imagemrp REVISTA EXPERIMENTAL DO CURSO DE RELAÇÕES PÚBLICAS JUNHO / 2018 | UNISINOS | SÃO LEOPOLDO/RS
Economia Solidária Por uma economia possível
Laboratório de Inovação Colaborativa
Uma mistura de referências, conhecimentos e experiências, na busca por novas ideias, conexões e aprendizado. Fique por dentro dos próximos eventos! Para saber mais, curta nossas redes:
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UMA MANHÃ_ UM PROBLEMA_ INÚMERAS IDEIAS_ DIVERSAS CONEXÕES.
CARTA DA REDAÇÃO
N
Cíntia Carvalho Editora
04 — 06 — 08 — 10 —
Princípios da Economia Solidária Feira de Inclusão Produtiva A valorização do indivíduo e não do capital Um caminho para o resgate da dignidade humana 12 — O sistema cooperativo - crédito e produtores 14 — A importância das Associações na produção de orgânicos 16 — Economia Solidária como renda no artesanato em Gramado 18 — Consumo consciente: benefício e cooperação 20 — Você sabe o que é reciclagem? Isso muda a vida de muitas pessoas em nosso país 22 — Preservação do meio ambiente à frente da Economia Solidária 24 — Os verdadeiros Companheiros da Natureza 26 — Os povos indígenas na Economia Solidária 28 — Características regionais na prática da ES 30 — Experiência viva da ES na cadeia produtiva do turismo e do lazer 32 — Um mundo novo e muitas inspirações
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a década de 90 foram implementados no Brasil, em nível municipal e estadual, programas e projetos voltados ao fortalecimento da Economia Solidária (ES) como estratégia de inclusão social, por meio da geração de trabalho e renda. O Rio Grande do Sul, em função de sua tradição cooperativista, foi o primeiro estado a implantar políticas públicas de apoio a esses empreendimentos coletivos e autogestionados. Nessa direção, a presente publicação tem o intuito de apresentar um pouco deste canário, dando margem a reflexões e apresentando experiências de variados lugares e setores. Num primeiro momento, apresentamos os princípios para o estabelecimento da Economia Solidária; dentre as pautas, temos relatos de experiências, onde artesãos dos municípios de Esteio e Gramado têm a oportunidade de expor e vender seus produtos à comunidade; na sequência, temos reflexões sobre a valorização do indivíduo, mais do que do capital, bastante pertinentes à contemporaneidade. Uma contemplação que busca abrir os olhos sobre a força de trabalho e os meios de produção capitalista, distintos da realidade trazida pela economia solidária, onde a participação efetiva e a promoção do bem-estar dos envolvidos têm prioridade. Nessa mesma linha, emerge a preocupação com o resgate da dignidade humana, perdida por muitos que se encontram em vulnerabilidade social. Na caminhada de leituras, podemos contemplar o sistema cooperativista de organização econômica e jurídica e de Associações, fortes aliados no desenvolvimento da ES. A sustentabilidade é palco do desenvolvimento de algumas matérias. Num mundo cada vez mais preocupado com questões ambientais, a ES surge como uma das alternativas mais viáveis para tornar a produção de bens e serviços verdadeiramente sustentáveis. Ainda, no contexto da produção artesanal, temos povos indígenas como exemplos de diversidade cultural dentro desta emergente realidade econômica. Cabe destacar, também, a exposição de práticas na área da produção e distribuição de produtos orgânicos, inclusive com foco na agricultura familiar. Nossa intenção, com esses conteúdos, é contribuirmos com pensamentos críticos e destacarmos iniciativas que desencadeiem motivação e a construção de novos projetos, de maneira tal que se dê um passo a mais na direção da tão sonhada sociedade justa e equilibrada, onde a cidadania possa ser expressada na sua mais plena concepção. Assim, esperamos que essa edição seja útil na identificação de que uma outra economia é possível.
ÍNDICE
Princípios da Economia Solidária imagemrp | Junho / 2018 | 4
Texto e foto MARIANA LOURENÇO
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pós a candidatura do atual prefeito da cidade de São Leopoldo, Ary José Vanazzi, em 2005 foi instituído o departamento de Economia Solidária dentro da prefeitura. A ideia surgiu no Fórum Social Mundial de Economia Popular Solidária que ocorreu em 2001, quando foi identificada a necessidade de grupos no município de São Leopoldo que buscavam renda e trabalho, pessoas que na sua grande maioria estavam desempregadas e não possuíam nenhuma fonte de ganho para seu próprio sustento. A economia solidária abarca uma variedade de práticas econômicas e sociais que podem ser organizadas em forma de cooperativas e associações, com características autogestionárias. Sendo assim, o Departamento tem como principal função o apoio e incentivo às ações ligadas a economia solidária no município, atuando fortemente no preparo e na coordenação de Feiras Populares. Visa descobrir e potencializar os produtores de bens, serviços e cultura das diferentes regiões, proporcionando, desta forma, a ampliação de oportunidades de negócios e, consequentemente, a geração de trabalho e renda para uma grande parte da população que necessita. Com o passar do tempo, a Economia Solidária vem se consolidando no município, conquistando visibilidade e reconhecimento junto às famílias que retiram dela seu sustento e resgatam sua dignidade social. Um importante resultado da luta da Economia Solidária na cidade, é a criação da Lei N. 7812/2012, que institui a Política Municipal de fomento à economia solidária da região.
