajudar é uma coisa que já nasceu com ela, visto que sempre fez trabalhos voluntários. Antes de conhecer a Vila Progresso, Lula retirava cartinhas do correio para ajudar outras comunidades, mas, depois que ela conheceu a Jaqueline, ficou impressionada e sentiu que precisava continuar ajudando a comunidade: “As pessoas que participam do projeto gostam bastante e se sentem bem em ajudar. É uma das melhores sensações do mundo”, descreve. THARIANY MENDELSKI
4. Comunidade
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Rede Solidária trabalha pela segurança alimentar Professores e estudantes da Unisinos arrecadam fundos para auxiliar comunidades
realidade das comunidades e, também, das próprias comunidades entre si, onde elas percebiam e descobriram entre si quais eram a realidades mais complexas e mais desafiadoras para isso”, relata a professora Marilene.
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o início do ano de 2020, quando a pandemia começava a se alastrar, ficou claro que o Covid-19 não causaria impacto apenas na saúde. O vírus expôs e acentuou algumas das fragilidades que há tempos estão presentes na realidade de comunidades mais vulneráveis. A ideia da Rede Solidária São Léo surgiu com a professora Marilene Maia, do curso de Serviço Social da Unisinos, por meio da aproximação da universidade com as ocupações urbanas de São Leopoldo, a partir da missão pela moradia digna realizada em 2019. Em março, na primeira visita nas comunidades, a professora percebeu a preocupação dos moradores em relação a já indicada redução de renda, afinal, grande parte deles trabalha com reciclagem. Com o olhar sensibilizado sobre a realidade, já ficou claro no primeiro momento que a higiene era uma questão fundamental. A fragilidade estava anunciada, afinal, como garantir higiene básica não havendo água para isso? Grande parte das ocupações não têm acesso a água, luz e saneamento. E, claro, o álcool gel era inviável dadas às condições de renda. Preocupada com a situação, Marilene fez alguns contatos indicando a situação precária dessas regiões. Com isso, a professora Isamara Alegrette, do curso de Administração e Recursos Humanos, da Escola de Gestão e Negócios, sugeriu fazer uma arrecadação de fundos para comprar sabão da cooperativa Mundo+Limpo, iniciativa formada por mulheres em situação de risco, que vem reciclando o óleo de cozinha da cidade e transformando-o em produtos de limpeza. Feita a arrecadação e distribuição do sabão para a comunidade, foi percebida a necessidade de arrecadar alimentos. Como a renda dos moradores era quase toda destinada para a compra de
Diálogo com comunidades criou uma ponta entre a universidade e organizações
Rede compra alimentos para distribuição nas comunidades e ocupações urbanas comida, a arrecadação poderia ser destinada também para a alimentação. À medida que houve uma sensibilização maior com a causa, se tornou indispensável desenvolver um projeto de forma organizada e transparente para apresentar as propostas e veicular as ações realizadas. A professora Cybeli Morais, da Agência Experimental de Comunicação da Unisinos (Agexcom), colaborou com o projeto e assim foi surgindo a Rede Solidária São Léo. A cada semana a Rede passou a comprar alimentos para distribuição nas comunidades e ocupações urbanas. A preocupação principal foi, e ainda é, que a compra seja realizada no mercado local para incentivo da economia
da região. Nesse momento, foi entendido que havia a necessidade de reunir as lideranças de cada comunidade para discutir os critérios da distribuição, pois não havia recursos suficientes para atingir todo mundo. Assim, foi observada a situação de cada comunidade em relação às condições de saúde, educação e renda. Entre as aproximações feitas com as ocupações, notou-se a que a situação de saúde, devido à pandemia, deveria ser tratada de forma mais profunda entre as mulheres grávidas e mães de filhos pequenos. Assim, surgiu a ideia de reunir esse grupo, mais tarde nomeado de Papo de Mulher, como uma forma de dialogar e notar a situação DIVULGAÇÃO DA REDE SOLIDÁRIA SÃO LÉO
de cada uma em relação à saúde e proteção. Uma das comunidades que ficou mais fortalecida nesse sentido foi a Steigleder, na região nordeste de São Leopoldo. A Rede também cresceu para dentro da Unisinos. O curso de Moda que fez uma grande produção de máscaras para distribuição. Houve uma mobilização de serviços e pessoas, além disso, foram feitas doações significativas e coletas de mais materiais para as comunidades. Nesse ponto, cada vez mais as lideranças de cada região foram fortalecidas como agentes da rede. ‘’Eu penso que um marco importante disso foi o incentivo à experiência de solidariedade, seja quem estava sensibilizado com a
“Os líderes das ocupações, que antes se reconheciam em uma condição invisível, passaram a protagonizar a sua realidade afirmando a relevância de serem visibilizados” Durante as atividades, surgiu a necessidade de discutir educação, saúde e proteção das crianças. Desta forma, o grupo de lideranças e a Rede fizeram reuniões com o secretário municipal de saúde para pensar mais detalhadamente como tratar esses temas nas ocupações, pois existem realidades peculiares e específicas. Com pautas importantes, também aconteceram reuniões com o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, Conselho Municipal de Educação, Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional. Assim foram apresentadas as realidades das ocupações. Graças a esses debates, têm crescido um sentimento, que talvez seja o mais importante de todo o projeto, em que os líderes das ocupações, que antes se reconheciam em uma condição invisível, passaram a protagonizar a sua realidade afirmando a relevância de serem visibilizados. Essas pessoas começaram a querer participar das decisões dos rumos e garantir os acessos aos seus direitos, além de assumirem os seus deveres como cidadãos de São Leopoldo. THOMÁS DOMANSKI
Comunidade .5
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Empoderamento feminino Saúde mental e os direitos das mulheres estão entre os temas abordados pelo projeto Rede Solidária São Léo em encontros no galpão da ocupação Steigleder
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ocê já deve ter ouvido a seguinte frase durante a pandemia “Todos estão no mesmo barco” e, por algum momento, até podemos concordar, mas quando saímos da nossa bolha percebemos que a realidade é bem diferente. A verdade é que as redes de apoio são necessárias para que o barco não afunde e, a partir dessa intenção, que a Rede Solidária São Léo foi criada no início da pandemia do novo Coronavírus, buscando minimizar os efeitos da doença nas comunidades de São Leopoldo, especialmente nas ocupações. Uma das várias iniciativas da Rede é o acompanhamento em saúde mental entre as famílias da Ocupação Steigleder, principalmente a das mulheres. A partir de O Papo entre Mulheres foi criado para a troca de ideias sobre diversos temas. Neste encontro, o assunto foi violência doméstica questões apontadas pelas integrantes do grupo So- o bem-estar de cada cida- na UBS, não é um favor e sim dificuldades da outra. os profissionais já estão nhos e Sabores, a ação “O dão”, pontua Jéssica. um direito!”, ressalta. Janaína Silveira Lemes, conseguindo entender um Papo entre Mulheres” foi Com a preocupação moradora da região nor- pouco como os grupos fadesenvolvido para que pu- em ajudar e possibilitar o VIOLÊNCIA deste há mais de 12 anos, miliares se constituem. Eles dessem conversar e trocar bem-estar das mulheres da DOMÉSTICA E conta que teve que en- realizam um genograma, um ideias sobre diversos temas Ocupação Steigleder, a Rede EMPODERAMENTO frentar o machismo dentro mapa da família que permite relacionados à mulher, com organiza semanalmente I n f e l i z m e n t e d e s d e da ocupação. “Eu sempre visualizar cada integrante, o apoio e orientação dos alu- encontros com bate-papos que a pandemia começou, fui independente, mas eu o que facilita a construção nos de Serviço Social e Psi- sobre temas planejados com a violência doméstica e o tive que lutar pela minha das demandas de cada indicologia da Unisinos. a finalidade de ajudá-las e, feminicídio aumentaram i n d e p e n d ê n c i a . Q u a n d o víduo. A aproximação com Assegurado pela Cons- também, abordando assun- consideravelmente no país, cheguei na ocupação eu algumas políticas também tituição Federal, o acesso tos que as próprias mulheres chegando em 50% em alguns vi muito machismo, e eu é muito importante como, à saúde mental levam, como: estados brasileiros. Graças trabalhei isso junto com as por exemplo, o Conselho é um direito de “É um direito p r e v e n ç ã o ao grupo, Célia Assunção, mulheres. Elas se rebela- Tutelar, Brigada Militar, a todo cidadão, do câncer de moradora da Steigleder, diz ram, mas não pro lado ruim, Secretaria da Educação do porém muitas da gente e a mama, violên- que já sofreu com violên- elas se rebelaram pra ter a município, com as escolas vezes associacia doméstica, cia doméstica no passado, posição delas”, recorda. Ou e parcerias como a AMMEP gente tem que mos esse atenco m u n i c a ç ã o mas que não tem mais medo, seja, hoje as mulheres usam e o Centro Jacobina. dimento com aprender a se não violenta, pois sabe de todos os seus esse espaço de conversa loucura e acacomo agir de direitos, e completa “apren- para expor mais suas opi- ENCONTROS bamos não pro- defender” f o r m a m a i s di que mulher não é capa- niões e trocar ideias. As conversas acontecem curando ajuda Célia Assunção passiva com os cho”. Ela ainda aconselha A estudante de Servi- no galpão da Ocupação Steiespecializada. Moradora da Steigleder filhos e direitos as outras que não partici- ço Social e estagiária da gleder e, apesar de ser direJéssica Sartoem geral. pam das rodas de conver- Rede, Deisy Rodrigues de cionada para as mulheres, rio, formada em Assistência A proposta dos encontros sa: “É um direito da gente Moura Corrêa, relata que os homens são bem-vindos. Social pela Unisinos, e que é de também empoderar e e a gente tem que apren- a cultura do machismo é Como o projeto ainda é reatualmente faz residência fortalecer as mulheres, já der a se defender”. muito presente na região e cente, os dias e horários ainna Rede Solidária, explica: que muitas são chefes de Além de ter a Rede de que muitas ainda dependem da estão sendo ajustados, “As condições de vida da família e algumas já são apoio explicando os direitos do marido financeiramente, mas as assistentes sociais já população também pas- lideranças dentro das ocu- de cada uma, esses encon- mas com o projeto Sonhos planejam ter encontros duas saram a ser consideradas. pações. Jéssica comenta que tros também aproximam e Sabores e com as rodas de vezes por semana, nas seHoje podemos compreender elas se sentem tão excluí- umas das outras. A dona de conversas algumas já con- gundas e sextas-feiras, das a saúde mental como um das da sociedade que parece casa, Eva Maria Gonçalves seguem ter o seu dinheiro: 14h às 15h30. Para saber conjunto de fatores articu- um luxo ter um atendimen- conta que antes ninguém “É um trabalho de valori- mais sobre o grupo e recelados como, por exemplo, o to mais individualizado e tocava nesses assuntos, zação e empoderamento”, ber informações é só entrar acesso a uma alimentação melhor, além de acesso à pois muitas não se sentiam afirma a acadêmica. em contato com a Jaqueline digna, à moradia, ao tra- educação de qualidade. “É à vontade em expor seus Rodrigues, uma das líderes balho, ao lazer, que é tão um processo. Vamos cons- problemas familiares, mas AÇÕES PLANEJADAS da Ocupação pelo WhatsApp importante e que as pessoas truindo com elas de que sim, que com o apoio da Rede Os encontros voltados às (51) 9 9279 7552. não veem como um direi- elas têm direitos, que ser isso se torna mais fácil e mulheres são recentes na TAINARA MAUÊ to. Tudo isso proporciona bem atendida no hospital, acabam opinando sobre as Ocupação Steigleder, mas DIVULGAÇÃO DA REDE SOLIDÁRIA SÃO LÉO
6. Comunidade
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Acolhida caracteriza assistência social na região Com diversos projetos focados na assistência social, o CRAS Nordeste se destaca como um espaço de referência na comunidade
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Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da região nordeste de São Leopoldo é um lugar de referência para todos os moradores das comunidades localizadas nos bairros Rio dos Sinos e Santos Dumont. O centro já realizou mais de 15 projetos envolvendo temas importantes, como geração de renda, segurança alimentar e o mundo do trabalho. Ele existe na região desde 2009, sendo que desde 2012 está no atual prédio, localizado na Avenida Mauá, nº 2.141, no bairro Santos Dumont. Segundo a assistente social Nilmara Dias, que trabalha há cerca de cinco anos no CRAS Nordeste, em períodos diferentes, os projetos ajudaram muitas pessoas da comunidade, principalmente as iniciativas que envolveram o trabalho. “Essa coisa de que pobre é vagabundo e não quer trabalhar não é verdade. As pessoas querem lho foi idealizado pelo Minismuito, só que na maioria das tério da Cidadania e buscava vezes, não tem trabalho e nem desenvolver a autonomia das famílias usuárias oportunidade”, da Política de Asdestaca Nilmara. “Essa coisa de sistência Social, a Dentre os partir da inclusão diversos traba- que pobre é ao mundo do tralhos já realizados pelo CRAS vagabundo e não balho. O programa teve a orgaNordeste, des- quer trabalhar nização do CRAS tacam-se mais em parceria com recentemente o não é verdade. o Instituto Lenon Projeto Papel e As pessoas Joel pela Paz. A Arte, iniciativa ideia da iniciade atendimento querem muito” tiva era abordar psicossocial para Nilmara Dias os direitos que adolescentes com Assistente social envolvem todo sofrimento psíquicos; Grupo Cravo e Cane- o universo do trabalho como, la, encontros de convivência por exemplo, as maneiras de dos idosos da comunidade; se portar em uma entrevista Formigas de Garagem, grupo de emprego ou como fazer um de senhoras de São Leopoldo currículo. Ao todo, 50 mulheque ensinam corte e costura res e adolescentes integraram básica para moradoras da re- o projeto, recebendo ao final gião; e o Acessuas Trabalho, um diploma de participação. programa que visou trabalhar Uma destas mulheres foi a diversas questões relacionadas Maria Cristina Flores Pinto (54), que mora na comuniao mundo do trabalho. dade há quatro anos. Natural de Cachoeira do Sul, ACESSO AO MUNDO Maria ficou sabendo do proDO TRABALHO Realizado em 2019, por grama justamente por meio do meio de oficinas e palestras, CRAS. “Foi uma experiência o programa Acessuas Traba- única. O projeto foi importante,
Ao longo de mais de 10 anos, o CRAS Nordeste já realizou mais de 15 projetos na região. 50 mulheres e adolescentes receberam diploma em formatura
pois falou das oportunidades de trabalho e dos estudos para os jovens, que muitas vezes não conseguem ter uma vida adequada”, relata a moradora. Por problemas de saúde, Maria ainda não conseguiu uma vaga, porém, quando melhorar, ela garante que irá atrás dos seus sonhos: “Além de conseguir um emprego, tenho muita vontade de viajar e conhecer vários lugares ao redor do mundo”, conclui. Outra participante do projeto foi Rosa de Fátima Novais
Correa Nunes (42), natural de Santo Augusto e moradora da comunidade há mais de 20 anos. Rosa ficou sabendo do projeto enquanto o pessoal do CRAS fazia a divulgação pelas ruas do bairro. O Acessuas Trabalho, além de falar sobre assuntos importantes do trabalho, ajudou Rosa a perder um pouco a sua timidez. “Eu era muito quieta e calada e o curso me ajudou bastante com isso. Se aparecer outros cursos como este, vou fazer”, ressalta a moradora. Iniciando o seu negócio
FACHADA: CAROLINA CERVEIRA/CRAS; GRUPO DE MORADORES: INSTITUTO LENON JOEL PELA PAZ
‘devagarzinho’, como conta a própria empreendedora, Rosa produz e vende pastéis e enroladinhos pela comunidade. O negócio ainda é recente, porém não falta coragem para Rosa de Fátima. “Estou começando aqui na comunidade, mas se Deus ajudar, pretendo vender até para fora daqui”, anuncia. Rosa e Maria são apenas duas histórias em um universo de várias pessoas que procuram e encontram no CRAS, por meio de seus projetos e iniciativas, diferentes oportunidades para uma vida melhor.
Serviço Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) - Região Nordeste de São Leopoldo Contato: (51) 3591 4606 Endereço: Avenida Mauá, nº 2.141, bairro Santos Dumont. Horário de funcionamento: segunda a quinta-feira, das 8h às 14h, e as sextas-feiras, das 12h às 14h. TYNAN BARCELOS
Comunidade .7
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Espaços e afetos Vizinhos criaram pontos significativos de encontro como a Associação de Moradores da Vila Brás e o restaurante Barril, ambos a espera do reencontro pós-pandemia
brincando. Valmir também conta que sente alegria ao ver a felicidade deles ao almoçar no local: “Qualquer proprietário fica louco de faceiro quando vê o restaurante cheio”, relata. O envolvimento do público é importante para a presença dos estabelecimentos na região. Dessa fors seres humanos ma, o gestor da Associação têm como princi- de Moradores explica que se pal característica a não houver a participação capacidade de socializar. da comunidade em qualCrescemos aprendendo que quer luta deles, as coisas não é importante e necessário acontecem. Marcelo explica o convívio com diferentes que é através dos eventos pessoas e ideias. Através do realizados no local, como a contato, do toque, da con- venda de meio-frango e a loversa e do carinho temos cação do espaço para festas uma válvula de escape para de aniversário e casamento, os problemas que surgem que eles conseguem arrediariamente. Seja no campo cadar dinheiro para a made futebol Santos Dumont, nutenção do prédio. nas igrejas evangélicas e Além desses eventos, católicas, ou até mesmo na que reúnem as pessoas na praça da Vila Brás, a Região Associação, Marcelo afirma Nordeste possui seus pontos que o local é responsável por de encontro e gerar ações confraterniculturais, zação entre as “A Associação de emprego pessoas, que de Moradores e feiras que vivem bons auxiliam os m o m e n t o s sempre é da moradores nesses locais. comunidade, não da região. Um A Assodos projetos, c i a ç ã o d e é de quem está por exemplo, M o r a d o r e s dirigindo ela” é o grupo de da Vila Brás teatro MoviBatista é um exem- Marcelo dos pela Arte, Gestor da Associação de plo. Funda- Moradores da Vila Brás que ensaia da em 21 de e se apremarço de 1981, há 39 anos, senta no espaço. “A Aso espaço é comunitário e sociação de Moradores reúne diversos eventos e sempre é da comunidade, ações para os moradores não é de quem está dida região. O atual gestor do rigindo ela”, diz. local, Marcelo Batista Nunes Através dessas ações, Matheus, explica: “Na época também é possível trazer de sua fundação, se pensava melhorias para a própria coem criar uma entidade que munidade. Um exemplo dispudesse unir os moradores so é a criação de 1200 másem ações que viessem a dar caras, em conjunto com uma autonomia e representati- cooperativa, para a prevenvidade aos moradores em ção ao novo Coronavírus, na suas carências de infraes- região. Elas foram distribuítrutura e melhorias junto à das entre o comércio, o posnossa comunidade.” to de saúde e o CRAS. O Bar Restaurante Barril Independentemente do é, também, um estabeleci- espaço, da história e do demento importante para a senvolvimento, o restauranhistória da região. Presente te Barril e a Associação de no bairro Rio dos Sinos, há Moradores são alguns dos 26 anos, o local funciona de muitos lugares responsásegunda a sábado e apresen- veis pelo envolvimento e a ta grande desenvolvimen- criação de histórias dos moto desde a sua criação. O radores. São festas, eventos dono do local, Valmir, mu- e ações comunitárias que dou-se de Coronel Freitas, contribuem e acrescentam município de Santa Cata- significado a eles, além de rina, para São Leopoldo e, poderem confraternizar pouco a pouco, construiu em espaços descontraío espaço. Ele explica que o dos e familiares. ambiente é descontraído e ÂNGELO GABRIEL SANTOS que os clientes já chegam
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Aulas de karatê foram algumas das ações realizadas pela Associação de Moradores da Vila Brás. No local, ocorreram também o Basquete Solidário e atendimento veterinário gratuito
ARQUIVO PESSOAL DE MARCELO BATISTA
8. Comunidade
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Grupo de idosos sente falta de encontros Cravo e Canela, grupo de terceira idade ligado ao CRAS, se reinventa em tempos de isolamento
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pandemia do novo coronavírus mudou a rotina de milhares de pessoas no mundo. Com isso, até descobrir uma vacina, uma das formas de tentar conter o avanço da Covid-19 é o isolamento social. Para isso, diversos trabalhadores precisaram migrar o seu emprego para o home office, ou seja, a residência se tornou o escritório. A quarentena mudou a rotina da humanidade, e idosos, crianças e adultos começaram a viver mais em seus lares. A grande maioria das atividades foi encerrada por tempo indeterminado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o SARS-CoV-2 é um vírus muito contagioso, com isso, as pessoas de risco, como aquelas que têm mais de 60 anos, tiveram que redobrar os cuidados com a saúde. Justamente devido a pandemia, o Grupo de Convivência Cravo e Canela precisou dar um tempo com seus encontros. O grupo de convivência Cravo e Canela foi criado em 2013, a partir de um projeto em conjunto de parcerias entre o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos- Pró-Maior, programa da Unisinos e os CRAS do município de São Leopoldo. Após o encerramento da parceria com o Pró-Maior por questões administrativas, o grupo permaneceu com acompanhamento da equipe técnica do Centro de Referência em Assistência Social (Cras) da região nordeste, no bairro Santos Dumont. Benvinda Dolores, 67 anos, que participa do projeto desde o início, lembra que o nome “Cravo e Canela” foi ela que sugeriu. “Eu me lembro que foram várias sugestões de nome, mas a minha ideia foi a escolhida. Eu penso que as palavras cravo e canela dá um sentido da vida, flores, cozinhar, etc. Ou seja, um nome perfeito, que resume as nossas reuniões”. Os encontros do grupo de convivência dos idosos, ocor-
As reuniões do Cravo e Canela ocorria às quartas-feiras. Com a suspensão das atividades devido à pandemia, Benvinda Dolores (abaixo) passou a produzir tapetes e capas para sofás em casa
rem todas às quartas-feiras, das 9h às 10h30 da manhã. Geralmente, as reuniões têm cerca de 20 participantes. Os temas abordados são levantados em conjunto com o grupo, pois debatem sobre as questões de acesso aos serviços de assistência social, da rede pública de saúde, previdência social, justiça, violência contra o idoso, cultura, lazer e alimentação. Inclusive, esse último assunto é o preferido do Sr. Wilmar Auler, 64 anos. Ele
relata que aprende diversas receitas culinárias com os colegas de grupo. “Nós dividimos um com o outro receitas de bolo, comida para jantar, almoço. Nossa, são muitas! O que mais discutimos nos encontros são assuntos sobre refeições e saúde.” Porém, chegou a pandemia do novo coronavírus, e foi necessário dar uma pausa aos encontros. O que antes era lazer e partilha entre amigos, agora era uma incógnita para todos.
