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UNISINOS - PORTO ALEGRE EDIÇÃO 10 - NOVEMBRO DE 2017

Lembranças de uma vida aprisionada Ex-detenta, Carolini Alves reconstruiu a vida após a saída da prisão, e é um caso raro na sociedade brasileira TEXTO: Maria Júlia Pozzobon FOTO: Fernanda Garrido

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á quem pense que a prisão é o preço que se paga pelo crime, mas a verdade é que esse preço vai muito além. A reinserção do ex-detento na sociedade tem como principal barreira o preconceito, principalmente na hora de se candidatar a uma vaga de emprego. “tive sorte de ser defendida pela minha família, que sabe o verdadeiro motivo da prisão, depois deixei a sociedade de lado e recomecei do zero”, conta Carolini Alves. Aos 31 anos ela é um caso raro no meio de muitos brasileiros que não conseguem reconstruir a vida após a saída da prisão ou não têm oportunidades no mercado de trabalho. Hoje, ela é casada com Cristiano, tem dois filhos, Ana Carolina, que completou o primeiro ano, e Gabriel, com 10, que na época em que foi julgada, tinha apenas três anos e chorava

diariamente de saudades da mãe. “Não existe lugar pior, eu riscava os dias em um calendário e eles não passavam nunca. Fazia planos para sair e recomeçar de novo como se eu estivesse nascido novamente, começar uma nova vida em outro lugar, ao lado de pessoas diferentes e do bem”, relata a ex-detenta. Apesar dos obstáculos, o índice de reincidência entre as mulheres é considerado baixo em relação ao dos homens. Elas geralmente estão relacionadas ao tráfico de drogas por causa da influência dos companheiros, como foi o caso de Carolini. “Com certeza, não desejo isso para ninguém, mas para mim foi o preço que paguei por ter me envolvido com pessoas erradas, e o custo foi alto. Senti meu coração doer de verdade e fiz muitas pessoas sofrerem com isso”, contou. Fabiana Cruz Parizzoto, psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná- UTP, pós-graduanda em psicologia clínica, já foi coordenadora na área dos recursos humanos em duas empresas multinacionais. Ela conta que patrões geralmente exigem antecedentes criminais dos funcionários que serão contratados. “Algumas empresas acreditam que o ex-detento já cumpriu sua pena na cadeia e está aberto a uma nova vida, com direito a uma ressocialização,

mas infelizmente, esse número é muito pequeno no mercado de trabalho”, contou a psicóloga. Carolini relata que no momento em que estava realmente livre, após 10 meses detida no presídio estadual de São Luiz Gonzaga e mais quatro cumprindo o regime semiaberto, estava preparada e disposta para se tornar outra pessoa e conseguir mudar a sua vida. “Vivenciei muitos fatos, mas o meu foi um grande aprendizado”, ressaltou. FAMÍLIA É ESSENCIAL Para Carol, apoio foi mais do que fundamental. Hoje ela é agente de viagens na empresa de turismo da família. Conta que sua força maior vinha do filho, na época uma criança, que não entendia a situação, mas motivava a mãe pelo simples fato de ela saber da importância que tinha na vida dele. “Ele não merecia ser criado pelo mundo ou pelos avós e sim por uma mãe. Então, quando a tristeza batia, ele vinha me visitar, me abraçava, me beijava e pedia para eu voltar logo para casa, pois ele sentia muitas saudades da mamãe”. Segundo a psicóloga Fabiana, muitos jovens relatam verdadeira realidade nas entrevistas de emprego, porque desejam sair do tráfico e lutam por um emprego com carteira

assinada. Em contrapartida, eles comentam que o que ganharão na empresa, eles tirariam em uma semana trabalhando com o tráfico. “Muitos chegam a procurar um emprego de carteira assinada para, pelo menos, provarem que todo o dinheiro que ganham, sai de alguma fonte”. A mãe de dois filhos, esposa e agente de viagens relata que perdeu o medo de tudo, apenas por estar livre. Considera que se talvez não tivesse passado pelo o que passou, não teria se tornado a mulher que é hoje. “Reconstruí uma família linda que depositou uma confiança em mim ao ponto de que hoje sou a chave principal da nossa casa. Tenho meu marido, meus dois filhos, meu trabalho e vivo imensamente feliz”, finalizou. Quem passa pelo Sistema Penitenciário Brasileiro, mesmo após ter cumprido a pena que foi estabelecida pelo Estado, está marcado para sempre pelo estigma de ser um ex-presidiário. O medo é justificável, tendo em vista que cerca de 42% de ex-penitenciários, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), voltam a praticar crimes e acabam na prisão mais uma vez. Carolini é realmente um caso raro perante a realidade brasileira, na qual muitos ainda seguem na jornada atrás de um emprego.


