Revista Petalas

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CASCAVEL, 9 DE SETEMBRO DE 2008 - ANO I - Nยบ I - R$ 6,50


editorial

Flores e Poesia N

o dicionário encontra-se a seguinte definição para flor: órgão reprodutor de uma planta, formando um conjunto de cores vivas e brilhantes e, por vezes, de odor agradável. 2. Coisa ou pessoa bela. 3. A primavera da vida: Ela está na flor da idade. 4. Objeto ou ornato que representa uma flor.

Cem anos de Perdão Clarisse Lispector

crônica

Toda dia o mesmo trajeto, o mesmo pensamento, a mesma atitude. No percurso de casa até o trabalho uma rosa era deixada no meio do caminho em um portão de uma casa onde morava a mais bela moça que já havia conhecido. Ela sabia quem deixava aquela linda flor. Agradecia, mas não da maneira esperada. Seu abraço e seus lábios

Quando chegava no meio do caminho já não estava mais sozinho, a linda moça o acompanhava. Agora além de juntos no amor estavam juntos no trabalho. Tudo ia bem. As flores ainda eram entregues, mas não com a mesma freqüência. Às vezes a cada dois dias ou a cada semana. As flores que eram roubadas durante o caminho já não eram mais encontradas. E com a falta de flores, o desentendimento teimava em

dizendo “obrigado” não chegavam perto do que gostaria de ouvir. Uma tarde de sol, uma música, uma conversa, era normal se... Tempo depois isso não se transforma-se em uma paixão. O que mais uma moça iria querer do que uma pessoa que a ama-se, e flores toda manhã em seu portão... Nada, a não ser que essa pessoa estive-se ao seu lado. E foi o que aconteceu. Melhor do que deixar flores no portão era entregá-las pessoalmente. Virou rotina.

aparecer. Para quem nunca brigou, a hora chegou e foi no mesmo caminho que o amor começou que ele terminou. Apenas com um diferencial, quando havia amor o caminho era colorido de rosas, agora sem amor o caminho preto e branco ficou. Ano Novo. Dois anos de namoro não completados. Isso não vai fazer diferença. Está chovendo. É preciso ir até aquela casa que não é mais bem-vindo e deixar uma rosa. Anda de um lado

para o outro e não encontra uma flor. Sim, uma rosa branca para deixar no portão da casa da bela moça. “Já são 23h45 não vou conseguir!”. Em meio à rua anda sozinho. Somente a chuva lhe faz companhia. Desce em uma rua que não é estranha. Tem calafrios. Olha em frente, uma rosa. A rosa mais linda já vista. Vai ao seu encontro. Com seus espinhos acaba se ferindo. Pega-a com cuidado como se estivesse carregando uma criança. Assim como as pessoas, as rosas também têm sentimentos. Quando cai em si percebe que a rua que vaga sozinho é o caminho que todos os dias percorria. Sai correndo como se pessoas o estivessem seguindo. Falta um minuto para o Ano Novo. Parado em frente a casa dela, gostaria que essa rosa fosse recebida em suas mãos. Mas do que adianta querer e não poder. Mais uma vez o portão enfeitado. Desta vez com uma rosa branca. Vira as costas e sai. Ouve uma voz, a voz de um anjo. Era ela, dizendo que estava à espera da rosa, e tinha certeza que estaria ali. “Pena que o amor já não existe mais, como as flores murcham, o amor também acaba, mas não se preocupe com as flores que me deu, todas estão guardadas em meu caderno, assim como o amor que me deu está guardado em meu coração.” Para erros há perdão e para flores murchas não há água que as faça viver? Acredita que não. Três anos depois, ainda existe a chama do amor, e por esse motivo, passa no mesmo horário todos os dias na mesma casa para deixar a flor. Para que todos os seus erros e mancadas sejam esquecidos como as flores dentro do caderno.

Carinho ................................. pág. 07 Surpresa vira frustração ....... pág. 08 À mesa .................................. pág. 09 Diversificação ............... pág. 10 a 15 Impulso ......................... pág. 16 e 17

Dedicação ..................... pág. 18 e Orquídeas ..................... pág. 20 e Artesanato .................... pág. 22 e Perfumaria .................... pág. 24 e Receitas ................................ pág.

Aline Cristina

GIOVANA DANQUIELI E VANELIRTE MORETTO

Diogo Caleffi

5. Beleza, encanto. (Michaelis). E para aqueles que precisam de inspiração para escrever poemas ou músicas, quais significados possuem esta frágil planta? “Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores”, William Shakespeare. Música, poesia, contos, livros. Elas sempre são lembradas. Flores remetem a encontros, tristezas, alegrias, decepções. Elas contam histórias em suas pétalas. A linguagem das flores é universal. Titãs nos “deram” Flores, contando a história de alguém que acorda em meio a elas. “As flores de plástico não morrem” diz a música. Ana Carolina canta que toda mulher gosta de rosas. As flores se encaixam em tudo. Na música brasileira encontramos inúmeros exemplos de citações sobre elas. Em vários tons e vozes descobrimos flores e rosas sendo rimadas. Elas não estão entre as rimas mais usadas, entretanto, fazem sucesso. É difícil não ouvir na programação das rádios alguma música que remeta a este delicado objeto de desejo feminino. Há versos que inspiram até aqueles que não possuem o romantismo à “flor da pele”. Há canções que deixam os sentimentos por conta das flores. Sabemos que as plantas têm detectores sensíveis a ponto de parecerem sentimentos humanos. “As flores do jardim de nossa

casa” cantada por Roberto Carlos diz, “As flores do jardim da nossa casa morreram todas de saudade de você e as rosas que cobriam nossa estrada perderam a vontade de viver... lá não existem flores tudo morreu pra mim”. A referência de saudade e morte traduz os sentimentos de quem compôs a canção. Já Zelia Duncan na música “Flores”, traz situações em que elas estão presentes, “Flores para quando tu chegares, flores para quando tu chorares, uma dinâmica botânica de cores para tu dispores pela casa”. E se elas estão presentes em tantos momentos do ser humano, por que não lhe dedicar uma publicação. “Pétalas” é uma revista laboratório, da disciplina de Técnicas de Reportagem e Entrevista II, ministrada por Jeferson Popiu, da Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Cascavel (Univel). A idéia de abordar este tema surgiu no dia em que foi proposta a elaboração da revista. Durante 40 dias o grupo do 2° ano jornalismo, formado por Aline Cristina, Giovana Danquieli, Iane Cruz, Luana Rossa, Pâmela Gurtat e Vanelirte Moretto, dedicou-se a produzir o trabalho até então sem nome. As pautas que iríamos produzir sobre o assunto eram as únicas certezas. Neste período buscamos fontes, fizemos pesquisas, entrevistas, sessões de fotos, reuniões para definir o formato, layout, fontes, anúncios, etc.

Rosa solitária

Giovana Danquieli

“No meio do meu silêncio e do silêncio da rosa, havia o meu desejo de possuí-la como coisa só minha. Eu queria poder pegar nela. Queria cheirá-la até sentir a vista escura de tanta tonteira de perfume.”

ÍNDICE Pétalas Revista laboratório da disciplina de Técnicas de Reportagem e Entrevista II Professor orientador: Jeferson Popiu Edição e revisão: Vanelirte Moretto

Reportagem: Aline Cristina, Giovana Danquieli, Iane Cruz, Luana Rossa, Pâmela Gurtat e Vanelirte Moretto Fotos: Aline Cristina, Pâmela Gurtat, Giovana Danquieli, Diogo Caleffi, Divulgação Diagramação: Aline Cristina, Giovana Danquieli, Iane Cruz, Luana Rossa, Pâmela Gurtat e Vanelirte Moretto e colaboração de Cidinei Pieniak

2 Pétalas - Setembro/2008

Editorial ................................. pág. 02 Crônica .................................. pág. 03 Prazer inexplicável ........ pág. 04 e 05 Entrevista .............................. pág. 06

Setembro/2008 - Pétalas 3

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prazer inexplicável

história

Giovana Danquieli

inverno as impedem de florescer. Durante todo ano haverá novas rosas desabrochando em jardins.

Giovana Danquieli

Que me permitam as flores falar sobre elas... Belas e formosas, exalando odor suave e delicado, encantando homens, mulheres, crianças... Trazendo beleza onde quer que estejam. O prazer em ganhar flores é especial, algo que nenhuma mulher explica, assim como aquele que a presenteia que ao ver o sorriso sincero e o agradecimento pelo singelo e doce mimo permite à flor cumprir seu papel. Flores existem em todos os amores, em todos os sabores, estações, cores. Há flores para todas as temporadas, nem mesmo o frio do

Belas e formosas, exalam perfume suave e encantam a todos

Todos gostam de flores. Floristas as fabricam; jardineiros as cultivam; floricultoras as vendem; homens as dão; mulheres as recebem. O que alegra o dia é quando sem a menor espera, lhe batem à porta e dizem: “flores para você!”. As flores servem para todas as datas especiais. Seja Dia das Mães, da Mulher, da Professora, da Sogra, qualquer data festiva... Todo dia é dia de brindar com flores. A tradição contempla as mulheres com este presente. Embora em tempos modernos onde tudo vale, é difícil encontrar homens que ganhem flores ou que gostem de recebê-las.