O momento exige cuidados Precisou passar por cirurgia e paciência, pois o impor- e foi necessário colocar pitante é garantir a segurança nos de ferro na perna. Alguns de todos. Inclusive, o Seu dias após ficar internada, foi Wilmar encontrou algumas liberada para fazer a recupetarefas durante o isolamento ração em casa. Dolores tem social para ocupar a cabeça três filhas mulheres, que e o tempo. “Eu comecei e ler não residem com ela, mas diversos livros de diversos ajudaram com as tarefas na gêneros e estou assistindo residência. Para passar o documentários na Netflix e tempo, ela encontrou uma em canais fechados da Sky. forma fácil de cuidar da saúde Estou aproveitando essas e ao mesmo tempo tentar tecnologias, brincou”. ocupar a memória. A solução Mas o ritmo de Seu Wil- foi uma diversão na costura, mar começou a diminuir já que foi a sua profissão. em meados de “Durante a 2015, quando “O nome do quarentena, esconseguiu se tou produzindo aposentar por grupo remete ao capas com retatempo de tralhos para os sobalho. Inclu- cotidiano, fás, cadeiras de sive, a palavra à vida, às flores, mesa, tapetes e trabalho é o que jogo de banheiresume a vida à cozinha” ro. Um pedaço de Wilmar, que aqui, um pedafabricou lareiras, fogão e for- ço ali e junto tudo, costuro no de pizzaria de barro e tijo- e transformo nas capas, etc. los por 30 anos. Atualmente É um jeito que encontrei mora sozinho. Seus três fi- para ocupar minha cabeça, lhos já casaram e formaram pois não gosto de pensar na suas próprias famílias. pandemia. Mas para ser sinDona Dolores também cera, eu sinto falta dos enestá aposentada, porém, contros com os meus colegas ela recebe o benefício pelo comentou Benvinda”. auxílio idoso, direito obtido Apesar dos desafios diásomente após contatar um rios é necessário aproveitar advogado que lhe deu su- cada momento, ocupar a meporte. Para ela, o isolamento mória, ter paciência e sabedosocial está sendo um grande ria. Quem puder fazer, faça a desafio, pois no mês de junho sua parte - e claro, respeitanela bateu com o pé em uma do o distanciamento. madeira e caiu. Com isso, ALEXSANDER MACHADO acabou quebrando o fêmur.
IDOSOS: ARQUIVO DO GRUPO CRAVO E CANELA; BENVINDA DOLORES: ARQUIVO PESSOAL
Comunidade .9
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Projeto distribui roupas, sapatos e acolchoados Com a pandemia, o grupo Formigas da Garagem também passou a produzir máscaras
Entrega de acolchoados, roupas, calçados e máscaras para o Banco do Agasalho. Abaixo, o Formigas da Garagem realiza sua primeira entrega durante a pandemia para a Turma do Sopão. Durante a pandemia, o grupo também começou a produzir máscaras para adultos e crianças
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grupo Formigas da Garagem atua na arrecadação de roupas, sapatos e acolchoados para doação. Inicialmente, elas destinaram suas ações para a Turma do Sopão, no bairro Vicentina e o banco do agasalho municipal. Mas, atualmente, a iniciativa ajuda outros locais e pessoas em situação de emergência. “Iniciamos com duas pessoas, depois chegamos a ter seis pessoas na garagem da amiga Juçara Brugnera, onde iniciamos o projeto. Mas atualmente somos apenas três”, relata Rosali Adamatti, mais conhecida como Rose (66), aposentada e fundadora do projeto. O objetivo do grupo é promover a solidariedade e a empatia para as pessoas que mais precisam. “Em setembro de 2019, precisamos sair da garagem e como não tínhamos para onde ir, recorremos à assistência social e nos mudamos para o CRAS Nordeste. Lá, iniciamos um trabalho com algumas senhoras da comunidade para ensinar a costurar, fazer acolchoados, avental de brim, e etc”, explica Rose. Nesse período de pandemia, elas tiveram que se reorganizar e fizeram até máscaras de proteção para doar para o CRAS e ao banco do agasalho: “Quando retornamos em fevereiro de 2020, só con- “Eu gosto muito seguimos ficar de participar do duas semanas, em virtude da projeto. Iniciei pandemia. En- ajudando a fazer tão, cada uma começou a fa- acolchoado, zer os trabalhos depois eu da sua casa...a grupo não posqueria aprender arrecadação sui nenhuma nunca parou”, a costurar. Já ajuda financeira. finaliza a funda- sei fazer linha As únicas ajudas dora do grupo. são a parceria A partir do direta, sei fazer da comunidade dia 18 de junho de tudo. Adoro e solidariedade de 2020, o Forde outros grupos migas da Gara- aquele curso” que acabam regem se mudou Romilda Gonçalves passando itens para uma casa Moradora do Santos Dumont de interesse do no bairro Rio projeto. Rose dos Sinos. A casa tem apenas conta que mesmo com a pantrês peças e o aluguel é pago demia, as doações do Garagem pelas integrantes, já que o estão sendo bem volumosas.
Elas se reúnem todas as segundas, terças e sextas. O nome foi escolhido porque o desafio é fazer um trabalho de formiguinhas e ele começou numa garagem: “A ideia de criar o projeto foi minha, depois que meu terapeuta disse que precisava descobrir minha missão nesse planeta”, explica a fundadora do projeto, que, a princípio, pensou em fazer a arrecadação de roupas entre conhecidos e encaminhar para quem REPRODUÇÃO / FACEBOOK
precisava. “Logo fiz parceria com a amiga dona da garagem. Lá, a gente fazia triagem, costurava e começamos os acolchoados com roupas velhas”, completa Rose. Romilda de Lima Gonçalves (61), moradora do bairro Santos Dumont há 35 anos, atualmente, é a única aprendiz do projeto. Ela conta que encontrou no Formigas da Garagem ocupação, divertimento, distração e uma oportunidade de fazer a diferença na
vida de outras pessoas. Ela conheceu o grupo em 2019 através da assistência social, porque queria fazer um curso de costura: “Eu gosto muito de participar do projeto, eu iniciei ajudando a fazer acolchoado, depois eu queria aprender a costurar e hoje eu aprendi. Já sei fazer linha direta, já sei fazer de tudo, eu adoro aquele curso ele é muito bom”, conclui Romilda. THARIANY MENDELSKI
10. Comunidade
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Papai Noel mora no Nordeste de São Leopoldo Aposentado, Antônio Machado interpreta o bom velhinho em shopping centers
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odos os finais de ano, no mês de dezembro, o bom velhinho de barba longa está presente em shoppings centers, esperando a visita de crianças e adultos. Ele está presente, inclusive, nos lares das pessoas, seja como Papai Noel de pelúcia ou a visita dele com fantasia vermelha e branca de algum familiar ou vizinho. Esse personagem é interpretado há mais de 20 anos, em São Leopoldo, por Seu Antônio José Machado (65). Chega o mês do Natal e é preciso vestir o homem rechonchudo, que usa casaco, calças vermelhas, cinto e botas de couro preto. A barba branca é natural e apenas será cortada no dia 27 de dezembro. Deixando crescer após o aniversário no dia 13 de abril, ou seja, são oito meses cuidando da barba até o Natal. As aventuras como Papai Noel começaram quando era presidente da Associação dos Funcionários das Borrachas Franca, localizada no bairro Scharlau, em São Leopoldo. Sem precisar a data, Machado lembra que as primeiras experiências foram no ambiente de trabalho: “Chegou o Natal e alguém precisava representar o bom velhinho. Como eu era presidente da associação então sobrou pra mim. Foi a mi- hoje, se emociona com alnha primeira vez como Papai gumas lembranças: “Estava Noel e, desde então, eu nunca sentado na poltrona do Papai mais parei”, recorda. Noel, quando veio em minha Antônio trabalha há mais direção uma menina de 14 de uma década para uma anos. Ela sentou em meu colo agência de modelo, em Por- e perguntei: qual pedido você to Alegre. A emtem para o Papresa seleciona “É um orgulho pai Noel? Ela Papais Noéis me respondeu para trabalhar ver meu pai como chorando: eu em Shoppings queria que miPapai Noel” do Bourbon nha prima estin o Va l e d o Luís Machado vesse no Natal Sinos. “Lem- Professor de música comigo. Após, bro que deixei eu perguntei: e um cartão com meus da- qual o motivo por ela não estar dos no Bourbon Shopping presente? - Ela foi presa essa de São Leopoldo e logo me semana por tráfico de drochamaram para fazer parte gas, disse a moça. Eu não me de agência”, relata. aguentei e chorei também”. Depois de selecionado, Depois de superar a emoção, o morador foi trabalhar no Papai Noel convidou a criança Shopping Bourbon de Novo a deixar Deus cuidar do seu coHamburgo, em 2005, e, até ração e desejou um Feliz Natal
Antônio interpretou o bom velhinho na inauguração do Shopping Bourbon Novo Hamburgo, em 2005. Ao lado, a mamãe Noel Marisa
para toda a família. Porém, Seu Antônio não faz serviços somente em shoppings centers. Ele reserva alguns dias para fazer trabalho social na cidade de São Leopoldo. Para isso, ele tem uma ajuda especial: a sua família. A esposa Marisa Barbosa Machado (59) representa a Mamãe Noel e o filho Luís Antônio Machado (35) é motorista do carro e ajuda em tarefas administrativas. “Eu sempre digo para o meu pai, sou o duende deles”, brinca o jovem. Ele inclusive organiza um roteiro de locais por onde passar. “É um orgulho ver meu pai como Papai Noel”, comenta Luís. Atualmente o Seu Antônio e sua esposa Marisa, com 45 anos de casados, são aposentados e moram no bairro Rio ARQUIVO PESSOAL DE ANTÔNIO JOSÉ MACHADO
do Sinos. Ambos têm seis filhos juntos: quatro mulheres e dois homens. Além disso, são nove netos. O Luís Machado reside com os pais e é professor de instrumentos e música. Ele lembra um fato relacionado a seus dois trabalhos: “Uma vez, comprei um violão e fui com meu pai numa entrega, contratados por uma família para distribuir presentes. Nesta casa, toquei pela primeira vez um Jingle Bells com violão. Foi muito emocionante”, recorda Luís. Em relação ao trabalho particular da família, o roteiro de atendimentos domiciliares ocorre no dia 24 de dezembro, das 19h às 23h – com agendamentos. O cliente solicita o serviço de Papai Noel e Mamãe Noel. A família Noel vai até à casa do contratan-
te e realiza as entregas dos presentes: “Nós vamos até a árvore de natal e pegamos os presentes. Ali tem escrito um nome e chamamos, após entregar o presente para a criança chamada tiramos uma foto. No final, passo uma mensagem de Natal e digo: um Feliz Natal e Próspero Ano Novo”, co m e n t a A n t ô n i o . Com a pandemia do novo Coronavírus, seu Antônio não sabe se vai trabalhar em shopping center este ano, mas afirma que se precisar estará pronto: “Minha roupa de Papai Noel já está limpa e passada. A minha barba já está grande, ou seja, estou ansioso para receber a ligação da agência e poder ir para o shopping”, conclui. ALEXSANDER MACHADO
Sustentabilidade .11
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Adolescentes transformam terreno baldio em praça A iniciativa foi da turma do sétimo ano da escola Chico Xavier do bairro Santos Dumont
segundo Gabriel. “No primeiro dia que a gente liberou para a comunidade, as pessoas já foram lá tomar chimarrão, jogar bola, levar os filhos para passear, e isso me o primeiro dia as pessoas já fo- deixa muito honrado por poder participar ram lá tomar chimarrão, jogar dessa história”, conta o menino. bola, levar os filhos para pasO aluno ressalta a importância da praça sear, e isso me deixa muito honrado por para a comunidade, que vive diversos propoder participar dessa história”. foi uma blemas financeiros no dia a dia.“A comunifala do aluno Gabriel Lorenzo Filho dade enfrenta vários problemas financeiros. Muitas vezes nos deparamos com a A praça já vai ajudar muito, pois muitas frase “as crianças e adolescentes são o crianças precisavam ir em outras comunifuturo da nossa nação”. E os alunos da dades para se divertir. Agora tem uma praça escola Chico Xavier, no Bairro Santos perto de casa”, celebra o estudante. Dumont, loteamento Padre Orestes, Segundo Gabriel Lorenzo, esse trabaem São Leopoldo, mostraram que não lho feito com os colegas e professores da precisa esperar o futuro chegar. escola vai ser uma grande influência para A instituição desenvolve vários projetos o seu futuro: “Vai influenciar no modo com os alunos das diversas séries. Um deles positivo, porque até mesmo quando eu são as assembleias estudantis que acontecem tiver meus filhos ou meus amigos e pana educação infantil, onde se debate solu- rentes chegarem na minha comunidade ções para problemas dentro da escola, assim eu vou poder mostrar para eles e falar como os problemas da comunidade. que fiz parte dessa história. Eu desenhei Uma turma de sétimo ano se deparava a praça para ela ficar do jeitinho que eu, todo dia com um terreno baldio ao lado do meus colegas e professores queríamos. colégio. Além de não ser uma área aprovei- Vou me sentir honrado para sempre por ter tável, poderia trazer doenças, já que lá havia feito parte disso", declara o jovem. diversos entulhos. A turma achou que o Sidnei da Silva Oliveira, pai de Gabriel, local poderia ser explorado e que acompanhou o filho em se transformar em uma área todo esse processo, não esde lazer para a comunidade. “Só o fato de conde a felicidade de ter o loA partir daí iniciou o o terreno ter cal para aproveitar inclusive projeto de construção da com Gabriel e toda a família praça Bom Viver.Em um pri- deixado de ser e do orgulho que sente por meiro momento os alunos um local de seu filho ter feito parte desnão tiveram muito sucesso, sa iniciativa. “É muito bom já que o ano foi encerrado e acúmulo de termos agora uma praça de eles não conseguiram dar lixo já foi algo lazer para a comunidade, seguimento a essa ação que para as crianças, até eu como beneficiaria tanta gente. de extrema pai para jogar um futebol Porém, no ano seguinte, a importância para com o meu filho ou ir com eleição da nova diretoria do a família tomar um chimarGrêmio Estudantil contava a comunidade” rão”, afirma Sidnei. com alguns alunos que ti- Jussara Dias Bueno Outro aluno que fez parveram a iniciativa. A partir Diretora da escola Chico Xavier te da iniciativa é Yuri dos daquele momento, o resgate Santos Schmidt, 13 anos. do sonho de dar àquelas pessoas um lugar Para ele, a criação do Grêmio Estudantil para se divertir nas horas vagas. foi muito importante para a conquista. Segundo a diretora da escola, Jus- "A partir do surgimento do Grêmio Essara Dias Bueno, só o fato de o terre- tudantil eu e meus colegas utilizamos o no ter deixado de ser um local de acú- nosso direito de fala para conquistar a mulo de lixo já foi algo de extrema praça. Este não era só um sonho meu e importância para a comunidade. dos meus colegas, mas sim da escola e “Em primeiro lugar o que mais chama da comunidade”, comenta Yuri. atenção da comunidade é o terreno não Sobre a influência para seguir a vida, ser mais um depósito de lixo, que era um Yuri assim como Gabriel, acredita que será problema principalmente no verão, devido algo que ficará para sempre. “Eu aprenao mau cheiro e aos bichos que ficavam di desde jovem a lutar por um direito ali, eles se sentiam inseguros principal- que não é só meu e sim da comunidade. mente à noite devido a questões como Acho que isso vai influenciar de forma violência e tráfico de drogas”, diz. positiva pois estou lutando por algo que Gabriel Lorenzo Filho, 14 anos, diz não é só meu, mas também dos outros, que no início teve um pouco de receio e se é de direito deles”, finaliza Yuri. questionava se a comunidade iria gostar A praça, que no ano passado recebeu e cuidar do local, mas nesses momentos o prêmio Paulo Freire (promovido pela a perspectiva de como ficaria o resultado prefeitura de São Leopoldo), conta com e o imaginar a comunidade brincando no bancos, campo de futebol, além de diverespaço animaram o adolescente. sos brinquedos para as crianças. Quando a obra terminou, a felicidade e ANDERSON DILKIN o reconhecimento das pessoas foi imenso,
"N
ARQUIVO DA ESCOLA CHICO XAVIER
A praça, no momento, está a espera do retorno pós-pandemia
A iniciativa dos adolescentes beneficiou toda a comunidade
O envolvimento da escola foi fundamental para o projeto ir em frente
12. Sustentabilidade
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Conviver, aprender e vender Formado por mulheres da Região Nordeste de São Leopoldo, grupo Sonhos e Sabores produz alimentos em e para a comunidade
blemas de casa, da vida... nos divertimos muito”, explica Gislaine, que ainda revelou os motivos por trás do nome ‘Sonhos e Sabores’: “Achamos que esse nome tem um significado bem legal. Os nossos sonhos, afinal, todas mulheres têm sonhos...e os sabores vem dos pães”, complementa a moradora.
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oda sexta-feira, na parte da manhã e da tarde, 10 mulheres se reúnem no Galpão da Ocupação Steigleder, localizado na região nordeste da cidade de São Leopoldo,para produzir pães e mais alguma outra receita, como, por exemplo, minipizzas e risoles. O grupo Sonhos e Sabores - denominado desta forma pelas próprias integrantes - teve o seu início após alguns encontros realizados durante o mês de maio de 2020. A ideia inicial era falar sobre gravidez, cuidados com os filhos e sobre os sonhos e desejos das mulheres da comunidade. Um desses sonhos era aprender. Fazem parte do grupo: Cleia Assunção de Freitas, Cristina Moura, Dantara Tatiele de Freitas Macedo, Eunice de Almeida, Eva Gonçalves Diemer, Gislaine Garcia da Silva, Jade Talita Lemes de Oliveira, Jaqueline dos Santos Rodrigues,Janaina Silveira Lemos e a Simone da Silva Vargas. O que começou como uma atividade de aprendizagem, com a produção dos pães era apenas para consumo próprio, virou uma fonte de renda. Após algumas semanas de trabalho, a primeira venda foi realizada para a Rede Solidário de São Leopoldo, que colocou os pães nas cestas de alimentação distribuídas em 12 ocupações da região. Desde então, os pedidos só aumentam, como conta a Gislaine Garcia da Silva: “Esses dias tivemos uma encomenda de 66 pães. Foi muito corrido.” Outro ponto importante,para a continuidade do projeto, foi que agora as mães têm onde deixar seus filhos, assim, conseguem produzir com mais tranquilidade e atenção. Enquanto os pães são produzidos, as crianças ficam na Associação de Meninas e Meninos de Progresso (AMMEP).
