Tempos sombrios se avizinham. A satânica trindade da política brasileira (bancadas evangélica, da bala e do agronegócio), com seus pensamentos pautados por uma moral deturpada, baseada naquele livro de fábulas comumente chamado de bíblia e no capitalismo, atacam a liberdade e os direitos garantidos às duras penas por diversos segmentos sociais e, ainda de quebra, usam e abusam do poder que têm para blindar suas práticas criminosas e perpetuarem o saque. O retrocesso é evidente e, talvez, inevitável. Em nome de deu$, dos bons costumes (seja lá o que isso queira dizer) e do capital, a constituição (outro livro de fábulas) é rasgada, direitos são suspensos e/ou negados, e uma parcela considerável da população, mesmo não concordando com essas medidas que levam ao retrocesso, não ousa rebelar-se contra a escória política que usa deu$ e o capital como arma de controle e repressão. Assusta ver a apatia das pessoas que não são atingidas de imediato por essas medidas, agindo como se nada estivesse acontecendo e evitando saírem de sua zona de conforto. O estado laico e de bem estar social (ainda que distante de nossa realidade de terceiro mundo) vai ruindo aos poucos, dando lugar a uma republiqueta reacionária, com religião e capital andando de mãos dadas e confirmando aquilo que muita gente sempre soube: ambos são dois males para a humanidade. Entender o que está acontecendo e saber como confrontar essa podridão é algo que se faz necessário e urgente. Ler, conversar, aprender e ensinar, fortalecer a camaradagem (com paga paus de pilantras não conta), compartilhar informação, transformar o (sub )existir cotidiano em uma guerrilha. Para isso servem a música, o visual, as letras agressivas, os zines subversivos, a ironia, o sarcasmo e a violência bem direcionada. A contracultura punk não é estética, é revide! O Movimento Punk não têm a responsabilidade de salvar o mundo enquanto parasitas ficam em casa, mas também não é coerente agirmos da mesma maneira e acreditar que apenas rolês nos finais de semana farão a diferença. Lutemos para que o assistencialismo barato, o populismo, o egocentrismo, as escolinhas de doutrinação disfarçadas de militância e que atendem aos interesses de algumas pessoas, que a rede de intrigas/fofocas e passação de pano, que as relações interpessoais pautadas apenas por interesses pessoais que nada somam ao Punk enquanto movimento político, social e contracultural, situações e práticas nocivas que nos assemelham ao lixo político/empresarial sejam extirpadas em definitivo do Movimento Punk. Transformemos o belo e radical discurso em prática cotidiana, mudando a nós, tirando de nossas vidas os vícios sociais nojentos que carregamos e que muitxs fazem de conta não perceber. Sejamos a mudança que tanto almejamos. Nem mais nem menos, apenas punk. Êra!
Agradecimentos: Fábio Rodarte (muito obrigado pelas palavras de apoio. E vai Corinthians!), Primo, Tamires (joga no lixo a camisa do Coxa!), Daniel & Discrepante, Alan Costa & Miséria Zine, Pedro A. Souza, Tato & Kob 82, Edy & Motivos Para Marchar (êra Zero!), Maria José (pela net), Hannah “Bannannah”, Antonio Carlos & Downhatta , as pessoas responsáveis pelas imagens que usamos e nunca creditamos por não saber quem são, ao pessoal que leu ou que de alguma maneira divulgou o zine e a todxs que enxergam o Punk como meio de transformação e mudança social, que tem pela paixão pela destruição... eis que é construtiva.
Dedicamos esse trampo ao guerreiro Alexandre Éboli. Esteja em paz.
“Depois que a polícia convence o público branco de que o negro é um elemento criminoso, a polícia pode chegar e interrogar, brutalizar e assassinar negros desarmados e inocentes. E o público branco é manipulável o bastante para lhes dar apoio. Isso faz da comunidade negra um estado policial. Isso faz do bairro negro um estado policial.” Malcom X
ALIADOS OU DISCÍPULOS Por Primo Nenhum movimento se desenvolve, cresce ou é feito por uma única pessoa. Há um ditado popular que diz que o povo é a voz de deus. Mas o povo não é a voz de deus, pois deus não existe. O povo é a voz de uma sociedade doente que urge por uma cura ou muitas vezes é apenas a voz da alienação. A voz de uma sociedade que é marionete nas mãos de líderes. - Líderes: eis o perigo que se esconde por trás da lábia, eloquência, carisma e sorrisos dissimulados. Todo líder cresce pela anulação inconsciente de cada pessoa. Cresce quando cada pessoa posterga sua ideia ou ação a regulamentação de outro. Devemos ter claro que todo tipo de líder deve ser derrubado, não importa seu “tamanho” ou importância. Principalmente aqueles líderes enrustidos que querem ser mártires e perambulam dentro de ambientes tidos como libertários. Pois um ambiente libertário e de igualdade só existe com uma relação que seja em sua totalidade horizontal, onde todos consigam enxergarem-se como aliados, sem um ser mais importante que o outro, seja pelo motivo que for. Onde a opinião de um não tenha mais valor ou importância que a opinião dos demais. O que quero deixar claro é que existe uma grande diferença entre aliados e discípulos. Aliados são pessoas em pé de igualdade, colaborando mutuamente por um mesmo objetivo. Agora, aqueles que querem discípulos acabam por tentar controlar de alguma forma aqueles que estão ao seu lado e se fazem imagem e voz de um movimento. Lançam regras e normas que só valem para ou outros e com elas inibem e controlam a iniciativa e participação daqueles que supostamente seriam seus iguais. Com sua simpatia e lábia conquistam a todos para depois manipulá-los sem serem percebidos como indivíduos autoritários que são. Aqueles que querem ser líderes estão sempre renovando seus discípulos, procurando afastar aqueles que percebem suas reais intenções. É importante frisar que os fins não justificam os meios. E para se chegar à igualdade total é necessário estar organizado em igualdade real e verdadeira. Recuse todos os tipos de líderes. Se você luta por igualdade e liberdade, não aceite nenhuma liderança, em maior ou menor escala, pois mais cedo ou mais tarde ela vai te oprimir. Tanto faz se é o líder de uma nação, uma organização, uma célula ou um grupo. DERRUBE O LÍDER!!
ATITUDE POSITIVA Por Karl Straight Tome a decisão de adotar uma atitude positiva. Decida ser solidário em todas as circunstâncias, recusese a desistir apesar de todos os obstáculos. Deixe o passado para trás e vá em frente, pois a vida é uma série de situações que envolvem a solução de problemas. É importante permanecer em sintonia com as decisões que todos temos que tomar muitas vezes por dia e não temos que nos deter diante de cada obstáculo que a vida coloca em nosso caminho. Podemos seguir em frente e aprender enquanto avançamos. Grandes portas giram em torno de pequenas dobradiças. Nossas atitudes também são pequenas dobradiças em torno das quais giram as grandes portas da vida. Atitude errada gera desgaste e acaba por derrubar a porta. O poder reside apenas em você. É um pensamento ao mesmo tempo profundo e simples.
Abrace a mudança e quando fizer isso, sentirá a diferença. Nossa energia fica muito mais forte, podemos seguir em frente com confiança e nossa vida se renova e revigora. Os problemas são naturais, na verdade no dia que você não tiver algum problema, terá chegado a um beco sem saída na vida, porque você não estará diante de um desafio para crescer e amadurecer. Afinal, tudo isso é uma experiência.
NOSSA MENTE Por Karl Straight A mente cotidiana é muito nebulosa. Se conseguirmos aquietar os pensamentos, ela deixa de ser um oceano de águas revoltas para tornar-se um lago tranquilo. Assim como a limpeza do solo é fundamental para a semente germinar, a mente precisa aprender a esvaziar-se para o pensamento ganhar foco. Precisamos aprender a silenciar nosso interior e ficar no vazio para a criatividade fluir naturalmente.
CULTURA DE SEGURANÇA E A INTERNET: INTRODUÇÃO BÁSICA A FERRAMENTAS DE PROTEÇÃO Por Pedro A. Souza Introdução Seja bem-vindo a era da vigilância. A tecnologia moderna nos permite comunicar-nos com extrema facilidade com pessoas de todo mundo e acessar uma quantidade de informações que seria inimaginável há poucas décadas. Mas as tecnologias de comunicação se tornaram aparatos de espionagem a serviço de grandes e poderosas instituições que mantém seu poder através da opressão, dominação e repressão. Qualquer ligação que você faz, site que você visita ou e-mail que você manda está sujeito a ser monitorado por alguma agência estatal ou até pelo setor privado. Para um ativista isso traz problemas óbvios. E não estamos falando apenas em NSA, agência de espionagem estadunidense cuja imensa rede de monitoramento foi exposta após documentos internos terem sido vazados por Edward Snowden. Aqui mesmo no Brasil temos várias instituições que tem usado tecnologias de monitoramento contra ativistas. A ABIN (Agência de Inteligência Brasileira), por exemplo, usa seus poderes de monitoramento para vigiar ativistas que lutam por direitos indígenas e pela proteção do meio ambiente na Amazônia. Outro órgão do governo brasileiro que faz uso dessas tecnologias é o DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais), que foi responsável pela prisão de diversos ativistas que utilizaram a tática black bock durante as manifestações de 2013. O setor privado também está se utilizando cada vez mais de tecnologias de monitoramento. A Vale, por exemplo, contratou serviços de uma empresa de inteligência para espionar jornalistas e ativistas que lutavam contra uma operação da empresa. Diante desse cenário é essencial que um ativista possua as ferramentas necessárias para lidar com o monitoramento digital. Com isso em mente, este guia foi escrito para introduzir algumas ferramentas que permitem ao usuário ter um grau de proteção maior ao utilizar a internet. Mas primeiramente, é preciso ter algumas coisas em mente. A primeira delas é que a segurança depende tanto dos hábitos de navegação do usuário quanto das ferramentas que ele usa. Uma pessoa que usa um programa que esconde a sua identidade, mas revela informações que podem ser traçadas de volta a ela, por exemplo, está comprometendo sua identidade. A segunda, é que nenhuma informação na internet está 100% segura, por mais precauções que sejam tomadas. Muitos ativistas passam a se comportar de maneira inconsequente ao se julgarem protegidos pelo fato de estarem usando uma ferramenta anonimizadora ou alguma forma de criptografia. Esse tipo de erro deve ser evitado. Mas apesar da segurança absoluta ser um ideal inatingível na internet, usar ferramentas de proteção e tomar cuidado com os seus hábitos de navegação diminui radicalmente a chance de que um ativista tenha a sua identidade descoberta ou as
suas comunicações interceptadas. Por isso, é importante que ativistas radicais se familiarizem com essas ferramentas. Ferramentas 1 – Tor O Tor é um programa e browser desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa Naval dos Estados Unidos com o objetivo de proteger as comunicações online da inteligência militar americana. Hoje em dia, o programa é mantido pelo Tor Project, uma organização sem fins lucrativos. Para usar o programa, basta baixá-lo no site oficial do Tor Project (https://www.torproject.org/download/download-easy.html.en) e abrir o browser que se encontra dentro da pasta baixada. O objetivo do programa é proteger a identidade do usuário escondendo o endereço de IP da sua máquina. Para fazer isso, o Tor mantém uma rede de servidores que servem como intermediários entre o computador do usuário e o site que ele pretende acessar. A rede Tor é atualmente composta por cerca de 3600 servidores chamados também de “nós”, que são mantidos por voluntários. Supondo-se que um usuário chamado Mike queira acessar um site através do programa, a informação do computador será transferida para o nó de entrada da rede Tor. Durante esse processo, a informação é criptografada, chegando assim codificada no servidor Tor. Em seguida, as informações do computador do usuário passam para outro servidor Tor, também escolhido aleatoriamente, recebendo mais uma camada de criptografia. Esse processo ocorre mais uma vez, fazendo com que o nó de saída contenha o pedido de acesso ao servidor sob três camadas de criptografia. A informação é então decodificada e chega finalmente ao servidor. O uso do Tor, porém, não garante que a identidade de seu usuário esteja protegida. Há algumas maneiras de quebrar o anonimato que o programa oferece. Além do mais, certos hábitos de navegação podem entregar a identidade de quem está usando o programa. Apesar disso, a proteção oferecida pelo Tor é extremamente forte, e representa um desafio mesmo para agências governamentais como a NSA. A própria NSA criou uma apresentação em PowerPoint para ser usado em workshops feito em conjunto com a GCHQ (agência de inteligência britânica) com o objetivo de debater e ensinar estratégias para driblar a proteção oferecida pelo programa. O título do PowerPoint, que discorre sobre os problemas que o Tor oferece a agência e que foi publicado pelo The Guardian é “Tor Stinks” (Tor Fede). No PowerPoint, a agência debate o programa e suas tentativas de quebrar o anonimato que ele oferece. Apesar de dizer que algumas táticas conseguiram quebrar o anonimato de usuários, a agência admite que o sucesso dessas táticas é bem limitado e que ela nunca conseguirá quebrar o anonimato de todos os usuários do Tor. As vantagens de ter a sua identidade oculta na internet são óbvias. Graças ao Tor, é possível esconder a sua identidade e o seu histórico de navegação de grandes corporações e agências estatais. O anonimato também permite ao usuário que ele procure e difunda conteúdo que lhe poderia causar problemas com a lei caso sua identidade fosse revelada. É importante, porém, lembrar que o Tor oculta apenas a identidade de seu usuário e não o conteúdo de seus e-mails/mensagens ou a página que ele está acessando. Para proteger os conteúdos de suas mensagens, é preciso programas de criptografia como os que serão abordados mais a frente. Outra vantagem do Tor é que ele permite que o usuário acesse serviços ocultos do Tor, conhecidos como a Deep Web Darknet, apesar desses termos serem considerados problemáticos por muitos. As páginas dos serviços ocultos não estão indexadas a nenhum servidor de busca e não são acessíveis através de browsers comuns. A localização de seus servidores permanece oculta e a grande maioria dos endereços das páginas ali encontradas é composto por uma série de letras e números que terminam com o protocolo .onion. O endereço da Hidden Wiki, por exemplo, que é uma das suas páginas mais populares, é http://jh32yv5zgayyyts3.onion/. Acessando os serviços ocultos do Tor é possível encontrar uma ampla variedade de serviços e conteúdos, desde bibliotecas online e serviços de compartilhamento de arquivos até mercados negros onde é possível comprar drogas, armas e outros artigos ilícitos. Também é possível encontrar diversos sites usados por ativistas para se comunicar de maneira anônima e até organizar ações. Ter uma página ou um fórum entre os serviços ocultos é uma ótima forma de debater assuntos sensíveis e que poderiam colocar o usuário em risco ou levantar suspeitas.
Mas para usar o Tor e navegar os serviços ocultos é altamente recomendável que o usuário tome algumas precauções e adote medidas para maximizar a segurança oferecida pelo programa. Muitas dessas precauções são abordadas no FAQ (perguntas frequentes) do site do Tor, cuja leitura é recomendada (http://www.torproject.org/docs/faq.html.en). A primeira coisa que vale ressaltar é que se o sistema operacional da máquina estiver comprometido, a segurança do usuário pode estar comprometida também. O sistema operacional mais vulnerável é o Windows e por isso é o menos recomendado. O Linux já oferece uma segurança maior. Mas o sistema operacional mais recomendado é o Tails, que pode ser instalado em um pen-drive e usado em qualquer máquina, e que será abordado em mais detalhe a frente. Outra coisa importante de se lembrar, é que não se deve baixar o Tor de qualquer fonte que não seja o site oficial do programa. Por ser um software de código aberto, qualquer um pode modificá-lo e criar uma versão que compromete a segurança do usuário. E há pessoas e entidades governamentais ou empresas que disponibilizam uma versão comprometida do programa pelas mais diversas razões. Além do mais, é recomendado que seja usada a versão do Tor pré-configurada, pois ela vem com as configurações apropriadas para oferecer o máximo de segurança possível. Qualquer usuário do Tor que o tente configurar por si mesmo, corre o risco de comprometer o seu anonimato. O usuário do software deve também se lembrar de usar sempre a versão mais atualizada do Tor, pois a equipe responsável pelo programa está constantemente trabalhando para aperfeiçoá-lo, consertando bugs e tornando-o mais rápido e mais protegido contra ameaças externas. É também importante se certificar que o navegador está livre de cookies que podem ser inseridos por páginas visitadas pelo usuário. Um cookie é um pedaço de data enviado por um site e arquivado em um navegador. Às vezes, cookies são inseridos por razões comerciais, mas podem inviabilizar a navegação anônima. Muitos servidores tentam driblar o Tor rastreando o que está instalado no computador. Eles podem tentar, por exemplo, procurar por pixels ou rotinas que identifiquem o usuário ou rastrear os cookies instalados no navegador pelo qual está sendo acessado. Usar o Tor em um computador infestado de cookies é como usar um disfarce ao mesmo tempo em que se usa um crachá com sua identidade. Também é recomendado que não seja instalado nenhum plug-in no Tor que o usuário não conheça e no qual ele não tenha confiança. Plug-ins são programas que funcionam como extensões de programas já existentes. Muitos plug-ins como o Flash ou o Real Player, por exemplo, podem ser manipulados por terceiros para revelar a identidade do usuário. O próprio Tor bloqueia plug-ins, mas se o usuário desbloqueá-los ou instalar plug-ins no browser do Tor, sua segurança estará comprometida. Além destas medidas preparatórias, há também algumas precauções a serem tomadas durante a navegação. Deve-se, por exemplo, evitar baixar arquivos via torrent ao usar o Tor. Essa forma de baixar arquivos ignora as configurações de proxy do usuário e conecta diretamente à sua máquina. Ao fazer downloads via torrente, o usuário perde a segurança que o Tor oferece, além de tornar a rede Tor mais lenta para outros usuários. Por isso, um ativista que utiliza o Tor não deve sob hipótese alguma baixar arquivos por esse método. Também é recomendado evitar usar o Google, que mantém registros das buscas de seus usuários. Uma alternativa é o DuckDuckGo, uma ferramenta de busca que não rastreia seus usuários (http://duckduckgo.com.). Outra coisa que não se deve fazer é abrir documentos que foram baixados através do Tor enquanto ele estiver aberto. Alguns formatos de arquivo, especialmente DOC e PDF, podem conter recursos de internet que são baixados por fora do Tor quando são abertos, revelando o endereço de IP da máquina do usuário. Deve-se também prestar atenção na barra URL do navegador, que é a barra onde se digita o endereço dos sites a visitar, para checar se o usuário está acessando um servidor criptografado com o protocolo HTTPS. O Tor já é programado para forçar a criptografia HTTPS nas páginas em que isso é permitido, mas o usuário deve checar a barra URL para se certificar de que o endereço do site começa com HTTPS, é azul ou verde e contém o nome correto da página. 2 – Tails Outra ferramenta extremamente útil para ativistas é o Tails, mencionado anteriormente. Considerado por muitos como o sistema operacional mais seguro disponível, o Tails é instalado em um dispositivo móvel como um pen drive, por exemplo, podendo ser usado de maneira independente do sistema operacional da máquina. Outra vantagem do Tails é que ele já vem com uma série de aplicações pré-configuradas.
