EDIÇÃO #6 NOV/2015
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PUBLICAÇÃO EXPERIMENTAL DO CURSO DE JORNALISMO DA UNISINOS PORTO ALEGRE CORA ZORDAN
MARCAS DO ABANDONO
Na cidade que não tem tempo para enxergar o que foi deixado de lado, idosos são largados em abrigos, animais ganham atenção de voluntários e mulheres enfrentam regras de presídio para evitar que filhos e marido não sejam esquecidos Páginas 3, 5, 8 e 9
ARTHUR MARQUES
BRINQUEDOS ANTIGOS, PEÇAS NOVAS Página 11
CAVALOS DE RUA SÃO CUIDADOS POR ONG Página 8
PACIENTES NÃO PODEM VOLTAR PARA CASA Página 8
CONFEITARIA ROCCO SEGUE FECHADA Página 11
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LUPA / UNISINOS / PORTO ALEGRE / NOVEMBRO DE 2015
EDITORIAL
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em ao nosso lado existe uma Porto Alegre que não enxergamos. Ou uma cidade que insistimos em ignorar. É nesse espaço que vivem animais perdidos nas ruas, como Pangaré, um cavalo que, depois de tantos maus tratos, ganhou vida nova. Na metrópole também há lugar para centenas de idosos que não têm notícias da própria família e espaços públicos que se transformaram em ruínas, como é o caso do Estádio Olímpico, que já presenciou mais de 1,7 mil jogos e quase 5 mil gols. Instigados pelo olhar curioso de repórter e pelos detalhes que não enxergamos no dia a dia, os estudantes de Jornalismo da Unisinos Porto Alegre decidiram escolher “o abandono” como tema desta edição. Pelas páginas estão histórias de pessoas, lugares e objetos. Para ampliar a temática e contemplar o lado positivo e negativo de um abandono, trazemos também narrativas sobre quem deixou o tabagismo – mesmo trabalhando em uma empresa de cigarros – e quem encontrou na religião uma motivação para negar o mundo do crime. Há também a história do homem que dá vida nova a brinquedos esquecidos por longos anos e a emocionante experiência das mulheres que renunciam o abandono e visitam filhos e maridos na prisão. Com certeza, esta edição é a oportunidade de darmos chance a um novo olhar. Então, aceite o convite e não abandone a leitura do nosso Lupa! ANELISE ZANONI Professora-editora
EXPEDIENTE Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Av. Luiz Manoel Gonzaga, 744, Bairro Três Figueiras - Porto Alegre/ RS. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@unisinos.br. Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: José Ivo Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente de Bacharelados: Vinícius Souza. Coordenadora do Curso de Jornalismo: Thaís Furtado. REDAÇÃO – O Lupa é um jornal produzido por alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos Porto Alegre. TEXTOS: produção dos alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso I e Jornalismo Impresso II. Orientação: Anelise Zanoni e Everton Cardoso. FOTOS: produção dos alunos da disciplina de Fotojornalismo. Orientação: Flávio Dutra. ARTE – Projeto gráfico: produção dos alunos da disciplina de Planejamento Gráfico. Orientação: Vanessa Cardoso. Criação: Cintia Silveira Fernandes e Leonardo Machado Stürmer. Diagramação: produção da Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Adaptação do projeto gráfico, arte finalização e diagramação: Marcelo Garcia. Diagramação: Gabriele Menezes. Impressão: Grupo RBS. Tiragem: 1.000 exemplares.
“POR ELES, RENEGUEI O VÍCIO”
Tanto a família quanto desconhecidos ajudam os fumantes a diminuir a dependência TEXTO: LUCAS PROENÇA FOTO: ALESSANDRO SASSO
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m vício nunca é algo positivo. Tudo, por melhor que possa parecer, não pode vir acompanhando do excesso. Porém, estudos internacionais conduzidos pelo Instituto Nacional do Câncer dão conta de que o brasileiro consome em média 17 cigarros ao dia, em pesquisa realizada, em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. As principais razões para um fumante abandonar a dependência são a preocupação com a saúde, o nocivo efeito da fumaça aos não-fumantes, as advertências sanitárias encontradas nos maços e o exemplo que dão aos filhos. Esta última foi o caso de Valmir Dadda, 64 anos, pai de Mariana, Daniel e Eduardo. Ele abandonou o hábito de mais de 30 anos para não influenciar os filhos a entrarem no mundo do cigarro. “Eu comecei a fumar roubando cigarro do meu pai, que fumava muito. Logo que eu e minha mulher, que também fumava a época, tivemos o primeiro filho tentamos diminuir o consumo, mas foi depois de um churrasco, em que um amigo brincou comigo: ‘Dadda, por que tu estás fumando escondido dessas crianças?’que eu decidi parar de vez de fumar e minha esposa me acompanhou”, conta. A linha de pensamento que segue João Carlos Ladeira, 42 anos, um quase ex-fumante, é um pouco diferente. Abandonar o cigarro é um drama para qualquer fumante, porque há diversos pontos que podem incomodar um fumante e também um não-fumante. E foi por causa deles que Ladeira decidiu largar o vício, apesar de ainda fumar, mas apenas quando está completamente só, ou na companhia de seu Marlboro Vermelho box. “Eu ainda fumo em casa, na sacada, no máximo duas vezes por semana, talvez incomode alguém, mas, até agora, ainda não reclamaram. Na rua eu consegui parar de verdade”, conta o auxiliar de serviços gerais, visivelmente orgulhoso de seu feito. CONTEXTO HISTÓRICO No século passado, o cigarro foi muito romantizando, glamourizado e aclamado. Havia propagandas que incentivavam as pessoas a consumirem tabaco, nas ruas, na televisão, até carros de Fórmula Um mudavam cores e design para aludirem às marcas mais famosas. Dadda, que até hoje trabalha com uma revendedora de cigarros, viveu essa época imerso nessa
Após a decisão de parar de fumar, chega a hora de apagar a última “bituca” realidade atroz. “Eu recebia o meu salário e mês, agora vendo umas 200. Mês passado ganhava cinco carteiras de cigarro. Fumar consegui vender 400, tenho um cigarro que era algo normal, se fumava em qualquer lu- está saindo bastante, o Madrid, agora pregar, não era que nem tendo comercializar hoje que é proibido até 600”, comentou. em muitos lugares” Um dado que ajuda recorda. A sociedade a explicar essa dimiainda sofre o efeito nuição do consumo Eu comecei dessa disseminação talvez seja o de que a fumar do tabaco, atualmen89% dos fumantes te, o cigarro mata mais se arrependem de ter roubando de 5 milhões de pescomeçado a fumar. Lacigarro do meu soas, segundo a Ordeira é um desses, diz pai, que fumava ganização Mundial que se pudesse voltar de Saúde (OMG), que aos seus 18 anos, não muito causa, a longo prazo, teria nem aprendido Valmir Dadda diversos tipos de câna tragar, “aos poucos, Empresário cer e infarto. Estima-se o ritual de fumar vai também que aproxise tornando algo rotimadamente um terço neiro, e é muito difícil da população mundial desconstruir um hábiadulta, isto é, cerca de to, tem que ter muita 2 bilhões de pessoas, sejam fumantes. Nos força de vontade e autocontrole”, revela. homens, o dado é ainda mais assustador, Apesar de todas as tentativas do controle 47% da população masculina adulta fuma, do consumo de cigarro por parte do Estado enquanto no âmbito feminino o número e de organizações, tanto nas advertências cai para 12%. nos versos ilustradas por imagens de doenças, mortes e impotência sexual, causada A REDUÇÃO ACONTECE pelo uso, quanto as jurídicas, como as leis que cada vez mais restringem os lugares Contudo, a diminuição nas compras de onde é permitido fumar. O que ainda faz caixas de cigarro é notável, as revendedoras as pessoas pararem de fumar são as prójá não vendem como antes, é o que conta prias pessoas, “para mim, foi uma decisão Dadda, que antigamente trabalhava para totalmente empírica, ‘eu comigo mesmo’, Lídersul, distribuidora canoense de cigarros, pensei que deveria parar de incomodar os e desde 2000, tem a sua própria distribui- outros, deixar o problema apenas para mim dora de cigarros, junto com seu sócio. “Nos enquanto ainda não consigo resolve-lo de anos 90 eu cheguei a vender 6 mil caixas por vez”, diz Ladeira.
