“MEMÓRIAS” JOSÉ RÉGIO
VIVA A VIRGEM, VIVA A MALGADA!
EVOCAÇÃO DE UMA ALMA ILUSTRE
“UM OLHAR SOBRE VILA DO CONDE” POR PAULO COSTA PINTO
Nº 001 Fevereiro 2013
CAPA Fotografia de António Maia Local Forte S. João Baptista
EDITORIAL A revista e-vilacondense do Vilacondense - Roteiro Online, é um espaço que procura dar a conhecer melhor aspectos da cultura, história e atualidade do concelho de Vila do Conde. Nesta primeira edição, a revista divide-se em várias secções, das quais destacamos duas: “Um Olhar Sobre Vila do Conde” e “Memórias”. A rubrica “Um Olhar Sobre Vila do Conde” é um espaço onde o nosso convidado se expressa livremente sobre a sua relação com o concelho e revela pormenores escondidos da sua vivência nesta terra à beira mar plantada. As “Memórias”, por Hélder Guimarães, são o relembrar do passado e das tradições do concelho de Vila do Conde, algumas esquecidas com o passar dos anos e que gostaríamos de manter vivas nas memórias dos Vilacondenses. Alexandre Maia
CONTEÚDO
01 EDITORIAL OLHAR SOBRE 03 “UM VILA DO CONDE”
03
POR PAULO COSTA PINTO
09 NOTÍCIAS 13
“MEMÓRIAS”
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VIVA A VIRGEM, VIVA A MALGADA!
27 FUSÂO
RESTAURANTE LOUNGE
33 FOTOVILA
CONCURSO FOTOGRAFIA
27
35 CAV
CLUBE AIRSOFT VILACONDENSE
39 “PERCURSOS”
MORADAS DA FÉ
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45 JOSÉ RÉGIO
EVOCAÇÃO DE UMA ALMA ILUSTRE
54 AGENDA
FEVEREIRO
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“UM OLHAR SOBRE VILA DO POR PAULO COSTA PINTO
Um homem é pouca coisa! Um vento passa e com ele o homem passa também. A erva murcha no chão e depressa o homem seca com a erva. Mas o trabalho dele, somado a outro trabalho, muda a face à terra. Agustina Bessa Luís in “A Terra Muda”
Notas Arqueológicas Históricas do Concelho Vila do Conde A minha ligação a Vila do Conde começou por ser afetiva, resultado de uma infância que viveu uma parte das intermináveis e maravilhosas férias de verão na praia de Mindelo. Vi aí, ainda, a caminho da praia, entre os pinhais e o mar, os campos de masseira cultivados no meio de dunas, protegidos por canaviais e seguros por umas vinhas milagrosas, que cresciam na areia. Depois de um interregno de mais de dez anos, o meu destino voltou a cruzar-se com Vila do Conde quando na segunda metade dos anos de
1980, ainda estudante da universidade, fui convidado pelo então IPPC (Instituto Português de Património Cultural), dirigido pelo ainda jovem Dr. Lino Tavares Dias, para constituir o Grupo de Estudos do Castro de Alvarelhos. Trata-se de um monumento nacional também conhecido como Cividade de Palmazão, que é um extraordinário povoado Galaico Romano, vizinho de Guilhabreu, em tempos dominante no sul dos concelhos de Vila do Conde e da Trofa e no norte da Maia e de Matosinhos.
O CONDE”
Já então se afirmou a matriz do que veio a ser o meu comportamento posterior. Assumi que o meu trabalho devia constituir um alicerce para que outros pudessem construir como bem define o aforismo de Agustina Bessa Luís que inicia este artigo. O trabalho que desenvolvi no âmbito deste grupo deu-me um conhecimento profundo da região. Consistiu de um levantamento bibliográfico sobre a envolvente de Alvarelhos, num total de trinta freguesias entre Lousado (Vila Nova de Famalicão) e Touguinhó, a norte e S.Romão do Coronado e Gemunde
a Sul. Onze destas trinta freguesias eram de Vila do Conde. Depois do levantamento bibliográfico iniciámos um levantamento exaustivo da microtoponímia deste território, com base nas matrizes velhas de finanças. Iniciei aí uma relação que viria a durar muito tempo, com as fontes de história económica da região do Ave. A terceira fase deste trabalho mal foi iniciada e consistia na prospeção exaustiva desse território. Batemos o terreno em Lousado e S. Martinho de Bougado. Conheci então a ponte da Lagoncinha descobrindo o marco que limita o concelho de Famalicão do lado esquerdo do rio Ave.
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Pouco depois, em 1991, por convite do Prof. Doutor Brochado de Almeida, integrei a equipa que elaborou o relatório de arqueologia do Plano Diretor Municipal do Concelho de Vila do Conde. O meu conhecimento do concelho tornou-se então sistemático, ainda que distante da consciência que vim a adquirir ao longo de vinte anos que aqui trabalhei depois. Na sequência do Plano Diretor Municipal e das obrigações impostas aos municípios pela Comunidade Europeia (ainda não União Europeia), foi criado um Serviço de Arqueologia Municipal que instalei
a partir de Agosto de 1992. O concelho, no terreno, conheci-o de imediato, graças ao contributo de dois vilacondenses apaixonados: António Maia, pai do Alexandre Maia, (que agora me desafia a participar desta aventura editorial) e José Ferreira dos Santos. O primeiro foi o fotógrafo municipal durante décadas e que conhecia os recantos do concelho com detalhe. O segundo foi um voluntário, originário de Bagunte que, apercebendo-se da minha paixão pelo que fazia, se ofereceu para levar no seu automóvel a conhecer sobretudo a história das freguesias do norte do concelho.
Ambos têm a minha mais profunda gratidão. Trabalhar em Vila do Conde foi uma vertigem e um privilégio. Uma vertigem porque o trabalho a fazer era imenso e apaixonante. Um privilégio porque cheguei a Vila do Conde numa fase de mudança fulcral na vida do concelho. Conheci pessoas por cuja memória nutro um imenso respeito, a maior parte das quais na Comissão de Defesa do Património. Eugénio da Cunha Freitas, Fernando Eça Guimarães, Joaquim Pacheco Neves , José António Sousa Pereira são nomes inesquecíveis que muito me ensinaram. Um privi-
légio também porque pude trabalhar com pessoas verdadeiramente apaixonadas por Vila do Conde que fizeram o seu melhor pelo bem da comunidade no município e fora dele. Recordo neste caso o contributo de duas pessoas que me acarinharam e me prestaram muitas e preciosas informações: António Ferreira Vila Cova, com quem trabalhei em regime voluntário no Museu do Mar das Caxinas e Artur Bonfim com quem mantive conversas que eram uma fonte viva de história local.
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Muitas outras pessoas contribuíram para a minha formação e me permitiram estabelecer relações entre conhecimentos que muitas vezes não tinham ainda sido estabelecidas. A maior parte delas está felizmente viva e continua a ser um prazer aprender com elas. A maior honra, porém, foi ser o detentor de uma parte da memória coletiva deste povo extraordinário. Lembro-me de me comover a primeira vez que vi famílias inteiras, a cantar, na volta da praia no S.João, a mesma comoção que tive quando em Bagunte a população emprestou o equipamen-
to (tratores e motosserras) para iniciar o trabalho de limpeza na Cividade, ou quando o jovem Presidente da Junta de Labruge, na primeira metade dos anos 90, não hesitou em afrontar tudo e todos para encerrar o castro de S.Paio ao trânsito, salvando um monumento extraordinário. Há pouco mais de um ano, li num antigo jornal de Vila do Conde a expressão de um habitante de Mosteiró que dizia “ somos a gema do ovo”. Um sentimento que sem dúvida se aplica a todo o concelho!
O que me proponho trazer a esta publicação é de algum modo uma devolução. Ao longo dos anos tomei muitas notas que nunca tive tempo nem oportunidade de publicar, escrevi muitas reflexões que em muitos casos nem sequer são originais, limitando-se a coligir dados publicados, mas que muitas outras vezes estabelecem relações, essas sim originais. Pude também fazer ou observar muitas escavações arqueológicas que não foram divulgadas. São tantas as informações que constituem mais do que um conjunto de conhecimentos, são como uma muito elementar e parcelada consciência histórica e geográfica do concelho e fecham de forma afetiva um percurso que assim começou, há 40 anos nas praias de Mindelo.
Aproveitando o convite do editor Alexandre Maia vou devolver aos leitores, sempre que for possível, as minhas notas sobre a Herança dos Vilacondenses.