“Não existem palavras para dizer o quão maravilhoso é estar e aprender entre amigas” Gislaine Garcia da Silva Participante do grupo Sonhos e Sabores
‘Laine’ ainda diz que o projeto é um aprendizado que irá levar para o resto da vida e que pretende transformar a experiência em uma fonte de renda ou serviço: “Isso não é nem só pra mim, mas, também, para as outras mulheres que fazem parte do grupo e para as outras que pretendem entrar”, reforça.
SUPERANDO OS PROBLEMAS
Integrantes falam sobre suas vidas enquanto fazem pães, risoles e outros quitutes
TODA MULHER TEM UM SONHO
Para uma das integrantes dos Sonhos e Sabores, Gislaine Garcia da Silva, de 31 anos, conhecida popularmente por todos como ‘Laine’, é mãe de cinco filhos e vive na ocupação Steigleder há oito anos. Para ela, o fato de estar entre amigas no projeto é algo muito significativo: “Não existem palavras para dizer o quão maravilhoso é estar e aprender entre amigas. Nós saímos da rotina nas sextas, sabe…. esquecemos um pouco dos pro-
Iniciativa tornou-se renda para as mulheres, que faziam pães apenas para consumo próprio DIVULGAÇÃO DO PROJETO SONHOS E SABORES
O mesmo sentimento de pertencimento é compartilhado por outra integrante do grupo: Cleia Assunção de Freitas, de 29 anos. Moradora da ocupação da Horta, há dez meses, Cleia é mãe de quatro filhos. A integrante reforça o sentimento de amizade que há no grupo: “Ali esquecemos os problemas. As meninas são muito queridas e juntas aprendemos muitas coisas... cada semana aprendemos algo novo”, explica. Ela comenta como o grupo lhe ajudou a superar problemas pessoais: “Eu estava ficando doente, com alguns problemas. Depois que eu entrei foi ótimo, pois ali esquecemos tudo. Agora eu dou risada, saio de casa...eu amei entrar nesse grupo”, revela Cleia. Antes do Sonhos e Sabores, Cleia comenta que nunca havia participado de nenhum outro projeto na comunidade. Ainda, ela afirma que pretende usar tudo que aprendeu no futuro: “Quero realizar os meus sonhos, abrir minha padaria, trabalhar com meus filhos quando eles crescerem”, diz a moradora, que também reforça a importância de aprender coisas novas:“Toda sexta-feira aprendemos algo novo. É muito bom levarmos isso para a vida”, completa Cleia. TYNAN BARCELOS
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ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Moradores do bairro Campina cultivam Horta Comunitária Há 12 anos, o espaço é usado para plantio e colheita de frutas e hortaliças
radia para muitas pessoas. Dona Flora foi uma delas. O casal veio para cidade recomeçar a vida. “Juntei o primeiro lixo do lugar”, relembra Flora Schneider. Para manter o local protegido, a moradora teve que procurar forças para não desanimar. “Já cheguei aqui e vi que haviam roubado as hortaliças. Quando não é muita coisa, nem me preocupo, porque imagino que a pessoa que fez isso precisava de algo para se alimentar. O armazém já foi arrombado e já levaram alguns utensílios”, relata a coordenadora que considera a Horta um pilar importante para a sua qualidade de vida.
“O
trabalho gera saúde para a gente”, afirma a atual coordenadora da Horta Comunitária da Região Nordeste, dona Flora Schneider (66). Junto com seu marido, Nelmo Schneider (69), ela vai diariamente ao bairro Campina para regar e cuidar das plantas, além de atender aqueles que querem levar ou cultivar alguma, seja alecrim, manjericão ou capim-cidreira. A Horta existe há 12 anos na rua Ruberval Cruz de Araújo, e recebeu os cuidados do Núcleo de Economia Rural da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico (SEDETTEC) da Prefeitura Municipal de São Leopoldo para a limpeza e a preparação do solo para o plantio das hortaliças. Flora é a responsável pelo local desde 2015. “Eu sinto uma coisa muito boa cuidando desse lugar”, explica a moradora de 66 anos, que faz seu serviço com dedicação. O chefe do setor de Economia Rural da SEDETTEC, Airton Vicente explica que antes de existir a Horta, o espaço era um depósito de lixo e descarte de materiais dos mais diversos por parte de moradores. Degradado e sem utilidade, o lugar era uma ameaça para os moradores da região. O poder público, então, limpou a área e colocou terra para que houvesse o plantio. Feito isso, famílias foram cadastradas para cultivar e realizar a venda dos produtos. De acordo com a atual cuidadora, 12 pessoas já foram envolvidas com a Horta Comunitária. Desde o início do ano, dona Flora divide as responsabilidades com o seu marido. “Eu criei muito vínculo com as pessoas, mas acabei ficando sozinha. Não fico mal porque cada um teve seus motivos para sair e eu só pensei que tinha que enfrentar a situação”, declara. Natural de Porto Xavier, a cuidadora mora em São Leopoldo há 20 anos. Na época, o terreno onde hoje é a Horta serviu como mo-
“A Horta serviu para tirar a fome das pessoas e eu sempre lutei para mantê-la” Cacilda Barcelos Moradora da região
Também moradora da região, frequentadora da Horta e coordenadora dos projetos de Economia Solidária, do qual a Horta faz parte, Cacilda Rodrigues Barcelos (64), faz questão de plantar e colher as frutas e hortaliças no local. “Compro sementes e planto lá, também vou para colher e me alimentar. O gosto, o cheiro e a textura, tudo é único”, conta a voluntária, que também é envolvida com projetos de Economia Solidária, que inclui o empreendimento da Horta Comunitária. “A Horta serviu para tirar a fome das pessoas e eu sempre lutei para mantê-la. Qualquer pessoa pode ir até lá para plantar e colher." Conclui. Os produtos da Horta eram antigamente vendidos nas feiras da cidade. Essa venda acabou se tornando inviável porque não tinha quem realizasse o transporte. Atualmente, alguns integrantes da equipe entregam as encomendas a clientes fixos levando os alimentos em carrinhos de feira e outros moradores são fregueses no local. Moradores cuidam e consomem os produtos naturais da horta ARQUIVO PESSOAL DE MORADORES
HENRIQUE TEDESCO
14. Saúde
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
UBS tem protagonismo durante a pandemia O serviço social é fundamental para o cuidado da saúde da comunidades periféricas em tempos de isolamento
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Covid 19 foi chegando na cidade de São Leopoldo com muita força, como tantas outras do Estado e do País. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população de São Leopoldo é de 236.835 pessoas. Até às 08h37, do dia 24 de outubro de 2020, só no município foram confirmados 7.117 casos positivos, 359 pessoas com vírus ativo, e 159 óbitos. Ao todo, foram realizados 24.403 testes até o momento. 55,2% dos casos positivos são do sexo feminino, 30,2% tem escolaridade até o ensino médio e 75,6% são
identificadas pela cor/raça branca, e a faixa etária mais atingida tem de 30 a 39 anos, contemplando 21,95%. Com 776 casos, Santos Dumont é o segundo bairro mais afetado pelo Coronavírus na região, perdendo apenas para o bairro Feitoria, que conta com 1.174 casos positivos. É esse o contexto enfrentado pela profissional da saúde Itamaris Furtado Dias, 51 anos, chefe administrativa da Unidade Básica de Saúde Pe. Orestes. Itamaris começou seu trabalho no ápice da crise sanitária do país. A estudante de Serviço Social explica que, devido ao decreto municipal, as consul-
tas estavam reduzidas em 30% da capacidade. Neste período, os funcionários trabalhavam com orientações e cuidados de prevenção para evitar a contaminação. “A partir do segundo semestre, com o aumento da agenda, o trabalho voltou com uma característica nova, pois a unidade recebeu pacientes que migraram do setor privado para o SUS e deixou as agendas sobrecarregadas”, ressalta Itamaris, que iniciou sua atuação na UBS, localizada no bairro Santos Dumont, região nordeste de São Leopoldo, no final do primeiro semestre. Segundo a chefe administrativa, a UBS Pe. Orestes tem como principais funções a efetividade das práticas universais da Atenção Básica à Saúde, possibilitando assim o acesso do serviço para todos: “Além de executar o serviço com integralidade às carências dos pacientes, fomentamos a prevenção e manutenção da saúde, fazendo o acolhimento humanizado fazer parte da prevenção da saúde do usuário”, explica. Carolina Cerveira (42), assistente social do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da região elogia a atuação de Itamaris na UBS. Ela destaca a vinda de quatro médicos clínicos para a unidade no período de atuação da administradora. “Tínhamos muitas reclamações da população em relação à falta de atendimento médico, porque a equipe era pequena em comparação à demanda da região. A Itamaris tem feito um trabalho bem importante. Deu visibilidade a essa demanda e isso já reverberou no aumento da equipe de médicos.”, salienta.
PACIENTES QUE EXIGEM MAIOR CUIDADO
De acordo com Itamaris, o maior desafio da UBS ainda é dar conta dos pacientes crônicos, idosos, crianças e gestantes, pois houve um aumento UBS consegue de usuários neste reforçar a período. Além disequipe médica so, o trabalho de conscientização se intensifica com o crescimento do número de pacientes na unidade, para evitar ARQUIVO / UBS PE. ORESTES
aglomerações e facilitar o agendamento de consultas. “Realizamos distribuições de folders informativos, máscaras para os usuários, álcool em gel, sempre mantendo o distanciamento dentro da unidade e tendo o cuidado com a proteção e o uso de equipamentos de segurança; os profissionais sendo orientados em reuniões de equipe sobre os protocolos da Secretaria Municipal de Saúde”, relata Itamaris.
UMA EXPERIÊNCIA SOLITÁRIA
No dia 11 de setembro, Eliene Amorim dos Santos, de 53 anos, começou a se sentir mal. O primeiro sintoma foi “uma dor de cabeça diferente”, como ela mesma relata. Além disso, Eliene conta que também estava com uma rouquidão diferente das que ela já tivera. Formada em pedagogia e mestre em Educação pela Unisinos, a moradora do bairro Campina optou por ir primeiro no médico do posto de saúde mais próximo de sua casa. “Fiz o exame, o teste rápido, não deu positivo, então voltei pra casa, continuei trabalhando, mas me sentindo ainda mal, cansada, com uma dor de cabeça, aí então procurei a UBS. Pe. Orestes, ali na Chácara dos Leões”, salienta a pedagoga. Na UBS, Eliene explicou o que estava sentindo logo na recepção, e foi atendida pela própria chefe administrativa da unidade, Itamaris. Sua ficha foi feita, e consultou com a doutora Janaína, além de uma equipe de enfermeiras. “Elas foram muito acolhedoras, recebi um atendimento de excelência. A doutora Janaína buscou todo o protocolo, me explicou tudo, a enfermeira-chefe também, assim como as outras enfermeiras. Me deram todo o esclarecimento e me disseram que com os meus sintomas, provavelmente eu estava com Covid-19”, conta. Após esse primeiro atendimento, foi dado um atestado e a orientação de que ela voltasse para casa e realizasse o isolamento social, conforme o protocolo, e que, naquela mesma semana do dia 12 de setembro (sábado),
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ela procurasse novamente a UBS para fazer o teste rápido, às 13h30. “Por diversas vezes, recebi ligações lá da UBS, da vigilância sanitária, para saber como eu estava me sentindo, se eu estava conseguindo cumprir o isolamento, pois eu tenho 53 anos, sou diabética, sou público de risco, então eu tive todo esse cuidado e orientação da UBS também”, relata Eliene. Ao voltar no sábado, a pedagoga foi atendida novamente pela doutora Janaína: “novamente me acolheu com muito carinho e dedicação profissional, me deu todas as orientações, fez meu exame, foi conversando, enquanto eu aguardava o resultado de forma muito apreensiva, e sempre a equipe toda me acalmando”, conta. Então, Eliene recebeu o resultado positivo, retornou
“Se o novo Coronavírus chegou desafiando a ciência, a realidade mostrou que na medicina tudo é possível”
para casa, e deu continuidade ao isolamento de três dias de atestado. Durante esse período, ela também recebeu o contato da vigilância sanitária para saber como estava se sentindo. “Não tive necessidade de procurar o hospital, todas as vezes que não me senti bem, procurei me acalmar, tomei muito líquido, e toda hora recebi a orientação de ficar tranquila, ficar mais dentro de casa. É uma experiência muito solitária. De bastante medo, apreensão e insegurança”, desabafa. Eliene é mais uma personagem que atua com protagonismo na vida de inúmeras crianças e adolescentes carentes da região. Ela é coordenadora da ONG Isaura Maia, uma entidade que sustenta a Casa Clara Francisco da Scharlau; o acolhi-
mento residencial inclusivo para jovens com deficiência no bairro Campina; o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos Pe. Orestes no loteamento Tancredo Neves; e a Casa de Acolhimento de Crianças e Adolescentes que fazem isolamento vertical Joanna de Angelis. Por fim, Eliene contou que se sentiu muito cuidada e protegida em sua cidade, principalmente por se sentir muito bem acompanhada pela unidade de saúde que fez seu atendimento. “Quero dizer que o atendimento foi de muita qualidade, de muita presteza, muita seriedade por parte de toda a equipe. O nosso município está de parabéns! A UBS Pe. Orestes também e toda a sua equipe de saúde.”, finaliza.
CRIANÇAS: ARQUIVO DO CRAS NORDESTE; ELIENE E ITAMARIS: ARQUIVO PESSOAL
PAOLA CUNHA
Eliene (à esquerda) foi atendida pela Unidade Básica de Saúde Pe. Orestes e testou positivo para o novo Coronavírus. Itamaris é chefe administrativa do local
16. Saúde
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Correio Teatral viabiliza diálogo para adolescentes Jovens utilizam cartas para compartilhar as angústias durante a pandemia
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Covid-19 não afeta somente a vida de quem a contrai. O isolamento social, causado pelo Coronavírus, impactou diretamente na saúde mental de muita gente, entre elas, os adolescentes. Estar longe daqueles que amam, da escola e de sua rotina de lazer e atividades, fez com que os quadros de depressão e ansiedade entre os mais jovens aumentassem. A partir deste contexto pandêmico, o educador João Marcelo Lucas Schneider enxergou a necessidade de se aproximar dos adolescentes participantes do Movidos pela Arte. Nascido em 2016 com os estudantes da escola EMEF João Goulart, localizada no bairro Santos Dumont, na Vila Brás, o projeto oferece oficinas de teatro para crianças e adolescentes do bairro de forma gratuita. Em decorrência da pandemia, neste ano as oficinas estão sendo realizadas virtualmente. Com a dificuldade imposta pelo mundo online no teatro — uma atividade tão física e presencial —, o projeto Correio Teatral surgiu com o intuito de ser um canal de escuta de João Marcelo com os educandos. Segundo o educador, a iniciativa teve como principal objetivo atingir os jovens que não possuem acesso à internet, criando um meio de comunicação para eles compartilharem suas angústias, anseios, problemas, desejos e sonhos. “A gente percebeu que tem muitos casos de adolescentes buscando auxílio com a questão de ansiedade e de depressão, com a questão de suicídio aumentando cada vez mais durante a quarentena no Brasil inteiro, então a gente pensou nesse projeto para ser um canal de diálogo e escuta segura, para que a gente possa fortalecer os vínculos com esses adolescentes”, relata João Marcelo. Entre o vai e vem de cartas compartilhadas quinzenalmente, obedecendo as medidas de prevenção ao Covid-19,
Adolescentes participantes do projeto Movidos Pela Arte
durante o isolamento social, a pressão do ensino remoto e questões envolvendo a saúde mental. “Eu acho que eles que eles vão trazendo (suas angústias e anseios) e eu vou perguntando, questionando, falando opiniões, trazendo vivências minhas também para dizer “Olha tu não tá sozinho, eu já passei por isso” (...) eu acho que isso acaba criando esse vínculo”, afirma o educador. Ana Caroline da Costa Marques (17) não imaginou que seria tão difícil resumir em palavras a experiência do isolamento social, porém a adolescente revela que o projeto serviu como seu diário pessoal neste período: “Eu usei isso tudo como um diário. Todos os dias escrevia algo novo, contando tudo que acontecia, desde o meu medo por ser do grupo de risco, até mesmo as minhas saudades. Fui escrevendo o que a quarentena me ensinou desde dar mais valor a um sorriso, a saber que os olhares revelam muito da gente e que o toque faz muita falta. [O projeto] me ajudou a olhar para dentro de mim e entender muitas coisas que eu me questionava, a olhar para as pessoas com mais empatia, por exemplo. A saber que um abraço faz falta, que um sorriso muda sim o dia de alguém”.
