A LENDA DA MENINA DO LARANJAL
Conta-se que noutro tempo, Galveias se chamaria Vila Nova do Laranjal. E tinha a tradição de criar um galo que cantasse na missa de Natal.
A responsabilidade da criação desse galo era uma honraria, confiada aquele que fosse considerado o melhor da terra.
Certa vez, dois candidatos se apresentaram. A autoridade maior, o Meirinho, solicitou a cada um que apresentasse testemunhas, que certificassem as suas virtudes. Ambos escolheram a mesma pessoa: a Menina do Laranjal!
Era uma jovem orfã que vivia com uma tia. Para lá da beleza era também conhecida pela virtude e bondade. Mas cruel dilema lhe colocaram porque desconhecia os candidatos e assim, seria difícil escolher o melhor.
A tia deu-lhe uma solução: o mais rico! Mas tal era contrário à natureza da jovem.
Os candidatos escolheram caminhos diferentes: um, pediu ao Meirinho para falar com a Menina. O segundo optou por abordar a tia, supondo a influência que esta poderia ter sobre a sobrinha.
Quando apresentou a decisão, a Menina disse que só um dos candidatos tinha falado com ela. E que lhe tinha dedicado palavras de amor. Por isso seria esse o que ela escolheria.
O adversário não ficou nada satisfeito e alegou que já tinha pedido a mão da jovem em casamento, à sua tia.
Com a autoridade de juiz e a sabedoria da função, o Meirinho entendeu que o primeiro tinha tido a abordagem mais honesta e por ele decidiu. A ele entregou o galo.
O despeito é mau conselheiro! E o candidato derrotado só via a vingança à frente...
Quando se chegou às vésperas de Natal....o galo desapareceu!
Algazarra na vila, a indignação das gentes era tremenda e o Meirinho interviu. Mandou prender o responsável pelo galo. Que bem protestava a sua inocência mas sem efeito.
O castigo tinha que ser exemplar e preparou-se a forca. E quando o homem já pouca esperança tinha, lembrou-se que o galo sempre cantava quando via a Menina do Laranjal e a sua tia. Como último desejo, pediu ao Meirinho que ambas subissem ao alto da torre da igreja e assim, onde o galo estivesse, as pudesse ver...
Chegadas ao alto da torre, fez-se silêncio ... e logo se ouviu ao longe, o cantar do galo!
O homem, gritava emocionado: “O galo vê-as!” , “O galo vê-as!” ... Galveias!
Como todas as lendas, a Menina e o homem viveram felizes para sempre, o galo cantou na Missa ... do Galo, e a terra deixou de ser Vila Nova do Laranjal e tomou o nome porque hoje a conhecemos: Galveias!
A lenda está bem expressa no brasão da freguesia.
A CAMINHO DE GALVEIAS
Saí ao início da tarde..
Primeira paragem no Couço. Dizem que as empadas são óptimas. Como não aprecio, fico-me pelo café.
Dali, mais lógico seria ir até Ponte de Sor e daí em direcção de Galveias que dista apenas 12 km. Optei por dar uma volta maior.
Paragem no Couço - consta que as empadas são deliciosas...
Cabeção
Ali é possível observar inúmeros espécimes da fauna e flora fluviais de Portugal e da Península Ibérica. E até alguns exemplares de zonas mais remotas como por exemplo, as irrequietas piranhas ou uma pequena anaconda...
Do Couço fui até ao paredão da Barragem de Montargil. Já na Estrada Nacional 2, segui rumo a Mora.
Antes de lá chegar, virei à esquerda para Cabeção.
Passei pelo Fluviário de Mora e recomendo uma visita.
Em Cabeção, vila alva como todas no Alentejo, virei a norte. Passei em Aldeias Velhas e finalmente cheguei a Galveias. Até Cabeção a estrada estava em bom estado, daí até Galveias era mais estreita e nem sempre com bom piso... valeu a paisagem!