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NOTÍCIAS - DESTAQUE Reorganização das freguesias do concelho promete alterar a vida dos Vilacondenses No passado dia 16 de janeiro, o senhor Presidente da República promulgou o decreto 110/XII, não sem antes expressar as suas preocupações em mensagem enviada à Assembleia da República. “Esta lei procede a uma profunda alteração da composição territorial das freguesias, sem paralelo no nosso País nos últimos 150 anos.”, refere Cavaco Silva. O presidente reconhece que a reforma “têm implicações em mais de duas centenas de municípios e reduzem em mais de mil o número de freguesias.” O Presidente da República expressa, ainda, preocupações no que concerne à organização do acto eleitoral autárquico que se realizará em outubro próximo. Contra esta lei está a ANAFRE, tendo a Associação Nacional de Freguesias solicitado ao Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva da chamada “Lei do Mapa”. Mário Almeida, Presidente da Assembleia Geral da Associação de Municípios e Presidente da Câmara Municipal de
Vila do Conde, também se manifestou contra esta reforma. E você já sabe a que freguesia pertence após esta revolução no mapa autárquico? E o que muda com esta reorganização administrativa das freguesias? Relativamente ao concelho de Vila do Conde o número de freguesias a reduzir é de nove, ou seja, das atuais trinta freguesias que compõe o concelho ficaram apenas 21. Estão diretamente envolvidas 17560 pessoas, cerca de 22% da população residente no concelho. As freguesias agregadas são todas do interior. Já na vizinha Póvoa de Varzim, cerca 85% da população é afectada, uma vez que a sede do concelho, e freguesias mais populosas do litoral, são envolvidas nesta reorganização, situação que não se passa em Vila do Conde. (ver anexo) O decreto prevê, porém, que se mantenham as identidades histórica, cultural e social, mas a cessação jurídica e identidade (denominação) só cessarão definitivamente após as
eleições gerais para os órgãos autárquicos. Trabalho numa Junta de Freguesia. Vou perder o meu emprego? Apesar da instabilidade que marcará a função pública, em virtude do relatório do FMI, que prevê a dispensa de 100.000 funcionários públicos, as novas freguesias assumem todos os encargos e benefícios das extintas. Assim, o número 2 do art.º 6º prevê expressamente a inclusão dos “contratos de trabalho e demais vínculos laborais nos quais sejam parte as freguesias agregadas.” Não é líquido que vá perder o seu emprego. Onde é a sede da minha junta?
A sede da junta é determinada pela Lei (consultar tabela abaixo), mas poderá ser alterada depois das eleições, se assim o decidir a nova Assembleia de Freguesia agregada. Nasci numa freguesia extinta. A minha naturalidade será modificada? A sua identidade não será alterada. Se assim o solicitar na Conservatória do Registo Civil, poderá manter a denominação da freguesia onde nasceu. Tal também é valido para os Registos Matriciais (propriedades), que se mantêm válidos. Os novos registos, seja de crianças, seja de propriedades, terão que ser efetuados com a nova nomenclatura da freguesia agregada.
DECRETO 110/XII – REORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DAS FREGUESIAS Alterações Administrativas no Concelho de Vila do Conde
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Artefactos pirotécnicos apreendidos em Vila do Conde
Numa operação de combate à criminalidade, que decorreu na noite de quinta-feira para sexta-feira, a Polícia de Segurança Pública apreendeu, num estabelecimento em Vila do Conde, cinco potes de fumo e dois fachos de Ler mais ... mão.
Causa do incêndio na zona industrial de Varziela por determinar
As causas do incêndio que deflagrou esta quinta-feira num armazém na zona industrial da Varziela, conhecida como “China Town” de Vila do Conde, estão ainda por apurar e, segundo o comandante dos bombeiros será Ler mais ... “complicado” descobri-las.
Dois homens detidos em Vila do Conde por furto
Numa operação policial de combate ao crime de roubo com recurso a arma branca, a Polícia de Segurança Pública deteve ontem o responsável pela prática de roubos em lojas de compra e venda de ouro, na Póvoa de Ler mais ... Varzim e em Vila do Conde.
Quinze detidos no Porto, Gaia e Vila do Conde
A PSP do Porto anunciou a detenção de 15 indivíduos, sete dos quais condutores com excesso de álcool e outros seis por tráfico de drogas, no âmbito de ações de fiscalização que decorreram no Grande Porto.
Ler mais ...
O Temporal em Vila do Conde
Efetivamente, em consequência das fortes rajadas de vento e da precipitação intensa que assolou o concelho, foram muitos os pedidos de ajuda para os Bombeiros e a Proteção Civil Municipal.
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CFV - Ano Novo Positivo!
Decorreu durante o último fim-de-semana, dias 26 e 27 de janeiro, o Torneio de Ano Novo, prova organizada pela ANNP. O CFV marcou presença através de 26 nadadores (18 infantis e 8 juvenis), que representaram o clube dignamente com resultados claramente expressivos da evolução até agora alcançada. De facto, é de realçar que em 69 provas que foram nadadas, 102 recordes pessoais foram alcançados, para além da obtenção e confirmação de tempos de acesso aos Campeonatos Zonais/Nacionais do respectivo escalão por parte de alguns nadadores. O espírito de equipa e o bom ambiente competitivo que envolveram as provas foram muito importantes para a obtenção destes resultados. São também fruto do empenho e dedicação aos treinos realizados até à data. Foi mais um passo dado para alcançarem os seus objectivos individuais. e-vilacondense
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Estamos em pleno Inverno. O tempo está frio, a chuva, por vezes, forte marca um compasso monótono. Que motivos têm os vilacondenses para festejar? E no entanto, este período sombrio que é característico dos meses de Inverno são de intensa celebração. Sobre a festa de Santo Amaro, a Feira dos 20 e a Senhora da Guia debruçar-nos-emos ao longo deste artigo. Estas celebrações religiosas, que assumem um evidente caráter profano, perdem-se na memória e misturam a mundividência cristã e a mundividência pagã. A nossa referência serão as memórias do senhor Artur do Bonfim, memória inestimável da História Local na segunda metade do século XX. No entanto, utilizaremos outras fontes, reconhecendo que a memória humana, embora constitua um instrumento valioso na construção do discurso histórico, possuem pouco poder de alcance temporal e, muitas vezes, atraiçoam-nos. Assim, consultamos algumas fontes periódicas e, numa fase muito recente recorremos às nossas próprias memórias e experiências.
“MEMÓRIAS”
VIVA A VIRGEM, VIVA A MALGADA!
