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| Dezembro de 2020 |
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mistérios da mente ENFRENTAMENTO, RESISTÊNCIA, RECUPERAÇÃO. A CONDIÇÃO DA RACIONALIDADE TORNA O SER HUMANO CAPAZ DAS MAIS DIVERSAS SENSAÇÕES. DA SUPERAÇÃO DAS DORES AO ENTENDIMENTO DO INEXPLICÁVEL, DO IMPREVISTO ÀS SOLUÇÕES POSSÍVEIS
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redesolidariasaoleo
mistérios da mente > editorial
Uma edição, dois temas
A
atual edição desta tradicional revista que o Jornalismo da Unisinos produz semestralmente repete a experiência da anterior: foi toda elaborada remotamente. Se essa prática representou, no caso pregresso, uma inesperada situação, impondo ao mundo a realidade de uma pandemia, seus perigos e o isolamento como prevenção necessária, no atual foi uma realidade já conhecida – mas, nem por isso, menos dramática. Como no primeiro semestre deste 2020, as reportagens que ora apresentamos como produção conjunta das turmas de Jornalismo Literário e Projeto Experimental em Fotografia foram pensadas, apuradas (entrevistas, pesquisas e captação de imagens), redigidas, editadas, diagramadas e revisadas a distância – tais como foram as aulas das duas disciplinas. Experimentados, assim, pelas práticas do semestre anterior, alunos, professores e a estrutura de apoio composta do monitor e do designer e diagramador encararam 2020/2 com atribuições similares, que começaram com a escolha
do tema da edição. Como se sabe, a Primeira Impressão é uma publicação temática, com o assunto da vez sendo escolhido pelos alunos, em votações que nem sempre se esgotam na primeira tentativa. O mais comum, aliás, é chegar-se ao tema em votações orais de primeiro e segundo turnos realizadas nas primeiras aulas. A PI 54 tem uma novidade, que desde a aula inicial se mostrou necessária e, mais do que bem recebida, foi estimulada pelos professores: à falta de consenso sobre um tema dominante nas duas votações, fez-se uma terceira tentativa, em que também não houve predomínio significativo de um dos dois preferidos. Chegou-se, assim, à solução possível: tornar bitemática a presente edição, abordando as propostas preferidas pelos alunos das duas turmas. Esta, assim, é uma característica da PI 54: em vez de um tema, ela tem dois: “Por quê?” – assim aparecido neste texto por ter o sentido de uma pergunta, com o circunflexo justificado na sua condição de fim de frase –; e “Mistérios da mente”. O primeiro tema, que se desenrola em reportagens que ocupam metade da revista, assimila as variações “por que”,
“porque” e “porquê”, presentes nos textos criativos aos quais parte das turmas se dedicou. O segundo, na outra metade das páginas, e em posição inversa, envereda pelas infinitas possibilidades que a racionalidade proporciona aos seres humanos. Ambos abordam situações que visam aproximar Jornalismo e Literatura e apresentam histórias relevantes, sensíveis, dramáticas e/ou inovadoras. Vale lembrar: apuradas remotamente, as histórias aqui contadas estão ilustradas com imagens obtidas junto às fontes das informações – situação que, longe do ideal jornalístico, é a possível no jornalismo produzido em tempos de distanciamento social. Sua captação teve a orientação dos alunos, aos quais as circunstâncias transformaram em curadores fotográficos, em mais uma rica experiência para a qual se impôs a necessária adaptação. A essa combinação de esforços e, modéstia à parte, talentos, pedimos a atenção de sua leitura. Flavio Dutra Luiz Antônio Nikão Duarte Professores
Karine Viana > primeira impressão > 3
mistérios da mente > índice
6 Uma luz brilhante
Pacientes contam como sobreviveram a experiências de quase-morte
10 Da dor à vida nova
Como a mente humana cria mecanismos para sobreviver ao maior dos horrores?
14 Ansiedade e depressão
2020 trouxe o novo coronavírus e a quarentena. Poucos se deram conta da bomba relógio prestes a estourar
18 Efeito emocional
Como os atletas de alto rendimento reagem ao adiamento das Olimpíadas, causado pela pandemia
22 Sensibilidade
A arte milenar da mágica favorece a autoconfiança e auxilia a educação
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Gabriel Davi Pierin
primeira impressĂŁo > 5
mistĂŠrios da mente > uma luz brilhante
6 > primeira impressĂŁo
E
ra um sábado de março de 1993. Otilia caminhava em direção ao portão da empresa quando, de repente, viu o filho a sua espera. Sem entender, perguntou, preocupada, acreditando que algo tivesse acontecido. “Mãe, eu quero muito ir ver o vô!”. Cansada, propôs ao filho para que fossem para casa, mas o garoto insistiu até ela concordar. Por cerca de dez minutos, foram caminhando até a casa que ficava colada ao Estádio Cristo Rei, do Aimoré, time de São Leopoldo. Ao se aproximarem do portão, viram que tinha algo estranho. Antônio veio ao encontro dos dois, mas em questão de segundos sentiu uma dor paralisante. Em um impulso desesperado, rasgou a camisa xadrez que usava. A filha prontamente segurou o pai des-
Pacientes contam como sobreviveram a experiências de quase-morte
maiado, quando se virou ao filho “Igor! Vai buscar o tio Aloísio! Diz que teu avô está passando muito mal!”. Ele foi correndo buscar a ajuda do tio que morava perto. Em poucos minutos o pequeno Passat branco parou na frente casa. Os filhos e o neto carregaram Antônio desacordado para o carro e foram ao Hospital Centenário, o mais próximo. No desespero, Otilia não fechou a porta, apenas a segurava para que quando o carro parasse na emergência, pudesse sair correndo. “Rápido! Alguém ajude! Meu pai está morrendo!!!”, Otilia gritava na entrada do hospital. Logo veio um grupo de médicos e enfermeiras com uma maca. Otilia segurou firme ao lado do pai quando levado para ser atendido. Antônio continuava desacordado. Aloísio e o sobrinho ficaram no lado de fora, angustiados por notícias. A filha mais velha de Antônio estava visitando uma prima em uma cidade que ficava a cerca de 40 quilômetros e ela precisava estar ali, pois todos achavam que não teria mais volta e a morte seria anunciada em breve. Aloísio então foi em busca da irmã e o sobrinho ficou no lado de fora aguardando notícias do estado de saúde do avô.