Fluviário de Mora
Fluviário de Mora
A caminho de Galveias
Galveias
Como em quase todas as terras do interior de Portugal, nas ruas pouca gente vemos...e é tendencialmente idosa.
Também não são nítidos sinais de grande prosperidade.
Mas o branco das paredes, o asseio das ruas e a calma das gentes, tão característicos alentejanos, conseguem esconder males de pobreza.
Mas Galveias é diferente.
A freguesia é das mais ricas do País, por força de uma herança em tempos recebida.
Tudo começou em 13 de Junho de 1876.
Nesse dia, pelo casamento, uniam-se as duas famílias mais ricas da terra. Com o matrimónio de D. Maria Clementina Godinho de Campos e Manuel Marques Ratão, nascia a Casa Agrícola Marques Ratão, uma das maiores do Alentejo.
EM GALVEIAS: A HISTÓRIA DE UMA HERANÇA!
A pacatez de uma vila alentejana
Deste casamento, nasceram 5 descendentes: João, Ana de Jesus, Manuel, José e Mário. Todos eles, prosseguiram o caminho trilhado pelos antepassados. No enriquecimento da Casa Agrícola, mas principalmente, na acção benemérita em prol da sua terra.
Em 1951, Ana de Jesus fundou a Sopa dos Pobres. José, não só financiou a construção do mercado coberto, como também a instalação de energia eléctrica ambos em 1953. No ano seguinte é criado o Posto Escolar e o Clube local. Depois vieram o Asilo, o Posto Hospitalar, o Bairro Económico, o edifício da Junta de Freguesia ou o Patronato de Raparigas. Com a chegada da década de 60, foi inaugurada a rede pública de abastecimento de água e a Cine-Esplanada de S. José. Ainda o Bairro para Pobres, o posto da GNR, o refeitório escolar, o lagar comunitário. E outras minudências: ruas pavimentadas e jardins, igrejas e capelas, saneamento básico, os Correios...
Posto Escolar
Sociedade Filarmónica Galveense
Infantário Dona Anita
Junta de Freguesia
Posto dos Correios
Em 1956, a família criou, em homenagem à matriarca, a Fundação Maria Clementina Godinho de Campos com vocação assistencial que ainda hoje conserva: lar de idosos, posto hospitalar, centro de acamados, centro de dia e apoio domiciliário.
Sucede que nenhum dos irmãos deixou descendência! E nem sequer algum se casou.
Assim, quando em 1967, José Godinho de Campos Marques, o último dos irmãos falece, surpreende os conterrâneos com o seu testamento: a freguesia de Galveias juntamente com a Fundação Maria Clementina Godinho de Campos eram herdeiros universais de todo o património da Família Marques Ratão!
O benemérito foi claro na sua vontade para que os responsáveis pela administração (a Junta de Freguesia) não contrariassem o testamento, dizendo:
” ... quer que todos aqueles a administrar os bens e direitos que deixa à Freguesia de Galveias, jamais descurem o engrandecimento da vila, onde encaminhou os primeiros passos dotando-a de tudo o que for necessário e útil para o conforto dos seus habitantes e, para recreio e enlevo dos que a visitem. Recordando-lhes, pois, que administrem de olhos postos no bemestar da coletividade, servindo sempre as mais nobres e legítimas aspirações da mesma com altruísmo e dedicação”
A memória do benemérito e da sua herança
São quase 7 mil hectares de terreno fértil que abrangem vários concelhos da região, vastas zonas cobertas por sobreiros donde se extrai ciclicamente a cortiça, gado, alfaias agrícolas, casas e prédios (não só em Galveias, como também em Évora, Portalegre, Lisboa ou Algarve).
Só que a Junta e o Arcebispado têm apenas o papel de gestores do vasto património.
Em nenhum momento, qualquer parcela dessa riqueza pode ser vendido ou doado. E aqui começa o drama.
O património da Fundação beneficiou de gestão cuidada, mantendo a sua função e garantindo a sua adequada valorização.
Já aquele que ficou à guarda da Junta de Freguesia foi-se degradando quando deveria garantir, pelos seus proveitos, a adequada conservação e a rendibilidade que acautelasse o futuro.