BIOLOGIA

Natureza garante reprodução Giovana Danquieli Sabemos que as flores servem para embelezar e encantar os seres humanos e os espaços. Mas, na natureza, qual é sua função? Qual é o real motivo para elas existirem? Na natureza as flores têm função de garantir a reprodução. Elas precisam do seu charme e encanto para cumprir seu papel. A principal função do perfume é atrair os insetos que vão ajudar na fecundação da planta. Na definição da botânica, a flor é um conjunto de folhas adaptadas à reprodução sexuada. Existe somente nos

fanerógamos (plantas que tem os órgãos sexuais aparentes e que produzem flores e sementes) ou nos espermatófitos (divisão do reino vegetal que compreende todas as plantas que produzem sementes). Ao analisar a flor como um órgão, verifica-se que é dividida em várias partes, iniciando pelo receptáculo, pedúnculo, perianto (cálice e coroa), corola, androceu (órgão masculino de reprodução formado por: filete, conectivo e antera), gineceu (órgão feminino formado de carpelos chamados de ovário, estilete e estigma). As plantas podem ser dividas de

CURIOSIDADES A antera é uma bolsa onde se armazenam os grãos de pólen. A função das pétalas é simplesmente atrair os insetos para que estes ajudem na polinização de outras plantas. Dentro do ovário é que ficam os óvulos, os quais contêm o gameta feminino, chamado de oosfera. A disposição das flores no vegetal é chamada de inflorência, pode ser encontrada em cacho, espiga, umbela ou capítulo. 4 Pétalas - Setembro/2008

acordo com características especificas: – Monóica: possui flores com órgãos masculinos e femininos no mesmo pé, em flores separadas. – Dióica: possui um pé para cada órgão reprodutor. – Hermafrodita ou monoclina: possui o gineceu e o androceu na mesma flor. – Unissexuada ou diclina: possui só um dos órgãos reprodutores. A natureza nos surpreende com a complexidade e beleza que apresenta seus frutos. Para muitos as flores não passam de enfeites e formas de pedir alguma coisa, mas o real sentido das flores existirem é a vida. Vida que, germinação após germinação, vai se perpetuando e, seja por obra do homem, do vento ou dos insetos, vai sendo modificada. A natureza encontrou uma forma de presentear os habitantes da terra com um singelo e belo ato, deixou o odor adocicado, o formato incomparável e o significado de que a vida está também nas pequenas coisas.

Responsáveis por mudanças Império romano importava flores, até perceber que poderia cultivar

Serlunar/Divulgação

Flores para você...

Giovana Danquieli As lendas em torno das flores são muitas. A mitologia grega atribui a Afrodite, a deusa do amor, o surgimento da rosa. Segundo o mito, quando saiu em busca de seu amado Adônis, mortalmente ferido por um javali, Afrodite cortou o dedo em uma planta cheia de espinhos e do sangue que escorria nasceu uma flor. Na China, havia certa crença que, se a moça ganhasse crisântemos e destes não abrisse a flor ela seria estéril. Na Europa, em tempos remotos as flores não eram bem vistas pela sociedade, pois traziam à tona lembranças de uma época de luxúria e orgia de reis antigos. Com o passar dos séculos, esquecida esta ligação entre flores e pecados, foi aceita até na religião, tornando-se símbolo de pureza. Por todo o lugar as flores causaram mudanças um tanto estranhas. O antigo império romano importava flores do Egito, até perceber que seria lucrativo cultivá-las. Muitas famílias trocaram a produção de trigo e alimentos para a sobrevivência por flores. Nesta época, Roma teve que importar alimentos de outros lugares, mas em suas festas, flores não faltavam. O poeta Marcial escreveu na época o seguinte verso: “Vós, egípcios: hoje, as rosas romanas são mais belas que as vossas. Agora, já não mais necessitamos de rosas, porém de vosso trigo.” Na Holanda, houve a chamada “febre da tulipa”, muitas pessoas hipotecaram suas casas para investir em ações que representavam tulipas em floração. Com a queda no valor, ocorreu uma onda de suicídio no país. Lendas à parte, as flores ganharam aceitação e simbologias em todas as nações. O mercado vende inúmeras flores,

Lírio: diziam curar loucura e outros males o consumidor as compra com diversos objetivos. Rosas, gypsophilas, kalanchoes, violetas, prímulas, crisântemos, cinerárias... São apenas exemplos da produção nacional. Quem compra quer qualidade, pois depositará nela significados especiais. Datas importantes, aniversário, pedi-

do de namoro, de casamento, de perdão... Todos os significados possíveis cabem num simples buquê de rosas. Os homens aprenderam esta tática. Com base em estudos, lendas e crendices todas as flores possuem um sentido. Na internet é possível encontrar dicionários sobre o tema. Vejamos alguns exemplos curiosos:

Flores e significados Anêmona - abandono Cravo: varia com a cor Vermelho - amor incompreendido Variegado - rejeição Amarelo - desprezo

Orquídea: beleza feminina Peônia: timidez Papoula: extravagância

Crisântemo: varia com a cor: Vermelho: estar apaixonado Amarelo: amor desdenhado Branco: sinceridade

Rosa: varia com a cor Rosa: amor Branca - pureza e amor espiritual Amarela - Infidelidade Moscada - beleza caprichosa Solitária - simplicidade Tulipa: varia com a cor Vermelha - declaração de amor Variegada - belos olhos Amarela - amor sem esperança Violeta: modéstia

Dedaleira: falsidade Malva Rosa: ambição feminina Girassol: imponência e alegria Lavanda: desconfiança Lírio: antigo símbolo de pureza Narciso: vaidade exagerada

Setembro/2008 - Pétalas 5

Prímula: juventude


Flores para “regar” o romance

carinho Arquivo pessoal

entrevista

Você mandaria flores toda semana? Letícia ganha flores do namorado quase que quinzenalmente Iane Cruz

Fabiano Peccine fala sobre o significado de mandar flores e que loucura de amor faria à namorada Iane Cruz

Ainda existem homens que são românticos. Para eles, tudo é válido para conquistar e reconquistar desde que seja com gestos de amor e carinho. Para simbolizar estes gestos nada melhor do que falar de flores. A primeira rosa cresceu há 5 mil anos na Ásia e é uma das flores mais antigas. Shakespeare, em “Romeu e Julieta” definiu que “Aquilo que chamamos rosa, com outro nome seria igualmente doce”. diferentes. Como você acha que a dia que sua o Fanamorada me fizer uma surpresa eu Quando o assunto é flor, Fabiano Peccine, 25 anos, advogado, tem “O Andressa se sente amar, quem não gosta. Elepara é muito uma história com as rosas para contar. De acordo com Peccine, mandar vouquando você manda flores ela? bom comigo.PECCINE: A gente se acho ama que de verdade.” rosas vermelhas, inspira “amor em chamas”, renova os sentimentos e dáe gentil FABIANO ela, ar de fogo e paixão. primeiro, se sente admirada, provada, desejada e zelada pelo homem que No corre-corre do dia-a-dia a tendência é de que as pessoas esqueçam tem ao seu lado como companheiro de fazer surpresas. Fabiano é o tipo de homem que manda flores e faz com fiel. Segundo, sente que sou capaz de que essa teoria caia por terra. Confira na entrevista. PÉTALAS: você é bem claro no teu orkut (site de relacionamentos) que é o tipo de homem que dá flores. Com que freqüência você manda flores para sua namorada? FABIANO PECCINE: precisamente não tenho idéia, porém, certo que nas datas especiais, como aniversário de idade e de namoro, por algo feito, para agradecimento de algo, para um jantar, Dia dos Namorados, etc. PÉTALAS: as flores têm significados diferentes e para cada situação é como elas devem ser adequadas. Qual o significado que tem para você mandar flores? FABIANO PECCINE: mando flores para minha namorada sempre que sinto que preciso “regar” o romance, depositar nas flores algo de novo, de zelo com o amor. E demonstrar para a

pessoa amada, “lembrei de você”. PÉTALAS: que idade você tinha quando mandou flores pela primeira vez? E pra quem mandou? FABIANO PECCINE: tinha 16 anos. Mandei para uma menina que não era minha namorada, mas gostava e admirava. PÉTALAS: existem muitas espécies de flores. São cravos, rosas, margaridas, orquídeas e muitas outras. Qual é a flor que você prefere mandar? FABIANO PECCINE: adoro mandar rosas vermelhas, porque inspira “amor em chamas”, renovando os sentimentos, dando ar de fogo e paixão. PÉTALAS: as pessoas tendem a receber flores com reações 6 Pétalas - Setembro/2008

sentir na fragilidade de uma rosa, a grandeza do sentimento que carrego por ela. PÉTALAS: as loucuras de amor fazem parte dos serviços prestados por floriculturas e comércios especializados. Se você pudesse fazer alguma loucura de amor com flores para a Andressa qual seria? FABIANO PECCINE: com mil rosas vermelhas, cada qual com o dizer “eu amo você”, as colocaria no hall de entrada da casa, em uma manhã especial, para brindar uma data especial de nossas vidas. PÉTALAS: teve alguma ocasião que você mandou flores e se arrependeu? FABIANO PECCINE: Claro, quem nunca o fez. Mas o importante é o que foi feito, um dia serás recompensado.