Após usar o Tails em um computador, basta reiniciar a máquina e ela voltará a funcionar com seu sistema operacional padrão. Uma das funções do Tails é esconder a identidade de seu usuário. Para fazer isso, ele faz com que todo o tráfico do usuário passe através da rede Tor. Ele também bloqueia qualquer aplicativo que tente se conectar diretamente à internet, reduzindo as chances de que a identidade do seu usuário seja acidentalmente revelada. Além do mais, ele também permite que se acesse outra rede anônima chamada I2P (Invisible Internet Project). Uma das maiores vantagens do Tails é que por operar através de um hardware, ele pode ser usado em qualquer computador que o usuário desejar, como, por exemplo, em uma biblioteca, lan house ou computador de um amigo ou parente. Além disso, o Tails não usa o disco rígido da máquina do usuário. O único espaço de armazenamento que ele utiliza é a memória RAM, que é apagada quando a máquina na qual ele está sendo usado é desligada. Dessa maneira, quando o usuário acaba de usar o Tails, todos os rastros deixados por ele são apagados, o que é de grande valor para a segurança de seu usuário. É por isso que ele é por vezes descrito como um sistema operacional “amnésico”. Ainda por cima, o sistema vem com uma série de ferramentas de criptografia extremamente úteis. Uma dessas ferramentas é o LUKS (Linux Unified Key Setup), que permite arquivar documentos em um volume criptografado dentro de um pen drive ou de outro dispositivo móvel. Esse tipo de ferramenta é muito útil para qualquer um que queira transportar informações sensíveis de maneira segura. Ativistas correm o risco de terem seu equipamento confiscado, especialmente se eles estiverem tomando parte de uma atividade que vá contra os interesses de instituições poderosas. Uma precaução que se pode tomar contra esse tipo de ação é criptografar qualquer informação que está sendo transportada em pessoa. Antes de usar o LUKS, é preciso formatar o dispositivo que vai ser usado para transportar os dados. Para fazer isso, é preciso primeiramente conectá-lo ao computador e encontrá-lo na lista de dispositivos móveis. Quando o dispositivo for encontrado, é preciso clicar com o botão direito do mouse na imagem que mostra o dispositivo e selecionar a opção “formatar”. Depois de ter selecionado essa opção, o dispositivo ficará vazio. Clicando nele após esse processo, a opção “criar partição” (espaço para arquivar dados) estará disponível. É preciso clicar nela e selecionar as configurações desejadas na tela que se abrir. Nessa etapa é possível escolher o tamanho da partição que será criada, decidindo quanto espaço livre será deixado para desempenhar outras funções. Nessa tela deve-se também escolher o tipo de sistema de arquivos a ser usado no dispositivo. Depois de terminar as configurações do dispositivo, deve-se selecionar a caixa na qual está escrito “criptografar esse dispositivo”, e clicar no botão “criar” para completar essa etapa. Na próxima tela, basta digitar a senha da nova partição e clicar no botão “criar” para terminar de criar a partição que será usada para guardar arquivos criptografados. Quando a partição for criada, ela estará disponível ao selecionar o dispositivo. Nesse ponto, é possível criar novas partições se houver espaço livre no dispositivo móvel. Se o equipamento for confiscado, a pessoa que o confiscou saberá que há uma partição criptografada, mas a não ser que ela tenha a senha dessa partição, ela não conseguirá acessá-la. Essa partição pode ser acessada através de qualquer sistema operacional, mas é recomendado que ela seja utilizada apenas pelo Tails por questões de segurança. Essas informações a respeito do Tails e do LUKS podem ser encontradas no site oficial do Tails, junto de links para baixar o sistema e informações sobre outras ferramentas que ele oferece. O endereço do site é https://tails.boum.org/. 3 - TrueCrypt Outro tipo de ferramenta de grande utilidade para ativistas que visam proteger suas informações são as que permitem criptografar arquivos guardados em um computador. Ativistas correm o risco de ter as informações em sua máquina comprometidas se seu computador for confiscado ou se algum hacker conseguir obter acesso a ele. Para evitar esse tipo de situação, é bom que se tenha algum meio de proteger esses arquivos. Entre as ferramentas que podem ser usadas com esse propósito está o TrueCrypt, um software livre gratuito. Além de criptografar arquivos, o TrueCrypt é capaz de fazer a criptografia do disco do
computador, codificando todos os arquivos contidos nele. Ele também permite a criação de volumes criptografados em dispositivos móveis, o que o torna uma alternativa ao LUKS. Para instalar e usar a versão, é preciso primeiro baixá-lo, o que pode ser feito através do link https://www.grc.com/misc/truecrypt/truecrypt.htm . Quando o programa for baixado, é só abrir o instalador, seguir pelo menu que aparecerá e concordar com os termos da licença de usuário. Ao abrir o programa, aparecerá outro. Para criar um volume criptografado no computador, deve-se clicar no botão “create volume” (criar volume), que o levará a uma tela onde se pode escolher entre três opções. A primeira é a criação de um disco virtual criptografado, e é isso aqui que será abordado. A segunda permite criptografar uma partição que está fora do sistema ou em algum dispositivo externo como pen drive ou criar um volume oculto. A terceira, por fim, faz a criptografia do disco inteiro da máquina, mas isso faz com que um código definido pelo usuário tenha que ser digitado toda vez que o sistema operacional for carregado. Ao clicar na opção “create anencrypted file container” (criar depósito de arquivos criptografados), será perguntado se o usuário quer criar um volume normal ou oculto. É recomendado que fosse criado um volume normal, pois o oculto é mais complexo e não oferece criptografia mais forte ou segura que o volume normal. A diferença é que a localização do arquivo criptografado é escondida ao ser criado um volume oculto. Selecionando a opção de criar um volume simples, será perguntado qual será o nome do volume e a sua localização. A única limitação para a seleção da localização é o espaço disponível no local selecionado. Depois é preciso escolher um scheme, que é uma linguagem de programação, entre as opções disponíveis. Quem não souber qual escolher, pode selecionar um scheme aleatoriamente, pois todos eles oferecem uma proteção forte. Após fazer a seleção é preciso decidir o tamanho do volume, que pode ser medido em GB, MB ou KB. Depois, o usuário deve escolher uma senha para o volume que será criado. É recomendado que fosse criada uma senha de pelo menos vinte caracteres, pois senhas curtas estão mais sujeitas a serem decifradas. Após digitar a senha o programa irá perguntar se o usuário pretende guardar arquivos de mais de 4 GB no volume para que ele faça os ajustes necessários caso o usuário tenha essa intenção. Na próxima tela, é preciso mexer o mouse pela tela por um tempo para gerar data aleatória e depois clicar no botão “formate” (formatar). O usuário será então direcionado a tela da interface principal do Truecrypt, onde o volume formatado pode ser encontrado no formato .tx. Lá, ele deve selecionar o arquivo no local que ele escolheu e clicar no botão “mount” (montar). Fazendo isso, o volume terá sido criado e estará pronto para ser usado para guardar arquivos com segurança. 4 – Pidgin Uma ferramenta útil para ativistas se comunicarem em tempo real e com segurança é o Pidgin, um programa de software livre que serve para convergir vários serviços de mensagem como MSN, AIM e Yahoo entre outros, em um único programa. Mas a grande vantagem do Pidgin do ponto de vista de segurança online é que é possível baixar vários plug-ins que permitem o uso de criptografia. Desses plugins, o mais recomendado é o OTR (Off-the-Record Messaging). Para usar o OTR, o primeiro passo é instalar o plu-in, fazendo com que ele possa ser ativado na tela de plug-ins do programa. O plug-in do OTR pode ser baixado na seguinte página, https://otr.cypherpunks,ca/. Estando o OTR ativado, aparecerá um novo botão com os dizeres “not private” (não privado) na tela de chat em cima da caixa de diálogo. Ao clicar no botão, será aberto um chat seguro. O OTR utiliza a criptografia assimétrica, que faz uso de uma chave pública para criptografar mensagens, que podem então ser descriptografadas com uma chave privada. Antes de poder se comunicar de forma criptografada, é preciso gerar um par de chaves. Para fazer isso, basta abrir a tela do OTR, selecionar o serviço para o qual se queira criar a chave (MSN, por exemplo), e clicar no botão que diz “generate key” (gerar chave). A partir desse ponto, o usuário do Pidgin poderá se comunicar de maneira criptografada com os seus contatos após completar um procedimento. Primeiro, ele deve abrir um chat com o contato desejado e clicar no botão “not private” (não privado) em cima da caixa de diálogo para iniciar uma conversa privada. A conversa começará de forma não verificada e ainda não criptografada. No topo da tela dessa nova janela, acima do nome de usuário do
contato com quem o usuário iniciou a conversa, há uma barra com alguns botões. Ao colocar o mouse em cima do botão com os dizeres OTR, aparece outra barra na qual deve ser selecionada a opção “authenticate buddy” (autenticar colega). Fazendo isso, o usuário do Pidgin deve escolher entre três formas diferentes de fazer a autenticação. A primeira é através de uma pergunta. Para fazer isso, é necessário selecionar a opção “question and answer” (pergunta e resposta), digitar a pergunta a ser feita no campo que diz “enter question here” (digite a pergunta aqui), e a resposta correta no campo em que está escrito “enter secret answer here” (digite a pergunta secreta aqui). Quando o contato digitar a resposta correta, ele será autenticado e o chat criptografado pode ser iniciado. A segunda forma de autenticação de usuário é através de um segredo compartilhado. Para utilizar esse método, é preciso selecionar a opção “shared secret” (segredo compartilhado) e escrever algo na caixa de diálogo em que está escrito “enter secret here” (digite o segredo aqui). Após digitar o segredo, o programa irá pedir para o seu contato fazer o mesmo. Se ele digitar exatamente a mesma coisa, ele será autenticado e o chat criptografado será iniciado. A terceira opção é através da verificação do código de identidade visual do OTR do contato. Para utilizar essa forma de autenticação, é preciso entrar em contato com a pessoa desejada através de outro meio seguro para saber qual é o seu código. Depois disso, deve-se selecionar a opção “manual finger print verification” (verificação manual de código virtual) e checar se seu código e o código do contato que irão aparecer estão corretos. Se esse for o caso, basta selecionar a opção “I have” na barra que se encontra embaixo dos códigos e clicar no botão “authenticate” (autenticar) para iniciar o chat criptografado. O OTR irá se recordar de todos os códigos que foram verificados, fazendo com que seja desnecessário repetir o processo caso o usuário do programa deseje falar novamente de maneira segura com os contatos autenticados dessa forma. Instruções para usar o Pidgin com imagens didáticas podem ser encontradas no site Security in a Box, um site dedicado à segurança na internet, no link https://securityinabox.org/en/guide/pidgin/windows. 5 – GPG4USB Outro tipo de ferramenta útil para quem quer proteger o conteúdo de suas comunicações são as que permitem mandar e-mails criptografados. Um exemplo é o GPG4USB, software livre e portátil para Windows. O software usa o mesmo tipo de algoritmo de criptografia de chave pública que o PGP e o GPG, e que também permite a criptografia de mensagens instantâneas. Para usar o GP4USB é preciso primeiro fazer o download do programa, encontrado no site oficial do programa http://www.gpg4usb.org/. O programa será baixado no formato.zip, com seu conteúdo dentro de uma pasta. Deve-se então abrir essa pasta, selecionar todo o seu conteúdo, clicar com o botão direito do mouse e selecionar a opção “extrair”, escolhendo então um espaço dentro de um dispositivo móvel para onde os arquivos serão extraídos, de preferência um volume criptografado. Depois disso deve-se abrir o programa e selecionar uma linguagem de preferência. Após essa etapa, o usuário será direcionado à tela principal do GPG4USB, de onde é possível executar várias operações. Mas antes de criptografar mensagens é preciso criar um par de chaves, uma pública e uma privada. Para fazer isso, é preciso primeiro clicar no botão que diz “manage keys” (administrar chaves) no canto superior da tela e depois selecionar a opção “generate keys” (gerar chaves). Tendo feito isso, o usuário é direcionado a uma tela onde é preciso preencher alguns campos com um nome e um e-mail, além de decidir uma data de validade para as chaves geradas (ou criar chaves sem data de validade), o tamanho das chaves e uma senha. Nessa etapa é recomendado que não utilizar nomes ou endereços de e-mail que podem entregar a identidade do usuário. Para obter uma criptografia forte, é importante que o tamanho da chave seja alterado do tamanho padrão (2048 bits) para 4096 bits, e também que uma senha forte seja criada. O processo de criar chaves pode demorar alguns minutos e pode ser acelerado fechando outros programas abertos no computador. Quando as chaves forem criadas, elas estarão disponíveis ao clicar no botão “manage keys” (administrar chaves) na tela principal do programa. Depois de terminar a criação das suas chaves, o usuário do software deve importar a chave pública dos contatos com quem ele deseja se comunicar. Há três métodos diferentes disponíveis na barra de ferramentas que aparece ao clicar no botão “import key” (importar chave) na tela inicial do GPG4USB. A
opção mais simples e segura é importar da área de transferência, que é um recurso do sistema operacional que guarda temporariamente uma quantidade pequena de data para a transferência entre documentos. Para fazer isso é preciso primeiro selecionar a chave do contato e depois copiá-la da mesma maneira que se copia um pedaço de texto que vai ser colado em um documento de Word. Após copiar a chave, basta selecionar a opção “clipboard” (área de transferência) entre as disponíveis na barra de ferramentas. É importante lembrar que a chave começa com os dizeres “------ BEGIN PGP PUBLIC KEY BLOCK------“ e termina com “-----END PGP PUBLIC KEY-----“. Ao copiar a chave, não se deve se esquecer de incluir esses dizeres com o número correto de traços para a importação funcionar. Já para copiar a sua chave e passá-la para algum contato, o usuário deve ir a barra de ferramentas que aparece ao clicar no botão “key management” (administração de chaves) na tela principal do programa, selecionar a sua chave e clicar no botão que diz “export to clipboard” (exportar para área de transferência). Depois, basta colar a chave em algum e-mail, mensagem ou algum outro espaço que seja acessível ao contato com quem o usuário queira se comunicar. A partir do ponto em que o usuário do programa criou as suas chaves e as importou de seus contatos, ele pode mandar mensagens criptografadas para esses contatos através da tela principal do programa. Para fazer isso, deve-se escrever na caixa de texto a mensagem a ser transmitida, selecionar o recipiente entre a sua lista de contatos e clicar no botão da barra de ferramentas em que está escrito “encrypt” (criptografar), gerando assim uma mensagem criptografada que pode ser copiada e colada em um e-mail ou qualquer espaço que seja acessível ao contato alvo da mensagem. Para decodificar uma mensagem enviada por um contato o processo é invertido. É preciso primeiro copiar a mensagem recebida e colá-la na caixa de texto, e depois clicar no botão “decrypt” (descriptografar) na barra de ferramentas. Depois, basta digitar a senha que foi escolhida no momento em que as chaves do usuário foram criadas. É recomendado também que o usuário do programa faça um backup de sua chave privada, para caso ela seja perdida. Para fazer isso, ele deve clicar na sua chave com o botão direito do mouse e selecionar a opção “show key details” (mostrar detalhes da chave). Depois, deve-se clicar no botão que diz “export private key” (exportar chave privada) e salvá-la em um lugar seguro de sua escolha. Conclusão O uso das ferramentas apresentadas neste documento permite que ativistas utilizem a internet com um grau de segurança muito maior. Deve-se, porém, estar sempre ciente que a utilização de qualquer ferramenta digital jamais será isenta de riscos. Vale também lembrar que a cultura de segurança vai muito além do conhecimento técnico abordado aqui. Ela é constituída também por uma série de práticas e hábitos que devem se tornar parte da rotina de qualquer ativista cujas ações possam atrair alguma forma de repressão. Quanto ao aspecto técnico da cultura de segurança, vale ressaltar a importância de se manter atualizado em relação às ferramentas e as estratégias de defesa e de repressão.
