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TETEMA

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BAIT

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Como é que estão a viver estes tempos de confinamento em termos da banda e da vossa música? Estou a aproveitar esta oportunidade para aprender o que considero que não sei. A fazer todas aquelas coisas que estão na lista que, normalmente, não são feitas: comecei a praticar piano muito mais vezes, a fazer misturas de gravações em discos rígidos, a praticar idiomas, a fazer jardinagem... e a responder a entrevistas para os te tema! O álbum recebeu muita atenção (pelo menos, na minha modesta opinião) e estou sensibilizado com a reacção positiva das pessoas.

Numa entrevista anterior, acho que não tive a oportunidade de vos perguntar o significado de tetema... É uma palavra de um dos delírios de (Antonin) Artaud: significa uma ferida, duas vezes cauterizada pelo fogo. Não uma vez, mas duas vezes… :-)

Esta é a nossa segunda entrevista e, nessa entrevista, comecei por perguntar porque precisaste de te fechar num ex-convento. Adoptaste a mesma abordagem para o «Necroscape»? Não, este álbum é muito mais orgânico. Acho que no último álbum comecei muito como “compositor”; com a cara na mesa, caneta e papel, e cabeça cheia de ideias. Este álbum foi mais numa perspectiva de reunir sons e, depois, moldá-los gradualmente, ao longo de vários anos. Dessa vez, também não comecei com a bateria. Esta proveio, principalmente, de samples e de arranjos de piano amplificado. Tentei manter as coisas divertidas e vivas.

«Geocidal» foi gravado em todo o mundo. - Como fizeram neste álbum? Comecei em Berlim, fui à França e à Austrália. Regressei a Berlim. Depois, Suíça e Austrália, novamente. A música segue-me e eu trabalho nela onde quer que esteja. - Já tens um estúdio ou continuas a trabalhar no teu apartamento? Finalmente tenho um estúdio, após 20 anos neste ramo!

Em «Necroscape», é de salientar a inclusão de outros músicos, de Will Guthrie (bateria) e Erkki Veltheim (violino/bandolim). - Qual a razão desta mudança, transformaram o duo num quarteto? Isso resultou da tentativa de colocar «Geocidal» em palco. De facto, funcionou muito bem com este quarteto e foi capaz de cobrir tudo com um elevado nível instrumental e de comunicação. - Qual foi a contribuição de cada um deles para a música? Basicamente, eles brincam com o que fiz, combinando as minhas instruções com os seus instintos. Ajudamme nos detalhes, porque conhecem melhor os seus instrumentos, no entanto, sou muito exigente relativamente às opções finais sobre a música. - Achas que a música se tornou mais… devo dizer… “humana” e “orgânica”? Sim. Pergunta e resposta muito simples! Queria que se sentisse que esta música é completamente estranha, como se fosse música de outro planeta, mas tocada por seres humanos. - As letras foram escritas por ti e pelo Mike. Existe algum conceito por trás de «Necroscape»? Não totalmente, mas, para mim, é vagamente baseado no Sillicon Valley, distraindo todo mundo com a Internet e as redes sociais, enquanto lentamente dominam o mundo!

Desde a entrevista anterior, passaram mais de seis anos. - Porquê tanto tempo entre estes dois álbuns? Meu caro, é difícil fazer boa música. A boa música leva muito tempo a fazer. Quando se está a tentar criar uma música que não soa muito como o resto, também é muito difícil. - Entre estes álbuns, mudou alguma coisa na tua forma de fazer e pensar a música? Acho que me tornei mais sensualista, aprendi a confiar mais nos meus instintos e deixei de confiar em construções intelectuais para me guiar. Esta música é sobre o corpo, então ouvi o meu corpo.

O Artwork também é uma parte importante deste álbum. Podes explicar-nos do que se trata e como está relacionado com a música? Eu sinto que a artwork vem de um lugar muito particular e honesto. Eu conheci Talitha quando morei em Sydney por um período curto, e esse lugar é, sem dúvida, uma “necroscape”. Imagina uma das cidades mais bonitas do mundo, com as melhores praias do universo, cheia de pessoas que não sabem o que é a vida, porque é tão caro lá estar que precisam estar agarradas aos seus telefones o tempo todo fazendo acordos. Esse, para mim, é o título do álbum, essa ideia de estar sensorialmente morto num lugar muito vivo. Enfim, para mim, a arte de Talitha parece resumir isso. Figuras muito exuberantes que parecem vivas, feitas de pele morta (couro).

Tens de me contar um pouco mais sobre o “Funerale Di Un Contadino”, de Chico Buarque/ Ennio Morricone. A versão é um pouco diferente da original – mesmo ao meu gosto. - Porque escolheste esta música, em particular, e qual era a tua ideia para a transformar da forma que o fizeste? Apenas senti que seria uma faixa incrível com o Mike a cantar. Além disso, se ouvires o original, as vozes femininas soam como a música coral búlgara, que é uma das minhas favoritas. Isto, num contexto de bossa nova, para mim, é uma espécie de perfeição.

Suponho que produziste, misturaste e fizeste a masterização do álbum. Neste caso, “Loudness War” – refere-se à tendência de aumentar os níveis de áudio na música gravada, o que reduz a fidelidade do áudio: - Tiveste algum cuidado especial no processo de masterização para tornar a música o mais dinâmica possível? Sim. É, essencialmente, sem masterização. Consegui que o indivíduo que fez a masterização colocasse tudo no seu equipamento analógico em tempo real. Acho que a masterização digital é muito sem vida e desencorajadora na maioria dos casos. Misturei tudo e gravei a maior parte. Penso que o áudio “plano”, sem vida e muito comprimido é uma realidade deprimente que as pessoas aceitam sem pensar. - Qual foi o álbum (de t e t e ma) mais difícil de produzir? Ambos foram longos e longos trabalhos de amor! A vossa música ouve-se melhor em vinil ou CD? Ambos soam muito bem. Eu certifiquei-me disso! “ Queria que se sentisse que esta música é completamente estranha, como se fosse música de outro O que podemos esperar no próximo projecto? Estou a começar a escrever peças que só podem ser executadas uma vez, num lugar único, com pessoas planeta, mas tocada por muito específicas, com uma acústica muito específica, com vários alto falantes; portanto, se não estiver lá, sentirá falta. Penso que o ter acesso a tudo, o seres humanos. tempo todo, está a tornar as pessoas preguiçosas e surpreendentemente menos envolvidas com a arte. É tudo sobre a reacção e não a contemplação. Facebook Youtube

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