Vivência Punk N° 3

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O ano praticamente terminou e provavelmente não foi o que esperávamos. Depois da rebelião iniciada em junho/2013 até o final da copa, muitos sonhos surgiram e a maioria deles foi destroçada pela mão pesada do estado através do seu aparato repressivo/punitivo, com uso indiscriminado de violência, repressão e supressão de direitos. Ironicamente, no ano que se completam cinquenta anos do golpe militar e da instauração de uma violenta e covarde ditadura que mergulhou o país na escuridão, tivemos a oportunidade de conhecer e entender como funciona um estado autoritário e suas práticas terroristas. A trinca repressão/violência/punição foi o legado deixado para a população. O que muita gente sabia e avisava, mas que a maioria parecia não acreditar ou se importar, mostrou ser real e a democracia que a população acredita existir é nova e frágil, fácil de ser desrespeitada. O estado terrorista rasgou a constituição e sistematicamente violou direitos, amparado por um poder judiciário tendencioso e por forças repressivas preparadas para uma guerra, onde o inimigo era a população (ou parte dela). E a mídia suja fez o papel que lhe compete, distorcendo acontecimentos e criminalizando as diversas lutas populares. Fora isso, teve eleição, uma verdadeira diarreia que muita gente parece ter curtido e mergulhado no mar de matéria fecal líquida que é a política e, porque não dizer, a republiqueta. A fedentina tomou conta de todos os lugares, principalmente da internet, com uma cagação inédita e sem precedentes, onde as pessoas mostraram o que têm de mais nojento, provando que o ser humano é um erro. E os representantes das siglas criminosas políticas (independente de qual seja) continuam mostrando quem são, o que pensam, o que desejam e quem representam. Pior, demostram não se importar e nem temem a opinião pública, até porque sabem que opinião pública sozinha não produz mudança radical e que a dupla estado + mídia corporativa têm uma força incrível, com uma capacidade gigante de promover a lavagem cerebral, mantendo uma parcela da população em um estado de letargia sem fim. 2015 está se aproximando e com ele a possibilidade de novos ventos insurrecionais. E nós, punks, estaremos novamente participando de tudo o que acontecer nas diversas frentes de luta que existirem. E não nos esqueçamos da nossa própria luta, que é por uma existência coerente disso que insistimos em chamar de movimento. Que realmente seja um movimento combativo, inteligente, sensato como deveria ser, deixando de lado rusgas inúteis que só nos atrasam o lado. Paz entre punks, guerra ao estado.

Agradecimentos: Maria José (ser mãe é padecer no padecimento), Tamires, Vinicius Primo, Téu (Para Raio da Desgraça), Romulo “Boca de Anjo” Carlos (o primeiro zine a gente nunca esquece), Plebeus Urbanos, Fran (por ser uma referência de luta na área de assistência social, largar tudo e meter a cara para estudar em Sampa) e às pessoas que ainda acreditam na mudança e que no decorrer do tempo passam desapercebidxs por tantxs e que inspiram outrxs.

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“A única guerra justa é a revolução social.” Revista Frayhayt – NYC, 1918


O NOJO DO GOZO QUE NÃO PARTICIPEI – SOBRE ESTUPRO E OUTRAS FORMAS DE MACHISMO Por Hanna Thuin, estudante de direito da Universidade de Brasília – Publicado originalmente no site da revista Vírus Planetário-Julho/2013 A história que segue é suja, densa – tão densa quanto o último respingo dela. A história que segue é dantesca: retrato de um pesadelo acalorado pelo inferno. É uma história que nada posso barganhar para esquecer; história que nada pude fazer para deter. É uma história – memória sem cortes ou censuras – a linguagem é crua e dura. Inadequada para quem com a verdade da realidade não pode ter. Não leia se este último papel cabe em você. Saía da aula. Tarde. Estacionamento parcamente iluminado. Transeuntes inexistentes. Tudo era sombra – à exceção da Lua cheia: seria ela a única a testemunhar. Seiscentos metros; sessenta passos; foi essa a distância percorrida antes que aquelas mãos segurassem firme meu ombro. Segundos. Minha bolsa no chão. A chave do carro perdida na grama próxima. Eu não conseguia gritar, mexer, fugir. Desespero. Enquanto uma mão rasgava minha blusa, a outra expunha o pau duro para fora da calça. Quis vomitar. “Vadiazinha. Piranha. Vou te comer sua patricinha. Fica quietinha. Se abrir a boca, te mato.” Sob o bafo dessas palavras, despertei. Reagi, tentei escapar. A força dele era o dobro; eu quis ter voz para morrer. “Papai aqui vai te mostrar como se faz. Te foder toda. Te mostrar o que é um homem de verdade.” Subjugou-me pela testosterona dobrada: forçou-me os joelhos ao concreto; forçou-me a boca ao pau ereto. Segurava-me pelos cabelos. Ia e voltava com força, a cintura no meu rosto. Aquele chicote estalando na minha garganta. Os pelos do escroto roçando meus lábios. Uma. Duas. Três. Quatro. Perdi as contas de quantas vezes sufoquei; de quantos tapas deferiu-me com aquelas mãos de monstro pelos desmaios que meu nojo ensaiou. Incansável. Só parou quando da minha voz saiu o vômito. Vômito que conheceu mais minha pele que o chão. Vômito que não interrompeu o animal; vômito que não o comoveu; vômito que não o impediu. “Sua porca. Escrota. Tá com nojinho? Agora vai ver o que é bom.” Arrancou minha saia. Jogou-me ao chão. Minhas bochechas esfoladas no asfalto. O corpo pesado daquele homem me esmagando. Aquelas mesmas mãos monstruosas forçando caminho entre minhas pernas; aquele mesmo pau duro a me violar. Ao sangue do meu rosto arranhado, da minha boca cortada, juntava-se o sangue do meu sexo machucado. Escorria a resposta das minhas entranhas; traduzia em cor a dor que eu não conseguia gritar. O bafo daquele homem estranho, sua respiração descontrolada aos pés do meu ouvido. Aquela coisa asquerosa entrando e saindo de mim: entrando e saindo; entrando e saindo. Sob o meu pranto silencioso, o rosto desfigurado de tantas idas e vindas da pele naquele recorte duro de piche – o ritmo dos arranhões conduzidos pelo pau insaciável de um estranho. Além do choro, o sangue; além do gozo, o sangue. O gozo dele. Aquele sêmen todo a adoecer minhas partes; aquela porra a descer pelas minhas pernas: líquido branco, denso: morte. Liberou seu peso sobre mim. Recolheu o pau murcho à braguilha fechada. “A princesinha tá toda fodidinha. Já quer mais, né, putinha? Delícia.”


Dispensou um último tapa forte na minha coxa – foi embora caminhando. Minhas mãos desceram à virilha; manchei-as com aquela mistura de branco com vermelho: jamais unir-se-ão em rosa. Não sei quanto tempo larguei-me ali. De pernas abertas. De roupa rasgada. De olhar perdido. Quando me encontraram, já era tarde. Tarde na hora do relógio, tarde na hora impossível de se evitar: ninguém mais poderia me salvar, minha vida acabara ali. Dos procedimentos que se seguiram – o IML, os infinitos exames, as tonalidades e prescrições de cada caixa de remédio, apenas participei do banho. Esfreguei minha pele com tanta fúria, com tanto nojo, como se a carne daquele homem não fosse se desprender nunca da minha – como se ele ainda estivesse ali. Não terminei enquanto outras nuances minhas, além da dor, tornaram-se expostas. Aquela noite me tornou uma pessoa quebrada: deixou a memória no corpo; usurpou a (c)alma. Os únicos momentos em que eu recobrava a vida, para logo perdê-la, afloravam ao longo do sono. O chão áspero, o pau duro, o nojo, o sangue, o gozo dele escorrendo pelas minhas pernas. Como se todo dia eu precisasse morrer mais um pouco. E morria. Pesadelos sem rosto – assumiam um novo a cada abrir de olhos. Todos se tornaram, assim, possíveis estupradores: o porteiro, os amigos, os vizinhos, meus irmãos. Enxergava em todos eles a mesma repulsa. Ninguém escapava ao meu medo; o medo não poupava sequer os santos. Em algum ponto, porém, estar morta tornou-se insustentável. Não havia o que fazer quanto ao meu homicídio – não acharam um nome a punir pelo estupro. A minha morte, contudo, desenrolava-se em outra: mamãe. A culpa, tão injusta em escolher suas vítimas, a atingiu, a adoeceu. Não foi por mim, portanto, que voltei – foi por ela. E, ao voltar, percebi que não só por ela eu deveria renascer, mas por todas. Por todas as mulheres. Por todas as mulheres que tiveram seus corpos violados e suas almas furtadas, mutiladas, assassinadas. Por todas as mulheres estupradas ao percorrer o caminho entre a L2 e a UnB. Por todas as mulheres estupradas ao pegar uma van de Copacabana para a Lapa. Por todas as mulheres estupradas após serem intencionalmente drogadas por seus colegas de trabalho. Por todas as mulheres forçadas a transar com seus companheiros – porque isso também é estupro. Por todas as meninas abusadas por familiares ou pessoas próximas. Por todas as mulheres e meninas que se calaram por medo, que não denunciaram, que se sentiram culpadas porque assim, desde sempre, foram ensinadas pela sociedade. Por todas que não conseguiram carregar o peso dessa memória e encontraram, no suicídio, a única possibilidade de redenção. Por todas as mulheres que não renasceram; por todas que sobreviveram, por todas as que, como eu, de alguma maneira, hão de sobreviver (e renascer). Sobre as Nuances do Machismo O estupro é um dos filhos bastardos do machismo. Bastardo porque deste herda os traços, mas não o reconhecimento. O machismo é a raiz podre que germina em solo Argiloso; é o início do espinho que emerge na Terra Roxa; é o calvário que se instala no Calcário. O machismo está em toda parte. Enraizado. Reproduzindo livremente seus frutos podres e alimentando, com eles, tradições e poderes apodrecidos. O machismo veste muitas cores, muitas modas, muitos nomes. O machismo é a crítica à nossa saia curta e ao decote; o machismo é a nossa repulsa à puta e concomitante glorificação do conceito menina-santasonga-monga. O machismo é a crucificação do aborto travestido de religião; é, também, a proibição da ordenação da mulher. O machismo é a árvore de muitos galhos. O machismo não me deixa jogar bola, porque futebol é coisa de homem; não me deixa conduzir um carro, porque mulher no volante é barbeira; não me deixa ser a capa de um jornal de finanças, sorridente e bem sucedida, porque esse papel milenarmente cabe, tão somente,


