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Opinião
Prof. Doutor Nuno Montenegro Ginecologista/obstetra
Doenças ginecológicas na adolescência não estavam devidamente aprofundadas em Portugal
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Decorrido mais de um ano desde o início do 4teen, o balanço é francamente positivo. O objectivo deste projecto, realizado em parceria com a Schering-Plough, actual Merck Sharp & Dohme (MSD), foi juntar os temas mais pertinentes que dizem respeito à Ginecologia na Adolescência. Face ao enquadramento legal português e à premência consubstanciada no desafio, achámos bastante importante concentrar as atenções particularmente nesta faixa etária, no que diz respeito ao exame ginecológico. O desafio abrange sobretudo os pediatras, uma vez que são eles que têm a seu cargo o cuidado – em termos de prevenção e de tratamento – prestado em torno das doenças ginecológicas. Na literatura disponível, verificámos que, de facto, todas estas variantes relacionadas com a Ginecologia da Adolescência não estavam devidamente aprofundadas. Esta iniciativa foi muito bem-acolhida pelos profissionais do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de S. João, que, desde o primeiro momento, acederam a colaborar connosco. Volvidos estes meses, foi possível constatar, com toda a firmeza, que o périplo realizado um pouco por todo o País mereceu uma atenção particular por parte dos profissionais de saúde, dado que se registou, em termos globais, uma adesão bastante elevada. Foram, assim, envolvidos médicos de Medicina Geral e Familiar, pediatras, ginecologistas, obstetras e, entre outros, enfermeiros. É a prova de que o trabalho idealizado e efectuado mereceu, com toda a certeza, o nosso esforço.
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Recordo que o primeiro curso decorreu em Novembro de 2008. Desde então, percorremos várias capitais de distrito e o objectivo é completar este circuito, de forma a abranger o maior número possível de profissionais. É nesta perspectiva que 2010 se afigura como um ano de expectativa. A disponibilidade e o empenho dos especialistas estão renovados e, neste contexto, há a noção de que estamos a ocupar parte dos nossos fins-de-semana. Não damos o nosso tempo por perdido – bem antes pelo contrário. A formação é um aspecto que nenhum de nós deve descurar e, sendo nós parte activa desse processo, não podemos deixar de evidenciar a nossa gratificação por todos os que têm ido ao encontro.
«Ginecologia na Adolescência era tida como um parente pobre da especialidade em geral» Podemos considerar que, até há pouco tempo, a Ginecologia na Adolescência era tida como um parente pobre da especialidade em geral. No entanto, é um assunto que tem de ser abordado de modo peculiar, dado que há enquadramentos bastante distintos. O desenvolvimento, a maturação e – numa fase posterior – o envelhecimento são, aliás, factores com aspectos muito particulares de abordagem. Isto em termos de diagnóstico, da prevenção, do tratamento e até do impacto em termos da qualidade de vida.
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Em relação às temáticas tratadas nos cursos, procuramos sempre a actualização permanente e a focagem em matérias que sejam de todo úteis na prática das diferentes especialidades. Os profissionais de Medicina Geral e Familiar, por exemplo, constituem um dos grupos com maior interesse no acompanhamento destes assuntos, pois, muitas vezes, são eles que têm o primeiro contacto com a adolescente. Esta é uma abordagem pela qual vale a pena reflectirmos – sobretudo, no que toca ao recurso dos pais aos serviços de urgência dos hospitais. Quanto mais os profissionais de saúde estiverem inteirados das temáticas, mais aptos estão a resolver as situações nos centros de saúde e nas clínicas. E, nessa perspectiva, os cursos acabam também por ser uma mais-valia. A Medicina está em constante evolução. A prova viva disso mesmo é que, ao longo dos últimos meses, houve alterações que procurámos fazer, no sentido de actualizar os conteúdos à luz dos conhecimentos actuais. Não só em termos da abordagem da doença em si, mas também das terapêuticas instituídas.
