imagemrp REVISTA EXPERIMENTAL DO CURSO DE RELAÇÕES PÚBLICAS JULHO / 2017 | UNISINOS | SÃO LEOPOLDO/RS
(IN)SUSTENTABILIDADE
A realidade por trás do discurso sustentável
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Profa. Dra. Cíntia Carvalho Editora
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esta edição da Revista Imagem RP, lançamos nosso olhar para algo que exige ampla discussão, tanto em escala local quanto global: a sustentabilidade sonhada na sociedade capitalista real. A noção de desenvolvimento sustentável evidencia um caráter polêmico e ambíguo, marcada por múltiplas e diversificadas interpretações e consensos apenas pontuais. O problema imbricado nas relações sociais que estruturam essa sociedade é o “discurso sustentável”, onde países e corporações exigem dos países menos desenvolvidos que cuidem do meio ambiente, transmitindo a imagem de que estão avançados no cuidado ambiental, enquanto aumentam seus lucros com a exportação de produtos para despoluição, controle e monitoramento ambiental e pode-se dizer que, em alguns casos, utilizam a questão ambiental como poderoso argumento propagandístico na atividade de vendas comerciais. Desta maneira, os textos reunidos têm por eixo balizador a (in)sustentabilidade na sociedade do consumo, onde se procurou refletir sobre práticas sustentáveis (ou não) em nosso cotidiano e em organizações. A publicação traz matérias fundamentando o tema recorrente, de forma a dar destaque ao fato de que os princípios da sustentabilidade devem estar alinhados com o propósito de uma organização e não apenas fazer parte de uma lista de ações pontuais, o que pode ser conferido na entrevista sobre Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), concedida pela professora integrante do Núcleo ODS/RS e certificada pelas Nações Unidas, Ilsa de Lemos. Outro texto que segue essa linha é “Um olhar para o futuro através da implementação do ISO 14.001”, que busca situar as etapas do sistema de implementação desta certificação, por meio da apresentação de um case. Com o objetivo de fomentar discussões, a matéria sobre o Simulacro Sustentável, faz uma reflexão sobre a ideia de uma consciência sustentável, vendida por empreendimentos imobiliários, mas sem incorporação da mesma pelos próprios empreendedores e compradores. Também são abordadas questões sobre a falácia do consumo de papel reciclado, atitudes de empresas com expoentes sustentáveis e mais humanas, a preocupação com o consumo desenfreado da sociedade e a preguiça e falta de tempo como determinantes para atitudes antissustentáveis. O debate proposto, então, versa sobre a condição para que as verdadeiras ações sustentáveis ocorram, dependentes, essencialmente, do nível e da qualidade de consciência individual e social. Além de advertir sobre os riscos, busca alavancar mudanças de hábitos autodestrutivos que direcionam os comportamentos humanos e os impedem de atitudes predatórias. Aproveitem a leitura!
ÍNDICE
Stephen ONeill / freeimages
CARTA DA REDAÇÃO
04 — O planeta caminha rumo à insustentabilidade 06 — A preguiça de ser sustentável 08 — Consumo insustentável de papel reciclado 10 — Consumo consciente x consumo inconsciente 12 — Entrevista: Ilsa Solka de Lemos 14 — Um olhar para o futuro através da ISO 14001 16 — Simulacro Sustentável: um faz de conta verde 17 — A nova etiqueta comportamental
O planeta caminha rum Angel Thomaz Camargo Estefani Hobus
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s mudanças observadas no planeta Terra não têm precedentes. Apesar dos mais de 500 acordos internacionais com foco no desenvolvimento sustentável, o mundo caminha a passos largos em direção à insustentabilidade. Esta foi a conclusão da 5ª edição do Panorama Ambiental Global, o GEO-5, que aconteceu em 2012. O relatório com a análise de 90 metas globais revelou que, dentre elas, apenas 4 obtiveram progresso, falhando em reverter a maioria das mudanças ambientais adversas. Para entender a insustentabilidade, é necessário olhar para seu antônimo, a sustentabilidade, que tem origem na palavra em latim “sustentare”, que significa sustentar, apoiar e conservar. Sustentabilidade se torna uma característica do que é sustentável. Sustentável, por sua vez, consiste em uma ação que se preocupa com a extinção e preservação dos recursos naturais da Terra, ou seja, conservação da vida. Seu objetivo