ao homem (branco). O machismo não deixa que eu me expresse, que eu marche pelos meus direitos, que eu exponha meu corpo como eu quiser. O machismo não deixa que eu escolha minha foda, a minha companheira no lugar de companheiro – se quero ou não ter filhos. O machismo não me deixa ser mãe solteira. O machismo não deixa que ela ganhe mais que ele ou ele cuide da casa e auxilie-a nas responsabilidades domésticas. O machismo não deixa que a mulher seja o que é: forte. Ele tenta o tempo todo submetê-la à obediência, à submissão, à resignação. O machismo, contudo, sabe ser generoso – abre ”exceções”. O machismo permite objetificar o corpo da mulher para que seja essa a imagem impulsionadora das vendas de carros e cervejas. Permite ao marido ser convocado em propagandas toscas de rádio a bancar consumismo clichê feminino – resume a mulher ao crédito. Permite e reforça a exigência das curvas sempre exatas, da roupa comportada, das unhas feitas, do cabelo liso e escovado. Permite que o cavalheirismo seja visto como gentileza dele e o sexo como obrigação servil dela. Permite que ele faça da infidelidade um estilo de vida e do pênis um instrumento de reconhecimento e poder. O machismo permite que a apologia ao estupro em uma recepção de vestibular seja vista como um caso isolado de “dois babacas” dessintonizados com o curso e não como um problema institucional que ultrapassa os muros da universidade – o espaço acadêmico hodiernamente (e infelizmente) ainda reproduz, sem a necessária reflexão, os ecos e ensinamentos que vêm de antes, que vieram e vêm lá de fora. O machismo permite que a hipocrisia se diga moral e, em um cuspe, agrida as mulheres que marcham por um necessário despertar; permite, inclusive, normatizar o estupro, assegurando, àquele líquido branco, a hospedagem no útero, sem questionar a existência de um prévio aceite: se ela disse sim ou se disse não, para o machismo, tanto faz. Engana-se quem pensa ser o machismo opressor apenas do feminino. Senhor feudal, pai, filho e herdeiro das tradições e do conservadorismo, o machismo é poder corrupto e mecanismo de exclusão que se pretende perpétuo. É em nome dele e por ele que se prega e legitima o homem branco como “the choosed one” para dominar a tudo e a todos. É em nome dele e por ele que se mascara o fundamentalismo de democracia e a intolerância de religião. É ele quem dilata as nossas glotes e permite um indigesto feliciano permanecer na presidência da Comissão de Direitos Humanos. É ele que impede o Ministério da Saúde veicular uma campanha que afirma que prostitua também é gente e é gente feliz. É ele que veta um kit que prega o respeito e a compreensão da sexualidade que escapa aos padrões normativos, mas permite e incentiva, com recursos públicos, a distribuição de uma cartilha que não contente em veicular a homofobia, relativiza o estupro, personificando o gozo do estuprador em uma vida a ser protegida. É ele que condena as rupturas, que agride àquela que se insurge contra o sistema, que demoniza quem ataca seus símbolos. É em nome dele e não de deus que se pratica o racismo, a homofobia, o feminicídio, a opressão de classes. É ele quem cerceia com normas, padrões e pecados intransigentes o próprio existir dos sujeitos. Não sejamos ingênuos nem tenhamos piedade com quem nunca nos poupou. Não se combate o machismo com afagos na cabeça e conversas baixas. Não se combate o machismo com a manutenção dos símbolos nem com o silêncio de quem a tudo assiste inerte e, assim, consente. Não se combate o machismo marchando em fila indiana e batendo continência para a hipocrisia. É preciso peito. Esteja ele nu ou pintado – a coragem de impô-lo traduz-se na ausência de panos, sem temer o pudor do moralismo alheio. Não existe paz sob a regência do medo. Não existe democracia quando a metade do povo, dita ironicamente de minoria – cracia -, é feita de demo indialogável e invisibilizado pelas bandeiras monocromáticas do branco classe média hétero “religioso”. É muito fácil criar pecados e interpretar de maneira viciada o


calçado do outro, difícil é dispor-se à alteridade de enxergá-lo para além dos estigmas e da herança dos frutos podres que desde cedo nos são dados como alimento e como instrução. Que o senso comum, a homofobia, o racismo, o feminicídio, a opressão de classes, a xenofobia, que todos esses rostos do machismo se tornem, a cada dia mais, os verdadeiros outsiders. Sejam eles os deslocados, os excluídos, os eliminados. Que a gente desperte os sentidos e a vontade para entender e enfrentar o verdadeiro inimigo e seu exército de formas, linguagens, poderes, pessoas. Que a nossa revolução comece em nós mas em nós não termine e não se contenha; que se expanda, que invada a rua, o comércio; que barulhe os ouvidos até que seja verdadeiramente escutada, sentida, pensada. Há muito para fazer: há um tanto de dureza e concreto para demolir. Os caminhos, contudo, estão aí, abertos. Há um incômodo com potência para ser mudança. Há gente muito boa na rua pronta para o novo. Que a gente não perca o embalo e nem a coragem e, se porventura, faltar o norte, que a gente tenha o gosto do nojo na memória: aquele líquido branco banhado de sangue e pranto – gozo egoísta, monstruoso.

O ENGANO É A ARMA DX INIMIGX Por Karl Straight Se as pessoas não enxergarem morrerão enganadxs. X inimigx primeiramente espalha dúvidas na nossa mente e coração. Quer se manifestar em nosso dia a dia através do engano, sua arma favorita. Somos acorrentadxs na sua lavagem cerebral, pela mídia monopolizadora que quer nos iludir diariamente. Você é seu maior inimigo, que agora luta contra isso. Viva o agora, o hoje e nunca o amanhã de incertezas. Não diga o que você faria se as circunstâncias fossem outras. O segredo, a vitória em ação e a persistência estão em você, esta é a resposta. Não tente acrescentá-la a algo ou explicar o que realmente deve significar. Faça suas, suas palavras. O ser humano e suas transgressões contra a própria humanidade que está destruindo todas as coisas boas. Eis aqui o mal ainda mais perigoso e perverso das pessoas. Ressentimento, rancor, vingança, má vontade, mágoas, ódio e ganância; você então conhecerá o coração do ser humano. Quando você compreender o poder destrutivo disso será capaz de manter-se livre em todas suas formas, que é possível ficar verdadeiramente livres destes sentimentos que as pessoas trazem consigo. Derrota, desesperança, dívidas, desânimo, doenças, destruição, dúvidas... estes são nossos adversários, que buscam a quem possam tragar. Devastação, desapontamento, desonestidade, desalento, todas estas coisas para nos destruir. Não deixe a vida construtiva e positiva para um futuro vago e indefinido. Não culpe a falta de tempo e oportunidade, o infortúnio, o destino ou outras pessoas. Viva o agora, o hoje e nunca o amanhã de incertezas. Resista a tudo isso, nunca desista e espere o bem. Esta atitude para com a vida é transformação. Na vida, nossas palavras saem procurando ajudar a nós... ou nos destruir.


CAMINHOS Por Karl Straight Quem deve recorrer à ilusão para ver os sonhos? Quem deve conhecer o coração para depois lutar? Serei eu? Ou Você? Não sei! Serão aquelxs que acreditam na verdade? Eu descobri uma nova meta: liberdade. Liberdade de ser eu mesmo, de ser assim, liberdade de dizer o que quero, o que há em mim. Caminho através de meus poros que respiram esperança. Isso se repete com vários povos, sofrimento dxs oprimidxs. É chegado o momento, a hora. Lute!

PALAVRAS ESCRITAS Por Karl Straight Estive recluso em mim pensando como organizar, coordenar coisas da vida em um apanhado de folhas de papel. Folheei cadernos e agendas guardadas há muito tempo, e de repente, percebi que os sentimentos que inquietam nosso espírito são os mesmos, e, transformando-se em palavras, são materializados, tornando-se reais. Mais uma vez a força da palavra escrita adentrando em nossas vidas, possibilitando revelarmos angústias, alegrias, medos e desejos. E desta vez, compartilhados com vocês.

HOLOCAUSTO AMBIENTAL X POLÍTICA VERDE DA BOA CORPORAÇÃO Por Jüanito Hoje, muitas corporações visam com o meio de produção verde ou sustentável aumentar seus lucros, supostamente apoiando a criação das chamadas “certificações” para vender seu produto, déficit ou queda dos lucros decorrente da sua própria má administração, o excesso em retirar a matéria prima ou recursos naturais (energia, árvores, minério, sal, água etc.), sem levar em conta que muito deles são finitos, levando a sua escassez. É necessário atentar-se que as mesmas empresas que pregam uma produção verde (utópica), pode ser mais limpa (geraria outro discurso ou texto), são as mesmas que há séculos fazem mau uso da disponibilidade desses recursos disponíveis. Por debaixo dos panos o holocausto ambiental continua, só que modernizado, agora pode. Para isso criaram as ISOS (órgãos que regulamentam essas liberações e certificações), os sistemas de gestão da qualidade ou ambiental. Não se traz a tona o assunto como papo de revoltado, são conclusões e relatos de quem vive ou estudou a fundo, até fez cursos, não é opinião de um leigo (não que sua opinião tenha valor, tão pouco é mérito por que estudou) pelo contrário, obter conhecimento, acumular certificados e não dividir, aplicando e dividindo para quem realmente tem interesse ou necessita, vale de porra nenhuma. É necessário frisar que isso vale ou tem maior importância para as corporações, pequenas empresas é outro debate que envolveria sindicalismo e luta de classes.


Fiquemos atentos para não nos iludirmos com a nova política da produção verde. É linda nos papéis, até gera certo benefício, que como sempre, é para uma minoria que envergonha e mantém a mediocridade que chamam de raça humana.

