imagemrp REVISTA EXPERIMENTAL DO CURSO DE RELAÇÕES PÚBLICAS DEZEMBRO / 2015 | UNISINOS | SÃO LEOPOLDO/RS
O desafio de conviver com a diversidade
CARTA DA REDAÇÃO
É
Cíntia Carvalho Editora
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Década Internacional de Afrodescendentes
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Quando as diferenças não fazem diferença
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Caso O Boticário: o lado humano das empresas
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A tábula rasa deve ser preenchida com igualdade racial
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A diversidade chega às maquiagens brasileiras
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Orgulho ou autopreconceito?
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Racismo é mascarado na sociedade brasileira
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A qualificação acima de qualquer preconceito
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O sentido é sensibilizar
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uma grande satisfação concluir mais uma edição da Revista Imagem RP, ainda mais com uma temática tão polêmica e necessária para contribuir com a sensibilização para com as diferenças. A publicação surgiu com a necessidade de saber conviver com as diferenças, uma exigência cada vez maior de um mundo mais complexo e diversificado. São diferenças de credo, de política, diferenças físicas, sexuais, de etnias, classes sociais e culturais e tantas outras que poderíamos aqui referenciar. Desenvolver textos com a intenção de levantar várias questões relativas à diversidade étnico-racial foi um grande desafio e uma excelente oportunidade para vivenciarmos uma prática de superação das diferenças! Tivemos a intenção de possibilitar a discussão de temas que nos dêem mais subsídios para refletirmos sobre questões que dizem respeito às relações étnico-raciais e seus desdobramentos e, sobretudo, buscarmos um meio para promoção de uma atitude de respeito para com as diferenças raciais e culturais. Essa edição contempla várias entrevistas, apresenta cases e ricas reflexões sobre a necessidade da construção de uma sociedade mais justa, com conteúdos que contemplam as diferenças de sexo, cultura, etnia, valores, opiniões ou religiões e despertam para o respeito mútuo "Se um homem como condição necessária ao marcha com um convívio social democrático: passo diferente respeito ao outro e exigência do dos seus de igual respeito para si e companheiros, formas legais de luta contra o preconceito. é porque ouve Dentro do que foi proclaoutro tambor" mado pela ONU (Organização (Thoreau) das Nações Unidas) como a Década Internacional Afrodescendente (período entre 2015 e 2024) – temática explorada em matéria publicada nesta revista – o conteúdo dessa edição apresenta-se muito oportuno, pois é mais um espaço aberto para reforçar a necessidade de cooperação em relação ao pleno aproveitamento dos direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos dos cidadãos. Esperamos que os leitores apreciem nossa produção e juntem-se a nós para questionar sobre as diferenças étnico-raciais, de modo geral e particular.