Para fazer parte deste contexto, é preciso seguir algumas diretrizes e os princípios da economia solidária, sendo eles: • O princípio da autogestão: a partir da autogestão as decisões são tomadas de forma coletiva, ou seja, os trabalhadores não estão subordinados a um patrão. • Democracia: o trabalho não fica mais subordinado ao capital, todos juntos agregam esforços, recursos e conhecimentos para viabilizar as iniciativas coletivas de produção. • Cooperação: cooperar é diferente de competir. • Centralidade do ser humano: as pessoas são mais importantes que os lucros. • Valorização da diversidade: valorização da diversidade, sem discriminação de crença, cor ou orientação sexual. • Emancipação: a economia solidária emancipa e liberta. • Valorização do saber local: valorizar os diferentes saberes, as culturas e as tecnologias populares. • Justiça Social: A justiça social acontece na produção, comercialização, consumo, financiamento e no desenvolvimento tecnológico. • Cuidado com o Meio Ambiente: preocupação com as próximas gerações. Segundo o servidor público e idealizador do departamento, Henrique A. F. Schuster: “A Economia Solidária tem toda uma característica, uma diretriz que é muito forte e complexa; busca coisas muito maiores do que simplesmente a comercialização, esse é o grande diferencial da economia solidaria para as outras formas de organização”.
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Feira de Inclusão Produtiva imagemrp | Junho / 2018 | 6
Texto e foto JACIANE MARTINS
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rtesões de Esteio têm a oportunidade de venda de seus materiais na Feira de Inclusão Produtiva. A feira é um programa da Secretara Municipal de Cidadania, Trabalho e Empreendedorismo (SMCTE) da cidade, que tem o objetivo de incentivar o empreendedorismo criativo como uma ferramenta de inserção no mercado de trabalho e geração de renda para as famílias. Ao todo são dezesseis projetos participantes, que expõem e vendem seus produtos em pontos estratégicos da cidade. Os estandes contam com artesanatos em crochê, tricô, produtos feitos com artigos recicláveis e muitos outros artefatos. Essa ação geralmente acontece em três edições dentro de cada mês e também conta com o envolvimento da comunidade em geral. A economia solidária retrata uma forma de produção em que existe a colaboração de todos, muitas vezes em forma de cooperativa, com o intuito de vender mercadorias sem exploração do trabalho e desgaste do meio ambiente.
Diante da falta de emprego e da competitividade do mercado, a economia solidária é uma alternativa para diversas famílias empreenderem e gerarem renda. Sabrina Machado, 40 anos, participa da feira pelo segundo ano consecutivo, e comentou ter uma renda significativa para sua família com o evento. “As feiras são muito boas, sempre vendo. As vezes não dou conta de tanto serviço. Uso uma linha de aproveitamento de jeans, caixas de leite, sendo um produto inovador, exclusivo e educativo”, afirmou. Os artesões têm a possibilidade de participar de diversas capacitações, de forma gratuita, com temas variados como, por exemplo, direito do consumidor, microempreendedorismo, sustentabilidade. Os objetivos desses encontros são tanto melhorar a qualidade da produção dos artesãos, quanto repassar informações sobre assuntos relacionados ao empreendedorismo. Os produtores que tenham interesse em participar da feira devem entrar em contato com a SMCTE no endereço: rua Eng. Hener de Souza Nunes, número150, no horário das 08 h ao 12h para realizar cadastro.
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A valorização do indivíduo e não do capital Texto e foto RODRIGO GÖERG
Veja mais no site: mundomaislimpo.org.br
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sociedade enfrenta as consequências de escolhas políticas, morais e econômicas feitas no passado. Neste cenário, a forma de economia solidária ganha espaço e proporciona aos trabalhadores resultados (financeiros ou não) que são distribuídos e utilizados de maneira conjunta para a valorização do indivíduo e não do capital. Diferente da economia capitalista, a solidária provoca nos envolvidos a participação em projetos que visam o seu bem-estar e não o lucro. Os indivíduos não vendem sua força de trabalho e os meios de produção pertencem ao conjunto dos associados, colaboradores ou integrantes de organizações que possuem tal forma de enriquecimento moral e de bem-estar social como prioridade. Os participantes de projetos desta modalidade de empreendimento geralmente fazem parte de cooperativas, associações ou alguma organização coletiva popular. Ao analisarmos tais denominações destes grupos (ou porque não equipes, já que os indivíduos buscam o mesmo target), sempre encontraremos o sentido de trabalho conjunto, de solidariedade, pois tais empreendimentos surgem da experiência diária de trabalhadores que no decorrer da história, ou de suas histórias, procuraram incessantemente alternativas para enfrentar a desigualdade e as relações de hierarquia que a conjuntura social provoca. Neste sentido, é interessante citar a organização Mundo + Limpo. Ela é uma cooperativa do município de São Leopoldo/RS, que possui como uma de suas principais diretrizes, a cap-
tação de recursos econômicos e a emancipação social. É uma cooperativa de mulheres que buscam através da produção em conjunto, a venda de produtos de limpeza ecológicos, feitos com óleo de cozinha reciclado. Um dos diferenciais destes empreendimentos solidários é que eles transformam, de fato, o ambiente em que a sociedade vive. Ao acessar o site da cooperativa, o banner principal destaca justamente a preservação ambiental e o protagonismo feminino. “Nós transformamos o resíduo do óleo de cozinha em produtos de limpeza e velas, preservando o meio ambiente e gerando oportunidades de trabalho para mulheres da nossa comunidade.”. São essas lutas que enriquecem mais que o próprio capital a vida das pessoas que estão inseridas nessas iniciativas. Não só porque as próprias equipes gerem o empreendimento, mas também devido a funcionalidade dos programas que afetam os paradigmas de competição, modificando-os para o de cooperação, de formação de um consciente coletivo saudável para a sociedade. O olhar para estes empreendimentos muda a perspectiva de vida do cidadão, a maneira como o mundo é percebido, e a forma com a qual valorizamos o indivíduo. O sujeito se conscientiza sobre o consumo responsável, priorizando o seu bem-estar e deixa de olhar para si e para o outro de forma invisível, como se suas demandas não existissem. Ele enxerga, e percebe a si mesmo e ao outro de forma sincera, tranquila e transparente.