REPORTAGEM JULIANA BORGMANN FOTOS PAOLA MACHADO
Os caminhos do subconsciente primeira impressão > 7
mistérios da mente > uma luz brilhante Na sala de procedimentos, os médicos intercalavam massagem cardíaca, medicações e o desfibrilador. Otilia estava ao lado assistindo às tentativas desesperadas dos médicos para salvar a vida do pai. Mas, infelizmente, o cardiologista responsável declarou o óbito às 12h11. A filha, sentada ao lado do leito e debruçada sobre o pai, dizia incessantemente “Pai, não vá! Tu juraste que não iria embora e que viveria até os 100 anos. Por que estás fazendo isso comigo?”. O relógio se aproximava das 12h30 quando um dos monitores começou a apitar. Um ritmo devagar, mas que aos poucos foi ficando mais ritmado. De repente ele acorda, olha para a filha e questiona em alemão “Was ist passiert? / O que aconteceu?”. A filha desesperada começou a chamar pelos médicos. Depois de fazer exames físicos, o médico questionou surpreso: “parece que São Pedro não lhe quis lá em cima, Antônio”. Após Antônio ser avaliado pela equipe, o médico disse à filha que ele estava clinicamente bem, mas que ainda seria monitorado na UTI por alguns dias. Afinal, de acordo com ele, as próximas 72 horas eram decisivas para o paciente. Depois que a equipe médica deixou a sala, Antônio contou à filha o que havia acontecido com ele. “Eu estava em túnel que tinha uma luz muito brilhante no final. Fui caminhando e logo cheguei em um jardim muito bonito, com muitas flores e plantas. E de repente eu vi a tua mãe, ela estava lá, toda de branco. Quando cheguei perto dela disse que sentia saudades e como era bom vê-la. Foi quando ela me disse que não queria falar comigo porque eu já iria embora dali. Aí eu acordei”. Elisabeta, a esposa de Antônio, havia falecido cerca de sete meses antes. Antônio viveu mais 16 anos após o episódio de quase-morte. Apesar do histórico cardíaco, nunca mais teve problemas graves. Faleceu após um acidente vascular cerebral.
Sem medo da morte José Otmar Link já passou por mais de dez cirurgias ao longo da vida de 76 anos e diz que não tem medo de morrer. Em fevereiro de 2005, durante um procedimento para colocar uma válvula mecânica no coração, teve uma experiência diferente. Ele estava parado ao lado da mesa cirúrgica vendo os médicos trabalhando. Uma luz muito forte estava a sua frente e nela havia uma imagem que, para ele, parecia ser de Nossa Senhora Aparecida. Próxima a ela estavam seu pai e seu irmão, ambos já falecidos. Após a cirurgia ele se recuperou bem e contou à família o que tinha visto. Hoje em dia, ele tem dificuldade de lembrar as emoções daquela experiência. Cerca de 13 anos depois, em uma madrugada de abril de 2018, José sofreu uma queda dentro da própria casa e fraturou três costelas, o que causou uma hemorragia no tórax, decorrente da perfuração do pulmão. Na época, com 74 anos, ele já havia algum tempo tomava anticoagulantes. Faltavam apenas quatro dias para o casamento da filha. Ela e a esposa de José começaram a peregrinar nos hospitais para que ele fosse atendido, mas não conseguiam. Em cada lugar era uma causa diferente: ou não tinha leito, ou não tinha médico. Finalmente após algumas horas, ele foi atendido no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. Durante as horas em busca de atendimento, o tórax de José foi se enchendo de 8 > primeira impressão
sangue, pois as costelas haviam causados ferimentos internos. Os médicos começaram a prestar atendimento ao paciente, deram anestesia local para colocar um dreno de tórax, mas José teve uma parada cardíaca repentina e é desse momento que ele se lembra da sua própria cirurgia. “Eu estava parado ao lado do médico e estava olhando para dentro do meu próprio corpo”, relembra. A sensação, segundo ele, era de estar em meio a uma ventania, flutuando sob o próprio corpo. “Lembro que logo em seguida, passei em um lugar onde eu ouvia muitas vozes, cada uma falava uma língua, algumas até cantavam e choravam. Depois só me lembro de acordar no outro dia”. José conta que durante a experiência sentiu uma felicidade inexplicável e que encontrou com o Caboclo Pena Branca, entidade do espiritismo.
O que acontece com o corpo? Atualmente, não existem dados que possam quantificar os números de casos de quase-morte. Segundo o médico Saulo Nardy Nader, membro da Associação Brasileira de Neurologia (ABN) e neurologista do Hospital Albert Einstein de São Paulo, a EQM é reconhecida pela medicina e é presenciada, geralmente, por médicos intensivistas e emergencistas, afinal, as ocorrências são mais comuns nos pacientes graves. “Os pacientes normalmente relatam várias sensações como sentimento de paz e amor muito intensos, de estar indo em direção a um túnel muito iluminado ou uma luz brilhante muito acolhedora, já outros afirmam encontrar um ser de luz, de rever momentos da vida e, principalmente, de estar assistindo à própria reanimação”, explica Saulo. Ainda segundo o médico, alguns estudos relatam que os pacientes que passam por essa experiência têm uma mudança comportamental e psicológica, passando a ter ‘menos’ medo da morte, se tornaram mais altruístas, empáticas e menos materialistas. Normalmente, pacientes que ficam um tempo sem oxigênio no cérebro apresentam algum tipo de sequela grave, conhecida como “encefalopatia pós-hipóxia cerebral”. No caso de pessoas que passaram por uma EQM, a maioria dos pacientes
não apresenta sequelas e se recuperam bem após o acontecimento. O médico explica que a impressão que se tem, é que nesse grupo de pessoas que passam por experiências como essa, elas não ficam com nenhuma sequela. Do ponto de vista médico, a experiência de quase-morte é explicada como uma alucinação ou uma ilusão. “A alucinação se dá quando a pessoa cria algo e a ilusão, quando se distorce uma determinada situação. Por exemplo, eu veria o holofote da UTI e imaginaria que isso é um túnel me puxando, ou seja, eu distorço essa imagem; ou então eu vejo um ser iluminado que, na verdade, não existe, portanto, eu estou criando isso, tendo uma alucinação”, exemplifica Saulo. As causas para esses momentos podem ser explicadas pela hipóxia, que é a falta de oxigênio no cérebro durante a parada do paciente ou por tempestades elétricas cerebrais em especial na comunicação temporoparietal do cérebro. Isso significa que o paciente tem uma espécie de crise epilética. “Entretanto, muito controversos, não há uma comprovação científica desses mecanismos, é só uma tentativa de explicação neurofisiológica para tentar entender o que acontece. A verdade é que a medicina ainda não tem explicação para a experiência de quase-morte”, pondera o médico. Saulo conta que dois estudos, realizados em 2013 e 2014, mostram que do ponto de vista eletrofisiológico, quando a pessoa recuperava as memórias da experiência de quase-morte, era o mesmo funcionamento cerebral de quando relembrava memórias reais de situações que realmente aconteceram. Ou seja, isso gera uma dúvida de será que a EQM foi real mesmo ou não? Apesar disso, quando se tem alucinações ou ilusões, a atividade do cérebro, de acordo com o médico, muda completamente. Os casos de experiência de quase-morte são, na verdade, relatos anedóticos, ou seja, algo de que se ouve falar. Como a ocorrência das EQMs são raras no mundo inteiro, o médico explica que é muito difícil conseguir reunir todos os pacientes para realizar um estudo e que, por esse motivo, não existem dados específicos sobre as ocorrências. n
