Edição de Julho do VivaCidade

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12 VIVACIDADE | JULHO 2021

ENTREVISTA Foto: DR

João Paulo Rodrigues: “Precisamos de ter um bom sentido de humor: há leis que dão vontade de rir!”

grande público como ator e humorista, enquanto «Quim Roscas», mas é como apresentador de programas televisivos que tens pautado a tua carreira. A que se deve essa viragem? Foi um desafio que me lançaram em 2012 e eu aceitei-o. E diverti-me imenso. Pelos vistos, as coisas correram bem e continuo a enganar a malta. (risos) Faço de apresentador e tal, mas não sou nada. (risos) E quando digo “a malta”, são os decisores que têm dinheiro e que mandam na televisão. Estou a brincar, mas agora falando muito a sério: é bastante bom este trabalho que vou fazendo de apresentação. Agradeço, deveras, as oportunidades que me foram dando e espero estar sempre à altura. Não serei o melhor apresentador da TV, objetivamente falando, mas sou eu. Com o intuito de divertir todos os que me veem. E é interessante verificar que os programas que tens apresentado nos últimos anos são tão distintos entre si. Em qual te revês e identificas mais? Porquê? Eu identifico-me com todos, desde que sejam com humor. E acho que em todos eles – que fiz, apresentei e representei – pus tudo aquilo que tenho e que sou. Portanto, gostei de todos. Não há nenhum que eu possa afirmar que gostei mais, por isto ou por aquilo. Queres continuar neste tipo de trabalhos, mantendo-te no auge? Quero. E até quero mais: gostava de ter uma quinta, com cavalos e com pista de aterragem para aviões. Se a vida me der, muito bem; se não der, paciência. Fico no meu T2 e nada mais. (risos) E já não é mau.

Texto: André Rubim Rangel

A tua terra natal é díspar no mundo da internet, aparecendo ora que nasceste em Baguim do Monte, ora em Braga ora em Lisboa… Qual a origem verdadeira e as informações falsas? Nem sabia dessa disparidade, soube agora contigo. Quanto a Baguim do Monte, em Gondomar, não sei onde o Wikipedia foi buscar essa informação. Sendo errada, será corrigida. Eu, de facto, nasci em Lisboa mas considero-me bracarense e portuense. Eu vivi metade da minha vida em Braga, onde fui criado até aos 17 anos, com uma interrupção na fase final. E, depois disso, vivi até há pouco tempo – antes de me mudar, recentemente, para Lisboa – no Porto. O essencial da minha vida foi no Porto. Essa interrupção foi viveres também em Moçambique, com o teu pai. Sentiste muito os efeitos da descolonização e do pós-guerra / independência do país? Não senti, já que estive em Moçambique nos anos 90 (séc. XX), entre os meus 11 e 17 anos. Essa questão da descolonização já não existia. É um país maravilhoso e com muitas potencialidades, de que tenho muitas saudades de lá estar. Até porque tenho lá dois irmãos. Quero lá voltar. Fiz lá bons amigos! Achas que falta sentido de humor e simplificação ao Ensino do Direito? Já que frequentastes o curso académico, sem terminá-lo… (risos) Eu acho que no curso de Direito há muito humor. Tem de haver! Mesmo da parte dos alunos – por estes há sempre, não é verdade? – pois o que querem é humor. (risos) E mesmo da parte dos professores. Acho que qualquer bom jurista tem bom sentido

de humor. Faz parte. Mesmo quando o Direito fica torto? Pois, aí é que está. Muitas vezes o Direito entorta ali um bocadinho. Aliás, não é bem o Direito: é o que deriva dele e nele. Mas todos, que não só os juristas, precisamos de ter um bom sentido de humor porque, de facto, há leis que dão vontade de rir!... E o termo ‘humor’ significa, precisamente “líquido”. Como vês o humor no Portugal atual: em estado puro, em estado compacto/sólido ou, ainda, evaporado/ gasoso? Vejo o humor em Portugal em estado puro, devido a existir muito bom humor no nosso país. Até porque, normalmente, os Portugueses tem muito sentido de humor. Só que necessitam de o deixar sublimar: importa deixá-lo evaporar um bocadinho, já que ainda estamos presos a alguns conceitos e preconceitos antigos. Por isso, há que deixar algumas defesas ao humor, para que ele possa ser cada vez melhor. Além do muito sentido de humor, nós costumamos ser muito engraçados: somos os campeões mundiais das anedotas. E tem crescido esta escola de bons humoristas em terras lusitanas… Sim, é verdade. E tem crescido com muito talento, com pessoas a fazer muito bom humor. Eu ainda sou um bocadinho da velha-guarda. Eu, o Pedro Alves, o Fernando Rocha e outros que começámos na mesma altura, antes desta nova geração. Há que realçar que o humor em Portugal está bom e recomenda-se. Outro aspeto importante a referir é que os novos humoristas em Portugal respeitam os humoristas anteriores, que já o eram. E isso é ótimo e ajuda-nos a ser uma grande comunidade, onde não falta o respeito. Curiosamente,