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«Santo Amaro, meu Sant’Amarinho, vou-vos amarrar com rosca e vinho» As Memórias Paroquiais de 1758 providenciam-nos uma das melhores imagens do país no Antigo Regime. Tratou-se de um inquérito ordenado pelo Marquês de Pombal e dirigido a todos os Párocos do Reino. E assim, o Prior de Vila da Conde à época, o Rev. Francisco de Lima e Azevedo Camelo Falcão apressou-se a cumprir a ordem do todo-poderoso Secretário de Estado, fornecendo-nos o retrato da vila, dos seus recursos e dos seus costumes. E a pena do Prior não falhou ao descrever a festa de Santo Amaro, e de como em o dia do santo “concorre em o terreiro da sua capela uma feira que dura o espaço de três dias, romagem numerosa, com fran-
queza de tempo antiquíssima, e que em algum tempo durou oito dias” 1. As informações dadas pelo Prior mostram-nos que durante o século XVIII já se fazia esta festa e que a mesma seria antiquíssima e que muita gente à feira acorria, sem nela pagar imposto alguma. Este cenário ainda se verificava na transição do século XIX, para o século XX. Em 1889 noticiava “O Jornal de Villa do Conde” que a festa se fazia “com música na véspera e no dia, missa cantada, sermão e o costumado arraial.” A fonte reforça a ideia de que esta festa era das que mais pessoas atraía a Vila do Conde2. Em 1908 M. Nogueira relatava no “Commercio de Villa do Conde” que
“o arraial da festa que ali se realizava em honra d’aquele Santo, se constituía numa importante feira, tal a concorrência que ao local afluía”. Reconhecia, porém, o autor que em 1908 a importância dessa feira, que outrora durava oito dias (de 14 a 21 de janeiro), era já reduzida, só importando o dia do Santo e o Domingo seguinte 3. Em 1949, o “Renovação”, dava os parabéns à Confraria de Santo Amaro pela “grandiosa procissão que pela sua organização e pela riqueza e bom gosto dos numerosos grupos de an-
jos e figuras alegóricas, ricos andores e numerosas confrarias que nela tomaram parte. 5” A realização da procissão de Santo Amaro em 1949 foi uma das raras excepções, pois da sua realização pouca memória há. A festa era de missa e romaria com muita concorrência de gente das freguesias vizinhas. Artur do Bonfim lembra que outrora, os mesários se aproveitavam do culto ao Santo e os versos cantados nas tascas onde se “amarrava” o Santo com rojoadas e fritos:
“Pelo Santo Amaro, De vós como, de vós bebo, E de vós pago a quem devo! 5”
1 Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) - DICCIONÁRIO GEOGRÁFICO DE PORTUGAL, Tomo 40, Vol. 3, página 33 2 Biblioteca Municipal de Vila do Conde (BMVC) - Jornal de Villa do Conde, nº 164 de 12 de Janeiro de 1889, p. 2 3 BMVC – NOGUEIRA, M., 1908 – “A Nossa Gravura” in “O Commércio de Vila do Conde”, nr.º 63 de 2 de fevereiro de 1908, p. 1-2 4 BMVC – RENOVAÇÃO, nr.º 417 de 22 de janeiro de 1949, p. 4 5 REIS, A. do Carmo (coord.), 2009 – “As memórias de Artur do Bonfim”. Vila do Conde, Ateneu de Vila do Conde, p. 75
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Ora, era de tal forma o aproveitamento que se fazia da festa, que os Mesários da Confraria tinham má fama. Dizia-se que o dinheiro era dividido no sistema de “malga para ti, malga para mim…”. E daí se compreenda o último verso cantado “E de vós pago a quem devo”. Em 1917 noticiava “A República” que esta festa costumava ser “muito concorrida e muito rendosa para o Santo.”6 Mas em 1950, noticiava a Renovação: “já vai longe o tempo em que o rendimento da festa (…), em patacas e vinténs, se media às tijelas… Agora porém, o caso é mais sério, e a Confraria para manter a tradição da festividade, vê-se, por vezes, em embaraços.”7 Acabaram as malgadas! Os mesários já não se governam com o Santo. Mas os vinténs e os patacos ainda se mantêm em forma de euros, pelos menos os suficientes para que no terreiro da capela ainda se celebre Santo Amaro, bem amarrado à mesa dos vilacondenses com os rojões, as papas e o vinho. «Bendito! Meu negócio de uma cana! Para viver no mundo alegremente, venha uma feira desta por semana» Os mercados no Antigo Regime e, porque não dizê-lo, durante o século XIX e boa parte do século XX, não eram espaços exclusivamen
te comerciais, eram-no também de convívio e troca de experiências. Isto é notório sobretudo em espaços rurais, como é o caso de Vila do Conde. Partindo de comunidades rurais pequenas, e atarefados com os afazeres do campo, os lavradores iam à feira não só para vender ou comprar. Ia-se, trajando o melhor fato ou vestido, para conversar, jogar às cartas, beber o quartilho de vinho, namorar. Nessa época, os mercados em Vila
BMVC – A República, nr.º 304 de 14 de janeiro de 1917, p. 2 BMVC – A Renovação, nr.º 468, de 21 de janeiro de 1950, p. 2 GUIMARÃES, Hélder, 2008 - “Os Ilustres de Vila do Conde”. Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, p. 186-194.
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do Conde já não tinham um caráter esporádico, intrinsecamente relacionado com o calendário religioso. As feiras tinham dia fixo e realizavam-se todos os dias 3, 12, 20 e em 1873, criou-se mais um, também, fixo, a 27 de cada mês. Nessa época ainda não se realizavam nos lameiros existentes atrás da Matriz, mas espalhados por toda a vila: o gado era vendido no terreiro, os tamanqueiros faziam seu negócio na Praça Vasco da Câmara, as cavalgaduras a leste da ponte, junto ao antigo matadouro municipal. Em dia de feira, as ruas de Vila do Conde transformavam-se num imen-
so centro comercial, onde reinava o caótico frenesim dos vendedores e dos compradores. Mais tarde virá o mercado e um dia fixo para a sua realização. Em 1883 os mercados semanais passaram a ser fixados à segunda feira por causa da concorrência de mercados de outras localidades vizinhas, que determinavam a afluência de comerciantes e clientes, afetando, deste modo a qualidade da feira. E as feiras eram uma importante fonte de rendimento para a edilidade, daí que ela se tenha preocupado em dotar estes espaços de grande dignidade8. e-vilacondense 18
Destas feiras, duas eram francas e destacavam-se pela sua grandiosidade: a de 20 de janeiro, no dia de S. Sebastião, e a de 3 de agosto, a primeira das festas do Carmo. A «Grande Feira dos 20», era já considerada pela imprensa local como uma das mais concorridas do Norte de Portugal. A Renovação revela-nos uma imagem do que foi aquele dia vinte de janeiro de 1942: “a parte central da vila atulhada de lavradores e não lavradores, lavradeiras ouradas, filhas-família todas de ponto branco, algumas com as relíquias de chapéus de 1860, moçoilas do campo com o seu derriço, enfim Maneis e Marias sem conta – Vila do Conde era, de facto, um paraíso terreal. O comércio, mesmo sendo Inverno, tirou o casaco e ficou em mangas de camisa. Devia ter sua-
do camarinhas de sangue, com tanta trabalheira, mas no fim da festa deu três pancadas no abdómen e disse olhando a gaveta: Bendito! Meu negócio duma cana! Para viver alegremente neste mundo venha uma feira desta por semana. 9” A pequena terra transformava-se, assim, num mar de gente, cheia com os ricos lavradores e suas famílias que inundavam as velhas ruas com os produtos agrícolas que vinham comerciar, e à vila vinham comprar os artigos das lojas e enchiam as tabernas. As raparigas apresentavam-se com as melhores roupas e ouros de família. Vinham, também elas, para a grande montra do mercado nupcial, exibir-se aos mancebos da vila ou a outros lavradores. Além do evidente pendor comer-
cial, associou-se esta feira a fins caritativos. Foi o que aconteceu em 1944, quando a «Grande Feira dos 20» serviu de pano de fundo ao cortejo das oferendas em favor das obras do novo Hospital da Misericórdia 10. Assim, acrescentava-se à evidente função económica uma função sócio-caritativa. Relativamente à vertente social, ao namoro, mais concretamente, ele não é evidente nas fontes até à década de 1950. Em 1952, A Renovação calculava que a multidão reunida em Vila do Conde, por causa da feira, se cifrava em quinze mil pessoas, dando-se especial relevo à mocidade que “deu largas à sua alegria 11”. Só em 1955 é que a designação «feira dos namorados» aparece pela primeira vez na imprensa e como forma de propaganda veiculada pela rádio e jornais, para atrair mais mocidade à feira 12. Isto não quer dizer, que popularmente o certame não fosse conhecido por «feira dos namorados». Oficialmente esta feira era a «Grande Feira dos 20». O povo é que lhe conferiu a bonita imagem associada ao namoro. Artur do Bonfim relata a feira na sua mocidade: vinham os rapazes e raparigas do Concelho para arranjar namoro. Os rapazes, em fila, iam falar com a moça. Perguntava à rapariga se era corrido, isto é, contar 9
coisas da sua vida, ou em verso. Conta o sr. Artur que uma vez uma pediu corrido e o rapaz, malandro, pegou nos socos e fugiu. Depois a rapariga regressava ao campo e contava quantos tinham ido “namorar” com ela. Era uma espécie de sondagem que atestavam a sua validade no mercado matrimonial, sendo, por isso, motivo de orgulho. A esta gente da lavoura juntavam-se, ainda os rapazes do liceu da Póvoa. Vinham e compravam colheres de pau, que ofereciam à rapariga que queriam namorar. E estas práticas ajudaram a dinamizar a feira, mas não o suficiente para que ela viesse a perder com toda a concorrência comercial, que não se compadece das tradições do povo. Hoje, a 20 de janeiro, já não se vendem as rezes, que ora são comerciadas pelas grandes superfícies comerciais. Já não se oferecem as moças casadoiras: o casamento já não é um valor essencial, nem sequer as raparigas precisam de esperar por uma feira para se mostrarem aos rapazes. Outras formas de convívio surgiram. Mas o que perdurou na sexta feira mais próxima do dia 20 de janeiro, a que se continua a chamar de «feira dos 20», independentemente do dia que calha, é esta bonita tradição de oferecer colheres de pau à mulher a quem se devota o coração.