final é não comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, no entanto, no último GEO-5, a mensagem foi clara: a civilização humana está próxima de ultrapassar os limites planetários, gerando consequências irreversíveis. A sustentabilidade deve ser olhada de maneira ampla, pois não está vinculada apenas ao meio ambiente, ecologia e a herança da natureza para as próximas gerações. Abrange, também, as realizações econômicas e as instituições sociais e, dessa forma, a sustentabilidade deve ser fundada em três pilares – econômico, ecológico e social. Os pilares da sustentabilidade estão firmemente interligados entre si e têm igual importância. Uma vez que um deles se desliga dos demais, a construção da sustentabilidade se torna insustentável. Em 2000, as Nações Unidas publicaram os Objetivos do Milênio, adotados pelos 191
Estados membros, com intenção de sintetizar acordos internacionais alcançados em várias cúpulas mundiais ao longo dos anos 90. Estes objetivos tratam de questões que envolvem os 3 pilares da sustentabilidade, como a erradicação da pobreza extrema e fome, atingir o ensino básico universal, garantir a qualidade de vida e respeito ao meio ambiente, entre outros. Entenda a importância de cada pilar:
SOCIAL
Trata de todo o capital humano, passando por aspectos importantes para o desenvolvimento social coletivo e individual, como a cultura, educação, lazer, saúde e não-violência.
ECONÔMICO
Este pilar trata do capital econômico, que diz respeito ao crescimento e desenvolvimento justo das atividades comerciais, de produção e distribuição.
ECOLÓGICO
Envolve as condutas que possam impactar direta ou indiretamente o meio ambiente, seja a curto, médio ou longo prazo. Trata, também de medidas para impedir ou amenizar esse impacto. A preocupação com a vida humana e com o meio ambiente já existe. Inúmeras metas, objetivos e acordos foram realizados ao redor do globo. No entanto, a falha na obtenção dos Objetivos do Milênio nos diz claramente: estamos longe de viver em um planeta sustentável. A humanidade está presa em um ciclo de consumismo, com produção de bens acelerada e consumo desenfreado. Falta, portanto, comprometimento das nações em colocar em prática o que foi discutido. O alarme já está soando: se os humanos não mudarem seus hábitos, não só a próxima geração ficará com seus recursos comprometidos, mas a nossa também.
mo Ă insustentabilidade
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A preguiça de ser sustentável Ana Julia Rodrigues Barth Fernanda Dewes Cherutti
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o início de nossa alfabetização aprendemos sobre a importância da prática da sustentabilidade e as melhorias que ela traz para o cotidiano. Através de brincadeiras e exercícios as crianças são ensinadas a reduzir, reciclar, reutilizar e que o sustentável é importante e indispensável para o futuro. Atividades que incentivam a economia de água, a separação do lixo e a reutilização de objetos são inseridas aos poucos na rotina dos pequeninos, até que estas se tornam comuns. Porém, o problema ocorre quando as crianças levam essa cultura para dentro de suas casas e as famílias não a colocam em prática. Devido a rotinas corridas, pouco tempo para as atividades e até mesmo preguiça, a sustentabilidade não é algo muito priorizado. Quantas vezes nos deparamos com situações em que devido a agitação do dia a dia, optamos pelo mais prático e conveniente? Segundo pesquisa feita pela revista Super Interessante no ano de 2016, sobre como os brasileiros se percebem, 41% dos entrevistados afirmam que a melhor definição para o seu jeito de ser é acomodado e preguiçoso. Contudo, atitudes sustentáveis não necessariamente precisam de grande empenho e tempo, existem muitos projetos envolvendo o tema, e um bom exemplo, é o Eu Amo Tampinhas, podendo ser aplicado em bares, restaurantes, estabelecimentos, escolas e comunidade em geral. O projeto faz parte da campanha da Associação de Assistência em Oncopediatria (AMO Criança) de Novo Hamburgo/RS, que incentiva a arrecadação de tampinhas plásticas para auxiliar no financiamento do tratamen-