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Um caminho para o resgate da dignidade humana Texto e foto MORGANA FREIRE
Conheça mais sobre o Projeto:
Site: www.banhosolidario.com.br Redes Sociais: www.facebook.com/ banhosolidariors/
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uando falamos sobre Economia Solidária, pensamos principalmente na sociedade. Cada vez mais percebe-se o aumento dos moradores de rua ou em vulnerabilidade social, seja em centros ou bairros menores, em grandes ou menores grupos sendo um reflexo da economia instável. Muitas vezes esquecemos de olhar para o próximo e então não vemos como certa parcela da população se encontra. Percebendo esse cenário, Letícia Andrade, embaixadora do Projeto Banho Solidário em Porto Alegre, enxergou que o número de pessoas em situações de risco ou em vulnerabilidade social estava cada vez maior. Segundo a Prefeitura de Porto Alegre, em apenas 8 anos, o número da população de rua aumentou em 75%. A pesquisa realizada mostra ainda que 52,1% dorme cotidiana e prioritariamente em lugares de risco, improvisados e com forte exposição a condições climáticas. Atualmente, chega-se ao número de 2.115 pessoas morando nas ruas, disparando da marca atingida em 2008, onde eram, aproximadamente, 1.203 moradores. Leticia, que observava com indignação o aumento de pessoas em situações de rua, desejava fazer algo a respeito. Foi aí que descobriu o Projeto Banho Solidário, um grupo da sociedade civil, sem vínculos políticos, religiosos e sem fins lucrativos, fundado por Claudio Lacerda em Vitória da Conquista/BA, que busca proporcionar através das ações, banhos de chuvei-
ros com água quente para as pessoas em situação vulnerável. O principal objetivo do grupo é estimular a autoestima e inclusão social, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida e saúde das pessoas que ali se encontram. O projeto que nasceu por volta de 2016 foi gradativamente sendo implementado. A primeira conquista foi a arrecadação de R$20.000,00 para a construção do reboque onde, além de terem acesso ao Banho, os moradores recebem peças de roupas e alimentação. Já foram realizadas mais de 67 edições, com 7.853 pessoas atingidas e com 1.995 banhos realizados. Leticia Andrade diz que: “De banho tomado e roupa limpa eles se sentem novamente como cidadãos. ” Além da realização do Banho Solidário, o grupo lançou recentemente a Lavanderia da Rua, onde, além de tomarem banho, os moradores agora podem lavar as roupas, ao invés de descartá-las. O grupo também presta atendimento jurídico, possui um banco de doações onde as roupas que não podem ser usadas para o banho, são encaminhadas a outras instituições, como pijamas, que vão para asilos e lenços de cabeça, para o Instituto do Câncer. Assim, cada vez mais o grupo vem legitimando o projeto perante a sociedade e resgatando a dignidade humana dos grupos que se encontram em vulnerabilidade social.
O sistema cooperativo Texto e foto ALINE ABRUSSI SCHMIDT
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riorizando um modelo socioeconômico que vai contra os princípios capitalistas, o sistema cooperativo surgiu na Inglaterra da Revolução Industrial, no fim do século XVIII. No Brasil, o cooperativismo chegou no século XX, a partir de uma insatisfação de alguns setores da sociedade que queriam melhorar suas condições de vida. O movimento cooperativo tem, em sua essência, perspectivas sociais e ecológicas, sem render-se à regra do lucro máximo. A democracia é um diferencial importante nesse sistema, exercida também na distribuição de lucros. De acordo com a Aliança Cooperativa Internacional, o cooperativismo exerce sete princípios fundamentais: adesão livre e voluntária; gestão democrática; participação econômica; autonomia e independência; educação, formação e informação; parceria entre as cooperativas; e interesse pela comunidade. Esses princípios fazem do sistema cooperativo um dos modelos de mais rápido crescimento e líder reconhecido em sustentabilidade econômica, social e ambiental. O cooperativismo é subdividido em alguns ramos, e um deles são as cooperativas de crédito. Essa área visa proporcionar assistência financeira a seus cooperantes e funcionam mediante autorização e fiscalização do Banco Central do Brasil. De uma forma geral, praticam os mesmos serviços e operações que instituições financeiras privadas ou públicas, diferindo-se, fundamentalmente, por operar apenas com os seus cooperados e não com o público em geral. As cooperativas de produção, que
- crédito e produtores
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formam um dos ramos mais expressivos do cooperativismo, são dedicadas à produção coletiva de um ou mais tipos de mercadorias. Conforme as leis nº 10.637/2002 e 10.883/2003, “Na cooperativa de produção, a propriedade dos meios de produção é daqueles que nela trabalham, e não há proprietários que não trabalhem na empresa. Todos os proprietários têm o mesmo poder de decisão sobre a empresa solidária”. Como exemplo de cooperativa de produção, podemos falar sobre o Sítio Pé na Terra, localizado na zona rural da cidade de Novo Hamburgo, no bairro Lomba Grande. A cooperativa, fundada em 1922, sempre trabalhou com a produção orgânica e surgiu com o intuito de juntar pessoas que tivessem um estilo de vida mais saudável, para morarem no sítio. Os clientes da cooperativa são, em grande parte, de Porto Alegre e pequenos centros, pois os produtos orgânicos não são valorizados na região onde o Pé na Terra fica localizado. O Sítio Pé na Terra conta com vários cooperados que trabalham no próprio local, produzindo juntos. Apenas um produtor de leite orgânico produz fora da sede. A cooperativa participa de 3 feiras de rua e abastece cerca de cinquenta casas naturais. “É difícil competir com as grandes empresas sendo pequeno, mas estamos nos mantendo e temos bastante procura por nossos produtos, isso nos deixa muito felizes”, disse Denise Barbaro da Rosa, presidente da Cooperativa Sítio Pé na Terra, que também trabalha como produtora. Denise comenta ainda sobre a dificuldade de crescer como cooperativa, sem possuir capital de giro, mas que compensa produzir e trabalhar com aquilo que acreditam.
