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GAEREA

Arte límbica

Tal como a parte do cérebro a que se refere, lida com as emoções e o comportamento social.

Entrevista: CSA

Antes de mais, é um prazer estar a entrevistar na minha língua uma banda tão promissora como Gaerea. Muito obrigado pelo interesse e pelas palavras referentes a este projeto. É sempre bom fazermos entrevistas na nossa língua mãe.

Podes falar-nos um pouco da vossa história? GAEREA formam-se algures em maio de 2016, quando senti que tinha que finalmente materializar muitas das ideias que me inquietavam a mente, fossem elas pequenos trechos musicais ou toda a base do conceito que envolve os primórdios deste projeto. O primeiro lançamento foi um Selftitled EP, que foi editado pela outrora recém-nascida Everlasting Spew Records, uma editora italiana que cresceu imenso e que hoje em dia detém um dos mais interessantes line ups de artistas da atualidade. Em 2018, lançamos o nosso primeiro álbum intitulado «Unsettling Whispers» pela editora indiana Transcending Obscurity Records e creio que o resto poderá ser considerado “história”. História essa de que tenho a certeza que muita gente já me ouviu falar, pelo que não é propriamente antiga. Creio que posso afirmar que nestes 4 anos de existência alcançamos muitos patamares interessantes. Um deles é mesmo o lançamento presente – «Limbo» – que sai em julho pela mais interessante editora da atualidade, a Season of Mist.

Vocês passaram rapidamente de uma pequena editora (Everlasting Spew Records) para uma editora conhecida (Transcending Obscurity) e depois para uma bem conhecida (Season of Mist). Como aconteceu isso? Com muito, muito trabalho. Sei que hoje em dia pode não cair tão bem dizer isto, mas a verdade é que nós vivemos para isto. Ao longo deste último ano na estrada, todos nos apercebemos de que a nossa vida apenas faz sentido em torno deste conceito. Trabalhamos arduamente diariamente para tudo o que conseguimos alcançar. Nunca fomos a banda que caiu nas graças de alguma editora, promotor ou revista. Tivemos que arranhar para conseguir todas as pequenas coisas que alcançamos e nada me enche mais de orgulho do que saber que tudo o que temos é fruto de muitas lágrimas, quilómetros, várias noites em branco repletas de crises de existencialismo e todo o sacrifício que tivemos que suportar, seja ele mental, físico e familiar.

Que apoio pensam que a SoM vos poderá dar durante esta crise gerada pela pandemia que afetou tudo? A SoM traz-nos todo um apoio de “back office” que precisamos. A família cresceu e num bom sentido. Para além de ser uma editora que te ouve, quer saber sempre a tua opinião, te vai tratar sempre de uma forma diferente e que reconhece todo o potencial na tua arte, é acima de tudo a editora que podemos considerar a nossa casa. Sempre quisemos trabalhar com pessoas artísticas, críticas e honestas. A SoM traz-nos isso. E, muito sinceramente, no mundo em que vivemos, teres alguém que te dá opiniões, te faz críticas realmente construtivas e se senta contigo para juntos chegarmos ao melhor patamar possível faz toda a diferença para o desenvolvimento do artista. Temos aprendido bastante. Se já éramos fãs ativos da editora e da grande maioria dos seus artistas, agora sentimo-nos realmente parte deste mundo.

De que limbo fala o vosso novo álbum? De que forma se manifesta nas letras das faixas do álbum? Quem as escreveu? O vasto e tão abstrato Limbo entre a realidade e a ficção. A morte e o desejo de morrer. A vida enquanto matéria prima de algo superior. A agonia e a libertação. O mero reflexo daquilo que realmente sentimos naquele preciso momento. “Nada será como dantes” talvez seja aquilo que tenho aprendido com este álbum que, para todos os efeitos, já está escrito há mais de um ano, mas continua a surpreender-me e ainda aprendo bastante com ele e com o seu significado. É algo que apenas consegui alcançar vários meses após o lançamento do «Unsettling Whispers». E isso significa que este novo disco vai-me tocar a alma ainda muitas vezes à medida que o for refletindo em palco, na estrada, intimamente. As letras são coescritas por mim e pela pessoa que as encarna. É a representação lírica de todo o conceito espontâneo deste disco, também ele exposto dentro do talvez mais interessante booklet que temos. Os poucos que o terão nas suas mãos dentro de poucas semanas lerão e compreenderão certamente tudo o que temos vindo a dizer sobre esta nova peça.