BMVC – A Renovação, nr.º 161, de 31 de janeiro de 1942, p. 2 BMVC – A Renovação, nr.º 257, de 15 de janeiro de 1944, p. 4 BMVC – A Renovação, nr.º 569, de 26 de janeiro de 1952, p. 3 BMVC – A Renovação, nr.º 718, de 22 de janeiro de 1955, p. 4
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Senhora da Guia a Rir é o Inverno que está para vir… A festa da Senhora da Guia é um marco na vida anual da cidade de Vila do Conde. A data marca os quarenta dias do Natal, constituindo-se, portanto, na última festa relacionada com o ciclo natalício. Outrora, esta festa denominava-se Purificação de Nossa Senhora, lembrando o facto do período de abstinência sexual que as mulheres observavam no pós-parto e o início de um novo ciclo de reprodução. Hoje, esta festa não tem este pendor feminino. Após a renovação litúrgica do Concílio Vaticano II, a festa manteve-se, não como uma solenidade mariana, mas como uma solenidade do Senhor. É a festa da Apresentação do Senhor no templo, que assinala a apresentação de Cristo no templo em Jerusalém, como era hábito entre os judeus. Mas, tradição é tradição, e a festa ficou sempre associada à virgem Maria. Em muitos lados ela é a Senhora da Luz, Senhora das Candeias, porque a Liturgia do dia prevê solene lucernária. Em Vila do Conde esta festa é a Senhora da Guia, padroeira dos homens dos pescadores, a estrela do mar. A realização desta festa perde-se no tempo. O prior Francisco Falcão referia nas aludidas Memórias Paroquiais de 1758 que esta capela era antiquíssima,
Oratório dos Príncipes Fundadores do Mosteiro (D. Afonso Sanches e D. Teresa Martins em 1318) e que a mesma foi Igreja Paroquial de Navais, freguesia do atual concelho da Póvoa de Varzim. É possível que o fosse, dada a confusão administrativa que reinou em Portugal até à reforma dos concelhos no século XIX. E, no século XVIII, ainda era costume na procissão que da Matriz saía ir o Prior até Santiago (capela que se situava onde hoje existe o Parque de Ténis) e aqui era substituído pelo Pároco de Navais. Aliás, reconhecia no século XVIII o Prior Camelo Falcão que o clérigo de Navais “ainda hoje nella exercita a jurisdição de pároco”. Informa-nos o Prior que esta capela “é templo mui vistoso, e ornado, cabeça de Irmandade “a que estão adidos os marítimos e pescadores do alto da vila”13. Portanto, e ainda que a festa da Senhora da Guia não fosse no século XVIII, como hoje a conhecemos, sabemos que a capela já existia, assim como a festa e a veneração que lhe devotavam os mareantes da vila. No final do século XIX, «O Ave» noticiava que não eram apenas os pescadores da vila que concorriam a esta romaria, mas também da vizinha Póvoa de Varzim14. Esta tradição manteve-se como um rochedo, com um dos muitos que
13 ANTT - DICCIONÁRIO GEOGRÁFICO DE PORTUGAL, Tomo 14 BMVC – O AVE, nr.º 138, de 4 de fevereiro de 1895, p. 2
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servem de fundação à capela da Senhora da Guia. Nem a laica República (1910-1926), nem as dificuldades e fomes da I Guerra Mundial (1914-19) e II Guerra Mundial (1939-45), destruíram esta bonita tradição. Em 1915 o jornal “A República” noticiava a festa da Senhora da Guia, com missa, sermão e arraial, como Deus manda e não podia deixar de ser. E, rematava a notícia, que se o tempo permitisse, coisa que naquele ano não tinha acontecido, era um “passeio lindo que disfrutam todos aqueles que nesse dia vão à Senhora da Guia” 15. Em 1917, o temporal também alterou os programas desta festa, realizando-se a procissão no dia 2, dia da festa 16. Se tempo houve que pusesse em causa os festejos, esse foi o tempo
metereológico. “Senhora da Guia a rir é o Inverno que está para vir. Senhora da Guia a chorar é o Inverno a acabar”. Este rir e chorar aludem ao bom ou mau tempo, respectivamente. E é esta esperança de que o Inverno passe, e logo desponte o sol e o bom tempo que se deposita na expressão da Senhora. Se está sol, pois então vai a Senhora a rir; se está a chover, pois então vai a chorar. Em 1941, queixava-se o Jornal “Renovação” que apesar do mau tempo e da carestia de vida, os pescadores vinham a esta festa para “exteriorizarem a sua alegria nos estabelecimentos de vinho da beira-rio, contentes das graças e milagres recebidos” 17. Esta fé aliada à necessidade de conviver em tempo de defeso, tem sido o motivo para a
longevidade desta festa. Apesar dos tempos maus da guerra e da fome, nunca faltou o dinheiro para a fazer. E a festa desenrolava-se desde a zona ribeirinha da cidade até à capela. Numa primeira fase não importava se o dia da procissão calhava no Domingo anterior ou no dia anterior. Artur do Bonfim conta nas suas memórias que a construção naval parava, quando pelos estaleiros passava a procissão. Muito provavelmente, isto tem a ver com a novena. Voltando a recorrer à memória de Artur do Bonfim, quinze dias antes da festa distribuíam-se os santos por casas
particulares, enquanto a Senhora da Guia “Nova” ia para casa de Jeremias Novais, construtor naval onde se fazia a novena popular. A Senhora da Guia “Velha” ia para a Matriz, para a novena oficial 18. Terminada a novena, geralmente no dia anterior, saía a procissão, para que no dia seguinte se realizasse a Missa e o Sermão, com a capela devidamente asseada. Este era dia santo de guarda, de tradição antiquíssima. Ora, como o ritmo da vida económica não se compadecia com os ritmos das tradições, nos anos 50 a procissão passou a ser ao Domingo e a festa manteve-se no dia 2.
15 ANTT - DICCIONÁRIO GEOGRÁFICO DE PORTUGAL, Tomo 40, Vol. 3, página 33 16 BMVC – O AVE, nr.º 138, de 4 de fevereiro de 1895, p. 2 17 BMVC – Renovação nr.º 111, de 8 de fevereiro de 1941, p.2 18 REIS, A. do Carmo (coord.), 2009 – “As memórias de Artur do Bonfim”. Vila do Conde, Ate-
neu de Vila do Conde, p. 76
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Nela tomavam parte todos os santos que existiam na capela. Digno de nota é a incorporação da nova imagem de Nossa Senhora dos Pescadores, outrora conhecida por “Stella Maris” ou “Estrela do Mar”, “reconhecida como uma das melhores obras de arte da escultura religiosa nacional”19. Lembro-me, em pequeno, de participar nesta procissão. Participava porque o meu avô trabalhava no estaleiro do Samuel, família muito ligada à Senhora da Guia. Nos anos oitenta, os andores viravam ao rio nos estaleiros, entre as carcaças dos barcos que ali se faziam. Demorava uma eternidade e, nós, os anjinhos, mortos de frio e de cansaço ficávamos sentados no chão. Depois era o ribombar dos foguetes, que saudavam a padroeira dos mareantes de Vila do Conde. Quando a procissão passava junto ao quartel dos bombeiros, que naquela época era junto à doquinha (onde hoje remata os edifícios da Alameda), com a corporação alinhada e os carros perfilados, entrava no quartel a imagem do seu padroeiro, S. Marçalo, e então era ouvir as sirenes a tocar e o toque de continência. Era muito comovente. Voltavam a tocar a continência quando passava o pálio, com a relíquia do Santo Lenho que a capela possui. Depois, a procissão voltava a virar-se para o rio no Cais dos Assen19 20
tos. Já no tempo do Senhor Artur do Bonfim se voltavam os santos neste lugar. Era a saudação da Virgem a uma sua afilhada, que vivera na Azurara, e de lá lançavam o foguetório, tradição que os seus descendentes ainda hoje cumprem. Relata Artur do Bonfim uma velha história sobre este facto: em 1908 quando se viraram os andores ao rio, a imagem da Senhora da Guia terá rodado sobre si. Perante a recusa da Virgem em rodar para o rio, o povo logo viu sinal de mau presságio. E, de facto, teria sido por aquela hora da tarde que, em Lisboa, eram assassinados o Rei D. Carlos e o Príncipe Real D. Luís Filipe. A notícia estalara na Vila durante essa noite e fora confirmada no dia seguinte. Finda a procissão ou a missa, começava a festa profana. Não muito distante do que hoje se passa na tarde da romaria. Em 1937, noticiava a Renovação, que o arraial decorreria na tarde do dia 2 de fevereiro, abrilhantado por “um auto-falante propriedade do sr. João Garcia que nessa tarde estrizará vários discos de música” e encerrará a festa com oito peças de fogo preso 20. Também Artur do Bonfim lembra que após a procissão os pescadores ocupavam as tascas da beira-rio. Era a malgada (o vinho bebia-se à malga). Quando o estado de embriaguez ia já avançado, aclamava-se a Virgem com
BMVC – RENOVAÇÃO, nr. 212, 30 de janeiro de 1943, p. 2 BMVC - RENOVAÇÃO, nr. 110, 31 de janeiro de 1937, p. 4 e-vilacondense
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vivas à Virgem e vivas à malgada, as duas razões pelas quais se encontravam naquela situação. Apesar de Monsenhor José Augusto Ferreira, nada de mal ver nesta tradição, foi o Padre Porfírio Alves, mais austero e rigoroso, que acabou com ela 21. Estes são os vários rostos que a Senhora da Guia, tem para os
vilacondenses: último recurso dos homens do mar, premonitória das grandes catástrofes nacionais e do tempo meteorológico, motivo de festa e de convívio . A ela, reservamos, por fim, um último epíteto, mais doce, de consertar os corações desavindos. Dela escreveu Duarte Silva:
“Nossa Senhora da Guia Que tantos milagres fazes, Ando de mal com Maria Vem-nos tu fazer as pazes!” 22
REIS, A. do Carmo (coord.), 2009 – “As memórias de Artur do Bonfim”. Vila do Conde, Ateneu de Vila do Conde, p. 79 22 SILVA, Duarte, 1980 - “Fado” in “Rancho da Praça”. Porto, Brasília Editora. 21
Conclusão As festas e o convívio a elas associadas marcam um ritmo ao longo do ano. Não são unicamente símbolos religiosos. São símbolos da nossa cultura. Num mundo marcado pela absorção cultural (e é bom que saibamos apreciar outras culturas), há que defender o que é nosso. As tradições fazem-se da repetição dos costumes. Umas, por debilidade ou falta de enraizamento na população desvanecem-se no tempo. Outras, mais fortes, resistem ao tempo e à mudança. As tradições são a grande
“desculpa” para nos tirar da rotina diária e aproximar dos que nos são mais queridos. É esta adesão que nos identifica e nos reúne numa simbiose a que chamamos povo. E se neste mundo tão aflito com as questões da atualidade, as tradições reforçarem os laços que nos prendem, sirva de saudável escape para os nossos problemas, e, por isso, nos torne seres humanos mais felizes, então que no nosso coração não morra mais o grito “Viva a Virgem! Viva a malgada”!