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ABSOLVIDAS PELO ABANDONO
Duas vezes por semana, centenas de mulheres visitam filhos e maridos no Presídio Central TEXTO: LUA KLIAR FOTOS: REBECA SOUZA
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ega roupa e documento para o teu filho!” Foi com essa frase que o drama da enfermeira Luciane Honlechner começou. O filho tinha sido preso, e as explicações só viriam no momento em que ela chegasse na delegacia onde ele estava. O erro foi conduzir um carro roubado. O menino de 18 anos e que estudava, agora está atrás das grades do Presídio Central de Porto Alegre. Réu primário, ainda aguarda o julgamento. Nesse terreno hostil, Luciane é mãe de primeira viagem e, enquanto a data não chega, ela acorda cedo todas as quartas-feiras e domingos, sem falta. “Saio às 3h e venho em prantos durante todo o caminho, mas quando chego aqui tenho que ser forte”, conta emocionada. As idas e vindas da mãe à cadeia talvez seja explicada pela psicologia. Segundo a psicóloga Tatiane Farias, desde o nascimento de um bebê, a mãe desenvolve a capacidade de superar medos e de enfrentar situações de risco para defender o filho. Isso ocorre em circunstâncias de tensão, onde o filho encontra proteção na mãe. “Quando uma pessoa sente que corre algum risco, a tendência é procurar acolhimento na figura materna ou paterna”, explica a doutora. Embora frequente a prisão, o choque não passou completamente para a mãe. Desde o dia em que o filho foi pego, Luciane não dorme, não trabalha e não come direito. A filha mais velha também teve que pedir afastamento do serviço. “Um fato desses desestrutura completamente a vida da gente. Afeta toda a família”, diz a enfermeira segurando as lágrimas. Nos dias de visita o que mais impressiona a enfermeira é o sentimento que une todas aquelas pessoas. “Aqui tu vês que todo mundo é igual”, fala. Luciane tem escolaridade, profissão e carteira assinada, mas a maior parte das mães e esposas que frequentam o Presídio vive uma realidade bem diferente. “Nunca pensei que passaria por uma situação assim, mas acabo encontrando um conforto vendo que as outras pessoas sentem o mesmo que eu”. Segundo ela, o filho reconhece os erros e está aprendendo a valorizar tudo o que tinha fora da prisão. “Antes ele reclamava da minha comida, agora é a melhor do mundo”, conta abrindo um sorriso tímido. SOBREMESA PARA MATAR A SAUDADE
A boa comida nunca falta na sacola da ambulante Marcia Corrêa, que há quase seis anos visita o marido no Central. Ela
e os três filhos, dois deles concebidos As mães durante a pena do pai, acordam cedinho Elisângela (E) e para preparar o quitutes para a visita. Luciane vão ao Pudim de leite condensado e bolo Presídeio ver de milho são feitos no fogão à lenha, na os filhos todas cozinha de piso bruto da casa alugada em as quartas e Gravataí. “Ele sempre diz que não aguenta domingos mais a comida de lá, mas, mesmo assim, ‘tá’ gordo. Imagina se fosse boa”, brinca. Com riso solto, ela conta sobre as dificuldades no primeiro ano em que ele esteve preso. Segurando dia mais feliz para eles um filho nos braços e é o da visita. “Quanno outro um carrinho do estamos juntos, Quando de feira, ela começou parece que ele volta a vender doces em para casa de alguma estamos juntos, compotas, bijuteria, maneira”, diz. parece que e peças íntimas para De acordo com ele volta para ajudar a família. Nos a psicóloga Tatiane, dias em que ela não esses pequenos decasa de alguma talhes que lembram a sai para vender, ajumaneira da o pai a cuidar do vida em casa, como a bar na frente de casa. comida e o cheiro da Marcia Corrêa Marcia é um nome roupa, fazem com que Ambulante fictício porque ela esse espaço seja preenteme a segurança da chido no dia de visita. família. “Meu marido “Eles precisam dessas tem um monte de memórias para lembrainimigos aqui, é mais seguro ele conti- rem quem eles são”, esclarece a psicóloga. nuar lá”, revela. Ela e a família viviam do A assistente de serviços gerais Elisangela “dinheiro sujo” do marido. Foi difícil se de Oliveira também conhece de perto a rotina adaptar no começo, diz. Durante os dois das visitas. Há dois meses ela encara a fila primeiros meses, ela não o visitou porque de 400 visitantes para ver o filho, preso por não conseguia aceitar a prisão. Mas hoje o roubo de carro. Não é a primeira vez que eles
passam por isso. Quando ele ainda era menor de idade, passou dois anos e oito meses na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase). Ao completar 18 anos, foi solto. Não demorou muito para que ele caísse no mundo do crime novamente. “Depois que vai preso, é muito difícil levar uma vida honesta aqui fora”, conta a mãe. Elisangela diz que a oferta de “empregos” feitas dentro do Presídio é preocupante, uma vez que há dificuldade de reinserção social. “Para meu filho já prometeram casa, carro, boca de fumo”, relata. Para psicóloga, as propostas de emprego além de darem uma falsa garantia, despertam o interesse de poder e liberdade no apenado. O que dá sensação de “aproximação” da vida livre das grades. Muitas vezes Elisangela hesita em sair de casa, acha que não deveria mais visitar o filho: “a cabeça diz uma coisa e o coração manda outra. Eu sigo o coração e é por isso que eu venho. Como vou abandonar um filho meu nesse mundo?”, questiona.