UMA DÉCADA PERDIDA PARA O PUNK NA GRANDE SP Por Treva Antes de qualquer coisa gostaria de dizer que esse texto não é uma tese ou algo do tipo, tampouco deve ser tomado como verdade absoluta. São conversas, observações e vivências (minhas e de outras pessoas) no punk durante esses anos e que serviram de inspiração para esse texto. É apenas o meu ponto de vista com base em lembranças desenterradas do fundo da memória e, por isso, plenamente não confiáveis. É sobre uma época do Movimento Punk na Grande SP e de como ele foi influenciado positiva e negativamente por questões extra rolê, influências que deixaram suas marcas até os dias de hoje. Para muita gente, a década de noventa até início dos dois mil foi marcada como “a volta do punk”. Desculpa decepcioná-los, mas esse papo me lembra da conversa do “gigante acordou”. Acordou para quem vivia de viagem, achando que isso aqui é uma democracia com padrão de vida norueguês, porque para quem sempre teve que lutar e resistir, o tal gigante nunca dormiu. A mesma lógica vale para o punk, já que ele nunca morreu nem desapareceu, sempre esteve nas ruas, nas quebradas, resistindo e existindo. Quem abraçou a ideia de “volta” foi a juventude mtv classe mé(r)dia que durante alguns meses quis ser rebelde, esquecendo que rebeldia e por consequência, rebelião, são sentimentos e atitudes que estão no sangue, que não são compradas em shopping center e pagas com cartão de crédito da mamãe ou do papai. E não podemos esquecer dxs oportunistas de plantão, que abraçaram a ideia para ter uma chance de faturar uns trocados em cima dessa nova galera. A virada da década de noventa para os dois mil foi marcada pelo início de uma intensa atividade política e contracultural. Extra rolê (extra rolê numas, porque política e ativismo estão intrinsecamente ligados ao punk), foi uma época de manifestações antiglobalização, dias de ação global, surgimento dxs primeirxs envolvidxs com o black bloc, ativismo, coletivos, ocupas, internet e no rolê, a vinda de bandas gringas para tocar no país, eventos todos os finais de semana, uma incrível quantidade de bandas surgindo, gravadoras, distros, coletivos, fanzines, ocupas e por aí vai. A soma de tudo isso fazia parecer que xs punks procuravam criar uma base sólida para um movimento realmente estruturado e político, nos moldes do que era visto/lido/ouvido falar sobre o movimento na gringa, mas que pouquíssimas pessoas tiveram a oportunidade de comprovar in loco. Mas a confusão começou uns anos antes. Com o sucesso que muitas bandas estadunidenses fizeram na primeira metade da década de noventa, uma leva de pessoas passou a curtir bandas punks, mas sem interesse no que elas cantavam ou no que representava o punk enquanto movimento político e contracultural. Para essas pessoas, a grande maioria oriunda da classe mé(r)dia, era apenas a música da moda, a chance de serem rebeldes sem causa. Como ainda não havia espaços para eventos em bairros centrais ou em horários aceitáveis para seus pais, essa juventude passou a fazer rolê em shopping center, principalmente em um muito conhecido na região central da cidade de São Paulo, para alegria de lojistas. Foi justamente nessa época que alguns vícios sociais que até então pouco conseguiram afetar o punk, tornaram-se presentes. Antes, quem se envolvia com o punk era porque detestava o mundo, as regras socialmente aceitas, as instituições, o sistema, a vida bovina que sempre foi oferecida como correta e única a ser vivida. Ser punk e viver o punk eram uma escolha, ainda


que em muitos casos, uma escolha de porra louquice e sem base política. Era a rebeldia no estado bruto. Punks mais velhxs tinham no envolvimento com o movimento uma ruptura com o meio familiar e social. A família sempre serviu como laboratório de relações sociais, já que coloca todxs cotidianamente frente às relações de poder, dominação e autoridade. As pessoas são condicionadas a aceitar a autoridade paterna e materna, travando uma guerra pela liberdade individual, tendo na estrutura familiar arcaica a representação do estado com seu desejo de controle sobre a vida alheia, o primeiro embate real pela liberdade. Mas isso era com xs punks das antigas. Já a geração classe mé(r)dia vinha carregada de vícios sociais: respeito à autoridade, religiosidade, preconceitos, consumismo, desejo de hierarquizar as relações pessoais, apatia, apoliticismo entre outras doenças. Queriam viver no punk sua medíocre existência burguesa, sem abrir mão de seus vícios sociais. Ainda que não tenham corrompido o punk, como uma doença que eram (e ainda são), infectaram o rolê. Com o passar dos anos e permanência de algumas dessas pessoas parasitando no rolê, seus vícios nojentos acabaram se enraizando e contaminando pessoas que até então nada tinham a ver com essa sujeira. Ainda que essa contaminação seja superficial, é capaz de provocar estrago. É óbvio que não foi a totalidade de modistas que se envolveram com o punk a permanecer com o intuito de provocar uma deterioração ideológica no mesmo. Muita gente entendeu a ideia e continuou no movimento, somando como deve ser. E com o passar dos anos, muitxs dessxs jovens modistas seguiram outros rumos, afastando-se do punk, mas uma pequena parcela permaneceu, ainda intitulando-se punks, mas com uma postura bem diferente do que entendíamos por punk. Esse pessoal montou bandas, uniram-se em gangues ou simplesmente ficaram de bobeira no rolê, parasitando como já era esperado. Mas essa garotada não foi a única responsável por qualquer situação desagradável que perdure até hoje. Pessoas que realmente viviam e entendiam o punk radicalizaram quando o assunto foi convivência com outras pessoas. Cansadxs de tentar passar a ideia do que era o movimento ou simplesmente bodeadxs com a ideia de dividir espaço com a burguesia dentro de um rolê proletário, passaram a hostilizar de diversas maneiras a garotada. Essa atitude acabou por, se assim podermos dizer, criando dois rolês distintos: o rolê de rua e o de shopping. Era quase como uma luta de classes dentro do movimento. Emblemático lembrar-se de uma casa noturna da cidade que surgiu no final dos anos noventa e inicialmente dedicada ao punk, isso porque a mesma ficava numa rua sinistra, onde ninguém em sã consciência iria procurar por eventos. Com o sucesso do lugar, matérias na mídia corporativa e novas pessoas a frequentarem o lugar, a casa deu uma bica na bunda dxs punks para se dedicar a essa nova geração que colava no lugar com a carteira bem mais cheia do que xs frequentadorxs de antes. O problema é que no decorrer dos anos, mesmo a juventude periférica que se envolvia com o punk, passou a agir alienadamente como a classe mé(r)dia, repetindo suas ações, algo como aquele dizer sobre o oprimido que repete o discurso do opressor. Para elxs, o punk era apenas uma desculpa para farrear, violência gratuita e chapação desenfreada, e não um grito de independência. Viam o punk como diversão e não como um instrumento de politização, confrontação e independência. O início do funcionamento da tal casa noturna coincidiu com o surgimento de diversas gravadoras, distros, bandas. A ideia de um espaço na região central da cidade, com fácil acesso para todxs, com estrutura legal e carimbo de “punk” seduziu a todxs, principalmente quem tinha banda ou organizava evento. As gigs passaram a ser realizadas nessa casa noturna e o resultado foi eventos profissionais e estéreis, desprovidos da daquela urgência sempre característica do punk. A combinação dos fatores mencionados linhas acima foi explosivo e quase letal para o movimento. Com o tempo houve a transformação de um movimento contracultural em uma cena quase que exclusivamente musical. Eventos que visavam o lucro (ainda que não tão des-


caradamente como presenciamos hoje em dia), despolitização total das gigs em detrimento de uma cagação de regras socialmente aceitas que visava encher os espaços e a consequente geração de lucro para algumas pessoas, são práticas que continuam rolando até hoje. A política foi deixada de lado, estando presente apenas nas letras ou nas roupas e ser apolítico (ou alienado) passou a ser uma reivindicação de uma minoria escrota que insistia em permanecer no punk, minoria essa que anos depois se alinhou ideologicamente com a escória direitista. A pá de cal chegou em meados da década passada e atendia pelo nome de istruiti pãnqui. Importada via internet, vinha na esteira do sucesso repentino conseguido pela banda The Casualties. Com temática menos engajada politicamente, caiu como uma bomba no já enfraquecido punk de SP. Como já havia acontecido antes, a informação chegou de maneira torta e influenciou negativamente muita gente. A diferença é que dessa vez a informação chegava de toneladas, emburrecendo cada vez mais as pessoas e tornando o termo sinônimo de patifaria e mau caratismo, mesmo que a ideia original seja outra. Interessante notar que diversas bandas punks já cantavam sobre os mesmos assuntos, mas sem gerar alarde, eram apenas assuntos a serem cantados. Entretando, como o termo istruiti pãnqui era a bola da vez, muita gente se jogou na nova onda. Relações com carecas e boneheads, culto a ultraviolência (graças ao filme Clockwork Orange/Laranja Mecânica, outra influência dessa gentinha abestada) e apoliticismo se tornaram bandeiras a serem defendidas por esse pessoal. Essa despolitização permitiu que muita gente não se sentisse constrangida em relacionar-se com a escória intolerante nem de assumir vícios sociais ou ideias direitistas. Isso acabou gerando uma nova cisão (felizmente!), bem menos relacionada a classe social e sim relacionada a política. Como aconteceu nos anos oitenta quando punks e cabeças de ovo radicalizaram ideologicamente e se afastaram, essa cisão também gerou violência. Vale lembrar que boa parte das pessoas que aderiram a onda istruiti pãnqui eram as mesmas que começaram ouvindo bandas punks quando era “moda”. Ou seja, alienação e intolerância caminham de mãos dadas. Com a despolitização do punk, bandas, casas noturnas, gravadoras, lojistas e pessoas sentemse seguras para manterem relações com esses grupelhos, não se importando com possíveis boicotes, postura ainda vista nos dias de hoje. Isso envergonha, enfraquece e deteriora o punk enquanto pessoa ou grupo. Em contrapartida, punks passaram a agir visando à reestruturação do rolê, tentando escurraçar a escória direitista e simpatizantes, buscando novos espaços para organizar eventos, criando novas bandas, redes de apoio e divulgação de ideias. Infelizmente, essa movimentação pareceu-me ser feita por uma pequena parcela de punks e não conseguindo o apoio e participação da maioria, talvez ainda entorpecida por anos de apatia, violência e confusão ideológica, situações altamente desestimulantes. Talvez a apatia tenha criado raízes mais profundas do que se possa imaginar. Fora isso, não podemos esquecer que em qualquer área da vida o recomeço é sempre difícil. O problema é que esse recomeço parece não ter fim, e por não ter fim, o lamaçal continua. Trinta anos de combatividade tem sido sistematicamente jogados no lixo graças à idolatria às bandas gringas, apatia, falta de coerência com o discurso, relações nojentas com pilantras, assistencialismo exagerado com algumas pessoas e/ou grupos, egos inflados, populismo, tentativa de perpetuar vícios sociais não condizentes com o punk, falta de apoio dxs próprixs punks entre outras coisas. Infelizmente, a lista é grande e deprimente. De movimento caminhou para cena e de cena segue rápida e desatinadamente para um rolê vazio e barato nos finais de semana para pessoas que ainda não aceitaram o chamado de deu$, perderam a virgindade, descobriram que o meio social é lindo e é mais fácil ser senso comum ou foram internadas em alguma clínica. A soma de todos os problemas mencionados levou o punk a ser o que vemos atualmente: algumas tentativas de permanecer sendo um movimento e uma parcela agilizando e curtindo