to de crianças com câncer. Um dos estabelecimentos que abraçou a causa é o Restaurante Universitário (R.U) da Unisinos campus São Leopoldo, que disponibiliza um ponto de coleta para as tampinhas de garrafas pets. Segundo funcionários, são reunidas cerca de duas mil tampinhas todos os meses; estas são recolhidas e destinadas à venda, e o valor arrecadado é encaminhado para a instituição. Se ficou interessado pelo projeto e quer ajudar, basta levar as suas tampinhas ao R.U. ou a um dos pontos de coleta. Em Novo Hamburgo o ponto de entrega fica no Santuário das Mães (RS-239, Estrada Santuário das Mães, Roselândia) e na AMO Criança (Rua Vidal Brasil, 1.695 | telefone 51-3582-4800 | site www.amocrianca. com.br). Para pessoas jurídicas, a melhor forma de contribuir é destinar parte do Imposto de Renda à organização. Além dos projetos já existentes, até mesmo dentro de casa, você pode tomar algumas atitudes rápidas e práticas que contribuem para um ambiente mais sustentável. Se optar por separar o lixo, é possível criar um adubo orgânico com cascas de ovos, borra de café, restos de alimentos, cinzas de madeira e outros. A mistura desse material estimula e desenvolve micro-organismos benéficos ao solo, esses liberam nutrientes para a cultura de uma horta ou plantas, dando a elas aquilo que necessitam para crescerem fortes e saudáveis. Em vários momentos do seu dia pode-se adotar atitudes sustentáveis. São pequenas ações como as citadas anteriormente que podem ser incorporadas na sua rotina. Agora fica difícil encontrar desculpas para seguir com atitudes insustentáveis. Deixe a preguiça de lado e colabore para um mundo melhor.
Consumo insustentável de papel reciclado imagemrp | Julho / 2017 | 8
Michele Mariano
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cupando o 4º lugar entre os setores com maior emissão de dióxido de carbono (CO²), a indústria do papel e celulose é conhecida por ter um dos processos de produção mais poluentes. Além do CO², há também o elevado uso de água, energia e aditivos químicos em seus processos. Com temas como a sustentabilidade tão em alta e a necessidade que muitas pessoas sentem em tentar fazer a diferença, o papel reciclado acabou por ganhar destaque. Uma vez que quem compra acredita estar adquirindo um produto ecológico, e desta forma, ajudando a natureza. No entanto, parece que o papel reciclado pode não ser uma boa escolha para quem deseja imprimir e escrever. Enquanto o papel branco tem em sua fabricação duas etapas que incluem o uso de agentes químicos, o papel reciclado possui o dobro. Isso ocorre pois na fabricação do papel branco precisa-se apenas obter a polpa da celulose e branqueá-la, para então transformar a massa em papel. Já a fabricação do papel reciclado precisa transformar o material em massa de celulose, realizar a remoção da tinta, grampos e etc. (o que é feito em duas etapas), para então branqueá-lo. Cada uma dessas etapas utiliza agentes químicos. Além disso, uma pesquisa realizada por alunos da UNICAMP em 2012, a fim de comparar a ecoeficiência de cada tipo de papel comprovou que o papel branco é o mais indicado para quem de-
seja imprimir e escrever. Para isso, foram feitos testes em laboratório utilizando como parâmetros os consumos de energia e água para a produção de cada tipo de papel, demanda de oxigênio e emissão de gás carbônico. De acordo com o estudo, o papel reciclado utiliza quase 50% a mais de energia para produzir uma tonelada de papel, pois sua produção exige mais processos. Já o consumo de água chega a 1.500 litros a mais a cada tonelada de papel produzido, uma vez que o método de reciclagem exige vários processos de purificação e destintamento. A pesquisa também determinou que a produção de papel reciclado gera mais efluentes, tem mais demanda biológica por Oxigênio e maior emissão de CO². Embora a demanda por papel reciclado seja crescente, é preciso considerar que o mesmo é produzido a partir das aparas da produção do papel branco, tornando a sua produção limitada as aparas disponíveis no mercado. Além disso, o papel pode ser reciclado para ser usado com a finalidade de escrita e impressão no máximo duas vezes. A reciclagem de papel, para ser sustentável, precisa ser complementar. O papel reciclado não deixa de oferecer benefícios. Pois um número menor de árvores são derrubadas ao oportunizar a reutilização da celulose. E isso se torna ainda mais sustentável quando utilizado para produzir produtos como papel sanitário, caixas de papelão etc. No entanto, esse consumo nunca deve se sobressair ao papel virgem, arriscando tornar-se insustentável.
