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IRONSWORD

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OLD FOREST

OLD FOREST

Um avatar do épico

Na sua conversa com a Versus Magazine, Tann – mentor dos Ironsword desde sempre – revela-se um fã do épico em todos os seus estados.

Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro

CSA – Antes de mais, gostávamos que nos falasses um pouco da banda. Tann – Ironsword começou em 1995 e somos uma banda de Heavy Metal épico na sua vertente mais tradicional e old school. Somos frequentemente rotulados como os Manilla Road europeus. Durante os primeiros anos, Ironsword era uma espécie de one man band. Esta situação deveu-se principalmente ao facto de todos os meus amigos e conhecidos que tocavam nas suas próprias bandas não estarem interessados ou não terem disponibilidade para se dedicarem a outro projeto musical. Nesse período, foram lançadas 2 demo tapes: a primeira em 1995 e a segunda em 1998. O nosso primeiro álbum foi lançado em 2002 pela editora britânica Miskatonic Foundation e nessa altura já trabalhávamos como power trio. O segundo álbum – «Return of the Warrior» – foi lançado em 2004 pela mesma editora. Em 2008, é lançado o terceiro álbum «Overlords of Chaos» e o quarto álbum «None But the Brave», em 2015, ambos pela editora americana Shadow Kingdom Records. O nosso primeiro concerto foi em 2004, na Alemanha, no festival Keep It True e desde então já tocámos em vários países com bandas de renome. Em 2019, é lançado o EP «In the Coils of Set» e, em 2020, o quinto álbum intitulado «Servants of Steel», ambos pela editora portuguesa Alma Mater Records. Ironsword já sofreu várias alterações de line up e atualmente a banda é constituída por João Monteiro (bateria), Jorge Martins (baixo) e Tann (guitarra e voz).

Eduardo – Como é que vocês, como banda, estão a viver este tempo de confinamento? Neste momento apenas estamos a fazer alguma promoção, a responder a entrevistas e pouco mais. Infelizmente, todos os concertos que nós já tínhamos agendados a partir de maio foram adiados para outras datas ainda por confirmar. Tenho aproveitado para adiantar algumas ideias para o próximo álbum e tenho estado a compor material novo.

CSA – Imagino que são grandes fãs de bandas como, por exemplo, W.A.S.P. e Manowar. É verdade? Podes falar-nos um pouco das vossas influências, no estrangeiro, mas também em Portugal? Sim, somos fãs de bandas de Heavy Metal não só dos anos 80, mas bandas mais recentes como Angel Martyr, Eternal Champion, Smoulder, etc. Todos nós na banda temos gostos musicais variados, ouvimos de tudo um pouco, desde música clássica, rock psicadélico e progressivo dos anos 70 até Death Metal técnico. Obviamente, depois temos as nossas influências pessoais, umas mais diretas que outras, desde Iron Maiden, Judas Priest, Candlemass. Manowar, Omen, Running Wild. A nossa maior influência e inspiração são os Manilla Road, mas isso acho que já não é novidade para ninguém! De Portugal, sempre gostei muito das demo tapes de Alkateya e de Xeque Mate, Nzzn, Satan’s Saints, STS Paranoid, Valium, The Coven, Sepulcro. Das bandas nacionais mais recentes gosto de Dawnrider, The Unholly, Wanderer e Lyzzard.

CSA/Eduardo – Todas as letras são adaptadas das histórias de Robert E. Howard e escritas pelo Tann (por ti). - De onde vem essa paixão por este escritor e pelas temáticas dos bárbaros, feitiçarias e espadas? - Sendo assim, qual o tema central deste «Servants of Steel» e como se reflete nas letras das canções? Muito antes de saber quem era Robert E. Howard, o primeiro contacto que tive com estes temas foi através do filme “Conan, o Bárbaro”, de 1982 com o Arnold Schwarzenegger e logo de seguida com as adaptações dos contos do autor através da BD intitulada “Espada Selvagem de Conan”. Só muitos anos mais tarde é que tive oportunidade de ler os contos na sua forma original. Foi uma experiência única e claro era um nível totalmente diferente do que eu estava habituado nos comics. Quase todas as letras para este álbum são adaptações de vários contos originais de Robert E. Howard, e apesar de não ser um álbum conceptual, é uma espécie de jornada sem ser por ordem cronológica em que o tema central é o enigma do aço. O titulo do álbum – «Servants of Steel» – reflete a nossa resistência e resiliência ao longo de todos estes anos no underground, continuando fiéis ao nosso estilo e à nossa atitude. Ao mesmo tempo, algumas partes do filme do Conan de 1982 acabam por ter algumas referências nalgumas letras do álbum, no titulo

[…] somos uma banda de Heavy Metal épico na sua vertente mais tradicional e old school […]

do álbum e inclusive uma dessas cenas do filme está ilustrada na capa do «Servants of Steel».