apenas uma cena hipócrita. A ideia de união acabou perdendo força, com cada pessoa e/ou grupo seguindo seu próprio caminho, muitas vezes transformando relações de camaradagem em panelas. A política virou falácia, o palco e as redes sociais se tornaram palanques e as gigs acabaram parecendo comícios com muito falatório e pouquíssima convicção sobre o que está sendo dito; a política e a independência ficaram em segundo plano e o lucro e a fama (mesmo sendo fama no underground do underground) passou a ter importância. Os subúrbios foram esquecidos, trocados na cara de pau por apresentações em casas noturnas da moda e recebendo cachê; pãnquis sem cérebros deixaram de prestigiar bandas, eventos, de comprar material, preferindo exigir mediocremente que tudo seja gratuito, porque a falta de leitura fez com que acreditassem que esse tipo de atitude é ser anticapitalista. É claro que essa exigência de gratuidade não se aplica na biqueira ou no boteco, já que para isso a grana não falta e é justo pagar pelo produto (cadê a atitude anticapitalista nessa hora? São parasitas e nada mais). Tudo isso e mais um monte de outras coisas acabaram por deixar o Movimento Punk na Grande SP doente, muito doente, quiçá em estado terminal e esse vazio acabou deixando boa parte dos rolês sem conteúdo, apenas apresentação de bandas barulhentas assistidas por pessoas que nem se quer olham umas para as outras, igual a qualquer baladinha da moda. O tal recomeço, para dar certo, tem que ser lógico e coerente. Tudo que for nocivo ao punk enquanto movimento deve ser banido, não interessa quem é ou o que faça. Bandas, zines, espaços, promotores, pessoas ou coletivos, se está a ajudar no apodrecimento do movimento, melhor ser expurgadx. E assim passamos pela primeira década dos anos 2000 e entramos na segunda década, com os mesmo problemas, sempre batalhando uma reestruturação, sempre acreditando que o amanhã será melhor. A rebelião cedeu seu lugar para a acomodação e nos acostumamos a isso. A semente da escrotidão, plantada quase que involuntariamente anos atrás, continua gerando frutos podres, ainda que em pequena quantidade e com pouca força, mas sempre com a nossa conivência. Sim, se sabemos o que é nocivo para o punk e mesmo assim não combatemos, é porque somos coniventes. Nada muito diferente da sociedade apática que aceita bovinamente os desmandos da parte alta da pirâmide social. Felizmente muita gente insiste no punk como instrumento de politização e mudança radical, batalhando para que continue sendo uma ameaça real, mas muitas vezes essa insistência parece não gerar frutos. Sem apoio dxs punks, sem coerência com o discurso, sem ao menos tentar transformar a teoria em prática, fica difícil pensar/falar/viver o punk. O Movimento Punk não precisa fazer política de boa vizinhança com pilantras e donos de casas noturnas, tampouco com bandas/gravadoras/zines/promotorxs rip-off. O Movimento Punk deve ser livre, independente e combativo. Hoje, final de 2014/começo de 2015, se faz urgente e necessário que compreendamos quais foram os erros do passado para que não continuem a serem repetidos no presente e no futuro. Não há outra opção. É a reestruturação real ou aceitarmos a mesmice, que aquilo que tanto acreditamos deu errado, a insignificância política e contracultural. Talvez a história tenha corrido muito rapidamente e naquele momento não percebemos. Uma década e meia se passou, anos que não voltam mais e que se tivessem sido bem aproveitados e trabalhados, com certeza o presente seria muito diferente, mais produtivo e prazeroso. Se com todos os problemas houve muita coisa boa sendo produzida, se o caráter questionador ainda resiste de alguma maneira, é porque existe força, determinação e convicção. Esse estado permanente de recomeço é cansativo, às vezes desestimulante, mas é infinitamente melhor do que a apatia. E se o interesse no punk é atrás de vida boa e diversão, pode ter certeza que escolheu o lugar errado para procurar. Aqui é política sim, resistindo e existindo violentamente. Como diziam xs mais experientes, “revolucionar o cotidiano, cotidianizar a revolução!”


UMA PESSOA COM CRISE CONVULSIVA, CURIOSXS E POLICIAIS INÚTEIS Por Treva Dias atrás estávamos eu e minha companheira caminhando por uma movimentada avenida do bairro que moramos quando vimos um senhor parado, com os braços erguidos e balbuciando coisas que não entendemos. Passamos por ele sem dar a devida importância, afinal de contas, poderia ser alguém com umas pingas na ideia, uma pegadinha escrota ou alguém bem humorado tirando um sarro da cara de pessoas desavisadas. Metros à frente, escutamos aquele típico barulho de queda e ao olharmos para trás, lá estava o senhor se debatendo no chão. Chegamos perto e notamos que o mesmo estava tendo uma crise convulsiva. Com a queda, ele bateu a cabeça resultando em um corte, que apesar de não ser grande, não parava de sangrar. O senhor estava com a pele arroxeada, tinha salivação excessiva, se debatia, o corpo sofria com contrações musculares intensas. Para um panaca como eu, a cena assustava, mas a calma e algum conhecimento sobre o assunto por parte da companheira foram suficientes para ajudar a lidar com a situação. Claro que nesse momento já havia um punhado de curiosxs com celulares nas mãos, palpites furados e nenhuma ajuda real. Até uma suposta enfermeira que parou para “ajudar” estava mais preocupada em dizer qual era sua profissão (só faltou o diploma em mãos) e mostrar o celular moderno do que efetivamente socorrer o senhor. Pois é, com tanta gente para palpitar, achei melhor ignorar geral e ouvir os conselhos de quem já estava lá me ajudando desde o início. Na real, ninguém deseja passar por esse tipo de situação. Ver aquele senhor tendo contrações, sangrando e roxo não é uma situação agradável, ainda mais quando não se sabe ao certo o que fazer. Mas já que estava ali, melhor era fazer o possível para tentar amenizar a situação. Primeiro foi escutar a Tamires e manter a calma. Depois, verificar a gravidade do machucado na cabeça, tentar mantê-lo minimamente confortável e com a cabeça numa posição que evitasse o sufocamento. Lembre-se que ninguém tem formação médica ou algo do tipo. Após essas ações iniciais, o próximo passo foi pedir socorro médico. Alguém liga para o resgate e passa por uma sabatina sobre a situação do senhor e ainda recebe o aviso que vai demorar um pouco para a ambulância chegar. Do outro lado da avenida, andando vagarosamente graças ao trânsito, uma viatura da pm com dois vermes. A galera grita, acena, mostra que tem alguém no chão necessitando de socorro rápido e é visível a má vontade dos dois lixos. Nem para ligar a sirene os dois serviram. E não acredite que ficou nisso! Eu sei que a demora foi de pouquíssimo tempo, mas a má vontade dos vermes somada à situação do senhor fez com que parecesse que já tinham passado quinze minutos, tamanha a vagareza da polícia. E ao chegarem, desceram da viatura com as mãos no revólver, como se estivessem prestes a trocarem tiros com a quadrilha concorrente numa disputa por ponto de tráfico. Vergonha! Os dois sacos de lixo inúteis ficaram lá com suas caras abestalhadas, sem saber o que fazer. Demoraram uma eternidade para tomarem alguma atitude, para chamarem apoio pelo rádio ou ajudar de alguma maneira. A Tamires tem alguma noção de primeiros socorros, então ela passava as dicas para as duas pessoas que estavam cuidando do senhor, eu e um transeunte, enquanto os dois inúteis ficavam com aquele semblante idiotizado esperando o senhor morrer ou do nada levantar-se e seguir caminhando, fora o povo que ficava parado sem ajudar, olhando a cena como quem estivesse vendo algum programa na televisão. E como tudo pode piorar, chegou uma segunda viatura, dessa vez com um tenente, mas igualmente inútil. Três


soldados e um tenente, cada um mais zero a esquerda que o outro, totalmente perdidos e sem iniciativa. Puliça sendo puliça e nada mais. A.C.A.B.!!!! Nessa altura do campeonato, a crise do senhor já tinha diminuído, a cor voltava ao normal, apenas o sangramento persistia. Nisso, passado uns quinze minutos desde a queda, chegou uma ambulância. Os bombeiros mandaram a cambada de curiosxs se afastar, conversaram com a Tamires, verificaram a situação do senhor e pediram para que eu e o outro rapaz ajudássemos a segurar o senhor enquanto ele era colocado na maca. Tudo isso sem dirigir nenhuma palavra aos vermes, que ainda estavam por lá parasitando. Os bombeiros agradeceram e, enfim, todos puderam ir embora. Qualquer pessoa pode presenciar uma cena como essa, então seria legal ter consciência do que fazer na hora h, para não cometermos erros que possam prejudicar a saúde de quem estiver em crise. As dicas foram copiadas descaradamente de um site de um grande hospital, então podem ficar sussa porque não delirei em nada. Segue as dicas: - afastar a vítima de lugares perigosos, como áreas com piscinas, com objetos cortantes ou de móveis. - retirar objetos pessoais como óculos, colares e anéis. - proteger a cabeça com uma almofada, deixando-a livre para agitar-se à vontade. - manter a vítima de barriga para cima e a cabeça na lateral, para evitar engasgos e obstrução de ar. - proteger a boca, observando se a língua não está sendo mordida. - não forçar a abertura da boca - afrouxar as roupas, se necessário. - não jogar água no rosto - não oferecer algo para cheirar durante a crise - procurar suporte médico para a vítima o mais rápido possível As crises em geral duram cerca de dois minutos, podendo em alguns casos, durar cinco minutos. Se o tempo for superior a esse, suporte médico é necessário e urgente, principalmente em pessoas que nunca tiveram crise. Ao término da crise, é comum haver sonolência, confusão mental e dor de cabeça. Esse estado é chamado de pós-ictal e pode durar de uma a duas horas, período que deve se evitar comer ou beber, já que os movimentos da pessoa ainda podem estar descoordenados. Até o momento em que vi o senhor ser colocado na ambulância, ele parecia estar bem, felizmente. Chato foi ver pessoas mais interessadas em filmar o que estava acontecendo ou de se auto estimar profissionalmente num momento inoportuno do que ajudar de verdade. E é claro, vacilei em não ter anotado o nome nem a numeração das carroças dos vermes, para posterior “fritação”. Sabemos que policiais são inúteis por natureza, mas a displicência com que lidaram com situação, se não chega a surpreender, aumenta o nojo que se tem pela instituição criminosa.