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EDITORIAL

As nossas prisões Desde muito cedo percebemos que vivemos presos devido à violência. Frases como “os bandidos ficam soltos e nós, inocentes, entre as grades” são corriqueiras e nem impactam mais. Essa realidade cada vez mais viva foi lembrada em nossa primeira reunião pauta do Lupa. E, ao se debruçar sobre o tema, nosso time de repórteres foi além. Traçou uma lista de outras prisões vividas nos dias de hoje e aceitou o desafio de escrever sobre elas. Além, claro, da prisão doméstica relacionada à violência, temos cárceres que fazem parte das nossas escolhas. A agente de viagens Carolini Alves, por exemplo, foi detida por tráfico, e ficou afastada da própria vida por mais de um ano. A repórter Maria Júlia revela essa história e relata como foi a regeneração de Carol por meio do emprego e do amor da família. Há também aqueles que se sentem presos em um corpo e não se identificam com o gênero que a natureza lhes deu. Também precisamos considerar que nossa própria mente pode ser inimiga, nos aprisionando em medos e ansiedade. Ou até mesmo em doença que apaga nossas lembranças e nos deixa enclausurado em um universo paralelo, como é o caso do Alzheimer. Enfim, falar de prisões, é falar sobre a vida real. Escrever e contar essas história é, para nossos oito repórteres, o primeiro passo para a libertação! Boa leitura. Anelise Zanoni

Professora orientadora

EXPEDIENTE Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Av. Luiz Manoel Gonzaga, 744, Bairro Três Figueiras - Porto Alegre/ RS. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@unisinos.br. Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: José Ivo Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente dos Cursos de Bacharelados e Tecnológicos: Paula Campagnolo. Coordenadora do Curso de Jornalismo: Debora Lapa Gadret. Lupa (Leia Unisinos Porto Alegre). REDAÇÃO – Alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso II e Jornalismo Impresso e Reportagem, do curso de Jornalismo da Unisinos Porto Alegre. Orientação: Anelise Zanoni. Projeto gráfico – Aluna Débora Vaszelewski (turma 2016/2 da disciplina de Planejamento Gráfico). ARTE – Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Diagramação: Marcelo Garcia. Impressão – UMA/RBS. Tiragem: 1.000 exemplares.

Prisioneiros no lazer Medo da violência faz famílias viverem entre grades e locais vigiados TEXTO: MARCELO VALDUGA FOTO: FELIPE ARIOLI

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insegurança nas grandes cidades não é novidade há muito tempo. Relatos de assaltos, sequestros e mortes são cada vez mais comuns no país. Com as crianças, a preocupação redobra. Os pais se obrigam a procurar lugares considerados seguros para o lazer dos filhos. Foi-se o tempo de brincar na rua e andar sem preocupação.Ou de simplesmente pegar um ônibus com segurança e ir pra casa em paz. Condomínios fechados e espaços kids são os lugares onde os pais confiam o lazer dos pequenos. Em um país como o Brasil, onde a violência tem avançado assustadoramente nas últimas décadas, as famílias cada vez mais envolvem os filhos em uma bolha onde possam se sentir seguros. Felipe Arioli, 47 anos, engenheiro eletrônico, morava em Porto Alegre até 2015. Ele e a esposa com dois filhos pequenos resolveram que era hora de mudar de cidade, em razão da insegurança. Pensaram até em morar fora do país.Optaram por Gramado. “Mesmo se tratando de Brasil, dá uma sensação de segurança muito maior que os grandes centros”, explica Felipe. Ele também conta que na sua ausência, a filha mais velha de sete anos fica com os avós ou com os pais de alguma amiga ou amigo que já tenha um vínculo de amizade. “Nós já a acostumamos desde muito pequena a ficar na casa de familiares ou de amiguinhos. Ela nunca teve problema com isso”, explica. A psicóloga Michelle Pitrez, 37 anos, pensa que a insegurança é a maior preocupação dos pais no que diz respeito ao lazer dos filhos. Em especial à classe média. “Hoje os pais buscam alternativas de ambientes seguros para conseguirem atender às expectativas da idade de seus filhos”, ressalta. O que antes era comum se ver, crianças soltas nas ruas, andando de bicicleta, jogando, correndo, dificilmente ocorre hoje. “As alternativas são as casas de festas, clubes. Ou seja, nada que seja na rua”, diz Michelle.