IMPRESSÕES DE REPÓRTER “A mente humana sempre foi algo que me despertou curiosidade. Desde criança, sou apaixonada por televisão e me lembro muito bem de uma cena na novela “América” (2005), na qual o personagem Tião, interpretado por Murilo Benício, passou pela experiência de quase-morte (EQM). Naturalmente, acredito que seja uma das poucas novelas que abordou a temática, ainda que tenha sido superficial. Me lembro de pensar como aquela situação seria possível e como poderia ser explicada. Quando escolhemos o tema da edição, eu sabia que poderia tentar explorar esse, que sempre me interessou. Na verdade, no início foi complicado encontrar quem tivesse passado pela experiência. Após encontrar dois casos, o desafio foi buscar por um médico que explicasse o fenômeno. Entrei em contato com algumas faculdades de Medicina, mas sem sucesso. Então, finalmente, a Associação Brasileira de Neurologia me ajudou e entrei em contato com Saulo Nader, conhecido no Instagram por @doutortontura. Foi, com certeza, uma experiência única e enriquecedora escrever sobre a EQM.” primeira impressão > 9
mistérios da mente > da dor à vida nova
“S
aio de uma cama limpa, maravilhosa e cheirosa. Tomo banho em um banheiro com o chuveiro fumegante, tenho toalhas e uma gaveta cheia de roupas limpas e prontas para me aquecer. Ao descer as escadas tenho uma cozinha com os remédios que preciso e comida à vontade. Se estivesse em tempos normais pegaria o carro e iria para a esquerda ou para a direita, para o caminho que quisesse e ninguém iria me bater por isso. Recebo carinho, abraços e amor. Eu sou um homem livre e essa é a melhor coisa do mundo”. O paulista Andor Stern, de 92 anos, carrega em sua vida e sua pele marcas dolorosas de um dos maiores horrores cometidos pelo homem: o genocídio de seis milhões de judeus pelo regime nazista. Filho de pais húngaros, seu nascimento foi no Brasil em razão do emprego do seu pai. Porém, após a transferência dele para a Índia, a família regressou à Hungria em 1934, quando Adolf Hitler já estava no poder na Alemanha. Na época, existia uma lei na Hungria que dava aos pais húngaros o direito de registrar o filho com uma nacionalidade diferente dos genitores. Porém, aos 18 anos, o jovem precisava decidir se mantinha no seu registro o seu lugar de nascimento ou se resolvia se tornar húngaro. “Minha mãe, Júlia, queria que eu fosse brasileiro, porque queria que eu voltasse a esse lugar maravilhoso e não fosse estrangeiro”, conta Andor. Porém, quando o Brasil declarou guerra em 1942, o destino de Andor começou a mudar. “Por ser brasileiro fui preso, mas logo consegui fugir e ir ao encontro da minha família, que me escondeu. Mas em 1944, os alemães deixaram de acreditar na fidelidade da Hungria e tomaram o país, que até então era aliado do governo nazista. Logo os judeus foram mandados para guetos e mais tarde para os campos”, detalha.
na qual recebemos pão e água. Pessoas morreram e enlouqueceram nesse trajeto”, conta. Andor lembra de suas primeiras impressões ao chegar na Polônia: se sentia atônito. “Eu fiquei como um cachorrinho que era muito bem cuidado e amado e um dia foi perdido por seu dono. Depois desse dia eu nunca mais vi minha mãe. Não tem um dia que eu não lembre do rostinho dela. A impressão que tenho é que uma perda dessa causa uma desordem, algo do qual você não se recupera. Minha mulher diz que eu nunca saí de lá (Auschwitz), que um pedaço meu ainda vive lá”, relata emocionado.
Campos de Concentração A força e jovialidade de Andor, que tinha 15 anos, o fez passar pela seleção de vida comanda por Josef Mengele, o mais cruel dos médicos do regime nazista. E ao lado do seu amigo de infância, Luis Berge, foi enviado para trabalhar em uma fábrica de gasolina artificial em Auschwitz. Depois os dois jovens foram mandados a Varsóvia, onde tinham como trabalho recolher e limpar tijolos que seriam encaminhados a Alemanha, que sofria com os bombardeios. Para sobreviver, Andor precisou criar mecanis-
Superação e recomeço
Despedidas prematuras e dolorosas “É inacreditável eu ter nascido em um país maravilhoso como o Brasil e ter parado naquele inferno”, relata o único sobrevivente brasileiro do Holocausto. Com uma memória privilegiada, Andor lembra com detalhes da viagem que o separou para sempre de sua mãe e de mais de 80 membros de sua família. “Foram cinco ou seis dias até chegar a Auschwitz-Birkenau, com umas 100 pessoas dentro de um vagão, com apenas uma parada, 10 > primeira impressão
Como a mente humana cria mecanismos para sobreviver ao maior dos horrores? REPORTAGEM JULIANE KERSCHNER CURADORIA FOTOGRÁFICA GUILHERME PECH
Andor Stern observa o memorial em homenagem às vítimas do holocausto, localizado em Auschwitz-Birkenau
Andor olhando túmulos: Gabriel Davi Pierin / Demais imagens: Karine Viana > primeira impressão > 11
mistérios da mente > da dor à vida nova mos que o mantivessem de pé. “Para não sofrer por minha família, toda vez que pensava neles imaginava que meu estômago era machucado, assim evitava viver essa dor. E o único pensamento que eu tinha era sobre comida. Eu imaginava que montava um sanduíche com queijos e salames e comia ‘virtualmente’. As pessoas deixam de ser humanos. O penico que você usa à noite de dia serve como vasilha para a água suja com uma batata que serviam”, relata. Depois ele e Luis foram enviados a um campo em Dachau, na Alemanha. “Quando o cerco começou a fechar, em 24 de abril 1945, fomos colocados em um vagão e abandonados, sem comida e água, para morrer em Seeshaupt, na Alemanha. No dia 1º de maio, fomos libertados pelos americanos. Quando os soldados abriram o vagão choraram que nem criança e eu não sabia se estava vivo ou morto e no céu. Das 80 pessoas que foram colocadas ali, umas 20 sobreviveram. Eu pesava 28 quilos, tinha furúnculos, coceira, sarna e muita sujeira. Minhas unhas estavam apodrecidas. Quarenta e poucos dias depois já pesava 53 quilos”, detalha Andor. Um tempo após a libertação, Stern retornou a Hungria, junto de seu amigo Luis. “Eu só sobrevivi por causa dele e ele por minha causa, fomos amigos até o fim de sua vida. Ao chegar na Hungria encontrei minha tia, que me mimava muito, me dava tudo e eu queria fazer por mim, além disso, tinha saudade do desconhecido, do Brasil. Esse país que minha mãe amava tanto. Então, em 1948 vim ao Brasil”, conta Andor.