AUTOR: HÉLDER GUIMARÃES
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No agradável cenário da praça José Régio, em Vila do Conde, descobre-se um local inovador.
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O Fusão Restaurante - Lounge abriu as portas em Agosto de 2008, na conhecida Praça José Régio em Vila do Conde, sob pretexto de impor o conceito, “cozinha de autor low-cost”. Um espaço “clean”, confortável e elegante onde o prazer de uma boa refeição se concilia, em pleno, com a melhor selecção de vinhos. A sua cozinha resulta de uma elegante interpretação e “fusão” dos nossos sabores mais tradicionais, características da gastronomia mediterrânica, com um toque de contemporaneidade da cozinha autor. Como complemento de um bom jantar, ou simplesmente para descontrair, o Fusão reserva-lhe, também, um espaço LoungeBar, onde após o prazer da mesa poderá apreciar entre outras sugestões, alguns dos nossos cocktails e passar momentos de agradável convívio, na companhia de boa música. Tudo isto, num ambiente amigável e acolhedor, onde um conjunto de profissionais qualificados o servirão com a postura e a atenção que merece.
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Fotovila é o concurso fotográfico do Vilacondense e tem como objetivo divulgar a beleza do concelho de Vila do Conde e os fotógrafos que a captam.
TEMA FEVEREIRO
“RECANTOS DA CIDADE”
REGULAMENTO 1. Tema Livre nos procedimentos técnicos a empregar, deverá obedecer a um tema genérico “Vila do Conde” e ao sub-tema do mês, definido na revista e-vilacondense, registando qualquer pormenor, situação ou acontecimento, desde que ocorridos dentro do concelho de Vila do Conde. 2. Obras O número máximo de fotografias a apresentar por concorrente é uma. A dimensão mínima é 21cm por 30cm, sendo requisito a orientação vertical. 3. Prazos e formas de entrega Os trabalhos deverão ser enviados através de e-mail para o endereço fotovila@vilacondense.pt até ao dia 15 de cada mês. O e-mail deverá conter os seguintes dados. - Nome do fotógrafo; - Título da fotografia; - Local da fotografia; - Data da fotografia (mês e ano) 4. Prémios 1º Prémio - Utilização da fotografia como capa da revista e-vilacondense com os devidos créditos do autor. 2º e 3º Prémio - Publicação da fotografia na revista e-vilacondense com os devidos créditos do autor. 5. Juri O juri sera composto por todos os utilizadores do nosso site (www.vilacondense.pt), através da atribuição de um voto à fotografia que mais gostam durante 10 dias. Os premiados serão os trabalhos que mais votos obtiveram até ao dia 25 de cada mês. Os trabalhos premiados ficam propriedade do Vilacondense - Roteiro Online, o qual se reserva o direito de os poder utilizar no nosso site www.vilacondense.pt e na revista e-vilacondense sempre que entenda conveniente, referindo sempre os respetivos direitos autorais. Quaisquer informações adicionais podem ser solicitadas através do e-mail fotovila@vilacondense.pt. e-vilacondense 34
CLUBE AIRSOFT VILACOND
Quem é o CAV? O que é o Airsoft? Maluqinhos com mania que são militares, ou apenas adultos que sempre sonharam ser o Rambo local? Nada disso, somos uma associação desportiva, sem fins lucrativos, fundada em Agosto de 2006, por um grupo de jogadores que pretendia mostrar esta nova prática desportiva ao cidadão comum e demonstrar que se trata apenas de um desporto radical de reencenação militar associada à prática física e desportiva. Obter o melhor da endurance física através de uma batalha virtual, apelando ao sentido tático que um combate real tem, aspeto e capacidade que o Paintball, modalidade altamente divulgada e conhecida, não consegue transpor. Fortemente empenhados no desenvolvimento desta modalidade, esta direção têm como projeto propor aos cidadãos de Vila do Conde
a sua participação em atividades ligadas ao universo do Airsoft. Mas não só em Vila do Conde pois neste momento o clube tem muitos associados habitantes de outras cidade e desenvolve atividades noutras localidades. Mas então o que é o Airsoft? O Airsoft na realidade chama-se “Softair”, é assim que aparece descrito em termos de lei, mas no termo comum passou a ser conhecido por Airsoft. Trata-se de uma prática desportiva radical, tal como o paintball, apresentando-se como um jogo tático em equipa, cujas regras são extremamente dinâmicas e adaptadas ao cenário envolvente. O Airsoft é praticado com armas de Softair, dispositivos portáteis que disparam esferas de plástico com seis milímetros de diâmetro, ao contrário do paintball que dispara bolas de tinta. Neste desporto (Airsoft) não se usa tinta para marcar, mas sim o impacto da munição para obter a rendição do adversário. Mas a real virtude das armas de Softair é o seu realismo e semelhança com armas reais. As réplicas estão à escala de 1:1, podem ser de metal ou de plástico. A propulsão da arma pode ser gerada através de molas (springers), mecanismos elétricos ou gás comprimido.
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Modalidades do Airsoft: J.T.E. - O Jogo Tático em Equipa consiste num desporto de equipa de inspiração na simulação tático-militar, colocando em confronto várias equipas de número indefinido de elementos em ambiente natural ou urbano, cujos jogadores são munidos de armas de softair. Os objetivos de jogo são delimitados no início e podem consistir na eliminação da equipa adversária, captura de um objeto ou jogador assinalado, escolta, ataque/ defesa de perímetro, entre outros. Tiro Prático - O Tiro Prático de Airsoft é uma vertente desportiva recente, que tem ganho adeptos e notoriedade no mundo do airsoft. Consiste na prática individual de tiro ao alvo com arma de softair, segundo as orientações do IPSC. A prática desta disciplina inevitavelmente eleva a capacidade de reflexos e da pontaria do participante. Embora esta seja uma adaptação para Airsoft da vertente real, existem muitas regras de prevenção que, embora atenuadas, necessitam de serem cumpridas para manter o nível de exigência que a ANA (Ass. Nacional de Airsoft) deseja, e garantir a máxima segurança dos praticantes, corpo de arbitragem e assistência. Tiro Desportivo - Pode ser de âmbito individual ou coletivo, aliando o tiro de precisão na sua forma mais simples com a prática de atividades atléticas como a corrida ou a corrida com obstáculos. Tiro de Precisão - Reveste âmbito individual, que consiste na prática de tiro ao alvo com arma de softair, de forma estacionária, exigindo concentração e disciplina do praticante. A ANA pretende estabelecer alguns padrões para o desenvolvimento desta modalidade, de forma a se poder enquadrar num panorama de competição por mais simples que seja. Biatlo - Consiste numa versão adaptada do Biatlo Olímpico (versão de Verão) para um enquadramento à realidade do airsoft. O percurso consiste num circuito fechado com 1/2 km de distância, que consoante o tipo de prova cada atleta terá de percorrer uma ou mais vezes. Ao longo do percurso encontrará diversos pontos assinalados para tiro ao alvo.