Para proteger filhos, pais preferem que eles brinquem em locais fechados Segundo a psicóloga, as crianças de hoje não têm noção de como era tempos atrás, quando a liberdade para o lazer era menos restrita. “As crianças não têm refêrencia quanto à autonomia, no que diz respeito a ir e vir. Estão rodeadas de cuidados e atenção. O transporte público, que antes era uma alternativa até mesmo para dar liberdade e propiciar crescimento, responsabilidade, tornou-se o maior medo dos pais quanto à

Hoje os pais buscam alternativas de ambientes seguros para conseguirem atender às expectativas da idade de seus filhos Michelle Pitrez Psicóloga

segurança. Motoristas que atendem por aplicativos, nos quais se pode acompanhar o trajeto, carona de colegas, vans e táxis são os meios de locomoção mais usados para transportar os filhos”, explica a psicóloga. Michelle ainda finaliza que “as crianças desde pequenas já são educadas a terem medo, a cuidar quando entram e saem, a desconfiar de pessoas, a não andarem sozinhas, não ficarem paradas em algum local, não reagirem a assaltos. O que antes era pouco, ou quase nem falado, hoje já tem educação preventiva em escolinhas infantis frequentadas por bebês a partir de dois anos.” Pelos depoimentos de pais e profissionais que estudam o comportamento da sociedade, o futuro não diz que isso mudará para melhor. Ao contrário, vai assustar cada vez mais.O enclausuramento se torna cada vez mais necessário em razão do medo.


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Alto índice de violência gera prisão domiciliar Condomínio em Porto Alegre trabalha na prevenção da segurança de moradores TEXTO E FOTO: Juan Gomez

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violência no Rio Grande do Sul tem aumentado cada vez mais, ano após ano. Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado, no primeiro semestre do ano passado, Porto Alegre teve um total de 359 homicídios e 17.869 roubos. Em 2017, no mesmo período, foram registrados 325 homicídios e 18.119 roubos. Embora tenha reduzido cerca de 9% o número de mortes, estes índices permanecem muito elevados, e, aliados ao aumento de assaltos, exigem resguardo cada vez maior. Por isso, a segurança tornase fundamental para os gaúchos, de forma que uma das maiores preocupações é a sensação de segurança dentro do próprio lar. Especialista na área, Carine Martins reconhece que os índices continuam altos. “Infelizmente, Porto Alegre é uma cidade considerada muito violenta, e os números comprovam. Acredito que por essas estatísticas as pessoas estão ficando cada vez mais amedrontadas e tendem a ficar presas dentro de casa”, comenta a profissional que faz parte da SSP. Carine ressalta que a Secretaria da Segurança Pública está trabalhando para promover, cada vez mais, a sensação de segurança para a população do Estado. “Estamos aumentando o efetivo policial e reforçando o policiamento ostensivo. Para que isso ocorra, desenvolvemos nossas ações com base em estudos norteados por metodologias científicas de coleta, análise e diagnóstico de dados”. O condomínio Personality, no Bairro Boa Vista, em Porto Alegre, é um de tantos outros prédios que passou a aderir à prevenção da segurança como prioridade. Um dos responsáveis por manter os moradores seguros é o porteiro Alexandre Pereira. “Aqui fazemos um trabalho de prevenção. Usamos interfone externo e abordamos todos aqueles que querem entrar no prédio e pedimos um documento. Após a identificação, intermediamos o contato com os moradores para liberar alguma entrada se for o caso”, conta.

Alexandre Pereira faz o monitoramento das câmeras do condomínio Personality, no bairro Boa Vista O porteiro de 35 anos explica que o monitoramento auxilia na observação dos arredores do edifício. “Caso haja algum problema, a gente tem que ligar para o 190. Temos uma senha de acesso para o monitoramento das câmeras do condomínio. Se algum morador pedir imagens de certo acontecimento, eu posso mostrá-las. Tudo depende do ângulo com o qual as imagens foram gravadas, pois existem coisas que as câmeras não conseguem captar, como por exemplo, uma placa de um carro”, explica. Preparação e novidades Funcionário de uma empresa de segurança, Pereira relata que a instituição não faz treinamento de defesa pessoal. “Fizeram apenas uma palestra sobre maneiras de reagir aos problemas. Fui chamado para trabalhar por causa da experiência que eu tenho na área”. Há 10 anos

trabalhando com a prevenção da segurança, ele vê que cada vez mais novos mecanismos estão aparecendo para facilitar o trabalho. “Todo ano aparece algum aparelho mais aprimorado, novas câmeras, alarmes e outros mecanismos”. A síndica do condomínio, Zayra dos Santos, 59 anos, destaca o trabalho dos funcionários responsáveis pela segurança. “Sinto-me segura dentro da minha residência. O monitoramento das câmeras e o trabalho dos porteiros são muito bem feitos. O problema está na área

Infelizmente, Porto Alegre é uma cidade considerada muito violenta, e os números comprovam Carine Martins Assessora de comunicação

externa do edifício, isso a gente não consegue ajustar”, comenta. Vizinha de Zayra, a jovem Ana Luiza Timm acredita que ainda possa ter alguma melhoria em questão de prevenção da segurança. “O acesso das pessoas que fazem tele-entregas poderia ser melhor. Outra melhoria que acho fundamental seria colocar vidros blindados na sala em que os porteiros trabalham”, declara. A estudante de Engenharia Civil na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC), 19 anos, reconhece que é bom ter câmeras na maioria dos ambientes do condomínio, mas em alguns casos ela pensa que acaba invadindo a privacidade dos moradores. “Fico desconfortável quando estou na piscina tomando banho de sol porque sei que os porteiros estão me olhando pelas câmeras. Vejo também como invasivo o fato deles saberem quem vai na minha casa, que horas saio e que horas chego”, desabafa.


