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d) Consequências da doutrina de Ambrósio: abandono e proscrição do paganismo
imperadores com Deus e sua Igreja, é compreensível e natural que façam o que está ao seu alcance para cooperar na unidade da Igreja e da religião que abraçaram. Quando Ambrósio diz que os imperadores não estão acima mas na Igreja, que devem militar em prol do cristianismo e da verdadeira fé cristã, que devem ordenar a execução dos decretos dos concílios e as petições dos bispos, não faz outra coisa senão indicar e determinar as competências e os deveres dos imperadores cristãos para com sua religião.
d) Conseqüências da doutrina de Ambrósio: abandono e proscrição do paganismo
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O cristianismo introduziu no mundo romano não só a separação entre religião e Estado, a dependência espiritual dos governantes da Igreja e o necessário serviço destes aos supremos fins espirituais da Igreja, mas implantou também os princípios da unidade da religião cristã e, conseqüentemente, a exclusão dos demais cultos. Foi esta a fé marcada pelo sangue de tantos mártires e proclamada pelo sofrimento de tantos confessores, que preferiram morrer e sofrer antes de abdicar de sua fé no Deus único e verdadeiro; foi esta também a fé que se radicou profundamente na consciência do povo cristão.
Por outro lado, a religião pagã, aquela que os gentios e, de modo especial, os romanos haviam observado por tantos séculos e que ainda cultivavam, era a religião do Estado, a serviço do Estado, subvencionada pelo Estado. O paganismo simbolizava a majestade do Estado e atraía fortemente a todos aqueles que se gloriavam da grandeza de Roma.49
49 Dudden, F.H. Op. cit., t. I, p. 243.
Os primeiros imperadores cristãos haviam praticamente dissimulado sua identidade confessional, deixando que a religião pagã caminhasse livremente e o erário municipal ou imperial continuasse a subvencioná-la, enquanto que eles próprios empreendiam o caminho da nova religião. Desde Constantino até Graciano, o paganismo e o cristianismo eram igualmente reconhecidos pelo Estado. Nesse lapso de aproximadamente 70 anos, houve pequena exceção: Constâncio mostrou-se, até certo ponto, hostil ao antigo culto, ordenando a abolição de alguns sacrifícios pagãos suspeitos e o fechamento de alguns templos.50 Fez remover também o altar da Vitória do Senado de Roma.51 A remoção foi passageira. Ao término da visita de Constâncio a Roma a divindade retomou seu primitivo lugar.
Em páginas precedentes, observamos que as determinações dos imperadores contra o paganismo não foram executadas rigidamente, pelo menos na parte ocidental do Império. Outros demonstraram ostensiva tolerância para com o antigo culto. Mais cedo ou mais tarde, porém, chegaria o momento em que seria proposta a questão: “pode um imperador cristão subvencionar um culto pagão? Pode ele permitir que outros, em seu nome, interpretando a dissimulação por consenso, honrem os deuses? Pode ele, finalmente, admitir que sob seu governo sejam adorados publicamente os deuses?”52 A questão se tornou cruciante e decisiva no tempo de Ambrósio, e até se pode dizer que foi o próprio Bispo de Milão que nesta questão deu uma contribuição substancial para uma solução
50 CTh. XVI, 10, 4 (1º de dezembro de 356). 51 Ambrósio. Epistola, 18, 32. 52 Ambrósio. Epistola, 18,22.