As pessoas se conhecem e iniciam um relacionamento. Com o passar do tempo elas tendem a esquecer de fazer coisas que faziam no início da relação. Toda regra tem sua exceção. Pensando nisto, fomos em busca de alguém que ainda ganha flores do namorado mesmo após um ano de namoro. Letícia, como prefere ser chamada, começou sua história com as flores aos 15 anos. Nesta idade, ganhou seu primeiro buquê de rosas. “Quinze rosas vermelhas, cada rosa tinha um bombom dentro, muito lindo.” Com o atual namorado ela conta que no começo do namoro ganhava flores toda semana. “Doze lindas rosas aveludadas na cor vermelha”. Para Letícia, as rosas vermelhas têm um significado especial. “Elas denotam paixão e fogo. Eu vejo nas flores o que sinto no nosso relacionamento”, ressalta. Letícia recebe flores quase que quinzenalmente. Mas será que toda hora é hora de mandar flores? Será que para reatar um relacionamento as flores são sempre uma boa opção? Nem sempre mandar flores vai resgatar o que está perdido no relacionamento. A reconquista exige mais. “Não acho que as flores sejam uma alternativa para reconquistar. No meu caso, as flores são uma forma de demonstrar sentimentos, do meu namorado demonstrar o que sente por mim. Na vez que eu e ele brigamos, não me mandou uma flor sequer. Ele manda sempre, mas com o intuito de apimentar o nosso namoro”, comenta. Pessoas sensíveis e românticas gostam de receber flores e surpresas. Mas será que somente as mulheres gostam e recebem flores? Nem todo homem gosta. No mundo machista em que vivemos, alguns sentem vergonha, outros medo da reação dos outros e da própria reação. Homens como o namorado de Letícia preferem dar a receber flores. “Certa vez perguntei a ele se gostaria de ganhar alguma flor em especial e descobri que meu namorado não gosta de ganhar flores”, entrega Letícia. Pessoas como ela não enjoam de ganhar flores. É da natureza do ser humano ficar desgostoso quando recebe uma mesma surpresa por várias vezes. “Quando passa flores pelos corredores todos sabem que é para a Letícia”, conta a colega de trabalho, Karine. Letícia não enjoou das flores que recebe com freqüência. “Sinto falta quando ele não manda, desta vez ficou um mês sem mandar. Teve dificuldade financeira senão ele mandaria.” Em tempos difíceis, mandar flores não é algo que tenha um custo baixo. Se pararmos para fazer as contas de quanto o namorado de Letícia já gastou com flores, certamente seriamos desmotivados a fazer o mesmo. Mas se agirmos com a emoção e não com a razão certamente as flores irão acompanhadas de bombons e um bom vinho. Setembro/2008 - Pétalas 7


surpresa vira frustração

à mesa

Os crisântemos da discórdia

Iane Cruz

Arquivo pessoal

Estas flores são conhecidas pela lembrança fúnebre

Giovana Danquieli

As flores nas suas variadas tonalidades e beleza nos remetem a paladares diferentes. Paladares? Sim, as flores as quais me refiro são as utilizadas para aguçar o nosso apetite. Misturar flores na culinária não é coisa de outro mundo. Elas são utilizadas em saladas, sanduíches, omeletes, queijos, vinhos, iogurtes, sobremesas e outros pratos. De cultura para cultura as flores comestíveis são usadas das mais variadas formas na elaboração dos mais diversos pratos. Vão desde a conhecida couve-flor, o brócolis e a alcachofra até rosas, begônias e outras. No México, a seiva da agave americana é utilizada para a fabricação da tequila e suas flores são servidas com tortilhas. No Chile e na Argentina a Aloysia citriodora palau ou verbena-limão serve como aromatizante em vinhos, conservas e sobremesas. riginária da China, a Althaea rósea, conhecida como flor de Jericó, também é utilizada em vinhos e saladas e pode ser encontrada nas cores amarela, branca, vermelha ou vinho. Falando em salada, para quem gosta de pepino, um sabor semelhante pode ser encontrado na borago officinalis ou borragem. Suas cores variam em azul e rosa e dão um colorido especial à mesa. Para reforçar o time das flores que complementam as saladas, também fazem parte a viola odorata (violeta verdadeira), a dianthus cayophyllus conhecida como cravina e o amor perfeito que também é usado em sobremesas. Outras espécies como a calendula officinalis a helianthus annuus ou o famoso girassol e a tropaealum majus marcam presença em confeitarias e restaurantes em vários países.

Em Cascavel existe dificuldade para quem quer adicionar flores ao cardápio. “Não existe registro de loja especializada em flores comestíveis em Cascavel. Se existisse o alvará teria que passar por nós da Vigilância Sanitária”, comenta a tecnóloga em alimentos, Luciana Silveira.

LTDA, Rita de Cássia Machado, 26 anos, a empresa trabalha com diversas sementes de flores, temperos e hortaliças e dentre as espécies de flores, algumas são indicadas como comestíveis. “Existem muitas variedades recomendadas, para saber quais e as dicas de cultivo, recomendamos que acessar o site www.isla.com.br, na página inicial tem um link de produtos, entrando na linha flores e gramas, aparecerá uma listagem com todas as flores que comercializamos, clicando em cada uma

Embora façam parte do cardápio, muitas pessoas comem couve-flor e brócolis sem saber que são flores. As espécies são encontradas em supermercados e feiras. “Experimentar eu poderia, pois nunca comi; não sei se gosto”, diz o desenvolvedor de sistemas, Ricardo Malikoski. “Confesso, não sabia que couve-flor é uma flor (risos)”, complementa. Para quem quer cultivar flores para o consumo existe uma saída. De acordo com a técnica agrícola do Departamento Técnico da Isla Sementes

a pessoa terá acesso a todos os dados referentes a ela, e as que apresentarem o selo são recomendadas.” As sugestões para cultivo dessas flores variam de acordo com a cultura. É preciso ter o cuidado para não aplicar defensivos e utilizar métodos alternativos para o controle de pragas e doenças. “Nem todas as flores podem servir como alimento. Algumas espécies como o bico de papagaio e a azaléia são venenosas. As flores usadas no preparo das receitas são cultivadas sem agrotóxico”, observa Rita de Cássia.

São utilizadas em saladas, sanduíches, omeletes, queijos, vinhos, iogurtes...

Giovana Danquieli

Iane Cruz Sabe aquela tradição de que crisântemo é uma flor que só se dá em ocasiões fúnebres? Pois esta tradição fez com que um namoro com promessas de amor eterno fosse por água abaixo. O crisântemo é uma flor conhecida por despedida de verão, que quer dizer amor acabado. Nossa cultura herdou a crença européia de associar o crisântemo à morte. Nas suas variadas formas de ser representada, o cheiro desta flor ativa na memória das pessoas a lembrança da morte, a lembrança de uma flor de cemitério. O que você faria se seu namorado lhe mandasse crisântemos num aniversário de namoro? Pois isto aconteceu. Guilherme, 28 anos, gerente de marketing, mandou um buquê enorme para Mariane (pseudônimo) no trabalho dela. “Não sei mandar flores, não mando mais flores, depois daquela eu nunca mais mando flores, fiquei traumatizado. Se não mandar flores não corro o risco de não gostarem delas, é mais fácil. Era certo eu não mandar flores, aí não tinha passado por aquela humilhação”, lamenta Guilherme. A intenção dele era das melhores, porém como Mariane já estava há algum tempo com o psicológico abalado a situação foi a gota d´água para ela.