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A importância d na produção
das Associações de orgânicos Texto e foto RAQUEL RAMA
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respeito pelo meio ambiente e seres vivos é o diferencial do processo de produção de orgânicos, o que ratifica a importância deste tipo de cultivo e o torna um grande aliado do consumo consciente. A produção de orgânicos desperta a preocupação com o futuro dos recursos naturais e com a sobrevivência das próximas gerações. Quem observa as enormes estufas ao longo da propriedade do Sr. Ivo Haas, 48 anos, talvez não imagine o quanto a produção de frutos orgânicos fez diferença na casa do agricultor. Desde que começou a participar da Associação “Amigos da Natureza”, viu sua vida dar uma guinada graças a economia solidária, que possibilitou vislumbrar lucros de seu trabalho e expandir sua propriedade baseado na sustentabilidade que este tipo de cultivo oferece. A produção de orgânicos consiste em utilizar de maneira eficiente os recursos naturais renováveis e não-renováveis, despertando o senso de responsabilidade em quem produz, assim como em quem consome. Este tipo de produção preza pela biodiversidade, qualidade de vida e desenvolvimento econômico. As técnicas de produção utilizadas são as menos agressivas possíveis,
mostrando uma preocupação com a saúde dos humanos, animais, plantas e do solo. Neste tipo de cultivo a fertilização é feita através de adubação orgânica que dispensa totalmente o uso de qualquer espécie de agrotóxico. O crescimento econômico, de quem está disposto a investir nesta modalidade de produção, dá-se através de incentivos do governo e de um nicho específico que está disposto a pagar mais pela procedência dos alimentos. Porém, a certificação dos produtos tornou-se um problema para os pequenos produtores, e para minimizar o problema o governo criou um mecanismo que dispensa o uso de selos, desde que o agricultor faça parte de alguma Organização de Controle Social (OCS). Uma OCS compreende associações e cooperativas, como as que seu Ivo está vinculado, que auxiliam na comercialização de produtos em feiras, possibilitando a venda direta ao consumidor e potencializando a geração de lucros. Essas organizações, ainda, buscam sensibilizar outros produtores a aderirem a esse tipo de cultura. Assim, a produção de orgânicos nos mostra que é possível alinhar sustentabilidade e responsabilidade ambiental, permitindo o crescimento econômico de pequenos produtores que prezam pela qualidade de seu produto.
Economia Solidá no artesanato imagemrp | Junho / 2018 | 16
Texto e foto RENATA WILLRICH BRUNO
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artesanato é conhecido mundialmente por se tratar de trabalhos manuais, utilizando-se de diferentes matérias- primas e o artesão, considerado quem produz os objetos culturais que conhecemos como produtos de artesanato. É que é reconhecido por ser um trabalho familiar, onde o produtor possui os meios para produção como ferramentas e recursos necessários, gerando renda para o sustento da sua família. Historicamente, o artesanato surge como uma necessidade para este lucro, expressando a criatividade e, ainda, oportunizando a geração de renda. Com isto, a economia solidária se encaixa perfeitamente na linha de artesãos, pois através das suas produções, há uma possibilidade de geração de renda. Como por exemplo, em GramadoRS existe a “Associação Cultural de Arte e Artesanato Várias Artes”, que ocupa espaço na Praça das Etnias, e surgiu com intuito de expor produtos de moradores da cidade, por meio da comercialização destes. Esse movimento organizado se caracteriza como uma forma de economia solidária, uma alternativa para o desemprego e a exclusão social, baseada na autonomia dos produtores e na solidariedade. O Brasil, conforme dados do IBGE, atinge o pior número de
trabalhadores com carteira assinada, desde 2012. Esta realidade foi destaque em matéria publicada no portal de notícias da Folha de São Paulo, onde aponta que o desemprego no país atinge 12,6%, sendo esse um fator alarmante para a população. A Feira conta com famílias que expõem suas artes em vinte estandes, distribuídas entre pintura, patchwork, tecelagem, produtos de decoração, pintura em madeira, utilidades domésticas e uma grande variedade de presentes como lembranças da cidade. Conforme a artesã Lara Marques da Rocha, que está na feira desde o início, com realização de trabalhos em patchwork e pintura em madeira e cerâmica, a iniciativa proporciona renda total à sua família e declara que a cedência do espaço, é uma maneira de valorizar o artesão por suas habilidades e reconhecimento deste como um microempresário, onde há necessidade de emissão de nota fiscal em todas as transações efetuadas. Ela comenta que antes de iniciar esta associação, os artesãos apenas poderiam expor em feiras específicas como na Páscoa e Natal por exemplo; hoje contam com um ponto físico para trabalharem diariamente. Orgulhosa de seu trabalho, Lara comenta: “A economia solidária surgiu como forma de valorização pessoal para nós artesãos, sem preconceito”.
รกria como renda em Gramado
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Consumo consciente: b Texto e foto ROBERTA DA SILVA THIESEN
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Economia Solidária (EcoSol) é um jeito diferente de produção, venda e consumo; os participantes da EcoSol cooperam entre si, criando um processo solidário de trabalho e renda, sempre preservando o meio ambiente. Porém, no mundo capitalista que vivemos, sabemos que o consumo é o motor da nossa sociedade e, cada vez mais, as pessoas consomem mais do que o necessário e, com isso, geram uma cadeia de consumo desenfreada, dificultando a prática para os participantes da Economia Solidária.