REFÉNS? APENAS QUEM ASSIM DESEJAR Por Treva Há algum tempo rola um importante e conturbado debate no punk de SP sobre o apoio a eventos organizados por picaretas, principalmente os que contam com a participação de bandas gringas. Assunto simples e sem estresse, se a falta de coerência não estivesse presente para atrapalhar. O assunto gera polêmica, cria inimizades, mas como gosto de ver o mal, bora jogar no ventilador para perfumar o ambiente. Picaretas que organizam eventos sempre existiram, existem e vão continuar a existir enquanto houver pessoas dispostas a sustentar parasitas, fato! Mas a discussão envolve duas situações pontuais que não condizem com o punk: eventos caros e/ou ideologicamente confusos. Em ambos os casos, o boicote seria o mínimo a ser feito e esperado por parte das pessoas que se dizem punks, mas não é o que vemos acontecendo. Para começar, vamos com o debate mais antigo que é sobre eventos com preços altos. Ingressos com preços abusivos sempre foram uma constante e não apenas no punk. Picaretas encaram organização de eventos como uma forma fácil e rápida para ganhar dinheiro sem ter que estar em um emprego formal. A imensa maioria de nós já esteve sujeita a pagar valores absurdos para ver bandas, mesmo que tenhamos consciência de quão estúpido é isso, não importando se o evento tem ou não banda gringa. Aliás, o fato de uma banda ser gringa não deveria ser fator determinante para fazer com que saíssemos de casa para ir a uma gig (nesse caso, ir a um show de rock). Somos punks e deveríamos colar nas gigs para prestigiar a nossa contracultura, apoiar o movimento, porque gostamos de bandas punks e de estar em contato com punks, independente de onde tenham vindo. Sem contar que bandas locais e estrangeiras deveriam ter a mesma importância e isso seria mais uma forma de combater a hierarquização no punk, tentando manter a horizontalidade também entre as bandas e não apenas nas relações interpessoais. Ao invés disso, muita gente só tem interesse em colar se tiver uma de suas bandas favoritas tocando, deixando totalmente de lado a ideia de apoiar o punk como um todo. Colar em eventos se tornou um algo a mais, outra maneira para se autoestimar, uma forma de destaque, motivo para postar fotos em redes sociais em busca de curtidas e, de quebra, de comentários nem sempre inteligentes. Mais vícios sociais nojentos incorporados ao punk. O que essas pessoas não entendem é que pagar um valor alto no ingresso para ver banda gringa nada tem a ver com apoio. É uma atitude vazia, sem retorno para o coletivo, porque enquanto pessoas estiverem dispostas a pagarem os valores pedidos e xs picaretas estiverem lucrando, os preços jamais serão reduzidos. Se o ingresso fosse mais barato, mais gente colaria e seria bem mais legal o evento com duas mil pessoas ao invés de quinhentas. Essas pessoas que não tiveram grana para colar no evento são iguais a você, tem a mesma importância no movimento, são as mesmas pessoas que você diz gostar e respeitar, mas que num momento de fanatismo prefere esquecer e trocá-las pelo evento com a banda gringa. Lembre-se: cada vez que você paga por um ingresso caro, quantxs punks ficam sem chance de colar no evento? Já tentou fazer essa conta? E a eterna desculpa de preços altos para cobrir gastos já está batida. Com a internet e um pouco de boa vontade e noções de matemática, fica fácil fazer uma conta básica e ter ideia de quanto se gasta para realizar um evento. Não estou dizendo que organizar eventos seja a coisa mais fácil de fazer, mas tenho certeza que não é tão complicado quanto construir um reator nuclear. A também sempre presente desculpa de que o evento fica no zero a zero ou que dá prejuízo já encheu o saco. São as produtoras de sempre falando isso, mas continuam a trazer bandas. Se realmente desse prejú você acha que trariam tantas bandas?


O outro ponto são os eventos ideologicamente confusos. De uns tempos para cá, com a sem vergonhice reinando entre bandas, produtoras e frequentadorxs, colocar bandas que são a trilha sonora da escória intolerante ou com integrantes envolvidos em escândalos passou a ser normal (para elxs, que fique bem claro!). O bizarro é ver punks aceitando colar nesses eventos, dividindo o mesmo espaço e, aparentemente, sem grande constrangimento. Novamente a idolatria às bandas gringas corrompendo o punk por dentro. Como cantar, escrever, usar roupas ou participar de algo relacionado à luta pela liberdade e igualdade se no momento de boicotar bandas e produtoras que compartilham o estrume direitista, a pessoa faz de conta que nada aconteceu? Tanto nos eventos com preços altos como nos que rolam uma passação de pano para a escória intolerante, quem aceita colar nesses eventos acredita ter sempre boas justificativas, se isso é possível. No geral, alegam que somos reféns de produtoras inescrupulosas e que enquanto o punk não estiver realmente estruturado (independente do que isso signifique para essas pessoas), estaremos sujeitos a sermos lesados financeiramente e teremos nossa integridade física sempre em risco, tudo em nome de bandas gringas. Esclarecendo o significado de refém: 1 Pessoa capturada pelas forças inimigas que invadem uma região, e guardada à vista, como penhor ou garantia de execução de um tratado, ou para forçar determinadas concessões aos captores, principalmente a abstenção de represálias 2 Pessoa, praça, etc, que fica em poder do inimigo para garantia de uma promessa ou tratado. Ou seja, coxinha é pouco! E fica a pergunta: qual a diferença entre essxs punks que tanto criticam a sociedade e não aceitam romper com algo tão simples quanto bandas e produtoras que aceitam pilantras, preferindo não sair da zona de conforto e as pessoas que aceitam de maneira cordial os desmandos perpetrados por quem acredita estar no poder? Usando o bom senso, a resposta seria nenhuma diferença. Não estou aqui cobrando pessoas ou vomitando regras. Apenas questiono onde fica a coerência com o discurso radical que teoricamente todxs possuímos? Errar faz parte, mas persistir no erro é burrice. Coerência com o discurso é o mínimo que podemos ter para que consigamos nos olhar no espelho. É estranho vermos pessoas bradando a plenos pulmões sobre assuntos pertinentes ao Movimento Punk, trocarem com tanta facilidade sua postura e convicção política por noventa minutos de diversão, esquecendo por completo xs amigxs que não tiveram grana para colarem no evento caro ou aquelxs que foram vítimas da violência ou do mau caratismo dos lixos que estão presentes no evento ideologicamente confuso. O que causa estranheza e nojo não é vermos relações escrotas entre essas bandas, produtoras e pilantras, porque é isso que devemos esperar desse pessoal, mas o fato de pessoas que dizem viver e lutar pelo punk colando nessas porcarias como se fosse algo normal e quando (se forem, porque nem isso vale a pena) questionadas, surtam e entram em um processo grave de vitimização e perseguição que é vexatório. Melhor seria assumir o vacilo ao invés de bancarem vítimas. Ou peçam para as bandas gringas ajudarem com advogados.

PUNK É COERÊNCIA E COMBATIVIDADE! PUNK É LUTA POR INDEPENDÊNCIA, IGUALDADE E LIBERDADE! PUNK NÃO É LUGAR PARA PRÁTICAS COXINHAS!


PLEBEUS URBANOS Por Treva VP – Para começar, conte-nos sobre a história da banda, influências, formação e discografia. A banda começou em outubro de 1999 com o intuito de tocar músicas próprias e que falassem de nosso dia-a-dia e retratasse na verdade um grito de nossos corações com todas as expectativas e frustrações. A formação inicial durou até 2008, com ela lançamos as primeiras demos e os cds Operários (2003) e Entre Os Muros (2007) e algumas coletâneas (no total 17). Conseguimos neste período algumas mini tours no Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em 2008 com a saída do baterista tivemos o apoio de Edgar Gabriel da banda Espanto na bateria até a entrada de Edvaldo Araújo em 2009 e em 2012 tivemos um apoio nas guitarras com Amauri Germano, que mudou bem o som do próximo álbum sem perder a alma da banda. VP – Nesses muitos anos de banda, a relação que as pessoas tinham com a música mudou com o advento da internet e a explosão dos downloads. Vale a pena insistir em lançamentos físicos, mesmo correndo o risco de um retorno abaixo do esperado ou é melhor assumir o custo de gravação e disponibilizar o lançamento na rede? Para nós que vivemos o underground tudo é válido, vale ressaltar que tem muita gente que não tem como comprar um cd por muitas questões, mas na visão de Plebeus o álbum físico é extremamente importante, o encarte é um complemento visual a música, e em respeito às pessoas que gostam de Plebeus Urbanos fazemos o melhor possível com um custo justo. Acho que quem compra o cd físico merece isso, um complemento maior, ultrapassando a barreira sonora. VP – A Plebe Records ainda está na ativa? Sim, ela é na verdade uma cooperativa. A princípio era para lançar o material dos Plebeus, aí aos poucos outros projetos foram surgindo. Não rola dinheiro, apenas interesse em divulgar bandas comprometidas com a cena. Atualmente foi lançado o novo álbum da banda SubTraídas. VP – Plebeus Urbanos possui três clipes bem legais e um mini documentário sobre a cena de Osasco. Muita correria para realizar esses trampos? Tudo isso graças a amigos de longa data. O mini documentário é parte de um material que conta a cena rocker de Osasco e sua explosão em 2002 com bandas surgindo e vários eventos de garagem, aí a galera desse documentário disse ‘poxa vamos lançar uns clipes dos Plebeus’, aí rolou na camaradagem, sem custo e usando apenas o celular. Foi muito legal o resultado final. VP – Como está a cena em Osasco e região? Eu diria que em Osasco a cena vai além de Punk, ela é uma junção de pessoas interessadas. Atualmente tem poucas bandas na ativa (ativa que eu digo é organizando eventos e tocando) e isso acaba causando um pouco de marasmo e dando espaço a pessoas mal intencionadas organizando eventos apenas com objetivos financeiros, mas acreditamos num levante da cena local em breve.