Flores incrementam cardápios

Guilherme não manda mais flores “Coitado do Guilherme, só faltou fazer ele comer as flores. Se eu pudesse voltar no tempo teria agradecido como se fossem lindas rosas vermelhas”, comenta. Mas essa história não parou por aí. Com o término do namoro, Mariane começou a mandar flores para Guilherme na tentativa de reatar o relacionamento. Foram girassóis, cravos e rosas de todas as cores e tamanhos. Flores com perfumes que imaginou exalar aromas por todos os cantos. Exalar um sinônimo de amor misturado ao arrependimento. Durante dias, semanas e meses ela levou e mandou flores no trabalho, em casa, no estacionamento. “Todo lugar era oportunidade para mandar flores para ele”, lembra Mariane. Ela chegou a gastar o salário de um mês de trabalho mandando flores para o ex-namorado. “Se eu soubesse que ela gastou o salário do mês em flores eu ia achar ela louca, pois se na primeira flor ou na segunda ela não teve o resultado esperado não adiantava ficar insistin8 Pétalas - Setembro/2008

do”, diz Guilherme. Será que Mariane agiu certo em mandar flores para um homem que tinha passado por uma experiência frustrante com os crisântemos? Talvez para ela o fato de mandar flores para reconquistar o coração de Guilherme fosse, no momento, a melhor alternativa. Mas será que essa alternativa não piorou tudo? As flores são sempre uma opção para quem quer conquistar ou reconquistar, porém neste caso a relação com flores entre o casal já não vinha bem. O que era para ser uma surpresa para Mariane se transformou em frustração para Guilherme. Qualquer flor é certa quando existe amor, mas para não errar e evitar situações como o que aconteceu com os protagonistas desta história é sempre bom estar atento ao tipo de flor que a ocasião pede. Guilherme não manda mais flores, porém confessa que se sentiria bem se ganhasse de forma anônima, em saber que existe alguém que presta atenção nele e ficaria muito curioso.

Setembro/2008 - Pétalas 9


diversificar

Os consumidores estão cada dia mais exigentes e para atender suas necessidades empresas se adaptam a nova realidade

Palavra-chave para permanecer no mercado Vanelirte Moretto Diversificar é a palavra-chave na economia moderna. O mercado está cada vez mais competitivo e o consumidor mais exigente. Quem se adaptar aos novos tempos irá resistir e se sobressair perante a concorrência. O setor de floricultura também se ajusta à nova realidade. E o que era um lugar apenas para vender flores está se tornando coisa do passado – não que ainda não exista este comércio tradicional – mas está praticamente em extinção aquele que um dia só vendia flores. O que há de mais moderno neste segmento chama-se garden center. Espaço que oferece do buquê de flor para a namorada ao café expresso para um bate-papo com amigos, da grama para o jardim ao cortador que vai apará-la, da planta ao veneno para a formiga, do vaso para a folhagem à muda de tempero. Enfim o que se pensar em termos de floricultura, paisagismo e jardinagem o garden dispõe. Dos seis existen-

tes no Brasil, um deles está instalado em Cascavel – única cidade do Paraná a possuir um.

Etapas A Floricultura Catarinense, fundada em 1981, por Claudino e Vera Lucia de Oliveira, começou como um viveiro de mudas – frutas basicamente – , depois passou a oferecer serviços de paisagismo, floricultura até se transformar em Catarinense Garden Center, há 3 anos. Nos 5,2 mil metros quadros estão disponíveis mais de 10 mil itens. “A cidade cresceu e os clientes estão cada vez mais exigentes, por isso a necessidade de estar em sintonia como mercado. Ampliamos para outros lados, porém sempre dentro do mesmo segmento”, conta Vera. “Cada etapa nos traz um aprendizado, temos clientes que vêm a loja toda semana e eles querem novidades, por isso inovamos, mas agregando valores”, acrescenta. O economista Rui Ferro São Pedro diz que a diversificação é essencial para

o crescimento das empresas, bem como para atender todos os clientes principalmente nesse ramo de abrangência. “Essa nova realidade proporciona um atendimento maior a clientes e também a uma parcela bem maior. Os clientes não precisam ficar pulando de lugar em lugar para comprar tudo o que precisam. É altamente positiva essa diversificação”, salienta ele. Para o negócio dar certo, Vera e Claudino propõem metas todo início de ano e todas são colocadas em prática, tudo minuciosamente planejado. A estudante de engenharia agrícola que trancou a matrícula faltando um ano e meio para concluir o curso, não se arrepende de ter optado entre a empresa e a faculdade. “Fiz a opção certa, naquele momento precisava escolher entre os estudos e a empresa. As Fotos: Giovana Danquieli pessoas devem pensar bem antes de tomar uma decisão. Não me arrependo, porém é necessário estar sempre atento ao mercado, acompanhar sua evolução e planejar tudo que se pretende para a empresa”, orienta.

Em casa

Vera Lucia de Oliveira: “Clientes querem novidades” 10 Pétalas - Setembro/2008

Ao entrar no Catarinense Garden Center a sensação que se tem é a de que não é um comércio e sim o jardim da própria casa. Além das belas flores, da decoração, do Café

Garden (de acordo com Vera, Cascavel também é pioneira em ter um café anexo ao garden), a música suave é um convite ao relaxamento. “Todo empresário deve pensar além do lucro. A empresa precisa oferecer um ambiente agradável àqueles que a visitam e aos funcionários. Os empregados passam poucas horas do seu dia com a família, então devemos tornar o seu local de trabalho harmonioso. O ambiente se torna mais tranqüilo quando as pessoas trabalham com satisfação. Fazendo isso ajudamos aos outros, mas ajudamos principalmente a nós mesmos. O ser humano em primeiro lugar, depois o resto”, enfatiza Vera.

Tendência O empreendimento, que tinha apenas dois funcionários em 1981, hoje gera 80 empregos diretos. Para chegar a este patamar foi necessário planejar cada etapa. A empresária, atenta ao que há de mais moderno no mercado, participa de cursos de aperfeiçoamento com freqüência. Sem contar que o casal trabalha de 10 a 12 horas todos os dias, sempre de olho do negócio. Há 4 anos Vera estava em busca de algo para melhorar ainda mais a floricultura e descobriu a nova tendência para o setor. A convite da Veiling Holambra foi conhecer o garden da cooperativa. “Quando entrei fiquei encantada, era aquilo que eu queria. Do que vi adaptei algumas coisas, mas sem mudar o conceito de garden center”, conta Vera. Se Vera ficou encantada com o que viu em São Paulo muitas pessoas também se sentem assim ao adentrar o garden cascavelense, e até gostam de freqüentar o local para apreciar o que ele oferece. É o caso da família de Fabio Umann, de Alto Paraná/Paraguai. Enquanto fazíamos a reportagem o brasileiro Fabio, de 32 anos e há 31 morando no país vizinho, estava no garden com a esposa Maria e os filhos Stefany e Alex. Neste dia só queriam desfrutar da beleza do local, não estavam ali para comprar. Umann é produtor de soja, milho, girassol, trigo e canola e conta que quando está no Brasil não vê a hora de cruzar a fronteira. “Não existe lugar

mais tranqüilo no Paraguai do que onde moramos. Oitenta por centro da população de Alto Paraná é brasileira”, diz. “Já compramos aqui, hoje só viemos passear. O lugar é muito bonito”. A busca por oferecer o melhor a clientela não pára e Vera já tem outros projetos em mente. A construção da sede administrativa e um cantinho para as crianças. De acordo com a empresária, o espaço para os pequenos levará em conta a preservação do meio ambiSetembro/2008 - Pétalas 11

ente e deverá fazer com que a criança pense em cuidar dele.

Projeto Florescer O Projeto Florescer, outra iniciativa de Claudino e Vera, se destina a produção de flores em estufa, desde a germinação até a comercialização. São quatro estufas, num total de 4 mil metros quadrados, onde são cultivadas flores sazonais como amor perfeito,


diversificar petúnia, boca de leão, bélis, tajet, sálvia, celósia, vinca, empatien, entre outras. A produção é voltada ao paisagismo e à venda no atacado a floriculturas, empresas e prefeituras (mediante licitação). “Para implantar o projeto começamos do zero. Cascavel não tem tradição nesta área”, destaca Vera. “É necessário ter sensibilidade para trabalhar com isso”, complementa. Doze pessoas trabalham no Florescer e são gerados aproximadamente outros 20 empregos indiretos. As flores que enfeitam a recém-inaugurada Praça da Bíblia são do Florescer. Tanto o garden quanto o Projeto Florescer utilizam sistema de captação de água da chuva.

histórias

Tradicional Adelino Luiz Braz, proprietário das floriculturas Sempre Verde – uma próximo a Acesc e outra no Bairro São Cristóvão –, está no mercado há 20 anos, e ao contrário de outros estabelecimentos que incorporam novos produtos os seus vendem somente flores. Grande parte das floriculturas de Cascavel também trabalha com cestas de café da manhã entre outros produtos. O empresário conta que as flores vendidas em suas lojas vêm da Holambra e da Uniflor, próximo a Maringá. “Para funerais vendo bastante crisântemo, depois vem a rosa (a mais vendida), flor do campo, margarida, begônia, azaléia e gloxínia”.