ficaste

conhecido

do

Consideras que o país real tem muito de «Tele Rural», à imagem dessa terra fictícia que criaste? Há coisas no país que tem a ver com o «Tele Rural» e, por isso, é que teve sucesso e as pessoas se identificaram com o programa. É que o «Tele Rural» é algo muito inteligente, ao ver as várias camadas e ao pensar-se no seu resultado natural. E como os Portugueses chegaram lá, à piada; perceberam as piadas e acharam piada, só posso apontar que em Portugal gosta-se de humor inteligente. E tenho muito orgulho de fazer este tipo de humor num país que aprecia o mesmo. (riso) É o nosso, mas é inteligente! E outros tipos de humor? Como o humor negro, por exemplo… O humor negro não é a minha cena. É uma cena importada, embora hajam algumas cenas que são fixes, mas não gosto muito do estilo. E o humor british, que tal? Sempre é melhor e temos muita coisa do humor british. Então não temos? Até temos rainhas que foram para lá, levaram o chá e levaram o sentido de humor, que era preciso. (risos) Conhecendo tu o Portugal no seu melhor, até com dos programas em exibição que apresentas, o que dizes deste Portugal nem sempre dito? Não é só de agora, com o programa «Missão: 100% Português». Eu já ando há 20 anos por todo o Portugal, a fazer comédia. Já passei por tudo o que são sítios no nosso país. Bem como em todas, ou quase todas, as estradas portuguesas. Por isso, conheço bem Portugal. E nesse bom conhecimento do nosso território, decerto conheces bem, também, Gondomar. O que te apraz destacar dessa cidade? Então não conheço bem? A zona onde eu vivia no Porto era Campanhã. E o que fica

a seguir a essa freguesia? Gondomar, claro está. Quantas vezes fui lá e àqueles montes, a par de Valongo! Oh, meu amigo, quantas vezes lá estive. (risos) Aliás, tive uma quase namorada de Gondomar. Não foi namorada, porque não chegámos a termos. Mas esteve quase. (risos) O que é para ti mais difícil na conciliação da profissão com a família? Ainda, para mais, quando se têm crianças pequenas, como no teu caso. O mais difícil é, precisamente, pesar tanto o trabalho como a família. Ou seja, tens de trabalhar para que não falte nada à família. Por isso, nem sempre posso estar com a família como gostaria, por causa do trabalho. Mas tento compensar, sempre que possível. E quando estás em casa com a família, estás mesmo em casa com ela, desligando do resto. É um equilíbrio que tens de fazer, não há outra hipótese, bem como mantê-lo continuamente. Como tem sido esta redescoberta de estar mais tempo com as tuas filhotas, nessas suas fases de crescimento? É maravilhoso!!! As minhas duas pequenitas são as minhas melhores amigas. São miúdas que mais abébias me dão e que mais me aturam, tanto a mais pequenas como a mais crescida. São grandes amigas que eu tenho ali. Não me cobram quando estou ausente e quando é para dar o mimo todo, damos o mimo todo duma vez. Nesta situação da pandemia demorar a ser ultrapassada, não tens receio e frustração no impedimento de novos projetos, por repentina falta de orçamento? Sim, tenho. Seja por esse ou por outros motivos. Penso no futuro e obviamente que tenho receios, como qualquer pessoa razoável que se preocupa com ele. Mas sou adepto de deixar fluir, abraçando o que o futuro me puder reservar. E nesse teu pensar entram novos projetos? Podes adiantar algum ou alguns deles? Tenho muitos novos projetos. Contudo, não posso adiantar nenhum deles, senão estava já a entrar no futuro. (risos) No presente também tenho, coisas muito boas, a nível do cinema, da televisão, da música e da comédia. Por isso, todas as coisas que eu faça tenho novidades. (risos) Após o último confinamento e no regresso aos espetáculos, participaste num evento com outros artistas no Coliseu do Porto, organizado pela «I AM Event Production». Como foi a experiência? Foi fantástica, porque contribuímos para duas causas muito nobres. Uma é a do IPO, que não falha às pessoas que precisam da sua ajuda; e, outra, para a «União Audiovisual», os nossos camaradas de armas que ficaram sem trabalho e que sem eles não era possível que nós, artistas, atuássemos e pudéssemos ter o som, a luz, tudo bem feito, e sem termos de nos preocupar com mais nada. São tão, ou mais, importantes que nós que estamos ali a cantar ou em qualquer espetáculo que possas ver. Por isso, ajudar a nossa irmandade da arte, do audiovisual, é e era mais que justo! Esse espetáculo foi isso e várias outras coisas. Tal como a despedida dos palcos pela grande Simone de Oliveira, tornando ainda mais peculiar esse espetáculo… Sim, a Simone despediu-se do público, mas acredito que ela ainda vai voltar a subir ao palco, porque a Simone vive intensamente a música e aquilo que faz sentido à música. Nós continuamos a precisar da Simone e ela estará sempre connosco. ■


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