ÍNDICE
Década Internacional de Afrodescendentes imagemrp | dezembro / 4
LUCEMARA BARCELLOS
A
Década Internacional de Afrodescendentes foi decretada pela resolução 68/237 da Assembleia Geral e será analisada entre os anos de 2015 e 2024, propiciando enlace entre as Nações Unidas, os Estados-membros e a sociedade civil. Durante este período terá destaque especial à contribuição dada pelos afrodescendentes para a cultura e o desenvolvimento mundial, além de serem apresentados planos para alavancar a sua plena inclusão, combate ao racismo, discriminação racial, xenofobia e a intolerância no mercado de trabalho. Os principais objetivos da década são: “Proteção e cumprimento de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais das pessoas afrodescendentes, como reconhecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos; A constatação e maior respeito pela cultura e patrimônio diversificado das comunidades afrodescendentes; Assegurar a plena e efetiva implementação de quadros jurídicos nacionais, regionais e internacionais de acordo com a Declaração e Programa de Ação de Durban e da Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial.” A implementação do Programa de Atividades da Década Internacional de Afrodescendentes será executada em vários níveis. Tanto em nível nacional, onde os Estados devem praticar medidas concretas e práticas, conforme os objetivos da década, quanto nos níveis regional e internacional, onde as organizações são chamadas para sensibilizar e disseminar a Declaração e
Programa de Ação de Durban e a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial. Observando os direitos humanos nos programas de desenvolvimento, honrando e preservando a memória histórica das pessoas afrodescendentes. Para o efetivo andamento e implementação de todas as ações correlacionadas a Década, o profissional de Relações Públicas tem papel fundamental. Pois é através das ações de comunicação organizacional, seja no setor público ou privado, que poderão ser diagnosticados, planejados, promovidos e executados, diversas formas de remover obstáculos que impossibilitam o igual desfrute de todos os direitos humanos, sociais, culturais, civis e políticos. Estabelecendo métodos legais para formular, monitorar e implementar políticas de combate ao racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância. Através de conferências de ampliação e conscientização ou qualquer tipo de evento destinados a promover debates contra o racismo e desigualdades, sejam elas na educação, saúde ou moradia dos povos afrodescendentes. Informações referentes aos debates sobre as políticas de ações afirmativas do reconhecimento, da justiça e do desenvolvimento da Década Internacional dos Afrodescendentes, podem ser obtidas no Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas – NEABI na UNISINOS, pelo telefone (051) 3591-1122, ou https://www.facebook.com/NeabiUnisinos/, ou http://unisinos.br/blogs/neabi/. Outras informações no site oficial da Década: http://decada-afro-onu.org/index.shtml.
WAGNER JOSE SCHNEIDERS
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OWEN PARRY
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Quando as diferenças não fazem diferença Quando o assunto é Cultura Organizacional, o Relações Públicas tem uma função integradora. Na multinacional Dell, o grupo de diversidade PRIDE incentiva a inclusão dos LGBT e vem ganhando forças devido ao engajamento dos 20 membros e 147 simpatizantes, todos colaboradores da organização.
RENAN BARÃO
-Packard), ADP (Automatic Data Processing), SAP, Dell e outras se reúnem uma vez a cada 3 meses para uma reunião chamada SUMMIT, onde debatem quais são os maiores problemas da atualidade em relação aos LGBTS. “Por exemplo, temos palestras com transexuais que não conseguem entrar no mercado de trabalho”, comenta Daniel. A partir do projeto de Grupos de Diversidade na Dell, pode-se dizer que Ações de Comunicação Interna que incentivam a inclusão na Cultura Organizacional das organizações são de extrema importância para a manutenção do clima do ambiente corporativo. Pessoas são diferentes, e a diferença não deve ser vista como empecilho. Inclusão é quando não precisamos pensar em inclusão, é quando as diferenças não fazem diferença. RENAN BARÃO
Daniel Figueiredo
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rganizações são compostas essencialmente por pessoas, que são balizadas pela Cultura Organizacional, responsável por representar a ideologia de determinada organização. Ela pode ser interpretada por meio da vivência e relações entre os colaboradores. As boas práticas, regras morais, éticas e de conduta e princípios de gestão, são fatores que evidenciam a importância da Cultura Organizacional. A comunicação interna exerce um papel estratégico na construção e manutenção de um universo simbólico, juntamente com políticas administrativas de recursos humanos que tem o intuito de aproximar e integrar os públicos com princípios de uma organização. O papel do Relações Públicas é incentivar, por meio de ações de Comunicação Interna, valores que se encaixam nas ideologias da Cultura Organizacional. A empresa multinacional de tecnologia da informação Dell, localizada na cidade de Eldorado do Sul – RS, possui um projeto de Grupos de Diversidade que visa disseminar, incentivar e apoiar a inclusão de pessoas que fazem parte de determinados grupos: True Ability, para pessoas com deficiência, Wyse para mulheres, entre outros. Um deles é o PRIDE, um grupo que existe há 5 anos na Dell e que busca e incentiva a diversidade, com o intuito de tornar o ambiente corporativo com menos preconceito e amigável aos LGBT. De acordo com Daniel Figueiredo, membro do