Hoje, a Junta de Freguesia tem um dilema cuja solução está longe de encontrar:
não pode alienar património para conseguir recuperar o que está degradado e não tem fundos próprios que lho permitam, muito menos a valorização e consequente rentabilização.
Um beco sem saída....
O reconhecimento da população
O reconhecimento da população
Se nas ruas o reconhecimento é evidente, na página da Junta de Freguesia encontramos uma única referência ao nome Marques Ratão: o azeite e vinho que são comercializados com esta marca.
Quanto à família e à sua obra benemérita...nada! Distração?
De Galveias é um dos nossos maiores escritores da actualidade - José Luís Peixotoaqui nado e criado.
Foi, a seu tempo e com assinalável proveito, um beneficiário do Posto Escolar.
Galveias já está imortalizada na sua obra: é título de livro cuja leitura recomendo.
Façam uma visita a Galveias e percebam como num recanto alentejano, a visão e generosidade tiveram o poder de transformar uma terra.
Passem por lá, vão por mim, que vale a pena.
Homenagem a um filho da terra: José Luis Peixoto
Igreja Matriz
Capela da Santa Casa da Misericórdia
Casa da Família Braga
Todas as terras têm o seu Café Central
Adoro História, em particular a época dos Romanos. Que não eram loucos, como costuma dizer o Astérix!
Saí de Galveias com um sentimento misto: o de ter ido ao encontro de uma história bonita e com a angústia de não sabermos conservar a herança que nos é deixada. A nossa História secular aqui resumida numa pequena terra alentejana.
Segui rumo a Ponte de Sor onde não cheguei a entrar.
Na EN119 em direcção a Alter do Chão fui ao encontro da Ponte Romana de Vila Formosa.
Esta ponte integrava a importante estrada que unia a capital da província romana da Lusitânia - Mérida - e o seu principal porto atlântico: Lisboa.
Em excelente estado de conservação está hoje aliviada do trânsito, beneficiada por viaduto próximo que para mais, permite-nos observar a sua beleza. Que a Ribeira de Seda complementa.
UMA PONTE AQUI PERTO...
Ponte romana de Vila Formosa
Ponte romana de Vila Formosa
A tarde estava a chegar ao fim. Era tempo de rumar a casa, que neste caso ficava longe logo ali...ao virar da esquina!
Esta Triumph será a melhor proposta deste segmento: motos de média cilindrada, vocacionadas para um desempenho estradista, polivalentes na sua utilização e suficientemente económicas.
Na ponte romana de Vila Formosa a caminho de casa!
Triumph Tiger Sport 660
O motor tricilindrico tem como características o equilíbrio, a suavidade e a elasticidade. A ciclística adequada complementa na perfeição. Permite-nos tanto uma condução tranquila e rápida em estrada, com recuperações fáceis, como alguma agressividade na abordagem a estradas mais sinuosas onde o prazer de condução se manifesta. E em cidade, a sua ligeireza deixa-nos enfrentar o trânsito com a maior facilidade
A qualidade de construção é a tradicional da marca. E quanto a economia de utilização, ao longo de 800 km sem preocupações de poupança, a média alcançada foi de 4,5 l/100. À qual se deve juntar o espaçamento entre revisões: 16.000 km.
Naturalmente que a sua dimensão não a tornará adequada para viagens até ao fim do mundo. Mas para quem quer uma moto para o seu quotidiano, que depois lhe permita usufruir das nossas estradas nos momentos de lazer, esta é uma excelente proposta. E por pouco menos de 10 mil euros, podemos ir buscá-la a um stand da Triumph.
Triumph Tiger Sport 660
A Tiger na cidade
Esta crónica foi publicada na revista MOTOCICLISMO #06 - Junho 2022
Para ver também no canal de YouTube de Viagens ao Virar da Esquina:
”À PROCURA DE UMA HISTÓRIA...”
“NO TRIÂNGULO DE S. MAMEDE”
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