“Com o projeto podemos ver que os laços ainda se mantém” Marcelo Lopes
Participante do projeto Movidos pela Arte
o vínculo entre o grupo e o educador foi se fortalecendo. “Com o projeto podemos ver que os laços ainda se mantém, mesmo com o afastamento e isolamento das pessoas e, nesse período, esse auxílio de ter alguém para conversar, poder desabafar com alguém, é uma forma de escape de tudo que vem acontecendo”, revela Marcelo Lopes (21), jovem participante do projeto Movidos pela Arte e um dos idealizadores do Correio Teatral. O ato de trocar car-
tas é uma novidade para os adolescentes, cada vez mais acostumados com a instantaneidade do mundo digital. As mensagens são escritas de próprio punho por eles, aumentando a proximidade e acrescentando um toque ainda mais pessoal à experiência. Para Eduarda Duprat (19), o projeto serviu como um auxílio em tempos difíceis: “O projeto me ajudou como um meio de desabafar sobre tudo isso, sobre os momentos mais difíceis pra mim em relação ARQUIVO PESSOAL DOS PARTICIPANTES DO PROJETO
a quarentena. A principal lição que eu aprendi foi que uma carta escrita à mão tem um valor sentimental muito grande, principalmente nesse momento delicado que estamos vivendo”. Atualmente, sete adolescentes participam do projeto. Segundo João Marcelo, os assuntos abordados por eles são os mais variados: as dificuldades e frustrações impostas pela pandemia, a saudade do teatro, o sentimento de se sentir sufocado
Diante de um momento cheio de angústias e incertezas, o projeto Correio Teatral surge como um sopro de alívio para os adolescentes participantes, que utilizam as cartas como um instrumento para expressar seus sentimentos pessoais em busca de compreensão. “Todo mundo quer dizer alguma coisa, a gente só precisa encontrar os caminhos para que todo mundo possa ter o direito de falar, de se expressar, ter a liberdade para isso”, reitera João Marcelo. MAYANA SERAFINI
Saúde .17
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Atendimentos psicológicos também no modo remoto Parceria entre CRAS e Unisinos permite que acompanhamentos sigam sendo realizados
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parceria entre a região nordeste de São Leopoldo e a Unisinos tem diversas frentes, principalmente na área da saúde. Nelson Rivero, professor de Psicologia e integrante do Projeto de Atenção Ampliada à Saúde (PAAS), explica que o programa reúne profissionais dos cursos de Enfermagem, Nutrição e Psicologia. Tem também o apoio dos cursos de Medicina e Fisioterapia, a fim de acompanhar famílias encaminhadas, por diversos motivos, ao projeto que tem o objetivo de promover a saúde e situações de autocuidado. Ana Dirce Silveira de Oliveira, de 74 anos, é uma das moradoras que participa do projeto. Desde a abertura do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) da região Nordeste ela participa das ações do Centro. Mais Equipe do PAAS encontra formas de apoiar os moradores em tempos difíceis recentemente, a cabeleireira aposentada passou a utilizar o serviço do Esteve comigo quando meu marido PAAS, em parceria com o CRAS. estava doente e depois, quando ele Dirce chegou ao programa depois faleceu”, conta a moradora. da morte de seu marido. “Eu fui ao Assim como a solidão de Dirce de CRAS fazer o meu cadastro de baixa não ter mais seu companheiro ao seu renda, por causa da conta de luz. Nós lado, a solidão do isolamento e das ficamos conversando e falei que meu situações trazidas pelo novo coronamarido havia falecido e que eu esta- vírus vêm aumentando a procura por va muito nervosa. Eu também tenho atendimento psicológico durante a uma amiga que estava sempre comi- pandemia. De acordo com dados do go, mas que tinha se mudado para Conselho Regional de Psicologia do Capão Novo. Eu contei isso para eles Rio de Janeiro, os atendimentos psicoe chorei muito, então lógicos on-line aumeneles acharam que eu taram 700% entre abril e precisava deste atendi- “A saudade nunca julho deste ano. É desta mento com um psicólo- termina, mas forma que o acompago”, lembra Dona Dirce. nhamento do PAAS vem Dirce e seu marido, a gente vai se sendo realizado durante o brigadiano aposen- acostumando. a pandemia. “Essa ação tado Algemiro José do foi construída a partir de Amaral, foram casados Faço o um contato com o CRAS, durante 54 anos e, desestamos fazendo acompanhamento onde de que vieram a São um acolhimento de Leopoldo, moraram na todas as quartasforma remota. Estamos Região Nordeste: “Viecompletando três meses mos de Giruá. O Algemi- feiras e está sendo dessas escutas, com o ro começou a trabalhar muito bom” acolhimento de algumas Dona Dirce em Novo Hamburgo, famílias selecionadas participa do depois foi transferi- Ana Dirce pelo CRAS, que também PAAS durante a do para São Leopol- Usuária do programa organizou uma sala, pandemia do e sempre ficamos dentro do seu próprio aqui”, conta Dirce, que ao ser per- prédio, para que as pessoas possam, guntada se era uma das primeiras a partir dali, fazerem o atendimento moradoras da região, responde rin- remoto”, explica Nelson Rivero. questões ligadas também ao desem- tas-feiras e está sendo muito bom”, do: “sim, aqui era tudo mato”. O professor também ressalta a prego e a perda de pessoas próximas. comenta Dirce. Após a morte de Algemiro, por importância da psicologia em meio Ainda aguardamos para conhecer a conta de complicações causadas por à pandemia. “Sabemos que as conse- intensidade dessas situações, mas já COMO BUSCAR um derrame, Dirce encontra no neto quências serão inevitáveis. Há a ex- sabemos que, inevitavelmente, vive- O SERVIÇO Davi Darciano da Silva, de 9 anos, pectativa de aumento dos casos de remos os efeitos desta pandemia por Para utilizar os ser viços do e na amiga Sônia Beatriz Brum, de depressão e doenças do humor, desor- alguns anos”, afirma Nelson. PAAS é preciso um encaminha62 anos, o conforto que necessita: ganização e aumento nos transtornos “A saudade nunca termina, mas mento do CRAS. “Meu netinho tem 9 anos e cuida da vinculados aos estados de ansieda- a gente vai se acostumando. Faço LAURA BLOS vovó. A Sônia é mais que minha irmã. de, como problemas no sono, além de o acompanhamento todas as quarPAAS: DIVULGAÇÃO; DIRCE: ARQUIVO PESSOAL
18. Saúde
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Farmácia Móvel facilita acesso a remédios O serviço entrega itens da lista básica do município, como insulina, antibióticos e medicamentos controlados
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Farmácia Móvel, lançada em março de 2020, é uma ambulância adaptada que circula pelos bairros de São Leopoldo com o objetivo de facilitar o acesso da comunidade às medicações necessárias. Os bairros mais afastados do centro são priorizados para que nenhuma pessoa seja prejudicada por morar longe dos principais locais de atendimento. Os medicamentos fornecidos pertencem à lista básica do município, incluindo antibióticos, insulina e remédios controlados. O veículo percorre os bairros de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 11h30, permanecendo durante esse período em uma das localidades atendidas. Já à tarde, das 13h30 às 16h, se desloca para outra. Os locais contemplados com a Farmácia Móvel são: Santa A unidade foi lançada em março de 2020, junto com a reforma da farmácia municipal Marta, Cohab Duque, Padre Orestes, Vicentina, Parque (SUS) e o receituário médico Mauá, Vila Brás, Vila Paim, atualizado. Um profissional Vila São Geraldo (Feitoria), farmacêutico acompanha Madezatti (Feitoria), Arroio esse atendimento. da Manteiga, Vila Nova, MorSegundo a Diretora de Asro do Paula, Jardim Luciana, sistência Farmacêutica da PreOcupação Steigleder, Vila São feitura Municipal de São LeoA Farmácia Móvel eventualmente acompanha a UnidaMiguel, Santo Augusto, Cam- poldo, Fabiana Chiela Ribeiro, de Móvel da Saúde - também conhecida como Ônibus da pina e Scharlau. o processo de Saúde -, que conta com clínico geral, enfermeiro, técnico de Os medica- “Ela serve não idealização da enfermagem, servidor administrativo e motorista. Com o mentos dispoFarmácia Móvel médico clínico geral é possível atualizar receitas médicas e nibilizados pela só para levar o surgiu a partir ser encaminhado para outras especialidades, como psiquiaFarmácia Móvel medicamento, da preocupação tra, psicólogo, cardiologista, pneumologista, etc. podem ser encom os pacienAs consultas com especialistas são realizadas no Cencontrados tam- mas toda a tes que residem tro Médico Capilé, mediante agendamento prévio pelo bém na farmácia assistência em bairros afasnúmero 22000777 (51) 3588 1829, das 8h às 14h, de municipal, que tados do centro, farmacêutica, segunda a sexta-feira. No dia do atendimento agendado, fica no Ginásio co m o A r r o i o é obrigatório levar o cartão do SUS, o documento de idenMunicipal Celso a educação da Manteiga, tidade e o código de consulta fornecido no agendamento. Morbach (Rua Parque Mauá, Dom João Bec- em saúde e a e entre outros Após a primeira consulta com o especialista, o paciente ker, s/n - bairro informação” bairros do mureceberá um retorno que substituirá o encaminhamento, Centro) próxinicípio. Desde o caso seja necessário marcar mais um atendimento. Chiela Ribeiro mo à rodoviária. Fabiana lançamento da Diretora de Assistência A farmácia mu- Farmacêutica da Prefeitura farmácia, foram ATENDIMENTO nicipal atende Municipal de São Leopoldo atendidas 2.573 O cronograma de atendimento é disponibilizado também de sepessoas. “Pelo mensalmente pela prefeitura por meio do site www. gunda a sexta-feira, das 8h às tamanho de São Leopoldo, com saoleopoldo.rs.gov.br, e de publicações nas páginas 17h. O telefone para contato uma população de mais de 230 oficiais nas redes sociais Facebook www.facebook. é (51) 3589-4092. Para rece- mil habitantes, a assistência com/saoleopoldo e Instagram @prefasaoleo. Essas ber o medicamento, tanto na farmacêutica sempre teve uma especialidades atendem no Centro Médico Capilé, meFarmácia Móvel quanto na inquietação e questionava se diante agendamento prévio. Para marcar a consulta, farmácia municipal, o mora- a gente conseguia contemdor deve ter em mãos o cartão plar toda a rede de saúde da o paciente deve portar o cartão do SUS ou CPF. do Sistema Único de Saúde cidade”, afirma Fabiana.
Unidade Móvel acompanha o Ônibus da Saúde
ARQUIVO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO LEOPOLDO
Antes da Farmácia Móvel, muitas pessoas precisavam pegar dois ônibus para chegar à farmácia municipal e, em alguns casos, isso fazia o deslocamento se tornar mais caro que a medicação que elas iam buscar. Segundo Fabiana, implantar uma farmácia em cada Unidade Básica de Saúde (UBS) representaria um custo muito alto para o município e nem todas têm uma estrutura que permita isso. Então surgiu a ideia de criar a Farmácia Móvel. “O papel da unidade móvel vai além de oferecer acesso às medicações, pois serve não só para levar o medicamento, mas também promover educação em saúde e informar”, ressalta Fabiana que ainda complementa dizendo “não adianta só entregar o medicamento, a gente tem que explicar para o paciente como ele toma, o direito de ter o medicamento, se ele pode conseguir por meio da farmácia municipal, da farmácia do Estado. Tem toda uma questão de informação”, finaliza. AMANDA KROHN
Da redação .19
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Olhar de repórter O grupo de estudantes de Jornalismo que produziram a atual edição do Enfoque São Leopoldo, e que, aliás, esperamos seja a primeira de muitas, enfrentou diversas adversidades para chegar a esse resultado em tempos de pandemia. Duas repórteres contam suas experiências
Atravessando o Rio dos Sinos encontramos pessoas, dificuldades e muita superação
Q
ue 2020 foi um ano atípico, cal e população, mas impactar a isso todos nós já estamos nós mesmos, repórteres, futuros cansados de reproduzir aos jornalistas. A realidade é arrebaquatro ventos. Mas fazer tadora. Bate na nossa cara, nós esta edição do jornal Enfoque caímos e levantamos com uma realmente foi um dos grandes declaração, um depoimento de desafios para todos nós. A falta alguém que tem menos recursos do “olho no olho”, os detalhes, as que a gente, mas faz MUITO com inúmeras percepções o pouco que tem e FAZ que só se tem ao entrede coração, com orguvistar alguém pessolho e satisfação. almente, talvez tenha Infelizmente, não nos impossibilitado de pudemos ver o britrazer um olhar mais lho no olho dessas sensível e verdadeiro pessoas ao relatarem das pessoas e suas hissuas histórias e feitórias contadas aqui. tos, mas ao menos, O bloco de notas, tentamos trazer em a caneta, o gravador cada linha, em cada e a câmera fotográparágrafo e em cada fica deram lugar aos aplicativos página o que essas iniciativas de troca de mensagens instan- significam para a região nordestâneas. O “novo normal” nos ti- te de São Leopoldo. E, acredito rou das ruas, nos distanciou das eu, que nós conseguimos! comunidades de São Leopoldo, Já enquanto editora-chefe, tive nos impediu de qualquer visita dificuldades ao revisar as matérias às casas, ocupações e instituições de meus colegas, principalmente que integram o município. pelo receio de mudar o estilo, a forEnquanto repórter, desta vez ma que cada um tem de reportar precisei ser mais paciente, per- as histórias em sua escrita. Foi um sistente e teimosa. O grande X aprendizado e tanto. Um trabalho da questão de fazer o Enfoque árduo e de muita dedicação e sené justamente ser joso de responsabilidade. gada para dentro de Mais uma experiência “Precisei ser que eu vou levar da uma realidade completamente diferen- mais paciente, Unisinos e dessa discite da sua. É perceber plina que quase me deipersistente e xou louca, mas que enque o Jornalismo Comunitário e Cidadão cheu o meu coração de teimosa” existe não apenas esperança e reforçou a para dar visibilidade certeza de que escolhi a PAOLA CUNHA para determinado loprofissão certa!
S
er repórter é um trabalho árduo, ceber todo o contexto. Além do desafio que exige persistência, curiosidade de não poder ir até a região Nordeste de e bastante paciência. Para fazer esta São Leopoldo, também me deparei com a edição do Enfoque, tivemos um cenário segunda dificuldade: conseguir o contacompletamente atípico e desafiador: uma to das minhas personagens e encontrar pandemia. Nesse contexto, as consequên- disponibilidade em nosso dia para concias da crise sanitária no país e no mundo, versarmos. Para o repórter não tem dia nos fizeram ficar distantes das pessoas, nem noite. Conversamos às 22h30 de uma das nossas fontes, e o trabalho quinta-feira, em um domingo de apuração precisou ser feito à tarde, em uma tarde durande outras maneiras, sem qualte meu trabalho, por áudios, quer deslocamento ou “olho mensagem de whatsapp, por no olho”. Contar histórias é o telefone. Nos adaptamos aos papel do jornalista e, principaldiversos meios de comunicação mente, é o fascínio por ouvir e e tempo de cada uma. relatar histórias que movem o O repórter pode testar sua jornalismo comunitário e ciresiliência também quando um dadão. Apresentar realidades dos entrevistados conta um poutão diferentes dentro de uma co da sua história e, por algum atmosfera que nós, estudanmotivo, desiste da entrevistes universitários, ainda não havíamos ta. Infelizmente, tive que passar por essa passado. Ao mesmo tempo que é uma situação durante a construção de minha função encantadora e instigante, nos dá matéria. Cabe a nós não julgar, mas commedo, criamos expectativas demais e as preender que cada um tem seus motivos e coisas nem sempre saem da forma como nos colocarmos à disposição caso a pessoa planejamos. E esse é um sentimento que volte a querer falar. Persistir, adaptar-se nós compartilhamos, mas que e estar disponível a ouvir, que já está em extinção há algum sejam por minutos ou horas. Foi “É o fascínio assim que consegui entrar um tempo, o jornalismo raiz. Segundo o dicionário Mipouquinho na vida da Jaquepor ouvir cheaelis resiliência significa: line e da Suelen. Mesmo sem e relatar capacidade de rápida adaptanunca terem me visto na vida ção ou recuperação. Para mim, histórias que me permitiram conhecer uma essa palavra foi a que moveu parte importante da vida de uma movem o toda a produção, apuração e mulher, a maternidade. Conheci construção dos textos. Desde duas mães fortes, sensíveis e que jornalismo o início fiquei me perguntanassim como todos, estão lutando do como seria construir uma comunitário e pelas suas famílias. Essa expehistória sem o contato direto riência foi única e cresci muito cidadão” com a comunidade, com as como repórter e como pessoa. pessoas, já que estar cara a Obrigada Jaque e Suelen. VoTAINARA MAUÊ cara é fundamental para percês são pura inspiração!
RIO DOS SINOS: ARQUIVO DE MORADORES; PAOLA CUNHA E TAINARA MAUÊ: ARQUIVO PESSOAL
20. Saúde
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Maternidade na Steigleder em tempos de Covid-19 Mães fazem o que podem para manter seus filhos e famílias protegidos do novo coronavírus
“E
u sou uma mãe boa”. Essa é a definição que Jaqueline Rodrigues dá à sua maternidade. Mas Jaque, que tem 37 anos, é muito mais do que uma boa mãe. Com oito filhos, sete biológicos e uma adotiva, ela se mostrou uma mulher forte e cheia de vontade para ajudar os moradores da Ocupação SteigleSuelen e os filhos Arthur, de 6 anos, e Anthony, de 2 meses der, região Nordeste de São Leopoldo, onde vive. Demorou um pouco para conseguirmos fechar nossos horários para a entrevista, pois além de ser mãe, Jaque também é uma das coordenadoras da ocupação. Entre mensagens de WhatsApp e ligações, a mãe de Henrique, Erick, Lucas, Natã, Tainã, Andrielli, Rhuan e Myrella se dispôs a contar um pouco da sua história de vida. A moradora relata que aos 15 anos descobriu que estava grávida. Ao descobrir sobre a gravidez, o choque foi ineJaque e família comemorando seu aniversário este ano vitável, pois pensou na sua liberdade, no que deixaria longe do hospital, ela ia an- da segue sendo até hoje sua de conhecer. Obrigada pelo dando até lá todos os dias na referência de mulher. pai a “se juntar” com o então hora da visita, mas por conta Anos depois, com quanamorado, a vida conjunta disso, acabava perdendo a tro filhos homens, Jaque se do casal durou somente 4 vez para os familiares do pai deparou com outra situação meses, e então Jaque se viu de Henrique: “A partir disso, desafiadora: Andrielle, sua forçada a morar com os pais nunca mais vi o Henrique”. sobrinha, havia sido abanoutra vez. Ela conta que so- Jaque conta que a família do donada pela mãe biológifreu muito com isso, pois o ex-namorado a proibiu de ca. “Meu pai e eu pegamos pai era alcoólatra, a mãe ti- ver o próprio filho. “Eu fui uma bicicleta, e a gente foi nha problemas conhecer meu daqui (São Leopoldo) à Sasérios de saúde “Brasil é o país filho de novo pucaia (eu estava grávida de e o namorado quando ele ti- 8 meses) pegar a Andrielli”. não a ajudava. com mais mortes nha 18 anos”, Questionada pelo pai, Jaque Aos 9 meses conta. Ao saber disse que cuidaria da sobride grávidas e de idade, Hendos problemas nha, mas que não devolveria rique, seu pri- puérperas” familiares da mais a menina. Foi então que meiro filho, foi parte materna, conseguiu a guarda de sua diagnosticado com menin- o juiz não deu a guarda para primeira filha mulher. gite. Começou então outro Jaque, impedindo que mãe momento difícil na vida da e filho convivessem. COVID-19 E GRAVIDEZ jovem mãe. Por ser adolesPor não ter seu primoSegundo estudo publicacente, a equipe do hospital gênito por perto, Jaqueline do pela revista médica Interjulgou correto dar mais in- queria muito engravidar e ter national Journal of Gynecoformações sobre o estado de outro filho “para acalmar um logy and Obstetrics, o Brasil saúde do filho somente ao pouco o coração”. Foi quando é o país com mais mortes pai, pois julgaram que Ja- teve seu segundo filho ho- de grávidas e puérperas do queline era muito nova e não mem. Sua tia Diorlanda era o mundo — período em que a tinha responsabilidade. Des- seu porto seguro e a ajudava mãe tem diversas transforta forma, também ficaram com os exames do pré-na- mações físicas e psíquicas, responsáveis por cuidar do tal, marcação de consultas e com duração em torno de 42 menino no hospital duran- também a levava ao hospi- dias após o nascimento do te a internação. Por morar tal para os partos. Diorlan- bebê. Os dados do nosso país SUELEN E JAQUE: ARQUIVO PESSOAL
são alarmantes: a doença foi diagnosticada em 978 gestantes e puérperas, mas sabe-se que esses números não são exatos, pois só mulheres com sintomas graves foram testadas para a Covid-19. Dados parciais do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica do Rio Grande do Sul publicados em agosto deste ano apontam 60 gestantes hospitalizadas em decorrência do vírus, sendo que uma morreu e 18 mães na fase do puerpério também foram contaminadas. Jaqueline realizou seu sonho de ter uma filha menina, Myrella, em agosto deste ano, mês em que o novo coronavírus atingiu o seu pico no Rio Grande do Sul. Para ela, o maior desafio de ter uma recém-nascida nesse período é protegê-la do vírus. “Ter um bebê em tempos de pandemia, e ter que conviver com ele no meio da sociedade é sempre um medo, um frio no coração, pois eles são tão frágeis, mas ao mesmo tempo tão fortes. O mais difícil é ter que dizer para as pessoas que não pode pegar no colo”, explica Jaque. Mesmo com todas as incertezas do período, a gestação da jovem mãe foi tranquila, com todas as consultas do pré-natal realizadas na Unidade Básica de Saúde da região. Com o sonho realizado de ter a sua bonequinha, Jaqueline resume o sentimento das mães: “nasceu no momento mais difícil, no meio de uma pandemia, onde muitas pessoas perderam a vida por causa da COVID-19, mas ela sobreviveu, pois eu fiz o que pude para protegê-la”. Além da preocupação com Myrella, Jaqueline também teve dificuldades em fazer com que os filhos entendessem a gravidade da situação. “No começo da pandemia foi um pouco difícil, pois eles não queriam entender que não podiam sair, que não podia ter aglomeração.” Outro desafio que enfrenta é na ajuda aos filhos com as aulas online. Por não possuírem celulares para todos, é necessário se deslocarem até à escola para obterem os trabalhos já impressos. Jaque relata que, em certas ativida-
des, tem dificuldade em ajudá-los e por isso algumas delas não são entregues.