Para mais informaçþes: http://cavairsoft.nforum.biz/ http://facebook.com/cav.vilacondense E como uma imagem vale mais que mil palavras:
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“PERCURSOS” MORADAS DA FÉ
O património religioso de Vila do Conde constitui o mais amplo conjunto de património edificado e móvel da cidade de Vila do Conde. As igrejas e capelas que povoam o centro histórico de Vila do Conde atestam a fé católica dos vilacondenses,
a riqueza do burgo, mas também as suas dificuldades e anseios. Visite as moradas da fé de Vila do Conde para descobrir uma herança que remonta ao século XI e se estende até aos nossos dias.
Capela de S. Pedro de Formariz Antiga Igreja Paroquial da capela de Formariz (até 1868), a capela de S. Pedro conserva, ainda, uma belíssima pia Batismal. Restaurada nos anos 50 do século XX, é um belo exemplar de arquitetura rural em ambiente urbano. Igreja de Nossa Senhora da Lapa e S. Bartolomeu Exemplar do século XVIII, edificada no termo da vila para substituir uma velha ermida. A Igreja, em estilo barroco, é atribuída a Nicolau Nasoni.
Igreja do Convento de S. Francisco Construída no século XVI sobre as antigas ruínas do passal do Prior de Vila do Conde, ostenta um belíssimo portal manuelino. Fundada por D. Isabel de Mendanha em 1522, como Oratório do Convento da Encarnação, é hoje Igreja da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco. Nela podemos admirar as belas imagens que integram a Procissão de Cinzas. Igreja do Mosteiro de Santa Clara Exemplar gótico do século XIV, a Igreja do antigo Mosteiro de Santa Clara, atesta, pela austeridade da pedra, o poder das freiras de Santa Clara, donas da Vila. De realçar o belíssimo panteão dos fundadores/capela da Conceição em estilo manuelino onde estão sepultados os fundadores do mosteiro. Salientamos, também, o túmulo de D. Brites Pereira, filha de S. Nuno Álvares Pereira e o claustro. e-vilacondense
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Capela de Santo Amaro Edificada sobre o morro do mosteiro, esta capela do século XVII, de traça simples, é dedicada a Santo Amaro, padroeiro das enfermidades ósseas. Em seu terreiro se fazia feira pelo dia 20 de janeiro. Capela de Santa Catarina Edificada sobre um sítio ermo, provavelmente ainda durante os séculos XIV e XV. De traça simples, elevada sobre um afloramento rochoso, impressiona pelo seu singelo pórtico, de arco quebrado. Na parte sul existe uma galilé onde, segundo a tradição, vinha Antero de Quental escrever os seus sonetos e contemplar o mar. Igreja da Misericórdia Oratório da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde, aí foi fundada em 1510, embora a sua conclusão tenha sido muito posterior. De salientar a austeridade da sua fachada, do período do renascimento filipino, bem como o revestimento a azulejo no interior. Também se destaca a imagem do Senhor dos Passos , da autoria de João d’Afonseca Lapa.. Capela do Senhor da Agonia Pequeno templo que abre para a Praça Vasco da Gama, edificada em 1695, para que os presos nos fundos da Câmara pudessem ouvir missa.
Igreja Matriz de Vila do Conde A «igreja nova» de Vila do Conde, e sede paroquial, é o mais amplo templo do centro histórico. Mandada erigir em 1496 pelo povo, teve o alto patrocínio do Rei D. Manuel quando, em 1502, passou pela Vila. O pórtico, ex-libris do manuelino, ostenta, ao centro, a imagem do patrono da cidade – S. João Baptista. O interior, em três naves, capelas absidiais, transepto e capelas do transepto, apresentam retábulo dourados em estilo joanino. Capela de S. Roque Mandada erigir no século XVI, por voto especial do povo da Vila, em virtude da peste que grassava nessa época. A pequena capela contem o púlpito que, segundo se crê, é o primitivo da Igreja Matriz. Ao centro, no retábulo em madeira branca, encontramos o patrono S. Roque. Capela de S. Bento Mandada erigir por Manuel Barboza e sua mulher Maria Baía. A sua construção terminou em 1621, e para aqui vieram os fundadores, ambos já falecidos em 1621. Deles é a sepultura que se encontra no interior, e o escudo de família que observamos acima do pórtico. O interior é simples, com retábulo de talha dourada, em estilo barroco. O altar, em si, é já em estilo neoclássico. A imagem de S. Bento, é rodeada por pinturas da Virgem e o Menino (acima) S. João Baptista (Evangelho) e S. João Evangelista (Epístola). É propriedade da Câmara Municipal.
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Igreja do Convento do Carmo Apesar da austeridade e simplicidade da traça da Igreja ainda se conservam um portal lateral com concheados e enfeites tipicamente barrocos. O seu interior ostenta retábulos em talha branca neoclássica. Os carmelitas eram os confessores das religiosas de Santa Clara. O liberalismo pode ter posto em causa o processo de engrandecimento do templo, que hoje pertence à Câmara Municipal. Capela de Nossa Senhora do Socorro A capela da Senhora do Socorro evoca outras paragens, nomeadamente o Oriente. Mandada construir em 1603 por Gaspar Manuel, piloto-mor da carreira das Índias, sepultado no chão da capela. Ao centro encontramos o retábulo mor, com a imagem da Senhora do Socorro, padroeira dos pescadores. A capela é revestida a azulejos com cenas alusivas à virgem Maria. Igreja do Desterro Primitiva capela de S. Tiago, a Igreja do Desterro, ficava, como o nome indica, fora do centro urbano. Trata-se de um edifício moderno, que evoca memórias antigas. A capela de S. Tiago (que se situava no lugar onde hoje existe o parque de jogos), foi para este lugar transplantada na década de 1930. Ampliada em 1972, alberga imagens de interesse como a imagem de S. Tiago Mata-Mouros e uma cruz pintada. Capela de Nossa Senhora da Guia Situada na foz do rio Ave, é o edifício mais antigo da cidade, datado do século XI. Pensa-se que constitui a primeira plataforma de defesa do porto do Ave. A capela, de nave única, possui tetos forrados a caixotões e retábulos barrocos em talha branca.
JOSÉ RÉGIO
EVOCAÇÃO DE UMA ALMA ILUSTRE da simplicidade, o contexto social em que Régio nasceu e foi criado teve uma importante influência no seu pensamento e, mais importante ainda, na sua escrita, como adiante desenvolveremos. Foi na Escola da Meia-Laranja que fez a instrução primária (concluída em 1911, com a classificação de «óptimo» 1), passando para o Instituto do Padre José Praça. Em 1918 frequentou a Escola Académica, do Porto, em regime de semi-internato.