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Consumo consciente x Annanda Werb Daniela Gatelli
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onsumo consciente, você já ouviu falar? E consumo inconsciente? Não? Tudo bem, a gente explica! Vamos começar refletindo que todo consumo causa um impacto no mundo que nos cerca. Pensando nisso, você consegue imaginar o tamanho da marca que deixamos no planeta todos os dias? Agora, pense sobre aquele hambúrguer enorme, com fritas gigante, mais um refrigerante tamanho G que você pediu e comeu só a metade... ele “não surgiu do ar” e o resto dele não evaporou da face da Terra! Nem colocamos a embalagem dos alimentos na conta! Isso, caro leitor, é consumo inconsciente! Agora, você que pediu uma porção menor de comida pensando que não estava com muita fome, está de parabéns! Você consumiu de forma consciente! Essa fórmula simples vale para tudo: compras de “produtos” que você acaba não usando; sua ida de carro `a padaria da esqui-
na; compra de produtos com embalagens desnecessárias; e assim por diante. Tudo é fruto de um modo de consumo inconsciente. Consumo consciente não é só comprar menos ou não comprar, também é pensar no que compramos e em tudo que o processo de produção daquele produto acarreta ao mundo. Muitas pessoas estão repensando o que consumem e na era onde sustentabilidade é palavra de ordem, movimentos voltados para o consumo slow estão em ascensão. Esse é o caso da Dallen Cardoso que é dona do espaço de moda sustentável TAG de LUX, que fica em Novo Hamburgo. Para ela, o consumidor busca cada vez mais uma causa para engajar-se além disso, os frutos dessa nova geração, os millenials “não querem uma marca só por uma marca, eles querem uma marca que tenha a ver com a vida deles, eles já nascem sabendo que têm que cuidar do planeta, pensar nas gerações vindouras”. Sabendo disso, as empresas buscam
consumo inconsciente
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melhorar esse viés, pensando no seu lucro futuramente. Outro setor que tem grande responsabilidade frente ao consumo é o design, responsável por desenvolver produtos que instiguem o consumidor no processo de compra. Por isso, já existe uma corrente que visa estimular o desenvolvimento de produtos com foco no movimento slow e na reutilização de materiais. Mas nem “tudo são flores”, a empreendedora afirma que muitos consumidores fazem suas escolhas baseados no preço e na satisfação das suas próprias necessidades. Muitos ainda não refletem sobre como esse tipo de comportamento pode refletir no mundo onde
todos nós vivemos. Mas não é só sobre comprar pouco e pensar no que você vai consumir, mas também refletir sobre em quais condições os produtos que você consome são produzidos. Pensar no futuro do nosso planeta pode parecer um projeto a longo prazo, mas já sentimos o efeito do consumo desenfreado das gerações pós revolução industrial e medidas devem ser tomadas hoje para que possamos reverter esse processo. Por isso, converse sobre isso com seus familiares e amigos e, além disso, cobre empresas para que, além de um discurso sustentável, tenham também ações concretas quanto a mudança do processo de consumo que existe hoje em dia.
E n t r e v i s ta
Sustentabilidade em Diogo Laux
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pesar de falarmos sobre Insustentabilidade nesta edição da Imagem RP, decidimos que na entrevista iríamos chutar o “in” do nosso tema e dar um pouco de combustível no lado positivo da questão. A sustentabilidade é tema recorrente no ambiente das organizações, mas muitos desafios são percebidos quando partimos para sua tradução em indicadores ou mesmo ações. Talvez o distanciamento esteja no fato de que a inclusão dos princípios de sustentabilidade em uma organização esteja mais ligado a um alinhamento do propósito do negócio do que uma simples lista de ações pontuais. Como referência neste contexto, estão as Nações Unidas, que junto a 193 nações, aprovaram, em 25 de setembro de 2015, a Agenda 2030, contendo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). E para falar sobre os ODS, convidamos Ilsa Solka de Lemos, professora em cursos de MBA, integrante do Núcleo ODS/RS e certificada pelas Nações Unidas – Institute for Training and Research (UNITAR) em Introdução à Agenda de Desenvolvimento Sustentável Pós-2015.