Recomeço Psiquiatra formado pela Fundação Mário Martins (FUMM), doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPPA), Nelson Asnis tem trabalhado e estudado ao longo dos anos a temática do sofrimento em condições extremas. Para isso, ao longo dos últimos 10 anos ele viajou a lugares como a Polônia (Auschwitz), Hiroshima, Vietnã, Camboja e Ruanda. 12 > primeira impressão >
Gabriel Davi Pierin
Placa em homenagem aos prisioneiros libertados em Seeshaupt, na região da Baviera, Alemanha: há 75 anos, esse foi o lugar da libertação de Andor
“Observei que os sobreviventes do holocausto e seus descendentes ficam traumaticamente afetados, e não teria como ser diferente. Kertész, em seu livro “Por uma criança não nascida” entende que “de Auschwitz não se é curado, da doença Auschwitz ninguém se recupera””, conta Dr. Asnis, referindo-se ao escritor húngaro e sobrevivente de Auschwitz, Imre Kertész. Segundo o psicanalista, estudos recentes mostraram que alterações genéticas decorrentes do trauma sofrido pelos sobreviventes do holocausto podem ser passadas para os filhos, via herança epigenética. De acordo
com as pesquisas, os genes poderiam ter sido modificados pela experiência traumática e passados aos filhos que, como os sobreviventes, apresentam percentuais mais elevados de depressão e transtornos de ansiedade que a população em geral. “Aprendi e observei conversando com sobreviventes e seus descendentes e através de estudos acerca desta temática que a cicatriz psicológica decorrente do pesado trauma, ainda que inevitavelmente presente, de forma alguma significa, como muito bem demonstra o estimado senhor Andor, que não se possa, apesar do trauma, construir uma vida rica em vínculos e realizações”, relata. Asnis acredita aqueles que prosseguiram necessitaram contar sua tragédia, dividi-la com outras pessoas. “Primo Levi nos fala, em seu livro “É isso um homem?”, sobre esta necessidade de contar ‘aos outros’. Segundo Levi, o livro foi escrito
e a partir daí surgiu o livro que narra minha história. Desde então, venho palestrando e faço disso uma missão”, conta Andor.
Uma Estrela na Escuridão O escritor e historiador Gabriel Davi Pierin, de 45 anos, responsável pela biografia de Andor Stern, intitulada “Uma Estrela na Escuridão”, lançado em 2015, conta como foi o processo de reviver as memórias e como isso ajudou o sobrevivente a superar dores do passado. Para escrever o livro, Gabriel sentiu a necessidade de percorrer junto com Andor o mesmo trajeto que ele havia feito durante o holocausto. A viagem ocorreu em 2014 e proporcionou a Stern a missão de reviver sua trajetória. “Falar o ajuda a superar e o faz se sentir útil e amado. Ele nunca se diz um herói e muito menos aponta uma qualidade para ter sobrevivido, afinal ali não existia esperança, pois não existia amanhã. Mas o que com certeza o ajudou a recomeçar foi a sensibilidade e os ensinamentos que recebeu e sua mãe”, diz Gabriel. n
IMPRESSÕES DE REPÓRTER
para satisfazer a necessidade de liberação interior”, analisa.
“A vida foi muito generosa comigo” No Brasil, Andor Stern refez sua vida, casou-se, teve cinco filhos, além de netos e bisnetos, fundou em família uma empresa de sucesso que faliu no período do governo Collor. “Eu digo que a balança da minha vida está equilibrada. Tive grandes alegrias e grandes tristezas e não vivi preso ao que aconteceu. Segui minha vida e a valorizei. Minha mãe sempre dizia que eu devia ser grato por fazer
parte do mundo e que devia amar todas as vidas, as humanas, a de animais e a de plantas. Eu sou um apaixonado pela vida, não tem nada mais sensacional que viver. A vida foi muito generosa comigo”, diz. Em 2008, já trabalhando como consultor em uma grande empresa de plásticos, Andor passou por um início de um acidente vascular cerebral (AVC). Por ser muito querido, seu chefe determinou ao setor de Recursos Humanos que desse uma atenção especial a Stern, e foi aí que mais uma vez sua vida foi modificada. “Eu não contava minha história, achava que ninguém sabia. Mas a funcionária do RH que fez tanto por mim, muito mais do que precisava, soube e quando eu quis agradecer pela ajuda ela me pediu um favor. Que eu palestrasse na escola em que seus três filhos estudavam. Foi nessa palestra que conheci Gabriel, historiador que virou meu biógrafo
“Escrever sobre as dores e perdas de alguém é um processo desafiador. Requer muita sensibilidade, cuidado e que uma relação de respeito e confiança seja construída com o entrevistado. Relatos sobre o Holocausto sempre mexeram comigo e é um tema constante nas minhas leituras, então eu sabia que escrever sobre o Andor seria transformador. Mas foi muito mais do que eu imaginei. Entrevistar o Andor me exigiu uma preparação intensa e um contato prévio para criar vínculo, todo esse processo me ensinou muito como profissional, mas o aprendizado pessoal foi ainda mais intenso. O amor e gratidão que ele tem pela vida, mesmo com um passado tão doloroso, me ensinou a lidar de uma forma muito mais serena e resiliente com obstáculos que surgem no caminho. Escrever sobre o Andor é minha contribuição para que a história não se esqueça e nem seja apagada pelos negacionistas. É minha forma de honrar aqueles que se foram e viveram os horrores impostos pelo nazismo. Escrever sobre o Andor foi uma honra.” Karine Viana > primeira impressão > 13
mistérios da mente > ansiedade e depressão 2020 trouxe o novo coronavírus e com ele a quarentena. Poucos se deram conta da bomba-relógio prestes a explodir
Um mal pouco falado em meio à pandemia
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O
ano de 2020 entrará para a história por fazer o mundo parar. O surto do novo coronavírus trouxe inúmeros problemas além do próprio risco à saúde da população ainda sem anticorpos para enfrentar a atual doença. Grande parte da mídia ainda traz o foco dos casos e mortes relacionados diretamente ao vírus, mas o grande aumento de pessoas com ansiedade e depressão preocupa.
Não houve melhor tema para abordar do que esse devido à minha experiência. Desde 2013, realizo tratamento no combate das crises de ansiedade e estados depressivos. Nesse meio, conheço inúmeras pessoas portadoras do problema muito antes de toda essa crise global dar início.