VP – A banda já organizou vários eventos legais. Como está essa correria? Algum evento que vocês gostariam de destacar? Existem vários projetos futuros legais que ainda estão no papel, mas desde a Festa Punk 2 (2004) eu diria que foi o melhor evento que organizamos. Focamos a organizar pequenos eventos quase de garagem, mas com uma qualidade bem melhor, assim podemos chamar bandas independentes e fazer eventos beneficentes e outros com entrada franca, assim nenhuma banda ganha, mas também não é lesada. VP – Apesar dos problemas de estrutura que existe no punk na Grande SP, sempre rolam gigs, bem ou mal o pessoal aparece e a vida continua. Não sei se estou viajando, mas tenho a impressão que a banda (entre tantas outras) corre por fora. Se for isso, seria por opção ou tem uma “panelização”, uma espécie de mainstream punk e talvez inconsciente, que passa razoavelmente despercebido por ser mais conhecido como brodagem? Isso acontece muito. É difícil não ver, pois está na cara, mas por outro lado a Plebeus Urbanos tenta criar caminhos alternativos, pois sempre foi essa a intenção. Não ficamos lambendo ninguém, se é amigo é amigo e ponto, assim ninguém deve favor a ninguém. Os grandes festivais punks que Plebeus tocou foi porque foi convidada e não por troca de favor. Mas acreditamos muito nos considerados eventos de garagem com bandas novas e verdadeiras ao lado, esses eventos acabam ganhando nossa atenção. VP – A banda já tocou fora de SP? E como andam as gigs? Sim, em MG, PR e RJ. Na verdade devemos algumas visitas a outros estados que não rolou pela falta de grana mesmo. As gigs acontecem com uma certa frequência, só é difícil atualmente tocar em todas que chamam pela falta de tempo e dinheiro, pois atualmente os integrantes são mais velhos e tem filhos e família, assim o dinheiro destinado à banda foi reduzido. VP – Conversando com a nova geração que tem colado nos rolês, parece-me que uma parcela não cultiva o hábito da leitura, seja de fanzines punks ou livros, estando focadxs apenas na música, no visual e na repetição de frases de efeito. Mesmo com a facilidade em baixar livros, blogs que disponibilizam textos ou com a distribuição gratuita de zines e livros ou vendidos a preços simbólicos, a falta de interesse permanece. Pergunto: onde o punk errou, se é que errou? É possível adquirir teoria política apenas através das letras? Não, mas acho que toda banda ou músico tem consigo o poder de direcionar de uma forma ou outra. Fico triste quando vejo bandas com discursos vazios, pois eles não percebem que acabam direcionando pessoas sem conhecimento a caminhos perigosos. Acho que com o acesso rápido a informação, atualmente acabou gerando uma nova forma de informação mastigada e cuspida e muitas pessoas acabam recebendo a informação de apenas um lugar, criando uma má interpretação. O Punk não errou, apenas se equivocou. No começo a cena precisava ser vista, agora é necessário informar. VP – Punk e política são inseparáveis? Acredito que não, mas na verdade o Punk é uma contra cultura e a política foi incorporada depois de seu começo. Hoje vejo que o punk é um caminho a novas visões políticas, pois a pessoa que entra nesse movimento começa a enxergar que é possível você se mexer e é possível ir cada vez mais longe de uma forma autônoma sem precisar de alguém a qual muitos vejam como maior, mais instruída. Graças ao punk um jovem se vê como um ser pensante e um agente de mudança e transformação.


VP – Desde junho/2013, tem rolado uma movimentação política mais forte do que estamos acostumados a ver no país. Mesmo que não tenha sido tão grande ou organizada como em outros países, conseguiu incomodar o poder, que passou a reprimir fortemente, apoiado pela mídia e parte da sociedade. Vocês acreditam que essas manifestações trarão como resultado um amadurecimento político para realmente ameaçar o estado e buscar uma mudança radical no futuro ou cairão no esquecimento e serão vistas como um modismo incentivado por redes sociais? Como somos sonhadores, acreditamos que tudo é válido. As pessoas estão mais ágeis de uma forma política, mas com os resultados das eleições de 2014 percebi que muitas pessoas estão votando nulo, pois já não esperam nada de ninguém. Mas o poder da mídia é ainda muito forte, a decisão do patrão ainda é vista como referência e isso nos deixa tristes, pois aí percebemos que boa parte das manifestações foram usadas como manobra política por alguns candidatos, as redes sociais acabam mastigando e cuspindo informações vazias e sem argumentos, mas com tom de inteligência aí muitos acabam se enganando feio. VP – Os governos radicalizaram na luta contra os movimentos sociais, usando e abusando da violência, supressão de direitos etc. A população também estaria preparada para radicalizar ou isso continuará restrito a um pequeno grupo de manifestantes/ativistas? Atualmente é impossível ver uma primavera dos povos como gostaríamos de ver, pois as pessoas precisam de informação e espaço para pensar, coisa que o governo (que hoje acredito que é controlado por grandes empresas que usam a mídia para conseguir massa de manobra) nunca vai liberar tanta liberdade, assim estamos sendo vigiados o tempo todo. Só uma pessoa insana não vê que estamos sendo vigiados não apenas pelo governo como vemos em filmes de ficção, mas sim monitorados pela sociedade de uma forma geral, monitorado pela sede de crescer, mas não vemos que o crescimento que nos impede de mudar é apenas um sonho americano. Você se oprime intelectualmente e seu sonho é trocado por um objeto de compra e quando você tem o poder de comprar (inconscientemente você pensa estar sendo beneficiado), o poder de pensar é perdido, mas quando você pensa o comprar não faz sentido! Mas muitas pessoas estão lutando para que os verdadeiros valores da vida prevaleçam e esperamos no futuro vermos uma verdadeira Primavera dos Povos, pois o anarquismo é o caminho natural que uma sociedade educada e justa tende a seguir! VP – Muito obrigado pela entrevista. E o espaço é de vocês. Desde já agradecemos o espaço concedido. Esperamos que as pessoas leiam e entre em contato, discutam sobre os assuntos aqui colocados, pois é assim que permanecemos vivos. Plebeus Urbanos não é uma banda e sim uma família e ela só existe quando mais pessoas (amigos, zines, distros, blogs) se unem, aí sim existimos... obrigado a todos e esperamos nos encontrar pessoalmente (com os leitores) para conversarmos e fazer novas amizades... valew!!!! https://www.facebook.com/PlebeusUrbanos?r ef=ts&fref=ts https://www.youtube.com/watch?v=84hIB5v0a us https://www.youtube.com/watch?v=Z8xqC4m cLO4 https://www.youtube.com/watch?v=O0KBNTb aFGk

https://www.youtube.com/user/pleberecords https://www.youtube.com/watch?v=DdBPjK mQS0c https://www.youtube.com/watch?v=V8orIYb LSJg


INFECT Por Treva 2014. Ainda a hoje, a luta feminista se faz necessária e presente, enfrentando velhos e novos desafios no meio social. E é extremamente triste e constrangedor ter que encarar que essa luta ainda é necessária em “cenas” onde integrantes se dizem contra o machismo/sexismo/misoginia/lesbofobia, mas que no dia a dia demostram que existe um abismo entre discurso e vivência real. Fatos recentes comprovam que o feminismo é necessário e que há muito para combater e mudar nessas “cenas”. Se hoje a situação continua complicada quando o assunto é igualdade entre gêneros, em 1998 era pior, e foi no final desse ano que surgiu a banda Infect. Nessa época rolava uma onda de bandas tocando o que se convencionou chamar de fastcore e a Infect fazia parte do bang. Mesmo não sendo a primeira banda só de mulheres no rolê, tinham como diferencial o som, onde carregavam na velocidade e agressividade das músicas sempre curtas, numa mescla de hardcore americano, europeu e punk sujão. As letras tratavam de questões político/sociais, de maneira simples, facilitando o entendimento de todxs. A banda era formada por Indayara (vocal), Juliana e Bianca (guitarras), Tatiana (baixo) e Estela (bateria). Apesar de a banda ter durado apenas cinco anos, suas integrantes já eram envolvidas com a cena há algum tempo, inclusive com algumas tendo participado de outras bandas. Indayara participou da Menstruação Anárquica, Tatiana tocou no I Shot Cyrus, No Violence e TPM e Estela passou pela Dominatrix. Pós-Infect, a Juliana tocou na War Inside e depois foi pros States e integra a banda Replica, Tatiana tocou em várias bandas não necessariamente envolvidas com o punk, Indayara fez participações em alguns lançamentos de diversas bandas, organizou eventos e fez ponta em um filme do Zé do Caixão. Fora isso, não achei nenhuma informação na rede indicando que as outras integrantes ainda mantenham ligações com bandas. Em uma entrevista que li anos atrás, a guitarrista Bianca disse algo do tipo “o melhor do punk é qualquer pessoa pegar uma guitarra e montar uma banda sem manjar nada de teoria musical”. Pois é, diferente do ocorre atualmente com o rardicóri bunda mole classe média e lambe botas de quadrilheiros intolerantes, Infect era essencialmente uma banda punk. E isso era visível na presença de punks nas gigs em que tocavam e sua participação dividindo o palco com outras bandas punks, tipo Cólera, Condutores de Cadáver, Riistetyt, entre outras. Fora isso, sempre toparam tocar nos fests punks que rolavam, com destaque para a participação no festival A um Passo do Fim do Mundo. Chamava a atenção o fato de mulheres e homens agitando juntos e respeitando-se mutuamente. Para a banda, não deveria rolar separação entre punk e hardcore, ambos eram a mesma coisa. Claro, no decorrer dos anos vimos que o tal radicóri seguiu outro caminho, se tornando um amontoado de pessoas estúpidas e vazias, com a típica cara da classe média. Triste. A banda encerrou suas atividades em 2003 e mesmo com o passar dos anos, continua sendo cultuada aqui e na gringa, influenciando muita gente. Prova disso foi o lançamento póstumo do cd Discography por uma gravadora gringa. Em um momento onde pessoas envolvidas com uma cena pseudo-rardicóri assumem de maneira desavergonhada uma postura elitista e preconceituosa, com tudo que de ruim vem com isso, é que percebemos a falta que faz bandas como Infect.