AUXÍLIO
Em março deste ano, 348 mulheres do munícipio de São Leopoldo que participam do programa Bolsa Família, receberam a variável gestante, um auxílio de R$ 41,00 a mais que ganham durante 9 meses. Neste número são consideradas apenas as mães que realizaram o pré-natal, o que significa que esse total pode ser maior. Suelen Santos Hans, de 24 anos, mãe de Arthur e Anthony, nascidos há dois meses, é uma das beneficiadas. Sua família conta com o auxílio todos os meses, mas no último teve problemas em receber os valores. Ela conta que foi até o banco, porém o benefício não estava disponível: “Estava contando com o dinheiro pra comprar as coisas dos meus filhos, mas tá difícil”. Carolina Cerveira, assistente social da Prefeitura de São Leopoldo, diz que existem diversas razões para as famílias não receberem o benefício, mas que alguns motivos ainda são incompreensíveis, pois o governo federal não disponibiliza informações claras para que as equipes possam auxiliar de forma mais efetiva. A orientação de Carolina é que as famílias busquem ajuda no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) quando tiverem problemas com o saque do auxílio. Mesmo com todas as dificuldades de acesso à alimentação — já que por muitas vezes falta leite, frutas e até mesmo fraldas —, a família de Suelen é grata pela ajuda que recebem. Morando no galpão da associação dos moradores da ocupação Steigleder, eles vivem em uma casa com apenas um quarto, cozinha e um banheiro recentemente construído com doações. Levando a vida como pode, a mãe de Arthur e Anthony explica que não tem saído muito de casa por conta da pandemia: “Fico fazendo meus deveres de casa e cuido dos dois pequenos”, diz. TAINARA MAUÊ
Educação .21
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Imagens do projeto fotográfico Mulheres Mudam o Mundo. Abaixo, encontro entre as integrantes do coletivo e alunas mais novas, chamado de “Empoderinha’’. A pequenas receberam cartilha com conteúdo especial
Coletivo empodera alunas da Escola Chico Xavier Grupo levanta questões sobre empoderamento, amor próprio e feminismo entre as alunas
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discussão sobre o papel e os direitos das mulheres se amplia a cada ano. Ao redor do mundo é possível notar o crescimento do movimento feminista, que está cada vez mais presente no cotidiano. E engana-se quem pensa que a luta contra o machismo e a sociedade patriarcal é um movimento que pode ser separado da educação. Na escola, um dos primeiros lugares em que convivemos em sociedade, questões ligadas ao gênero são aparentes, não só dentro das salas de aula, mas nos corredores, no momento do intervalo e em diversos outros lugares. Idealizada pelos professores, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Chico Xavier foi desenvolvida de acordo com os diagnósticos levantados sobre a realidade da região nordeste de São Leopoldo. A
escola ganhou um projeto po- “perturbavam”. Neste levanlítico pedagógico baseado nos tamento, se observou que, dos direitos humanos, trazendo aproximadamente 60 alunos temas como racismo e diver- analisados, apenas dois eram sidade para dentro da sala de meninas. A professora Melissa aula. A necessidade de abordar Wonghon, responsável pelo questões de gênero partiu dos projeto, conta que as relações próprios alunos, e reflexo disso de gênero sempre chamaram a é o surgimento atenção dos prodo coletivo Em- “As meninas fessores. Segunpodera, espado ela, os alunos ço onde jovens começaram a eram abertos ao m e n i n a s , d o liderar e exercer diálogo e, com sétimo ao nono isso, muitas ano, discutem influência no vezes comparassuntos rela- ambiente escolar, tilhavam casos cionados aos dide violência doreitos femininos. que antes era méstica. A ideia do marcado pela Após os daprojeto surgiu dos coletados em 2016, após forte presença na análise comum diagnóstico masculina” portamental, o dos alunos elacoletivo Empoborado no ano anterior. Ao dera foi estruturado. O grupo observar problemas comporta- despontou com o objetivo de mentais nos relacionamentos incentivar as alunas a se tornaestabelecidos na escola – sejam rem líderes estudantis, visando eles entre meninos e meni- a construção de uma cultura nas, ou apenas entre meninas escolar não sexista, onde as –, a equipe diretiva realizou relações ali estabelecidas fosuma análise comportamen- sem pautadas pela igualdade tal daqueles alunos que mais de gênero. Os temas abordados ARQUIVO PESSOAL DE MORADORES
pelo grupo em sala de aula são os mais diversos: feminismo, violência doméstica, gravidez na adolescência, questões ligadas à sexualidade, movimentos LGBTQI+, entre outros. Melissa relata que os assuntos discutidos nas reuniões do coletivo são listados pelas próprias alunas através de um levantamento realizado no início do ano e que, para coordenar o grupo, é necessário ter pulso firme e disposição para tratar dos mais diversos temas. Como o coletivo é destinado às séries finais, as estudantes criaram uma cartilha sobre os temas abordados no grupo – como empoderamento, feminismo e amor próprio – para apresentar às meninas mais novas, projeto que foi batizado carinhosamente como "Empoderinha". Para a ex-aluna Maria Eduarda Vitória da Silva, o Empodera mudou sua perspectiva e a tornou uma mulher diferente. Aos 11 anos, quando sofreu o primeiro assédio, Maria Eduarda pensava
que era culpada pelo abuso sofrido. ‘’Eu corri muito rápido para casa e fui para o meu quarto com muita vergonha, pois pensava que eu tinha causado aquilo, mas não fui. E foi isso que o Empodera me ensinou’’, destaca. Segundo a Professora, com a criação do grupo, notou-se uma mudança de comportamento na escola. As meninas começaram a liderar e exercer influência no ambiente escolar, que antes era marcada pela forte presença masculina que, na maioria das vezes, tumultuavam a sala de aula. Melissa relata o orgulho que sente pelas participantes do grupo – por aquelas que fazem e que já fizeram parte do coletivo – e destaca a sua emoção ao se deparar com os frutos do trabalho realizado ao observar as alunas se posicionando à frente de questões feministas, tanto nas redes sociais como também em suas vidas. MAYANA SERAFINI THOMÁS DOMANSKI
22. Educação
ENFOQUE SÃO LEOPOLDO | REGIÃO NORDESTE | DEZEMBRO DE 2020
Escola atende alunos com necessidades especiais Os estudantes narram a acolhida de professores e colegas da Escola Pe. Orestes e a proposta diferenciada onde todos ensinam e aprendem
se trata de melhorias. "A rampa de acesso já está criando rachaduras, na escada já percebemos melhoras com a fita antiderrapante, ou seja, no geral está tudo bem, mas há essas melhorias a serem feitas", disse o estudante. Natan Ocana Moreira (14 anos) possui Deficiência Intelectual e também é aluno da escola Pe. Orestes. Segundo a mãe, Suelen Ocana Moreira, o filho se sente muito acolhido na instituição onde estuda há 3 anos. "O Natan adora, e eu também como mãe me senti acolhida, os diretores e professores fazem parte das nossas vidas," explica.
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ocê já deve ter ouvido a expressão aluno com necessidades especiais, ou então sala de recursos. Antigamente esses alunos muitas vezes eram encaminhados para escolas especiais, ou nem estudavam. Hoje as escolas são obrigadas a recebê-los, mas algumas não estão preparadas para isso. Não é o caso da escola Pe. Orestes que fica no bairro Santos Dumont, em São Leopoldo. A instituição atende atualmente 30 crianças com algum tipo de necessidade especial. Mirian Teresinha Zimmer Soares, ou a professora Mirian, como é carinhosamente conhecida pelos alunos, é a responsável pela sala de recursos. Lá os alunos vão pelo menos uma vez por semana para serem atendidos, no contraturno. No horário regular permanecem junto com a turma, onde eles têm o direito a um apoiador que na maioria das vezes é um estagiário. Segundo Mirian, dos 30 alunos a grande maioria (19) possui deficiência intelectual, um tem Síndrome de Down, 4 são autistas, 2 tem deficiência física 2 transtornos múltiplos. Algumas vezes o aluno possui mais do que uma necessidade. Em relação à estrutura, a professora ressalta que quando a escola foi instituída vieram diversos materiais, porém hoje falta muita coisa para se ter uma sala de recursos adequada, como jogos atualizados, tecnologias assistivas, entre outros. A escola Pe. Orestes fica em uma região de São Leopoldo que é marcada por muitas carências, porém segundo Mirian o principal problema enfrentado não é a falta de condições financeiras dos familiares e sim a dificuldade do conhecimento em relação à saúde. "Até que a gente consiga convencer uma família de que o seu filho tem uma ne-
“O Natan adora, e eu também como mãe me senti acolhida, os diretores e professores fazem parte das nossas vidas”
Natan, autista, adora assistir as aulas
Suelen Ocana Moreira Mãe de Natan
Bruno e a professora Mirian: uma relação de carinho e aprendizado mútuo cessidade especial e precisa de um acompanhamento, leva um tempo. Ela só se dá conta quando a criança não se alfabetiza, e aí entram em pânico", explica. Outra dificuldade, segundo a docente, é a falta de estrutura do bairro. "Quando esses pais finalmente se convencem que o filho precisa de ajuda e procuram o posto de saúde do bairro, não tem pediatra, sendo necessário se locomover para outros bairros, fora os especialistas que certa-
mente o profissional indicará como neuropediatra que não tem na cidade, fazendo com que muitas vezes os pais desistam do tratamento", lamenta Mirian. Algo a se comemorar segundo a professora é a boa aceitação dos colegas, principalmente nos anos iniciais. "Eles têm um tratamento diferenciado, eles sabem cuidar da criança, querem cuidar, chegam a brigar para ajudar, e isso é maravilhoso," comenta. NATAN E BRUNO: ARQUIVO PESSOAL
Bruno dos Santos Novack (13 anos), autista asperger, disse que adora frequentar a escola, elogiando bastante a sala de recursos. "Gosto muito de ir à escola. A sala de recursos é maravilhosa, a professora Mirian ajuda bastante, ela tem uma interação com os alunos, ela ajuda quando a gente tem necessidade”, comemora o aluno. A sala de recursos ajuda Bruno a se enturmar com os colegas. Mas nem tudo são flores, principalmente quando
Antes o menino brincalhão, tagarela, esforçado estudava em outra escola onde a experiência não foi a mesma, principalmente quando em 2016 nasceu mais um irmão. A mãe teve que deixar Natan com a vó para ficar 4 meses no hospital. “Ele ficou bastante agitado e chegaram inclusive a tirar o recreio dele na escola onde estudava. Me indicaram, inclusive, uma escola especial. Briguei, chorei e quando ele concluiu o sexto ano o inscrevi na escola onde ele estuda atualmente", explica Suelen. Sobre o seu trabalho que realiza na escola, a professora Mirian diz se sentir muito orgulhosa. "É visível a evolução das crianças, elas se sentem mais inclusas entrando em um processo de autonomia aumentando assim a autoestima, isso ficou visível neste ano de pandemia, pois segundo os pais os filhos estavam bem no ano passado e esse ano sem a escola houve regressão”, conclui a professora. ANDERSON DILKIN
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A adaptação ao aprendizado a distância O fechamento de escolas devido à crise da Covid-19 revelou uma série de problemas na educação básica no Rio Grande do Sul e na Região Nordeste de São Leopoldo
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avanço da pandemia do novo coronavírus fez os alunos da rede pública trocarem o quadro de giz na escola por notebooks e celulares em casa. Com quase um mês de aulas presenciais, foi decretada no dia 16 de março a suspensão das atividades escolares em todo o Estado. De uma hora para outra, alunos e professores viram suas rotinas se transformarem completamente com as aulas on-line. A região nordeste de São Leopoldo conta com sete escolas, a EMEF Edgard Coelho, EMEF Francisco Cândido Xavier, EMEF João Belchior Marques Goulart, EMEF Maria Edila da Silva Schmidt, EMEF Padre Orestes João Stragliotto, EMEI Girassol e a EMEI Vitória Régia, totalizando 4.249 alunos matriculados. As escolas levaram um tempo até conseguir se adaptar a uma forma de ensino não presencial. Para os alunos que possuem acesso à internet foi disponibilizada a plataforma Google Classroom. Já para aqueles alunos que as escolas identificaram que não possuem acesso à internet, a cada 15 dias é fornecido um conjunto de materiais impressos que os professores produzem. Yuri dos Santos Schmidt, 13, anos, é um dos jovens que teve que adaptar sua rotina para permanecer em casa e estudar de forma adequada. Ele mora com seu pai, sua mãe e seu irmão. Yuri está na 8 série e estuda na escola E.M.E.F Francisco Cândido Xavier em São Leopoldo, onde é presidente do Grêmio Estudantil Marielle Franco. Durante o período de quarentena, ele afirma que está sentindo muita falta dos amigos, professores e das aulas presenciais. Para o adolescente, apesar de ter um ambiente adequado para fazer suas atividades em casa, é mais difícil se concentrar para estudar. Ele conta que não possui computador, então tem que fazer as atividades com o seu celular. “Eu
Alunos da EMEF João Belchior Marques Goulart em aula a distância
Prefeitura de São Leopoldo realiza entrega de kits de alimentação aos alunos da Rede Municipal. As doações ocorrem mensalmente
prefiro o ensino presencial, embora na Internet seja mais fácil de achar os conteúdos. No presencial de certa forma também pode ser fácil, porque quando o professor
está explicando o conteúdo, você entende de uma forma diferente, mais prática e explicativa”, relata. Em relação a aprendizado, Yuri conta que tira suas dúviDIVULGAÇÃO DA SMED - PREFEITURA DE SÃO LEOPOLDO
das tanto pela internet, quanto será distribuído um kit para com os colegas, e também per- responsáveis legais com um guntando aos seus professores. aluno matriculado em esco“Nós temos grupos de turma, la prioritária e dois kits para e temos um grupo separado responsáveis legais com dois com os colegas, em que nos alunos ou mais matriculados ajudamos e tiramos as dúvidas em escola prioritária. uns dos outros”, afirma. Nos casos de famílias com Segundo a Secretária Mu- filhos em escolas diferentes, nicipal de Educação de São o kit está disponível para reLeopoldo (SMED) já foram tirada na escola prioritária realizadas seis em que o filho entregas de kits mais velho estide alimentação “No ensino ver matriculado. para estudantes presencial, de Conforme a Seda rede municicretaria, é necespal de ensino em certa forma, sário que os pais São Leopoldo. também pode ou responsáveis Todos os alunos legais pelos aludas 19 escolas do ser fácil, porque nos apresentem núcleo prioritá- quando o o documento rio e das escolas de identidaque possuem professor está de na retirada turno integral explicando o dos kits. terão direito “Está enao kit que tam- conteúdo, você cerrando nossa bém é entregue entende de uma sexta entrega aos estudantes de alimentos, beneficiários forma diferente são 15 kg em do Programa mais prática e cada entrega Bolsa Família. para cada famíCada kit pos- explicativa” lia. No kit vem sui em torno de Yuri Schmidt arroz, feijão, 1 2 p r o d u t o s Estudante açúcar, massa, para suprirem azeite e leite em as necessidades alimentares pó. Também entregamos para das famílias. A distribuição os alunos mais vulneráveis de está sendo feita diretamente educação infantil conveniana escola prioritária em que das”, afirma a assessora de reo aluno está matriculado e lações Intersetoriais da SMED os kits serão entregues pre- e integrante do CO-E Municiferencialmente para a mãe, pal, Renata de Matos. pai ou responsável legal pelo THARIANY MENDELSKI estudante. Segundo a SMED,
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Entrevista | Jussara Dias Bueno
"Lutamos por uma escola realmente inclusiva" A diretora da escola Chico Xavier conta como sua trajetória educacional trouxe uma abordagem voltada para a diversidade
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uando chamo a Jussara para conversar por chamada de vídeo, nos primeiros segundos o que me chama atenção é um quadro com uma ilustração de duas mãos dadas, mais tarde percebo que a professora usa uma camiseta que estampa o dito popular ‘’ninguém solta a mão de ninguém’’. Não demorou muito para perceber que o lema ‘’cuidar, acolher e educar’’ é algo que transcende as barreiras da escola
e invade a vida da professora em todos os aspectos. Natural de São Leopoldo, Jussara viveu na Vila Tereza, região que vive até os dias de hoje. Filha do Seu Oli e da Dona Regina, Jussara conta que, apesar de analfabeto, o pai era extremamente politizado e foi dele que herdou seu engajamento político. Quando ganhou uma bolsa para o colégio particular, por ser de uma família extremamente humilde, sofreu o processo exclusão. Hoje, com uma longa trajetória de 32 anos na área da educação, há oito ocupa o cargo de diretora da escola Chico Xavier, lugar pelo qual carrega uma paixão imensa e perceptível por qualquer um.
Enfoque – Como decidiu entrar na área da educação? Jussara – A minha avó era a matriarca da família. Foi a primeira Frida que eu conheci na minha vida. Por ser matriarca, ela tinha muito essas questões do patriarcado de decidir as coisas. Eu fui fazer o magistério, por uma imposição da minha avó, jurando que jamais ia ser professora. Fiz essa escolha porque queria muito estudar e ela que ia proporcionar isso. Já no segundo ano que eu estava no magistério, os alunos já atuavam nas salas de aula. Foi aí que eu já comecei a me apaixonar. Só não dizia em casa dessa paixão, porque eu ia
estudar contrariada. Quando eu fiz o concurso público em 1988, fiquei trabalhando no município de São Leopoldo, e fui convidada a continuar trabalha na escola particular onde me formei. Eu saía de um mundo e ia para outro. Isso começou a mexer muito comigo, com as memórias dos processos de exclusão que eu sofria na escola particular. Foi aí que comecei a militar socialmente. Enfoque – De quando você iniciou na área da educação até hoje, quais são as principais diferenças? Jussara – A educação é muito lenta. Nesses 32 anos o maior boom que tivemos foi
a questão das jornadas pedagógicas e toda essa desconstrução para uma pedagogia mais livre e atuante. Agora, a educação tá vivendo um retrocesso. Até mesmo das relações de gênero e sexualidade, que a gente já vinha trabalhando desde os anos 1990. Não tanto a questão da orientação sexual ou todo o viés que vem da diversidade, mas a gente conseguia falar de sexo. O diferencial da Chico é que lutamos para que isso não seja isolado a determinados professores, é uma proposta de escola. Nos últimos dois anos, tiveram muitas ameaças a professores. Não sofremos esses ataques porque a proposta da Chico não se limita
Diretoria da escola (da esquerda para a direita): Luciele Lírio (supervisora), Natália Almeida (vice-diretora), Jussara Dias Bueno (diretora) e Natalie Souza (supervisora).
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as disciplinas de história ou ciências, ela é maior, é ampla e transcende a escola. A gente fala sobre esses assuntos, então o pai sabe o que tá se discutindo ali dentro. Enfoque – Qual é a proposta pedagógica da escola Chico Xavier? Como é a relação dos pais diante a proposta pedagógica da escola? Jussara – Eu acredito muito que é muito bem aceita e tenho certeza que é pela abertura que a escola tem. A nossa filosofia, “Acolher, Cuidar e Educar’’, ta em todos os lugares. Quando o pai chega incomodado, a gente atende, deixa ele se desarmar e vai conversando para que se entenda que aquilo é uma questão de aprendizado e a gente precisa trabalhar. Investimos muito em momentos que a comunidade esteja na escola. Se um aluno não vinha na aula, a gente telefonava e se não atendiam, íamos até a casa para ver o que estava acontecendo. A gente quer aprendizagem, então não tem como olhar um só, na educação isso não dá certo. A criança que
“Não existe neutralidade na educação. Educar é um ato político. Também de fortalecer as políticas públicas, para que tenha esse debate da forma mais ampla. Quanto mais as pessoas falarem sobre isso, mais vivo vai ser”
não está alimentada, não vai conseguir aprender. A proposta da Chico, em termos de educação integrada, é isso. É pensar a integralidade. Enfoque – Você nota uma influência na comunidade? Jussara – Muito! A gente se corrige lá na escola entre nós como professores, porque uma das coisas que a gente acredita é que a nossa fala tem poder. Nós nos policiamos na hora de falar, e eu vejo que os pais também têm esse cuidado. Quando eles mandam foto mostrando que já construíram a sua horta, que é porque os filhos participam da horta da escola e já levaram isso para casa, a gente vê que isso é uma intervenção direta da escola. Enfoque – De onde surgiu a ideia de trazer uma abordagem que une a educação a diversidade? Jussara – Eu comecei de um processo de exclusão. Na minha família, meu pai teve oito irmãos, minha mãe tinha três, nenhum se autorizou a entrar na faculdade, por um
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ou outro processo de exclusão. Esse processo é feito, não só pela questão das desigualdades sociais, mas também pela forma que a escola coloca todo mundo dentro de um padrão. Isso acontece sempre, seja pela questão da diversidade sexual, ou como eu vivi, mas tem também outra questão que a gente vem trabalhando que é a questão da inclusão. Lá na Chico a gente luta para fazer uma escola realmente inclusiva em todos os aspectos. Tem que olhar e tentar ver todas as formas de exclusão que existem dentro da escola. Eu costumo dizer que a hora do recreio precisa ser muito observada, é ali que acontecem os processos. É nos banheiros, no corredor, no pátio, nas brincadeiras que tu olha todo mundo rindo sem perceber o sofrimento do outro. Enfoque – Quais são os maiores desafios de trabalhar com educação e diversidade nos dias de hoje? Jussara – Acho que num geral, a gente vai ter que fazer todo um movimento político e social para dar um respaldo para que a educação faça es-
ses debates. As pessoas vão ter que sair da sua caixinha e eleger pessoas que entendam que não é querer ou não, já existe uma legislação que precisa ser colocada em prática. Inclusive os professores, pois muitos acreditam que a política tá fora desse contexto. Mas não, não existe neutralidade na educação. Educar é um ato político. Também de fortalecer as políticas públicas, para que tenha esse debate da forma mais ampla. Quanto mais as pessoas falarem sobre isso, mais vivo vai ser. Talvez isso seja o diferencial da Chico, pois não falamos isso escondido na sala. Mesmo que eu tenha dito que desde os anos 90 está se discutindo, falar de sexo é um tabu, falar do corpo é um tabu, ainda é muito forte isso. É a concepção da sociedade que acaba entrando nas escolas. Não quero uma aula ensinando como faz sexo, mas não podemos ignorar a sexualidade. Não dá pra ignorar a fala machista, a fala homofóbica, não dá pra fazer de conta que não aconteceu e continuar dando a aula. THOMÁS DOMANSKI
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Ammep segue funcionando com atividades reduzidas Atividades em grupo realizadas pela Associação foram suspensas, mas a instituição continua atendendo quem precisa de roupas, alimentos e espaço para estudar
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ayane Godinho Rodrigues (11), mora na região nordeste de São Leopoldo, e há dois anos era uma das participantes da Oficina de Taekwondo, na Associação Meninos e Meninas da Progresso (Ammep), antes do início da pandemia quando atividades em grupo ainda eram permitidas. Um dia Rayane foi convidada pela professora da atividade para entrar na oficina. “Eu costumava ficar só olhando (as outras crianças treinarem), aí um dia a professora perguntou se eu queria participar também e primeiro eu disse que não e fui brincar na pracinha”, explica a menina. Mas Rayane mudou de ideia e no logo no dia seguinte já entrou para uma turma. As atividades em grupo ainda estão suspensas e a estudante usa o espaço da Associação para estudar e realizar seus trabalhos da escola. “Tô com saudades (da oficina), não estou praticando em casa, mas gosto do tempo que está sobrando, pois gosto de estudar”, relata a menina, que está no 4º ano do ensino fundamental. Devido à timidez, Rayane pediu que seu irmão, Raí Godinho (11), participasse da entrevista com ela para o Jornal Enfoque. Raí pratica Taekwondo na Ammep há três anos e também não vê seus coleguinhas com muita frequência. “Vejo eles só por acaso, quando nos encontramos no mercado, na farmácia”, conta. Segundo o menino, o Taekwondo o ajudava a ter mais energia no dia a dia e, também, a dormir melhor. Raí está no mesmo ano escolar que sua irmã, Rayane.