Eduardo – Decorreram cinco anos entre «None But the Brave» e este «Servants of Steel». Porquê este tempo todo? Por vezes os nossos planos não correm da forma como nós queremos! A verdade é que neste intervalo de 5 anos estivemos bastante ativos, quer a tocar em vários festivais, quer a fazer algumas datas como banda suporte, a promover o álbum «None But the Brave» em Itália, Espanha, Grécia, Alemanha e Portugal e, sempre que tínhamos oportunidade, íamos trabalhando nos temas para o novo álbum. Nunca se tratou de uma questão de falta de motivação ou inspiração, etc. Talvez o que tenha contribuído mais para o adiamento do lançamento do álbum foi termos rescindido contrato com a editora Shadow Kingdom Records, numa altura em que todos os temas já estavam compostos. Todo este processo, entre rescindirmos com a Shadow Kingdom Records e assinarmos pela Alma Mater Records, disponibilização do estúdio para gravarmos, etc. levou um pouco mais de tempo que o desejado, mas acabou por influenciar no amadurecimento das músicas novas.

Eduardo – Vocês disseram que este foi o álbum mais desafiante. Em que é que «Servants of Steel» se distingue dos anteriores? Nós tentamos sempre reinventar o nosso estilo a cada lançamento, sem perder a nossa identidade e mantendo sempre o nível de qualidade. Sendo o quinto álbum de originais, houve um cuidado especial para não repetirmos a mesma fórmula utilizada em álbuns anteriores e ter uma abordagem diferente em termos de arranjos e estruturas musicais. Daí ter sido um desafio enorme compor temas novos. Por exemplo, o álbum anterior – «None But the Brave» – era mais cru, mais direto e mais homogéneo. O «Servants of Steel» é muito mais complexo e diverso. Até mesmo em termos de ambiente, tem um feeling muito mais obscuro do que o anterior. Talvez seja o disco mais maduro alguma vez criado por nós e creio que todos os objetivos foram cumpridos.

Eduardo – Este disco conta com a contribuição de Bryan “Hellroadie” Patrick dos Manilla Road. - Como é que surgiu esta oportunidade? - O Bryan contribui com algumas ideias para os temas ou limitou-se a interpretá-los? Eu conheço pessoalmente o Bryan desde 2002, quando vi Manilla Road ao vivo pela primeira vez em Atenas. Desde essa altura, fomos mantendo contacto de uma ou outra forma e tornámo-nos grandes amigos. Ocasionalmente, as nossas bandas partilhavam o palco em alguns festivais. Como o Mark Shelton já tinha feito backing vocals no nosso terceiro álbum – «Overlords of Chaos» – achei que seria uma boa ideia convidá-lo de novo para este álbum. O convite inicial tinha sido feito ao Mark Shelton, mas, após o seu falecimento, eu achei que a única pessoa que faria sentido fazer os backing vocals seria o Bryan. Fiz-lhe o convite e ele aceitou imediatamente. Expliqueilhe mais ou menos o que é que eu pretendia, mas ao mesmo tempo dei-lhe liberdade total para fazer como ele achasse melhor. Envieilhe as músicas e as letras por mail e passado uns dias recebi os ficheiros já com as vozes do Bryan gravadas. O Bryan fez um excelente trabalho, tal e qual como eu esperava, e foi uma honra enorme contar com a sua colaboração e desta maneira partilhar connosco um pequeno e humilde tributo ao Mark Shelton.

Eduardo – Gosto bastante do álbum: o instrumental está excelente, clássico, muito old school (sempre fiel às vossas raízes), com uma sonoridade

“Todos nós na banda temos gostos musicais variados, ouvimos de tudo um pouco, desde música clássica, rock psicadélico e progressivo dos anos 70 até Death Metal técnico.

“crua”, muito intensa. Mas… há um “defeito” – isto, claro, baseado na minha mui humilde opinião: parece-me que as vozes estão um pouco “escondidas” pelo instrumental, gostaria de ver as vocalizações sobressaírem um pouco mais que o instrumental. Concordas com esta opinião? Obrigado pela sinceridade. Sendo eu o membro fundador e principal

compositor da banda, todo o feedback é sempre bem-vindo. Para mim a voz é tão fundamental como a parte instrumental e procuramos encontrar sempre um equilíbrio para que tudo esteja audível e nenhum instrumento ou voz se sobreponha a outro. Esse é um dos objetivos que temos em todas as produções dos nossos álbuns. Desta vez, tivemos a honra e o privilégio de trabalhar com o lendário produtor Harris Johns, que fez a mistura e masterização do álbum. Ele teve carta branca para realizar o seu trabalho da forma que queria, apenas com algumas referências minhas, mas conseguiu uma sonoridade adequada ao nosso estilo e deixou a sua imagem de marca, o cunho pessoal que o caracteriza. Para nós o mais importante é o resultado final e nesse sentido o trabalho do Harris Johns superou todas as nossas expectativas.