IMAGEM RP: Qual a relação entre os
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e os Objetivos do Milênio (ODM)? ILSA: Os ODS integram um pacto global estratégico, chamado Agenda 2030, orientado, de modo bastante abrangente, às necessidades de um desenvolvimento sustentável das Nações. Têm sua origem na continuidade dos ODM que objetivavam alcançar metas básicas para uma vida digna e mais justa da humanidade, no período entre 2000 e 2015. O foco dos ODM era 1 bilhão de pessoas que viviam na pobreza extrema, ambientadas, prin-
cipalmente, nos países menos desenvolvidos e em desenvolvimento, enquanto os ODS se estendem também aos países desenvolvidos, buscando sua liderança na mudança dos padrões de produção e consumo. Dado que nos anos finais dos ODM, era visível que as metas não seriam alcançadas na sua integralidade, durante a Rio +20, desenhava-se, coletivamente, uma Agenda para o pós-2015, caracterizando-se como um processo bottom-up. Além disso, novas demandas e temas transversais foram incluídos, meios para sua implementação foram definidos e “resgatar, em primeiro lugar, os que ficaram mais para trás” passa a ser um imperativo. Dessa forma, os ODS se organizam em cinco dimensões: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias, contendo 17 objetivos integrados, 169 metas e 231 indicadores, com horizonte 2016-2030. IRP: Qual o balanço que dá pra fazer dos ODM? ILSA: As conquistas alcançadas pelos ODM são valiosas, cabendo destacar que, no Brasil, a mortalidade infantil foi reduzida de 53,7 por 1.000 nascidos vivos, em 1990, para 17,7 em 2011; a pobreza extrema passou de 25,5% em 1990 para 3,5% em 2012 e a taxa de escolarização evoluiu de 81,2% em 1990 para 97,7% em 2012 (Portal ODM), graças a um esforço conjunto e uma série de programas implementados para o alcance das metas. É preciso, também, sublinhar que os ODM se revelaram o primeiro grande exercício de esforço global por uma causa comum, em que a colaboração entre países, e entre estes e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) contribuiu para que os maiores desempenhos se dessem justamente onde havia maiores fragilidades. Essa curva de aprendizagem viabilizou o processo de construção participativo, intergoverna-
mental e transparente da Agenda Pós2015. Contudo, há muito o que fazer. IRP: Quais são os principais desafios para uma organização que deseja aderir aos ODS? ILSA: O que se percebe é que, quando os empresários compreendem os ODS, parece que um novo sentido de propósito se estabelece: habilidades adormecidas são acessadas, o potencial das suas redes é despertado e se inicia um círculo virtuoso. Esta constatação faz eco à pesquisa “Integração dos ODS na Estratégia Empresarial” da Rede Brasil UN Global Compact, apontando que 42,9% das empresas pesquisadas já compreendeu os ODS e ora trabalha na definição de prioridades dos ODS na sua agenda. Quanto aos desafios, essas empresas revelam que o maior deles é estabelecer parcerias para avançar na proposta dos ODS, seguido da identificação dos principais impactos do negócio e do estabelecimento de indicadores e metas. Para o enfrentamento de tais lacunas, estão disponíveis o Guia dos ODS para as Empresas, a plataforma de conhecimento
"É preciso, também, sublinhar que os ODM se revelaram o primeiro grande exercício de esforço global por uma causa comum"
paut do PNUD, com destaque para a Iniciativa Incluir, entre outros ativos.