AUXÍLIO DURANTE A PANDEMIA
A Ammep é uma organização não-governamental (ONG) que atende crianças,
adolescentes e famílias de baixa renda. A ONG tem turno integral para educação infantil e meio turno para o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV). “Temos atividades de esporte, lazer, inclusão digital, etc. As atividades acontecem três vezes por semana e 4 horas por turno. Pela manhã, oferecemos café da manhã e almoço. Já à tarde, almoço e lanche”, ressalta o Coordenador da Ammep, Fábio Bernardo da Silva. De acordo com Fábio, as atividades em grupo estão suspensas desde o dia 18 de março, devido às medidas de prevenção contra o Coronavírus. Entretanto, ele afirma que a associação continua atendendo às famílias por meio da entrega de cestas básicas, além de manter o endereço à disposição dos estudantes que precisam fazer seus trabalhos da escola, mas não possuem internet ou equipamentos adequados em casa. “A Ammep segue de
portas abertas para as crianças que precisam estudar, mas não têm condições em casa. Nós não fechamos um único dia”, frisa Fábio. Os brechós que a Ammep promovia também precisaram encerrar, pois os voluntários que participavam da ação eram do grupo de risco. A iniciativa era uma oportunidade para pessoas voluntárias cumprirem uma atividade junto à instituição. As funções do brechó são garantir roupas e calçados para famílias que vinham buscar esse auxílio, além das vendas com valor simbólico que ajudavam na manutenção da associação. “Agora estamos utilizando o espaço onde era o brechó para a doação de roupas para as famílias que precisam. Eles vêm aqui e pegam”, explica o coordenador.
IGUALDADE DE GÊNERO E POLÍTICA
A adolescente Ingrid Godinho (17), tia de Rayane e Raí, fazia a Oficina DIVULGAÇÃO DA AMMEP
de Taekwondo desde 2015, quando as aulas de dança passaram a ser oferecidas pela instituição no ano de 2018. O interesse pela nova oficina foi instantâneo e logo a jovem trocou o esporte pela dança. Porém, Ingrid não aprendeu apenas a dançar e a lutar. Segundo Fábio Bernardo, a associação inclui ensinamentos sobre igualdade de gênero e também sobre política. “Não necessariamente
Atividades em grupo estão suspensas desde o dia 18 de março, devido às medidas de prevenção contra o Coronavírus
Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos “O SCFV cumpre um papel de garantir a convivência familiar e comunitária por meio de atividades e temáticas voltadas à construção da cidadania”, explica o coordenador Fábio Bernardo. Para ser atendido(a) pelo serviço de convivência e fortalecimento de vínculos, os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente devem solicitar o encaminhamento por meio do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) mais próximo de seu bairro. O CRAS Nordeste atende das 8h às 14h, de segunda a sexta-feira, na Rua Mauá, nº 2141, bairro Santos Dumont. Também é possível tirar dúvidas pelo telefone (51) 3591 4606, durante esse horário.
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a gente fala sobre gênero nas cer o crime. Diante disso, oficinas, mas nós apresenta- acusaram a instituição de mos de uma forma que todos ter influenciado a vítima a possam participar. Não exis- pensar que eles (a família) te uma só oficina que seja queriam praticar o incesto, só para meninos ou só para negando os abusos. meninas”, esclarece o coorFábio ainda conta que o denador. Segundo Fábio, os Conselho Tutelar foi acionabanheiros são unificados em do para resolver o caso e que um só. “Até nossos banhei- acredita que a criança está ros são assim. Temos apenas segura atualmente. Além um e os menidisso, a menina nos são ensina- “A Ammep segue ainda frequenta dos a respeitar a instituição e a s m e n i n a s . de portas abertas que atualmente Nunca houve para as crianças aparenta estar problemas de bem. “Na época, meninas sendo que precisam ela era bastante tocadas contra e estudar, mas não introvertida a própria vonreservada, hoje tade, sempre têm condições em dia é mais houve respeianimada, extrot o ”, a f i r m a . em casa” vertida, alegre”, Ingrid conta Fábio Bernardo da Silva observa o coorque, a partir do Coordenador da Ammep denador. que aprendeu Para Fábio, na Ammep, passou a ten- as discussões de gênero são tar incentivar seus colegas essenciais para que os jovens da escola e da associação possam reconhecer compora respeitarem as diferen- tamentos abusivos e reuniças. “No colégio, eu tinha rem forças para denunciáum colega que queria dan- -los. “Tenho plena convicção çar, mas era julgado pelos que falar sobre esses e outros meninos por ser ‘coisa de assuntos, ajuda crianças e/ou gay’. Aí eu falei pra eles que adolescentes a terem conmesmo se ele fosse gay, eles fiança e sentirem confiança deveriam respeitar”, relata. nos profissionais para conSegundo Ingrid, quando ela seguir tocar nesse assunto”, presencia alguma situação conclui o coordenador. de homofobia ou machisAMANDA KROHN mo na Ammep, ela conversa com os professores para que eles possam ensinar as outras crianças e adolescentes. “Sempre que eu falo, eles param”, conta a adolescente, que está no 7º ano do ensino fundamental. Na Ammep, os professores não apenas ensinam a respeitar as diferenças, mas também a procurar ajuda quando acontece algo de errado. Rayane, sobrinha de Ingrid, também tomou a lição para si e se posicionou. “Eu nunca fui tocada ou forçada a alguma coisa. Acho justo que quando uma menina é tocada, ela tem que falar para as pessoas. Os meninos têm que saber respeitar”, reforça Rayane.
Rayane utiliza os computadores da associação para fazer as atividades da escola
INFORMAÇÃO QUE PROTEGE
Graças às lições sobre igualdade de gênero na Ammep, uma menina de 11 anos conseguiu se livrar de uma situação de incesto e abuso familiar, na qual ela era forçada a situações que não gostava. A menina abordou o acontecimento, porque entrou no assunto durante as aulas. Segundo o Coordenador da Ammep, a denúncia fez com que a família da criança ameaçasse a associação, pois os familiares diziam desconheARQUIVO DA AMMEP
28. Moradia
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Cooperativa protagoniza melhorias na comunidade Presidenta da Bom Fim e moradora contam a história do grupo que chegou mais longe do que imaginava
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região nordeste tem um trabalho intenso ligado à busca de espaços para construção de moradias. Ocupar é um verbo que significa muito para aquela região. E ocupar é só o começo de uma construção coletiva, principalmente no caso da Bom Fim. A moradora e presidente da cooperativa Bom Fim, Karina Camillo, conta sobre sua vinda à região Nordeste e o surgimento de tudo. “Desde 1999 estou aqui. O loteamento da vila Progresso veio de uma ocupação no ano de 1998. Desta ocupação aconteceu a cooperativa, que hoje é representada por Mauro Nunes. São duas cooperativas: Progresso e Bom Fim. Toda a área pertencia à família Steigleder, ambas com contrato”, diz a moradora. Em 2002 surge o loteamento Coape, uma cooperativa maior, lá residem mil famílias com um loteamento ainda maior, possibilitando a regulamentação das famílias e das cooperativas neste local. “Foi através do orçamento participativo nos anos de 2006 a 2008 que as cooperativas se organizaram e isso demandou recurso financeiro”, afirma Karina. E completa: “A gente teve problema de recibos, nos organizamos antes de 2006 que não deu muito certo. As famílias tinham que dar aproximadamente 50 reais todo o mês para um responsável aqui na vila, mas isso não deu certo e foi muito difícil”. Karina e sua irmã Andréia negociaram o loteamento fundado por mulheres, a Coitrabi em 2008. “Esse loteamento surgiu do programa do governo ‘Minha casa, minha vida’ e a partir das nossas dificuldades (os problemas locais, falta de saneamento, problemas com o CNPJ, comunidade, regulamentação e associações de moradores), a Andréia, que trabalhava na secretaria de habitação, conseguiu ajuda. Eu consegui fazer um curso na Unisinos sobre cooperativismo. Eu não tinha ideia do que era e com ajuda dela, do Dr. Ricardo do Ministério Público, e dos técnicos conseguimos viabilizar muitas coisas, e regulamentar
nossas casas no loteamento dade para participar deste radores, a Associação de MoBom Fim. Fomos nos últimos processo e usufruir da estrutu- radores da Cooperativa Bom tempos para 142 unidades no lo- ra”, acrescenta Karina. Fim (Amobomfim). Tentamos de teamento”, fala Karina. “Algum Daiara Vargas, professora e tempo em tempo fazer as matempo depois, tivemos ocupa- moradora, fala sobre as conquis- trículas de moradores, porque o ções na Coitrabi e no loteamen- tas recentes e a Imposto Predial e to Padre Orestes, gerando duas busca de melho- “Antes disso Terreno Urbano ocupações, a Esperança e uma ria da cooperati(IPTU) faz parte outra Coitrabi. Nos loteamen- va para o futuro. tudo, tínhamos da nossa vida e tos há inúmeras dificuldades, “Estamos vivennão queremos 'gato' e uma seja família, renda, o espaço do um momento pagar multas físico e até mesmo a praça. A muito bom para estrutura muito com irregularipopulação da região nordeste a nossa cooperad a d e s ”. aumentou em um número ex- tiva, que é o cal- ruim de esgoto” Amobomfim, tremamente expressivo a partir çamento, e antes Daiara Vargas com a ajuda de de 2010”, diz a moradora. disso sem mais Professora e moradora da Bom Fim moradores e da “O poder público melho- enchentes, pois direção da coorou muito nas nossas escolas, passamos por muitas dificul- perativa Bom Fim está regulaprincipalmente no loteamento dades. A cooperativa não tinha mentando a situação de cada Chico Xavier. Se eu tivesse que água encanada na época. Muitas família. Daiara fala sobre o enfalar de ONGs e de escolas que enchentes, luz que sempre fal- volvimento da Amobomfim com abrem as portas para de fato tava, sem mercados por perto. a qualidade de vida da comuniatender bem, antes Mas aos poucos foi dade: “A Amobomfim entrou e não era assim. Com A participação se desenvolvendo fez muitas melhorias. Sempre a vinda da escola e melhorando”, diz envolvida em casos muito sérios de moradores Chico Xavier eles de todas as idades a professora. como a água, que até então as trouxeram uma na construção da “Da coopera- pessoas pagavam muito caro. proposta para os cooperativa faz a tiva viramos uma Conseguiram a tarifa social. alunos e a comuni- diferença associação de mo- Também aqui na cooperativa
ARQUIVO DA COOPERATIVA BOM FIM
estava tudo desregularizado e então conseguiram com que fosse regularizado e assim as pessoas ficaram mais seguras de ter seus terrenos, agora com escritura. A cooperativa está promovendo, neste momento, auxílio pela prefeitura e entrega de ranchos para as pessoas que necessitam”, afirma Daiara, e finaliza: “Atualmente estamos pavimentando nosso calçamento em 60% das nossas vilas, a única parte que falta fazer o calçamento é na minha rua. Plantamos mudas de árvores e sabemos que muito tem que melhorar. Na pandemia de coronavírus, o que acontece é a doação de cesta básica. Não há muita coisa diferente disso. Verificamos o número de matrículas dessas famílias e, se eles não tem, eles não têm ajuda nas escolas, eles nos procuram e a gente faz o possível pra ajudar”. GABRYELA MAGUETA LUCIANO PACHECO
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Pelo direito à moradia Movimento luta por políticas públicas e assistência às famílias das ocupações
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termo ocupar traz sentidos variáveis para quem lê. Alguns entendem como tomar posse, outros como invadir e, no Brasil, apresenta um peso muito grande na vida de milhares de pessoas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE), cerca de 7,8% dos imóveis no Brasil estão em situação irregular. Em uma matéria publicada pela BBC Brasil, em 2018, o país tem 6,9 milhões de famílias sem casa e 6 milhões de imóveis vazios. No município de São Leopoldo, as pessoas que necessitam de um teto para viver se dividem em quatro locais: ocupação Steigleder, Justo, Vitória e Cerâmica Anita. Segundo Cristiano Schumacher, da Coordenação Estadual do Movimento Luta por Moradia, a região Nordeste "nasceu da ocupação". O local que hoje abrange os bairros Santos Dumont e Rio dos Sinos era uma área vazia e urbana do lado de São Leopoldo, que foi sendo ocupada e transformada. Hoje, pessoas ainda têm que viver em ocupações, como a de Steigleder, sem água ou luz. O trabalho de conquistar a casa própria ainda depende dos retornos do Governo Federal, como o projeto “Minha Casa Minha Vida”: ‘‘Nós temos comunidades reassentadas, nós temos famílias morando em acampamentos de maneira extremamente precária, sem banheiro, em condições extremamente insalubres, nós temos famílias morando em área de preservação ambiental’’, conta Cristiano. Jaqueline dos Santos Rodrigues (37) é uma das moradoras da ocupação Steigleder. Ela vive no local junto com seu marido, quatro filhos e a sobrinha. A maior dificuldade
enfrentada pelos moradores no momento, segundo ela, é não poder sair para fazer o seu trabalho. “Cerca de 90% dos moradores trabalham com reciclagem e neste período estão receosos em sair porque não sabem se o material que vão pegar está contaminado”, disse. Moradora há 13 anos, Jaqueline coordena a ocupação junto com Cleber dos Santos Martins. Para tentar auxiliar os moradores da região, Cristiano Schumacher cita os projetos do Movimento Luta por MoraOcupar, para o dia’: ‘‘O CRAS tem realiMovimento Nacional zado alguns projetos de de Luta pela Moradia, apoio à população, como significa dar um sentido aos a produção de pães para espaços vazios para quem venda. Nós somos uma não tem seu próprio espaço organização nacional movimento de moradia, que já existe há 30 anos e reúne cooperativas, associações de moradores e grupos de trabalho. Nós somos uma organização que, sim, realiza ocupações como instrumento político de pressão, mas que sabe construir na atenção e na pressão também políticas públicas. Então, a gente participa dos conselhos de saúde e habitação’’ conclui. Segundo Cristiano, toda essa movimentação realizada pelo grupo é importante para estreitar as relações com o poder público e assim fazer com que eles voltem o olhar para região, pensando em políticas públicas que deem assistência às famílias: ‘Tem as casas, os reassentamentos, a gente teve obras de infraestrutura, a gente teve unidades de saúde, escolas referenciadas. As famílias melhoraram de renda e viveram melhor’’, afirmou, durante conversa com os alunos da disciplina de Jornalismo Comunitário e Cidadão, da Unisinos. HENRIQUE TEDESCO
Um lugar para chamar de seu Ter a casa própria é, muitas vezes, o sonho de quem paga aluguel ou não tem endereço fixo. Cerca de 30 milhões de brasileiros ainda não têm um lugar que possam chamar de seu. Quando essa conquista é atingida, a vida de uma família inteira muda. Mas indo muito além de ter um lugar para viver, essa mudança também traz junto segurança e dignidade. Há seis anos esse sonho se tornou realidade para Enelina
Helena dos Santos Dornelles (58), moradora da Vila Brás. Hoje, ela conta com alegria sobre o momento em que recebeu as chaves da casa onde vive com o marido, um filho e um neto:” Olha, é uma sensação de vitória, de conquistar algo que para a gente parecia impossível, já que eu vinha há anos tentando e nada dava certo, e quando entrei na minha casa e olhei não acreditei que era minha”, lembra a moradora. No início, para adquirir o
Sandra conseguiu sua casa própria em 2014 por meio do Cootrahab
MNLM: DIVULGAÇÃO; SANDRA: ARQUIVO PESSOAL
imóvel, precisou economizar e pedir empréstimos para conseguir dar a entrada na casa, para depois começar a pagar as parcelas restantes. Mas todo esse esforço valeu a pena. Esse mesmo sentimento de realização é relatado por Marli Moraes (58): “Foi uma conquista maravilhosa, não tinha mais esperanças de conseguir uma casa, com o salário que ganhava nunca ia conseguir”, explica a manicure. Ela veio de Campo Bom, há 12 anos, e por oito anos pagou aluguel até conseguir sua casa, no Bairro Santos Dumont, por meio de uma cooperativa habitacional. A Cooperativa de Trabalho, Habitação e Consumo Construindo Cidadania (Cootrahab) foi quem possibilitou a dona Marli adquirir a tão
sonhada casa própria. Assim como ela, muitos brasileiros estão saindo do aluguel por meio de cooperativas habitacionais. Hoje em dia, existem aproximadamente 282 no país, segundo dados da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), com mais de 100 mil associados. Foi também por meio da Cootrahab que dona Sandra Regina Machado (55) conseguiu, em 2014, conquistar sua casa própria. Moradora do Bairro Santos Dumont, ela define em poucas palavras aquele que pode ser o sentimento de todos os que realizam o sonho da casa própria: “Dentro da minha casa própria eu me sinto como se estivesse no paraíso.” LUCIANO PACHECO
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Famílias se unem em projeto de dança para jovens Grupo Explosão da Dança promove socialização para jovens na Região Nordeste
das famílias e dos alunos tem sido a grande força que faz o projeto crescer cada vez mais. Além disso, ela conta que todos do time de novos professores foram alunos do próprio Explosão. “A Vila Brás é uma comunidade muito presente e participativa. E com o Explosão não é diferente. A comunidade apoia e sempre apoiou o nosso trabalho”, afirma a professora e fundadora do Grupo.