Ao inaugurarmos esta secção de figuras ilustres de Vila do Conde, não poderíamos deixar de evocar a alma de um grande poeta, filho da terra. Passavam as nove horas da noite de 17 de setembro de 1901, quando, na rua de Santo Amaro nasceu José Maria dos Reis Pereira, que todos conhecemos como José Régio. Filho de José Maria Pereira Sobrinho (18761957), ourives e homem ligado ao teatro, e de Maria da Conceição Reis Pereira (1876-1946). Era uma família burguesa típica da província. Apesar 1
O Ave, nº 247, 1911
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De 1920 a 1926, cursou Filologia Românica em Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica (1925) com a tese “As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa”. Foi neste período que nasceu, verdadeiramente, o poeta: a 25 de dezembro de 1921 publica no Jornal “A República”, de Vila do Conde, utilizando o pseudónimo José Régio. Em 1928, terminada a licenciatura, voltou para o Norte, mais concretamente, para o Porto, onde lecionou Português e Francês, no Liceu Alexandre Herculano. Nesse ano, escreveu para os jornais “O Comércio do Porto”, Seara Nova e o Diário de Notícias. Em 1929 parte para Portalegre, onde é nomeado professor provisório e, nesse mesmo ano, sai a sua nomeação definitiva para o Liceu do Funchal. Mas é em Portalegre que se mantém até 1962, mesmo quando em 1930 é nomeado efetivo no Liceu de Chaves. A permuta com outro colega, manteve a trajetória de vida que hoje conhecemos. Assim, de 1930 a 1966, o autor vive em Portalegre, onde leciona no liceu Nacional, de que se tornará patrono anos mais tarde. A par da atividade docente escreve e coleciona objetos de arte sacra, que mais tarde venderá à Câmara Municipal de Portalegre. Em 1966, o autor reforma-se e regressa a Vila do Conde, onde vinha nas férias do Verão para visitar a família e os amigos, como Manuel de Oliveira, Agustina Bessa Luís, que se reuniam
em tertúlias no Diana Bar, na Póvoa de Varzim. Fumador inveterado, a 9 de outubro de 1969 sofre de enfarte, vindo a morrer a 17 de dezembro desse mesmo ano. O aspeto mais importante da vida literária de José Régio, e que o destacou no panorama literário nacional, foi a liderança da segunda geração do modernismo português. A tese de licenciatura de Régio, intitulada “As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa”, que versava sobre a primeira geração de poetas modernistas, até então desconhecidos e/ou de muita má fama, abordando a poesia de Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro. Como figura
tutelar da Presença, publicada durante treze anos, José Régio tornou-se no no principal vulto desta corrente artística, que fundou com Branquinho da Fonseca e Gaspar Simões. A imagem que passa de Régio era a de um homem de dualidades, isto é dividido e, por isso, angustiado: se por um lado gostava de Portalegre e não sabia “que me prendia a esta terra”, por outro suspira pelo ar de Vila do Conde; se por um lado tinha um inegável lado religioso, latente nas suas obras, por outro recusava ortodoxias e credos. Joaquim Pacheco Neves não acreditava nesta dualidade. Para este autor existia um “Régio dominado senão por angústias que o crucificavam às situações e-vilacondense 48
criadas por uma hipersensibilidade doentia, diminuído por circunstâncias que pesavam na sua organização física e o deixavam perfeitamente incapaz de superar as depressões em que caía.” 2 O tema religioso é uma constante na obra de Régio. Agustina Bessa Luís, sua amiga e companheira de tertúlia das épocas estivais, afirmava que “Deus e Régio era uma aliança perseverante, feita de pequenas brigas, como de pai e filho que se admoestam sem deixar a mão um do outro” 3. Como se explica, então esta dicotomia entre Deus e o Diabo que pautou a existência deste poeta? Esta luta constante entre Deus e o Diabo que nos parece ser o cerne da obra de Régio, reporta-nos à sua família de Vila do Conde. E esta formação familiar, como qualquer outra de província, exerceu uma grande influência sobre o autor, profundamente marcado pela religiosidade da época. Nesta balança em que se pesam Deus e o Diabo, temos de um lado o Avô e de outro a tia Libânia. O avô era um homem profundamente religioso, monárquico e condenava a paixão que o pai de Régio sentia pelo teatro (apesar de este ter sido ensaiador no C.C.O.) 4. A outra figura marcada pela religião fora a tia Libânia: Régio descreve-a como uma figura matriarcal (apesar de se ter mantido solteira até à sua morte em 1928). Foi um irmão, brasileiro de torna-viagem, muito rico, que não se cansava de repetir o pecado que era
pertencer à Maçonaria. Em a “Confissão Dum homem Religioso”, Régio não esconde a sua surpresa, quando relata o que descobrira numa velha papeleira “O tio brasileiro, o grande homem tão respeitado duma família tão católica, apostólica, romana, (...) pertencera à maçonaria! 5, o que não deixa de ser uma paradoxal figura do hipocrisia social da época. Mas regressemos à figura da madrinha Libânia, herdeira deste maçom encapotado. Régio descreve-a como o centro das atenções famíliares, poder que Régio considerava, de uma forma primária, advir da fortuna que possuía. Prontamente percebeu que o dinheiro não fazia tudo: o autoritarismo, a austeridade e o capricho “atraíam uma espécie de timorato respeito” 6. Libânia era, também ela, profundamente religiosa, e só saía para ir à missa, subindo a calçada de S. Francisco, arrastando consigo toda a reverente família. E esta, claro, acorria pressurosa aos caprichos da madrinha, na esperança de que deles se recordasse no testamento final. Em casa, lembrava Régio, o ambiente era todo ele religioso, com o avô a presidir, qual sacerdote, às orações do mês de Maria, de que gostava 7.
Quem contrabalançava este ambiente religioso, beatífico até, e contrabalançava o peso de Deus na precoce vida de Régio? Uma dessas figuras era a mãe, embora não tanto como os tios António Maria Pereira Júnior, tio e padrinho de Régio, e Apolinário dos Reis. O primeiro fora estudar para Coimbra, onde se fizera republicano. O segundo era, na tradição familiar pelo lado materno, Comandante da Marinha Mercante. Ambos muito “excêntricos” e “ateus, ou agnósticos, ou criticistas ou
NEVES, Joaquim Pacheco, 1970 – “Ao correr da pena”, in “In Memoriam de José Régio” Porto, Brasília Editora. 3 LUÍS, Agustina Bessa, 1970, in “In Memoriam de José Régio” Porto, Brasília Editora. 4 Confissões Dum Homem Religioso, p. 43-44 5 Idem, p. 30 6 Idem, p. 33-34 7 Idem, ibidem, pp. 49-50 2
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humoristas perante os assuntos religiosos” 8. Ambos muito “excêntricos” e “ateus, ou agnósticos, ou criticistas ou humoristas perante os assuntos religiosos” 8. A mãe, por seu turno, também era crítica em assuntos
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religiosos, embora fosse religiosa e a sua religiosidade, considerava Régio, não andasse longe das formas observadas pelas criadas ou pelos demais famíliares 8. No dia 23 de dezembro de 1969, os sinos tocaram a finados. Tocaram por José Régio. Vila do Conde chorava a morte do seu mais ilustre filho. A câmara ardente realizou-se na casa do poeta, desfilando por elas largas centenas de pessoas de Vila do Conde, Póvoa e Porto. O comércio fechou à hora do funeral “no qual se incorporou todo o povo da vila”. A mortalha foi a bandeira de Vila do Conde e a ele, além dos milhares de anónimos, nomes das artes como Manuel de Oliveira e Agustina Bessa Luís; António de Sousa Pereira, primo do autor, vinha em nome do Dr. Mário Soares, então exilado político em S. Tomé, o que o relaciona com a oposição democrática ao regime salazarista. Régio, foi, pois, o mais ilustre filho que Vila do Conde viu nascer. O poeta imortalizou a “Vila do Conde espraiada entre pinhais, rio e mar”. Por considerar, este homem como seu filho dileto, Vila do Conde fê-lo patrono da mais antiga das suas Escolas Secundárias e da Biblioteca Municipal. Deu o seu nome à avenida junto à Casa Museu e a uma praça onde foi erigida a sua estátua contemplando o monte que tanto amava.
De Régio ecoam, para sempre, as palavras do Cântico Negro:
«Não sei por onde vou, Não sei para onde vou, Sei que não vou por aí!»