Ilsa Solka de Lemos
Integrante do Núcleo ODS/RS
nesta edição contou com a parceria do PNUD Brasil, constatou que, apesar do clima de austeridade no País, em 2016, as empresas mantiveram seus níveis de investimento social na ordem de R$ 2,6 bilhões. A mesma pesquisa, revelou que 71% das empresas consultadas já se comprometeram publicamente com os ODS, seja através de iniciativas relacionadas ao tema, seja referindo seu comprometimento em documentos oficiais ou de outras formas. IRP: Sustentabilidade é um bom negócio? ILSA: Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas por ocasião do lançamento dos ODS, já sinalizava que as agendas das empresas e do desenvolvimento sustentável estão convergindo de forma nova e instigante. Diante de uma série de eventos que, potencialmente, parecem agravar os desafios e diminuir expectativas para uma agenda comum, a adesão aos ODS tem se revelado a boa notícia. Empresas sociais estão na vanguarda da recuperação econômica em alguns países. A Social Enterprise UK constatou que, em 2015, as empresas sociais no Reino Unido tiveram um crescimento de 52%
no seu volume de negócios; 59% introduziu um novo produto ou serviço; elas praticam a liderança inclusiva e diversificada, com 40% de líderes mulheres, 31% de diretores negros, 40% possui ao menos um diretor com alguma deficiência e 24% desses negócios opera em pequenas comunidades ou na vizinhança. A Irlanda, que vem se notabilizando por um crescimento anual na ordem de 7%, tem a Educação para o Desenvolvimento Sustentável no centro do seu Programa. Empresas e Instituições de Ensino Superior formam segmentos com alta capacidade para gerar transformações e prosperidade, por sua capacidade de mobilização, de gestão e de inovação. E, com um olhar mais aprofundado à infinitude da Economia do Conhecimento pode-se inferir que a Sustentabilidade tem seu potencial muito mais relacionado a uma economia da abundância do que a uma economia da escassez. Por fim, o fato de a Agenda ODS alcançar cada um de nós, faz lembrar uma revelação da pesquisa Akatu 2015 de que o maior engajamento em práticas sustentáveis e pactos atitudinais se dá onde há laços afetivos e figuras inspiradoras daqueles comportamentos e valores.
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IRP: Apesar dos ODS serem recentes, já temos dados sobre seu desempenho? ILSA: Inobstante o período pós-lançamento da Agenda caracterizar-se por “estamos em obras” e considerando que, no Brasil, a recém-formada Comissão Nacional dos ODS assumiu os trabalhos no mês de maio deste ano, já há evidências de progresso. Iniciando pelas qualitativas, surgiram plataformas multi-stakeholders, projetadas para abordar questões dos ODS e para ancorar negócios em busca de escala e inclusão produtiva. Capacitações de empresas vêm sendo realizadas por entidades representativas em vários setores da economia, para avaliação do impacto de suas atividades, alinhamento das suas estratégias aos ODS e identificação de oportunidades para a alavancagem de negócios com geração de valor compartilhado. Além disso, cabe referir o legado dos Núcleos ODM que agora emprestam sua expertise à implementação dos ODS. O Núcleo dos ODS/RS, por exemplo, tem sido requisitado para atividades de disseminação e capacitação em ODS e construção de agendas. O fortalecimento da cultura de economia circular na sociedade merece destaque, bem como a crescente integração dos ODS nos projetos pedagógicos das Instituições de Ensino. Também é possível observar os esforços de novos governantes municipais buscando integrar os ODS aos seus Planos Plurianuais. No IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, representantes da ONU estiveram presentes oferecendo assistência técnica para a territorialização dos ODS em âmbito local. Em termos quantitativos, a pesquisa Benchmarking do Investimento Social Privado (BISC) 2016, que analisa a atuação social corporativa no Brasil e que,
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Um olhar para o futuro através da ISO 14001 Aline KrÜger Maico Pereira
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desenvolvimento sustentável de uma sociedade pode ser definido como aquele que consegue atender as necessidades da população atual, sem impactar de forma negativa as gerações futuras. Através desse conceito podemos afirmar que o desenvolvimento insustentável influencia diretamente na vida de cada cidadão, desde a emissão de poluentes que estão no ar que respiramos, até mesmo no copo descartável que utilizamos diariamente. Há anos cientistas da área de preservação ambiental fazem um alerta sobre os perigos de um desenvolvimento desenfreado e irresponsável, e que a Terra sendo um organismo vivo, necessita de cuidados para sua preservação. Considerando essa situação, o grupo Carhouse iniciou o sistema de implementação do programa ISO 14001. A certificação é a forma aplicada do Sistema de Gestão Ambiental e tem como objetivo controlar todos os aspectos ambientais e seus respectivos impactos, oriundos das nossas atividades diárias, que podem ser minimizadas através de ações de controle. O certificado é concedido por meio de auditoria realizada nas concessionárias. Todas as lojas devem apresentar conformidade para obtenção do documento. Existem etapas desenvolvidas pela empresa para entrar em conformidade com as normativas da ISO e obter a certificação.