REPORTAGEM VINÍCIUS EMMANUELLI FOTOS GUILHERME PECH
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mistérios da mente > ansiedade e depressão Há alguns anos, a depressão é chamada de “doença do século XXI”. Por quê? De fato, ela sempre existiu, mas ganhou esse título faz alguns anos, quando números trouxeram um levantamento mais detalhado dos casos pelo mundo. Pouco tempo atrás, a depressão era chamada “melancolia” apenas. Era normal haver retenção emocional perante a sociedade da época. Duvida? Basta observar fotos antigas e notar que quase ninguém está com semblante feliz. Temos uma cultura moderna que faz mal a nossa saúde mental, pois estamos cercados pela cultura do eu e aparência. A ditadura da felicidade é a nova maquiagem da depressão. O sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman afirma que a modernidade tem como características a superficialidade, a fluidez e a transformação. Bauman cunhou o termo “modernidade líquida” ao falar das interações humanas nos dias atuais, que diz respeito
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a um mundo sem forma e sem certeza. Questões levianas foram sobrepostas às essenciais, levando o adoecimento mental. Juntando então esta linhagem torta da sociedade e o isolamento social que afetou a todos, casos de depressão e ansiedade se agravaram e não param de aumentar ao redor do planeta. Segundo a Universidade do Rio de Janeiro, os casos de depressão aumentaram em 50% e os de ansiedade, 80%. Entre os dias 20 de março e 20 de abril, 1.460 pessoas responderam uma pesquisa com 200 perguntas, e o resultado foi preocupante. Nas duas coletas nesse mesmo período, houve um aumento de 4,2% para 8% nos casos de depressão; ansiedade saiu de 8,7% para 14,9%. O professor Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), relata que pessoas que não convivem com crianças e moram com idosos estão mais
suscetíveis a doenças psíquicas no período da quarentena, além de doenças preexistentes e sedentarismo. É exatamente o meu caso, além de morar com pessoas idosas, há sete anos convivo com a ansiedade. A pesquisa ainda mostra que mulheres estão mais propensas a manifestarem os distúrbios. Realmente, os brasileiros estavam mais expostos à depressão e à ansiedade. Basta vermos outro levantamento feito pela Vittude (plataforma que funciona como uma clínica para atender pacientes com algum transtorno mental) em 2019, em que 37% das pessoas relataram estresse severo, 59% em estado grave de depressão e ansiedade aguda em incríveis 63%. Ao total, o levantamento apurou que 86% dos brasileiros sofrem de algum transtorno mental. Entre vários conhecidos meus que enfrentam a ansiedade e a depressão, vejo muitos praticando algo perigosíssimo: a automedicação. Os remédios psiquiátricos são, como os outros, drogas que podem trazer sérios problemas quando não há acompanhamento médico. Em tempos de pandemia e quarentena, a principal reclamação é a dificuldade em achar vagas no SUS, o que já era difícil antes mesmo da crise sanitária da COVID-19. Um amigo que não quis se identificar (e a quem o chamaremos aqui pelo codinome “André”), relata o drama em conseguir um acompanhamento com psicólogos. Segundo ele, muitos postos de saúde
alegam que apenas casos de urgência estão sendo agendados para não causar aglomerações nas unidades de saúde e preservar a segurança dos trabalhadores da área. Para piorar, a mudança repentina dos profissionais causa incômodo aos pacientes que já se acostumavam com o atendimento. Imagina você, com problemas pessoais, o que já é bem ruim em se abrir com um “estranho”, ter que conviver com trocas do dia para a noite após se familiarizar com o psicólogo ou psiquiatra? André toma dois tipos de medicamentos, um deles é em casos de emergência, ou seja, quando há crises agudas de ansiedade ou ataque do pânico. Não só ele, mas outras pessoas falam das dificuldades em comprar os remédios pelas condições financeiras e burocracia em conseguir gratuitamente. Muitas vezes, no meio de tanta dificuldade, há o abandono do tratamento. O perigo mora aí, quando
o tratamento não é levado a sério. Eu mesmo já interrompi a medicação quando apresentei um quadro de melhora da ansiedade. Entretanto, não passa de ilusão, pois os remédios servem para o longo prazo. Apenas o psiquiatra pode alterar a dosagem ou interromper alguma medicação. Não é brincadeira! Nossa saúde mental corre graves perigos quando brincamos de ser médico. Adriana Lima, outra amiga que resolveu conversar comigo, fala que as crises de ansiedade vêm do nada. Não existia uma razão, pelo menos concreta, para a vinda dos sintomas. “Muita gente confunde a ansiedade do dia a dia, como antes de uma prova, nervosismo corriqueiro, com a ansiedade ‘crônica’, quando não tem motivos e é muito forte a sensação. Parece que a morte vem a qualquer momento. Depois da primeira crise, o medo de uma segunda, terceira, só aumenta e acabo sofrendo por antecedência”, relata Adriana. Ela faz agora tratamento certinho e os sintomas desapareceram. O maior desafio da grande parte das pessoas que procuram ajuda é a aceitação que aquilo que ela sente não passa do estado emocional. Já perdi as contas de quantas vezes procurei um hospital quando passava mal. Sentia arritmia cardíaca, tontura, vômitos e até dormência em um dos lados do rosto, o que poderia indicar um princípio de acidente vascular cerebral (AVC), além de ataque cardíaco. Fazia toda a bateria de exames que se possa imaginar para TODAS as vezes o médico falar: “está tudo normal, e isso é coisa da tua cabeça. Procure ajuda com um psicólogo”. Isso me deixava muito frustrado, já que não aceitava que isso era “fruto da imaginação”. Comecei a entender todo o processo e vi que realmente eu sofria de alguns distúrbios psicológicos. Nesses quase dez anos, conversando com tanta gente, a maioria esmagadora teve o mesmo percurso que eu em não aceitação no início. Os problemas relatados pelos pacientes são confirmados, anonimamente, por profissionais da psicanálise. O psicólogo José Horácio, do Rio de Janeiro, afirma que recebe inúmeras reclamações das dificuldades em que as pessoas encontram para conseguir e seguir o tratamento na rede pública de saúde. “Há vários fatores em contribuem para dificultar o diagnóstico precoce e o acompanhamento correto. Para início de conversa, a aceitação do paciente em saber que não é apenas uma frescura e que consequências graves podem surgir ao longo do tempo se nada for feito. O tabu ainda é forte nos dias de hoje, porque alguns pensam que isso [ajuda psiquiátrica] é coisa de louco. Não é bem assim! É um tratamento como outro normal e que tudo dará certo se for feito de acordo com o profissional. O primeiro passo é saber que medicação não faz milagre, apenas contribui na melhora. A própria pessoa tem que ter força de vontade em sair do estado onde se encontra, e a prática de exercícios físicos é uma peça importante no tratamento”, afirma Horácio. Eu sou a prova viva de que a ansiedade e a depressão têm controle. A maior arma vem de nós mesmos em deter o “inimigo”, fazendo nossa parte. O que me ajudou muito foi a fé. De família Católica, estive firme e confiante que o mal ia ceder. Levo uma frase comigo: “os momentos bons nunca duram
para sempre; nem os ruins”. Tu que estás lendo até aqui, acredite em ti, não deixe que opinião de terceiros te abalem e siga no caminho certo. Nunca estaremos sozinhos e para tudo há uma solução, por mais difícil que seja a caminhada. Jamais Deus colocaria uma batalha que não pudéssemos vencer. Agradeça pelas dificuldades também, são elas que nos tornam pessoas mais fortes. Seja grato e comece a olhar o lado bom daquilo que pareça não ter, porque são nas pequenas atitudes do dia a dia que se faz toda a diferença durante toda uma vida. n
IMPRESSÕES DE REPÓRTER “Estou na reta final para terminar o curso de Jornalismo, e não via a hora de realizar a disciplina de Jornalismo Literário. Confesso que iniciei o curso em 2016 ‘engessado’ no lead. Seria uma das primeiras oportunidades em desenvolver um texto bem produzido e ‘humano’. A mágica de uma reportagem é transformar o fato noticioso em uma história com que milhares ou até mesmo milhões de pessoas se identificam. Para minha surpresa (de forma positiva), o tema proposto em votação pela turma era ‘Mistérios da Mente’, além do ‘Por quê?’, já que fizemos uns três turnos e não desempatava. Caiu como uma luva, já que sei o que é mergulhar nos mistérios da nossa mente. Desde a infância sofro de ansiedade e crises de pânico, aparentemente sem motivo. Está sendo uma oportunidade de falar com propriedade, pois há quase dez anos faço tratamento e acompanhamento e conheço muitas pessoas e venho fazendo amizade no meio. Meus professores permitiram escrever todo o texto em primeira pessoa, dando um toque final na linguagem humana do jornalismo literário. Desde a primeira letra que digitei no texto, busquei ser sincero, realista e ajudar a todos que sofrem de algum mal relacionado à mente. A pandemia do novo coronavírus foi um golpe para aqueles que já tinham problemas de ansiedade e depressão, como eu. Muitas outras pessoas desenvolveram algum distúrbio em meio à quarentena. Os números assustaram ao mostrar a quantidade de pessoas que buscaram socorro ao psicólogo ou psiquiatra nos últimos meses, não só aqui no Brasil bem como no mundo todo. Façam uma ótima e atenta leitura, e saibam que existe muitos que buscam ver você bem por meio de estudos, acompanhamento profissional e gente como eu abrindo minha vida pessoal para ajudar quem mais precisa.” primeira impressão > 17
mistĂŠrios da mente > efeito emocional
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Os sonhos e os planos ficam para 2021 Como os atletas de alto rendimento reagem ao adiamento das Olimpíadas, causado pela pandemia REPORTAGEM GIULIANO REIS FOTOS LUCIANO PACHECO
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lanos e sonhos, muitos deles em execução, foram adiados pela pandemia. Muitos atletas que estavam em fase final de treinamento e classificação aos Jogos Olímpicos de Tóquio foram afetados. Quais os efeitos dessa abrupta paralisação, com a remarcação da disputa para o próximo ano, sobre quem faz do esporte o seu modo de vida? Com a palavra, atletas, especialistas e autoridades.