Acima de tudo, a Economia Solidária preza por alguns princípios e podemos vê-la como uma dimensão cultural da sociedade, considerando que o movimento valoriza o consumo consciente, venda de produtos locais e saudáveis, beneficiando pequenos produtores, fortalecendo a cooperação e diminuindo a competição, através da partilha do trabalho e dos produtos. Ela também pode ser considerada, politicamente, um movimento social que luta contra o monopólio de grandes empresas e latifúndios, tentando implantar uma nova maneira de desenvolvimento, baseado nos valores sociais da população, na preservação ambiental, no sistema cooperativista e nos direitos humanos. Carolina Jung, 27 anos, consumidora da Feira do Alimento Saudável, projeto do movimento EcoSol de São
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benefício e cooperação Leopoldo, é adepta à essa política e diz que prefere consumir produtos da Economia Solidária e agroecológicos pelo fato de seguirem valores iguais aos dela, como preservação do meio ambiente, respeito à diversidade e à vida humana e preocupação com a saúde. O movimento proporciona uma vida mais saudável e o consumo responsável, quando os produtores não utilizam agrotóxicos e oferecem produtos orgânicos aos seus consumidores, por exemplo. Jung diz que “Agricultores são intoxicados em suas próprias lavouras com o uso de agrotóxicos e nós somos envenenados com esses alimentos. Assim, produtos da feira são um bem para mim, para o próximo e para o planeta” e, desta maneira, acredita que a EcoSol auxilia na eliminação da exposição
humana, a partir dos produtos orgânicos. Além disso, o movimento preserva o meio ambiente, incentivando os consumidores a reciclar e usar produtos retornáveis, como sacolas e garrafas, que garantem menos lixo no nosso ecossistema, mais saúde a todos e renda aos participantes da Economia Solidária. Já, os benefícios do consumo neste movimento não são apenas para os vendedores, mas também para o meio ambiente e os consumidores, que adquirem produtos biodegradáveis, orgânicos e manufaturados. Dessa forma, entendemos a importância do consumo consciente para todos, inclusive a natureza, e como a Economia Solidária viabiliza esse processo colaborativo, reconhecendo os valores sociais da população.
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VocĂŞ sabe o que ĂŠ rec vida de muitas pess
ciclagem? Isso muda a soas em nosso país Texto e foto THAIS SOPRANA
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Brasil é um dos maiores produtores de lixo do mundo. Segundo dados do jornal Correio 24h, em 2017 foram produzidos aproximadamente 80 milhões toneladas, enquanto nem 5% destes resíduos foram reciclados. A reciclagem é um conjunto de técnicas de reaproveitamento de materiais descartados, reintroduzindo-os no ciclo produtivo. Cerca de 30% de todo o “lixo” é composto de materiais recicláveis como papel, vidro, plástico e latas, e todos esses materiais têm valor de mercado, pois são reaproveitados como matéria-prima no processo de fabricação de novos produtos. Em nosso país, reciclagem não está apenas ligada à conscientização e preservação ambiental, mas também está associada à pobreza e falta de emprego. É comum encontrarmos pessoas andando nas ruas com papelões ou então em lixeiras à procura de materiais que possam ser vendidos e reaproveitados. Muitas vezes, estas pessoas são menosprezadas por estarem mexendo naquilo que a maioria descarta. Porém, com a criação de associações e cooperativas, esse trabalho vem sendo reconhecido não apenas como uma fonte de renda para os menos favorecidos, mas também como um serviço ao meio ambiente.
Como é o caso da COOTRACAR - Cooperativa de Trabalhadores Carroceiros e Catadores de Materiais Recicláveis, Industrialização e Comercialização. Localizada na cidade de Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre, a cooperativa reúne catadores e carroceiros desde 2009. Com o nome de “Coleta Solidária” a cooperativa é responsável por parte da coleta seletiva da cidade. Diante disso, a COOTRACAR investe na capacitação e formação dos trabalhadores. Atualmente conta com uma média de 60 pessoas diretamente ligadas à entidade, os chamados cooperados, mas gera trabalho e renda para mais de 130 pessoas, contabilizados os carroceiros e “carrinheiros”, além daqueles que estão ligados à coleta seletiva como motoristas dos caminhões e coletores. Os lucros produzidos através da reciclagem dos materiais são divididos e repassados aos cooperados dando a eles uma fonte de renda digna. A felicidade daqueles que tornaram o “lixo” um meio para construir suas casas, alimentar seus filhos e ter vida honesta é contagiante. Hoje, com auxílio das cooperativas, os catadores têm seu trabalho reconhecido e são incentivados a prosperar. A busca por dignidade e respeito é constante e em grupos se torna mais forte. Cabe a sociedade reconhecer o valor destas pessoas, pois seu trabalho é uma prestação de serviços à natureza e a toda a população.