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Dr.ª Ana Rosa Costa Ginecologista/obstetra
Familiarizar os profissionais de saúde com a Ginecologia
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Na elaboração do programa dos cursos do 4teen, tivemos a preocupação de abordar patologias mais frequentes que atingem a mulher – sobretudo as adolescentes. Não podemos esquecer que quando as crianças são vistas pelos pediatras têm as suas consultas de desenvolvimento normais, por assim dizer. No entanto, há uma faixa etária – que abrange as adolescentes, até se tornarem sexualmente activas – que, aquando do momento em que procuram um especialista, denotam alguma falta de experiência em relação à avaliação clínica que lhes é feita e que também é partilhada muitas vezes pelo profissional de saúde. Neste sentido, considerámos pertinente fazer um apanhado geral das situações mais frequentes nessas idades, até porque muitos clínicos não estão muito à-vontade no que toca à abordagem destes temas. A ideia passou por elaborarmos um programa que focasse, de forma prática, algumas das complicações que podem surgir no dia-a-dia – quer aos ginecologistas, aos clínicos gerais ou outros profissionais de saúde que integram os serviços de urgência e que não estão, de certa forma, muito familiarizados com a Ginecologia na Adolescência. Constatámos que, até aqui, era muito frequente as jovens serem vistas pelos pediatras e, posteriormente, serem reencaminhadas para o ginecologista. Em muitas situações, a utente tinha de sujeitar-se a este percurso, adiando assim a resolução do seu problema em concreto. A ideia é que a complicação seja de imediato resolvida no primeiro contacto com a doente, aliando o diagnóstico ao tratamento num só acto.
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Criar centros de apoio na área da Ginecologia da Adolescência Decorrido mais de um ano após o arranque do 4teen, julgo que o balanço é extremamente positivo. Trata-se, de facto, de cursos que interessam sobretudo aos clínicos gerais e aos pediatras mas também a muitos ginecologistas. Esta acção faz ainda mais sentido se pensarmos que só muito recentemente é que foi formalizada a observação de utentes até aos 18 anos, em Pediatria. Recordo que este curso foi realizado pela primeira vez a pedido do Hospital de S. João, no Porto. Dado o êxito da iniciativa, achámos então útil alargar esta experiência, fazendo chegar a outros pontos do País. Este formato itinerante tem essa vantagem, favorecendo a discussão em torno das temáticas apresentadas. Curiosamente, temos constatado que a adesão é maior nos locais geograficamente mais pequenos ou remotos – muito, talvez, pela maior falta de informação e de experiência que existe fora dos grandes centros urbanos. Na área da Ginecologia da Adolescência, julgo que seria pertinente avançar-se com a criação de centros de apoio. Esta é uma área bastante específica e, como tal, é preciso tempo, dedicação e preparação suficientes. Deveríamos pensar em espaços próprios vocacionados para um grupo etário com especificidades próprias e que, muitas vezes, julga que os problemas só atingem os outros. Na prática, esta medida poderia encorajar a diminuição do número de gravidezes indesejadas na adolescência. Como é sabido, aliás,
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Portugal é um dos países onde esta realidade é mais evidente. Importa, por isso, alertar as jovens adolescentes para os riscos inerentes a uma actividade sexual precoce – nomeadamente, em termos das doenças sexualmente transmissíveis. Apesar da educação sexual estar em curso nas escolas – e tendo em conta a falta de preparação de muitos pais –, os especialistas têm, neste ponto, uma importante palavra a dizer. Nesse sentido, o 4teen continuará a desbravar caminhos durante este ano de 2010, mantendo o essencial do programa desenhado para os cursos. A nível da infecção pelo HPV e da contracepção, por exemplo, esperam-se alguns conteúdos novos, na medida em que há uma actualização permanente nestas matérias.
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Prof. Doutor Jorge Beires Ginecologista/obstetra
As necessidades especiais das adolescentes
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As adolescentes constituem um grupo diversificado e, ao mesmo tempo, específico – por razões fisiológicas e comportamentais. Têm patologias e necessidades especiais, para as quais é preciso que os profissionais de saúde estejam preparados. A taxa de gravidez na adolescência é elevada e é de risco para a mãe e para a criança. A taxa de interrupção da gravidez também é elevada. O uso dos diferentes métodos contraceptivos de forma inadequada contribui para o insucesso destes – nitidamente maior nas adolescentes do que nas mulheres mais idosas. Para além disso, as adolescentes estão em maior risco de contrair infecções de transmissão sexual. O primeiro exame ginecológico pode ser traumatizante. Atendendo a esta realidade e dificuldades, surgiu a ideia da realização do primeiro curso, no Hospital de São João, destinado, sobretudo, aos pediatras (que, agora, terão de atender as adolescentes até aos 18 anos). A grande adesão a este primeiro curso confirmou a necessidade de actualização nestes temas por parte dos profissionais de saúde (pediatras, clínicos gerais, ginecologistas, enfermeiros), que lidam diariamente com adolescentes – e deu-nos a ideia de realizar o 4teen levando esta informação, de Norte a Sul do País. Ao fim deste primeiro ano e de sete cursos realizados, o balanço é altamente positivo.