Através das informações apresentadas, é possível delimitar as seguintes metas para a aplicação da ISO 14001: Diagnóstico, Planejamento, Implementação, Conscientização e Auditoria. A certificação é obtida através de uma auditoria realizada dentro da empresa candidata à certificação por entidades credenciadas. A auditoria é um processo de investigação que verifica se o SGA estabelecido atende aos preceitos listados na norma. Caso atenda aos requisitos, a empresa obtém um certificado válido por quatro anos. Para que a implementação da ISO seja bem-sucedida, é de extrema importância a colaboração dos funcionários e clientes. Uma empresa que efetiva o cuidado com o meio ambiente como uma de suas normas, transmite aos seus colaboradores a importância de incorporar essas medidas em sua rotina, no local de trabalho e também em sua residência. Um ato simples como a separação de lixo pode gerar um impacto positivo no meio ambiente. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, nosso País produz cerca de 240 mil toneladas de lixo por dia, onde a maioria é descartada de forma irregular. A atuação da empresa pode colaborar no processo de conscientização de funcionários e clientes, apresentado práticas diárias que podem ser facilmente postas em prática e que, a longo prazo, podem apresentar uma mudança significativa para o meio ambiente.
Simulacro Sustentável: um faz de conta verde Nathana Larroque Fouchy
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lhar a sustentabilidade como se ela estivesse em exposição em uma maquete é bem diferente do que vivê-la na prática. O simulacro sustentável é a ficção ou imaginação de algo que realmente não acontece, um “faz de conta”. Na onda do simulacro sustentável, existem muitos empreendimentos que dizem ter consciência sustentável e vendem esta ideia aos interessados, porém as propostas iniciais apresentadas pelas incorporadoras nem sempre são apreendidas de fato, tanto pela parte do empreendimento quanto pela parte do morador. É como viver em um local verde por fora e dentro do seu telhado não possuir nenhuma, ou pouquíssima, conduta sustentável. Também podemos relacionar como comprar um produto com defeito, que não cumpre com o que foi prometido. O que é percebido diariamente é o descaso com a separação de lixo, o descarte inade-
quado de óleos, consumismo desenfreado promovendo mais produção de lixo, entre outras atitudes que se tornam grandes problemáticas quando somadas com todos os moradores dos empreendimentos. Essa situação não é nem um pouco colaborativa, mas individualista, pois o sujeito não pensa no outro como integrante
do mesmo ambiente vivencial. Em um cenário onde a colaboração está em alta e é possível verificar inúmeros movimentos colaborativos, principalmente nas redes sociais, ainda assim temos uma grande dificuldade em adotarmos uma atitude sustentável em sua plenitude. Um exemplo desse tipo de movimento é o Cine Teatro Presidente Coliving, da Wikihaus, uma incorporadora de residenciais e comerciais que adotou o conceito de colaboração. Segundo Laura Lewinsohn, gerente de marketing da empresa, “a tendência de empreendimentos colaborativos no Brasil é bastante recente, mas vem ganhando força e se mostra como uma ótima solução para diversas questões que permeiam a vida nas cidades”. Embora existam estas iniciativas, surge um questionamento: por que, apesar do sistema de colaboração existente, sobretudo extremamente presente nas redes sociais, permanece o simulacro sustentável? O que é preciso fazer para que ele saia das redes sociais e seja consolidado na sociedade em geral? Pense nisso!
Organização consciente: a nova etiqueta comportamental Franciele Feijó
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mpresas com expoentes sustentáveis e mais humanos: esse é o contexto que estamos vivenciando mais fortemente na última década. Com a dificuldade para manter ou, até mesmo, incluir na cultura organizacional ações que contemplem um ou mais pilares existentes nesse segmento, as instituições, como solução, estão promovendo sua marca de forma equivocada ou, até mesmo, desistindo de adotar essa atitude. Mas como adaptar-se ao mercado corretamente em meio a tantos obstáculos? Na área de eventos, por exemplo, para aferir inovações ligadas à temática, algumas organizações já buscam a colaboração de startups ou de produtores autônomos como estratégia. Nesses casos, ao invés de procurar novos lugares para instalar suas produções ou adquirir produtos de multinacionais, há a união com investimentos de baixo e médio porte na respectiva região, a fim de reduzir a utilização de recursos naturais e, consequentemente, fomentar a economia local. Tratando-se do enfoque ambiental, para Natália Pietzsch, o conceito é não produzir. Segundo a mestre em Engenharia de Produção e co-fundadora da