PRIDE há um ano e meio, o grupo está tendo destaque nos últimos 2 anos não só na Dell, porém fora da empresa também. A Dell, pela primeira vez, participou em novembro da Parada Livre de Porto Alegre. Os participantes usaram camisetas da empresa para representa-la e, além disso, foi locado um trio elétrico exclusivo para os integrantes. A comissão do PRIDE, atualmente, é composta por 20 pessoas que planejam e organizam ações e conta com cerca de 147 membros, sendo que a maioria dos participantes não fazem parte do grupo LGBT. “Como o grupo era muito pequeno, não tínhamos forças para alocar recursos, para ter pessoas e para que os gerentes brigassem para esse tipo de iniciativa fora da Dell”, fala Daniel. Além disso, empresas do ramo de TI como HP (Hewlett-
Caso O Boticário: o lado humano das empresas imagemrp | dezembro / 8
FRANCIELLY COELHO MARIA LUIZA NICHELE NATÁLIA ZUANAZZI
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tema homossexualidade, nos últimos anos, vem sendo discutido e abordado por diversos setores no país e no mundo, tornando-se alvo de polêmicas. Vamos entender como este assunto vem ganhando visibilidade no Brasil. Ao analisar casos de empresas que possuem essa temática, é possível perceber que com rapidez e grande notoriedade, tais casos tomaram conta das redes sociais. Essas, por sua vez, são compostas por pessoas conectadas interagindo entre si, através de seus smartphones, computadores, tablets em diversos locais, com diferentes interesses e intenções. Nota-se que muitas empresas mostram-se favoráveis a esta causa, aderindo a um posicionamento positivo em suas campanhas, sejam elas nas redes, propagandas e até mesmo nos próprios produtos. Mas o assunto ganhou mais visibilidade no Brasil por diversos fatores, um deles, foi o comercial do Boticário, onde o Pastor Silas Malafaia convocou os evangélicos a boicotarem a marca. Silas fez esse pedido em sua página no Facebook. Foi então que começaram todas as intolerâncias e polêmicas. A bancada
evangélica na câmara, políticos gays contra políticos evangélicos, canal que apoia a relação homoafetiva contra canais televisivos que abominam esse tipo de relacionamento, pastores jorrando ódio em seus cultos e gays desrespeitando as crenças. O que deu maior visibilidade ao assunto foi sem dúvida a intolerância, antes de qualquer marca ou pessoa. Instituições como SAP, GAP, Absolut, Apple, Google, Microsoft, HP, Coca-Cola, Pepsi, Starbucks, Visa, Master, entre tantas outras marcas fazem uso destas comunicações para expressarem ideologias, que fazem com que seja agregado valor a marca. Um case de sucesso a ser mencionado é O Boticário com a campanha “Casais”, do dia dos namorados, o mais recente e debatido nas redes, o que causou grandes polêmicas entre o público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) e políticos e religiosos, que são contra o movimento. A comunicação realizada pela empresa para amenizar os impactos causados pelas polêmicas resultou em uma carta emitida por sua assessoria de imprensa, afirmando o posicionamento da marca. Que apesar de todas as críticas, mostrou-se favorável a causa abordando no texto o respeito e sensibilidade as diferentes formas de amor. Neste sentido, o
Relações Públicas possui um papel fundamental em interpretar, gerir e trazer as informações de como o público está enxergando a marca na determinada situação, e assim trazer para dentro da organização essa perspectiva. E a partir deste momento, o profissional irá traçar e formular a estratégia mais apropriada para cada situação, fazendo a mediação entre a marca e a sociedade, utilizando todas as ferramentas como imprensa, redes sociais, cartas, notas oficiais, comunicação no site e dentre outras possibilidades. Neste caso e muitos outros que ocorreram e ainda os que estão por vir, nota-se que a sociedade está longe de ser livre de preconceitos e igualitária, porém toda essa polêmica gerada é prova do avanço e mobilização. A partir de situações como esta, nos deparamos com o incômodo de alguns, de pessoas, empresas e marcas que se compadecem e querem ajudar a ser diferente. Mostra que temos um longo caminho pela frente, mas que já está sendo percorrido. E para isso é necessários ser tomadas decisões e posicionamentos, pois demonstra o quão preocupado é o individuo e empresas com a sociedade em que estão inseridos, com seus valores e princípios, além de gerar benefícios e visibilidade à organização.