E quem compõe a vossa música? É Black Metal, mas muito especial com passagens bem progressivas sobre as quais se destaca a voz agressiva do vosso vocalista. Gostas desta descrição? Eu. Neste disco compus praticamente tudo o que se ouve. “ […] tudo o que temos é fruto de muitas lágrimas, quilómetros, várias noites em branco repletas de crises de existencialismo e todo o sacrifício que tivemos que

suportar, seja ele mental, físico

e familiar.

Talvez por isso as músicas sejam tão intimistas e libertadoras, pois são o reflexo daquilo que senti quando as escrevi. Debati-me imenso após o lançamento do «Unsettling Whispers» interrogando-me sobre se faria sentido escrever novamente para este projeto. Quando o momento certo chegou, senti-me livre, disperso, distraído por tudo o que me era injetado pela inspiração do momento. Não considero GAEREA uma banda de Black Metal por ter riffs ou blast beats rápidos. Considero esta banda de Black Metal pelo que representa, pela emoção e pelo constante amor e ódio pela nossa fonte de inspiração. E sim, gosto da tua descrição. Sem dúvida uma variação do estilo um tanto especial.

Como conseguem produzir um efeito tão depressivo sobre o ouvinte [Está mesmo adequado à época que estamos a atravessar.] Nada nesta banda é fabricado com o propósito de fazer sentir algo que nós nunca experienciamos. Se a emoção, o fechar de olhos e o choro poderão ser alguns dos efeitos em alguns ouvintes, tenham agora a certeza que também sentimos esta música da mesma forma. Deixamos tudo da nossa alma em palco, no estúdio. Apenas nos sabemos expressar musicalmente dessa forma. Sem truques, sem falsos ódios, nem falsos movimentos. Não te sei explicar como chegamos a este estado catártico, mas posso-te mostrar num concerto.

A capa que Eliran Kantor fez para «Limbo» é verdadeiramente estranha. Podes explicar-nos o que representa e como se relaciona com o vosso álbum? Não a acho estranha de todo. Até arrisco dizer que nunca tivemos uma peça artística tão representativa da nossa Arte. Existe um momento no Disco onde um som ecoa pelas cidades, pelas ruas, pelos corredores. Um som tão vazio, mas ao mesmo tempo tão quente e acolhedor para as mentes de todos os que o ouviram. Nesse episódio do disco, as pessoas desapegam-se de tudo e saem para a rua pela última vez nas suas vidas. O momento que o Eliran ”capturou” prende-se com aquele preciso segundo. A mais aguardada libertação, a salvação dentro do mais belo, organizado e catártico Caos. De que forma participou a banda na sua criação? Muito ativamente. Como com qualquer artista com quem trabalhamos, dei toda a liberdade criativa ao Eliran, porque respeito imenso o seu trabalho, a forma como consegue representar a Agonia na sua mais esplêndida forma. Contudo, era muito importante para nós que este episódio em especial pudesse ter o seu momento visual no disco.

Qual é a vossa maior ambição neste momento? Levar este disco a todos os cantos do planeta. Temos muitas novas datas para anunciar para o ano e sei do que falo quando digo que quero levar este trabalho a todo o lado.

Para terminar: o que significa o nome da banda? Onde o encontraram? Gaerea significou e significa apenas uma coisa: aquilo que sentimos quando tocamos estes temas como uma unidade, um só. Não pode ser explicado porque creio ser uma experiência inigualável na minha vida, mas pode ter um nome: Gaerea. Facebook Youtube

“O vasto e tão abstrato Limbo entre a realidade e a ficção. A morte e o desejo de morrer.

A vida enquanto matéria prima de algo superior. A agonia e a libertação.

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