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UMA RENÚNCIA SALVADORA
Deixado pela mãe aos seis meses de vida, André viu em uma tragédia o motivo para recomeçar TEXTO: KALLEB FRANÇA FOTO: REBECA SOUZA
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lhos marejados, semblante sisudo, mãos ásperas e memórias distantes, porém frescas, como se os fatos relatados tivessem acontecido segundos atrás. As histórias, embora já antigas, são marcas entranhadas na alma de André Martins, 32 anos. “Aos seis meses, minha mãe abandonou eu e meu irmão gêmeo. Fomos criados pela nossa avó e ouvindo que nossa mãe saiu para trabalhar, porém jamais voltou,” conta emocionado. Jogar bola com o pai, brincar de pipa pelas ruas, andar descalço no pátio de casa e ouvir a reprimenda da mãe, ficar com o troco do pão para comprar balas e pirulitos, ter a orelha puxada por conta de uma nota vermelha no boletim escolar. Para André, nada disso foi possível. Embora criado pela avó até o dia em que ela faleceu, e depois pelos tios, ele perdeu a referência da família. Na verdade, nunca teve. Na casa onde cresceu, havia muita briga. Os tios alcoólatras davam bebidas para ele e seu irmão no inverno, quando eles ainda eram crianças, para amenizar o frio. Aos poucos, o menino ainda inocente, mas já ferido, começou a pegar a bebida escondido. Em pouco tempo, estava no caminho do alcoolismo. A estrada para uma vida torta e cheia de devaneios estava pavimentada. Todos os ingredientes estavam ali. “Ser abandonado e não ter uma família contribuiu para que eu andasse por um mau caminho,” afirma ele. O momento em que percebeu estar de frente com o abandono foi quando, aos 11 anos, os tios o levaram para o juizado de menores, afim de uma entrevista para obterem a guarda definitiva. “Aquele dia foi tenso. Percebi que tinha sido abandonado, que minha mãe não voltaria e achei que estava sendo deixado de novo. Até hoje, mesmo estando bem, tenho medo de ficar sozinho,” diz.
formei aquele lugar em um local de crime alerta, ficava à espreita para ver se a polícia e uso de drogas. Meu irmão começou a estava chegando no ponto de tráfico. trabalhar em uma clínica odontológica e No tráfico, a vida é sempre um bem não se envolveu com nada.Usou drogas, desvalorizado. Mas, no caso, André, não mas não se aprofundou no crime,” conta. tinha nada a perder. Talvez já tivesse perdido. As constantes visiNão havia aproveitado tas da polícia na casa, as poucas chances que que vivia cheia de teve para mudar seu criminosos e armas, rumo e estava de novo levaram André à prina mesma. Uma dePercebi que são após um assalto a savença com um traônibus. Em uma comficante, daria fim, ou tinha sido binação com funcioum novo capítulo para abandonado, nários da empresa de o drama. “Lembro que que minha mãe transporte coletivo, eu e meu irmão estávaentrou na condução mos viciados em crack, não voltaria e pegou o dinheiro do cuidando para que a e achei que cobrador. Ao descer o polícia não chegasse último degrau, a políno ponto,” diz. Neste estava sendo cia o enquadrou e os momento, o olhar de deixado de parceiros o abandoAndré sobe, parece novo naram. Mais uma vez buscar algo que estava André estava sozinho. ali, presente o tempo André Martins Em busca de um todo. E segue: “Meu Zelador novo rumo, após cumirmão estava usando prir pena prestando droga naquele moserviço comunitário mento. O traficante do por um ano, foi morar outro ponto chegou, em outra cidade para e disse que eu estava trabalhar em uma fábrica de calçados. Po- fedendo e atrapalhando o trabalho dele. rém, sem forças e lutando praticamente so- Começamos a discutir, foi ficando cada vez zinho, se viu mais uma vez trabalhando para mais forte. Quando ele virou as costas e saiu o tráfico de drogas como olheiro. Sempre correndo,” mais uma vez ele para de falar.
Parecia estar buscando forças para colocar para fora algo que estava preso. “Alguma coisa falou em mim para ir embora. Eu não sabia para onde correr. Corri sem destino e o rapaz tinha dito que voltava. Lembrei do meu irmão, que estava lá. Tentei avisar para ele sair, pois éramos gêmeos, mas era tarde. Quando voltei, meu irmão havia levado nove tiros. Não sobreviveu”. André para, suspira e tenta continuar. Os 19 segundos que os separaram ao nascer, se tornaram uma eternidade eles jamais vão se ver. “Me senti só mais uma vez. E desta vez, culpado, pois achava que tinha criado este abandono.” Não se tem certeza se o alvo do traficante era André. Após todos estes acontecimentos, ele sabia que não teria momento mais propício para buscar a sua vida de volta, de tentar ser, o que sempre sonhou, ter a oportunidade de construir a família que nunca teve. A vida do crime e das drogas, não faziam mais sentido para ele. Mesmo em meio ao luto pelo irmão, buscou forças em Deus e está limpo a quase seis meses. Ele teve apoio do Pastor e de muitas pessoas da igreja evangélica, onde hoje reside e é zelador. Chegou a vez de André virar o jogo e finalmente abandonar aquela vida. *O nome é fictício para preservar a identidade dos envolvidos
A REVIRAVOLTA DA VIDA Aos 17 anos, esperando ser chamado para o quartel, o que poderia trazer algum destino para a sua vida, já havia conhecido a maconha em uma roda de amigos. Sem hesitar, entrou por todas as outras portas em que se sentiu aceito. Uma delas se apresentou com promessa para deixa-lo mais forte, inteligente, eufórico, feliz e sem fome. A cocaína, passou a fazer parte da vida de André. Não satisfeito, se abraçou com o mundo do crime e, posteriormente, com o crack. “Eu e meu irmão não pegamos quartel. E, para suprir o abandono e fugir da realidade, me envolvi com todas as drogas disponíveis. E com o mundo do crime. Meus tios se mudaram e ficamos com a casa. Eu trans-
André passou anos envolvido com drogas e crimes, mas encontrou salvação na religião
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IDOSOS DEIXADOS PARA TRÁS
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Há mais de 80 anos, a Spaan acolhe idosos que são abandonados por suas famílias TEXTO: NATHALIA AMARAL FOTOS: CORA ZORDAN