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Ansiosos por uma vida saudável Estudos revelam que o Brasil é o país que mais cresce em número de pessoas com ansiedade TEXTO E FOTO: ULISSES MACHADO

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s transtornos de ansiedade são alguns dos maiores problemas da saúde mental da atualidade. De acordo com a pesquisa do Health Grove, são responsáveis por 15% da perda da vida saudável. O psiquiatra Daniel Kumpinski explica que, segundo os estudos da psiquiatria há, seis tipos de ansiedade. São elas: fobia social, fobias específicas, ansiedade generalizada, síndrome do pânico, transtorno de stress pós-traumático e transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Ela complementa com a informação de que todos esses têm peculiaridades e diferenças, mas semelhanças também. O psiquiatra afirma que, apesar de não ser regra, alguns pacientes de síndrome do pânico chegam a se isolar em casa por conta do medo que sentem. Além dessa, outras formas de aprisionamento podem existir em decorrência da doença, como o medo do paciente em ter um ataque a qualquer momento. “O paciente imagina que pode ter uma reação e isso o deixa aprisionado no próprio medo”, afirma o médico. Por último, o psiquiatra esclarece que transtornos de ansiedade podem ser desencadeados por diversos fatores, e com exceção do stress pós-traumático, não necessitam de um evento especifico para existir. A psiquiatra Fernanda Zanoto diz que as pessoas com síndrome do pânico muitas vezes por conta do preconceito, só procuram tratamento psiquiátrico como última instância devido a alguns sintomas poderem ser facilmente confundidos com outras doenças “Os primeiros procurados nesses casos são outros especialistas, primeiro pensam ser algo físico”, diz a psiquiatra. Sobre o tratamento, Fernanda elucida que, independente de qual dos tipos de ansiedade o paciente tiver, as medicações serão parecidas ou até as mesmas, não havendo especificações para cada

Com síndrome do pânico, a professora Deise prefere ficar em casa por medo de ser assaltada e sofrer violência transtorno. “O que pode mudar é que alguns pacientes precisam de uma droga que controle algum ataque, essas são para efeito imediato”. A psiquiatra também ressalta que o índice maior da iniciação da doença no Brasil é entre mulheres de 20 aos 25 anos de idade. A psicóloga Andrea Lopes afirma que o papel do psicólogo é identificar as ameaças que o paciente fala e de alguma forma ter uma estratégia para controlar essas emoções. “O paciente precisa de um grau de comprometimento para iniciar o tratamento psicológico, assim há condições de o auxílio necessário”, afirma a psicóloga. CONVIVENDO COM A DOENÇA A professora Deise Pereira sofre de um desses transtornos de ansiedade, a síndrome do pânico.

Ela reside em uma casa bastante trancafiada e afastada, aparentando um lugar feito exclusivamente para proteção. Deise comenta que são muitas situações que podem desencadear uma crise, e que algumas específicas ela evita, pois ela não tem força para enfrentar. Um exemplo de situação que ela evitou algumas vezes foi andar de carro. “Eu tinha muito medo de ser assaltada ao sair na rua com o carro, que alguém me parasse e eu não soubesse como reagir e

O paciente imagina que pode ter uma reação e isso o deixa aprisionado no próprio medo Daniel Kumpinski Psiquiatra

algo acontecesse comigo. Preferia ficar em casa”, relata a professora, que revela que por causa do medo de assalto não anda de ônibus. Participante de grupos online sobre o tema, Deise revela que a interação entre pacientes com transtornos de ansiedade, principalmente síndrome do pânico, pode ser tanto benéfica quanto maléfica, dependendo do momento do paciente. “Quando eu não estou bem e vejo que alguém no grupo com crise, eu não leio, temendo isso gerar uma em mim.” Comenta a professora, que alerta que esse tipo de interação às vezes pode causar um efeito dominó. Por outro lado, ela também vê que a empatia que pode ser gerada a partir do conhecimento dos sintomas do paciente com crise de pânico por outro paciente pode contribuir muito para diminuir os efeitos dos sintomas do relator do ataque.


