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NUNO LOPES MOSH

CARTA À CULTURA

Por: Nuno Lopes

Cara Cultura, Sei que não vives os melhores dos tempos devido a esta pandemia que nos afecta a todos e a cada um. Escrevo-te em meu nome, e de muitos outros que sofrem contigo,sabemos que não estão a ser tempos fáceis mas, como nós dizemos por cá: melhores dias virão. Sei bem que tu tens estado com o teu público e que o público e todos os agentes que, efectivamente, vivem a cultura estão contigo, apesar de todo este distanciamento. Havemos de nos encontrar novamente para um drink ou dois. Espero que em breve. Enquanto português devo dizer-te que me sinto envergonhado com a forma como tens sido tratada e como quem te ajuda a sobreviver tem passado por dificuldades nunca antes vista mas, como sabes, por cá, a cultura são os Berardos e outros messenas que fazem de ti algo redutor, algo que apenas serve os interesses de grandes economias, muitas vezes paralelas, ou de propagandas políticas. Sinto vergonha por se esquecerem de outros (a maioria) que vivem da e para a cultura e, infelizmente são esses que são arrastados na lama com apoios que demoram tempo demais a serem dados, à distância de mais um drink ou dois. Enfim, Cultura, tu sabes como são as coisas aqui. Como sabes, em Portugal, como em outros pontos do globo, os concertos encontramse (na sua maioria) cancelados, adiados e na incógnita mas, em Portugal são só alguns, porque os do costume continuam a ter o mesmo tempo de antena. Veja-se os espectaculos que Salgado, Mexia ou Jesus têm dado. Ou veja-se esses grandes eventos conhecidos como touradas que acontecem sem limites de horas, pessoas ou regras. E acontecem entre um drink ou dois. Gostava de te pedir, minha querida Cultura, que mudasses o paradigma deste país e que trouxesses, novamente a cultura até este retângulo chamado Portugal. Mas, acima de tudo quero-t pedir desculpa por existir uma Graça, sem graça nenhuma que nos envorgonha e te envorgonha, de uma forma sem precedentes e que não permite que os agentes culturais façam o seu trabalho. Quando regressares a Portugal, diz-me alguma coisa e, quem sabe, possamos ir a um bar ou discoteca e depois, cansados, talvez possamos ir jantar a qualquer lado. Fico à espera que me digas algo. Para já despeço-me com amizade e muita saudade. Por isso mesmo, entre um drink ou dois, brindo a ti.

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