Preservação do à frente da Econ imagemrp | Junho / 2018 | 22
Texto e foto THAÍS SOUZA
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união das mães do Bairro Santa Tereza e das Irmãs Missionárias do Cristo Ressuscitado, ativas no voluntariado como cozinheiras na Escola Estadual de Ensino Médio Amadeo Rossi, deu impulso para a criação de um projeto social que não só proporcionasse renda, mas principalmente um trabalho em harmonia com o meio ambiente. A cooperativa Mundo + Limpo surgiu em uma de muitas ideias recebidas pela fundadora, Cristina Giani, em uma palestra chamada encontro do trabalho promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Na época, em conversa com os demais participantes da palestra, elas tiveram três alternativas de atuação cooperativada: trabalhar com sabão de óleo reciclado, cooperativas de reciclagem ou com artesanato. Ao iniciar suas atividades, a cooperativa não possuía uma fonte direta de recebimento do óleo de cozinha reutilizado, não existia um local adequado para a produção e embalagem dos produtos, também não havia um espaço onde pudessem comercializar esse produto. Foi quando houve a ideia de divulgar o sabão através de visitas nos bairros de casa em casa com o sabão produzido na cooperativa, assim aproveitando para divulgar o produto, e trocá-lo por óleo de cozinha usado dos moradores do bairro. Inicialmente, a cooperativa recebia o apoio da prefeitura de São Leopoldo, participando apenas do programa de coleta seletiva compartilhada da cidade e recebendo o óleo de cozinha utilizado para a fabricação dos produtos. Após a busca pela incubação do projeto Tecnosociais da Universidade do Vale do Rios dos Sinos - Unisinos, a Mundo + Limpo realizou novas parcerias com empresas privadas, como: Stihl, SAP e Sindimetal no recebimento do óleo de
cozinha utilizados nas empresas. A Unisinos auxiliou o então projeto social, a tornar-se uma cooperativa na busca pela qualificação do produto produzido por elas, criou-se três ações de atuação com base nas necessidades empresariais: a jurídica, a administrativa e a qualidade do produto. A Mundo + Limpo conta hoje com 7 pessoas que atuam diretamente na cooperativa e outras 9 pessoas que atuam indiretamente, conforme a estimativa realizada pelas cooperadas, cerca de 13 mil litros de óleo já foram recebidos e reutilizados para a produção de sabões, sabonetes, velas e produtos de limpeza. Atualmente, a Cooperativa está com a sua sede localizada na Rua Padre Werner, 350 ao lado do Santuário Padre Reus, com atendimentos de terças a quintas-feiras das 13h30 às 17h30. A sede está recebendo uma ampliação para otimizar o espaço e melhorar a produção. Há muitos pontos de venda do produto para o consumidor final com lojas físicas e online, confira todos eles no site oficial da Mundo + Limpo abaixo, na aba: Onde Comprar! www.mundomaislimpo.org.br/onde-comprar/ Usando o texto da própria cooperativa sobre a missão delas: “A Cooperativa de Trabalho Mundo + Limpo atua há 10 anos em São Leopoldo tendo por objetivos principais: gerar renda sob os princípios da Economia Solidaria, ser um espaço de empoderamento e protagonismo feminino e cuidar do meio ambiente”. Com essa proposta, as mulheres da Cooperativa além de chegarem ao seu objetivo inicial, conquistaram o sentimento de autoestima, com o poder de controlar suas próprias vidas; de ter acesso a oportunidades e recursos; usando das suas capacidades de influência na direção das mudanças da comunidade onde vivem, criando uma ordem social e econômica mais justa para a sociedade.
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Os verdadeiros Companheiros da Natureza Texto e foto JACIELE LUANA MÜLLER
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Grupo Orgânico do Vale do Caí, Companheiros da Natureza tem ajudado na alimentação saudável da comunidade em que habitam e de centenas de famílias da região metropolitana. Os Companheiros da Natureza são uma associação formada por dez famílias agricultoras que cultivam e distribuem alimentos orgânicos, em feiras de Porto Alegre e na cidade de Canoas; além de comercializarem uma pequena parcela de seus produtos para seus vizinhos e familiares. A história começou em 1998, quando passaram a se reunir para trocar experiências e conhecimentos em relação ao cultivo de orgânicos e vislumbraram ali, uma nova oportunidade de crescer financeiramente e ajudar o meio-ambiente. O grupo conta atualmente com uma sede própria de 300 m2 na cidade de Pareci Novo, conhecida no Vale do Caí, como uma das maiores produtoras de citrus e flores do Vale. A sede foi realizada com recursos doados pelo Governo Federal. A produção é distribuída nas cidades metropolitanas com um caminhão comprado pelo grupo. A agricultora Márcia Haas, esposa de um dos fundadores do grupo, Ivan Haas relatou como é realizado o cultivo: “As nossas propriedades utilizam técnicas de produção orgânica não agressiva ao meio ambiente, como adubação
verde, biofertilizantes, pós-de-rochas e compostos orgânicos”. Kelvin Haas, filho do casal, se vê realizado ao lado da família, com a produção orgânica que possuem, além de encontrar no pai a profissão de agricultor como algo que quer seguir. Como relata: “Há alguns anos atrás, não me imaginava agricultor, mas atualmente, vendo o trabalho que meu pai realiza, vejo que tenho futuro na agricultura e que podemos ainda assim, ampliar nossa produção ajudando o meio-ambiente”. A produção dos associados baseia-se no cultivo de diversas frutas cítricas, como laranjas, bergamotas e limão. O agricultor destaca que, há dois anos, ampliou sua produção com o cultivo de morangos, os quais são cobiçados e se esgotam rapidamente nas feiras. Em 2018, a maior dificuldade foi o calor do mês de abril, o qual prejudicou o cultivo de citrus que necessita de um clima mais ameno. Ivan aponta, ainda, que os prejuízos já podem ser contabilizados em uma perda de 5%, em relação ao ano anterior. A maior mensagem que a associação busca transmitir é a de que a agricultura pode ser ampliada, sem a necessidade de agrotóxicos, que poluem o meio-ambiente e prejudicam os consumidores. O valor dos produtos orgânicos é mais alto comparado aos convencionais, porém, são altamente mais nutritivos.