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Um cárcere sem lembranças ou saída Alzheimer causa perda de memória e debilita a pessoa até torná-la refém do próprio corpo TEXTO E FOTO: Fernando Eifler

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entado na poltrona da nova casa, uma clínica geriátrica, o aposentado Luís Mazzocatto, 66 anos, pensa na vida tentando se prender às memórias das quais ainda não esqueceu. Ele é portador de Alzheimer em estágio inicial, e descobriu a doença há cerca de dois anos. Segundo ele, a busca pelo diagnóstico veio com ajuda dos familiares. “Minha família foi importante para eu entender o que está acontecendo comigo, agora posso tomar medicamento para tentar controlar o avanço e aproveitar o restante da minha lucidez”, conta Luís. Alternando momentos de consciência, o aposentado destaca o quão complicado é conviver com o Alzheimer, sabendo que seus momentos de lucidez tendem a se tornar cada vez mais difíceis. “É assustador. Por mais preparado que eu pense estar, é impossível alguém se preparar para perder as memórias de uma vida”, lamenta. Seu filho, Hélio Mazzocatto, comenta que a rotina com o pai é complicada, pois mesmo a doença ainda não estando em estado avançado, os efeitos da perda de memória a curto prazo são igualmente perigosos. “Aconteceu uma vez de eu chegar para visitar meu pai, e vê-lo dormindo sentado na sala, e um cheiro de queimado vindo da cozinha, ele tinha esquecido uma panela no fogão, e isso podia ter posto fogo na casa”, relata. Ele ainda revela que esse fato o fez colocar seu pai em uma clínica geriátrica, pois ele é viúvo, morava sozinho e estava colocando a própria vida em risco, devido à doença. “Nos primeiros meses foi difícil, pois ele não aceitava ajuda e não queria ficar em uma clínica. Mas, aos poucos, foi se adaptando ao local e às cuidadoras, e hoje já se sente bem lá”, comenta Hélio.

dos 65 anos. É uma doença neurodegenerativa que afeta, principalmente, a parte cognitiva, causando a morte dos neurônios e comprometendo progressivamente a memória. Não existe cura, apenas medicamentos com capacidade de estabilizar temporariamente a progressão dos sintomas da doença, resultando em uma melhor qualidade de vida para os pacientes, ao menos por um período. Os primeiros sintomas do Alzheimer normalmente são notados pelos familiares do paciente, que costuma ter dificuldade para lembrar de informações recentes. Essa é a primeira fase da doença, e a mais difícil de se diagnosticar, pois muitas vezes, a perda de memória recente, causada pelo início da doença, é confundida com o simples fato de envelhecer. As principais características dessa etapa, além da dificuldade de memorizar fatos recentes, são: lidar com tarefas que exijam um pouco mais de complexidade, como controlar as próprias finanças e tomar decisões importantes.

Por mais preparado que eu pense estar, é impossível alguém se preparar para perder as memórias de uma vida Luís Mazzocatto Aposentado É nessa etapa, no primeiro terço da doença, que, segundo o neurogeriatra Matheus Roriz, o paciente costuma recusar ajuda. Tendo também dificuldades alimentares, passando a perder peso, mas sem afetar a parte motora. “No início, a doença afeta apenas a memória. Portanto, ela ainda consegue raciocinar e caminhar”, comenta o especialista. A segunda fase da enfermidade é quando a independência do paciente começa a ficar comprometida, pois

os problemas de memória pioram, e o raciocínio é afetado. O enfermo passa a ter alguma dificuldade de orientação no tempo e espaço, a reconhecer pessoas próximas, e a se alimentar adequadamente. Também começa a sofrer com mudanças de comportamento, se tornando mais inquieto. Com alterações no humor, tem ansiedade, irritação e, muitas vezes, tristeza e depressão. No último terço, a coordenação motora da pessoa começa a ser afetada, chegando ao ponto de a independência do paciente ficar totalmente comprometida, passando a necessitar de cuidados durante toda a sua rotina. Nela, a pessoa perde a capacidade de falar e de se alimentar por conta própria, passa a ter muitas dificuldades para se locomover até chegar ao ponto em que deixa de andar, e fica com a respiração comprometida. A doença segue avançando até levar o paciente à morte. Os últimos momentos são deitados em uma cama, totalmente dependente de ajuda.