Mais vendidas A venda de flores aumentou consideravelmente nos últimos anos e as datas que têm mais saída são Dia de Finados, Namorados, Mães e da Mulher. A maior parte das flores vendidas em Cascavel vem de Holambra, São Paulo, e as plantas de Santa Catarina. Em todas as floriculturas consultadas sobre qual flor tem mais saída, a rosa ainda reina soberana. Depois dela vem a orquídea e as flores de vaso (azaléia, begônia, gérbera). No Catarinense Garden Center os buquês com 12 rosas custam de R$ 35 a R$ 58. O último é de rosas importadas da Colômbia, que são maiores, tem pétalas aveludadas e maior durabilidade. Orquídeas custam a partir de R$ 26,95; gérbera na faixa de R$ 10; e azaléia e begônia a partir de R$ 13,75. O valor depende do arranjo escolhido pelo cliente e da época. A diferença de preço praticado nas floriculturas de Cascavel é pequena. 12 Pétalas - Setembro/2008

Dionísio Crispim: “O maior bem que existe são as abelhas, as flores e os bonsais”

Trabalho realizado com dedicação Enquanto procurávamos personagens para complementar a matéria, dois chamaram a atenção. Marineusa da Costa e Dionísio Crispim, ambos vendedores do Catarinense Garden Center. Marineusa trabalha com flores pela primeira vez – há 15 dias tinha começado no emprego. Já Dionísio tem muitas histórias para contar sobre o assunto. São 30 anos dedicados as flores, plantas e abelhas. A vendedora, em Cascavel há cerca de dois meses, veio de Sorriso, Mato Grosso. Tem cinco filhos – de 8, 10, 11, 14 e 15 anos. Um deles precisa de transplante de córnea, por isso vieram morar aqui. “O médico disse que não é garantido que ele volte a enxergar com este transplante, mas caso não dê certo podemos tentar novamente”, conta. Marineusa foi levar um currículo em uma empresa e ao passar pelo garden achou tão bonito que pediu ao marido para parar e conhecer. “Ao entrar fiquei tão encantada e disse quero trabalhar aqui”. O currículo até então destinado a outra empresa acabou ficando ali mes-

mo e poucos dias depois foi chamada para trabalhar. “É muito bom trabalhar em um ambiente como o daqui. Nem percebo a hora passar. O trabalho junto as flores faz com que a gente renasça. É encantador fazer o serviço escutando esta música suave”, fala. Dionísio quando criança fazia muda de café, aos 15 anos de idade começou a vender plantas de enxerto, em Iporã, Noroeste do Paraná. Muito do que aprendeu e ainda põe em prática em seu trabalho foi com Sadao Sakamoto. “Seu Sadao tinha um viveiro, me ensinou o caminho das plantas e flores. A maior lição que aprendi com ele é que devemos ter paciência com as pessoas”, recorda Dionísio, que ainda mantém contato com o mestre oriental e sua esposa Emília. Sadao mostrou o caminho e Dionísio aprendeu direitinho, tanto que ao falar sobre seu ofício demonstra um amor muito grande pelo que faz. “Gostei tanto do que aprendi que hoje isso faz parte da minha vida. O maior bem que existe na terra para mim são as abelhas, as flores e os bonsais”, destaca. No garden ele é vendedor e responsável pelo trato e cultivo das plantas. Nos 30 anos de profissão fez muitos amigos e sempre aparece alguém pedindo para que Dionísio cuide de suas plantas. “As pessoas trazem bonsais para que eu os faça reviver”, conta. “Cultivar bonsai é fácil, exige sol aéreo, água

Marineusa da Costa: “Trabalho junto as flores faz com que a gente renasça”

e nutrição a cada 20 dias”, ensina. Dionísio salienta que pelo amor que decida as plantas, faz seu trabalho com muito amor e carinho. “O maior pagamento é quando ensino alguém a cultivar uma planta e a pessoa retorna dizenSetembro/2008 - Pétalas 13

do que a planta está linda, isso vale muito é gratificante demais”. Ele mora ao lado do garden e tem como sonho viver em um local afastado da cidade para cultivar plantas e mexer com abelhas.


Antes de abrir o negócio deve-se definir o nicho de mercado e classificar a concorrência

roteiro para abrir uma floricultura

Projeto do negócio

Pesquisa de mercado Definir o nicho de mercado: venda de balcão – flores para presentes; televendas; decoração; venda de flores in natura; quiosque e paisagismo. Definir a região desejada: Classificar a concorrência: núme-

ro de concorrentes e índice de habitantes/loja; idade das lojas; avaliação dos concorrentes; ponto e fluxo; tradição; propaganda; layout interno da marca; envolvimento com a comunidade; fachada; exposição dos produtos; varie-

14 Pétalas - Setembro/2008

dade de flores; outros produtos vendidos; qualidade do atendimento; arte floral; serviços oferecidos; nível de espera; alegria; perfil dos funcionários; destacar pontos fortes e pontos fracos de cada concorrente. (Fonte Sebrae)

l Abrir conta corrente l Separar capital de giro para o projeto (entre R$ 3 e 20 mil) l Abrir empresa l Definir ponto (contrato) l Definir nome da loja (registrar) l Projeto arquitetônico da loja (fachada, layout, iluminação) l Reforma da loja l Expositores, balcão, mesas e mobiliário (câmara fria) l Desenhar processos, controles e registros (compras, vendas, cadastro, atendimento) (manual, Informatizado) l Estabelecer medidas de performance (número de ligações a fazer/dia, número de ligações recebidas, número de vendas, venda média, etc) l Estruturar serviços (entrega, cartão crédito, outros) l Linha telefônica l Contratação de funcionários – definição de perfil, recrutamento terceirizado, treinamento básico, manual e regulamentos (no início quanto menos – melhor) l Orçamento de vendas e custos l Material impresso e uniforme (ficha de pedido) Definir mix de produtos l Cadastro com fornecedores l Compra de embalagens l Projeto de inauguração l Plano de vendas (idéias a atacar) (Fonte Sebrae)

Setembro/2008 - Pétalas 15


holambra

impulso

Giovana Danquieli

Comercialização e produção aquecem economia Pâmela Gurtat Na década de 50 imigrantes portugueses iniciaram, em escala comercial, a produção e comercialização de flores e plantas ornamentais no Brasil. Na década seguinte entraram neste mercado os imigrantes japoneses. E no início da década de 70 chegaram os holandeses, responsáveis pelo impulso da comercialização, arraigando um sistema de distribuição por todo o país. Até 1988 este mercado teve um crescimento vegetativo e sua atuação comercial era com base em centros regionais de comercialização como os Ceasas e empresas de distribuição que atendiam todo Brasil. A partir de 1989 surge o Veiling Holambra, uma transformação no mercado que acaba influenciando o comportamento e as práticas no setor. Com picos de maior demanda no Dia das Mães, Dia dos Namorados, Finados e Natal, o setor teve aumento considerável e desde então apresenta taxas de crescimento de até 20% ao ano. A comercialização de flores e plantas ornamentais no Brasil cresce muito e o faturamento do mercado de floricultura chega a R$ 600 milhões e há espaço para crescer. Levantamentos recentes mostram que este mercado gera cerca de 200 mil empregos diretos, incluindo produção e comércio no atacado e varejo. De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), Kees Schoenmaker, a área plantada brasileira de flores e plantas ornamentais ultrapassa 6,5 mil hectares. O principal produtor é o Estado de São Paulo, que responde por 70% da produção nacional. Outros 25% estão no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. Os 5% restantes estão nos novos pólos, nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste (com ênfase para o Ceará). O problema, segundo Schoenmaker,

Levantamentos mostram que mercado gera cerca de 200 mil empregos diretos é que o consumidor brasileiro ainda tem poucas informações sobre flores, folhagens e plantas ornamentais. Para ele, as campanhas de divulgação e grandes festas do setor, como a Expoflora, em Holambra, no interior de São Paulo, contribuem para o crescimento das vendas e conhecimento dos produGiovana Danquieli tos. São Paulo, além de ser o maior produtor também é o maior consumidor e exportador de flores e plantas ornamentais do Brasil, responde por 40% do consumo interno. Somente a capital responde por 25% do volume comercializado no Brasil, o restante fornece aos demais estados, sendo o Paraná o principal importador. O presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Flores e Plantas Ornamentais, Renato Opitz, comenta que a produção de flores ocorre durante os 12 meses do ano, e que há disponibilidade de novas variedades de plantas e flores vindas do exterior e pesquisadas no Brasil. Também frisa que este setor está crescendo. “Não há só um crescimento nas flores e plantas para floriculturas e decoração, mas, principalmente, plantas ornamentais para projetos paisagísticos. É um setor em pleno crescimento”, observa.