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undado em 2005 por Graciela Souza, o Grupo Explosão da Dança é um dos grandes exemplos de como comunidades unidas possuem a força de transformar a vida de crianças e adolescentes, muitas vezes esquecidas do poder público, através da cultura. Professora de educação física e coreógrafa, Graciela iniciou o Explosão na Vila Brás, local onde morava, com o objetivo de transformar a realidade das crianças através da arte. Ela conta que hoje o projeto possui 300 integrantes e se mantém com contribuições da comunidade e um pouco de apoio financeiro do poder público. Segundo a educadora social Adriana Vidal, que conhece Graciela desde pequena quando lhe dava aulas de catequese na igreja, sempre foi o sonho da coreógrafa em ter um grupo de dança. “Eu acompanhei, ao longo dos anos, o crescimento da Grazi (Graciela), suas lutas e seus sonhos. Lembro que ela iniciou o Explosão meses antes da minha filha nascer e eu prometi que, se fosse menina, ela com certeza entraria para o grupo de dança”, conta. Adriana cumpriu a promessa e colocou a filha, Marjory, no Explosão aos cinco anos de idade. A mãe conta que, por conta da timidez, a filha demorou para se acostumar com as atividades do projeto, o que fez ela abandonar a dança no início. Marjory então retomou a praticar a dança por decisão própria, aos sete anos. Motivada pela atenção e apoio dado pela professora Graciela, foi se soltando a perdendo a timidez. A mãe, Adriana, diz que a dança e o projeto são a vida da filha. Marjory, hoje com 15 anos, mantém com a dança uma relação muito especial desde muito cedo, pois, conta a jovem, sem ela não teria se tornado a pessoa que é atualmente. Além disso, a adolescente admite o sonho de um
“A Vila Brás é uma comunidade muito presente e participativa. Sempre apoiou nosso trabalho” Graciela Souza Marjory, filha de Adriana Vidal, participa desde os primeiros anos de vida
Há 15 anos o Grupo Explosão promove lazer e socialização através da dança dia ser como Graciela: “Eu era uma criança muito envergonhada e tímida. A dança e a professora Grazi me mostraram novas possibilidades na vida. A luta dela em transformar a vida de crianças através da dança me inspira a tentar ser uma professora assim como ela”, conta. A assistente social Loreni Goes, mãe de dois integrantes do Grupo Explosão, entende o projeto como uma grande ferramenta de proteção, inclusão e desenvolvimento das
crianças da Vila Brás no ambiente social: “Vários jovens hoje em dia, que começaram ainda crianças, são educadores sociais e estão dando aulas em escolas e outros projetos sociais, fazendo a diferença na vida de muitos adolescentes e crianças pela cidade”, relata. Também moradora da região nordeste de São Leopoldo, Loreni, enxerga a participação ativa das famílias como essencial para o desenvolvimento do projeto. MARJORY: ARQUIVO PESSOAL / ADRIANA VIDAL; GRUPO: FACEBOOK
“As famílias se envolvem em todas as ações que o grupo promove. As mães de alunas fazem apresentações de dança, até minha mãe, de 72 anos, já participou. São três gerações da família apoiando e fazendo o projeto crescer”, afirma com alegria. O Explosão possui aulas de ritmos todas as segundas-feiras para as famílias, possibilitando que Loreni e sua mãe participem ativamente do projeto com a filha. Para a professora Graciela, a união
Professora
Já Adriana Vidal explica que muitos pais ajudam nas maquiagens para apresentações, confecção dos figurinos, cuidar das crianças menores, dos penteados, entre outras coisas. “Os pais que conseguem se envolver mais participam de maneira ativa e dedicada”, conta. Durante a pandemia, as atividades pararam por dois meses, retornando em junho com aulas e apresentações online. Em agosto as aulas presenciais voltaram de maneira rotativa, com menos alunos por cada turma, conforme relata Graciela. Adriana explica que o esforço dos professores em produzir aulas online foi emocionante, mas ressalta que foi um momento muito difícil. “Foi difícil pois existe uma relação muito forte entre professores e alunos. As crianças gostam de abraçar e demonstrar o carinho que existe entre eles. Mas nesse momento devemos ter muito cuidado e evitar um pouco disso”, admite Adriana. Hoje o projeto funciona na rua Jardim da Alegria, 183, na Vila Brás. Com uma equipe de nove professores (todos ex-alunos do próprio Explosão) e atendem cerca de 300 jovens moradores da região. HENRIQUE BERGMANN
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Teatro do oprimido forma jovens para a diversidade Grupo Movidos pela Arte discute temas atuais com crianças e adolescentes da Vila Brás
poldo ficou em oitavo lugar no Atlas da Violência do Rio Grande do Sul, ranking criado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Essa prática é vista com bons olhos, principalmente para Roberto Aparecido Bonfant, pai de Alison (11) e Débora (13), que integraram o grupo neste ano, antes da pandemia. “Pelo menos tira a malandragem, a porcalhada, tudo o que é coisa que existe na rua, tira da cabeça deles... pelo menos eles estão fazendo uma coisa que presta, é superlegal o que o pessoal faz”, afirma. Ele também destaca que, durante a pandemia, os filhos fazem os exercícios do grupo em casa.
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o dicionário Michaelis, teatro é definido como uma “arte que consiste em tornar uma história visualmente verdadeira, com a participação de atores, que falam e atuam num palco”. Essa arte, por exemplo, pode ser encontrada facilmente no bairro Santos Dumont, em São Leopoldo, na Associação de Moradores da Vila Brás. É lá onde o grupo Movidos pela Arte reúne crianças e adolescentes para ensaiar e se apresentar. A equipe de teatro surgiu em 2016, na Escola Estadual de Ensino Fundamental João Goulart, durante as aulas de português. O que era para ser apenas uma atividade escolar, transformou-se em um programa artístico real em 2017. É utilizada nas oficinas a metodologia do Teatro do Oprimido, que ensina e debate temas como racismo, homofobia e gravidez na adolescência. Desenvolvido e criado pelo dramaturgo e diretor Augusto Boal, o Teatro do Oprimido completou, em setembro, 50 anos de existência. A prática estimula a troca de experiências entre os atores e a plateia, para que ambos busquem soluções e alternativas para os problemas da sociedade. A única integrante do grupo inicial que ainda está nele, Eduarda Duprat Novais, reconhece a importância de atuar com esta técnica. “Ele [o grupo] me ensina coisas que eu acho que eu não teria acesso. Ele me ensina a ser uma pessoa boa, como viver numa sociedade... Ele me ensinou a amar, me ensinou a conviver em grupo”, reflete. Também integrante do grupo, Marcelo Lopes Miranda explica como a modalidade do Teatro do Oprimido impacta a sua vida. “Ele funciona como um tirar de vendas, porque faz tu pensar nos dois lados da sociedade, no lado do oprimido e no lado do opressor, entender o ponto de vista dos dois lados e saber resolver as coisas dos dois lados”, afirma. Trabalhar com questões sociais não afeta somente os atores e atrizes do Movidos,
Temas como racismo, homofobia e gravidez na adolescência são discutidos nas oficinas
“Funciona como um tirar de vendas, porque faz tu pensar nos dois lados da sociedade, no lado do oprimido e no lado do opressor” Marcelo Lopes Miranda Integrante do grupo
Grupo de Teatro abre horizontes para crianças e adolescentes da Vila Brás mas também os moradores da Vila Brás e região. Desde o começo, mais de 70 crianças e adolescentes já passaram pelo projeto. Também é calculado que, indiretamente, mais de 2300 pessoas participaram das atividades oferecidas, sejam do
bairro, ou até mesmo de outras regiões da cidade. Por isso, uma das principais propostas do grupo é, justamente, levar a cultura para os bairros e para a periferia. Quando ajudou a criar o grupo, João Marcelo Lucas Schneider quis EDUARDA PERES
descentralizar a cultura e trazer os espetáculos para dentro da Associação de Moradores da Vila Brás. Fora isso, a equipe também destaca a importância do teatro na educação e formação dos cidadãos. Em 2019, por exemplo, São Leo-
Com esse desenvolvimento proporcionado pelo teatro, as crianças e os adolescentes percebem as mudanças causadas por participarem do Movidos pela Arte. Marcelo, por exemplo, explica que era muito tímido antes de entrar no grupo. “O Movidos me proporcionou isso... Abriu minha mente para novos horizontes, para novas perspectivas, para mim, acho que é um ponto principal de mudança”, reflete. Eduarda também aponta que os assuntos abordados pelo Teatro do Oprimido e pelo Movidos são diretamente focados no dia a dia dos jovens. Dessa forma, ela explica seu desenvolvimento: “Eu acho que a Eduarda de antes do teatro era uma menina que não conhecia muito o mundo, não conhecia as dificuldades, não conhecia os problemas... e a Eduarda depois, ela aprendeu com o grupo, com tudo, com os assuntos... Ela aprendeu a viver em sociedade”, conclui. ÂNGELO GABRIEL SANTOS
32. Segurança alimentar
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Da esquerda para a direita, os pastores Alan Carlesso e José Carlos Paz, idealizadores do projeto Almoço Humanitário
Projetos garantem uma refeição para a população Mesmo com a pandemia da Covid-19, voluntários atuam na distribuição de almoços na região
N
ão é de hoje que a fome é um dos problemas que mais afeta a vida de inúmeros brasileiros e brasileiras. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), só em 2019, a insegurança alimentar no Brasil impactou 43,1 milhões de cidadãos. Já a insegurança alimentar chamada de nível ‘grave’, condição na qual as pessoas relatam passar fome, atingiu 10,3 milhões no país, no ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para garantir que a população em situação de vulnerabilidade social tenha a oportunidade de fazer ao menos uma refeição no dia, muitas pessoas têm trabalhado voluntariamente em prol do bem-estar de diversas comunidades pelo Brasil. É o caso da região nordeste de São Leopoldo, que conta com o apoio de projetos
como o Almoço Humanitário, idealizado pelos pastores Alan Carlesso da Costa Lameira (43) e José Carlos Paz (54) e colocado em prática em julho de 2019: “Iniciamos de uma forma muito modesta. Não tínhamos recursos, não tínhamos estrutura”, relata Paz, que concedeu a sua casa, localizada na Chácara dos Leões, no bairro Santos Dumont, para servir, diariamente, uma refeição de forma gratuita às pessoas que não tem o que comer. Próximo dali, na Cozinha Comunitária da Ocupação Steigleder, 11 mulheres trabalham de maneira 100% voluntária, na produção de almoços, também gratuitos, que são servidos todas sextas-feiras à população mais necessitada. Segundo a coordenadora Gislaine Garcia da Silva (31), a distribuição das refeições é organizada em grupos para atender a comunidade de semana em semana. Nas segundas-feiras, elas contam com o apoio de uma profissional da gastronomia, que vem de Porto Alegre, para auxiliá-las na escolha dos alimentos mais nutritivos e essenciais que devem estar presentes
na refeição. “É uma comida boa, simples e nutritiva. Fazemos arroz, feijão, massa, carne com molho...e sempre tem verduras, batatas cozidas e um repolho refogado”, explica Gislaine. Casada e mãe de cinco filhos, ela trabalha ao lado de Jaqueline Rodrigues, uma das líderes do projeto Sonhos e Sabores. É importante lembrar que a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional - Losan, de 2006, sobre segurança alimentar e nutricional (San), garante a todo cidadão brasileiro o direito ao acesso regular e permanente de alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem que comprometa a inserção de outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares motivadoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. Ambas ações desenvolvidas no bairro Santos Dumont ocorrem a partir de doações de moradores locais e demais regiões do município leopoldense. Segundo o pastor José Carlos, natural de Erebango ARQUIVO PESSOAL DE MORADORES
- no norte do Rio Grande do Sul, não há como planejar um cardápio ou até mesmo escolher alimentos mais saudáveis para as refeições que são servidas pelo Almoço Humanitário, pois as comidas são feitas exclusivamente a partir de pequenas doações vindas de pessoas físicas que ajudam como podem. Não há
“A fome é uma das faces mais cruéis e urgentes do nosso país, pois ela afeta muitas esferas do ser humano, como a biológica, já que o corpo precisa de alimentos, mas também machuca a alma e fere a dignidade”
um grande doador, nem mesmo de empresas privadas. Raramente há carne bovina nos pratos, por exemplo: “Então nós oferecemos aquilo que tem, aquilo que nos é doado. Claro que a gente procura fazer uma comida bem feita, bastante saborosa e forte, mas não tem como fazer um cardápio equilibrado ou calcular a caloria do prato”, explica Zé, que complementa dizendo que assim, ao menos, conseguem manter a proposta de quatro elementos na refeição diária: “Infelizmente, e eu sei que isso não é saudável, o quarto elemento no prato, além do arroz, feijão e frango, é o macarrão, dois carboidratos mesmo, pois não temos outra opção”, finaliza o pastor. Atualmente, o Almoço Humanitário conta com a colaboração de 10 a 12 voluntários no trabalho, inclusive, parte deles vieram em busca do almoço e, com o tempo, acabaram construindo um relacionamento com o projeto e ficaram para contribuir com a produção das refeições e para servir as outras pessoas. O trabalho é totalmente voluntário e oferece almoço a todos os en-
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Na unidade da Chácara dos Leões, o almoço é servido das 11h30 às 13h, atualmente em sistema de “pegue e leve” em decorrência da pandemia
volvidos na iniciativa. Além das Chácaras dos Leões, a ação atende as comunidades de Padre Orestes, Santos Dumont, Vila Brás e as cooperativas Progresso e Bom Fim, assim como as pessoas que vivem à margem dos diques da região, inclusive moradores do bairro Santo Afonso, de Novo Hamburgo. O projeto ainda se estende para outras unidades diretamente sob administração dos pastores, como a Vila Paim e a Santa Marta, no Arroio da Manteiga. “Outras duas unidades, que a gente iniciou, hoje são autônomas...andam por conta própria. Ficam localizadas na Vila Duque e no bairro Rondônia, em Novo Hamburgo. Ao todo, são servidas 600 refeições por dia”, destaca o pastor Zé, que vive em São Leopoldo há 35 anos. Apesar de não ser o único aspecto da insegurança alimentar (InSAN), pode-se considerar que a fome é uma das faces mais cruéis e urgentes do nosso país, pois ela afeta muitas esferas do ser humano, como a biológica, já que o corpo precisa de alimentos, mas também machuca a alma e fere a dignidade. É importante destacar que existem outras situações que considera-se InSAN, são elas: uma mãe com dificuldades em amamentar seu bebê, que não recebe suporte efetivo (de rede de apoio direta ou mesmo pela licença maternidade curta, incompatível com a recomendação da OMS de amamentar exclusivamente até os seis
Ao centro da foto, de avental azul marinho, Gislaine da Silva, uma das coordenadoras do projeto Cozinha Comunitária, na Ocupação Steigleder
meses e seguir amamentando até dois anos ou mais - se for o desejo da mulher); o uso indiscriminado de agrotóxicos; o quadro epidemiológico de obesidade que se agrava e segue ascendente na população; o desrespeito às questões culturais, étnicas e religiosas relacionadas à alimentação; o marketing ostensivo, e muitas vezes antiético, das indústrias de alimentos ultraprocessados, que podem levar as pessoas a fazerem escolhas baseadas em informações confusas e tendenciosas e a produção de alimentos que agride e devasta o meio ambiente. Entretanto, a realidade mostrou que as pessoas ficaram mais empáticas ao longo da pandemia do novo Coronavírus e acabaram ajudando esses projetos com doações. Segundo o pastor Zé, houve uma certa comoção por parte da população, despertando uma solidariedade momentânea. Porém, os estoques de alimentos já estão se esgotando, o que já é uma preocupação do Almoço Humanitário: “A visão que a pandemia acabou também levou a outra ideia errada de que a fome também acabou”, comenta o pastor, que ainda reforça o fato da iniciativa não receber ajuda de nenhuma instituição, seja ela pública ou privada.
Saiba mais ALMOÇO NA COZINHA COMUNITÁRIA DA OCUPAÇÃO STEIGLEDER Dia: sextas-feiras Horário: das 12 às 16h30 Endereço: Ocupação Steigleder, Rio dos Sinos Quem pode: aberto ao público em geral Como ajudar: as doações são recebidas no próprio local. ALMOÇO HUMANITÁRIO Atualmente em sistema de pegue e leve Dia: de segunda a sexta-feira Horário: das 11h30 às 13h Endereço: Av. Manuel José Bras (antiga Rua Um), nº 312, Chácara dos Leões, bairro Santos Dumont, São Leopoldo. Quem pode: aberto ao público em geral Como ajudar: entrar em contato com o pastor Zé pelo telefone (51) 99189.3256 ou com o pastor Carlesso (51) 99103.0400. Ou se dirigir ao endereço: Av. Manuel José Bras (antiga Rua Um), nº 312, Chácara dos Leões, bairro Santos Dumont, São Leopoldo. PAOLA CUNHA ARQUIVO PESSOAL DE MORADORES
34. Economia
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Um ambiente de negócios e colaboração Economia solidária proporciona uma alternativa para geração de renda
explica que a economia solidária é um projeto de geração de renda em que se trabalha coletivamente, respeitando os limites de cada um, sendo solidário com quem precisa e sem ter patrão. E envolve vários segmentos, tanto de produtos, serviços e cultura. Além de artesanato, alimentação e produtos de limpeza, tem costura, coquetéis, organização de festas e grupo de música. Qualquer grupo organizado pode participar. Os participantes da rede de economia solidária contam com incentivos governamentais através dos quais recebem equipamentos destinados ao seu negócio.
“F
azer feira é a vitrine para quem trabalha com economia solidária”, conta Regina Aparecida Lima da Silva, que trabalha na cooperativa Mundo Mais Limpo produzindo velas e sabão em barra e líquido a partir de material reciclado. Além de trabalhar na fabricação dos produtos, Regina é presença garantida nas feiras organizadas, tanto em São Leopoldo, quanto em outras cidades do Estado e até na Argentina. Ela conta que a parte preferida do seu trabalho é apresentar seus produtos para quem frequenta as feiras, ter contato direto com os clientes. Regina faz parte de uma rede de iniciativas que formam um ambiente colaborativo em que pequenos negócios ajudam uns aos outros. Além disso, as iniciativas de economia solidária se propõem a oferecer auxílio de equipamentos e de capacitação para seus participantes. Antes de entrar na economia solidária, Regina trabalhou fazendo bolo, consertando roupas, fazendo faxina, em fábrica de calçados, entre outras ocupações. Agora na cooperativa Mundo Mais Limpo, ela destaca a diferença entre a forma de trabalho tradicional e a economia solidária. “A diferença está na tua autonomia, na tua autogestão”, explica. E complementa: “Tu é teu patrão”. A entidade é a única fonte de renda de Regina, que também representa a Mundo Mais Limpo nos fóruns que administram a rede de economia solidária de São Leopoldo. Produtor de trufas, Carlos Alberto dos Santos Schaeffer também participa desta rede. Contudo, ele divide seu tempo entre seu trabalho com chocolate e seu emprego no Tribunal de Justiça em Porto Alegre, onde é artífice na área da construção civil. Carlos integra um grupo que tem uma produção diversa, além das trufas, fazem pão, acarajé, tapioca e artesanatos. Representante da economia solidária estadual e nacional, Cacilda Rodrigues Barcelos
Regina (em pé) ministra palestras sobre economia solidária
“Tu não vai comprar pastel lá de outro lugar se tu pode comprar do teu grupo” Carlos Schaeffer Produtor de trufas
Regina e Cacilda participam de feiras de economia solidária
Outro benefício é o aprendizado adquirido. Carlos conta sobre a importância de aprender a calcular os custos de produção e os preços de seus produtos. Já Regina relata que os cursos oferecidos ensinam convivência e respeito entre pessoas diferentes, assim como ensinam a como trabalhar nas feiras, como conquistar clientes, além de costura e customização, pintura, bijuteria, gastronomia e entre outros.