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PAUL FRIS
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A tábula rasa deve ser preenchida com igualdade racial GABRIELA RIBEIRO JÉSSICA FABRO
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s desenhos animados fazem parte da infância de qualquer criança, que passa horas e horas na frente na televisão assistindo seus heróis lutando contra o mal e salvando a humanidade, o que faz com que personifiquem e idolatrem os personagens. Esses desenhos são muito importantes na formação das crianças, pois além de educativos, são muito influentes. Ao ligar a televisão para assistir um desenho animado, dificilmente se encontra um personagem negro, se houver, não faz parte do elenco principal, não é protagonista, é apenas coadjuvante. Apesar de viver-se em um tempo de buscas pela igualdade étnica e racial onde a televisão é o meio de comunicação mais utilizado para atingir as famílias, porque os desenhos criados para as crianças, que são o futuro da humanidade, não apresentam personagens negros com a mesma intensidade e igualdade que os brancos? Não é de hoje que em desenhos animados existe a falta da representação racial, onde, em sua maioria, os heróis são brancos e não negros. Essa ausência faz com que as crianças negras se sintam inferiores às brancas e não se enxerguem como realmente são. No mês de outubro, a TV Cultura começou a exibir o desenho infantil “Guilhermina e Candelário”, em que é composto pela maioria de personagens negros. A série surge justamente para colocar o negro em evidência nos meios de comunicação e valorizar a história e a cultura negra. Esse é um avanço positivo, pois coloca o personagem negro como protagonista. Ao se verem representadas nos desenhos, as
crianças negras também se sentem parte do “elenco” e isso provoca transformações no seu cotidiano e convívio social. Para o filósofo John Locke, ao nascer, a mente da criança é uma página em branco, ou seja, uma tábula rasa que vai sendo preenchida conforme as experiências vivenciadas. Para Locke, o aprendizado vem de fora para dentro, ou seja, depende das informações que a criança é submetida, as quais ela absorve de modo previsível e passivo, portanto, está suscetível a experimentar boas ou más sensações sem ter opção de escolha. Se a teoria da tabula rasa for relacionada com o racismo na infância, pode-se dizer que o racismo nasce na criança a partir das influências que ela sofre no meio em que vive, ou seja, na escola e em casa. Se os pais forem racistas e transmitirem para seus filhos o sentimento de desprezo pelos negros, a criança ao chegar no ambiente escolar agirá da mesma forma e apresentará estranhamento perante colegas afrodescendentes. É preciso combater esse racismo justamente na infância, pois é nesta fase que as crianças estão criando sua própria identidade, aprendendo o que é certo e o que é errado. É preciso ensinar desde cedo que o mundo é repleto de uma pluralidade de cores e raças e que essas não determinam caráter ou inteligência. É preciso preencher a tábula rasa com igualdade social. O profissional de Relações Públicas pode ser agente de transformação nessa questão, podendo utilizar a comunicação para exaltar que a cultura negra faz parte do patrimônio da sociedade, e que é preciso preservar o passado para construir um futuro sem preconceitos, um futuro de igualdade.