Paraná O Paraná ganhou destaque na produção de flores nos últimos 10 anos. As principais culturas cresceram 7,8%, a pecuária 27%, as frutas 24%, as hortaliças e especiarias 39%, os produtos 16 Pétalas - Setembro/2008

florestais 116%, enquanto a floricultura cresceu 324%. Com isso passou a ter uma participação de 0,18% do Valor Bruto da Produção (VBP) estadual, e arrecadação de R$ 45,4 milhões. Comparando aos demais, o grupo da floricultura foi o que apresentou maior variação positiva. Os números foram levantados pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura do Paraná. De acordo com Gilka Cardoso Andretta, responsável pela Divisão de Estatística Básica e pelo

acompanhamento do VBP, neste grupo estão incluídos a produção de mudas de árvores para arborização, gramado, plantas ornamentais, flores de vaso e flores de corte, entre outras. O último levantamento aponta os municípios de Curitiba, São José dos Pinhais, Apucarana e Cascavel como os que tiveram maior participação na produção de flores, com VBP superior a R$ 2,5 milhões. Os municípios da Região Metropolitana de Curitiba tiveram o maior crescimento registrado e respondem por 53% da produção de gramado no Estado. Com uma produção de 4,15 milhões de metros quadrados, registrou uma arrecadação de R$ 9,2 milhões, seguido por Cascavel, que produziu 1,5 milhão de metros quadrados e arrecadou R$ 3,4 milhões.

Tradição e qualidade em flores A cidade de Holambra, cujo nome surgiu da junção das palavras Holanda-America-Brasil, situada na Região Metropolitana de Campinas (SP), é o grande pólo nacional em negócios de flores no país. Conhecida como Cidade das Flores conquistou este título graças ao trabalho e persistência dos pioneiros holandeses que se instalaram na antiga Fazenda Ribeirão após a Segunda Guerra Mundial. Na fazenda, enquanto se adaptavam ao novo modo de vida, iniciaram o plantio de gladíolos, dando início ao cultivo e comercialização de flores e plantas, com base no sistema cooperativista. Holambra teve sua independência em 1º

de janeiro de 1993. Com uma população estimada em 10 mil habitantes, a Cidade das Flores tem sua economia baseada nas atividades agrícola e turística. A cidade concentra grandes produtores com técnicas especiais de plantio e cultivo, como a produção em estufas, trazidas da Holanda, determinantes para que a produção de flores e plantas atingisse níveis de qualidade, semelhantes ao europeu, e conquistasse o mercado brasileiro. A Cidade das Flores também possui o maior centro de vendas do ramo no Brasil, o Klok, leilão de flores operado pela Cooperativa Veiling HolamSetembro/2008 - Pétalas 17

bra. A partir deste sistema de comercialização, a produção de flores e plantas aumentou e se expandiu, inclusive, para o mercado externo. O município conta com cerca de 300 produtores e é responsável por 40% do consumo brasileiro do setor. Desde 1981 a grande vitrine do que é produzido em Holambra é a Expoflora, a maior festa de flores e plantas da América Latina, que em 2008 ocorre entre 28 de agosto e 21 de setembro. A festa tem o objetivo de resgatar os aspectos culturais e sociais da comunidade, além de divulgar o trabalho desenvolvido pelos filhos dos imigrantes da região.


Pâmela Gurtat

romélia pimentel

Dedicação que faz a diferença Pâmela Gurtat Linha Bandeirantes, Rio Bonito do Iguaçu, Paraná. Lá mora Romélia Pimentel, de 68 anos. Ao chegar em terras paranaenses em 1982, vinda do Rio Grande do Sul, decidiu continuar o trabalho que já fazia naquele Estado. Cultivar flores e folhagens em viveiro, porém não tinha muita técnica. Foram anos de trabalho e pesquisa para conhecer a realidade do local onde passou a viver. Em 2001 Romélia, que é apaixonada por flores, música e crianças, decidiu buscar recursos junto ao Programa de Apoio à Mulher na Agricultura Familiar (Pronaf Mulher) para concretizar mais um sonho, o de montar uma estufa. Também queria mostrar à juventude e outras famílias que pode haver diversificação nas propriedades e não apenas plantar para comer como também cultivar para lucrar. Giovana Danquieli

Todas as quartas e sextas-feiras ela vende e entrega flores na cidade Para Romélia, conseguir sua estufa foi um trabalho árduo, com muita luta e esforço. Até contagiou as agricultoras da região que queriam saber como conseguiu este feito. E ela não teve medo de repassar o que sabia para a comunidade. “Diziam que não existia esse fundo do Pronaf. Durante um ano fui buscar informações sobre o programa até que consegui o dinheiro para montar minha estufa”, lembra. A dedicação da produtora de flores faz a diferença na localidade onde mora e se tornou a conselheira da comunidade. “O meu sonho é ajudar o próximo e ao ajudar outras pessoas isso me incentiva a estabelecer metas de vida e fazer a diferença”, conta. Romélia tem orgulho de seu trabalho. Vende as rosas que produz de casa em casa nos municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Laranjeiras do Sul.

E isso é apenas mais um passo de suas conquistas. “Vendo na rua, mas não de carro, a pé a venda é melhor. Faz 26 anos que vendo flor e os meus clientes são praticamente os mesmos desde o começo”, ressalta. As vendas sempre são boas, com exceção da época das férias, e aumentaram bastante nos últimos anos. Uma dúzia de rosas custa R$ 6. Ela vai de ônibus até a cidade e leva a encomenda a pé até a casa do cliente. Quando a remessa é maior vai de carro. “Não adianta vender com um preço bem alto e deixar elas se perderem no viveiro, eu vendo com um preço mais acessível e vendo todas”, afirma Romélia. Todas as quartas e sextas-feiras Romélia vende e entrega flores na cidade. Tem como grande vitória os dias que mostrou seu produto na Exposição dos Produtores de Rio Bonito (Exporio) e os visitantes gostaram de conhecer seu trabalho. As flores agradaram tanto que vendeu tudo que levou para a feira. “Minha intenção não era de vender e sim de expor o meu traba-

Romélia Pimentel: vendas de porta em porta Pâmela Gurtat

lho, mostrar o que o nosso município tem”, observa ela. Viúva há 13 anos e mãe de quatro filhos, faz aulas de canto e também se matriculou em um curso de informática. Quer se especializar e tomar conta das próprias finanças. Todos os filhos moram na propriedade rural de dez hectares. Tem apenas um empregado para o serviço pesado do viveiro. Não vende para as floriculturas por que o valor pago não compensa. O lucro que tem com a venda das rosas investe em materiais para a estufa. Romélia deixa um recado a todos. “Olho para a humanidade e não posso ver gente sofrendo, e se posso ajudar de alguma forma, não vou na frente, caminho ao lado deles”, filosofa. Ao contrário de Romélia, que vende sua produção de porta em porta, a de Marcio e Miriam é destinada as floriculturas. Na pequena propriedade localizada na área rural de Cascavel (a pedido não será divulgado o local nem 18 Pétalas - Setembro/2008

Setembro/2008 - Pétalas 19

o sobrenome) o casal, que se instalou no município há 10 anos, cultiva flores de corte para ornamentação. Em várias estufas são produzidas rosas, gérberas, mosquitinhos, tango. Os cuidados devem ser diários. “Cultivar flores é muito bonito, mas elas são iguais a nenezinho tem que acompanhar bem de perto, todos os dias. É um tipo de cultura que exige muito do produtor, porque elas são muito sensíveis e também é preciso tomar cuidado com as doenças decorrentes do clima”, observa Miriam. “O clima daqui não ajuda muito é quente demais no verão e frio demais no inverno. Para cultivar flores o ideal é que não oscile muito”, complementa. Miriam gostaria de mudar de ramo, mas por falta de estrutura (a propriedade é pequena) não dá. “Por mim plantaria soja, milho”. Antes de migrar para o ramo de flores o casal, que morava em Castro/PR, cultivava verduras.