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epois de viver uma vida, constituir família e trabalhar, a velhice chega e nem sempre da forma como se espera. Dona Ieda, por exemplo, tem 64 anos e vive há cerca de um mês na Sociedade Porto-alegrense de Auxílio aos Necessitados (Spaan). Não tem contato com a única filha, que mora em São Paulo. “É muito difícil, nem sei o que falar. Depois que eu vim pra cá não tive mais contato com ela”, relata. Enquanto lembra o afastamento da filha, seu olhar se perde e a voz embarga. A mulher não revela os motivos que a levaram deixar a casa e a antiga vida. Mesmo vivendo longe da família, ela preza pelas boas lembranças da vida que tinha antes. “Foram muitos momentos, na maioria bons, é o que fica”, conta com sorriso tímido. A Spaan acolhe idosos em vulnerabilidade social, que sofreram algum tipo de violação de diretos. Alguns tantos foram abandonados pela família, que encontraram ali um lar para deixar os idosos. A assistente social Maria do Carmo Soares, especialista em gerontologia social, trabalha no local há mais de 16 anos e já presenciou muitos casos de abandono e outras histórias que levaram muitos idosos à instituição. “Alguns sofriam negligência, maus tratos por parte da família, filhos e esposa. Eles vieram pra cá por meio do Ministério
Público e da Fasc. Nós tivemos de acoA casa de acolhimento é associada à lhê-los aqui, porque estavam passando Fundação de Assistência Social e Cidadania por todos os tipos de dificuldade: fome - Fasc, da prefeitura de Porto Alegre, que e violência verbal e psicológica. Quando também faz o encaminhamento do idoso. não há condições de eles permanecerem A Spaan é um lar permanente e são no seio de suas famílias, eles vêm pra cá”. aceitos apenas idosos que têm autonomia As histórias não e possam cuidar de si, são as mesmas, mas ou seja, aqueles que todas têm algo em não são dependencomum: o destino da tes. Para alguns que velhice. Dona Zilda, 93 vivem lá é difícil falar Nós tivemos de anos, vive no local há sobre a família. Quanacolhê-los aqui quase um ano. Antes do chegam em idade de ir para a instituição avançada, ou acabam porque estavam ela vivia com a mãe. desenvolvendo doenpassando por “Trabalhei por muitos ças, eles continuam na anos como caixa geral, instituição. Os idosos todos os tipos de parei de trabalhar para são amparados por dificuldades: fome cuidar da minha mãe, médicos, nutricionise violência verbal e depois que ela morreu tas, fisioterapeutas e eu vim pra cá”, relata. cabeleireiros voluntápsicológica São muitas as hisrios que os ajudam a Maria do Carmo Soares tórias de pessoas que levar uma vida digna Assistente social tiveram que abandoe saudável. nar casas e rotinas Na instituição, eles porque não puderam participam de atividaestar com as famílias, des culturais, como por não terem ninpasseios e bailes, e guém, por sofrerem agressões físicas e físicas, que ajudam a manter a vitalidade psicológicas ou por que a família não têm de quem tem Spaan como um lar. condições de permanecer com eles. Desde Fundada em 21 de agosto de 1931 pelo 2004, o Sistema Único de Assistência So- Rotary Clube de Porto Alegre, a instituição cial, através do Centro de Referência em mantém um trabalho assistencial para Assistência Social de cada região é quem idosos que precisam de um lar. Hoje a casa faz a avaliação que determina se o idoso acolhe 105 pessoas que necessitam de vai ou não para uma casa de acolhimento apoio quando, às vezes, não se encontra ou para outra instituição de auxílio. na família. A sede, na zona sul de Porto
Alegre, passa por reformas. Em função disso e com a morte de alguns beneficiados, a capacidade teve de ser diminuída. Depois de concluídas as melhorias o local, passará a receber ao todo 150 idosos. Para poder se manter, a Spaan conta com adoações e também dos idosos, que repassam 70% de suas aposentadorias para a instituição, para ajudar na manutenção deles. Além disso, a cada dois meses é feito um feirão de roupas, sapatos e outros artigos doados exclusivamente para isso. Os eventos são a maior fonte de renda da Spaan, e o recurso é usado para a compra de fraldas geriátricas, medicamentos, alimentação e demais necessidades que os beneficiados tenham. Ainda conta com a ajuda de doações da comunidade e com o trabalho de mais de 120 voluntários, que fazem serviços como lavanderia e atividades de recreação. Atualmente o Brasil não têm dados específicos sobre abandono de idosos. Sabe-se apenas que cresce o número de abandonos em hospitais e asilos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem hoje 22 milhões de idosos. Em duas décadas esse número pode dobrar, sendo que a população idosa será maior que a de crianças com menos de 15 anos. Dessa forma, as casas de acolhimento poderão fundamentais para idosos abandonados. “Aqui é uma casa de proteção, que vai zelar pelo idoso até o final da vida dele, um trabalho feito com carinho, por pessoas que amam o que fazem”, declara a assistente social Maria do Carmo.
As pessoas acolhidas pela Spaan recebem atendimento médico e participam de atividades físicas e passeios
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HORA DE DEIXAR OS GRAMADOS
Falta de apoio e distância da família fazem com que jovens desistam do sonho de jogar futebol TEXTO: AMANDA BICCA FOTO: PAULO EGIDIO
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Alexandre Pato, que depois chegou a se arriscar até no triatlo”, comenta o radialista. No Brasil, há diversas maneiras de se entrar nas categorias de base dos clubes: através de empresários, peneiras e, até mesmo, olheiros. O agora técnico em eletrônica Joshua Muller, 28 anos, por exemplo, entrou no mundo do futebol aos 14 anos, quando participou do primeiro teste no Grêmio, onde foi aprovado na seleção. “A peneira durou uma semana, todo o dia tinha prova e jogo. Tinham mais de 500 jogadores de várias categorias”, relembra. Logo depois, um grupo foi formado e Joshua foi dispensado. O estudante de Engenharia Elétrica participou de mais uma peneira, dessa vez no Inter, onde disputou uma vaga com mais de 200 garotos, em um dia. “Fiquei jogando até os 18 anos em clubes pequenos de Gravataí, onde vivo. Depois, acabei investindo nos estudos, porque sei que é realmente complicado se manter nesse meio, ou se conhece alguém, ou tem que ser realmente um craque”, sentencia.