A diversidade chega BIANCA FERRÃO PATRÍCIA MARTINS
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s cosméticos fazem parte da vida da maioria das mulheres. Segundo a agência de inteligência de mercado Mintel, 32% das brasileiras usam maquiagem regularmente. Mesmo com essa estatística, a oferta maior de produtos se concentra nos traços europeus.
Francine de Moura do blog Soul Negra diz que como consumidora tinha grande dificuldade em encontrar especialmente bases, pós e corretivos em cores adequadas: “Recebo muitas reclamações de leitoras que passam pela mesma situação. Elas compartilham que não encontram cores mais escuras em determinadas marcas ou apontam que compraram o produto acreditan-
do que seria o ideal para sua pele e que depois se decepcionaram ao ver seus rostos esbranquiçados ou acinzentados”. Para a visagista Milene Schonardie, os produtos brasileiros ainda pecam muito na qualidade: “O mercado nacional oferece uma gama muito grande de produtos de uso pessoal, porém a nível profissional ainda deixa muito a desejar não pela diversificação, mas pela quali-
dade mesmo”. Profissionais de relações públicas precisam estar atentos às manifestações e sugestões dos consumidores. É importante que as empresas tenham contato com os seus públicos para que possam entender suas necessidades e assim buscar soluções para atendê-las. O lançamento de um produto envolve uma fase de pesquisa para saber se haverá aceitação
às maquiagens brasileiras suficiente para abranger toda a gama de tons que a pele brasileira apresenta”. Para atender às expectativas das consumidoras, marcas nacionais têm se preocupado em lançar novas linhas de produtos. A marca Quem Disse Berenice? do Grupo O Boticário conta com uma grande variedade de cores: são 100 tons de batom, 70 cores de sombra e a maior régua de tons de base e pó facial do
Brasil. 18 tonalidades desenvolvidas especialmente para a pele das brasileiras. Seguida desta opção, há no Brasil a marca americana Mary Kay com 17 tons. Coleções como Make B com a base Color Adapt de O Boticário e a linha Una com a BB Base Multibenefício de Natura, são outros exemplos de produtos focados nas diversas tonalidades. É necessário que as marcas possam ressignifi-
car e atualizar suas ações e produtos para que estes sejam condizentes com seus posicionamentos, ou seja, “que o discurso esteja de acordo com a prática”. No caso de cosméticos como maquiagens, que estão altamente relacionados com bem-estar e beleza, é importante entender o que significam estes atributos para seus públicos e como representá-los por meio de seus produtos.
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por parte dos consumidores. A comunicação exerce um papel importante nestas etapas: alinhar os interesses na relação empresa - consumidor. Francine comenta que a disponibilidade de maquiagens voltadas para a pele negra já foi quase inexistente: “Hoje o mercado nacional acorda, ou melhor, não negligencia, e disponibiliza quantidade maior, embora ainda não o
WWW.QUEMDISSEBERENICE.COM.BR
Orgulho ou autopreconceito? FERNANDA DE PIETRO ANTUNES
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preconceito racial já faz parte dos debates da sociedade contemporânea, onde se busca reconhecer que tipo de atitudes e pensamentos devem ser evitados para a conscientização da população sobre este tema. No último semestre de formaturas da Unisinos, uma formanda do curso de nutrição ao ser chamada para colar o grau, fez um gesto que chamou a atenção do público. Ela levantou a toga na altura do braço e gesticulou mostrando sua cor de pele, simbolizando estar orgulhosa por ser negra. Por outro lado, algumas pessoas identificaram a cena como sendo preconceituosa consigo mesma, afinal ela se julgou vitoriosa somente por ser negra. Daniela Mello, que é Relações Públicas e neste dia trabalhava como mestre de cerimônias, não acredita sofrer preconceito sobre sua cor negra na universidade. Ela disse que este tipo de situação não foi a primeira presenciada em formaturas: “Na maioria das vezes, os alunos negros tem orgulho em demostrar que conseguiram concluir o ensino superior. Nesse caso específico da nutrição, a formanda era bolsista de um programa financiado pelo governo e a primeira geração da família a concluir o ensino superior.