Cores vivas, beleza e elegância Aline Cristina Onde a luz e a umidade são abundantes, lá estão elas em meio à natureza dando um colorido diferente. Por serem flores epífitas (plantas que vivem de outras plantas), as orquídeas crescem geralmente em árvores, usando-as somente como apoio para buscar luz. Possuem muitas formas e cores e se reproduzem facilmente entre espécies semelhantes. Sua busca por luz depende da necessidade de cada espécie. Algumas se alojam no topo das árvores, a 40 metros de altura, por necessitarem de mais luz. Suas raízes expostas obtêm a maior parte dos nutrientes do material em decomposição ao seu redor, da água da chuva que lava as folhas das árvores no alto ou da poeira existente no ar. Entremeado ao velame (tecido branco que reveste a raiz), existe um fungo chamado micorriza que auxilia na decomposição de matéria orgânica e transformação desta em sais minerais, para facilitar sua absorção. Há cerca de 50 mil espécies de orquídeas no mundo, 20 mil encontradas diretamente na natureza e outras

Cruzamento resulta em combinações infinitas de formas e cores 30 mil criadas em laboratório, a partir do cruzamento de espécies diferentes. O Brasil é um dos países mais ri-

Fotos: Giovana Danquieli

orquídeas

cos nesse tipo de planta. “Por aqui, deve haver perto de 3,5 mil espécies. E o número pode crescer com novas descobertas, principalmente na região amazônica”, diz o engenheiro agrônomo do Instituto de Botânica do Estado de São Paulo, Fábio de Barros. As orquídeas possuem caracterís-

Taiwanês Luciano Shen

ticas marcantes e em contato com outras pode ocorrer cruzamento e produzir híbridos férteis. A partir do cruzamento com outras espécies, podem ser obtidos quatro ou mais gêneros distintos. Uma vitória para os orquidicultores que podem cruzar suas espécies e ter combinações infinitas de formas e cores. A cada nova cor ou híbrido criado, as flores são registradas para o controle de quantas existem. Esses registros são feitos na cidade de Nova York, Estados Unidos, onde se encontra o maior centro de orquídeas do mundo. O cruzamento é feito através da junção dos pólens. Na natureza há o cruzamento por meio da ajuda de insetos como abelhas, borboletas e mariposas e animais como o morcego. O perfume atrai os 20 Pétalas - Setembro/2008

insetos e animais e estes levam o pólen até outra flor. Há também o cruzamento pela intervenção humana, onde o pólen de uma matriz (planta fixa usada para fazer cruzamentos) é retirado com uma pinça e colocado em outra planta, que por sua vez, acaba morrendo, após uma semana que o pólen é colocado em seu híbrido. Cerca de 15 dias depois seu caule começa a inchar como se fosse uma barriga de grávida, lá está sendo desenvolvida a próxima flor que vai nascer. “O resultado do cruzamento em sua maioria é o esperado”, diz o taiwanês Luciano Shen, que cultiva orquídeas há 10 anos e faz cruzamento desde 2003. Em seu orquidário na cidade de Cascavel/PR existe mais de cem cores de orquídeas. Shen conta que guarda o pólen das flores na geladeira para durar mais e assim cruzar tempo depois. O pólen,

que quando fica preto já não pode mais ser usado para cruzamento, tem uma sensibilidade muito grande. Por isso exige muito cuidado. O maior desafio dos orquidicultores é saber os principais conceitos de cada espécie, já que cada uma tem suas características. “O mercado das orquídeas cresce

a cada dia. Por serem flores que não precisam de muito cuidado e terem uma aparência linda, as pessoas preferem para ter em casa. Hoje este mercado só perde para o de rosas, que ainda é a flor mais vendida, mas isso logo irá mudar com a multiplicidade de cores e formas que as orquídeas têm a oferecer”, comenta Luciano.

ALGUMAS ESPÉCIES Apostasioideae - dois gêneros e 16 espécies do Sudeste Asiático; Cypripedioideae - cinco gêneros e 130 espécies das regiões temperadas do mundo, poucas na América tropical; Vanilloideae - 15 gêneros e 180 espécies na faixa tropical e subtropical úmida do globo, e Leste dos Estados Unidos; Orchidoideae - 208 gêneros e 3.630 espécies distribuídas em todo mundo, exceto nos desertos mais secos, no Círculo Ártico e na Antártida; Epidendroideae - mais de 500 gêneros e cerca de 20 mil espécies distribuídas sobre as mesmas regiões de Orchidoideae, embora hajam algumas espécies subterrâneas no deserto australiano. Setembro/2008 - Pétalas 21


artesanais

curiosidades

Artesanato pode ser feito de plástico, cera, crochê, borracha e isopor

Fotos: Aline Cristina

Terapia transformada em lucro Aline Cristina Diversas formas e maior durabilidade. Estes são apenas dois de vários fatores que fazem com muitas pessoas optarem por flores artesanais. As naturais, que com o passar do tempo murcham, secam e perdem a beleza, estão sendo substituídas por flores que durem mais e mantêm a beleza. Flores que podem ser feitas de plástico, cera, crochê, borracha e até isopor. A mão suave da artesã que desliza sobre o artesanato, dando formas para finalizar em uma flor, atrai várias pessoas por sua beleza. As mais procuradas e também as mais caras são as emborrachadas e as de cera. Elas têm um brilho especial e são ricas em detalhes para ficar o mais natural possível. “Por terem uma mão-de-obra maior elas acabam se tornando caras”, relata Adriana Ribeiro, que há cinco anos trabalha com flores artesanais. Além de ser uma terapia, o artesanato proporciona lucro. Adriana conta que no começo fez o curso, porque após um acidente automobilístico teve que amputar suas pernas e não pôde mais trabalhar. O médico a aconselhou a procurar uma atividade relacionada ao artesanato ou pintura. Foi aí que Adriana optou pelo artesanato de flores. Ela participou de um curso de três messes e aprendeu a técnica para fazer flores de vários tipos. “No começo confeccionava as flores para ocupar meu tempo, depois de

FLOR-DE-CERA A flor-de-cera (Hoya carnosa) é uma planta perene de fácil cultivo. Pertencente à família das Asclepiadáceas, é uma trepadeira originária da China, que durante o verão produz flores duráveis, com um perfume levemente adocicado. O maior atrativo está nas flores que inspiram seu nome popular: apresentam uma aparência cerosa, como se fossem feitas de porcelana.

FLOR-DE-LIS Segundo o livro ilustrado dos “Signos e Símbolos”, de Miranda BruceMitford, Luís XVII adotou a íris como seu emblema durante as Cruzadas e o nome evoluiu de “fleur-de-louis” para “fleur-de-lis” (flor-de-lis), representando com as três pétalas, a fé, a sabedoria e o valor.

OS HOMENS AMAM FLORES Atualmente, o preconceito que “flor não é pra macho” extinguiu-se, e homens podem e devem receber flores sem problemas. Pesquisas indicam que muitos homens apreciariam receber flores em seu aniversário ou outras ocasiões especiais. As flores devem ser consideradas como um presente fino e, dependendo do arranjo ou buquê, podem agradar ao pai, ao marido, ao namorado, ao amigo ou ao filho. As flores mais apropriadas para os homens variam dos tradicionais lírios brancos, girassóis, calas, antúrios, helicônias e cravos aos exóticos cactos e belíssimas orquídeas. Se for enviar flores no aniversário de seu marido ou namorado, as mais apropriadas são as rosas ou cravos vermelhos, simbolizando o amor e a paixão no relacionamento.

vários elogios de amigos e o incentivo de meu marido comecei a vendê-las. Hoje tenho um lucro de R$ 450 mensais. Além de melhorar em minha recuperação, aumentou minha auto-estima”, conta Adriana. A Prefeitura de Sabará, Minas Gerais, investiu em cursos de flores artesanais para reduzir o índice de desemprego na cidade. Ofereceu curso de confecção de flores artesanais, ministrado por Teresinha Ramalho, florista há 68 anos. O objetivo, contribuir para a ge22 Pétalas - Setembro/2008

ração de emprego e renda à população. Os materiais utilizados para a confecção de flores são tecido, tinta, arame, pistilhos, farinha de mandioca, gelatina, algodão, papel crepon, tesoura, lápis, boleador, prendedor de roupa, barbante, jornal e golfador. Qualquer pessoa pode fazer artesanato basta gostar e ter criatividade. “O artesanato não é feito só de prática e sim de paixão pelo que se faz, em cada detalhe que se transforma em algo admirável”, completa Adriana. Setembro/2008 - Pétalas 23

ERVA AFRODISÍACA A Damiana, planta com floração amarela é uma das melhores formas de balancear as energias dos homens e mulheres. O efeito atua diretamente no sistema nervoso combatendo a ansiedade, nervosismo, depressão e ajuda no equilíbrio dos hormônios recomendada no tratamento de disfunções sexuais e libido. Cresce naturalmente em diversos tipos de clima e prospera em lugares secos, desde que haja luz solar em abundância, principalmente no México e no Sul da Califórnia. As folhas foram muito utilizadas pelos índios, Maias, Aztecas e pelos nativos do México por suas propriedades afrodisíacas.