A CULPA É APENAS DO PÚBLICO? VAMOS REFAZER DE MANEIRA MAIS COERENTE E MENOS EMOCIONADA ESSA CONTA? Por Treva Desde que pedro álvares cabral invadiu o Bra$il e trouxe consigo o rock independente, muito se tem falado, reclamado e discutido sobre a eterna falta de espaços para a música ao vivo na Grande SP e, principalmente, em Sampa. Como uma das maiores cidades do mundo, com vida noturna intensa e diversificada, não consegue ter e manter espaços dedicados à música independente e underground? Essa é a pergunta que não se cala e que ninguém consegue responder. Nos últimos anos várias casas surgiram e repentinamente encerraram suas atividades. Cada uma dessas casas tinha suas características, seu público alvo e motivos que as levaram a fechar. Mas o que todas têm em comum é que num determinado momento a falta de público se fez presente em boa parte dos eventos. E essa acaba sendo a reclamação básica de quem cuidou/cuida desses lugares. Mas seria apenas esse o motivo do fechamento de tantos lugares? A culpa seria apenas do público? Nunca cuidei de espaços destinados a shows ou coisa do tipo, mas trabalhei na noite por vários anos e
desde a minha adolescência frequento os porões da cidade e afirmo que não tenho experiência como gerente/dono ou promotor cultural, mas apenas como frequentador. Já colei atrás de som em picos gigantes e luxuosos, passando pelos lugares alternativos que surgem e se tornam moda, até chegar ao boteco que fica nos extremos da cidade. Anos atrás, quando um espaço fechava, a maioria de nós ficava sabendo através de conversas. Só nos restava lamentar o fechamento e esperar surgir outro ou começar a colar em algum lugar e meio que “fabricar” outro espaço. No máximo, quando era uma casa mais estruturada, rolava uma nota na imprensa é já era, bola pra frente. Hoje, com a internet, o fechamento de um espaço se torna um evento martirizante, choroso, parece ser necessário que o espaço agonize frente a todos, rolam diversas postagens em redes sociais, que na sequência se tornam agressivas e pesadas, sempre martelando na tal culpabilização do público. Em alguns casos, o lance fica grosseiro e acaba gerando antipatia, graças à falta de bom senso e nervosismo. Mas aí é que está, será apenas culpa do público? Na boa, acho que o público tem sua parcela de culpa sim, mas não está sozinho. Não é ético responsabilizar única e exclusivamente o público e se isentar de alguma responsabilidade. Essa conta pode ser melhor dividida entre público, pessoas que cuidam desses espaços e artistas. Acho que assim fica mais justo. É fato, o público frequentador de shows de hoje em dia é extremamente bunda mole, preguiçoso e acostumado com as toneladas de cultura disponíveis na net, não tendo o hábito de valorizar o trampo de outras pessoas. Para essa galera, qualquer que seja a forma de arte, é algo descartável e facilmente substituível. Fora isso, além de uma infinidade de outras atividades e interesses, existe as atividades virtuais. As pessoas passaram a viver no mudo virtual e é lá que estabelecem suas relações. E não vão sair de lá tão cedo. Essa é uma nova realidade e teremos que aprender a lidar com ela. Não tão antigamente as pessoas tinham que sair de casa para conversar, para se divertir e interagir. E no caso de shows, eram poucos (pelo menos quando o assunto é underground) e por isso mesmo, sempre concorrido. Quem perdesse a apresentação da banda X não fazia ideia de quando teria outra oportunidade de vê-la, e isso fazia com que todo mundo quisesse colar. Até em eventos com bandas pequenas o público era legal. Imaginem a cena: em 1988, vi o Sepultura lançado seu terceiro disco em uma apresentação aqui em Sampa em plena segunda-feira no mês de janeiro, para nada mais nada menos que cerca de 800 pessoas. Conseguem imaginar? Hoje, nem banda gringa consegue arrastar esse público em uma apresentação no fim de semana. Essa é uma diferença brutal entre ontem e hoje. Antes, as pessoas precisavam sair de suas casas para terem diversão e interação, enquanto hoje isso deixou de ser necessário. Ficar em casa significava um exílio social, conversando com mamis e papis enquanto assistia algo inútil na televisão e atualmente a pessoa consegue visitar um museu do outro lado do mundo, ver shows na Sibéria em tempo real e até fazer um sexozinho ligeiro e seguro, tudo isso sem sair do quarto. Correr risco de ser vítima da violência, ficar na rua por falta de transporte público, levar enquadro da polícia, passar frio, nada disso! Fazer rolê em casa é o que liga! Dinheiro também é outro fator. Nem sempre a pessoa tem grana para gastar com diversão, mesmo quando o preço é acessível. Normalmente quem organiza eventos acredita que só o preço acessível justificaria a presença de todo mundo, esquecendo que ninguém chega ao pico usando teletransportador. Tem a grana da condução, a pessoa fica com fome e sede e muitas vezes a grana no bolso não é suficiente para tudo isso, desestimulando a presença. Pode parecer brincadeira a pessoa não colar em um evento de R$ 5,00, mas soma a esse valor o transporte público que a coisa muda de figura. Se somar mais uns comes e bebes, o rolê já ficou em R$ 20,00 e para quem está sem renda ou depende de pai e mãe, fica pesado. Só para constar, no caso da falta de grana não incluo pedintes profissionais que integram todas as cenas musicais e ficam na entrada dos espaços aporrinhando quem chega. São parasitas, nada mais que isso. Artistas também tem sua parcela de responsabilidade. Ainda que esteja na ponta da língua um discurso sobre popularizar o acesso a cultura, intimamente muitxs sonham com aquele glamour de anos passados, onde ter uma banda era sinônimo de grana, pagação de pau, entrada liberada em qualquer lugar entre outras coisas da vida de rockstar. Dizem não estar interessadxs em grana, mas sim em compartilhar a arte, mas sempre pesam querendo alguma grana, mesmo quando tocam em um espaço minúsculo e com ingresso a preço simbólico. Querem entrada vip para toda sua galera, querem bar liberado para chapar sossegadamente e caso isso não aconteça, fazem beicinho e tocam com má vontade impressionante. Seria ótimo se sempre rolasse alguma regalia para xs artistas, mas em um lugar pequeno e com
orçamento limitado, isso é crime! É quebrar as pernas de quem cuida do lugar em nome de um rockismo que nem faz mais sentido. As bandas independentes tornaram-se preguiçosas e sem interesse em tocar. Também preferem ficar nas redes sociais pedindo curtidas ou postando anúncios sobre a nova música, do que sair e tocar. Quando tocam, são sempre nos mesmos lugares, aqueles que estão na moda ou na região central. No máximo, arriscam a tocar longe do burburinho da região central quando é em espaço bacaninha em bairro também bacaninha. Subúrbio? Nem pensar! Melhor é não tocar! Fora isso, ninguém parece ter interesse em levar seu material para vender nas apresentações. CDs, vinis e toda essa tralha podem render bem mais do que aquela esmola que a banda fica angustiadamente esperando receber da casa em que está se apresentando. Pô, se não tem público pagante fica difícil esperar receber alguma grana. E mesmo que tenha, se o valor do ingresso é de R$ 2,00 (só para ajudar a manter o espaço), em um espaço que cabe umas setenta pessoas, que grana o artista está esperando receber? Como o lugar vai sobreviver? Essas fitas também atrapalham a existência e permanência dos espaços alternativos. Por fim chegamos às pessoas responsáveis pelos espaços. É complicado lidar com público, artistas, com a parte burocrática, fornecedores e por aí vai. Mas se a pessoa decidiu montar um espaço, tem a obrigação de conseguir lidar com tudo isso sem ficar chorando aos quatro cantos do mundo, como se isso fosse resolver o problema ou alguém fosse surgir do nada para ajudar. Pior, esse tipo de atitude gera descrédito e alimenta o zé povinho que está na torcida contrária. Não tem que ficar assumindo postura de herói/heroína por estar tentando manter um espaço cultural alternativo em um país onde cultura é algo desvalorizado e por isso achar que tem o direito de ficar choramingando diariamente e cobrando ajuda das pessoas. Também é irritante a mania de cobrar a presença de público em todos os eventos, como se as pessoas gostassem de tudo, e pior, como se elas tivessem obrigação de estarem em todos os eventos. A pessoa vai colar naquilo que é do interesse dela, caso contrário já era! Amizade, consideração pelas pessoas responsáveis por manter o espaço, bondade, se vacilar nem mesmo o preço reduzido do ingresso vai convencer alguém a ir prestigiar um evento que não gera interessa para ela. Sem contar que muitas vezes as atrações são ruins e em evento ruim ninguém cola, essa é a real! Se a pessoa organiza dez eventos e em nove o público não aparece, algo está errado e não é apenas com o público. E nem adianta falar que o lugar está com problemas financeiros e coisas do tipo. Isso é vergonhoso e apelativo. Todxs nós temos problemas financeiros e nem por isso compartilhamos em rede social. Ter prejuízo faz parte do pacote e saber lidar com a situação é obrigação. Se o lugar está dando prejuízo, o b.o. é seu e de mais ninguém. Não adianta reclamar, culpar as pessoas, nada disso. Do mesmo jeito que se o lugar for lucrativo, estiver transbordando clientes e grana, o lucro e mérito é seu. Ou por acaso você vai compartilhar imagens de sacolas cheias de notas de cem dilmas agradecendo ao público fiel? Se em um momento de crise você pede ajuda ou responsabiliza o público, nos momentos de fartura também deveria agir da mesma forma. Topa dividir o lucro com quem esteve te apoiando? Nem precisa responder, pois sabemos qual é a resposta. Outra coisa que ferra é o preço. Ingressos, comes e bebes muitas vezes fora da realidade de um país de terceiro mundo. Sabemos que o valor é estipulado conforme os gastos que o espaço tem, mas algumas pessoas vivem de viagem e isso acaba refletindo nos preços. A entrada pode até estar num preço decente, mas consumir algo dentro do local é deixar a roupa íntima no balcão. Melhor comprar um drops e quando bater a sede ou fome, enganar o estômago com uma bala de hortelã. Fica infinitamente mais barato. E o lance dos preços altos de comes e bebes faz com que as pessoas consumam em locais próximos, assim evitam o assalto quando entrarem no espaço. Ainda tem mais. Os intermináveis e insuportáveis atrasos funcionam como item desmotivador. Atrasos se tornaram regra e dependendo da região e da oferta de transporte público, melhor deixar quieto e nem colar. Qualquer evento está tendo atraso de quase duas horas e isso é um tremendo desrespeito para com o público e para com sua conta bancária. Enquanto o espaço demora para abrir as portas, quem teve coragem de colar gasta algumas moedas no comércio mais próximo e depois só consome água da torneira (isso quando não fecham o registro para forçar o consumo no bar. Vergonhoso!). Muita gente depende de transporte público, acorda cedo ou tem seus afazeres domésticos e quer ver um show, mas deseja retornar para sua casa não muito tarde e com esses atrasos, fica difícil. Sem contar que eles prejudicam a última banda que vai se apresentar, já que a maioria das pessoas sai fora. E é um saco pagar para ver uma determinada quantidade de bandas e no final ver apenas algumas, graças ao atraso. Pior se a última banda for a sua favorita... ódio total!
A estrutura da casa também entra na conta na hora das pessoas decidirem colar ou não. Atrasos, lugares sujos e fedorentos, banheiros sem condição de uso, equipamento ruim e proprietárixs chiliquentxs e/ou de conduta duvidosa. Segurança também conta, e não estou pensando apenas em violência física. Com a luta feminista, contra o racismo e a homofobia/lesbofobia/transfobia, mulheres, negrxs e dissidentes sexuais procuram frequentar lugares onde se sintam segurxs, e uma casa que não oferece essa garantia está fadada ao fracasso (principalmente em tempos de redes sociais, onde o que acontece hoje, ontem já ficam sabendo). Na boa, quem vai sair de casa para encarar tudo isso? O mínimo que se espera de um espaço é que ele seja minimamente limpo, que não tenhamos medo de usar o banheiro (e aí também entra a educação de quem frequenta, porque gente porca e escrota ninguém merece, nem espaço alternativo), que tenha um equipamento decente que não prejudique as bandas e que possamos escutar suas músicas, pessoas educadas cuidando do lugar, segurança e respeito. É esperar muito? Se as pessoas que cuidam desses lugares tem a intenção de ganhar alguma grana e que o espaço seja conhecido localmente/nacionalmente e, porque não, internacionalmente, cometendo tantos erros fica difícil. Apesar da economia capenga, existe espaço para todo mundo. Quem tem o hábito de sair de casa para ver apresentações musicais, deseja que cada vez tenha mais espaços, mais artistas e mais público. Todo mundo sonha com cenas estruturadas e para isso acontecer é necessário envolvimento geral, de público, artistas e espaços. Cada um tem sua parcela de culpa no funcionamento precário disso que chamam de cenas e assumir essa responsabilidade já é um bom começo para uma mudança e futura melhoria nessas cenas. Quem viver verá.
CABULAR AULA DE PORTUGUÊS JUSTO NO DIA QUE ENSINAM INTERPRETAÇÃO DE TEXTO PODE TE LEVAR A INGRESSAR NO ESTADO OISLÂMICO. OILÁ É GRANDE! Por Treva e Hannah Recentemente rolou um barraco virtual no mural do perfil do zine naquela rede social que tanto usamos e amamos odiar. A postagem era uma crítica à ausência de skinheads antifascistas na Marcha da Consciência Negra de Sampa e talvez por ser uma postagem em rede social, não tenha sido suficientemente clara, gerando uma discussão desnecessária. Qualquer punk com o mínimo de vivência e conhecimento sabe que o rolê careca foi o precursor do skinhead no Bra$il, dando origem a várias ramificações, sendo que as mesmas são a evolução do que foi o rolê lixo careca, evolução essa que veio por meio de skinheads antifascistas se posicionando contrários ao discurso de ódio gratuito a imigrantes, dissidentes sexuais, punks, entre outros e também originando uma versão não mais perversa, mas consideravelmente mais tola que o careca que veio a ser o bonehead, que adquiriu o discurso de ódio e adicionou também a pureza racial em suas crenças e doutrinas. Ainda tem o skinhead apolítico, aparentemente numeroso e que também está subdividido em outros grupos, mas esse nem vale a pena explicar. Evolução não é sinônimo de avanço em alguns casos, sabendo nós que o rolê careca foi inicialmente uma dissidência do Movimento Punk e como diz o provérbio popular “nem tudo que reluz é ouro”. Não nos esqueçamos de que esta é a origem do skinhead no Bra$il, sendo que isso não consiste na origem do skinhead pelo mundo. Aqui ouve uma espécie de síndrome de Policarpo Quaresma que explica a nomenclatura inicial do rolê careca, “criando” um nome em português para demonstrar desprezo por tudo que fosse tido como estrangeiro (como se esse rolê não fosse importado, ignorantes!) e também por acreditar que o mesmo na gringa consistia em ser apenas bonehead, coisa que seus filhos e filhas de rolê vieram a se tornam anos depois. No texto em questão citado no inicio desta, foi questionado a motivação do não comparecimento de skinheads na marcha do dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, pois a luta dos mesmos teoricamente consiste no fim do racismo e da intolerância e ainda seria uma oportunidade para combater a ideia pré-concebida de que todo skinhead é neonazista, pois reclamar do mal que a mídia faz é fácil, correr atrás e reaver para si o termo sem a negatividade que carrega é com luta diária. Tendo skins
surgindo todos os dias em redes sociais ou colando em algum reggae/dub, a pergunta que fica no ar é que alguém deveria estar preocupado com algo a mais? De rede social e reggae não se faz um movimento, ou melhor, nesse caso não se desfaz uma ideia que está enraizada no imaginário popular, porém na página do zine ocorreu um turbilhão de ofensas devido a esse questionamento. O caso é que o zine questionou porque o punk questiona, aqui não existe espaço para censura, hipocrisia ou assistencialismo barato e fica a diga, não caiam no erro de seus patriarcas de acreditar que repressão é o caminho. O fanzine Vivência Punk e as poucas pessoas envolvidas com ele não são anti-oi! ou sectárias. Ser anti é se propuser a combater algo e não é isso que fazemos. Somos punks e vivemos o punk, com tudo aquilo que ele tem de bom e de ruim, mas o fato de não sermos punks sectárixs não nos impede de questionar e de não aceitar compactuar com situações bizarras e que há anos não mudam. Xs primeiros skinheads que brisavam no papo esquerdista são oriundxs do rolê careca e apareceram meio que do nada no início da década passada, época que a internet começava a se popularizar. Nos anos seguintes, com a explosão da internet e com toda a informação disponível, mais jovens se denominavam skinheads, mas sem carregarem (pelo menos na teoria) a intolerância. E uma década após o surgimento dxs primeiros skins antifascistas, novas debandadas do rolê pilantra fizeram com que mais pessoas se juntassem ao bolo, fazendo com que o punk em Sampa parecesse uma igreja obrigada a aceitar todxs xs arrependidxs por terem passado uns bons anos de suas vidas pregando a intolerância e usando da violência gratuita como arma, inclusive vitimando diversxs punks. Lembrando que os rolês pilantras não são apolíticos, tendo como base ideológica ideias de extrema-direita e que essas pessoas passaram boa parte de suas vidas defendendo arduamente essas ideias e como num passe de mágica, acordaram livres de preconceitos e amando punks e todxs que vivem à margem da sociedade. O ser humano é mutável, mas não deixa de ser estranho, principalmente ao olharmos e vermos que da mesma maneira que apareceram, desapareceram sem deixar vestígios. Pesquisando nas redes sociais, elas ainda podem ser encontradas cuidando de suas belas vidas e deixando esse papo de rolê como algo distante, algo de suas juventudes bisonhas. No mais, deixaram de lembrança para quem ficou aquela sujeira básica para ser limpa. Pergunta: somaram alguma coisa? Mesmo não sendo entusiastas dessa conversa, tivemos contato com esse rolê, mesmo que em muitos momentos de maneira superficial, durante algum tempo. No início era estranho olhar para pessoas que tinham o mesmo visual de quem sempre representou tudo aquilo que mais nos causava nojo, mas como não temos a patente de termos como anarquista ou libertárx, achamos que o mais correto seria conhecer, conversar e só depois tirar conclusões. Pode parecer utópico, inocente ou burro, mas pareceu interessante um grupo de pessoas que rompiam com a tradição intolerante do rolê sem cabelo. Talvez essas pessoas viessem a somar em manifestações e na militância política, incluindo aí um efetivo combate às quadrilhas intolerantes e, por fim, somando ao colar em eventos. A primeira decepção foi constatar no decorrer dos meses que para uma boa parte das pessoas a questão política era secundária ou até mesmo desnecessária. A parte política ficava restrita a poucas pessoas e coletivos. Criar coletivos, fazer reuniões, agilizar grupos de estudo, horizontalidade nas relações, tudo isso fazia com que muita gente corresse para longe, deixando a militância como responsabilidade de poucxs. O bom sendo nos dizia que não era sensato cobrar uma postura semelhante a do punk porque simplesmente elxs não eram punks. E essxs poucxs interessadxs têm suas limitações, assim como nós punks. Essa apatia só é sacudida quando acontece algum ataque intolerante e skinheads são responsabilizados. Aí, surge um mundo de pessoas gritando na net, nas redes sociais, compartilhando imagens e textos tentando explicar a diferença entre os grupos. Mas se careca é skinhead (hoje em dia elxs aceitam o termo), se bonehead é skinhead, se skinhead antifascista é skinhead e skinhead trad/apolítico também é skinhead, uma falha grave na contrainformação está rolando. Sabemos que é humanamente impossível enfrentar a mídia corporativa, mas essa apatia resulta em informações deturpadas e preconceito. Um maior interesse em política e uma real preocupação com a situação do próprio rolê poderia ajudar na hora de combater informações que consideram mentirosas. Lembrando que essa nomenclatura carrega seu peso do nascimento até os dias atuais e na luta por desvencilhar o termo skinhead do seguimento neonazista/fascista/integralista ao qual o rolê teve seu nome atrelado, luta essa que tem sido representada ao longo dos anos por alguns poucos coletivos skinheads e pessoas, enquanto a maioria age como espectadorxs, apenas observando e sem interesse em envolver-se. Mudar essa imagem é algo que leva tempo, organização, articulação com outros grupos (inclusive grupos que nada tem a ver com rolê) e militância. Perseverar nesse trabalho seria fundamental para que tivessem credibilidade como um todo e não apenas algumas pessoas e/ou coletivos.