Uma doença sem cura Alzheimer é um tipo de demência que, em geral, atinge pessoas acima

Doença acaba gerando forte carga emocional quando o paciente necessita de cuidados dos familiares


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Clausura dentro da mente A claustrofobia pode ter várias causas e impede a realização de tarefas cotidianas

TEXTO E FOTO: Felipe Vicente

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ãos suadas, dor no estômago e tremedeira são algumas das manifestações de quem convive com uma fobia. Uma das mais comuns no mundo é a claustrofobia, que é o medo de estar em ambientes fechados, pequenos ou superlotadas. Caracterizada como um tipo de distúrbio de ansiedade, a fobia traz ao indivíduo a sensação de estar aprisionado em determinadas situações ou objetos. É exatamente assim que a estudante de Processos Gerenciais Pâmela Cristina de Moura Carvalho se sente. A jovem de 27 anos sofre de claustrofobia e convive com o pavor desde muito pequena. “Não lembro ao certo quando notei que tinha esse medo. Com o tempo fui entendendo o desconforto que sinto ao entrar em locais muito pequenos. E não é somente um desconforto, é uma sensação de impotência”, conta. Ela relata que é muito difícil a convivência quando se tem esse tipo de medo e que não vai a determinados lugares por receio e insegurança. Até mesmo no ambiente de trabalho Pâmela evita utilizar elevadores, subindo e descendo os andares por meio das escadas. Segundo a psicóloga Márcia Pettenon, que estuda as causas e consequências do medo, a fobia está ligada a um transtorno maior. “Ela aparece para acompanhar a ansiedade, o estresse ou a depressão. A claustrofobia influenciará na insegurança, nas indecisões e na dependência de uma pessoa que sofre algum desses distúrbios”, revela.

amenizar sensações de pavor. Ela ainda está na primeira fase, participando de sessões semanalmente para, então, descobrir qual o motivo que a levou a adquirir essa fobia. Embora pouco utilizada, a técnica da hipnose ainda é indicada como terapia em diversos tratamentos e em processos de pré-cirurgia. Segundo Leonora Almada, psicóloga e hipnoterapeuta, o método é aplicado em duas etapas: “A primeira fase é onde o paciente demonstra as sensações que têm como se estivesse num local fechado. Na segunda etapa, revisitamos as memórias dos pacientes a fim de compreender quais experiências vividas anteriormente por eles influenciaram no medo”, explica. Além disso, Leonora explica que a fobia pode ser ocasionada também por um momento de felicidade. Em situações de muita alegria, o corpo humano é induzido à sensações que remetem ao nervosismo, como o suor, a tremedeira e as lágrimas. É possível que essas sensações apareçam em uma pessoa dentro de um ambiente fechado, gerando consequências futuras. “Nosso cérebro capta todo o contexto que estamos inseridos.

A claustrofobia influenciará na insegurança, nas indecisões e na dependência de uma pessoa que sofre algum desses distúrbios Márcia Pettenon Psicóloga Se estou num elevador, recebo uma notícia feliz e fico eufórica, pode ser que na próxima vez que eu esteja em um elevador, eu sinta a mesma euforia, e meu cérebro pode entender como um sentimento de pavor. Esse tipo de situação é mais comum do que pensamos”, revela. Outro fator a ser considerado no diagnóstico da claustrofobia é a hereditariedade. De acordo com pesquisas, as causas também podem ser genéticas, sendo que a maioria dos claustrofóbicos têm parentes com os mesmos problemas. O tratamento da fobia pela hipnose vai de um ano a seis meses.

“Usamos fotos e emuladores para ajudar. É muito comum que os claustrofóbicos nem queiram imaginar essas coisas, eles têm muita dificuldade para isso”, comenta Leonora. Mais tarde, quando o paciente está preparado, o mesmo é levado para o elevador, acompanhado pelo profissional, de maneira progressiva e repetitiva. Ele acaba enfrentando o elevador e automatizando o costume de utilizá-lo. Contudo, a exposição do paciente deve ser constante. Os comportamentos que forem evitados pelo paciente mantêm a presença dos sintomas fóbicos. “Se o claustrofóbico se tratou, extinguiu o medo, mas ficou anos sem entrar em um elevador, poderá ter uma recaída quando tiver que usar um. É um exercício contínuo e é necessário conviver com o medo que foi tratado, ou tudo pode voltar”, conclui a hipnoterapeuta. O tratamento também pode ser buscado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O serviço tem atendimento psiquiátrico e psicológico contra a claustrofobia e as demais fobias, em hospitais públicos, postos de saúde e ambulatórios.