A Psicologia do Esporte adapta-se ao novo normal O psicólogo Márcio Geller, que também é professor de Educação Física, membro do Grupo de Pesquisa de Estudos Olímpicos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e doutor em Esporte e Rendimento pela Universidade de Cádiz, na Espanha, que lida com o emocional de atletas de alto rendimento, aponta os principais desafios enfrentados por eles e qual é o suporte dado: — Tão importante quanto a recuperação da questão física e técnica, a parte emocional foi desafiadora. Tínhamos que adaptá-los a uma nova rotina, igualmente regrada como a antiga, de treinos, descanso e alimentação, mas que agora tinha tempo livre e muitas incertezas com o adiamen-
to dos Jogos Olímpicos. Por isso, há um cuidado especial com a perda de confiança que os dias parados possam trazer aos atletas, assim evitando uma volta estressante que prejudique os treinos físicos e técnicos: — Colocamos horário para todas as atividades, em especial as físicas e técnicas, mas também as de lazer, que se fizeram mais necessárias do que nunca, para que a parte mental não atrapalhasse sua concentração e foco, prejudicando seu desempenho. Então, até a hora de olhar aquela série no streaming estava bem definida. Geller acredita que quem sair melhor psicologicamente dessa pandemia terá vantagem em relação a seus adversários. — É como diz aquele ditado: do limão fazer uma limonada, não convencendo eles de que isso que vivemos é bom, mas de que mesmo nessa dificuldade eles podem colher frutos positivos.
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mistérios da mente > efeito emocional
O formador de campeões refaz os planos de seus atletas O judô é o esporte que mais trouxe medalhas para o Brasil na história dos Jogos Olímpicos: são 23 ao total, sendo quatro dessas fruto do trabalho realizado pela Sociedade Ginástica Porto Alegre (Sogipa), tradicional clube social que é detentora de cinco dos sete títulos mundiais de judocas brasileiros. Antônio Carlos de Oliveira Pereira, o Kiko, é o técnico que formou desde crianças, entre outros nomes, João Derly e Mayra Aguiar (ambos os únicos brasileiros bicampeões mundiais da modalidade). Kiko explica como foi refeito o planejamento, visando à nova data dos Jogos, e como a cabeça dos atletas funciona e está mais preparada do que a de pessoas “normais” para esses momentos. Mas faz uma ressalva: essa deve ser a Olimpíada mais complicada para a modalidade em muitos anos. — Vão ser os Jogos Olímpicos mais difíceis para o nosso judô, porque o Japão, berço desse esporte, está se preparando muito para vencer o maior número de medalhas e o fator local pesa bastante. Além disso, houve um crescimento grande do nível de judocas de outros países, a competitividade está em seu nível mais elevado – avalia o treinador, que deve ter de cinco a sete dos seus atletas convocados para os Jogos Olímpicos. — É claro que a paralisação e as dúvidas prejudicam um pouco – continua, ao abordar o lado emocional dos atletas – mas considero que eles estão acostumados a lidar com pressão e incertezas. É um fator decorrente, que sempre está acontecendo
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com quem compete no mais alto nível e isso faz com que o poder de transformação e adaptação deles a situações adversas seja muito alto.
Como lidar com a quarentena, na visão da maior judoca brasileira O Rio Grande do Sul medalhou individualmente em 2016, com o bronze conquistado por Mayra Aguiar. Foi a segunda medalha da judoca em Jogos Olímpicos, tornando-se a primeira bimedalhista do esporte brasileiro em modalidades individuais. Ela, que também é bicampeã mundial e maior medalhista em mundiais de judô no Brasil (com seis medalhas), é uma das maiores esperanças do Brasil em Tóquio 2021. Ela conta como foram os dias de incerteza, parada de treinamento e a divulgação do adiamento da competição: — No começo foi difícil, não somente pelo adiamento, mas também pela restrição aos treinos. A gente estava na reta final de preparação, com a mente focada naquilo e, de repente, de uma hora para a outra, nem treinar direito era possível. Demorou um tempo para a gente digerir isso tudo. A campeã avalia a diferença entre parar por lesão e a pandemia: — O corpo de um atleta é uma máquina. Quando não pode treinar por qualquer motivo, é péssimo. É como se fosse um leão enjaulado. Não era para estar assim. Em qualquer dos casos é muito difícil...
O adiamento da disputa por uma vaga Ketleyn Quadros, de 33 anos, foi primeira atleta brasileira a conquistar uma medalha individual em Jogos Olímpicos, em Pequim 2008, quando voltou com o bronze na bagagem e um feito inédito que, desde então, virou rotina para o judô feminino no Brasil. Há dois anos ela treina na Sogipa e tem como colega de treinamento Alexia Castilhos, oito anos mais nova, da mesma categoria. Elas disputam a mesma vaga, no mesmo peso (-57 quilos), para os Jogos de Tóquio. Ketleyn explica como se motiva para seguir em alto nível e porque a brasiliense decidiu adotar Porto Alegre como local de treinamento: — O segredo é sempre ter um objetivo e continuar a persegui-lo. Conquistei a medalha olímpica muito jovem e foi muito bom. Tenho muito orgulho. Agora, quero repetir o feito. Por isso,
inclusive, resolvi vir para Porto Alegre. Para trocar de ares, ganhar motivação e novo ambiente para trabalhar. Está sendo excelente. Já Alexia, que vive a expectativa de disputar a sua primeira Olimpíada, conta como acontece um ciclo olímpico: — São quatro anos pensando nesse momento. Tem outras coisas que acontecem durante esse tempo e outros objetivos que são buscados, mas as Olimpíadas são o ápice. Eu estava me sentindo bem, competindo bem. Tinha boas chances de ir para Tóquio e ainda tenho. Só que foi tudo adiado. A situação se embaralhou um pouco. Sobre a volta ao nível físico e técnico anterior à parada, ela disse que ainda existe um longo caminho a percorrer: — Ainda tem muito caminho pela frente. Todo o contexto dos treinos e das competições é diferente, inclusive por causa dos protocolos que devem ser seguidos. A vida não é a mesma ainda – explica. E sobre a disputa interna pelo sonho de estar no Japão, no ano que vem, ambas concordam que é uma competição saudável: — É normal. A gente treina junto e mantém uma competição sadia. Provavelmente, uma de nós vá para os Jogos na nossa categoria e isso será importante para toda a equipe. As duas querem ir e estão trabalhando bastante – diz Ketleyn. — Cada uma faz a sua parte, o seu melhor. A decisão, no final, não é nossa. O resultado de cada uma é o que conta mais. Então, é importante ter calma e seguir trabalhando – completa Alexia.