Restou acreditar que colariam nas gigs, fazendo com que mais dilmas rolassem no punk. Outro engano, porque poucas pessoas colavam em eventos punks, aparentemente por não gostarem da música. Talvez a excessiva preocupação com o visual que conta com roupas e pisantes caros, servisse como motivação para não colarem. Imagina uma pessoa usando uma botina no valor de R$ 700,00 sendo pisada a todo o momento na roda de pogo/mosh pit ou aquela camisa polo de R$ 150,00 sendo puxada por alguém que tenta subir no palco. Soma-se a isso o fato de muita gente não curtir música barulhenta, fica explicado o motivo de não colarem em eventos punks. O debate acerca do assunto normalmente é raso, com as pessoas se deixando levar pela emoção, ignorando a complexidade existente e negligenciando pontos de extrema importância como a questão política (e tudo que a envolve) e, principalmente, nossa segurança, fazendo com que algumas críticas passassem a ser frequentes entre punks. Ao receberem críticas, skins normalmente reclamam dizendo que a pessoa que criticou é sectária e quando questionados de maneira concreta e com respaldo rueiro e político, reagem com xingamentos e ameaças (para quem busca aceitação e apoio, isso parece surtir efeito contrário). A primeira crítica é sobre qual a necessidade de skins produzirem sua própria cultura (se isso é possível, visto que esse rolê sempre foi uma colcha de retalhos de outras culturas), criarem zines, blogs, bandas e agilizarem eventos, se organizarem e partirem para a contrainformação quando existem punks fazendo isso por elxs? Pode parecer estranho, mas existem punks advogando ferrenhamente por essa causa, fazendo quase toda a produção subcultural desse rolê enquanto quem deveria ser a parte interessada permanece parasitando. Descobriu-se uma vocação assistencial, algo meio missionário e não abrem mão dessa postura enquanto o enorme bolo fecal sem cabelo fica sem grandes preocupações. União é algo mais amplo do que um lado trabalhando em favor do outro, enquanto esse outro lado permanece acomodado e apático, sem resultados convincentes. Isso está mais para vassalagem do que para união. Há quem diga que se o Movimento Punk estivesse realmente estruturado como deveria ser visto o tempo que existe nessa terra e pela quantidade de pessoas envolvidas, seria até aceitável a adoção de outro rolê para ajudá-lo no processo de estruturação. Mas notem bem, ajudá-lo é diferente de fazer por elxs. Enquanto nas diversas lutas sociais quem as protagoniza são as pessoas que sentem na pele as mazelas, o rolê skin parecem abrir mão desse protagonismo, deixando para outras pessoas as resoluções de problemas inerentes a sua subcultura. Além de fazerem o serviço, punks estão dispostos a romperem relações de amizade/camaradagem com outrxs punks para defenderem skins, mesmo com a imensa maioria sendo peso morto. E digo peso morto com desgosto em ter que admitir que o rolê burro-careca que possui dois neurônios, sendo um para agredir e outro para odiar, tem blog, páginas em redes sociais, produz seus zines chulé podendo ser encontrados até que facilmente e seus shows com três bandas e quinze pessoas na plateia estão acontecendo, enquanto o skinhead antifascista produz muito pouco. Será que não sabem produzir ou não precisam? O entra e sai de pessoas também é algo que preocupa. Essa rotatividade acontece pelo fato deste rolê ter se tornado moda entre jovens que pensam ser descoladxs. Qualquer rolê que tenha passado por um período de moda sabe como é difícil lidar com isso, com tudo quanto é tralha aparecendo e se achando no direito de se autointitular qualquer coisa e sumir na sequência. Como confiar em pessoas que surgem do nada e desaparecem da mesma maneira? Como é possível estabelecer algum tipo de relação e estruturar alianças se não existe tempo hábil para isso em muitos casos? Outra questão frequentemente abordada é o apoliticismo e seus nefastos resultados. Não é privilégio desta subcultura, mas nela isso parece acontecer com mais frequência, que é a mudança de lado. Uma parcela considerável de adeptos cultua o espírito de 69, preocupando-se apenas com música, visual, cerveja, futebol e ignorando o fato de estarem atrasados mais de meio século. Ficam em cima do muro e na primeira ventania, caem sempre do outro lado. Poucas vezes caíram do lado de cá e nessas vezes, de tão sujxs que estavam, não convenceram e acabaram pulando o muro para o lado de lá por conta própria ou por livre e espancada vontade. Ainda que não queiram que política seja o norte do seu rolê, ao notarmos que a sociedade tem uma imagem extremamente negativa e sistematicamente reforçada pela mídia, torna-se bizarro o discurso apolítico dessas pessoas. Se elas pouco ou nada se importam em serem tachadxs de nazistas, fascistas ou qualquer outro termo pejorativo, porque punks devem se importar e tomar para si a responsabilidade de mudar essa imagem? Por fim, o que mais preocupa a todxs é a questão da segurança. A alta rotatividade de pessoas aliada ao
apoliticismo transforma esse rolê em uma bomba relógio. Quem hoje está correndo ao seu lado, amanhã está correndo atrás de você no intuito de cometer um assassinato. Desde o início da década passada até os dias atuais, são dezenas de casos de pessoas que em algum momento participaram da luta antifascista e que tempos depois estavam do outro lado, nos entregando aos porcos. O que esses casos têm em comum é a extrema vontade com que essas pessoas chegaram ao rolê e o pouco tempo que permaneceram no mesmo. Ao mudarem de lado, para serem aceitxs, entregam fotos, telefones, endereços, lugares frequentados, passando a ficha completa de punks. Em nome de uma união que não gera bons frutos ao punk, estamos vendo nossa segurança sendo colocada em risco com frequência. Sem contar que o apoliticismo permite que skinheads interajam com carecas e boneheads sem peso em suas consciências, visto que política é algo inexistente e a preocupação é apenas com a cultura skinhead. Como é comum ver em perfis, “nem esquerda nem direita” e da nossa parte adicionamos a essa fala “e muita falta de vergonha na cara!” São essas pessoas que junto de punks formam a grande cena oi! e tem gente achando que é normal dividir o mesmo espaço que elas, agitarem juntos, compartilhar sorrisos em fotos. Desculpa, mas isso é nojento! Não estamos aqui dizendo que essas pessoas mereçam ser espancadas por manterem algum tipo de relação com a escória intolerante, porque isso por si só não as torna intolerantes. Até porque muitas vezes interagimos com pessoas com diferentes graus de intolerância e nossas casas, locais de trabalho ou estudo e nem por isso as espancamos. Não chutar a bunda de apolíticos não significa aceitá-los no mesmo espaço tampouco passar pano. Se para elxs não existe incoerência em manter certas relações, também não tem direito de reclamar por não serem aceitos nos rolês punks e por serem confundidos com a escória intolerante. Como diz o ditado, “quem anda com porco farelo come.” E se alguém tem alguma dúvida do quão confuso é esse rolê, é só criar um perfil falso no feicibuiqui e adicionar geral xs super antifascistas ou gastar algumas horas em qualquer chat da vida. Mas é bom tomar algumas precauções antes como ter convênio médico em dia e passar pelo cardiologista, porque são muitas surpresas e geralmente desagradáveis. Ambuiguidade é pouco! A retórica de quem defende de maneira intransigente skinheads e o rolê oi! causa irritação por reduzir as pessoas que são contrárias ou que discordem de algo como preconceituosas e alienadas, numa clara tentativa de inversão de papéis. Aquelxs que comumente são tidos como vilãos e vilãs no meio social, no underground tentam se colocar como vítimas. Interessante notar como lidam com a questão do debate na hora de se relacionar com a mídia e/ou com o meio social em geral e com punks. Quando é a mídia, tentam explicar as diferenças existentes em seu rolê de maneira educada, às vezes até ingênua, colocando-se sempre em posição de vítima de carecas e boneheads, esses os vilões da história skinhead por deturparem sua cultura. Já quando o debate é com punks, normalmente apelam para ofensas e ameaças (resquício de seus patriarcas?) e não é incomum ver declarações de guerra contra punks, mostrando o baixo nível intelectual que é uma característica da maioria desse pessoal. Porque essxs parasitas não interpelam da mesma maneira jornalistas da mídia alternativa ou corporativa? Dois pesos, duas medidas e um tanto de mediocridade intelectual e despreparo para embates que não sejam através da falácia ou da violência. Em diversos momentos essa estória nos lembra a política lamacenta brazuca, com muito lobby para satisfazer desejos de algumas poucas pessoas. E no fundo, a pergunta é a quem interessa essa união? Qual a real utilidade dela para punks, skinheads e para a luta social? Reiterando o que já foi escrito parágrafos acima, não somos sectárixs ou anti-oi! Questionamos alguns pontos que achamos pertinentes e que influenciam diretamente nossas vidas e as vidas de pessoas que prezamos. Desejar permanecer vivo e inteirx, mesmo em tempo de guerra, é saudável, não é sectarismo. Tentamos não cair na generalização mesmo sabendo que isso é difícil, vide o assunto ser complexo e em muitos momentos, passional. Entendemos que muita gente envolvida nessa estória vive de maneira apática, talvez não por má fé, mas por inexperiência ou falta de conhecimento e cabe às pessoas e coletivos que estão na correria fazer com que isso mude. Apesar das dificuldades e limitações, são pelo menos quinze anos de rolê skinhead antifascista na Grande SP e já é hora de pensar em mais estrutura e engajamento, com mais militância e menos chororoi!
DISCREPANTE Por Treva VP – Começando com aquela pergunta básica: quando foi formada a banda, formação e influências? A banda foi formada em 1997, com Fernando voz e baixo, Daniel guitarra e voz e Eugênio na bateria. Essa é a formação que perdura até hoje e a influência é o punk inglês do começo dos 80, aquelas bandas que tinham uma característica que as diferenciavam de bandas como Sex Pistols e The Clash, com um som mais agressivo... vamos dizer assim., Discharge, G.B.H., Varukers e tantas outras. VP – O fato de serem três irmãos na mesma banda facilita, complica ou é indiferente? Acho que facilita pela nossa proximidade de convivência e pela nossa relação parental, mas acho que o que ajuda também é a própria relação que temos com a música e o punk propriamente dito e as questões ideológicas e políticas que envolvem esse tipo de cenário musical e político que é o punk. VP – Quais os lançamentos da banda? Em 2006 lançamos o primeiro disco chamado Por Você, em 2009 dois EP’s, sendo um ao vivo, uma coletânea foi lançada no Chile em 2010, um Split com a banda Trancarua em 2011, um tributo à banda norte americana Disrupt lançada por um selo alemão em 2013, tem mais dois discos a caminho de umas coisas que estão gravadas desde 2009, porém ainda está para sair do pc. VP – Até onde sei, são vocês que bancam todos os lançamentos e cuidam de tudo. Se isso é verdade, é por opção ou necessidade em decorrência da falta de estrutura ainda existente no punk? Sim, é verdade, tudo é feito por nossa conta. Acho que foi a necessidade que nos fez optar por fazer do jeito que fazemos, não dá pra ficar esperando as coisas acontecerem e, infelizmente, o punk ainda carece de uma estrutura mais organizada dentro do esquema faça-você-mesmo, precisamos aprender muito ainda. VP – Discrepante possui letras muito bacanas, fugindo da repetição de assuntos. Uma das letras que mais curto é “Rádio Livre”, pois acho essa parada de rádio comunitária ou pirata (como diz a turma contrária às rádios livres) muito foda, tendo tudo a ver com o punk. Essa letra nos faz refletir sobre como funciona concessões para rádio e tv e de quanta sujeira rola nisso. Poderiam comentar sobre essa letra? Essa letra foi inspirada num momento que estava em evidência os ataques sistemáticos que as rádios comunitárias estavam sofrendo por quem detêm o monopólio da informação, com as desculpas mais esfarrapadas que se pode ouvir, desde interferência na comunicação de aeronave à questão de direitos de radiodifusão. A concessão é um direito tanto para rádio como para tv e para se obter tal é preciso que se comprove a função social da rádio ou tv que essa concessão resultará. Não cumprindo essa função a concessão pode ser cessada a qualquer momento, interessante não é? E ainda assim temos muitas emissoras de rádio e canais de tv com programas de conteúdos de péssima qualidade e informações tendenciosas a serviço de uma minoria para manter seus privilégios, que de função social não tem nada e suas concessões não são nunca cessadas. VP – Na página da banda existente naquela rede social, na parte da biografia vocês mencionam o fato de serem ateus. Em tempos de fundamentalismo evangélico e ameaça de supressão de direitos, assumir o ateísmo pode ser considerado como uma atitude política? O ateísmo ainda é um tabu dentro do próprio punk, a influência do cristianismo é muito forte, dizer-se então da comunidade evangélica que tenta levar a risca todos os dogmas das suas igrejas, então afirmar ser ateu ainda causa certo desconforto para ambos e levando em consideração que as religiões dominantes e os estados dominantes sempre estiveram lado a lado e ainda estão, e nesse momento isso
está bem fácil de perceber, o ateísmo então se torna uma atitude política perante estas instituições, pois negando uma, a igreja, você estará negando o outro, o estado e vice-versa. VP – Numa época em que brodagem virou sinônimo de panelas com ares mafiosos, parece inevitável para uma banda punk ter que fazer parte das mesmas ou pelo menos pagar de simpatia se quiser tocar e participar de determinados eventos. Discrepante é uma das muitas bandas que correm por fora, burlando essa patifaria. Como lidar com essa nojeira em uma cena que teoricamente se diz tão igualitária? Justamente por isso são raras nossas apresentações, não ficamos atrás de eventos para tocar, ou somos convidados ou organizamos os eventos por nossa conta. Tem muita banda correndo por fora como a gente, tem um pessoal organizando eventos sem esse pensamento mafioso, mas também tem bandas que se submetem a certas coisas para adquirir o status de banda da cena, contribuindo com essa patifaria. VP – Nesses muitos anos de banda, qual foi o evento que mais marcou positivamente? E rolou alguma furada monstro que tenha ficado na memória? Os eventos mais legais são aqueles que ocorrem em espaços onde as pessoas que gestionam estes espaços coletivamente, tentam transmitir ideias libertárias e formas alternativas que resistem à individualidade e as lógicas do capital. Sempre rola aquela falta de estrutura, organização, equipamentos precários e os atrasos, as furadas são sempre os atrasos, tanto das bandas como do pessoal que vai às apresentações. Isso acabou sendo considerado normal, por decorrência de sempre estar acontecendo. Os atrasos poderiam ser menores, pelo menos. VP – Nos últimos anos, com a tonelada de informações que chegaram pela internet, na Grande SP o punk se dividiu em pequenos grupos que reivindicam para si a credibilidade/resistência/integridade ou militância do punk. Como lidar com uma situação tão bizarra? Mais bizarro é ver os moleques que na era da informação ainda se estagnam naquilo ou naquilo outro e não conseguem perceber a diversidade do punk e os malefícios que trazem essas divisões, isso acaba dando sustentação para tais grupos. Nos damos com essa situação colocando em prática nossa concepção punk e a nossa própria vivência punk servindo de contraposição a essas atitudes. VP – Parece que a sina da informação que chega deturpada é algo que nunca irá acabar. Um dos exemplos é a confusão que rola entre não consumismo com obrigação de gratuidade. Uma leva de pessoas parece acreditar que não pagar por material ou para entrar em uma gig é uma atitude anticapitalista, esquecendo que esses materiais ou a gig tem um custo. Como fazer essas pessoas entenderem que materiais ou eventos não dão em árvores e que é necessário que alguma grana gire no rolê como um tudo para que ele se mantenha? Se a pessoa vai num evento desse tipo, ela tem que ter o mínimo de discernimento para saber que tudo gera um custo e no sistema capitalista, infelizmente, temos que conviver com isso se quisermos que os eventos aconteçam e os materiais sejam lançados, mas isso não quer dizer que não tenhamos que resistir e combater isso, e também não podemos aceitar passivamente sem refletir essa situação. Além da informação deturpada, existe ainda o comodismo e a visão romântica que muitos ainda têm sobre o anarquismo, sobre revolução e outras questões anticapitalistas e libertárias, quando ainda se tem uma visão do que seja ou do que foi tudo isso, mas na maioria das vezes só reproduzimos o que escutamos por aí sem ao menos saber do que se trata, ou seja, o que já vem deturpado, por nosso pouco interesse continua deturpado. VP – Mesmo com essa loucura dos downloads, vocês tiveram diversos lançamentos no formato físico. Mesmo com a falta de apoio das pessoas que se dizem interessadas e que optam por baixar tudo na internet, vocês acreditam que é possível manter no futuro os lançamentos no formato físico?