CURA PELA HIPNOSE Para Márcia, traumas da infância ou adolescência também são grandes condicionadores de fobias e medos. “Quando criança, somos muito mais observadores e nossos sentimentos e emoções nos atingem de maneira extrema. Se uma criança viveu alguma situação traumática em ambientes como elevadores, aviões ou até mesmo se precisou passar por tomografia computadorizada, poderá refletir na vida adulta”, conta. Como tratamento, Pâmela encontrou na hipnose uma forma de ajudá -la na percepção do medo e também

Pâmela encontrou na hipnose uma maneira de perceber o medo e amenizar os momentos de pânico


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Lesão no futebol: a pior das suspensões Aumento de peso e perda de visibilidade são alguns problemas dos jogadores contundidos em jogos TEXTO: William Szulczewski FOTO: LUCAS UEBEL / GRÊMIO FBPA

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oi muito rápido. As coisas aconteceram muito rápido”. Essas foram as primeiras palavras do atacante Jael Ferreira Vieira com a camisa do Grêmio Porto Alegrense. Em entrevista coletiva, concedida para a imprensa gaúcha dia 23 de janeiro de 2017, o jogador falava da negociação com o clube que culminou na sua contratação. Mal sabia ele que aquele discurso também poderia ser usado meses depois para descrever sua trajetória no time: foram apenas três partidas antes da grave lesão que o afastou dos campos. Jael é apenas um dos tantos atletas que acaba tendo a carreira prejudicada por problemas de saúde causados pelo próprio exercício da profissão. O atacante de 28 anos estava ansioso para atuar pelo Grêmio. Seria uma oportunidade única na carreira. Ele teria a chance de disputar um torneio internacional com o elenco do time. No jogo contra o Passo Fundo, em fevereiro, o atleta sofreu uma torção de joelho, que resultou no rompimento do ligamento cruzado. O atacante passou por uma cirurgia e ficou seis meses e 20 dias afastado. Em 2014, quando atuava pelo Joinville, um problema no tornozelo também causou prejuízos. “Essa lesão era para ter sido recuperada em quatro meses, mas peguei uma infecção hospitalar”, relembra, destacando que quase perdeu o pé na oportunidade. O atacante enfatiza que as lesões trazem diversos danos profissionais como a falta de ritmo de jogo, o aumento de peso e a perda de visibilidade. Nesta pausa forçada, a situação se agrava quando o atleta é a única renda dentro de casa. No caso do jogador, a família ficou triste, mas ele buscou passar tranquilidade. No dia 17 de setembro, após mais de meio ano, Jael voltou a atuar pelo clube gaúcho. “Fui para o INSS”, diz ex-goleiro Se os problemas físicos, pessoais e profissionais já afetam os jogadores no atual cenário do futebol – que tem uma considerável visibilidade e muito investimento – imagine aqueles atletas

Atacante do Grêmio, Jael ficou mais de seis meses afastado devido a um trauma no ligamento cruzado que atuavam antes dos anos 90, quando o futebol não envolvia tanto dinheiro e que a tecnologia não permitia recuperações tão rápidas. O ex-goleiro Ademir Maria, 61 anos, passou por diversos clubes do futebol nacional incluindo a dupla Grenal. Durante essas passagens, as lesões de longa duração marcaram trajetória. Ademir fraturou, primeiramente, o punho direito. A lesão ocorreu quando o atleta treinava com a equipe juvenil do Internacional. Mesmo machucado, o ex-jogador atuou com o punho quebrado. “Depois de meses jogando

Essa lesão era para ter sido recuperada em quatro meses, mas peguei uma infecção hospitalar Jael Jogador do Grêmio

assim, tive de realizar uma cirurgia especial”, destaca o ex-arqueiro que ficou afastado por um ano e meio. No entanto, não foi a única vez que Ademir precisou se afastar por mais de um ano. Quando atuava no Santos, o ex-atleta passou por um dos momentos mais difíceis da carreira: uma fratura na tíbia o deixou dois anos sem jogar. A avaria levou o goleiro a tomar atitudes drásticas. “Fui para o INSS. Na época, tive muita dificuldade financeira, tive que vender apartamento e trocar de carro”, lembra. Felizmente, as adversidades passaram e hoje Ademir atua como advogado. Entretanto, os momentos de apreensão sempre ficarão marcados na memória dele. Tipos de DANOS A ocorrência de uma contusão é imprevisível no futebol. No entanto, há formas de evitá-la. Um dos métodos que atua como uma espécie de precaução é a preparação física. O ex-preparador da Seleção Brasileira Paulo Paixão destaca que há dois tipos

de traumas: musculares e articulares. Esse último pode até afastar o jogador por um longo período. Conforme ele, os mais frequentes entre os jogadores são os do joelho (cruzado, menisco e colateral), tornozelo e púbis. O do cruzado, que atingiu Jael, é um dos mais complicados. A volta do jogador pode variar de seis a nove meses. No entanto, todos os problemas físicos dependem de fatores como a musculatura e o histórico do atleta. O profissional explica que a lesão do menisco pode fazer com que o jogador volte em, no mínimo, 30 dias. O mesmo período é medido para os danos no tornozelo. A pisadura no colateral, dependendo do local atingido, poderá fazer o atleta retornar em 40 dias. Paixão ainda ressalta que os traumatismos no púbis podem levar o jogador para a mesa cirúrgica.“Neste caso, no mínimo quatro meses para voltar”, salienta. Antes de chegar à preparação física, o jogador passa pela fisioterapia. Na recuperação, é necessário levar em conta o histórico de cada atleta.