ai, corre, não para, não para”, grita o técnico. E eles vão. Correm atrás da bola com esforço, até que chega a hora de decidir se devem ou não escutar o treinador. Para muitos garotos, o momento de pendurar as chuteiras chega muito antes de se tornar jogador profissional. Quando criança, muitos sonham em “jogar bola” o tempo todo. Ser jogador de futebol seduz, faz brilhar os olhos dos pequenos que assistem aos ídolos na televisão e ficam horas jogando videogame com o time do craque preferido. A fama e a chance de sustentar a família e os amigos também atraem, porém, segundo o jornalista da Rádio Grenal, Rafael Serra, não é tão fácil se manter na carreira. “Muitos atletas vêm de família humilde, na qual ele é quem irá ‘arrumar’ a vida dos parentes e amigos sendo jogador famoso. A maioria não chega neste estrelato. Os famosos atletas representam uma parcela muito pequena do futebol brasileiro. Os que DIFICULDADE DE conseguem um lugar ao sol e ganham ADAPTAÇÃO NO EXTERIOR euros e reais geralmente não têm estrutura familiar para suportar tanta Giovanni Sacanni, por outro lado, grana pingando na conta a cada 30 não se queixa de falta de oportunidias. Acabam perdendo o foco no tra- dades. Começou a jogar futebol na balho, se perdem em noites, mulheres escolinha da sua cidade, Antônio Prado, e falsos amigos. Daí aos sete anos. Aos a carreira vai para o 15 anos, enquanto espaço”, explica o o time disputava radialista. uma partida contra Serra também o Juventude, alguns Sei que é relembra casos na empresários que realmente dupla Grenal, onde estavam assistindo garotos conside o jogo resolveram complicado rados promissores investir no garoto. se manter acabaram não vin“Eles gostaram de nesse meio. gando. “No Grêmio mim, vieram até mio mais recente e nha casa conversar Ou se conhece famoso caso foi do com minha família, alguém ou Bruno, um meia/ me observaram em articulador que mais algumas partem que ser tidas e depois me carregou o peso realmente um fizeram a proposta de ser comparado craque de ir para Itália”. a Ronaldinho Gaúcho. Ele era um joGiovanni ficou um Joshua Muller gador médio, nada ano na Udinese, Técnico em eletrônica além disso. Houve, onde teve que se neste episódio, um adaptar ao futebol exagero por parte italiano e principaldos dirigentes e mente, a distância: por parte de alguns “Os dois primeiros jornalistas, que acreditaram e repro- meses foram bem complicados. Meus duziram este pensamento. No Inter, pais ficaram comigo apenas 15 dias e consigo lembrar do Fábio Pinto, no depois fiquei sozinho. Também tive final dos anos 90, e mais recentemente que me acostumar com a intensidade do Tales, colocado como substituto do dos treinos, que eram totalmente dife-
Para muitos, é preciso pendurar as chuteiras antes do sucesso chegar rentes, porque eu nunca tinha treinado profissionalmente. No futebol italiano há muita intensidade, tanto na parte física quanto na parte tática e, além de tudo, tem o clima, já que muitas vezes treinamos com neve no gramado”. Hoje, aos 23 anos, Giovanni cursa Economia, e conta que deixou o futebol de lado por conta da distância de casa. “Voltei de lá e decidi dar um tempo do futebol, depois não quis voltar pelo fato de ficar muito sozinho. Sempre fui muito apegado a minha família e foi muito difícil para mim ficar longe de todos”, conta. A categoria de base é fundamental não somente para aprimorar a parte técnica dos jogadores, mas também
na formação do atleta, dando suporte físico, psicológico e educacional. “O Brasil parou no tempo, não é mais o país do futebol. Continuamos com aquele pensamento de que resolvemos os jogos na habilidade e nos dribles do Garrincha. Hoje qualquer time ou seleção de fora é favorito contra os nossos. Acho que esse processo de melhorar nosso futebol será muito longo. Ele deve começar pela educação familiar, passando pela educação escolar e terminando na formação da base dos clubes, que precisam evoluir na forma de gerir e planejar o futebol não só como produto financeiro, mas como uma ideia”, finaliza o jornalista Rafael Serra.
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ESQUECIMENTO MONUMENTAL
Estádio Olímpico, glorioso nos anos 90, hoje tem estrutura frágil e aguarda demolição TEXTO: RAFAEL MARTINS FOTO: PAULO EGIDIO
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á dois anos, o trajeto do bairro Medianeira até a Azenha, em Porto Alegre, não é mais o mesmo para Edenílson Davi, 42 anos, proprietário do Bar Preliminar Faísca, localizado em frente ao Estádio Olímpico Monumental. Em meio a questões burocráticas que impedem sua implosão, o estádio que já presenciou 1.767 jogos e 4.816 gols segue de pé, mas sem vida, completamente abandonado e esquecido no bairro que o cerca. Natural de Putinga, Faísca – como é chamado desde a infância -, chegou na Capital em 1990 para tentar a vida trabalhando em bares, algo que faz desde os 12 anos. Se passaram alguns anos até que, em 2002, por engano, parou nas redondezas do estádio, onde comprou o primeiro bar, na Avenida Carlos Barbosa. Aquele dia, a ligação com o Olímpico começou a aumentar. Dois anos mais tarde, após muitas idas e vindas, ele comprou outro estabelecimento, na esquina das ruas José de Alencar e Dona Cecília, em frente ao Velho Casarão - nome como o estádio é chamado pelos torcedores. O empresário Faísca se sente abandonado hoje, assim como o estádio, que conta as horas para ir ao chão Reformou o bar e deu nova vida a ele, transformando-o numa segunda casa o Olímpico, que seria implodido em tra, Faísca vê os dias passarem mais mente desativado, mas alguns seguda torcida gremista. O local tornou-se 2012, ainda está de pé. Vê-lo aban- lentos e amargos. O fato de a Arena ranças ainda estão por lá, cuidando a ponto de encontro antes de jogos. E donado é ainda pior do que no chão, ter sido construída em outro local, antiga casa tricolor. Carlos Henrique assim foi até o final de 2012, quando o porque com o impasse, o movimento abandonando o antigo estádio, causa Freitas, 30 anos, trabalha há oito anos estádio passou a ser desativado com a é quase zero. uma mistura de revolta e tristeza. “A como segurança do estádio e também construção da nova Arena do Grêmio. O que antes era o ganha pão diário Arena tinha que ser construída aqui. O lamenta o abandono. “Sou gremista e No bar Preliminar foram vividas já não tem mais o mesmo poder. Para clube tem identificação com o bairro, trabalho aqui como o meu pai já fez. muitas emoções, com grandes jogos, conseguir sustentar a família, com a era só reformar, ao invés de levar para Tenho o costume de vir aqui desde mas sem nenhum título comemorado, esposa e dois filhos, teve que abrir um o outro lado da cidade”. A mudança de pequeno assistir aos jogos. É bom tem algo que ele lamenta. “Estou há 13 outro negócio e fazer alguns bicos. Ao endereço deixa esquecido o bairro e um estádio novo e modernos, mas a anos aqui, mas nunca tive o prazer lado do bar, existe o Mini Mercado Fa- tudo que o cerca, mas mesmo com a Arena não substituí o Olímpico. Por de ver meu time conquistar uma taça ísca, que é o que rende algo à família, troca de casa, praticamente acabando mim, ele seria construído aqui”. no estádio”. Ver o time foi algo que mas ainda é pouco. “Antes eu vivia só com o bar, o sentimento pelo time do nunca ocorreu nesses anos, devido à do bar, hoje tenho que fazer alguns coração não muda: “Tudo que eu teBOA RELAÇÃO COM O TODOS procura de torcedores. “Nunca deixei ‘bicos’ e fazer prestações de serviço nho, devo ao Grêmio”, comenta Faísca. de trabalhar em um dia de jogo do Grê- para me manter e sustentar a casa”. Além do reconhecimento da torcida, mio, era o dia que Ao lado da espoDO VELHO AO NOVO o Preliminar Faísca foi apadrinhando sa, a família dedica salvava a semana. pelo clube, diretoria e jogadores da 12 horas do dia ao Por isso, acabei não Com a nova Arena, Edenílson deixou época, criando até amizades com altrabalho, o que, em de acompanhar alguns jogos, não se guns deles, o que guarda com muita indo a nenhum jogo época de movimen- sentindo à vontade na “nova casa”, alegria. “O Tcheco vinha aqui às vezes. no Olímpico”, lemEstou há 13 brou Faísca. to, era ainda mais. mas revela que o filho mais velho, Ale- Sempre que podia, o Sandro Goiano anos aqui, mas “Eu chegava aqui xsandro Ott Davi, 18 anos, continua estava almoçando no bar. O Lúcio era nunca tive UMA TRISTE às 7h e ficava até acompanhando o Grêmio e tenta levar tão meu amigo que frequentava a casa ROTINA quando fosse pre- o pai junto. “Ele vai a quase todos jogos, um do outro”. Este último, ele guarda o prazer de ciso. Hoje eu chego me convida, mas eu não vou. Quando com muito carinho. Um dia em que ver meu time Hoje a rotina não às 9h, faço meus sal- tem um ou outro jogo importante, havia quebrado a perna, o então lateral é mais a mesma. O gados, almoçamos que me dê vontade, eu ligo para meus esquerdo do Grêmio, ia visitá-lo para conquistar uma bar que pulsava por aqui mesmo e conhecidos e consigo ingresso”. A pe- saber da sua situação. “O Lúcio, quando taça no estádio junto com a torciassim ficamos até dido da filha mais nova, Júlia Ott Davi, soube da minha situação, vinha aqui da no estádio já está umas 21h.” cinco anos, levava ela todos os dias no ver como eu estava. Nos finais de ano, Edenílson Davi praticamente vazio. Com o cigarro Olímpico para ver os jogadores, o que ele recolhia camisas dos jogadores e Comerciante mandava eu distribuir para a torcida Devido a probleem uma mão e um hoje já não é mais possível. mas burocráticos, copo de café na ouO Velho Casarão já está completa- que frequentava o bar”.