Giovana Danquieli

perfumaria

Fantástico processo da enfleurage Luana Rossa

Giovana Danquieli

Os primeiros registros da perfumaria com flores por meio do uso da técnica do enfleurage coincidem e datam da Antiguidade. O processo foi primeiramente aplicado pelos egípcios, para a obtenção de óleos naturais de flores, e posteriormente aperfeiçoado pelos franceses na cidade de Grasse, durante o século XIX. Pétalas de flores, exalando seu perfume, eram expostas por um determinado tempo a uma camada de gordura, até que esta ficasse saturada com o óleo da planta. A mistura que daí resultava, ou seja, o óleo exalado das pétalas e absorvido pela gordura, chamada de “pomada” ou “concreto”, era então lavada com álcool e filtrada, para que se pudesse extrair o óleo essencial da gordura. Esse álcool era a seguir destilado para separar e obter o óleo essencial das flores, chamado de “absoluto”. Um óleo puro e 100% natural. Essa antiga técnica não é mais utilizada industrial-

Perfumes feitos com óleos florais é inovado para maior rendimento, aproveitamento e aceitação do mercado

Uma história perfumada Luana Rossa Mistério e encantamento são características de todo e qualquer perfume. Das caras e luxuosas grifes a singelas essências artesanalmente produzidas, todas sem exceção foram feitas para despertar emoção, ativando assim um processo mágico. Há muitos séculos o perfume vem sendo utilizado por diferentes culturas. Da oferenda aos deuses até a perfumaria como a conhecemos hoje, as fragrâncias e a maneira de misturar os aromas se modificaram de acordo com as descobertas de novos elementos e tecnologias. Apesar da evolução, os perfumes ainda hoje são símbolos de personalidade, que fascinam e nos transportam para lugares exóticos, situações emocionantes e momentos especiais. Com a rainha do Egito, Hatshepsut, surgiram diversos rituais egípcios dedicados à beleza. Eram enviadas expedições à terra de Punt, atual Somália, em busca de incenso e mirra. A Bíblia registrou a importância do perfume no Antigo Oriente nos Cânticos de Salomão, nos quais ele declara sua paixão por sua esposa Sulamita, em versos repletos de comparações entre um jardim e a intimidade dos dois amantes. A mitologia ilustra a importância do perfume na cultura grega. A História confirma esse fato, por volta de 800 a.C as cidades de Atenas e Corinto exportavam óleos de flores e plantas maceradas. A Cleópatra, última rainha do Egito, dominava a arte da sedução com seus perfumados rituais. Recebia o amante em uma cama coberta de rosas e, antes de morrer envenenada, perfumouse com as mais finas fragrâncias. Os alquimistas nessa época, na tentativa de encontrar a pedra filosofal e o elixir da vida, progrediram com as técnicas de destilação, que dariam origem à descoberta do álcool concentrado, fundamental para a perfumaria. O homem primitivo quando dominou o fogo aprendeu que, com o cozimento, os alimentos se tornavam mais fáceis de digerir. Quase ao mesmo tempo, descobriu que, ao adicionar ervas a madeiras quando queimadas exalavam um aroma bom que subia aos céus, daí a origem da palavra perfume. Em latim, a palavra perfume significa “exalar cheiro agradável por meio da fumaça”. (per – através e fumum – fumaça).

mente em nenhum lugar do mundo. Mesmo com a altíssima pureza e a qualidade dos óleos naturais obtidos, ela foi substituída por outros processos que proporcionavam maior produtividade, redução de custos e melhores rendimentos. Com o tempo, a enfleurage acabou sendo aos poucos reservada para alguns produtos de alto luxo, até ser extinta da perfumaria. Existem hoje, várias pesquisas em parceria com a Unicamp, é uma maneira de resgatar esse processo para a perfumaria fina com as flores. Para modernizar essa técnica, substituindo a gordura animal pela gordura de origem vegetal, algumas empresas instalaram no seu parque fabril um espaço exclusivo destinado a obtenção do óleo essencial de lírios, 100% puro, natural e com a mais alta qualidade, para ser utilizado, por exemplo, em algumas fragrâncias como: Lily essence (O Boticário), Joop Mas (Dolce Gabbana), CK one (Calvin Klein), Rouge Royal (Marina de Borboun), entre outros.

A MAGIA DOS CHEIROS Antigamente o sistema lí bico (produção de flores para fabricação dos perfumes) era chamado de cérebro das emoções. Quando estamos muito tensos e nervosos, um aroma de lavanda é capaz de nos relaxar e nos induzir ao sono, ajudando em casos de insônia. Quando estamos apáticos, deprimidos, infelizes o aroma de bergamota pode ajudar na recuperação. Aromas de limão, vetiver, eucalipto e alecrim melhoram a concentração. O alecrim também alivia o cansaço. A aplicação do perfume - Ao aplicar-se o perfume sobre a pele, o calor do corpo evapora o álcool rapidamente deixando as substâncias aromáticas, que

se dissipam durante várias horas. Por isso, o perfume é aplicado nas partes mais quentes do corpo como pulso, nuca e atrás das orelhas. Matéria-prima - A matéria-prima para a produção de perfumes é extremamente variada e numerosa. A perfumaria é sem dúvida, a arte que utiliza o maior número de matérias diferentes. Atualmente, centenas de produtos naturais e milhares de produtos sintéticos são corretamente utilizados em perfumaria. Matériasprimas para perfumes são encontradas no mundo inteiro; muitas vezes são raras ou difíceis de serem encontradas, e por este motivo, cada vez mais caras.

24 Pétalas - Setembro/2008

MATÉRIAS-PRIMAS DA PERFUMARIA Rosa - Adorada desde o Egito, possui várias espécies. Para produzir um quilo de seu óleo essencial, são necessárias quase quatro toneladas de pétalas. Jasmim - São necessários mil quilos de jasmim para a produção de um quilo de absoluto, que é a forma de concentração mais pura da fragrância. Tuberosa - Segundo uma antiga lenda, ela foi proibida às jovens que poderiam cair em estado de voluptuosa intoxicação. Ylang-Ylang - Significa “a flor das flores”. Na Índia, adorna os cabelos femininos e a cama dos recémcasados.

Flor de laranjeira- Pequena, branca e de perfume intenso, é também chamada de “neroli”. Considerada o símbolo da virgindade. Patchouli - Originário da Índia, seu óleo é obtido das folhas e do caule. Para produzir um quilo de óleo, são necessários 330 quilos de folhas. Incenso - Usada desde a Antiguidade, essa resina é conhecida também como “olíbano”. Âmbar - Matéria orgânica, excretada pela baleia cachalote, que se solidifica quando exposta ao tempo. Seu uso não coloca em risco a sobrevivência da espécie. Atualmente só se utiliza âmbar de origem sintética.

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Jairo Backes

Divulgação

receitas com flores comestíveis

A Rosa de Hiroshima

PÉTALAS DE ROSA CRISTALIZADAS Ingredientes - 3 xícaras (chá) de açúcar cristal fino - Minirosas comestíveis - 1 clara

SALADA DE FOLHAS E FLORES

Para as pétalas - Pétalas de rosas comestíveis - 1 clara - Açúcar refinado

Ingredientes Alface americana Rúcula Chicória roxa Alface mimosa Flores de amor-perfeito Flores do campo Pétalas de flores comestíveis variadas 3 colheres de sopa de azeite de oliva 1 colher de sopa de água de rosas Sal e pimenta agosto

Modo de preparo Para as minirosas: bata ligeiramente a clara e pincele levemente as rosas com um pincel fino e macio. Passe as flores no açúcar cristal e deixe secar numa grade, de um dia para o outro. Para as pétalas: passe a clara levemente com um pincel fino e macio e no açúcar refinado. Leve ao microondas por dois minutos abrindo de 30 em 30 segundos. Finalize polivilhando açúcar refinado com a ajuda de uma peneira. Deixe secar por, no mínimo, 6 horas. • Categoria: tortas e bolos • Tempo de preparo: 40 minutos • Tipo de preparo: microondas Divulgação

SALADA DE GRÃOS Ingredientes Alface americana Alface roxa Rúcula Broto de espinafre Manjericão Orégano fresco 50 g arroz

Modo de preparo Separe pequenas porções de cada um dos folhosos e coloque-os em um prato. Faça uma vinagrete batendo o azeite de oliva com a água de rosas e o sal. Regue a salada com a vinagrete. Receita de Vanessa Zanolete

Grãos 60 g cenoura 30 g pepino japonês coalhada a gosto

Modo de preparo Cozinhar os grãos em água fervente com sal. Cortar a cenoura em rodelas bem finas e levar ao forno até secarem. Cortar o pepino em fatias finas. Dispor em um prato os verdes, os grãos, a cenoura e o pepino. Finalizar com a coalhada, azeite e sal a gosto. Receita de Daniela Albuquerque e Christine Veronez 26 Pétalas - Setembro/2008

Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroshima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada. Vinícius de Moraes Setembro/2008 - Pétalas 27


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