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EDIÇÃO 10 - NOVEMBRO DE 2017

Mudanças para se libertar Leona e Mário passaram por transformações para chegarem ao gênero desejado ARQUIVO PESSOAL

TEXTO: FERNANDA GARRIDO

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eona Hoffmann Menezes, 19 anos, de Porto Alegre, se fantasiava de drag queen quando tinha 15 anos. Com o tempo, ela percebendo que não era apenas um menino gay, mas uma mulher transgênero que, com 17 anos, se assumiu. “Foi libertador, eu estava me sentindo presa, sem poder me expressar”, confessa a maquiadora profissional que hoje está desempregada. Ela conta que tanto a família quanto os amigos reagiram bem com a mudança e em especial sua mãe, que sempre lhe deu apoio. Alguns amigos ainda têm dificuldade e a chamam pelo seu nome de batismo, que é Leon. Mas isso não a aborrece, pois entende que para eles é uma situação nova e com o tempo eles vão se acostumando. Antes de se assumir, Leona conta que usar roupas masculinas a incomodava muito, pois não se sentia

Mário, que nasceu como Maria, passou por masectomia masculinizadora FERNANDA GARRIDO GARRIDO FERNANDA

Foi libertador, eu estava me sentindo presa, sem poder me expressar Leona Hoffmann Menezes Maquiadora ela mesma. “Sempre quis ter seios”, declara. Porém, em relação ao órgão genital, ela não tem rejeição e não pensa em fazer cirurgia agora. Desde maio deste ano ela deu início ao tratamento hormonal com um endocrinologista particular e hoje faz parte do Programa de Transtorno de Identidade de Gênero (PROTIG) no Hospital de Clínicas da Capital. Futuramente, pensa em ir para a fila de cirurgia. Ela não se lembra de ter passado por episódios de preconceito, mas sabe que existe e que as pessoas o têm. Lamenta por não poder mudar a cabeça delas, mas tenta mostrar que ela também é um ser humano. Leona não se chateia com as pessoas a olhando com cara feia, pois se considera alguém muito decidida e emponderada em relação a essa questão. O carioca Mário Carvalho Rangel

Com 15 anos, Leona se vestia de drag queen e, aos 17, descobriu que era trans se assumiu aos 14 anos. Esperou um ano para poder contar. Antes, pesquisou, conversou com as pessoas, com a psicóloga, até que se sentiu seguro e contou. Mas não foi algo de “supetão”. Foi um processo longo e houve muita

paciência com a família: Primeiro, quando era Maria, se assumiu lésbica para os pais e depois se assumiu um homem trans. Não houve impacto neles e eles o respeitaram sempre. “Me senti mais feliz”, afirma.

Acreditava que algo lhe amolava. No entanto, não entendia o que era, mas se sentia envergonhado ao sair, se achava horrível o tempo inteiro, se sentia constrangido com o próprio corpo e não tinha amor próprio. Foi tentando descobrir o que perturbava, até descobrir a transexualidade, que fez sentido para ele. Entendeu que havia uma solução para o problema e para a profunda insatisfação com ele mesmo. Assim como Leona, Mário também não se recorda de ter sofrido preconceito. Porém, se lembra de uma situação que o deixou muito triste, na qual uma travesti de Portugal tinha sido espancada, estuprada e torturada até a morte e alguns de seus colegas viram e notícia e riram do acontecimento. Mário agradece por ter uma família e amigos que o amam e o respeitam, fazendo com que ele se sinta forte para lidar com essas coisas. Ele faz acompanhamento psicológico desde os 13 anos e esperou alcançar a maior idade para dar início à transição com endocrinologista. Após seis meses de tratamento, realizou a cirurgia de mastectomia masculinizadora, que é um procedimento que elimina os seios. Priscila Leote, atual coordenadora da ONG Outra Visão LGBT, desenvolve um projeto sobre construção de cidadania, identidade e prevenção junto à população LGBT. Realiza essa tarefa há 15 anos, com organização de movimento social e eventos de visibilidade. Por meio da sua página no Facebook, ela tira as dúvidas e faz encaminhamento de toda ordem, como jurídico, violação de direitos, saúde e para a capacitação de maneira geral. Para Priscila, o Brasil é um país que mais mata trans, travestis, trangênero no mundo e é um tema muito visível, mas pouco falado com a devida seriedade. “A transexualidade tem que ser debatida, levando em conta as questões de saúde, inclusão de trabalho, preconceito, invisibilidade para além da sexualidade. Hoje, com os retrocessos e fundamentalismo religioso, falar sobre isso é vital”, conclui.


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