Doutor na área de esporte e secretário do Esporte e Lazer Atualmente secretário estadual do Esporte e Lazer, professor de Educação Física com douto-
rado em Filosofia e Ciências da Educação pela Universidade de Barcelona, Francisco Xavier de Vargas Neto considera-se um militante e estudioso do esporte, ao qual ele considera um grande fenômeno social. Ele é categórico sobre a importância da prática de atividade física, do esporte como vetor para saúde mental e física de todo cidadão e de como a paralisação pode ter afetado os atletas: — Eu vejo o esporte como fundamental, não existindo uma separação, ambas são uma coisa única. Porque através da atividade física o nosso corpo produz hormônios fundamentais para ter ambas. Cada dia mais comprova-se isso sendo a atividade física importante em qualquer idade, em especial na terceira idade. Vargas pôde viver os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, por estar cursando lá seu doutorado e por ter feito parte do controle de dopagem da competição. Para ele, o adiamento afetou os atletas: — Afeta e afeta muito. E a todos igualmente. Porque no treinamento existem os ciclos e eles estavam próximo do seu ápice e agora precisam readequar – explica, lembrando que a Psicologia Esportiva tem origem no século passado, oriunda da escola russa: — Os resultados extraordinários conquistados por eles tinham a ver, também, com essa vantagem, hoje conhecida e aplicada no mundo todo. Sem dúvida, quem tiver a melhor saúde psicológica terá vantagem em seu desempenho esportivo, principalmente em uma competição que as valências físicas e técnicas são muito niveladas por cima. n
IMPRESSÕES DE REPÓRTER “Ser repórter está sendo desafiador, em especial para quem focou-se a graduação inteira e carreira profissional na assessoria de imprensa, ou seja, no outro lado do balcão. Mas inegavelmente é prazeroso e desafiador, porque não sabemos o que esperar deles e isso faz com que tenhamos que usar e abusar da criatividade para planejar a reportagem, perguntas e a partir das respostas adaptar o esqueleto que já existe a partir de um planejamento prévio. Nesses tempos estranhos que vivemos, a entrevista presencial perdeu, de vez, espaço. Se antes o telefone já era um meio mais eficiente e barato, com aplicativos de mensagens ganhando terreno, até pela possibilidade de envio e recebimento de áudio ou chamada de vídeo, ele virou uma regra com poucas exceções, ainda mais em pandemia. No caso específico desta reportagem pude contar com algumas excepcionalidades por estar no convívio diário com duas das fontes, mas atletas - pela distância oceânica - e psicólogo do esporte foram pelo aplicativo verdinho de mensagens. O que torna ela menos passível de leitura de trejeitos e reações, mas ainda assim desafiadora para escrita.”
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mistérios da mente > sensibilidade
Muito além do C
A milenar arte da mágica favorece a autoconfiança e auxilia a educação REPORTAGEM MICHELE MENDONÇA CURADORIA FOTOGRÁFICA KETLIN DE SIQUEIRA
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om mais de três mil anos de existência, a arte da mágica é um campo artístico que reúne conhecimentos científicos, psíquicos e performáticos. Além de entusiasmar adeptos e fascinar plateias, a mágica pode ser uma ponte entre arte-educação e afeto. A sensibilidade é o ponto em comum das trajetórias dos mágicos gaúchos Edmilson Carvalho, Lúcia Gomes e Everton Carvalho. “Quando eu dou uma mágica para alguém, é como se eu desse um momento de alegria, embrulhado no que eu tenho de mais talentoso, que é o que eu faço”, revela Lúcia Gomes. Formada em
Arquivo pessoal (Lúcia Gomes)
Pedagogia, com especialização em Psicanálise, encontrou esse fazer-artístico durante um estágio na graduação em uma turma de educação infantil. “Em um dos dias de observação na turma, uma menina caiu e esfolou o joelho e eu disse a ela que tinha o ‘sopro mágico’, que ela não precisava chorar”, conta. Palavras que ela usava na infância das três filhas, Giulia, Isabela e Amanda, hoje adultas. De uma forma aten-
Projeto PedagoMagia incentiva a aprendizagem de crianças
entretenimento ciosa e sagaz, não só acalantou a aluna, enchendo os olhos dela de brilho, mas fez com que entrasse em um universo de encantamento. E a criança a fez despertar para algo que se tornaria sua missão de vida, quando a encarou e disse: “Então tu és mágica”. Lúcia relata que aquele momento inesquecível a fez olhar de outra forma para a educação. Para alinhar os campos de estudo, a artista criou um método chamado PedagoMagia, uma forma das crianças usarem a mágica como ferramenta complementar nos estudos. Ela elaborou um número com cartões, onde a criança que está aprendendo a somar fortalece esse conhecimento.
“Meus alunos chegam em casa e, por exemplo, convidam os pais para pensarem em um número. Daí, com a soma dos cartões conseguem revelar o número que a pessoa está pensando”, explica a educadora. Em um passe de mágica, a criança fica com a autoestima elevada e os participantes impressionados com o feito vindo de seus pequenos. O que chamou sua atenção para entrar no universo da
arte da mágica foi a alegria que essa atividade carrega, fazendo com que ela mesma resgate sua criança interior e construa esses sonhos com outras pessoas também. Para se aprofundar nos estudos, ela realizou cursos na Associação de Mágicos do Rio Grande do Sul (AMAR), na capital gaúcha. Além disso, fez cursos na Argentina e participa de congressos. Ela criou uma versão de um número que se chama
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mistérios da mente > sensibilidade
O jogo dos grandes mágicos
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Clothing Changes, onde faz uma troca rápida de sete vestidos, misturando com a mágica. Ainda faz levitação no show do ilusionista Kronnus. “É um movimento bem difícil para ficar perfeito, e eu estudo e ensaio muito: da hora em que acordo à hora que eu vou dormir eu trabalho com mágica, eu vivo da mágica hoje em todas as atividades que eu faço”, revela Lúcia, que atua tanto em escolas e palcos quanto nos hospitais, fazendo shows beneficentes. E a gratificação da profissão como mágica também é o poder de inspirar as pessoas a pensarem em algo diferente, questionar uma realidade construída e
Everton Carvalho (dirigidas por Ketlin de Siqueira)
criar um universo de magia. Lúcia fala sobre um episódio em que apresentou um número para dois senhores que estavam em uma máquina de hemodiálise, em um hospital em Maringá, no Paraná. Em seguida, eles pediram pra ela voltar, pois gostariam de agradecer por ela ter-lhes dado um assunto com o qual poderiam conversar e desviar um pouco da doença e da incerteza.