ECONOMIA SOLIDÁRIA E PANDEMIA
Em tempos de pandemia, a ajuda ao próximo ganha mais relevância. Entidades apoiadoras montaram cestas básicas com produtos fabricados pelos integrantes da economia solidária. Grupos que trabalham com costura fabricaram máscaras, produtores de alimentos participaram com seus produtos, assim como a Mundo Mais Limpo forneceu produtos de limpeza. Regina conta que o resultado deste tipo de trabalho é “um bem que a gente produz para o outro”. Assim como Carlos, que se mostra satisfeito com essa colaboração mútua entre os integrantes. Entre feiras e eventos, o grupo disponibiliza seus produtos com muito bom humor ARQUIVO PESSOAL DE MORADORES
THIAGO BORBA
Economia .35
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Auxílio emergencial, sobrevivência e criatividade Grupos solidários ajudam os moradores a entender como receber o benefício
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oncedido pelo Governo Federal em abril deste ano para conter a crise econômica e social causada pela pandemia do novo coronavírus, o auxílio emergencial tem sido uma alternativa importante na sobrevivência de muitas famílias do país e, principalmente, dos moradores da região nordeste de São Leopoldo. Para a mãe e residente da Vila Brás, Adriana Vidal, o auxílio emergencial foi fundamental para as suas despesas durante esses meses de instabilidade financeira, já que ela não está conseguindo trabalhar há algum tempo. “Não posso trabalhar, pois tive um infarto há pouco tempo. Mas não consigo ser encostada (aposentadoria por invalidez) pelo o INSS e nem consigo arranjar outro emprego por causa do meu problema. Assim, eu só tinha a pensão alimentícia da minha filha para nos sustentar. Esse auxílio aliviou muito nas contas e despesas”, relata Adriana. Adriana mora atualmente com seus pais e sua filha. De acordo com ela, o auxílio emergencial tem sido utilizado para pagar principalmente Sem poder trabalhar na rua por conta da pandemia, Paulo constrói móveis em casa para pagar as contas contas atrasadas, comida e luz. “Meus pais são aposentados e recebem o auxílio-doença, que essencial também para a saú- de desinformação e falta de ainda é muito pouco. O auxílio de dos dois. “O trabalho com prática com o aplicativo da emergencial ajudou bastan- a madeira não é uma renda, Caixa Econômica Federal. “A te”, destaca Adriana. digamos assim, excelente. Mas princípio me disseram que eu Com a crise co n s e g u i m o s não poderia receber (o auxísanitária da Co- “Não nos manter com lio emergencial). Só fui saber vid-19, o correela. Não passa- que tinha direito, pois vi altor de imóveis passaríamos r í a m o s fo m e gumas pessoas conseguindo Paulo e a ven- fome sem sem o auxílio e estavam na mesma situadedora Sônia e m e r g e n c i a l , ção que a minha. Por isso, a Schaeffer não o auxílio mas com ele primeira parcela do auxílio podem sair de nós podemos que eu recebi foi em 28 de emergencial, casa para trabaficar em casa e maio. Já a segunda, recebi dois lhar. Atualmen- mas com ele nós nos proteger”, meses depois, pois eu ainda te, o casal atua explica o casal não sabia usar o app Caixa podemos ficar no reaproveitacom mais de 60 Tem. Tive muita dificuldade mento de mate- em casa e nos anos de idade em mexer nisso no início”, riais recicláveis cada um. destaca Adriana Vidal. para a constru- proteger” Mas, mesmo Por conta dessa dificuldação de imóveis e Sônia Schaeffer com essa im- de e na demora de algumas assim conseguir Vendedora portante forma famílias em receber o auxílio conservar a rende garantir o emergencial, as comunidada da casa. Segundo eles, é o sustento da casa, a retirada des da região nordeste vêm auxílio emergencial que ajuda do auxílio tem sido feita com formando grupos solidários a bancar as despesas do mês e, dificuldade por alguns, pelo para a entrega de alimentos consequentemente, tem sido menos no seu início, por conta e produtos básicos para pesPAULO E NILSON: ARQUIVO PESSOAL
Nilson faz entregas de cestas básicas para famílias que não recebem benefício ou auxílio do governo soas que não estão recebendo o auxílio. Além de ajudarem as mesmas famílias a conseguirem retirar seus benefícios, Sônia e Paulo, por exemplo, participam de uma rede solidária da Igreja Luterana na fabricação de pães e entrega de cestas básicas. Outro exemplo de rede solidária é a Associação Criativizando de Atenção Psicossocial de São Leopoldo. Segundo o presidente da instituição, Nilson Lopes, a Associação trabalha em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), a Secretaria Municipal de Assistência Social e o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional. “Nós trabalhamos, principalmente, com a entrega de cestas básicas para famílias que não receberam o auxílio emergencial e com o encaminhamento
de pessoas para o cadastramento em programas assistenciais”, explica Nilson. Como morador da região nordeste, Nilson sabe e entende que o auxílio emergencial tem sido fundamental para garantir o básico para as pessoas em situação de vulnerabilidade. Mas compreende que o governo poderia ter mais atenção com essas regiões não apenas em momentos como a pandemia. “O governo deveria estar mais presente nas comunidades pobres. Existem locais distantes, com ocupações, por exemplo, que as pessoas dizem que não recebem nenhum tipo de visita relacionada à saúde, assistência social ou Conselho Tutelar”, reclama Nilson. HENRIQUE BERGMANN THIAGO BORBA
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Pouca informação distancia população dos benefícios Os desafios de quem se empenha para facilitar o acesso aos auxílios do Estado
E
m um momento em que a população necessita ainda mais dos benefícios disponibilizados pelo Estado, dois problemas importantes surgem: a dificuldade de acessar os programas e a falta de informação para quem precisa deles. Esses sãos os desafios enfrentados por aqueles que buscam os auxílios e por quem trabalha para promover o acesso a esses direitos. Segundo a assistente social e coordenadora do Centro de Referência de Assistên-
Conheça os principais benefícios e auxílios disponíveis
cia Social (CRAS) da região nordeste de São Leopoldo, Nilmara Regina, a unidade faz acompanhamento e ajuda 89 pessoas a conseguirem a liberação e retirada de seus benefícios. De acordo com ela, o CRAS tem realizado o trabalho de reunir e identificar as vulnerabilidades das famílias para que, desta forma, possa encaminhar as devidas orientações para que a população não fique desassistida. Durante a pandemia, o foco do CRAS Nordeste tem sido auxiliar os cidadãos a conseguirem os benefícios relacionados ao auxílio emergencial, aos benefícios previdenciários de presta-
ção continuada - garantia de salário mínimo para idosos e pessoas com deficiência - e na distribuição de cestas básicas para famílias cujos filhos não estão frequentando escolas da rede municipal. “O CRAS tem tido um foco no auxílio emergencial, pois existe ainda uma grande procura e dificuldade das pessoas em conseguirem retirar esse benefício”, explica a coordenadora. Segundo Nilmara, os benefícios de prestação continuada têm tido bastante demanda, pois quem tem direito a esses auxílios enfrenta muita dificuldade para realizar as perícias médicas, que são essenciais para a
Carta Social
Programa de Carteira do idoso Cisternas
Minha Casa, Minha Vida
O que é? Documento que permite ao idoso viajar de forma gratuita ou com 50% de desconto no valor das passagens interestaduais de ônibus. Para quem? Idosos que recebem até dois salários mínimos e não possuem meios de comprovação de renda. Requisitos: Receber até dois salários mínimos e não possuir comprovação de renda. Como? Por meio do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ou em um posto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O que é? Programa que visa facilitar o acesso à casa própria. Para quem? Pessoas com baixa renda. Requisitos: Renda mensal até R$1.800. Como? Por meio das Agências da CAIXA.
O que é? Serviço de correspondência, de pessoa física para pessoa física, com tarifa de R$0,01. Para quem? Titulares do Programa Bolsa Família. Requisitos: - A carta tem que ser manuscrita; - Ter escrita a menção “Carta Social” acima do CEP; - Circular dentro do território nacional; - Não pode passar de cinco gramas; - Máximo de cinco postagens por dia. Como? Pelos Correios.
Passe Livre para pessoas com deficiência
PETI (Programa Aposentadoria de Erradicação do para pessoa de Trabalho Infantil) baixa renda
O que é? Programa do governo federal que garante às pessoas carentes com deficiência a gratuidade no transporte coletivo interestadual. Para quem? Pessoas carentes com deficiência. Requisitos: Pessoas comprovadamente carentes com deficiência física, mental, auditiva, visual, doença renal crônica ou ostomia. Como? Pelo telefone 166.
O que é? Programa para combater o trabalho infantil que provêm transferência de renda, trabalho social com as famílias e serviços socioeducativos para crianças e adolescentes. Para quem? Famílias em situação de trabalho infantil Como? Por meio da busca ativa do CRAS.
O que é? Aposentadoria para pessoas de baixa renda Para quem? Pessoas sem vínculo empregatício ou que trabalhem exclusivamente em funções domésticas. Requisitos: - Possuir Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal; - Ter renda familiar inferior à 2 salários mínimos; - Não possuir atividade remunerada; Como? Por meio das agências do INSS.
obtenção dos mesmos. O centro cultiva uma relação muito forte com as famílias da comunidade devido ao trabalho realizado para resolver as demandas dos cidadãos da região. “Quando os auxílios são concedidos a essas pessoas, eles ficam muito aliviados, felizes e agradecidos por esse nosso acompanhamento”, relata a assistente social. O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da região nordeste de São Leopoldo foi criado em 2005. A unidade surgiu para ser referência do Sistema Único de Assistência Social (Suas) e possibilitar que as famílias
O que é? A promoção do acesso à água para o consumo humano e para a produção de alimentos por meio da implementação de tecnologias sociais simples e de baixo custo. Para quem? Famílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou falta regular de água. Requisitos: Inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. Como? Pelo telefone 0800 707 2003.
Brasil Carinhoso O que é? Programa social de transferência de renda destinado a garantir a permanência da criança na educação infantil, além de segurança alimentar. Para quem? Alunos de zero a 48 meses Requisitos: - Matriculados em creches públicas ou conveniadas com o poder público; - Beneficiárias do Bolsa Família. Como? Pelo telefone 0800 616161, na opção 1, para assuntos do FNDE.
em situação de vulnerabilidade pudessem fortalecer seus vínculos com a comunidade e seus próprios laços mediante ao acesso de benefícios, auxílios e programas das áreas: econômica, saúde, educação e psicológica. Para saber quais benefícios estão disponíveis, veja o quadro abaixo. Você pode ter acesso aos programas por meio do CRAS ou pelo órgão indicado em cada benefício. O CRAS Nordeste fica situado na Rua Mauá, nº 2141, e pode ser contatado pelo telefone (51) 3591 4606. HENRIQUE BERGMANN THIAGO BORBA
Isenção de Taxas em Concursos Públicos O que é? Isenção de taxa de concurso a pessoas carentes e doadores de medula. Para quem? Doadores de medula e pessoas com renda familiar de até meio salário mínimo. Requisitos: Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal Como? Na página do participante do concurso, em enem.inep.gov.br/participante, clique em “Isenção”, preencha os dados, clique em “Iniciar a solicitação de isenção” e preencha o formulário. Em caso de dúvidas, entre em contato pelo telefone 0800 616161.
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Auxílio Emergencial O que é? Benefício financeiro concedido pelo Governo Federal destinado aos trabalhadores. Para quem? Trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados. Requisitos: Pertencer à família cuja renda mensal por pessoa não ultrapasse meio salário mínimo (R$ 522,50), ou cuja renda familiar total seja de até 3 (três) salários mínimos (R$ 3.135,00). Como? Por meio das Agências da CAIXA.
BPC-LOAS O que é? Um salário mínimo mensal. Para quem? Pessoa portadora de deficiência e ao idoso Requisitos: - Renda de até ¼ do salário mínimo por pessoa na família; - Possuir cadastro da família no Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal; - Em caso de benefício para pessoa com deficiência, comprovação através de perícia médica realizada pelo INSS; Como? Pelo telefone 135 ou pelo site da Previdência Social.
Telefone Popular O que é? Franquia mensal de telefone fixo, com 90 minutos de chamadas locais para outros telefones fixos que custa cerca de R$15 por mês. Para quem? Famílias inscritas no Cadastro Único dos Programas Sociais do Governo Federal. Requisitos: Atualizar os dados no Cadastro Único. Como? Pelo telefone 10314.
Projovem Adolescente
Tarifa Social de Energia Elétrica
O que é? Atividades de socialização, esporte, cultura e preparação para o mundo do trabalho. Para quem? - Jovens de 15 a 17 anos cuja família é beneficiária do programa Bolsa Família; - Que tenham cumprido medida socioeducativa de internação - Cumpram ou sejam egressos de medida de proteção - Egressos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) - Egressos de programas de combate ao abuso e à exploração sexual Requisitos: Família beneficiária do Programa Bolsa Família. Como? Por meio do Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).
O que é? Descontos na conta de energia elétrica. Para quem? Consumidores enquadrados na Subclasse Residencial Baixa Renda. Requisitos: - Possuir Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. - Ser beneficiário do BPC-LOAS. - Renda mensal de até 3 (três) salários mínimos. - Portador de doença ou deficiência cujo tratamento requeira o uso continuado de aparelhos que, para o seu funcionamento, demandem consumo de energia elétrica. Como? Solicitar à sua distribuidora de energia elétrica a classificação da unidade consumidora na subclasse residencial baixa renda.
Fomento às Atividades Produtivas Rurais Bolsa Família O que é? Este programa combina duas ações: acompanhamento social e produtivo e transferência direta de renda de R$2,4 mil para projetos do setor rural. Para quem? Família que vivem no meio rural e que possui renda mensal de até R$89 por pessoa. Requisitos: - Projetos agrícolas, como criação de animais ou cultivo de hortas; - Projetos não agrícolas, como artesanato, salão de beleza, produção de polpas); - Administrados por famílias ou coletivos. Como? Pelo telefone 121.
THIAGO BORBA
O que é? Benefício mensal destinado a pessoas carentes. O valor depende da renda e da situação familiar do beneficiário. Para quem? Famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza Requisitos: - Inscrição no Cadastro Único dos Programas Sociais do Governo Federal; - Ser selecionado pelo Ministério da Cidadania; - Gestantes devem comparecer às consultas de pré-natal, conforme calendário estabelecido pelo Ministério da Saúde, assim como participação de atividades educativas sobre aleitamento materno e alimentação saudável; - Manter a vacinação em dia das crianças de 0 a 7 anos; - Acompanhamento da saúde de mulheres entre 14 e 44 anos; - Frequência escolar de crianças e adolescentes. Como? Por meio das Agências da CAIXA.
Bolsa Verde O que é? É um benefício trimestral de R$ 300 às famílias em situação de extrema pobreza que vivem em áreas de conservação ambiental. Para quem? Famílias em situação de extrema pobreza que vivem em áreas consideradas prioritárias para conservação ambiental. Requisitos: - Cadastro Único para Programas Sociais. - Renda mensal de até R$85 reais por pessoa; - Ser beneficiário do Bolsa Família; - Morar em área que esteja de acordo com as leis ambientais e possua instrumento de gestão. Como? Por meio do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS).
38. Serviço
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Telefones úteis
Conselho Tutelar Zona Norte
CAPS Infantil
CAPS Adulto
CAPS Álcool/Drogas
Endereço: Rua Adão Hoeffel, 59 - Rio dos Sinos
Endereço: Rua São Francisco, 807 - Centro
Endereço: Rua Lindolfo Collor, 834 - Centro
Telefones: 3588 1759 e 98924 7303
Telefones: 3588 4154 e 3592 0205
Telefone: 3590 3238
Endereço: Rua Saturnino de Brito, 68 - São José (próximo ao Corpo de Bombeiros)
Horário de funcionamento: de segunda à quinta-feira, das 8h30 às 17h. Sexta-feira, das 13h às 17h.
Horário de atendimento: de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h
Horário de atendimento: de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h
Centro Jacobina O Centro Jacobina - Centro de Referência para Atendimento a Mulheres em Situação de Violência presta acompanhamento psicossocial e orientação jurídica às mulheres do município de São Leopoldo que buscam atendimento espontaneamente ou são encaminhadas pela rede. O serviço é gratuito e vinculado à Secretaria Municipal de Política para Mulheres (Sepom).
Telefone: 3566 1739 Horário de atendimento: de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h
Telefones: 3592 2184 e 3566 1777 E-mail: cjacobina@saoleopoldo.rs.gov.br Horário de atendimento: 8h às 14h, de segunda à sexta-feira
TELEFONE: FREEPIK.COM; MULHER: DRAGANA GORDIC / FREEPIK.COM
Os números de telefone ganharam mais uma plataforma de mensagens privadas para denúncias de violações de direitos humanos e de violência contra a mulher. Agora podem ser chamados pelo WhatsApp.
UBS Padre Orestes
ESF/UBS Brás
Endereço: Rua Cora Coralina, s/nº (esquina com a Av. Mauá, no bairro Santos Dumont)
Endereço: Rua Leopoldo Wasum, 715 - Vila Brás
Telefones: 3568 5409 ou 2200 0798
Endereço: Rua Brasil, 784 - Centro
Disque 100 Ligue 180
Telefone: 2200 0793 Horário de atendimento: de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h
ESF/UBS Rio dos Sinos
ESF/UBS Santos Dumont
Endereço: Av. Atalíbio T. de Resende, 1157 - Rio dos Sinos
Endereço: Av. João A. Koch (antiga Av. 1), s/nº - Santos Dumont
Telefone: 2200 0789
Telefone: 3590 2883
Horário de atendimento: de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h
Horário de atendimento: de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h
História .39
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21 anos de conquistas De 1999 até hoje, muitos acontecimentos importantes marcaram a vida dos moradores da Região Nordeste de São Leopoldo. Na linha do tempo a seguir, confira alguns deles
1999 l Surgimento do loteamento da Vila Progresso (reassentamento
em decorrência da extensão do trensurb para São Leopoldo)
2002 l Surgimento do loteamento Coape Cohap
2006/2008 l Regularização das cooperativas e organização do loteamento da Padre Orestes
2008 l Organização da cooperativa Cotraibi (Cootrahab)
2009 l CRAS passou a existir (implantação do CRAS Nordeste)
2010 l População da Região Nordeste aumentou expressivamente e poder
público melhorou as escolas (implantação do loteamento padre Orestes)
2012 l CRAS se mudou para o bairro Santos Dumont, localizando-se no foco
dos reassentamentos que haviam ocorrido na extensão da Av. Mauá
2012 l Abertura da primeira escola de educação integral da região, escola Chico Xavier
2016 l Criação do Teatro dos Oprimidos na Escola João Goulart
2017 l Teatro passou a ser realizado na Associação de Moradores l Primeira mostra do Teatro
2019 l Segunda mostra do Teatro (chamada de Mostra de Teatro da Vila Bras)
l Realização do Programa Acessuas Trabalho através do CRAS Nordeste.
Região passou a ter “acesso ao trabalho” através de um programa do Ministério da Cidadania (projeto de uma semana com mulheres da comunidade sobre qualificação e valorização dos trabalhos informais)
2020 l PANDEMIA - Maioria da comunidade conseguiu o auxílio emergencial e
usou-o para pagar contas, comprar roupas e se alimentar, mas perderam logo em seguida e foram atrás do CRAS para saber o motivo. l Entrega de kits de alimentação através das escolas municipais, CRAS e rede solidária l UBS Padre Orestes passou a ter quatro clínicos gerais e organizou a entrada de fisioterapeutas, enfermeiros e obstetras (estagiários da Unisinos) l Parceria entre CRAS e PAAS da Unisinos para atendimento online
FREEPIK.COM
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REGIÃO NORDESTE
| DEZEMBRO DE 2020 | EDIÇÃO 1
Fatos & fotos Destacamos, no fechamento do jornal, fatos e fotos que nos falam da força de uma comunidade que se organiza, mas também nos abre as portas para colaborar, seja com trabalho ou doações ou, inclusive com o aproveitamento dos serviços oferecidos
O SONHO DA PADARIA
Uma turma do curso de Gestão para Inovação e Liderança da Unisinos de São Leopoldo está colaborando com um projeto da comunidade. O projeto consiste em arrecadar fundos para equipar a Sonhos e Sabores para poder se transformar em padaria, sonho de um grupo de mulheres da comunidade Steigleder. Quem quiser pode contribuir através dos seguintes links: Vakinha: http://vaka.me/1502004 PicPay: picpay.me/projetosocialdogil
ATENDIMENTO PSICOLÓGICO PARA A COMUNIDADE
Além dos serviços oferecidos em parceria com o CRAS da região nordeste, o Projeto de Atenção Ampliada à Saúde PAAS/ Unisinos tem profissionais credenciados que cobram RS 45 por atendimento para a comunidade em geral. São profissionais formadas que já foram estagiárias no projeto e passaram pelos critérios de credenciamento. Os atendimentos são nos consultórios dessas profissionais. Para encaminhamento precisa enviar e-mail para paas@unisinos.br solicitando o serviço.
REAPROVEITAMENTO DE AMBULÂNCIAS
Uma parceria entre a Secretaria de Proteção Animal (SEMPA) e a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSAD) foi um passo de grande importância para o serviço público. Mais uma ambulância retirada de circulação em razão da renovação da frota ganhou outro destino, agora destinada ao resgate de animais.
BAZAR SOLIDÁRIO
Roupas, sapatos, acessórios, podem ser adquiridos a preços bem acessíveis e ao mesmo tempo ajudar as comunidades que passam mais necessidade nesse tempo de pandemia. O Bazar solidário Santo Inácio, iniciativa da Paróquia Santo Inácio de Loiola no Rio dos Sinos tem dois endereços. Na Paróquia (rua da Estação, 270, Rio dos Sinos) e na Comunidade Cristo Operário (rua Leopoldo Wasun, 779, Vila Bras). O horário de funcionamento nas duas comunidades é de terça a sexta-feira das 8h30min às 11h30min e de 14h às17h30min. O bazar abre também aos sábados de manhã das 8h30min às 11h30min.
REPÓRTERES COMUNITÁRIAS
Sem a comunidade não poderíamos ter realizado esse jornal. Agradecemos a todos os que ajudaram a escrever as páginas que o compõem e especialmente àqueles que nos apresentaram os diversos moradores com os que tivemos conversas a distância. Nosso agradecimento especial a duas repórteres cidadãs que atenderam muito rapidamente todos nossos pedidos de possíveis entrevistados, nossos pedidos de fotos e sugeriram muitas das ideias que estão no Enfoque. A assistente social Carolina Cerveira, do Cras (à direita na foto) e a líder comunitária Cacilda Barcelos (à esquerda na foto), nosso muito obrigada que nelas se faz extensivo a toda a comunidade. Até uma próxima edição. Se cuidem!
PADARIA: ARQUIVO DE SONHOS E SABORES; PAAS: ARQUIVO PAAS; AMBULÂNCIA: ARQUIVO DO CRAS; BAZAR: ARQUIVO PARÓQUIA SANTO INÁCIO DE LOIOLA; CAROL E CACILDA: ARQUIVO DO CRAS