Talvez essas questões tenham gerado um excesso quando ela se expressou diante do público”, conta Daniela. Na plateia desta formatura também estava Diocleciano Fernandes, o qual possui o mesmo tom de pele da formanda. Quando questionado sobre o que ele pensou da situação vista, ele afirmou que achou “um pouco desnecessário o gesto da menina. Ela foi preconceituosa com ela mesma. Não tinha porque bater a mão no braço para dizer que só se formou por causa de sua cor”. Daniela contrapõe esta
visão ao dizer que, neste caso específico, por conhecer a história da formanda, achou a cena emocionante. “Penso que as pessoas se formam por seus méritos e não por influência de sua cor de pele”, acrescenta Diocleciano. Daniela ainda diz que, em sua vida profissional, sempre foi reconhecida pelo seu profissionalismo e não por sua cor de pele. Neste ponto, Diocleciano concorda com Daniela, ao analisar que “a pessoa ser negra, branca ou de qualquer tom de pele não diz nada a seu respeito. No entanto,
a qualificação das pessoas diz algo”. Frente a estas duas opiniões sobre a cena vista na Unisinos, cabe o posicionamento e a visão do RP, para conduzir este tipo de situação, caso ela ganhe repercussão. Afinal, como mostrar a posição da universidade em relação isto? Como agir com o público interno e externo? Que atitudes devem ser tomadas? Isto deve ser encarado como um ato de orgulho pela conquista do título ou se trata de um autopreconceito disfarçado perante a plateia?
ANDREW MOGRIDGE
HIAGO MACHADO RAMOS
Q
uando falamos no Brasil inúmeras coisas vem a nossa mente. Calor, Praia, Futebol, Amazônia, mistura de raças? Essas podem ser algumas delas. Mas ao contrário do que possamos imaginar, mesmo vivendo num país recheado de misturas e rico em miscigenação, estamos inseridos em uma sociedade racista. Esse racismo é encontrado de formas distintas nas diferentes parcelas da sociedade. Velado, porque parte dos cidadãos fazem questão de negá-lo, criando o que chamamos de racismo institucional. A Organização das nações unidas (ONU), no ano de 2014, publicou o relato de uma visita realizada ao Brasil,
onde podemos sustentar as afirmações já citadas “o ‘mito da democracia racial’ ainda existe na sociedade brasileira e que parte substancial dela ainda ‘nega a existência do racismo’ (EXAME, 2014)”. O Racismo institucional se caracteriza não pelas declarações explicitas de discriminação, essas são punidas pela lei, mas sim por uma forma mascarada através de benefícios, vantagens e oportunidades em função da questão racial. Por essa razão a sociedade pouco reflete sobre esse assunto que está presentes nas mais distintas organizações. Como maneira de denunciar e refletir esse racismo, a estudante Lorena Monique da Universidade de Brasília (UnB) criou um ensaio fotográfico, inspirado em uma campa-
nha realizada por alunos da Universidade de Harvard nos Estados Unidos, onde alunos negros escreveram em placas frases preconceituosas ouvidas por eles. Já é costume e culturalmente aceito ver negros, indígenas e mestiços nas mais baixas parcelas da sociedade. Esses em situações precárias de moradia, saúde e higiene e sem acesso a informação e direitos. Um grande problema social que o governo tenta combater de forma mediana, através de politicas públicas de igualdade social como o acesso ao ensino universitário, semana de conscientização, lei que obriga as escolas de ensino fundamental e médio a apresentarem conteúdos de história e cultura afro-brasileira, entre outras. Poli-
ticas motivadas pelo medo de que tais desigualdades continuem instauradas em nossa sociedade. Por outro lado, essas politicas acabam sendo mal vistas por uma parcela da sociedade que acha injusto essa parcela da população receber tais benefícios firmados pelo governo. Já as agência de comunicação, por meio de profissionais especializados como os Relações Públicas, procuram amenizar esse problema através da criação de estratégias que reforcem a imagem de organização igualitária. A responsabilidade está muito além do que mostrar aos seus públicos e a sociedade tal imagem, é manter esse discurso e de fato fazê-lo funcionar dentro de sua organização.