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Texto CLARISSA BESSA Foto MARIA ROSA JUNGES
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artesanato indígena é um dos exemplos de diversidade cultural dentro da economia solidária. Nesse tipo de trabalho, feito pelos índios, conseguimos compreender saberes e técnicas passadas de geração para geração naquela cultura. As artes produzidas, entre colares, pulseiras, cestas, esculturas, entre outros, traz fortemente a manifestação cultural desse povo. Além disso, traz uma relação interpessoal com outros povos existentes dentro da cultura brasileira. Sabendo que o artesanato é tido como a principal forma de economia desse povo, foi criado o circuito de artesanato indígena em Porto Alegre, dentro da Secretária Municipal de Direitos Humanos (SMDH), fazendo a conexão entre as questões am-
bientais, étnicas e diversidade cultural. No projeto de circuitos artesanais, com apoio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos de Porto Alegre, os artesões indígenas têm uma loja de exposição e comercialização de seus produtos no Mercado Bom Fim, dentro do parque Farroupilha. Esse espaço ocupado pelos povos indígenas Mbyá-Guarani, Kaingang e Charrua, fica em um local histórico e turístico da cidade e é cedido pela SMIC, com gestão compartilhada da SMDH. Além da loja, os artesões também dispõem de bancas em lugares como a Feira da Praça da Alfândega, no Centro Histórico (segunda à sexta-feira); Feira Ecológica do Bom Fim (aos sábados); e Feira do Brique da Redenção (aos domingos), esses cedidos desde a década de 1980. Já a partir do ano de 2011, por um decreto de Lei Municipal n° 17.581/2011 que “Reconhece, no âmbito do Município de Porto Alegre, as práticas do ‘poraró’ e as
apresentações dos grupos musicais “mbyá-guarani” realizadas em espaços públicos como expressões legítimas da cultura indígena”, receberam permissão para que comercializassem livremente pelas ruas e parques da cidade. Com isso, também, se estabeleceu uma diversidade entre os povos indígenas, pensando que os Kaingangs preferem estar em espaços das feiras de artesanato, os Mbyá-Guarani optam pela livre circulação na cidade. Dessa maneira, podemos perceber uma vasta diversidade cultural, dentro dos povos indígenas e entre os cidadãos indígenas e os demais cidadãos do município de Porto Alegre. Com esse projeto percebemos a inclusão de um povo que é, por diversas vezes deixado de lado pela sociedade como um todo. Um projeto de extrema importância para o crescimento da diversidade cultural e para o sustento e crescimento dos indígenas.
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Os povos indígenas na Economia Solidária
Características region imagemrp | Junho / 2018 | 28
Texto e foto JULIANA VARGAS
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economia solidária tem se tornando uma alternativa de trabalho e renda para diversas pessoas em nosso país. A autogestão e cooperativismo são características comuns em todas as regiões do Brasil, entretanto, os produtos e serviços ofertados por este tipo de economia adaptam-se conforme a cultura e as demandas de cada região do Brasil. Muito além da geração de trabalho, a economia solidária também está ligada a uma esfera multidimensional que leva em consideração a cultura, economia e comunidade local. Com base nisto, a economia solidária pode se moldar conforme as características locais de cada região do nosso país. Como consequência, os produtos gerados pela economia solidária no Sul são diferentes da região Nordeste. Sabemos que o povo gaúcho é extremante ligado a sua cultura, por isso, em nosso estado, os artesões têm uma grande variedade e possibilidade de confec-
ção de produtos voltados a essa cultura. É comum vermos, desde pequenas cidades à grandes centros urbanos, produtos relacionados à cultura gaúcha, podendo variar desde cuias, roupas e acessórios em couro. A maioria destes artigos, são confeccionados à mão por artesões dedicados à cultura e manifestação do nosso estado. Como forma de incentivar e profissionalizar os artesões locais, o Rio Grande do Sul conta com o Programa Gaúcho do Artesanato (PGA), que tem como objetivo promover a atividade artesanal por meio de políticas de formação, qualificação e orientação ao artesão. Com base na cooperação e promoção da autogestão, o programa realiza um cadastramento dos artesões fornece a essas pessoas a Carteira do Artesão – reconhecendo-o como profissional autônomo. Além disso, permite a participação em feiras e exposições de todo o Brasil – promovendo a economia local, o trabalho manual do artesão e os seus produtos. Todas essas práticas que analtecem a Economia Solidária junto à comunidade gaúcha.
nais na prรกtica da ES
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Texto e foto DANIELE TESTA DULIUS
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razer para a capital dos gaúchos uma alternativa de lazer ao cotidiano acelerado da metrópole foi a principal inspiração de um grupo de pessoas entusiasmadas e engajadas com essa possibilidade. Em meados de 1990, agricultores e produtores residentes em áreas rurais da cidade de Porto Alegre já tinham perspectiva de elevar o crescimento e importância àquele espaço. A oportunidade de preservar e utilizar as terras de forma consciente, além de proporcionar uma renda adicional ou principal a integrantes deste núcleo foi um dos pilares iniciais para o que hoje é conhecido como Caminhos Rurais. Uma parceria da Secretaria Municipal do Turismo (SMTUR) com a EMATER, firmada em 2006, construiu junto aos moradores da região o roteiro turístico Caminhos Rurais, que abrange atividades voltadas para a agricultura familiar, ecológica e orgânica, aberta para visitações e vivências. Os participantes que ingressaram na formação do roteiro receberam diversas capaci-
tações para adequarem-se aos objetivos buscados pela Associação, com o intuito de reduzir impactos ambientais à região. Dentre os diversos objetivos buscados pelos que trabalham no roteiro, o princípio base está voltado para a Economia Solidária. Todos os membros cooperam de forma igualitária visando não somente a fonte de renda, mas também a exploração sustentável e igualitária de, aproximadamente, 30% do território porto-alegrense, que é formado por núcleos rurais, evitando a ação direta do homem nestes espaços para modificá-los. Atualmente, há uma média de 12 estabelecimentos que abrangem este círculo colaborativo, desde sítios que proporcionam uma aproximação das pessoas com os animais, diferente do tradicional, até espaços para almoços, reuniões e comercialização do que é produzido no local. Para participar do roteiro é preciso agendar a visitação e todos os estabelecimentos possuem atividades especiais para os visitantes, prezando o turismo rural e a vivência ecológica em harmonia com o meio ambiente.