Encontrar uma missão Em um evento especial de Natal, Edmilson Carvalho, o Mágico Eddy, fez uma apresentação voluntária para crianças e uma menina de nove anos gostou tanto que lhe deu uma caneca de presente. Ele conta com pesar que a menina acabou falecendo. “O simples fato de ela parar, me olhar e agradecer por eu levar sorriso e alegria por meio da minha arte, me marcou para sempre”, conta, emocionado em relembrar que com um maço de cartas conseguiu marcar a vida de alguém. O porto-alegrense foi fisgado pela arte da mágica durante um período que trabalhava em uma empresa multinacional, localizada em um shopping center, e havia um quiosque que vendia artigos para mágica. Aos poucos foi inserindo a mágica nos treinamentos que conduzia. Logo percebeu benefícios em unir esses dois campos de atuação e que havia aceitação, uma vez que na empresa onde trabalhava o histórico era de treinamentos muito monótonos, sem dinâmica e que não cativavam o público. Com formação técnica em Saúde e Segurança do Trabalho, Eddy tomou importantes decisões para encarar o trabalho como mágico. Atuante nessa área há dez anos, conta que precisou abrir mão de uma carreira de quatro anos, driblando a opinião de algumas pessoas. “Cheguei num momento da minha vida e decidi: quero ser mágico! As pessoas riram de mim, como assim quer viver de mágica?”, lembra, com sinceridade. Encarar as primeiras apresentações e colocar em prática o que estava estudando também fez com que Eddy tivesse questões ligadas à autoconfiança e ao planejamento dos espetáculos. Um dos primeiros números foi executado em uma escola infantil, e mesmo o cachê sendo R$ 100, na época, saiu da apresentação frustrado, pois não sentiu que havia ficado bom o suficiente. Naquele mesmo dia, uma frase entrou em seu ouvido e serve até hoje como grande incentivadora: a contratante olhou para o mágico e disse que percebia que ele fazia aquilo com amor. A montagem do espetáculo é um processo criativo solitário, mas conta com a opinião da esposa para avaliar seus ensaios. Durante as viagens, pega um bloquinho e uma caneta e vai soltando as ideias no papel e, muitas das vezes, uma ideia acontece de maneira acidental e, intuitivamente, em pleno palco. “Já aconteceu de me despertar uma ideia e na hora da apresentação eu resolver mudar de caminho e usar essa ideia”, revela. Quem deseja se aprofundar na arte da mágica encontra possibilidades mais formais, como cursos específicos, participação em conferências ou
IMPRESSÕES DE REPÓRTER “Ao buscar os porquês da minha retomada à graduação, depois de longos anos afastada do curso de Jornalismo, reencontro no ato de contar histórias a bússola mágica que me aponta o poder da escrita, colocar pessoas e suas trajetórias em evidência. Neste momento, em que a entrevista teve que se desenrolar durante a pandemia do Covid-19, tendo os aplicativos de comunicação como principal meio de contato, acredito que foi um grande desafio descobrir outras formas de aprofundar as entrevistas e captar a essência dos enredos. Perguntar e escutar o que Eddy, Lúcia e Everton tinham a me dizer sobre seus caminhos na arte mágica me revelou o quanto é incrível elaborar uma pauta e se deixar surpreender pelos depoimentos, se conectar com outros campos de conhecimento e fazer com que seja possível movimentar essas histórias até outras pessoas.”
também pelo autodidatismo. “Algumas pessoas acham que o mágico pesquisa tudo no YouTube, mas, na verdade, o que está disponível nessa rede de compartilhamento, geralmente, é algo que está liberado para todos”, ele explica e defende que é um campo onde é necessário estudar, pesquisar a história da mágica e de mágicos que deixaram um legado.
A magia de uma boa história O fluxo de imagens que nasce da televisão, cativando e proporcionando imaginários, criatividade e também o primeiro contato com o entretenimento serviu de ponte para Everton Carvalho construir seus primeiros encantamentos como artista. O mago, morador de Alvorada, conta que durante a infância assistia ao programa “X Tudo”, da TVE, que tinha números de mágica. E como base extremamente
Carisma e o humor para encantar plateias
importante para o início de sua trajetória na arte da mágica figuram as experiências em projetos de cinema comunitário, em que teve acesso a diversas oficinas de roteiro, atuação e postura em cena. A sua formação formal nesse campo ocorreu gradualmente. Conheceu a AMAR, onde havia um curso anual para iniciantes, cujo valor não cabia no seu orçamento. Mas surgiu a oportunidade de fazer alguns vídeos e materiais gráficos para a Associação. Como troca pelo trabalho, ele ganhou acesso ao curso de arte mágica. E conforme a mágica ia exigindo mais apuração técnica e performática, ele buscou livros e estudos de dois grandes artistas e teóricos da mágica: Darwin Ortiz, autor de “La Buena Magia”, que mostra um panorama completo sobre a atuação do mágico diante do seu público, e naquele que para ele é o maior gênio vivo da mágica, Juan Tamariz autor de diversos livros mas em especial de “Os Cinco Pontos Mágicos”, um processo teórico completo sobre movimentação, olhar e entonação de voz. Everton é professor de História e atua como mágico há mais de cinco anos. A partir desses dois campos de atuação vem desenvolvendo uma pesquisa que utiliza a Mágica como Processo de Pedagógico de Ensino de História, como uma forma de oferecer mais ferramentas aos professores, podendo ser trabalhada em aula, buscando maior interação na relação aluno-professor e auxiliando na fixação da compreensão dos conteúdos. Com as primeiras apresentações, Everton foi colhendo erros e acertos. “Algo que fui redescobrindo ao longo desse processo é que eu não faço mágica pra mim e sim para o público”, pois concluiu que os números de mágica não tinham que ser bons para ele, mas sim para o público. Sobre o processo criativo Everton declara que tem um componente muito musical. “Eu consigo vislumbrar o ato pronto, com sua atmosfera sendo regida pela música que o antecede e o finaliza, afirma. “Para mim não existe mágica sem uma boa história, e as histórias têm que ser próprias e personificadas. É preciso acreditar para que o público acredite”, completa o mágico. n Arquivo pessoal (Edmilson Carvalho) > primeira impressão > 25
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) Avenida Unisinos, 950 – Cristo Rei, São Leopoldo (RS) – 93022 750 Telefone: (51) 3591 1122 | Site: www.unisinos.br REITOR: Marcelo Fernandes de Aquino VICE-REITOR: Pedro Gilberto Gomes PRÓ-REITOR ACADÊMICO E DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS: Alsones Balestrin PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: Luiz Felipe Jostmeier Vallandro DIRETOR DA UNIDADE DE GRADUAÇÃO: Sérgio Eduardo Mariucci GERENTE DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO: Paula Campagnolo COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO: Micael Behs
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> não se perca
< mistérios da mente 28 > primeira impressão >
> por quê
Cynthia Báez, Diego Hayes, Gabriel Cubilla, Meli Gini, Paula García e Viví Arrieti (La Escuela - Fotografia y Arte) > primeira impressão > 29