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Racismo é mascarado na sociedade brasileira
A qualificação acima de qualquer preconceito CAMILA COUSANDIER CAMILA RESTELLI
cor. Sempre tive que correr atrás e nunca me senti excluída ou menos competente por ser negra”, opinou. Para a Relações Públicas, as qualificações pessoais e profissionais se sobrepõem a demais aspectos. Ela salienta também a importância da organização do currículo, fator que pode ser determinante no momento de uma possível contratação. “A qualifica-
ção é o que importa e seu currículo deve ser compatível com o que você busca. Se não está, corra atrás e conquiste. Seus limites é você quem determina.” Quanto às cotas, a entrevistada pensa que elas devam beneficiar pessoas de baixa renda, independentemente de sua cor. “As oportunidades existem quando queremos algo, principalmente se for conhecimento”, reitera. CAMILA RESTELLI
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rescimento e possibilidades variadas de atuação foram os fatores que levaram Raquel Cordeiro, 35 anos, a cursar Relações Públicas. Mesmo com as dificuldades na área da comunicação brasileira, Raquel seguiu o curso que completou 100 anos em 2015 com o objetivo de estreitar os relacionamentos e facilitar a comunicação das empresas com seus públicos. Há quatro anos atuando com marketing, a RP observa que a maioria das empresas, por não saber como lidar com a área de comunicação, possuem dificuldades para encontrar profissionais qualificados, recorrendo a serviços terceirizados em algumas oportunidades. “Ter um setor de marketing dentro da empresa é fundamental, pois ele se torna um facilitador e agiliza muitos processos”, indica. O gradual desaparecimento de alguns preconceitos e mulheres cada vez mais preparadas para o mercado de trabalho foram outros destaques da profissional. “É uma satisfação muito grande vê-las em cargos de chefia, assim como os negros, que disparam e cada vez mais mar-
cam sua presença, provando que mesmo depois de uma injustiça histórica podem achar meios de buscar uma formação e atuar nas mais diversas áreas”, defende Raquel Cordeiro. “Minhas percepções são um pouco diferentes da maioria dos negros que conheço e convivo. Acredito que as oportunidades existem e estão disponíveis para aqueles que a procuram, independente da
Raquel Cordeiro
O sentido é sensibilizar KAMILA FERNANDES LETÍCIA CUNHA
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fissional técnico, bom, mas incapaz de desenvolver uma liderança dentro das organizações. E liderança é conhecimento”. Além das disciplinas do eixo humanismo cristão, as atividades de Planejamento em Comunicação e Projeto Experimental em Comunicação têm imbricado em seus conteúdos a discussão sobrea a temática étnico-racial: “quando estou trabalhando a comunicação na empresa, eu também tenho que entender o ambiente em que a empresa se encontra. Essas questões vão entrar no novo currículo para abrir nossa cabeça e os alunos vão se deparar mais com essa temática”, explicou Erica. Para finalizar, a coordenadora indica que o grande diferencial da Unisinos é educar o aluno para que seja capaz de olhar o ser humano e entender sua história, lutas e vitórias. Afirmando que, “o mercado vai exigir um profissional diferenciado que tenha essa capacidade de reflexão, de discurso e que entenda a importância das questões étnico-racionais dentro de uma empresa”.