Se por um lado a internet tornou possível o questionamento dos direitos autorais e de alguma forma tornou mais fácil o acesso a certas coisas, democratizou a informação, o acesso a música, filmes e programas de computador, que dependendo do programa seu custo é muito alto, a internet disponibiliza todas essas coisas sem termos que pagar caro por isso. Mas por outro lado esse acesso fez com que os materiais físicos como os CDs sejam menos distribuídos, mas acho que ainda continuaremos lançando o formato físico porque também gostamos de ter esses materiais e de ajudar de alguma forma a banda e os eventos, e se gostamos também tem gente por aí que gosta e tem consciência que está contribuindo para que os eventos continuem a acontecer e os materiais continuem a ser produzidos. VP – O punk na Grande SP parece ter empacado nos anos 80, desprezando uma nova geração de bandas que estão na ativa e correndo pelo que é certo, para ficar mantendo um culto quase religioso em relação a certas bandas, ainda que as mesmas estejam cantando sobre coisas com as quais não se identificam (ou nunca se identificaram), usando o punk apenas para ganharem uns trocados e para seus integrantes se autoestimarem com aquele papo de pioneirismo e importância. Será que não passou da hora do punk virar a página e seguir em frente, deixando essas bandas no lugar que merecem que é na memória do rolê? As coisas tem que se renovarem, como foi dito anteriormente, essa estagnação do punk é muito prejudicial para o próprio punk, as novas ideias tem que ser compartilhadas, tem bandas novas com propostas muito boas, assim como bandas antigas que já deviam ter se aposentado, que não contribuem em nada. Há grupos de indivíduos que se juntam em coletivos para poder contribuir positivamente para o punk, tanto culturalmente como politicamente, como também há indivíduos que se juntam em grupos que se apropriam da história do punk para práticas que são prejudiciais para o próprio punk e para a sociedade em geral. A história do punk é uma história viva que está acontecendo por todos os lados, e cabe a nós que estamos envolvidos de alguma forma nessa história saber distinguir o que fortalece e o que prejudica nossas práticas dentro da construção dessa história. VP – Me lembro de vocês tocando na banda Trancarua. Fora essa, rolou partcipar em outras bandas? Sim, verdade, tocamos na banda Trancarua, depois tocamos em outro projeto com o Edson, que tocava bateria no Trancarua. Mas antes de formarmos o Discrepante tocamos com uns amigos, mas nada de concreto VP – Muito obrigado pela entrevista. O espaço é de vocês. Obrigado Treva e a todos que contribuem no Vivência Punk, pelo espaço, pelo reconhecimento e interesse pela banda. Quem quiser informações pode entrar em contato por www.facebook.com/discrepante.punk ou https://www.facebook.com/pages/Discrepante/376636041243
KOB 82 Por Treva VP – Para começar, quando surgiu a banda, influências, formação? A banda surgiu em 2008, lançando uma demo split no ano seguinte com a banda dos amigos de Mogi, Drüllis. A formação a partir da demo tinha Limão na bateria, Presunto no baixo, eu (Tato) no vocal e Gabito na guitarra. Pouco tempo depois da demo split o guitarrista saiu para a entrada do Raul. As nossas influências, além das influências pessoais de cada integrante, são pautadas na segunda geração do punk, o punk de 1982, bandas como Discharge, Partisans e Varukers.
VP – Meses atrás a banda lançou o CD “Propaganda Pelo Ato”. Como tem sido a repercussão? Tem sido boa, tanto dos amigos mais próximos como vez ou outra de pessoas que nem conhecemos e vem elogiar o trabalho. Isso dá uma satisfação enorme. Mesmo sendo muito difícil a movimentação dos materiais punks aqui, temos tido um retorno sentimental bacana. VP – Qual a temática das letras? A temática das letras vai desde a questão social da cidade, violência policial, luta por moradia, depressão até temáticas referentes ao movimento punk em si. Usando o anarquismo como simbolismo pra representar a revolta inerente do punk para com este sistema e status quo. VP – Anos atrás a Kob 82 lançou um split com a banda Drüllis, e pelo que lembro, esse lançamento rodou bastante nas mãos do pessoal aqui de SP. Qual a importância do split para a banda? Lançamos em 2009. Foi bem importante porque foi a primeira vez que pudemos nos ouvir! Foram cópias e mais cópias feitas artesanalmente que acabaram rapidinho e a importância dessa demo split é enorme porque além de ter consolidado um vínculo com nossos amigos de Mogi, foi nosso primeiro trampo com a banda e sempre fica um sabor especial. VP – A Kob 82 faz parte de uma geração de bandas que nasceram e cresceram com a internet e com essa nova maneira de lidar com a música, que é o compartilhamento. Geral prefere baixar música ao invés de comprar, incluindo no punk. Como explicar e convencer as pessoas que possuir o material físico é legal, que isso ajuda a manter a cena e que é importante que alguma grana circule no punk para custear o próprio rolê e não apenas no boteco ou biqueira próxima ao lugar que vai rolar a gig? Olha, esse deve ser o maior desafio para as bandas punks daqui. Esse convencimento para com o público que nada é gratuito é complexo, porque vivemos um eterno ranço de que o punk deve ser feito de qualquer jeito pra ser “troo” uma pena. Mas aos poucos tem melhorado essa mentalidade. Ainda vivemos tempos de escassez de lugares para tocar, com aparelhagem legal e retorno financeiro é raríssimo. Acho que o que pode ser feito é um trabalho de conscientização de que não são os donos de picos ou empresários que movimentam a cena, eles podem ser parceiros, mas nunca protagonistas. Não é geral isso, mas existem pessoas que se acham os detentores da cena com seus espaços restritos que na maioria das vezes não dá retorno algum para as bandas. É a “maldição da gratuidade do punk”, enquanto não conseguirmos destruir essa sociedade capitalista, as pessoas tem que entender que não é de graça, desde manter um pico, com ter banda, ensaiar, se deslocar etc. Muitos dos donos de picos acham estar fazendo um favor para as bandas ao chamarem para tocar, não queremos toalhas brancas e um banquete, queremos não pagar pra tocar só, o resto de retorno que vier é bem-vindo e ajudará a manter não só nós como todas as demais bandas vivas, para pagarem seus ensaios e lançarem seus discos. Enfim, o mínimo de estrutura e bom senso para manter o punk vivo! VP – Pelo que tenho visto, as gigs estão rolando com certa frequência. Já tocaram fora de SP? Sim, as gigs têm rolado com certa frequência, claro que não é nunca como a gente realmente queria, pois precisamos dividir o tempo/espaço de nosso cotidiano quase que integralmente ao trabalho, mas num geral conseguimos participar de boa parte das atividades ligadas à cultura punk. Nossa primeira gig foi fora de SP já! Foi num festival em Santos e além de lá tocamos em Campinas e Sorocaba. Queremos muito tocar fora do estado, mas até então não recebemos um convite o qual não tivéssemos que pagar para ir tocar, aí complicou e acabou não rolando. VP – Presunto e Limão tocam em outras bandas. Muito trampo para manter a agenda sem confusão? Olha, desde que eles entraram em outras bandas, sempre deixaram claro que a prioridade seria a Kob, eles mesmos disseram isso. Até hoje não tivemos problemas quanto a isso, não que eu me lembre, num geral nossa agenda funciona em harmonia com os demais compromissos, o que mais atrapalha mesmo é a rotina de trabalho. Mas num geral não temos problema, nosso relacionamento é mais do que ótimo. VP – Recentemente a Kob 82 dividiu o palco com Suit Side VS Veda Plight e Hello Bastards. No
que esse intercâmbio somou para vocês? Pô, a gig com os belgas do Suit Side Vs Veda Plight e os ingleses do Hello Bastards foram mais duas putas oportunidades bacanas. A gig aqui na city, no Zapata, fomos convidados pelo Bonga e foi muito firmeza, pico com estrutura, boas pessoas envolvidas, muito legal. O som em Sorocaba com os ingleses também, a convite do Zorel pudemos participar de um evento bem legal, totalmente auto-gestionado. Em ambas oportunidades, houve uma troca de informações legal demais, troquei ideia com os gringos e pudemos fazer paralelos dos lugares onde vivemos e trocar vivências, isso é o punk, uma comunidade global de troca de informações e experiências de vida! VP – De uns anos para cá, o punk na Grande SP dividiu-se em diversos grupos ideológicos, estéticos e sonoros, e em muitos casos, esse grupos optam pela intransigência e falta de diálogo. O que é possível (se é possível) fazer para reverter essa situação? Não sei te dizer, talvez a conjuntura a qual o punk se formou historicamente aqui em SP com pouca informação e o reflexo da opressão militar nos anos 80, moldou as relações entre os grupos e pessoas beirando uma linha tênue entre violência e pseudo detenção da verdade absoluta. Sub-grupos que se formam a partir do punk são legais, pois mostra como rica essa contra-cultura é, o complicado é quando isso se torna uma diluição do punk em si e dá lugar a disputas de egos entre pessoas que se julgam donas da verdade e fazem do punk uma seita daquilo que lhe é conveniente gostar ou não de acordo com suas intenções individuais. VP – Desde o início das Jornadas de Junho (e nas agitações subsequentes), muitxs punks estiveram presentes nas diversas frentes de luta, contrariando a expectativa daquelxs que acreditam que punks já haviam sido absorvidos pelo sistema e que a ideia de punk político e combativo era algo do passado. Ainda é possível enxergar o punk como movimento político e contracultural ou o que sobrou foi apenas a repetição do discurso radical, só por conveniência, nos tornando uma caricatura de algo passado e que era muito foda? Creio que sim. O punk por mais boicotado que seja pelos senhores se manterá eternamente como aquela pedra no sapato do status quo. Pode até ser uma visão romântica demais de minha parte, mas é assim que vejo o punk. Punk vive! VP – Depois de anos de apatia, uma parcela da sociedade (re)descobriu a política e as lutas populares. De quebra, também (re)decobriu a mão pesada do estado. Ainda assim, parece que a maioria acredita na micareta, no desfile e no pacifismo como forma de insurgência, apesar de toda a informação disponível acerca de lutas pelo mundo e de como confrontar o estado. É possível combater a tríade desfile + pacifismo + pedintismo que está enraizada na população ou cabe aos grupos mais radicais partirem sozinhos para a ação direta, mesmo correndo o risco de serem expurgadxs pelxs manifestantes? Creio que é possível uma conscientização de massa sim, porém é um trabalho muito árduo. Como uma espécie de espelho do “lumpenproletariat” os punks/anarquistas/Black Blocs (com o perdão do uso do nome de tal tática como definição de singularidade) podem por meio de suas ações diretas contra o estado, divulgar a propaganda pelo ato usando do próprio show midiático para isso. A reação sempre vai existir, o discurso da direita está enraizado na cabeça das pessoas dentro do senso comum, mas cabe a nós, da esquerda extrema ou não levarmos nossa ideologia de encontro à massa fazendo assim uma divulgação de nossa visão de mundo onde desconstruímos por consequência todo o discurso da direita. VP – Eu sei que o Tato gosta muito de futebol, acompanha o seu time de coração e por aí vai. O futebol continua sendo um opiáceo para o povo, mas parece que algumas mudanças começam a acontecer na postura das torcidas. Ainda que timidamente, núcleos de torcedores começam a se mobilizar e questionar o racismo, a homofobia, a estrutura do futebol brasileiro e a ideia de um esporte excludente que estão implantando e empurrando goela abaixo de todxs. É possível que as torcidas daqui atinjam um nível de politização como vemos em algumas torcidas gringas ou o futebol brazuca está fadado a ser eternamente o ópio do povo? Eu sou membro de Torcida Organizada desde 2002, quando frequentava ainda que timidamente com meu próprio pai. Mas era aquele negócio né, um tipo de vivência momentânea e restrita apenas aos dias
de jogos. Conforme fui ficando mais velho comecei a frequentar sozinho com amigos. Após um certo tempo fui desenvolvendo amizades de estádio por conta da frequência na bancada, isso lá pra meados de 2011, comecei a trombar conhecidos de coletivos de esquerda e que via na bancada, nas manifestações do MPL (Movimento Passe Livre), por exemplo. De 2012 em diante essas amizades foram se estreitando e começamos a conviver todos os jogos juntos. Pouco a pouco um grupo de cinco pessoas de esquerda anarquistas e comunistas pulou para oito. Já em 2013 começamos, após uma reunião a agir como grupo, formando assim um coletivo autônomo. Foi algo totalmente despretensioso e aleatório que foi naturalmente se formando a partir de nada além do que frequência e vivência nos estádios. Diferente de outras mobilizações que observei se formando após isso com páginas na internet e com uma galera já mais “alternativa”, nosso núcleo se formou majoritariamente por membros da Torcida Independente, muitos deles sem relação direta a essas cenas alternativas. Hoje, já somos cerca de quinze presentes em todos os jogos. Tem punk, tem vileiro, tem professor de História e somado a uma conexão com o pessoal de Guarulhos da Torcida Independente os quais fizeram uma página na internet pra divulgação da causa temos crescido e feito nossas ações vinculadas à causa Antifascista/Contra o Futebol Moderno e Capitalista. A maioria delas sem assinar, pois não estamos em busca de status sob um nome (tanto é que o coletivo existe há três anos e por mais que nós nos chamemos de alguns nomes e nos identifiquemos com alguns nomes não estabelecemos nenhum) não damos entrevista para a mídia (exceto quando isso faz parte de alguma estratégia para conseguir algum objetivo, como na questão dos ingressos caros no começo de 2015) e não costumamos mostrar rostos. Portanto, por essa experiência vejo que aos poucos podemos conseguir aqui um caráter político dentro das torcidas de futebol aqui no Brasil. Por mais que atualmente o caráter seja majoritariamente apolítico nas arquibancadas, a tendência é um exemplo puxando o outro e assim as torcidas, apesar da problemática da repressão estatal (via Ministério Público e Polícia Militar) ir cada vez mais se formando núcleos de resistência e politização. Futebol é política, assim como tudo o que discursamos ou que vestimos até, essa ideia de “ópio do povo” nunca fez sentido para mim. Futebol é manifestação cultural e toda manifestação cultural popular tem caráter político. VP – Obrigado pela entrevista. O espaço é da banda. Obrigado pelo espaço, a todo mundo que nos dá suporte nas gigs e no dia-a-dia. Nos mantemos vivos no punk. Pra aprender e passar nossa ideia sem demagogia nem patrulhamento moral. Mantendo o punk vivo, fazendo dele uma ameaça real. ÊRA PUNK! https://www.facebook.com/kob82
http://www.reverbnation.com/kob822
PSYCHIC POSSESSOR Por Treva Anos noventa, antes de muita gente acreditar que a imensa quantidade de bandas similares (e ruins) às bandas californianas pudesse transformar a baixada Santista numa Califórnia de terceiro mundo, já exista cena independente na região, principalmente em Santos. A proximidade com a capital São Paulo, o grande fluxo de turistas durante o ano, o porto, a visita até que frequente à cidade de bandas independentes e a prática de esportes radicais como o surfe e o skate, serviram como combustível para que a região produzisse diversas bandas bacanas e cenas diferentes, do black metal ao rap, passando pelo punk e eletrônico. Isso tudo antes da mtv e do modismo do rock independente. Entre as muitas bandas que surgiram, figura essa que sempre foi mais cultuada do que conhecida: Psychic Possessor. Formada em 1986 por Zé Flávio (guitarra) e Lauro (baixo e vocal), incialmente a banda levava o nome de Ritual, mudado para Psychic Possessor no mesmo ano. Mesmo sem batera fixo, a banda ensaiava na medida do possível e o resultado foi que ainda nesse ano gravaram a primeira demo tape intitulada Zombie Night, produzida pelo Zhema (baixista do Vulcano), contendo dois sons que apesar da produção tosca (muito comum na época) já demonstravam a qualidade do death/thrash altamente influenciado pelo punk que a banda tocava.