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ONG TIRA CAVALOS DA RUA
Chicote Nunca Mais abriga 34 equinos abandonados em Gravataí
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TEXTO e FOTO: JUAN GOMEZ
crítico e os totalmente recuperados podem ser tutelados. Só é possível tutelar quando á sete anos, a ONG Chicote Nunca a pessoa puder cumprir estritamente todos Mais cuida de animais de rua. A os itens do protocolo proposto pela ONG. atual presidente, Fair Soares, vi- Responsáveis e voluntários acompanham venciou a cena de um animal sendo o desenvolvimento do animal, com visitas espancado, no meio da Avenida Assis Brasil, inesperadas, para garantir que estão sendo pelo dono da égua. Esta tinha uma vida de bem tratados. Caso não estejam, levam o anitrabalho duro e estava mal novamente para a sendo chicoteada por organização. estar exausta e não A situação dos aniconseguir mais andar. mais, quando recolhiO pior de tudo é que o dos, é triste. “Todos os Todos os homem a deixou atiracavalos chegam com da na rua. A partir dessa algo de grave: cegos, cavalos chegam história Fair começou a machucados, aleijados, com algo de lutar pelo fim das carrodesnutridos e com uma grave. O desafio ças na capital, e é com série de problemas de esse objetivo que criou saúde”, diz o veterináé recuperá-los a associação. rio responsável técnico, e libertá-los do O santuário – onde Francisco Gusso. “O nosficam os animais e é feiso desafio é recuperásofrimento to todo o tratamento -los e libertá-los do sofriFrancisco Gusso – se localiza na região mento”, complementa. Veterinário metropolitana de Porto Diariamente os Alegre e abriga, no moanimais recebem uma mento, trinta e quatro alimentação balancecavalos. Esses animais ada, com alfafa e ração recebem todo o cuida(aproximadamente 4 do necessário e, dependendo da situação kg de ração por dia) e uma assistência veem que chegam, devem ser mantidos na terinária. Os cavalos, por serem de grande associação até estarem saudáveis o suficien- porte, geram muitos gastos, e essa é uma te. Os que chegam num estado não muito dificuldade da ONG, conforme a fundadora,
MIGRAÇÕES PARA O FM AMEAÇAM FUTURO DO AM
TEXTO e FOTO: WILLIAM SZULCZEWSKI No total, 139 emissoras de rádio do estado estão na lista das migrações de dial do Ministério das Comunicações. Nos últimos anos, devido a questões de audiência e sonoridade, centenas de emissoras têm buscado a migração da frequência AM para a FM, fato que tem causado um certo abandono do primeiro dial. Uma emissora que Rádio da Ufrgs é uma das 139 emissoras gaúchas na lista de migrações de dial
busca essa troca e está na lista de transferências é a rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). De acordo com o professor e diretor da rádio, André Prytoluk, a ideia é não deixar o AM. “O FM tem mais qualidade, mas não
queremos a extinção do AM”, destaca. O Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado do Rio Grande do Sul (SindiRádio) informa que são 197 rádios, atualmente, no dial. O professor de Radiojornalismo da Unisinos Sergio Endler diz que, no futuro, a frequência AM ficará obsoleta.
Fair Soares. “Nós não podemos atender todos os cavalos vítimas de maus tratos porque a demanda é muito grande. A gente tem, sim, uma capacidade limitada, mas para aqueles que a gente atende é que fazemos a diferença”, diz. E complementa: “Nós não temos verbas públicas, todo nosso trabalho é feito através das doações”.
Quando recuperados, os animais são encaminhados para tutela. A ONG fundada por Fair Soares visita o hospedeiro para acompanhar o tratamento
INTERNOS AGUARDAM RETORNO PARA CASA
TEXTO: RENATA SIMMI FOTO: LUCIANO LOSEKANN Dos 344 internos do Instituto Psiquiátrico Forense, 40 estão em situação de abandono. São pessoas com problemas psicológicos que cometeram delito. O juiz da Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas, Luciano Losekann, diz que a pessoa nessas condições deveria ir para um Serviço Residencial Terapêutico. “Esse serviço não Dos 344 pacientes do Instituto Psiquiátrico Forense, 40 estão em situação de abandono
é oferecido pelo poder judiciário, e sim pelas secretarias de saúde. Mas essa rede é muito fragmentada”, esclarece. A psicóloga Vanessa Lançanova ressalta que os Centros de Atendimento Psicossocial são a porta de
entrada para tratamento. “O abandono é o sintoma mais delicado, pois a reinserção social com o suporte familiar é mais efetiva”, acrescenta. Para a assistente social Lizete Carneiro, o retorno à família não deve ser uma regra. “Essa volta pode, muitas vezes, relembrar o trauma vivido”, analisa.