Erica Hiwatashi
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de tudo que pode ser certo ou errado na empresa. Depois que está tudo errado e na mídia, nós que vamos ter que consertar. É nesse sentido, tudo que podermos aprender para prevenir é importante”. E, completou, “nenhuma organização aceita racismo e se eu não preparar os alunos para isso, se os professores não têm capacidade de sensibilizá-los sobre o tema, estamos formando um pro-
BEATRIZ SALLET
o próximo ano entrará em vigor o currículo 6, do curso de Relações Públicas (RP), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Segundo a Coordenadora do curso, Erica Hiwatashi, o novo currículo vai trabalhar mais as questões étnico-raciais com a intenção de impactar e mostrar para o aluno a importância dessa reflexão. Em vigor, desde 2003, a Lei 10.639 torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas e universidades, do Brasil .Segundo a Coordenadora, essa temática sempre esteve presente no curso, em função de ser uma orientação da Universidade, onde a formação humanística é um princípio dos processos pedagógicos da instituição. Os alunos de RP possuem três atividades obrigatórias e que trabalham especificamente a temática da diversidade racial, são elas: Antropologia Filosófica e Comunicação (5.º semestre), Ética e
Comunicação (6.º semestre) e Seminário América Latina: Comunicação e Relações Étnico-raciais (7.º semestre). Além dessas, existem mais duas cadeiras optativas: Afrodescendentes na América Latina e Povos Indígenas na América Latina Contemporânea. A coordenadora ressaltou a importância das questões étnico-raciais para a qualificação do profissional de RP: “somos os olhos
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) ENDEREÇO: Avenida Unisinos, 950. São Leopoldo, RS CEP: 93022-000 TELEFONE: (51) 3591.1122 INTERNET: www.unisinos.br E-MAIL: unisinos@unisinos.br
ADMINISTRAÇÃO REITOR: VICE-REITOR: PRÓ-REITOR ACADÊMICO: PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: DIRETOR UNIDADE DE GRADUAÇÃO: GERENTE DE BACHARELADOS: COORDENADORA CURSO DE RELAÇÕES PÚBLICAS:
Marcelo Fernandes de Aquino José Ivo Follmann Pedro Gilberto Gomes João Zani Gustavo Borba Vinicius Souza Erica Hiwatashi
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imagemrp A revista Imagem RP é uma produção dos alunos da disciplina de Redação em Relações Públicas IV do Curso de Relações Públicas da Unisinos
TEXTOS ORIENTAÇÃO: Cíntia Carvalho (cintiascarvalho@unisinos.br) TEXTOS: Bianca Ferrão, Camila Cousandier, Camila Restelli, Fernanda De Pietro Antunes, Francielly Coelho, Gabriela Ribeiro, Hiago Machado Ramos, Jéssica Fabro, Kamila Fernandes, Letícia Cunha, Lucemara Barcellos, Maria Luiza Nichele, Natália Zuanazzi, Patrícia Martins e Renan Barão
PROJETO GRÁFICO REALIZAÇÃO: Turma 2015/2 da disciplina de Redação em Relações Públicas IV ORIENTAÇÃO: Everton Cardoso (evertontc@unisinos.br) PROJETO: Gabriela Schuch
DIAGRAMAÇÃO REALIZAÇÃO: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) SUPERVISÃO TÉCNICA: Marcelo Garcia DIAGRAMAÇÃO: Gabriele Menezes e Marcelo Garcia
CAPA MODELOS: Renan Barão e Francielly Coelho Feio ARTE: Henrique Rosa
PUBLICIDADE REALIZAÇÃO: ORIENTAÇÃO: SUPERVISÃO: ATENDIMENTO: REDAÇÃO: DIREÇÃO DE ARTE:
Agência Experimental de Comunicação (AgexCOM) Vanessa Cardoso (vsilvac@unisnos.br) Robert Thieme (robertt@unisinos.br) Djover Bock Cibele Gomes (Contracapa) e Fernando Fries (Páginas 2 e 19) Gabriel Frantz (Páginas 2 e 19) e Júlia Andrade (Contracapa)