No ano de 88 gravaram o primeiro disco, o fodástico Toxin Diffusion, que saiu pela Cogumelo Discos. Gravado em apenas uma semana no conhecido estúdio JG, em Belo Horizonte, o disco estava anos luz à frente de seu tempo e o explosivo deathcore tocado pelos rapazes quase não foi entendido por headbangers e punks. E quando digo deathcore, não é nada parecido com essas porcarias que existem por aí. O lance aqui é death/thrash, alternando momentos rápidos com partes mais lentas, poucos solos, bases graves e foderosas, e muita, mas muita influencia do punk feito no velho continente e aqui no Bra$il, temas realista que fugiam da fantasia e tratavam sobre militarismo e coisas do tipo, tudo isso em pouco menos de trinta minutos. Também rolou um esmero com a parte gráfica. E como não tinham baterista fixo, tiveram a ajuda de Arthur, então batera do Vulcano e um dos melhores do metal naqueles tempos. Nas gravações, também contaram com a participação de Korg, vocalista do Chakal. Apesar de aclamado por uma parcela de bangers e punks aqui e na gringa, o disco não vendeu muito, pois era punk demais para headbangers e metal demais para punks. Mesmo assim, é considerado um dos melhores lançamentos brasileiros quando o assunto é Metal. E aqui abro um parêntese. Minha memória não é confiável, em todo caso, vou relatar uma fita que aconteceu naquela época, acredito que um pouco antes da banda lançar seu primeiro disco. O Vulcano se apresentou em Sampa ao lado das bandas Corpse e Skullcrusher no Teatro Mambembe e o pessoal do Psychic Possessor estava presente. Rolou uma conversa entre as três bandas da noite que decidiram reduzir um pouco seu set para encaixar o Psychic. Aviso dado ao público, que logo de cara torceu o nariz e quando a banda iniciou os acordes, começaram as vaias e xingamentos. A banda não se abalou, tocaram uns dois sons, falaram alguma coisa ao microfone e saíram fora. Uma pena! Tudo isso porque nos anos oitenta, punks e bangers se detestavam e, de quebra, bandas de um estilo tocando para o público do outro estilo ou influenciada por ambos os estilos normalmente eram rechaçadas. Somado a isso tinha o fato do Vulcano quase nunca tocar em Sampa por causa de um boicote velado que rolava por parte de bandas e de pessoas envolvidas com o metal, fazendo com que a apresentação da horda fosse um evento e ninguém estava interessado em vê-los reduzindo seu set para apoiar uma banda que parecia ser punk, mesmo não sendo (que época confusa!). Interessante é que dias antes, no mesmo local, Sepultura tocou e teve como banda de abertura um tal de Trauma (muito foda por sinal!), que também tocava metal influenciado pelo punk, inclusive tocaram English Dogs e saíram ovacionados. Coisas do underground paulistano dos anos oitenta. Mas voltando ao assunto principal, apesar de repercussão positiva aqui e na gringa, a vendagem não foi boa e não rolaram muitas apresentações. Inclusive em entrevistas posteriores, Zé Flávio disse que em boa parte das apresentações eram vaiados, justamente por tocarem com bandas de metal e esse público não entendia a proposta da banda. E aí você, jovem internético que apenas curte o que outrxs postam em rede social, deve estar com cara de besta sem entender o porquê de tocarem com bandas de metal. Simples, porque o Zé Flávio tinha tocado no Vulcano (entrou na banda com 12 anos), um dos grandes nomes do black metal do país e a influência metálica estava presente no som e nas amizades do cara. Sem contar que a cena metal era mais estruturada do que a punk e porque incialmente, o Psychic Possessor soava metal, mesmo com a influência punk. Após o lançamento do disco, brigas entre os dois integrantes levaram a mudanças na formação e, de quebra, no som. Sai Lauro, entra Fabrício (baixo), Boka (bateria) e Nhonho (vocal). Com essa nova formação, o hardcore punk passou a ser a base das músicas e o metal uma leve influência, muitas vezes quase imperceptível. Com a mudança drástica do som, cogitaram mudar o nome da banda, mas acabaram mantendo o mesmo. E em 1989 lançaram outro disco muito bom, o Nós Somos a América do Sul, também lançado pela Cogumelo. Enquanto dezenas de bandas punk/hc metalizavam seu som (algumas de maneira até comercial) e seus integrantes deixavam a cabeleira crescer, Psychic Possessor nadou contra a corrente, fazendo o caminho inverso. Além de musicalmente diferente, a temática também mudou, focando mais em assuntos políticos e do cotidiano. Apesar de menos impactante quando comparado ao primeiro disco, esse teve uma vendagem mais significativa, o que ajudou a rolar mais apresentações. Após o lançamento do disco, mesmo com o reconhecimento, aumento nas vendagens e apresentações ao vivo, nova mudança na formação. Com a saída de Nhonho, entra Alexandre Farofa (ex O.V.E.C.) e a banda continua na atividade até 1991, quando encerra as atividades. Ainda tinham material suficiente para lançar um novo disco, mas isso nunca rolou. Segundo Zé Flávio, tentaram uma volta para lançar esse material anos depois, mas diversos problemas acabaram por atrapalhar.
Com o fim da banda, Zé Flávio montou o Safari Hambuguers e, posteriormente, a Sociedade Armada. Fabrício e Farofa montaram a Garage Fuzz, sendo que Farofa também fez parte do Safari Hamburguers entre os anos de 92 e 94. E Lauro foi fazer parte da Explicit Repulsion. O reconhecimento, mesmo que tardio, veio em 2002 com o relançamento pela Cogumelo em cd de Nós Somos a América do Sul e de covers feitas e devidamente gravadas por diversas bandas. E com a explosão da internet, muita gente (re)descobriu os dois discos, influenciando uma nova leva de bandas barulhentas. Em 2013, o ex-vocalista Nhonho falece. Além de vocal, chegou a tocar baixo no lugar de Lauro. Ele ficou pouco mais de um ano na banda, mas foi tempo suficiente para gravar o segundo disco e deixar seu nome na história da banda. Na época de seu falecimento, Nhonho (nome verdadeiro Márcio Ferreira) estava afastado da música, se dedicando a outras atividades. Segundo disse em entrevista, sua saída da banda foi motivada por horários conflitantes, já que o mesmo tinha emprego formal e os horários não estavam mais batendo. O Psychic Possessor é um dos muitos exemplos de bandas do terceiro mundo que lançaram discos a frente de seu tempo, extremamente inovadores para a época, o que faz com esses materiais acabem não sendo compreendidos pelas pessoas e, muitas vezes, caiam no esquecimento. Felizmente, no caso da banda santista, o reconhecimento demorou, mas veio. Hoje, em 2015, pode parecer bizarra a história desses garotos, mas no final dos anos oitenta, tempo de descobertas sonoras, misturas, radicalismo musical e ideológico, essa história fazia sentido. E obter reconhecimento nas cenas punk e metal com uma trajetória tão curta não é algo simples, tampouco fácil. Toxin Diffusion: https://www.youtube.com/watch?v=OJOG__D5f28 Nós Somos a América do Sul: https://www.youtube.com/watch?v=cgcgnYqkewM https://www.facebook.com/pages/Psychic-Possessor-Fanpage/1430774407177406
DOWNHATTA – MORTE NO SUDÃO Por Treva Não tenho muita informação sobre a banda, apenas que foi formada em 2004, tocando um crossover influenciado por thrash, grind e abordando nas letras temas cotidianos e políticos. A banda esteve parada por um bom tempo e com a saída de Antonio Carlos do Sistema Sangria, retornou a atividade recentemente. O cd Morte no Sudão foi produzido entre novembro de 2005 e agosto de 2006, voltando a ser divulgado com o retorno da banda. Na gravação a formação era Antonio Carlos no vocal, André na guitarra, Luiz no baixo e Rafael na bateria. De 2005 para 2015 são dez anos e muita coisa pode ter mudado no som e na temática da banda, e o cd pode não representar 100% o trampo atual dos caras. O cdzinho contém três faixas (Hipnoses da Nóia, Contra o Império Americano e Morte lá no Sudão) bem gravadas, onde detonam um hardcore com influências diversas, resultando em alguns momentos numa improvável mistura de crust com NYHC (sei que ficou difícil de entender). O som é rápido, com partes lentas pesadonas e bem dosadas, vocal cavernoso e som sujão. Tive a oportunidade de ver a banda dias atrás e ao vivo é mais pesado e sujo, ótimo para fazer aquela baita bagunça na roda. As letras, como já mencionado, giram em torno do cotidiano e política, sendo simples e diretas. E a parte gráfica está simples, mas legal. Capa e contracapa com imagens desesperançosas, encarte fotocopiado contendo letras e as informações necessárias. Lembrem-se que esse lançamento é de uma porrada de anos atrás, bem antes da explosão da internet e das facilidades tecnológicas disponíveis hoje até em um celular. É chato falar sempre a mesma coisa, mas tem muita banda boa na correria além daquelas de sempre, que em muitos casos, enxergam o punk mais como uma possibilidade de complemento de suas rendas, interessadas apenas em tentar morder algumas moedas do pessoal. Falta de interesse em conhecer e apoiar bandas novas, privilegiando a mesmice, é estúpido e nada tem a ver com o punk.
Downhatta é outra banda bacana chegando para somar. Ficou interessado? Entra em contato com a banda e descola seu cd e quando tiver som, cola, agita, interaja, seja também protagonista no rolê e não apenas espectador, porque rolê de internet não conta. https://www.facebook.com/sistemasangria/
downhatta@hotmail.com
FANZINES & INFORMATIVOS Por Treva Por mais que digam apoiar, ler, comprar ou compartilhar fanzines, sabemos que isso não é 100% verdade. Uma boa parte das pessoas continua a acreditar que fanzines devem ser distribuídos gratuitamente, esquecendo que para serem feitos existe um gasto. Bandas também demonstram desinteresse no assunto, optando por aparecerem em blogs que podem ter atualizações diárias e acessos infinitos ao invés de apoiarem a mídia subversiva. Preferem divulgar suas bandas para pessoas com interesse zero nelas, enquanto diversos fanzines punks continuam na batalha, divulgando o punk que essas mesmas bandas tanto dizem viver, mas que em muitos momentos veladamente ignoram. A tecnologia veio para ficar e hoje e encontra-se a disposição de quase todo mundo e os fanzines virtuais acabaram se tornando uma opção aos zines impressos. Não tem o mesmo charme, não tem a troca de informações com outra pessoa, não tem a graça de guardar com cuidado junto de outros trampos ou mesmo repassar a outras pessoas. Também não provoca a tristeza de vermos o trampo sendo jogado no chão como se fosse lixo ou de gastarmos muito tempo e dinheiro no correio. Em compensação, gera economia e possibilita compartilhar informação com imensa facilidade, atingindo localidades e pessoas que pelo método tradicional seria bem mais difícil. Apesar dos prós e contras, uma nova leva de fanzines surgiu nos últimos tempos, utilizando ambos os formatos para semear o caos. Os fanzines estão intimamente ligados ao punk, sendo nossa forma de compartilhar informações, divulgar bandas e ideias, conhecer pessoas e resistir ao capital que controla a mídia suja. São feitos por punks e para punks, diferente do que acontece com as publicações corporativas que muitas vezes são mais valorizadas por uma galera envolvida com o punk. Mesmo com as facilidades tecnológicas a disposição, continua sendo difícil fazer e manter um zine, pelos motivos já mencionados e por outros tantos. Ainda assim, muita gente insiste no formato, gastando tempo e dinheiro na tentativa de manter a cultura subversiva. E se você punk, não apoia a sua própria cultura, logo não haverá mais zines ou blogs mantidos por punks e toda a informação virá daqueles veículos que você sempre critica em seu discurso decorado. Ou você acredita que aquela revistinha escrota ou blog/site cheio de patrocínios publicará algo que tenha a ver com sua realidade?