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UMA CHANCE PARA PANGARÉ
A maioria dos casos de abandono de animais vem acompanhada de maus tratos TEXTO: NAIADY SOUZA FOTOS: SUSI TESCH
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angaré é um cavalo adulto de porte médio, que atualmente se hospeda no Centro Bem-estar Animal em Canoas. Com olhar desconfiado, desde pequeno o Pangaré trabalhou, sempre acordando cedo e se colocando à disposição para levar o parceiro para os caminhos que era pedido. Quando chegou à fase adulta, Panga não tinha tanta disposição, mas, como em toda vida adulta as responsabilidades aumentavam, continuou trabalhando e obedecendo fielmente ao parceiro. O tempo foi passando e o cansaço e as dores começaram a aparecer constantemente. O problema é que o seu patrão não entendia o porquê do olhar triste e do cansaço e continuava apertando-o com tiras de couro. O desempenho do animal não era mais o mesmo. O corpo estava debilitado, magro. Sem forças, o bicho não conseguiu atender as ordens do seu colega. Então, em um dia chuvoso, Pangaré foi abandonado e amarrado em uma árvore no centro da cidade de Canoas. Em uma denúncia anônima, a equipe do centro foi chamada para salvar o cavalo, que estava perdido, triste e amarrado. Foi necessário uma equipe de seis homens para conseguir levantá-lo e colocá-lo no caminhão para ser encaminhado ao hospital veterinário da cidade. “Quando chegamos no local, o Panga estava magro, pesava mais ou menos uns 250 kg. É um peso muito baixo para um cavalo, sem contar os ferimentos que tinha por todo o corpo”, contou Cristiano Morais, secretário especial responsável pelo Centro Bem-estar Animal. Depois de colocarem Pangaré no cami-
Quando chegamos no local, o Panga estava magro, sem contar os ferimentos que tinha por todo o corpo Cristiano Moraes Secretário especial do CBEA
nhão, o encaminharam para uma bateria de exames e começaram o tratamento adequado para que o animal pudesse voltar a ser um belo e saudável cavalo. “Fizemos todos os exames, cuidamos das feridas, arrumamos o casco, colocamos ferO veterinário Diego radura e o alimentamos Lucas (abaixo) acolhe para voltar ao peso ideal”, um dos 45 animais que comentou Morais. estão em tratamento. Infelizmente, a hisO cavalo Pangaré tória do cavalo Pangaré será adotado por se repete cada vez mais uma Associação da e com diversos tipos de cidade de Canoas e animais domésticos. Selogo poderá curtir a gundo a Sociedade União aposentadoria Internacional Protetora dos Animais (Suipa), o índice de abandono de animais domésticos chega a crescer 70%, com mais de 50 denúncias diárias de maus tratos e abandono em todo o território nacional nos meses das férias escolares, no período de dezembro a janeiro. O abandono de animais, como o Pangaré é mais frequente do que o imaginado, só que a maioria das histórias dos animais que são encontrados nas ruas vem acompanhada de maus tratos. Atualmente, a legislação pune com detenção de três meses a um ano para quem comete maus tratos, fere ou mutila qualquer tipo de animal. Porém, este ano foi aprovada a lei que torna crime violência física contra cães e gatos. Quem matar animais domésticos poderá ser condenado de um a três anos de prisão e a pena para quem abandona cães e gatos é de três meses a um ano. Pangaré está bem, voltou ao peso ideal de um cavalo, uma média de 400 kg, e está preste a ser adotado. “Fomos bem criteriosos para decidir quem poderia adotar o Panga, tinha algumas condições, como a aposentadoria dele, manter os cuidados e principalmente dar carinho e atenção”, conta Morais. Pangaré logo irá para um novo lar, mas antes fará os últimos exames para ter certeza que está tudo certo com a saúde, para enfim, ter a tão sonhada aposentadoria e poder curtir o resto da vida.
l O Centro Bem-Estar Animal (CBEA) de Canoas já atendeu uma média de 3 mil animais abandonados. Atualmente, tem 84 cães disponíveis para adoção e 45 animais em tratamento. l Também realiza castração de animais, como cães e gatos, para famílias de baixa renda.
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SEM ESTUDO, POUCAS OPÇÕES
Para quem não tem diploma do Ensino Médio, aumenta a dificuldade de ter um emprego TEXTO: GABRIELA GONÇALVES FOTOS: CORA ZORDAN
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ome. Data de nascimento. Endereço. Telefone. E-mail. Nível de escolaridade. Suspiros para terminar de preencher os dados do currículo. Cristiana Fernandes Prado tem Ensino Fundamental incompleto e, ao procurar um emprego melhor, lembra das consequências de ter deixado o colégio na 7ª série. “Parei porque veio o primeiro filho, depois o segundo e logo o terceiro. Eu tinha só 19 anos”, justifica. Decepcionada com os estudos, Cristiana esperava que a escola lhe rendesse um bom emprego, sonhava em ser administradora. Na época, acreditava ser utopia. Hoje, se arrepende. A profissão de auxiliar de serviços gerais não lhe agrada. Terminar os estudos para ajudar os filhos e conseguir um trabalho mais bem remunerado é o seu objetivo para o próximo ano. “Às vezes eles perguntam e eu não sei ajudar, é bem difícil. Matemática é a parte mais complicada, o ensino está bem diferente”, explica ela. Com cinco filhos aos 41 anos, incentiva o estudo deles, a prática de atividades no turno inverso e a busca de emprego desde cedo. Aos 12 anos, a filha mais nova, Andriely, quer ser veterinária. A outra menina, Sheron, 15 anos, sonha em ser modelo. Engenharia, moda ou administração são as carreiras que Alisson e Lucas pretendem seguir. Com 18 e 19 anos, já estão inscritos no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). O filho mais velho de Cristiana, Leonardo, tem 22 anos, é casado e, assim como a mãe, não concluiu os estudos. “Eu digo para eles: estudem pra ter uma vida melhor, para conquistar o que vocês quiserem. Eu sou o exemplo que não ouviu os pais, que não deu certo, não quero que eles façam o mesmo”, relata Cristiana. Apesar de não ter o diploma do ensino básico, Cristiana comenta que adora ler. “Leio muito, gosto de livros espíritas, jornais, revistas, qualquer coisa. Tento passar isso para as crianças, sei o quanto é importante. A minha pequena (Andriely) é que a mais lê em casa, eu fico bem orgulhosa”, conta. No âmbito familiar, os sobrinhos, primos e tios também não concluíram os estudos. Cristiana acredita que, atualmente, o ensino deveria ser mais rigoroso no colégio. Ela reclama que a aprendizagem da língua portuguesa é muito fraca, diz que as crianças não sabem escrever. Se pudesse mudar algo no método de ensino atual, seriam os níveis de exigência dos professores. “Sinceramente, eu tinha notas boas no colégio, gostava de estudar, larguei porque queria ficar na rua com os meus
Eu tinha notas boas no colégio, gostava de estudar, larguei porque queria ficar na rua com os meus amigos, achava que tudo era diversão Cristiana Prado
Auxiliar de serviços gerais
A auxiliar de serviços gerais Cristiana Fernandes Prado, 41, não consegue um trabalho melhor, pois não concluiu o colégio amigos, achava que tudo era diversão. Agora eu corro atrás. Quero fazer o curso para ser segurança de carro forte, mas preciso terminar, pelo menos, o Ensino Médio. Já está nos planos”, conclui. Segundo o Relatório de Desenvolvimento 2012, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, um a cada quatro alunos que inicia o Ensino Fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série. Isso faz com que o país tenha a terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100 países com maior Índice de Desenvolvimento Humano, IDH. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, em 2011 o abandono escolar atingia mais de 50% dos jovens de 18 a 24 aos pertencentes à fatia mais pobre da população. COLÉGIO ADOTA POLÍTICAS PARA EVITAR EVASÃO ESCOLAR O controle das faltas dos alunos é
o primeiro passo para evitar que eles desistam do colégio. Com cinco faltas consecutivas ou dez intercaladas, os educadores da Escola Estadual de Ensino Médio Anne Frank têm orientação para entrar em contato com a família e esclarecer a situação. Se não obtiverem sucesso, o caso é encaminhado para o Conselho Tutelar. A diretora Cláudia Engelke diz que o cenário muda quando se trata do Educação para Jovens e Adultos, EJA, uma vez que os alunos já são maiores de idade e não há nada que se possa fazer para interferir. “Nós queremos que nossos alunos valorizem a escola. A conversa sobre a importância do estudo é essencial, é o maior incentivo. Muitos vêm aqui, se matriculam, preenchem uma vaga e
desistem, ocupando o lugar de quem gostaria de estudar”, conta Cláudia sobre o método que a escola aplica para diminuir a taxa de evasão. Segundo a diretora, o maior motivo para os alunos abandonarem no Ensino Fundamental é a falta de dinheiro para passagem e pouco estímulo por parte da família. Doenças como depressão também são afastadores, mas, neste caso, é possível seguir com ensino à distância se os pais forem comprometidos. No turno da noite, prevalece a dificuldade de encaixar horários de trabalho com aula, cansaço e falta de interesse. Cláudia Engelke afirma que a maior parte dos alunos que voltam a estudar se arrepende de ter desistido, principalmente ao ver os colegas formados na faculdade e perceber como é difícil encontrar um bom emprego. Em maio de 2015, os alunos do Ensino Fundamental foram convidados para monitorar a exposição sobre Anne Frank no shopping Praia de Belas. “Foi surpreendente ver a dedicação daqueles que parecem desinteressados no dia a dia. Atividades fora da rotina são estimulantes e realmente fazem diferença”, comenta Cláudia.