Re-ciclo – serviço de assinatura para coleta de resíduos orgânicos voltado para cidadãos e pequenos comércios –, este, hoje, é um dos maiores desafios do nicho, mas que precisa ser posto em prática: “Evitar descartáveis, priorizar produtos duráveis e de qualidade, mensurar adequadamente os insumos adquiridos para não haver sobras e desperdícios são ações básicas. E, se não for possível evitar 100% a geração de resíduos, estes devem ser adequadamente separados e encaminhados para a reciclagem e compostagem”. A iniciativa, que atende “pequenos geradores”, tem seu foco em pessoas físicas, mas não desvaloriza a assistência que dá àqueles que não possuem solução no mercado ou perante a coleta da prefeitura. O básico, para esses casos, é obter a percepção de como o ciclo funciona, e fazer o máximo para que ele não impacte negativamente no cotidiano: “Esses resíduos são encaminhados para um aterro sanitário, e causam uma série de prejuízos sociais, ambientais e econômicos para as nossas cidades”, completa Natália. Ainda que seja relevante que as estratégias do segmento sejam inclusas, em um primeiro momento, é fundamental a adesão do núcleo administrativo, ou
seja, dentre sócios e diretores. Apesar de parecer uma resposta viável à crise, a responsabilidade socioambiental e, igualmente, econômica, é um marco o qual deve ser impresso na identidade da empresa em questão – e não só como ações isoladas. Aqui, a coerência entre as ações realizadas e a cultura da organização devem estar intrinsecamente vinculadas
e, por essa razão, há a necessidade do apoio, principalmente, dos líderes existentes para que eles possam engajar os demais.
Serviço:
Re-ciclo Site: http://re-ciclo.net/site/ E-mail: contato@re-ciclo.net
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) ENDEREÇO: Avenida Unisinos, 950. São Leopoldo, RS CEP: 93022-750 Telefone: (51) 3591.1122 INTERNET: www.unisinos.br E-mail: unisinos@unisinos.br
ADMINISTRAÇÃO REITOR: VICE-REITOR: PRÓ-REITOR ACADÊMICO: PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: DIRETOR UNIDADE DE GRADUAÇÃO: Gerente dos Cursos de Bacharelados e Tecnológicos: COORDENADORA CURSO DE RELAÇÕES PÚBLICAS:
Marcelo Fernandes de Aquino José Ivo Follmann Pedro Gilberto Gomes João Zani Gustavo Borba Paula Campagnolo Erica Hiwatashi
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imagemrp A revista Imagem RP é uma produção dos alunos da disciplina de Redação em Relações Públicas IV do Curso de Relações Públicas da Unisinos
TEXTOS DISCIPLINA: Redação em RP IV (Turma 2017/1) ORIENTAÇÃO: Cíntia Carvalho (cintiascarvalho@unisinos.br) Textos: Aline Krüger, Ana Júlia Barth, Angel Thomaz Camargo, Annanda Werb, Daniela Gatelli, Diogo Laux, Estéfani Hobus, Fernanda Cheruti, Franciele Feijó, Maico Pereira, Michele Mariano e Nathana Fouchy
IMAGENS PRODUÇÃO: Redação em RP IV (Turma 2017/1) IMAGENS: Daniel Fraga e Raquel Prestes ARTE DE CAPA: Franciele Feijó com ilustrações de Macrovector/Freepik.com
DIAGRAMAÇÃO REALIZAÇÃO: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) DIAGRAMAÇÃO: Marcelo Garcia
ANÚNCIOS REALIZAÇÃO: ORIENTAÇÃO: SUPERVISÃO: ATENDIMENTO: Página 2 DIREÇÃO DE ARTE: REDAÇÃO: ARTE-FINALIZAÇÃO: Página 19 DIREÇÃO DE ARTE E ARTE-FINALIZAÇÃO: Página 20 DIREÇÃO DE ARTE E ARTE-FINALIZAÇÃO: REDAÇÃO:
Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) Vanessa Cardoso (vsilvac@unisnos.br) Robert Thieme (robertt@unisinos.br) Manuela Massochin Caique Agulla Lozano Fernando Fries Pamella Rodrigues Jorge Eduardo Tavares Marco Ambrozini Isadora Salines
SAVE THE DATE / 28 DE OUTUBRO TEATRO UNISINOS PORTO ALEGRE
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Se vOce tem nOvidades para cOmpartilhar, alguma aula difereNtOna, sabe de algum eventO legal Ou aquela vaga pra divuLgar aOs cOlegas...
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