- Solidariedade Libertária: não tenho informações sobre esse informativo, mas imagino que o mesmo tenha sido feito por um grupo de pessoas unidas sob o nome Solidariedade Libertária. Datado de maio/2015, é sobre dois jovens que foram presos durante as manifestações de 2013 (mais precisamente 07/10) e acusados de infringir a lei de segurança nacional. Essa lei é uma aberração que sobrou da ditadura e foi ressuscitada para tentar coibir a onda de manifestações que ameaçavam a paz da quadrilha política. Luana Lopes e Humberto Caporalli foram detidos e mesmo sem portar nada que xs comprometesse, foram enquadradxs no artigo 15 dessa lei, ficaram presos por alguns dias e foram soltos, respondendo o processo em liberdade. Pode até parecer pouca coisa, mas essa lei abre uma brecha pesada em um sistema judiciário tendencioso e de rabo preso com quem não presta, servindo ainda mais aos interesses de uma minoria criminosa que tem a intenção de criminalizar sempre que possível quem luta por justiça, igualdade e liberdade. Para maiores informações, clique em http://solidariedadelibertaria.noblogs.org/, que tem um texto bem detalhado. Contato: solidariedade.libertaria@riseup.net. - Miséria Zine: feito pelo Alan Costa (que também toca no Satanlivre), essa edição saiu no final de 2014 e
tem uma entrevista bacana com Fear of the Future, textos e colagens que deixam o visual do jeito que tanto amamos. Os textos são bem legais, algo introspectivos, fugindo da mesmice do “nós contra o mundo”. E como a cara é ligeiro, disponibilizou o zine na net, facilitando a vida de quem quer ler e não quer colaborar com algumas dilmas. Clica em https://archive.org/details/MiseriaZine e boa leitura. Você prefere o material físico, mesmo não tendo a intenção de colaborar com algumas poucas dilmas? Entre em contato através do e-mail miseria@countermail.com. Ele também mantém o Miséria em formato blog (http://miseriawebzine.blogspot.com.br/), mas infelizmente está desatualizado. O blog também é show de bola, com diversos links para download, textos, dicas de cinema e som, além de entrevistas. O legal é que as bandas que aparecem no blog são aquelas que dificilmente veríamos nas publicações punks daqui. Vale a pena conferir o zine e o blog. - Jornal Micorfonia N° 26: novamente esse jornal bacana aparece por aqui. Manolxs, como seria bom se a tiragem do jornal fosse 50000 exemplares e que outros trampos nessa pegada surgissem pelas quebradas da republiqueta, disseminando cultura independente. Esse número é de setembro/2015 e continua no mesmo esquema lindo de papel jornal, resenhas de CDs e filmes, quadrinhos e entrevista, tudo muito bem dividido. A entrevista é com o pessoal do Napalm Raid e ficou supimpa. Só para constar, nesses blogs ou sites que se dizem “punks”, nenhuma menção a turnê dos caras pelo país, mas em compensação está cheio de matérias com bandas comerciais ou pilantras. Se você está cansadx de ficar com as pontas dos dedos sujas de tinta e com aquele tão conhecido cheiro de jornal ao ficar trinta minutos lendo o caderno de emprego para nada conseguir, bora aproveitar melhor o tempo e ficar com menos tinta e cheiro nos dedos e ainda conhecendo bandas de outras regiões do Bra$il e do mundo. Segue os contatos e tenta conseguir uma cópia: e-mail jornalmicrofonia@gmail.com, site http://www.microfonia.net/, livro de caras https://www.facebook.com/jornalmicrofonia?fref=ts e a rede do passarinho azul https://twitter.com/jmicrofonia. - Motivos Para Marchar: como está escrito na capa do zine, é uma reposta aos questionamentos da mídia acerca das manifestações de 2013. E a resposta foi bem dada em poucas páginas, através de imagens e textos (devidamente creditados). Papo reto que não faz curva, nada de texto acadêmico de intelectual boçal metido a punk, aqui as palavras são simples para que todo mundo possa entender aliada a diversas imagens fortes. Se depois de ler o zine não rolar questionamentos, é porque a pessoa já morreu e esqueceu-se de deitar. Esse trampo foi feito pelo Zero com a ajuda do Edy (da banda Mosca Negra). E é aí que o bicho pega, porque o Zero encontra-se sequestrado pelo estado e mesmo com toda a dificuldade inerente a situação, produziu um zine bacana, sem escrever groselhas. Por carta, ele mandava as paradas para o Edy, que arrumava alguma coisa e devolvia para ver se estava do jeito que ele queria. Esse zine serve de alento em tempos de parasitismo pãnqui e assistencialismo barato. Não tem endereço de contato. - Sodanuhka N° 1: vadiando na net, achei esse zine. Acredito que deva ter fotocopiado, mas vi o virtual. E na boa, a chance de disponibilizar zine na net é ótima para divulgar o trampo, espalhar o caos e reduzir gastos. O jeito antigo de fazer e distribuir zines era mais charmoso, mas os tempos são outros e é necessário nos adaptarmos. Esse trampo foi lançado em dezembro/2014 e é feito pelo Suricato. Trampo simples, fundo branco, letras pretas e pouca cor, mas o legal de zine punk é que qualquer visú usado fica bacana e tem a cara do punk. Nas oito páginas do zine rolam entrevistas com Amiri (rap), Sordes e com Fumaça (integrante das bandas Strozsek e Krusifiksi), além de pequenas matérias sobre música, cinema, literatura e quadrinhos, sempre fugindo do lado comercial da arte. E a última página tem uma imagem meiga, lembrando-me de algumas pessoas que tive o desprazer de conhecer. Não tem endereço de contato, mas segue o link do zine http://pdfsr.com/pdf/zine-sodanuhka. - Criminalização da Infância e Adolescência: a princípio, por ser um informativo do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, podemos imaginar que nada tem a ver com o punk, mas estamos errados. Estava sendo distribuído em um evento punk e o tema é pertinente para o punk e para quem acredita e
luta por igualdade. O informativo é de 2014 e como já dá para imaginar pelo título, o tema é sobre a redução da maioridade penal. Texto pequeno e de fácil entendimento que tenta iluminar um pouco esse debate que tem sido pautado por muito preconceito e má fé por parte da mídia e de políticos (nenhuma novidade nisso). Enquanto em boa parte dos países a criminalidade é combatida com melhor distribuição de renda, saúde/educação/transporte e moradia decentes, o Bra$il vai na contramão e pune as vítimas da desigualdade social. Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso sabe que apenas jovens pobres serão punidos, ou alguém realmente acredita que um jovem de classe média que roube o carro da mamãe e saia fazendo barbeiragens e acabe por atropelar e matar alguém será punido. No site www.crpsp.org.br tem mais informações e dicas de leitura sobre esse assunto. - Expressão Libertária: informativo ligado a Federação Operária de São Paulo (FOSP/COB-AIT), é de 2009 e continua a ser distribuído sem perder a atualidade. São dois pequenos textos, um sobre a sempre presente crise e seus desfechos prejudiciais à classe trabalhadora e o outro é um manifesto sobre o 1° de Maio e a recusa de participar das comemorações pelegas que assolam o paí$. Contato: expressaolibertaria@yahoo.com.br - A Plebe N° 80/81/82/84/85/86/88/89: nada como um rolezinho ligeiro para adquirir uma batelada de materiais. Esse informativo é da Federação Operária de São Paulo (FOSP), inaugurada em 1905. Pois é, pelo tempo de existência é possível imaginar o tanto de coisas que as pessoas envolvidas já viram e vivenciaram. Punks mais ligados em política e luta sindical conhecem há tempos esse informativo. Costumeiramente distribuídos em eventos punks com teor político mais presente, vem informando muita gente do movimento há algum tempo e fazendo parceria em diversas gigs, manifestações e eventos diversos. A temática é voltada à militância social, abrangendo assuntos diversos como combate a homofobia e ao racismo, luta por moradia/educação/saúde e transporte, mas mantendo sempre a ênfase na luta do trabalhador(a) contra a exploração patronal. Contato: Caixa Postal 1693 – CEP 010092-972/São Paulo/SP ou fosp@cob-ait.net e profosp@bol.com.br
GIGS Por Treva Crânula, Pode Pá, Fit of Rage, O Cúmplice, Viruskorrosivus – 06/06/2015 – Morpheus Club – São Paulo/SP A primeira semana de junho, junto com a última de dezembro, são as que mais curto no ano, obviamente por motivos diferentes. Durante o início de junho, enquanto o capitalismo se prepara para a Parada do Orgulho LGBTT, a cidade cinza fica mais colorida, mais amável, aparentemente menos intolerante. Temse a sensação da cidade pertencer à todxs, independente de crença religiosa, orientação sexual, cor da pele ou classe social. Infelizmente, essa sensação tão boa tem data marcada para começar e terminar. E foi justamente durante esse período mais amigável que a banda gaúcha Viruskorrosivus esteve fazendo seu rolê em SP. Além das duas apresentações em Sampa, também tocaram em Santos. Depois de um tempo de marasmo, parece que a cidade da Baixada Santista volta a ser ponto de passagem das bandas bagaceiras, mantendo viva e dando um gás em uma cena que foi muito forte nos anos 90/00. A semana estava tão bacana, que além da gig e da Parada, teve um debate público com as Mães de Maio e com mães e pais da Caravana 43. Além do debate, rolou uma peça de teatro na Praça da Sé, seguida de cortejo até o local do debate. Em tempos de extermínio da população periférica, com um assassino da rota sendo nomeado para integrar a comissão de direitos humanos da assembleia legislativa de são paulo (tem que ser com letras minúsculas, porque com esse lixo envolvido não tem como levar a sério), é estranho não ver o local lotado. É o tipo de evento que merecia participação massiva de lutadorexs sociais, coletivos e pessoas interessadas em uma mudança real, unidxs na luta contra o terrorismo estatal.
Voltando ao barulho, depois de dias de frio intenso, o sábado estava com temperatura agradável, um convite para ficar pela rua vadiando. Chegando ao local, nenhuma novidade. Apesar de o evento contar com várias bandas, sendo uma de longe, o pessoal não apareceu. Tudo bem que tinham outros eventos pela cidade, mas... O dia que não rolar mais evento, todo mundo vai reclamar, vai falar sobre união e apoio incondicional, mas aí vai ser tarde. Enquanto essa galera abestada preferir fazer rolê na internet e em rede social buscando curtidas para se autoestimar ou fazer aquele rolê feijoada (que só fica na panela), Sampa vai continuar a enterrar o punk, e cada vez mais fundo. Com aquele atraso básico, a barulheira começou com a banda Crânula. Deathão violento, rápido e sem contrabaixo. A banda é razoavelmente nova, mas seus integrantes são velhos conhecidos de deathsters e grinders da cidade. Depois do metal, foi a vez do powerviolence do Pode Pá fazer a alegria do pessoal. Parece que essa seria a última apresentação da banda, que vai mudar de nome ou algo do tipo. Também sem contrabaixo, detonaram mó barulheira. Do jeito que subiram ao palco, saíram. Rapidez e rispidez em forma de cantigas violentas. O clima muda novamente com a os interioranos do Fit of Rage. A banda é nova, mas detona um hardcore arrastadão altamente influenciado pelo lado negro do metal e com uma baita pegada necro. Ouvindo as músicas no bandcamp da banda, até soa mais limpo o som, mas ao vivo é negatividade na tóra! A apresentação d’O Cúmplice foi fodástica! Com o som no talo, peso descomunal, alternando sons rápidos e outros mais lentos, microfonia e ruídos mil, o som parecia que arremessaria todxs contra a parede. Tamanha intensidade presenciada por poucxs, infelizmente. E fechando a noite, Viruskorrosivus, que a exemplo d’O Cúmplice, aparentemente não se importou com a presença de poucas pessoas e também detonou um set muito energético. Mereciam mais gente prestigiando seu som. Pois é, outra gig bacana e prestigiada por poucas pessoas. Até quando vai ser assim? Virada Cultural 2015 – Palco Test/Dia da Música: Sociopata, Western Day, Infamous Glory, Deaf Kids, Hell Arise, Cätärro, Terror Revolucionário, Test – 21/06/2015 Em todos esses anos, nunca colei na Virada na pegada de ver o evento, circular pelos diversos palcos e observar toda a fauna presente. Nas poucas vezes que colei, foi sempre para ver algo específico e saía fora. Mas nesse ano, em companhia da “marida”, fiz aquele roteiro pique turista, começando a peregrinação vendo a apresentação de um pianista na Praça Dom José Gaspar, passando pelo Vale do Anhangabaú, Paço das Artes, Praça do Correio, Largo do Arouche (durante a apresentação show de bola do Sidney Magal) e terminando com outra aula de metal da morte com o Krisiun. Fora isso, tinha os artistas que por conta própria estavam pelas ruas mostrando sua arte a quem se interessasse, o que ajudou salvar a Virada. E o que tinha em comum a maioria dos palcos e ruas? A significativa diminuição de público. Sim, as ruas estavam tranquilas, muitas sem movimento e com presença massiva da guarda civil metropolitana e polícia militar, o que causava uma fedentina insuportável. Pelo que ouvi falar, quase não rolou a Virada por problemas com grana, demora em fechar uma programação (fraca), mudança de data, tudo contribuindo para a redução de público. Soma-se a isso tudo o frio e episódios de violência que aconteceram em anos recentes e a histeria que se criou sobre isso, o resultado não poderia ser dos melhores. Claro, não pode faltar aquela posturinha chulé da classe média bairrista que detesta a presença da população periférica e acirra preconceitos estúpidos, que sonha com uma Virada Cultural exclusiva para burgueses. O Palco Test havia sido oficializado como parte da programação, prometendo uma noite e um dia de muito barulho. Mas não se engane haddad e cupinchas, porque essa migalha cultural oferecida não compra ninguém! Deixando a politicagem de lado, Colei no domingo, com as apresentações começando antes do meio dia para terminarem no fim da tarde. Mas como nem tudo é perfeito, antes fui acompanhar a “marida” na apresentação do Nando Reis... quase dormi em pé. Com isso, perdi as apresentações do Sociopata, Western Day e uma parte do Infamous Glory. Tremendo prejú cultural eu levei. Mas os poucos minutos que vi do Infamous foram foda, com a banda mandando um deathão mais lento, que terminou com um cover lindo do Dismember, relembrando a minha não tão distante juventude. Assim que terminou a apresentação do Infamous Glory, o público majoritariamente banger, vazou em direção a outro palco ali perto. Nisso, começa a apresentação do Deaf Kids, sem se importar com o
diminuto público. Selvagem, barulhenta, alternando partes rápidas e lentas, efeitos vocais, tudo deixando o bagulho muito foda! Coincidindo com o retorno do público banger, Hell Arise sobe ao palco. Não manjo das bandas de metal da atualidade, mas essa não me agradou. Na real, passou batido pela maioria das pessoas que lá estavam. Segundo um camarada presente, a banda é uma tentativa de ser o Arch Enemy, que por sua vez é uma tentativa frouxa de ser o Carcass. Não tem como agradar mesmo. Mas nem tudo estava perdido, logo tinha duas bandas que não tocavam em SP há um bom tempo. Cätärro fez um rápido rolê por SP, tocando também em Bragança Paulista e Jandira. Com uma galera mais punk presente, a banda entra detonando e logo de cara o equipamento pifa. Alguns minutos de embaço e a banda volta ao detono. Se estivessem tocando em um pico pequeno, com a galera cara a cara, teria sido uma selvageria total. Música rápida, gritada, com letras bacanas e com um carisma acima da média, ganhou a simpatia de quem não os conhecia. O resultado foi visto logo após o término da apresentação, com a galera disputando o material que estava à venda. E nível alto da selvageria continuou com o Terror Revolucionário, que também detonou na sua apresentação. Galera agitando, circle pit rolando no meio da avenida, enquanto transeuntes passavam e olhavam incrédulos, com alguns fotografando ou filmando. A Virada ia chegando ao fim, mas ainda tinha Test. Infelizmente não vi a banda, porque tinha mais uma dose de “sofrência” me aguardando, dessa vez era o Caitudo Veloso. Manolxs, que troço chato é esse cara. Num determinado momento bateu um desespero, uma vontade de sair correndo daquela muvuca, pedir socorro... ou explodir o palco. “Marida” e toda aquela multidão cantando, aplaudindo, batendo palmas e eu quase convulsionando. Essa dose dupla de mpb por pouco não ceifou minha vida. Não se pode dizer que a Virada Cultural 2015 tenha sido um fracasso total. Mesmo com uma programação bem mais fraca e menor que em anos anteriores, com significativa redução de público (mesmo durante o dia), quem colou com certeza se divertiu. Fora a programação oficial, as dezenas de artistas que tomaram as ruas sem fazerem parte do programa oficial deram um ar de resistência política e cultural, num momento de reacionarismo político e gentrificação na região central da cidade. Parabéns aos coletivos e pessoas que se fizeram ver e ouvir sem esmolar nada ao poder público. Dead Cops, Kroni, Mácula – 02/07/2015 – Espaço Cultural Zapata – São Paulo/SP Sei lá porque cargas d’água, mas no imaginário coletivo de muita gente envolvida com o punk, rolê tem que ser no fim de semana, principalmente no sábado. Qualquer outro dia vira motivo para desculpas por não colar, como se uma banda em turnê tocasse apenas aos sábados. É óbvio que gigs em dias úteis tem suas limitações, mas isso não era impedimento para quem desejava colar em som até pouco tempo atrás. Essa atitude parasita de esperar pelos rolês de fim de semana veio junto com a net e com esse bundamolismo típico de quem vive o punk na frente do computador. Felizmente, de uns tempos para cá tem rolado vários eventos durante a semana, facilitando a vida de bandas que vêm de outros estados e mesmo de outros países. Não adianta pagar pau para a cena gringa porque lá tem turnês e tal, se quando é para acontecer aqui, preferem ficar com suas bundas nas cadeiras e reclamando do rolê em rede social. Com aquele atraso básico e chato, o barulho começou com Dead Cops. A banda tem pouco mais de um ano e manda um grindcore com influências crust. O duo é formado por Hugo (guitarra/vocal, que também grita no Nosso Ódio Irá Atacar) e Danilo (bateria e ex-Dischaos). Os caras detonam na velocidade e ainda mandam muito bem nas partes mais lentas, altamente metalizadas e acabaram sendo uma agradável surpresa. Da extrema velocidade para um som lento, a sequência teve Kroni. Há muito tempo atrás, Black Sabbath ensinava que velocidade e peso são coisas distintas. Muita gente parece não entender isso, mas esse não é o caso dos rapazes do Kroni. Conhecidos por tocarem em bandas rápidas, tiraram totalmente o pé do acelerador, mandando um som lento, mas muito lento, aliado a doses cavalares de peso e se você prestar atenção vai conseguir encontrar algo punk no som. Na minha juventude banger escutava algumas bandas mais lentas, algo de doom metal e passei muito tempo ignorando bandas do estilo. Só recente voltei a escutá-las e talvez por esse motivo tenha ficado de queixo caído com o som dos caras. E em alguns momentos o vocal Bonga agitando lembra o Ozzy nos tempos iniciais de Black Sabbath.