CSA – De que forma a capa do álbum ilustra o tema central do álbum? E quem a fez? [É bem “clássica” dentro do género.] A capa do álbum foi elaborada por um grande amigo de longa data – o Victor Costa – que é responsável pelo layout gráfico de todos os nossos lançamentos e também elaborou a capa do nosso álbum anterior «None But the Brave» e do primeiro álbum. Para além disso, ele já fez capas para outras bandas como Altar Of Oblivion, Decayed. A ideia da capa foi minha e tinha como referência algumas partes do filme “Conan, o Bárbaro”, de 1982, em que o conceito recaía sobre o enigma do aço. Estou muito satisfeito com o resultado final. O Victor, uma vez mais, fez um trabalho extraordinário e certamente fará a capa do nosso próximo álbum. O Victor é uma espécie de quarto elemento da banda.

CSA – Como chegaram à fala com a Alma Mater para o lançamento do vosso álbum? Que esperanças depositam na vossa atual editora? Após o lançamento do «None But the Brave», começámos a ter alguns problemas com a nossa antiga editora Shadow Kingdom Records, nomeadamente em termos de distribuição e promoção. Isso foi decisivo para rescindirmos contracto. Claro que não nos podemos esquecer de todo o apoio e ajuda que nos deram enquanto trabalhámos juntos e eles continuam a ser uma boa editora, mas a verdade é que, a partir de certa altura, as coisas já não estavam a funcionar bem para Ironsword. Eu acho que a Alma Mater sempre acompanhou de perto o nosso percurso. Acho que sempre reconheceu o nosso empenho, dedicação e esforço. Se não vissem potencial para investir em nós, definitivamente não trabalhariam connosco, acho que é logico. Assim que a Alma Mater reuniu todas as condições, fez-nos uma proposta que para nós era irrecusável. Penso também que, pelo nosso estatuto e pelo nosso historial como banda, esta decisão iria certamente influenciar e contribuir para que a editora crescesse mais. Estamos extremamente satisfeitos com o trabalho desenvolvido até agora. Apesar de ser uma editora nova, têm demonstrado um grande profissionalismo, um enorme apoio e têm sido incansáveis connosco. Confiamos totalmente no seu trabalho e nós, enquanto banda, temos que corresponder às expetativas da editora e trabalhar muito nesse sentido.

CSA – Há concertos previstos para promover este álbum? Talvez uma passagem pelo Vagos Metal Fest (onde já ouvimos Moonspell e bandas que, como Ironsword, fazem parte do catálogo da editora do Fernando Ribeiro)? [Esperemos que não tenham de cancelar o Vagos, apesar de ter lugar no início de agosto.] Até ao momento, não temos nada agendado para o Vagos Metal Fest. Claro que se surgir esse convite seria uma honra regressar, pois a última vez que tocámos em Vagos foi em 2015 e temos boas recordações desse concerto visto ter representado o regresso da banda aos palcos ao fim de 8 anos sem tocarmos ao vivo e foi uma espécie de comemoração dos nossos 20 anos de carreira, aliado à promoção do «None But the Brave», que era a novidade da banda na altura. Aliás, isto é válido para todos os convites que surgirem para tocarmos em festivais cá em Portugal. Quanto aos restantes concertos agendados para promover o novo álbum, como respondi anteriormente, vamos aguardar.

CSA – Pode-se dizer que o atual interesse pelos Vikings – em Portugal e lá fora – chama a atenção para bandas como a vossa? Qualquer pessoa fascinada pelos Vikings, Celtas, civilizações clássicas ou autores como Tolkien, Michael Moorcock, Lloyd Alexander, C.S. Lewis, George R.R. Martin, Stephan Lawhead, etc, pode ter interesse, alguma curiosidade em descobrir uma banda com uma vertente mais épica, independentemente do subgénero. De uma forma geral, tudo o que está relacionado com História, Mitologia ou o universo de fantasia e sword & sorcery. Se houver pessoas que, através desta forma, descobrem a tua banda e acabam por gostar da tua música, acho isso ótimo. Qualquer forma de divulgar a tua música é sempre importante. Já tivemos alguns casos de pessoas que desconheciam Ironsword, mas, devido a Robert E. Howard e aos comics do Conan, passaram a ser fãs da banda! Todo o reconhecimento que uma banda possa ter nunca é mérito só de uma pessoa. São vários fatores que contribuem para isso e são várias as pessoas envolvidas que ajudam nesse sentido. Por isso, para nós os fãs são muito importantes, pois têm sido eles a nossa música viva ao longo de todos estes anos. Facebook Youtube

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