AUTOR: HÉLDER GUIMARÃES
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AGENDA FEVEREIRO
Datas passíveis de alteração
TEATRO & DANÇA Limites - Companhia ao Vento 9 Fevereiro - 21h30 - Teatro Municipal de Vila do Conde “Caminhos” – dança | Noites de Sexta 15 Fevereiro - 21h30 - Auditório Municipal Na Última Sexta Marcamos Encontro Com Sorrir na Palestina 22 Fevereiro - 21h30 - Biblioteca Municipal José Régio Lar Doce Lar - Maria Rueff e Joaquim Monchique 23 Fevereiro - 21h30 - Teatro Municipal de Vila do Conde “Sillyseason” – fusão de peça teatral com concerto pop-rock 23 Fevereiro - 21h30 - Auditório Municipal Giselle - Russian Classical Ballet 1 Março - 21h30 - Teatro Municipal de Vila do Conde MÚSICA “O Bichinho da Música” - concerto final | Noites de Sexta 8 Fevereiro - 21h30 - Auditório Municipal Espectáculo com Augusto Canário & Amigos TOUR 2013 15 Fevereiro - 21h30 - Salão Polivalente da A.C.D.Mindelo Sarau Musical 16 Fevereiro - 21h30 - Teatro Municipal
EXPOSIÇÕES “Radiações - Elas andam aí” 1 a 19 Fevereiro - Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental “Um Bater de Asas” 1 a 24 Fevereiro - Centro de Memória A Água No Corpo Humano - Sangue 1 a 28 Fevereiro - Centro de Ciência Viva A Água 1 a 28 Fevereiro - Espaço Acqua Montras | Dia dos Namorados 1 a 28 Fevereiro - Biblioteca Municipal José Régio Solar dos Vasconcelos 1 a 28 Fevereiro - Auditório Municipal | Galeria de entrada A Peça do Mês | Almofada de Renda de Bilros 1 a 28 Fevereiro - Átrio da Câmara Municipal de Vila do Conde Celebração da Cultura Costeira 8 a 28 Fevereiro - Auditório Municipal OUTROS EVENTOS “Desenhar Vila do Conde” 16 Fevereiro - Todo o dia pelas ruas da cidade Encontros ao Sábado - Histórias Improváveis no Mundo das Artes 23 Fevereiro - 15h30 - Biblioteca Municipal José Régio Tertúlia: A Relação de Amizade Entre José Régio e Agostina Bessa Luís 23 Fevereiro - 16h00 - Centro de Documentação | Casa José Régio
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DESPORTO Futsal - Jun. Masc. - Distrital 1ª Div - Rio Ave FC vs Ass. Moradores Granja 6 Fevereiro - 21h30 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Sen. Masc. - Distrital Div Honra - ADCR Caxinas vs CD Boavista 8 Fevereiro - 22h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Jun. Masc. - Distrital 1ª Div - Rio Ave FC vs União Custóias FC 8 Fevereiro - 21h30 - Pavilhão Mindelo Futsal - Jun. Masc. - Distrital 1ª Div - ADCR Caxinas vs GDC Escolas Modelos 9 Fevereiro - 15h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Escolas - Distrital - ADCR Caxinas vs União Custóias FC 9 Fevereiro - 16h15 - Parque Jogos Futsal - Sen. Masc. - Nacional 1ª Div - Rio Ave FC vs Leões Porto Salvo 9 Fevereiro - 18h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Voleibol - Cad. Fem. - Regional GCVilacondense vs SC Braga 9 Fevereiro - 15h00 - Parque Jogos Futsal - Sen. Fem. - Distrital 1ª Div - SC Canidelo vs ACDMindelo 9 Fevereiro - 21h00 - Pavilhão Macieira Futsal - Inf. Masc. - Distrital 1ª Div - ADCR Caxinas vs Miragaia 10 Fevereiro - 10h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Juv. Masc. - Distrital 1ª Div - ADCR Caxinas vs Juv. Desp Gaia 10 Fevereiro - 11h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Voleibol - Inf. Fem. - Regional GCVilacondense vs Castelo Maia 10 Fevereiro - 11h00 - Parque Jogos Voleibol - Juv. Fem. - Regional GCVilacondense vs Leixões SC 10 Fevereiro - 15h00 - Parque Jogos Voleibol - Juv. Masc. - Regional GCVilacondense vs AA Espinho 10 Fevereiro - 17h00 - Parque Jogos
Futsal - Inic. Masc. - Distrital 2ª Div - CJMalta vs GD Cem Paus 10 Fevereiro - 10h00 - Pavilhão Macieira Futsal - Jun. Masc. - Distrital 1ª Div - ADCR Caxinas vs Miramar C. Valadares 12 Fevereiro - 21h30- Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Jun. Masc. - Distrital 1ª Div - Rio Ave FC vs A.S.S. “O Amanhã Criança” 15 Fevereiro - 22h00 - Pavilhão Mindelo Futsal - Inic. Masc. - Distrital 1ª Div - ADCR Caxinas vs Ass. Desp. Cult. Teibas 16 Fevereiro - 16h15 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Sen. Fem. - Distrital 1ª Div - ACDMindelo vs AR Rest. Avintenses 16 Fevereiro 18h00 - Pavilhão Mindelo Futsal - Sen. Fem. - Distrital 2ª Div - Rio Ave FC vs Jornada Mágica ADC 16 Fevereiro - 19h30 - Pavilhão Mindelo Futsal - Juv. Masc. - Distrital 2ª Div - Rio Ave FC vs Os Amigos da Cave 94 16 Fevereiro - 15h30 - Pavilhão Macieira I Torneio Inter-Escolas de Natação - Clube Fluvial Vilacondense/ Conde Lazer 16 Fevereiro - Piscinas Municipais de Vila do Conde Futsal - Juv. Masc. - Distrital 1ª Div - ADCR Caxinas vs Vila Boa do Bispo 17 Fevereiro - 11h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Basquetebol - Sub 14 Masc. - Distrital 2ª Div - CDJosé Régio vs Guifões 17 Fevereiro - 15h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Escolas - Distrital - CJ Malta vs Grupo DC Cohaemato 17 Fevereiro - 11h00 - Pavilhão Macieira Ténis Mesa - Sen. Masc. - Nac. 1ª D - GDCAAA Guilhabreu vs ADC Ponta Pargo 17 Fevereiro - 10h00 - CJ Guilhabreu 1ª Liga Zon Sabres - Rio Ave vs Braga 18 Fevereiro - 20h00 - Estádio dos Arcos Futsal - Jun. Masc. - Distrital 1ª Div - ADCR Caxinas vs Leões Valboenses FC 22 Fevereiro - 22h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde
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Campeonato Distrital de Ginástica Acrobática 23 Fevereiro - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Inf. Masc. - Distrital 1ª Div - ADCR Caxinas vs Póvoa Futsal Clube 23 Fevereiro - 15h30 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Escolas - Distrital - ADCR Caxinas vs Ass. Académica de Leça 23 Fevereiro - 16h30 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Sen. Masc. - Distrital Div Honra - ADCR Caxinas vs CP Vila Boa Bispo 23 Fevereiro - 18h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Andebol - Minis - Regional - GDCAzurara vs Madelenense 23 Fevereiro - 15h00 - Pavilhão Mindelo Futsal - Sen. Fem. - Distrital 1ª Div - SC Canidelo vs GDCR Escolas Arreigada 23 Fevereiro - 21h00 - Pavilhão Macieira Basquetebol - Sub 14 Fem. - Distrital 2ª Div - CDJosé Régio vs CPN 24 Fevereiro - 9h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Inic. Masc. - Distrital 2ª Div - CJMalta vs Ass. Moradores Lomba 24 Fevereiro - 10h00 - Pavilhão Macieira Futsal - Inic. Masc. - Distrital 1ª Div - ADCR Caxinas vs GDC Cohaemato 2 Março - 15h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Sen. Masc. - Nacional 1ª Div - Rio Ave FC vs SC Braga 2 Março - 18h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Andebol - Minis - Regional - GDCAzurara vs Vigorosa 2 Março - 14h30 - Pavilhão Mindelo Futsal - Jun. Masc. - Distrital 1ª Div - Rio Ave FC vs Boavista FC 2 Março - 16h00 - Pavilhão Mindelo Futsal - Sen. Fem. - Distrital 2ª Div - Rio Ave FC vs ASS “O Amanhã da Criança” 2 Março - 19h30 - Pavilhão Mindelo Futsal - Sen. Fem. - Distrital 1ª Div - ACDMindelo vs GD Covelas 2 Março - 21h00 - Pavilhão Mindelo Futsal - Juv. Masc. - Distrital 2ª Div - Rio Ave FC vs ARCD Junqueira FC 2 Março - 15h00 - Pavilhão Macieira Está a dinamizar um evento no concelho de Vila do Conde? O Vilacondense - Roteiro Online tem um local específico para o divulgar. Adicione o seu evento gratuitamente. Envie um e-mail para agenda@vilacondense.pt ou submeta o seu evento no Vilacondense - Roteiro Online.
Futsal - Juv. Masc. - Distrital 2ª Div - Rio Ave FC vs ARCD Junqueira FC 2 Março - 15h00 - Pavilhão Macieira Futsal - Juv. Masc. - Distrital 2ª Div - ACDR Caxinas vs Granja 3 Março - 12h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Basquetebol - Sub 14 Masc. - Distrital 2ª Div - CDJosé Régio vs Penafiel 3 Março - 9h00 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Basquetebol - Sub 14 Fem. - Distrital 2ª Div - CDJosé Régio vs Vigorosa 3 Março - 15h30 - Pavilhão Municipal de Vila do Conde Futsal - Escolas - Distrital - CJ Malta vs Alfa Académico Clube 3 Março - 11h00 - Pavilhão Macieira BARES / EVENTOS Lover’s Day 14 Fevereiro - Fusão / Restaurante Lounge Valentine’s Day 14 Fevereiro - Casa Ribeiro
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