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Experiência viva da ES na cadeia produtiva do turismo e do lazer
Um mundo novo e muitas inspirações imagemrp | Junho / 2018 | 32
Texto KAREN MONIQUE SOUZA
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á cinco anos Josiane Borges, 29 anos, trabalha na Cooperativa Mundo Mais Limpo (mundomaislimpo. org.br). A dificuldade de encontrar trabalho formal levou esta jovem a descobrir o mundo da sustentabilidade. Para que a vida siga um curso de realização é necessário inspiração e paixão pelo que se é e pelo que se faz na Vida. A cooperada Josiane Borges descobriu esta realização e inspiração na cooperativa Mundo Mais Limpo. Este projeto, que já existe há dez anos, e produz sabão e outros produtos com óleo de cozinha, dá novos rumos para mulheres moradoras da ocupação Santa Tereza, na cidade de São Leopoldo. Uma mulher que nasceu em Santa Catarina, em uma família de oito irmãos. Ao mudar-se para o Rio Grande do Sul morou com a sua avó e depois de um tempo se casou. Sua família teve uma vida difícil. A mãe mantinha a família como recicladora de resíduos. Mesmo com muitas barreiras sociais e econômicas, em 2012, ela ingressou na universidade no curso de Enfermagem. Além dos horários de estudos, que eram irregulares, os filhos também chegaram e mudaram mais ainda a sua rotina. Com dificuldades de encontrar um trabalho que se moldasse a este momento de sua vida, ela foi convidada a participar deste empreendimento social na parte administrativa. “No começo era bem diferente. Vim
do trabalho em um supermercado, uma multinacional. Cada um fazia sua parte (...). Na cooperativa todas as demandas levamos em reunião e decidimos juntas, tudo é coletivo. Todas têm voto e têm vez. No meu outro emprego somente recebia ordens. ” Comenta. Em meio a essas novas perspectivas, vislumbrou possibilidades, não somente laborais, mas de vida em sociedade e do cuidado com a natureza. “ Antes não tinha noção de como o óleo de cozinha danificava o meio ambiente. Eu descartava no ralo. Hoje essa consciência me faz separar o lixo de forma adequada e cuidar as minhas ações no dia a dia.” enfatiza. O fator de mudança de mentalidade e de trabalho coletivo influencia nas relações no seu trabalho e também em sua família. “Eu gosto da interação com o público nas feiras e oficinas para divulgação do nosso produto. Explicar para as crianças sobre a preservação do meio ambiente, o descarte do óleo. Esta é a parte mais prazerosa.” Ela pretende seguir vinculada à cooperativa, apesar de estar estudando para ingressar no serviço público em sua área de formação: enfermagem. “Aprendi muito na cooperativa e pretendo seguir levando estes aprendizados a outras pessoas.” Otimizar ações de engajamento e responsabilidade social e agregar valor e dignidade a pessoas como a Josiane pode ser um caminho de crescimento da sociedade e de esperança àqueles que sonham em melhorar suas vidas e construir um mundo melhor.
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Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) ENDEREÇO: Avenida Unisinos, 950. São Leopoldo, RS CEP: 93022-750 TELEFONE: (51) 3591.1122 INTERNET: www.unisinos.br E-MAIL: unisinos@unisinos.br
ADMINISTRAÇÃO
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REITOR: VICE-REITOR: PRÓ-REITOR ACADÊMICO E DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS: PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: DIRETOR UNIDADE DE GRADUAÇÃO: GERENTE DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO: COORDENADORA CURSO DE RELAÇÕES PÚBLICAS:
Marcelo Fernandes de Aquino Pedro Gilberto Gomes Alsones Balestrin Luiz Felipe Jostmeier Vallandro Gustavo Borba Paula Campagnolo Taís Motta
imagemrp A revista Imagem RP é uma produção dos alunos da disciplina de Redação em Relações Públicas IV do Curso de Relações Públicas da Unisinos
TEXTOS E FOTOS DISCIPLINA: Redação em RP IV (Turma 2018/1) ORIENTAÇÃO: Cíntia Carvalho (cintiascarvalho@unisinos.br) TEXTOS: Aline Abrussi Schmidt, Clarissa Brizolla Bessa, Daniele Testa Dulius, Jaciane Baptista Martins, Jaciele Luana Müller, Juliana da Silva Vargas, Karen Monique Souza, Mariana Machado Lourenço, Morgana Freire Silva, Raquela Rama, Renata Willrich Bruno, Roberta da Silva Thiesen, Rodrigo Goerg Balbi da Silva, Thais Silva de souza e Thais Soprana Oliveira CAPA: Freepik
DIAGRAMAÇÃO REALIZAÇÃO: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) DIAGRAMAÇÃO: Marcelo Garcia e Nathalia Haubert
AGRADECIMENTO Ivo Haas - Produtor Rural
ANÚNCIOS REALIZAÇÃO: ORIENTAÇÃO: SUPERVISÃO: ATENDIMENTO: Página 2 DIREÇÃO DE ARTE: REDAÇÃO: Página 35 DIREÇÃO DE ARTE: REDAÇÃO: Página 36 DIREÇÃO DE ARTE: REDAÇÃO:
Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) Vanessa Cardoso (vsilvac@unisnos.br) Robert Thieme (robertt@unisinos.br) Isabella Woycickoski Isis Müller Ina Pommer Júlia Vieira Ina Pommer Amanda Neumann Ina Pommer
A galera do curso de Relações Públicas da Unisinos está presente também nas redes sociais.
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