Discografia: Demo Ensaio (1999)

Estrépito (2001)

Sendo Fogo (2000)

Infect & Wrecker (2002)

Infect (2000)

Indelével (2003)

Infect & Discarga (2000)

Discography (2008)

https://myspace.com/infectspbrazil

GIGS Por Treva D.E.R., Test – 10/07/2014 – Centro Cultural São Paulo – São Paulo/SP Mais de mês sem colar em rolês, finalmente rola uma desintoxicação da copa do mundo. E esse rolê foi do jeito que gosto, com bandas legais, de graça e perto de casa. Só faltou o sol. O evento era lançamento do split Otomanos e foi num pique meio artístico vanguardista. Explico: o local parece uma caixa, quem quiser fica na parte de baixo e escolhe de qual lado do palco quer ficar ou então pode ficar em cima. Enfim, explicação chula, mas é o mais próximo que consigo chegar. E para ficar mais artístico o bagulho, um pano separava o palco em dois, de um lado os integrantes do D.E.R. e do outro Test, com o batera Barata na fronteira dos dois lados. Mas antes da destruição sonora rolou uma visita às exposições, uma sobre orixás do candomblé e outra sobre mulheres boleiras. Aproveitar porque também é de graça e conhecimento não ocupa espaço tampouco é prejudicial à saúde. No horário marcado, o massacre grind começa com o D.E.R. Apesar da brutalidade da banda, o local não era propício para agitar, o que acabou sendo bem estranho, com todo mundo parado só assistindo. Fiquei na parte de cima observando o batera que parece um polvo, realmente impressionante. Vê-lo tocar me fez acreditar que a melhor coisa que fiz na vida para ajudar a melhorar o mundo foi ter desistido de ser baterista. Sem intervalo entre as bandas, Test começa seu set, alternando velocidade com partes lentas e viajandonas, altamente metalizadas. Rolou até bolo de aniversário e “Parabéns pra Você” para o Barata. E quando dava a impressão do bang estar terminando, as duas bandas passam a tocar ao mesmo tempo, cada uma de um lado do palco. E aí era ver a cara de besta das pessoas, sem saber em qual banda prestar atenção e tentando entender tudo que estava rolando. E antes que pudéssemos entender, já estava terminando, o que foi ótimo para quem mora mais distante. O evento foi bem diferente de tudo que estamos acostumados a ver e esse diferencial realmente fez valer a pena ter saído de casa numa noite fria e chuvosa. Para punks e bangers que não estão empacados em Ramones e Iron Maiden, a noite foi show de bola.

Atos de Vingança, Total Silence, Skárnio, Massacre em Alphaville – 27/07/2014 – Estúdio Noise Terror – São Paulo/SP Domingo com a cara da cidade e do jeito que detesto: cinza, frio e com uma garoa chata. E para amenizar a dor que essa tragédia provoca na minha pessoa, nada melhor um rolê com bandas legais, barulhentas e com preço justo. A gig era o encerramento da mini turnê da Total


Silence (também tocaram no Guarujá e em outro pico de Sampa). Pois é, para o evento ser nota dez, só faltou a punkaiada. Com aquele atraso básico, Atos de Vingança com nova formação e som mais porrada, iniciou seu set. O frio que todo mundo encarou para colar no som parece ter congelado geral, já que ficamos apenas apreciando a apresentação das bandas. Voltando ao Atos, parece que depois de alguns problemas de formação e afastamento dos palcos, a banda se encontrou novamente e tem produzido bastante. Na sequência, a one man band carioca Total Silence detonou seu dbeat. Apesar da brutalidade dos sons, a frieza do pessoal continuou presente. Parece brincadeira, mas apesar da banda ter tantos anos de estrada, essa foi a primeira vez que vi o Skárnio. Quanto arrependimento! O bagulho é realmente monstro, aquela mistura cruel de hardcore com metal torto e tosco que ainda impressiona. E fechando a noite gélida, rolou o Massacre em Alphaville. Já fazia uns três ou quatro anos que não colava num som que tivesse a participação da banda. Dessa vez vi apenas as três primeiras músicas e saí fora graças ao frio e a fome. Sacomé, velho é sempre banana. Enfim, apesar dos contras, o rolê foi legal, chance de ver uma banda de outro estado e outras locais que nem sempre são convidadas para o oba-oba do rolê, uma galerinha firmeza e rever pessoas que já tinha algum tempo que não via. Valeu ter saído de casa.

UGRA Zine Fest: Ordinária Hit, Rot – 21/10/2014 – Centro Cultural São Paulo – São Paulo/SP Fim de semana com feira de zines, oficinas, palestras, bandas, conversas agradáveis, ninguém arrastando, tudo isso rolando no mais conhecido centro cultural da cidade e na faixa. Evento realizado em dois dias e muito bem organizado. Quem ainda insiste naquela imagem oitentista de zines porcamente fotocopiados precisa urgentemente de uma reciclagem no assunto. Ainda existem zines que seguem essa linha (na maioria das vezes por opção), mas a quantidade de zines que mais parecem livros ou revistas é impressionante. Pode-se até não gostar, mas não é possível negar a qualidade do material. E na feira havia zines para todos os gostos e bolsos, era só pesquisar e escolher. Fora a feira, ainda havia a possibilidade de gastar parte do tempo no centro cultural sapeando as exposições que estavam no local. Era uma overdose de cultura. No horário marcado a banda Ordinária Hit começou sua apresentação. Não sei o que rolou porque o som da banda não é a minha praia e optei por ficar do lado fora papeando. Na sequência veio o Rot e para variar, foi devastador. Como disse o vocal Marcelo, era a apresentação mais calma na vida deles. Boa parte do pessoal sentado, som nítido, sem mosh pit e mesmo assim a brutalidade da banda se fazia presente e impressionava. Parece não importar o local, a quantidade de pessoas ou a qualidade do som. A única certeza é um massacre de grindcore político. Vale ressaltar que além das pessoas acostumadas com esse tipo de som, havia no ambiente muita gente que nada tem a ver com barulho, entrou no teatro porque a apresentação era gratuita e ficou por lá prestigiando. E por volta das 19h30min a banda encerrava sua apresentação. Como aconteceu ano passado, interessante notar a ausência de pessoas envolvidas com as diversas cenas musicais/culturais existentes na cidade e que teoricamente, apoiam/produzem zines para manter a chama acesa, seja ela qual for. Mais fácil ficar em casa postando foto e cuidando da vida alheia em rede social ou pagando de feijoada, fazendo política apenas para a panela. Mas quem colou com certeza não teve do que reclamar.


Notícias do Submundo: Perfeita Noite de Hardcore Finlandês: Helvetin Viemärit, Skarnio, Kovaa Rasvaa, Kuolema – 21/10/2014 – Morfeus Club – São Paulo/SP Como o nome do evento diz, uma perfeita noite de hardcore finlandês. Também podemos dizer que foi outra celebração entre os buracos que produziram algumas das melhores bandas punks desse nosso capenga planeta. Meu rolê começou na tarde anterior, ao trombar o pessoal do Kuolema caminhando tranquilamente pelo bairro que moro. Após uma rápida troca de ideias (sem problemas linguísticos, já que o finlandês nada mais é do que um português mais tosco), a empolgação para o evento aumentou. E novamente o rolê no meio da semana foi nota dez, com bastante gente, preço super de boa, bandas bacanas, lugar de fácil acesso e com infraestrutura decente (o palco fica no subsolo... nada mais charmoso que isso) e sem gente chata ou panelas que ficam fazendo beicinho enquanto cultivam sua vitimização rolesística. Evento punk organizado por punks e para punks (e alguns headbangers que estavam presentes). Estava marcado para começar às 19h00min, mas nesse horário ainda tem muita gente saindo do trampo, sem contar que é horário de pico no transporte. Então rolou aquele embaço básico para dar tempo do pessoal chegar e por volta das 20h30min começou a bagaceirice com Helvetin Viemärit. Apesar do pessoal não ter agitado, a apresentação da banda foi estouro no norte. Parece que a cada apresentação o bagulho fica mais tosco e agressivo. Tocaram alguns covers, incluindo uma do Kuolema que contou com a participação do Ile (vocal da banda) e de uma garota que fazia aniversário. Pausa para descansar os ouvidos e jogar conversa fora, porque na sequência tinha Skarnio. O pessoal continuou a não agitar, mas isso também não foi problema para a banda, que detonou. Interessante notar a presença dxs gringxs curtindo as bandas daqui, nada de frescura ou estrelismo como muitas vezes vemos em bandas de conhecidos. Na boa, mas eu nem manjava a Kovaa Rasvaa. Só tinha escutado uns sons na net para não chegar virgem no rolê. Com o som estourando de alto, a banda fez uma apresentação agressiva, sem pausa para respirar, impressionando geral. Num momento onde a questão de gênero e machismo são assuntos muito debatidos no punk, com diversas bandas que contam com a participação de garotas surgindo e agilizando várias fitas, essa turnê da banda veio bem a calhar. E fechando o rolê, Kuolema. Depois de nove anos, a banda volta a tocar na parte sul da América Latrina, numa turnê até que grande (com a participação da Kovaa Rasvaa). Quem na primeira vez viu e não entendeu nada, se ainda está envolvido com o punk e colou nessa gig, continuou sem entender. Um barulho sem fim, vocal bebaço, set curto. Tudo aquilo que curtimos. Apesar da energia no palco, assim como rolou nas outras bandas, a galera ficou tranquila, agitando com calma. E pouco antes da meia noite a banda encerrava sua apresentação e aí foi um corre-corre sem fim para pagar e sair fora para não perder o transporte. Mais uma noite com evento decente e preço condizente com a nossa realidade de terceiro mundo, bandas poderosas, material a rodo, boas conversas e a sensação de que o punk vive e resiste no underground, apesar do povo que joga contra e longe do burburinho que nada soma ao movimento.