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BRINQUEDOS VOLTAM À VIDA
Há 40 anos no mercado, centro de restauração tem 25 mil clientes em Porto Alegre
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TEXTO E FOTO: ARTHUR MARQUES
mercado de restauradores de brinquedos sempre foi escasso em Porto Alegre. Visando essa brecha comercial, Luiz Oscar Berthold abriu, no ano de 1975, o Centro Técnico de Brinquedos. O local é especializado em restaurar brinquedos antigos ou novos, e até hoje atendeu cerca de 25 mil clientes, de crianças até idosos. Luiz e seus dois ajudantes consertam mensalmente cerca de 800 carrinhos e bonecas. O custo de conserto de uma boneca fica entre R$ 45 e R$ 150, mas alguns trabalhos mais delicados podem custar mais. As bancadas do Centro Técnico parecem mesas cirúrgicas. Uma boneca com a perna dilacerada ou um carrinho com motor avariado passam por mãos cuidadosas, que fazem a restauração. Vendo as principais fábricas de brinquedos dos anos setenta prestes a fechar, Luiz começou a fazer seu estoque para peças de reposição, e com o conhecimento que tem, se algum brinquedo necessita de uma peça que não possui, ele mesmo a faz. “Fui para a França me especializar em psicologia aplicada em construção de brinquedos. Nada melhor do que conhecer o brinquedo por dentro”, afirma o engenheiro mecânico.
infância. “Vai trazer para este guri uma grande novidade, já que a maioria das crianças fica sentada o dia todo na frente do videogame”, diz. Apesar da experiência de quatro décadas, Berthold busca qualificar-se e acompanha os lançamentos de brinquedos em feiras. Isso o ajuda a diagnosticar o mercado e também a sentir o momento econômico do país.
O curso ensina como Desde 1975, Luiz do fazendo o reparo de um montar um brinquedo e Berthold recupera carrinho de lomba de cerca como as peças funcionam. mensalmente cerca de de 30 anos; o brinquedo foi Luiz diz ter feito a formação 800 carrinhos e bonecas presente de pai para filho, para abrir a sua própria fáno último Dia das Crianças. brica de brinquedos pedagógicos, que A madeira em péssimo estado já tem boa fechou pela dificuldade de importar má- aparência, e ao carrinho foi adaptado um quinas e peças. freio, já que o pai não quer que o filho Nos últimos tempos, Luiz esteve ocupa- sofra as quedas que teve ao brincar na
ANTIGA CONFEITARIA ROCCO CONTINUA FECHADA
TEXTO e FOTO: LEONARDO HOLDERBAUM O prédio localizado na Rua Dr. Flores, esquina com Riachuelo, no Centro de Porto Alegre, que abrigava a famosa Confeitaria Rocco, não tem mais o brilho de outrora. Os quatro pavimentos onde funcionaram salão de festas, confeitaria e fábrica de doces dão lugar a um prédio sem vida, descaracterizado de sua pintura, painéis e mobiliário. Tombado Reinaugurada em 1962, a Rocco foi novamente fechada após seis anos de atividades
pelo Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre desde 1997, o prédio até o momento não tem previsão para ser reutilizado.
Um dos três proprietários atuais do prédio e herdeiro de Nicola Rocco, visionário que inaugurou em 1912 a confeitaria, o aposentado José Gabriel Irace conta que, após o tombamento, qualquer tipo de locação ou venda se complica. A dificuldade, segundo o proprietário, está em manter a estrutura do imóvel, e uma nova restauração seria obrigatória àquele que tivesse interesse em ocupá-lo. “Os eventos que ocorreram foram porque nos procuraram, a Prefeitura é só a política”, diz ao lembrar locações realizadas no imóvel.
Fui para a França me especializar. Nada melhor do que conhecer o brinquedo por dentro Luiz Berthold Restaurador de brinquedos
JOVENS BUSCAM TECNOLOGIAS ANTIGAS
TEXTO: ULISSES MACHADO
É muito comum, nos dias de hoje, que o público jovem procure no passado uma identificação cultural e artística, e às vezes isso os leva a comprar aparelhos mais antigos. “O jovem que consome uma tecnologia obsoleta busca, de um certo modo, um resgate dos costumes do passado. É um tipo diferente de nostalgia”, diz o comerciante Bernardo Kessler. Proprietário de um brique, ele pensa que o comprador juvenil sempre está à procura de algo que seus heróis viveram. “Os mais novos normalmente têm ídolos de décadas passadas, e muitos deles queriam ter vivido na mesma época que estes, ter as experiências de seus ídolos.
Nesses eletrônicos eles conseguem experimentar um pouco disso”, comenta sobre a preferência de seus clientes pelos anos 50 e 60. A moda também é um dos motivos para as pessoas mais novas começarem a comprar essas peças. “Muitas dessas décadas hoje são moda, atualmente o vintage é tendência, vários estilos voltaram, tal qual o rockabilly, o pin-up e o hippie”, completa. Já o dono de antiquário Edson Luiz Moita acha que seu público jovem prefere outras décadas. “Eles gostam muito da belle époque que é mais melindrosa. Alguns têm gostos diferentes, o importante é ressaltar que todos já sabem a época determinada a qual vão consumir”, afirma.
UNISINOS / PORTO ALEGRE
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ENSAIO FOTOGRテ:ICO
DETALHES DO TEMPO Mテ」os calejadas, rostos enrugados, olhares perdidos. A terceira idade deixa marcas visテュveis no corpo das pessoas. Com sensibilidade, a estudante de Jornalismo Cora Zordan observou o vai e vテゥm dos moradores da Spaan, em Porto Alegre, e captou momentos e detalhes desse momento de vida.