Herdeiros do Ódio, Menstruação Anárquika, Pröjjetö Macabrö, Invasores de Cérebros – 16/11/2014 – Espaço Cultural Zapata – São Paulo/SP Domingão preguiçoso, com temperatura agradável e evento bacana. Tinha tudo para ser um dia nota dez se não fosse uma crise de rinite e uma baita alergia nos olhos tentando sabotar a minha felicidade, que por pouco não me nocautearam. Deve ser problema de (um)idade... (um)idade avançada. Coisa de velho bunda mole. O Pröjjetö Macabrö estava fazendo um rolê monstro pelo centro-oeste, sudeste e sul, tudo na base do faça-você-mesmo. Felizmente Sampa estava na rota e tivemos a oportunidade de presenciar outra aula de música feia. A gig rolou no novo Zapata. Mudou o endereço, o tamanho da casa, mas não mudou o clima legal que é característico do lugar. A barulheira estava marcada para começar às 16h00, mas rolou um baita embaço, começando lá pelas 19h00, para desespero desse que vos escreve e que estava com nariz e olhos bichados, querendo tudo acabasse rapidamente para voltar para casa. A primeira banda a tocar foi a Herdeiros do Ódio. Jabaquarismo + Finlândia + Suécia + Brasil 80, se é que vocês me entendem. A banda gravou material recentemente, mas ainda não conseguiu lançar por falta de apoio. Triste! Com a formação estabilizada há algum tempo, a cada apresentação parece que o som está mais violento. Hardcore punk como deve ser. Sem muito embaço entre as bandas, na sequência teve Menstruação Anárquika. Fazia uns anos que não via a banda. Formação nova, velha pegada. Punk rock, letras simples de fácil entendimento e cantadas por todxs, com destaque para Policiais Cheios de Culpa e Punk Até Morrer. Hora dos visitantes. Pouco mais de um ano após suas apresentações em SP, os hellcifenses voltam para mais uma sessão de destruição. O duo detonou um hardcore rápido, barulhento, com letras realmente punks e não blá-blá-blá furado para quem gosta de pagar de altamente politizado ou que fica fazendo média enquanto tenta ganhar créditos com punks. Impressiona como apenas duas pessoas são capazes de fazer tanto barulho. Fechando a noite, outra banda que não via há algum tempo, Invasores de Cérebros. Ver a banda me faz realmente acreditar em um punk perigoso, uma ameaça à ordem vigente. Ariel e seus discursos ácidos chacoalham a apatia de punks, muitas vezes cuspindo na cara hipócrita dxs presentes, que fazem de conta que não é com elxs e tentam não vestir a carapuça. Invasores continua a ser uma das melhores bandas ao vivo do rolê. Não vi toda a apresentação, porque como mencionei no início da resenha, estava razoavelmente debilitado e na hora que a banda estava tocando, a situação já tinha piorado horrores, com o agravante da fome batendo. Uma gig muito bacana, com uma galera em quantidade legal (incluindo punks bem jovens), bandas de diversos estilos para agradar todo mundo e em pico com fácil acesso. Salvou o domingo!

Devotos – 14/12/2014 – Espaço Cultural Zapata – São Paulo/SP Na boa, fazia uns dez anos ou mais que não via a banda. A memória não está ajudando muito nesse momento, mas acredito que tenham vindo tocar em Sampa nesse período e eu é que não fui por algum motivo ligado a minha ranzinzice. E esse traço tão marcante na minha personalidade ia me fazer perder novamente uma apresentação da banda, mas de última hora


Domingão à tarde cinzento, garoa chata e lá vou eu ver a instituição pernambucana. Sei que muita gente torce o nariz por causa das eventuais misturas sonoras que a banda promove ou porque volta e meia estão em algum veículo midiático. Com relação às misturas, as pessoas criticam Devotos e qualquer banda daqui que misturar algum elemento cultural local com o punk, mas as mesmas pessoas adoram bandas gringas que também fazem misturas, e em alguns casos, misturas realmente detestáveis. E com relação a aparições na mídia corporativa, me parece que isso rola mais pelo envolvimento social que a banda tem com sua quebrada do que por sua música. Enfim, divagações feitas enquanto seguia para o som. Em um fim de semana com diversas gigs na Grande SP, é fácil deduzir que o público vai ficar dividido e o resultado foi bem abaixo do esperado e merecido pela banda. Talvez as outras duas gigs tenham sido boas, o que compensaria um pouco essa. Sem contar que a gig de sexta e de domingo foram agilizadas em cima da hora e com pouca divulgação. Isso me lembrou de uma recente entrevista da banda Os Excluídos, quando em um determinado momento, o vocalista Ronaldo comenta algo do tipo “a cidade tem espaços legais com equipamentos decentes, mas os rolês são desconexos e/ou paralelos, sem envolvimento ideológico.” Isso diz muito sobre o que está acontecendo no rolê de uns tempos para cá. São apenas rolês e nada mais que isso, cada pessoa ou coletivo querendo fazer o seu evento, produzir mais, nenhuma interação com outras pessoas que também organizam eventos e assim vamos caminhando para o buraco. Numa cena pequena e atualmente dividida, esse excesso de rolês simultâneos serve mais para enfraquecer algo que já está debilitado do que fortalecer. Enfim, divagações feitas enquanto voltava para casa. Voltado ao que interessa, depois daquele embaço mais que chato para começar o barulho, com um som muito alto, sem embolar e estourando no peito, a banda tocou com uma energia impressionante, com se fosse um agradecimento para quem estava presente. Interessante notar os sorrisos, os abraços, a alegria na cara de cada pessoa que presenciou a apresentação, coisas simples que acabaram se tornando raras no punk daqui, sempre carrancudo graças a infindável tensão existente no ar pelos motivos que todxs sabemos e conhecemos tão bem. A banda mandou um set mais que lindo, com todas as músicas que queremos ouvir e mesmo aquelas que não queremos, mas que no momento que começam a tocar entra para a lista das que queremos, coisa para ninguém reclamar. E para encerrar, Alien e Punk Rock Hardcore fez todo mundo cantar como se estivéssemos num grande festival. Enfim, em um país com dimensões continentais, fica muito complicado para bandas do nordeste/norte/centro oeste e mesmo do sul tocarem em Sampa, e quando isso acontece, é sempre bom colar porque vai saber quando rola outro evento. Sorte de quem colou nesse.

Poesias Marginais Por Jüanito Por Karl Straight* Logo Pensamos Há solução?

As lavas do descaso

O mundo entrou em erupção?

Jorra sangue inocente dia após dia

Por opção?

Lucro, lucro, lucro...


Ah, o Punk...

É o apelo da mãe que chora quando a vida a degola

Muitos perguntam onde está Pode ser o grito de excluídos Em quebradas, nas bandas A greve dos oprimidos Na revolta e até no popular O apelo animal Basta olhar mais de perto Uma política, um desafeto Utopia já aparece e paira no ar Uma diversão de fim de semana Muitos perguntam onde está Esse lance é um pedacinho da vida O som que aos desajustados veio contagiar Jovens em suas primeiras rodas a agitar É um sentimento que Levanta Velhos-novos com suas ideias experiências a trocar e compartilhar

e A alma pede E o abuso da nossa existência logo se espanta

Vidas se perguntam Onde podemos estar Na Inglaterra por muitos ele faleceu O direito de existir Pra outros ditos explorados nunca morreu Toma conta do lugar

Ah, o Punk... Onde está o Punk? te faço em palavras Em toda esquina que o coração me concedeu Em todo lugar

Destino* É uma frase de revolta quando a vida se entorta É a rebeldia feminista que bate de frente com uma par de machista É um grito pela terra, o planeta? Onde está? Essa merda de sociedade cada vez mais a enterra

É a indignação do tiozinho que nessa vida segue sozinho

Enquanto o destino de alguns é não sair de caminhos incertos Procuro por novas estradas Para encontrar mais brilho para o futuro


Na Caminhada

Podem ser... eu, ele ou você.

Perambulando pelo mundo Vagando entre escolhas

Democracia

As ideias vêm e vão

Sim, eu acredito na democracia quando ela for feita pelo povo,

Rasgando em palavras

Não pelas corporações, tampouco pelo estado!

Reflexões ou ilusões Ecoam modestamente Livremente em cada escrita! Em uma só linha

Quando a sociedade despertar e perceber que a democracia está além do voto. É o poder da escolha de cada um ir às ruas e lutar

Na mesma direção

É o poder da escolha na ação de cada um na melhoria da sua quebrada

Eco x Ego

É o poder da escolha na mudança de si mesmo.

O ego se fez contra o eco Que interagia Vivia e da vida fazia serventia

E lembre-se: pagar contas não é luta É o preço que você paga por fingir que não sabe do seu poder na sociedade.

O ego se fez a favor do desequilíbrio Matando o eco dia após dia Não Sou* O ego é filho do capital O ego é essência existencial

Não fui Não sou

O eco se voltou contra o ego Que explorava Matava e da vida descartava e mentia O eco quer de volta o equilíbrio Mostra ao ego com desastres dia após dia O eco é fruto da essência de ser O ego é vaidade do ter Na trégua do eco e do ego Não esqueça que ambos podem ser

Nem nunca desejei ser Apenas fiz o que me foi possível fazer Não me envaideço, pois não mereço Não sou lendário, fiz o possível ou apenas o necessário.


Luta de Tolo

Tento imaginar-me melhor e mais puro a partir de agora

Nunca fez greve e paga de socialista Nunca pisou no chão da fábrica

Para que neste próximo segundo meu agora seja mais feliz e mais sóbrio

Não sabe o odor do óleo do forno que toma forma na máquina

Tento respeitar a ordem das coisas e dos outros

Nunca rebarbou o cavaco

Para não ficar tentando entender o que não é de minha ordem

Nunca puxou um pallet Nunca ferveu no calor do caminhão Nunca pisou em uma produção

Tento não convencer o mundo a ceder às minhas verdades

Não sabe o peso da bota

O mundo muda, eu mudo e minhas verdades mudarão

Do jaleco tampouco do macacão

Tento viver sem preocupar-me com a morte

E como essa revolta toma seu coração?

Uma parte de mim nasce e a outra morre a cada segundo

Seu trampo é administrativo Isso é viver. Apadrinhado por um burguês executivo Seu estudo é bancado O Amanhã* Pelo suor de um operário alado O amanhã é descartado Antes de pagar de socialista Sem vontade e sem esperança Tenta ver como é foda Dos tristes olhos de quem nos ama A vida de quem tá do seu lado A alma amarga dos que desistiram Sua consciência eu admiro Orarão pelo sangue dos nossos inimigos Teu amor por uma causa justa também Orarão pela vida que perdera o sentido Mas antes de pagar com minha luta Amanhã sem sol brilhando Isso eu mesmo faço Na calçada fria, suja e cinza Eu sou operário E isso desculpe, me convém...

Você escuta as promessas dos que ainda sonham Na escuridão das ruas úmidas, eles se perdem e nunca mais voltam

Viver* O amanhã é descartado Tento não ser tão crítico Para não esquecer-me de quem sou quando o criticado for eu

E você é convencido de que não quer continuar.



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