E para fechar a noite, Mácula. Nesse rolê por SP, a banda ainda tocou em Bauru e Sorocaba. O quarteto detonou um crust influenciado por black metal, agradando o pessoal presente que se dividia entre punks e bangers. Apesar da intensidade da apresentação, assim como aconteceu com as outras bandas, o pessoal se limitou a aplaudir entre as músicas. Essa atitude mais contemplativa tem se tornado comum em gigs na cidade, talvez por serem eventos em dias úteis, talvez pelos locais nunca estarem lotados ou porque isso é uma nova atitude. Só sei que faz algum tempo que não vejo um evento enlouquecido. Mesmo sendo uma quinta-feira fria, o evento foi bacana, com uma galera comparecendo e novamente mostrando que uma cena não se faz apenas com eventos aos sábados, com aquela repetição escrota de bandas e com panelas disputando para ver quem “produz” mais. Sur America Vive: Crothc Rot, Atos de Vingança, Herdeiros do Ódio, Doomsday, Maldita Ambição – 25/07/2015- Espaço Cultural Zapata – São Paulo/SP No melhor esquema faça-você-mesmo, os garotos da banda Doomsday se jogaram nessa turnê que passaria por Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Peru e Colômbia. Nada mal para uma turnê independente, sem patrocinadores e contando unicamente com aquela rede de apoio que tanto gostamos e que nem sempre se faz presente. Infelizmente o rolê começou zicado, mas muito zicado. A primeira apresentação que seria em Campinas/SP foi cancelada momentos antes porque rolou uma briga que terminou em homicídio. Triste, mas ainda tem gente desequilibrada que usa o punk como desculpa para práticas imbecis. E como tudo pode piorar, surgiu uma denúncia de agressão envolvendo um dos integrantes da banda, que resultou num rebosteio virtual, gerando um clima de desconfiança em muita gente (no momento que escrevo essa resenha, duas datas já foram canceladas). Começo conturbado para algo que prometia ser bacana. Voltando ao rolê, apesar de estar rolando vários eventos na Grande SP, uma galera em quantidade razoável apareceu para prestigiar o bang e saber dos últimos acontecimentos. E ainda tinha mais notícia ruim, o Fear of the Future não iria se apresentar. Para terminar as zicas, rolou um atraso básico que fez com as bandas acelerassem seus respectivos sets, já que haveria outro evento após o som. Ufa! É bom tomar banho de sal grosso e colocar galhos de arruda nos instrumentos. Com aquele atraso de sempre, Crotch Rot começou a noite barulhenta. A banda curitibana toca um goregrind meio cômico e achei um pouco deslocada no evento. Na sequência teve Atos de Vingança, que com essa nova formação está mandando muito bem. Sem pausa para respirar, sobe ao palco Herdeiros do Ódio, que normalmente tocam um set descontrolado, mas com a pressa o bagulho ficou fudidamente furioso. Um pequeno embaço para acertar o equipamento, Doomsday começa sua apresentação. Pode parecer piração, mas achei os garotos um tanto quanto sérios, meio que travados. Faz sentido ao pensarmos nas confusões que rolaram em poucas horas e tudo que deveria estar passando em suas cabeças. Mesmo assim, mandaram um set energético e acelerado, intercalado por comentários/desabafos. E encerrando a barulheira teve Maldita Ambição, que se atrasou para sair da Baixada Santista e como o horário estava justo, tocaram uns quatro sons (contanto com a participação do vocalista Antonio Carlos, do Sistema Sangria) e já era. Ao término do som, não tinha como não pensar no fatídico acontecimento de Campinas, a vida de outro jovem punk sendo tirada por alguém que também se diz punk e em como esse culto à violência que se fortaleceu juntamente com a nova onda de confrontos contra a escória intolerante pode envenenar pessoas com proceder fraco, e mesmo envenenar o punk enquanto movimento. Ninguém está aqui para ser pacifista, já que pacifismo e subserviência geralmente andam de mãos dadas e isso nada tem a ver com o punk (sem contar que a rua não dá espaço para postura paz e amor). Mas usar a violência contra nós mesmxs é de uma imbecilidade sem fim. Também fica o mal estar referente à denúncia de violência e o que isso vem a acarretar para o rolê, para as pessoas que ficam presas no meio do tiroteio entre “advogadxs e promotorxs” e, principalmente, para as pessoas que estão diretamente envolvidas com o acontecido. Evento legal com bandas fodas, a banquinha de materiais dos garotos do Doomsday estava bacana, com muito material de bandas sul-americanas (pra fugir um pouco do óbvio quando se trata de material) e boas conversas, apesar dos acontecimentos negativos.
KATÁSTROFE SOCIAL, FILHOS DE INÁCIO, GERAÇÃO OFENSIVA, REBELDIA INCONTIDA, ALERTA GERAL, DESOBEDIENTS – 08/08/2015 – A.M.E. – SÃO PAULO/SP Nesse ano, o coletivo Atitude Punk já organizou dois eventos que foram muito bons, tanto na qualidade das bandas como na presença de punks em ótimo número. Então, a expectativa para esse evento era grande. O local do som era pouca coisa maior que uma garagem, mas ficava em uma rua sem saída, área externa grande e com um boteco ao lado. Vez ou outra aparecia alguém de carro, moto ou a pé para conferir a movimentação no local. Devido à distância existente entre o cafofo que habito e o local do som, acabei chegando com o evento caminhando e perdi a Katástrofe Social. Quem estava tocando era a banda Filhos de Inácio, e apesar do espaço ser pequeno, muita gente estava do lado de dentro e agitando. E com o suor e as bebidas que caiam, o chão escorregadio começou a fazer suas vítimas. Na sequência rolou Geração Ofensiva, que depois de dois anos de molho, voltou com nova formação e gás renovado. Era visível a empolgação da banda, tocando com garra e tendo como resposta a agitação do pessoal. Vendo a banda tocando com o equipamento no chão e cara a cara com xs punks, lembrei-me de uma situação bizarra que presenciei tempos atrás, quando em uma gig a integrante de uma conhecida banda decidiu proteger a vocalista (sem que ela pedisse ou necessitasse, já que estava acostumada com o caos nas apresentações) de outra banda enquanto a mesma se apresentava. De tanto empurrar as pessoas e distribuir cotoveladas a rodo visando “proteger” a vocalista, essa criatura protetora acabou arrumando uma confusão monstro, mas como é de banda, nada pegou pra ela. E o que isso tem a ver com esse rolê? Simples, essa é a diferença entre punks e radicóri de condomínio fechado. Apesar de algumas patifarias que persistem no quesito proceder, o punk preza pela união, e o mosh pit/pogo serve para isso, onde as pessoas agitam e cantam juntas, independente da questão gênero, e não segregadas, como a nova cartilha diz (isso quando é permitido agitar). Já era madrugada e a temperatura tinha caído horrores, Rebeldia Incontida começa sua apresentação. E foi selvagem! Se você curte punk/hc anos 80 europeu e brazuca, vai curtir a banda. Ao vivo o som fica mais pesado e rápido e a galera agitou muito, cantando junto, com a vocalista Inarai mandando várias ideias entre os sons. O negócio estava tão foda que rolaram duas confusões. Na primeira um rapaz com um visú suspeito, levou uns tabefes e foi espirrado do som porque estava dando cotoveladas na roda e a segunda nem sei o motivo. Mas foi um baita falatório, gente gritando, discussões e falatório (do tipo “eu sou punk desde os anos 80 e blá blá blá”. Tanto tempo de punk e ainda não aprendeu nada) e tudo aquilo de sempre. Independente do motivo, essa segunda treta acabou por azedar o som, fazendo com que várias pessoas fossem embora e as que permaneceram, resignadas, ficaram na rua conversando ou dormindo. E foi nesse clima de fim de festa que as bandas Alerta Geral e Desobedients tocaram. Apesar do comprometimento das bandas, deve ter sido desagradável tocar naquela situação. Apenas em alguns momentos a galera entrava para curtir uma ou duas músicas e depois saía novamente. E com a madrugada fria, fome, sono, decidi que era hora de sair fora, mesmo o evento não tendo terminado. Apesar do problema que rolou, o pessoal do coletivo está de parabéns por mais esse evento. Sabemos que atualmente é difícil fazer um evento gratuito e no subúrbio, já que muita gente só quer fazer rolê no centrão e mesmo as bandas não têm interesse em tocar para punks em locais distantes. Mesmo assim, o evento aconteceu. E que venham outros! Grind Punx in Concert: Brain Dead, Fear of the Future, Histeria Coletiva, Dead Cops – 30/08/2015 – Bar do Diniz – São Paulo/SP Domingão vagabundo, calor, sol, Coringão jogando (e dando show!) e som de graça perto de casa. Tudo perfeito! Após de ser anunciado o fechamento do pico, rolou muito choro na net, muito falatório e tal. Mas na hora de colar e apoiar o espaço e quem está insistindo em organizar eventos, a galera ramela. Apesar de ser gratuito e contar com bandas bacanas, isso parece não ter sido motivo suficiente para fazer com que o pessoal saísse de casa. Melhor ficar nas redes sociais reclamando do rolê, dizendo que nada de legal está rolando ou ficar cuidando da vida alheia.
Depois daquele atraso básico, Brain Dead começou a barulheira. Os rapazes tocam um grindcore mais voltado para o metal, que apesar de bruto, foi apenas observado por quem estava presente. Na sequência teve Fear of the Future, com aquela apresentação sempre foda. Estão divulgando seu próximo trabalho que deve sair ainda esse ano, inclusive tocaram som novo. E para minha surpresa, também tocaram New York Dolls. Eu, que sou chato e ignorante quando o assunto são essas bandas de protopunk, paguei um pau pro som. Se a minha memória não estiver me traindo, vi a Histeria Coletiva num daqueles Fim do Mundo que rolaram no Tendal da Lapa, com o vocalista Marcelo falando poucas e boas e rasgando uma bíblia para delírio de todxs, já que aquele livrinho fajuto só trouxe/traz dores de cabeça para a humanidade. Pois é, e depois de tantos anos, ver novamente a banda foi uma grata surpresa. Parece que a banda esteve devagar nos últimos tempos, mas voltaram com fúria incontrolável, detonando um hardcore punk rápido, barulhento e com vocais gritados, na melhor escola finlandesa. E por falar em escola finlandesa, ainda mandaram uns cover de Kaaos e Riistetyt e uma singela homenagem a um conhecido lixo que já foi do rolê punk e felizmente, sumiu no mundo (acho que estava preso e tomara que já tenha morrido). Com o horário um pouco avançado e, de quebra, com uma galera reduzida, Dead Cops começou sua apresentação. A banda agora é um trio, com a entrada de Allan na guitarra, deixando mais encorpado o grind dos moleques. Como já eram 22h00mim, o sono e a fome estavam falando mais alto que o som da banda e o semblante de derrota da patroa que me acompanhava me deixava mais entristecido, decidir seguir rumo ao cafofo antes do término do evento, vendo apenas uns quatro sons. Enfim, rolê bacana para salvar o domingo e só lamentos para quem fica fazendo rolê na internet. Depois não adianta reclamar quando não houver mais eventos com bandas. Mês da Cultura Independente 2015: Mukeka di Rato, ratos de porão – 26/09/2015 – Tendal da Lapa – São Paulo/SP O Mês da Cultura Independente é um evento organizado pela prefeitura de Sampa (conhecida por não gostar da cidade) com o intuito de possibilitar que diversas manifestações artísticas independentes tenham oportunidade para mostrarem seus trabalhos. O bang envolve música, teatro, cinema, festas de rua e dura todo o mês de setembro e a melhor parte, é gratuito. E nesse ano lembraram-se do pessoal que gosta de barulho e agilizaram esse rolezinho no Tendal, espaço muito preza da cidade que parece ser pouco aproveitado. Na ida, o assunto foi os dois festivais Fim do Mundo organizados pelo Ariel (Invasores de Cérebros/Restos de Nada) nesse mesmo local, nos anos de 2001/2002 e entre “causos” e risadas, chegamos ao local. E a primeira surpresa foi ver o tamanho da fila, o que indicava haver revista. Um rápido rolê pela fila e encontro conhecidos que convidaram eu e as pessoas que estavam comigo para ficarmos por lá, o que nos poupou uns bons minutos na fila (valeu Índio!). Adentrando ao local, hora de circular e perceber que o público era diversificado: punks, headbangers, skatistas, rockeiros de praça, pessoas modernas, crianças acompanhando pai e/ou mãe e pilantras, que mesmo disfarçados (será que essa corja realmente acredita que sem visual passam despercebidos?) são facilmente identificáveis pelo odor podre que exalam. Isso justificou a revista, que mesmo não sendo rigorosa, já intimidava os mais frouxos que pensavam em entrar com alguma arma para posteriormente tumultuarem o evento. Antes da primeira apresentação, visitamos a banquinha de material do Mukeka e rolou outra surpresa, com camisetas sendo vendidas por 50 dilmas. Pois é, talvez a camiseta utilizasse fios de ouro ou fosse de algodão importado da Sibéria. Esse valor me lembrou de uma conversa que tive dias antes com um camarada sobre a possibilidade do animal que dá nome às duas bandas ser o elo entre elas e o capitalismo e a ausência de ética. Gostaria de acreditar que não houve má fé e sim um erro ao decidir por qual valor seria vendida a camiseta. Depois de um atraso para que todo mundo pudesse entrar, era hora do barulho começar. Fazia muito tempo que não via Mukeka di Rato, talvez uns dez anos. A última vez ainda era o Bebê nos vocais e muita coisa rolou desde então. Ao vivo, a banda continua com uma energia incrível, que foi retribuída com um mosh pit nervoso. Mas enquanto a banda tocava, divagava em como era estranho ver uma banda de hardcore tocando para muita gente que não teria grana para vê-la (já que normalmente se apresentam em lugares com preço salgado), e mesmo assim pediam um valor absurdo por uma camiseta. Sei lá, talvez seja mesmo um problema com o animal do nome. Mesmo com a apresentação sendo bacana, a
Quem me conhece sabe o tamanho do bode que tenho pelo ratos de porão. A última coisa que escutei foi o disco Brasil e de lá pra cá ignorei completamente a banda. Só lembrava de sua existência quando via o vocalista em algum evento e tinha a oportunidade de somar com a massa que sempre avacalhava com sua pessoa, proporcionando-lhe agradáveis chuvaradas de cuspe, entre outros objetos. Mas os tempos são outros, faz uma cota que deixei a juventude e talvez o radicalismo não seja mais o melhor caminho. Por isso fui ver a banda e sabem o que descobri? A melhor coisa que fiz na vida foi ser radical e ter ignorado a banda. Que coisa mais chata! Na terceira música pedi arrego porque poser, mesmo que pretensamente tocando hardcore, é um saco! O grande boçal continua o mesmo, falando merda, sendo incoerente e acreditando ser alguma coisa. Em um determinado momento, o recalque surgiu e sobrou para o Rock in Rio (aposto que se tivesse sido convidado para participar mais do que depressa teria aceitado). Essa banda (em grande parte graças ao vocalista) faz parte de um bolo que reúne diversas bandas que há tempos deveriam ter sido esquecidas pelxs punks. Essas bandinhas vazias de atitude nada têm a ver como discurso punk, com o faça-você-mesmo e cabe a quem diz viver esse rolê chutá-las para bem longe. Existem trocentas bandas legais que vivem o punk, então porque insistir nessas coisas caquéticas em detrimento de banda que está na correria? Mais coerência e menos idolatria. No fim, o rolê valeu pelas conversas, por ter visto pessoas que há tempos não trombava e para manter a convicção de que ratos é ruim e frouxo. Nada pessoal, apenas musical e ideológico. Los Fuertes, Herdeiros do Ódio, Ratones – 25/10/2015 – Bar do Diniz – São Paulo/SP Outubro foi um mês show de bola, com diversos eventos bacanas na Grande SP, festival cabuloso no interior e quatro bandas gringas de rolê pelo país, com paradas em Sampa. Mas como tenho uma considerável deficiência em matemática graças às aulas cabuladas na juventude, errei nas contas e perdi tudo isso. E como tudo de ruim que acontece atualmente é culpa da dilma, vai pra conta dela isso também. Mas nem tudo estava perdido, e na reta final desse mês desgostoso para minha pessoa, surgiu esse rolê do jeito que gosto: perto de casa e de graça. Só faltou o calor para o domingo ser nota 10. E antes teve outro show do Corinthians rumo ao hexa no Brasileirão. Mesmo tendo certeza que o som começaria após o término da rodada, colei antes imaginando que na televisão do lugar estaria passando o jogo do Coringão. Quebrei a cara! Tinha jogo, mas era de outros times. Terminada a rodada do fim de semana, era hora do barulho começar. Infelizmente, pouquíssimas pessoas colaram para prestigiar esse evento. O papo é chato, mas quando não rolarem mais eventos, todo mundo vai reclamar e dizer que vai apoiar, mas aí será tarde. Mesmo com o local vazio, o duo Los Fuertes mandou muito bem com seu punk rock à la Ramones, inclusive tocando I Wanna Live (minha música favorita da banda) entre outras covers. O vocalista/guitarrista Chú, em tarde inspirada, relembrou de vários “causos” entre os sons, rendendo boas risadas. A melhor parte dos “causos” foi quando ele relembrou de vários picos por onde tocaram e que na sequência fecharam suas portas, e não foram poucos! A banda passou um tempo afastada, mas parece ter voltado na hora certa e com gás renovado. Na sequência, os garotos da banda Herdeiros do Ódio detoram seu set violento de sempre e ainda contaram com a participação do antigo vocalista Duca, em uma música. Com dez anos de correria, trilhando a parada mais rápida e suja do punk, continuam na batalha para lançar seu material que já está gravado. Enquanto isso, tanta banda bostenga dizendo/fingindo ser punk e gravando. E para encerrar, teve Ratones. Para quem não sabe, essa banda é cover dos Ramones, mas sem essa piração de querer ser os caras. São pessoas que curtem a banda e tocam sons, um tributo, uma homenagem. E manda muito bem, no melhor estilo ramônico ao vivo, com as músicas muito aceleradas. Num determinado momento, sobe ao palco para empunhar a guitarra um garoto que é a cara do Johnny Ramone na juventude, incluindo o visual. Se fãs quase religiosos da banda nova-iorquina vissem a cena, provavelmente virariam os olhinhos de tanta emoção. Como estava frio e minha barriga roncava horrores, saí fora antes do término da apresentação. Outro rolezinho esperto, mas com presença de poucas pessoas. Talvez o fato de ter sido agilizado em cima da hora e com uma divulgação meia boca, sirva de justificativa para tal acontecido. Mas não deixa de ser triste vermos esse tipo de situação acontecendo com certa frequência, principalmente quando lembramos rolês de anos atrás e que mesmo sendo em locais distantes e sem a facilidade da internet para divulgação, tinham o apoio e presença de punks de todas as quebradas.
Excesso Bélico, Juventude Maldita, Subviventes – 14/11/2015 – Teatro Municipal de Santo André – Santo André/SP Sabadão de sol, calor e rolê bacana. Fazia uns bons meses que não me deslocava para lugares mais distantes atrás de som, mas esse valeria a pena, por toda a caminhada dos Subviventes e por ter sido a primeira entrevista nesse zine. E a festa começa na ida ao encontrar o compa Sossai no trem, o que rendeu uma boa conversa e facilitou encontrar o lugar, já que ele conhecia o pico. Esse evento seria o lançamento do quarto cd da banda Subviventes (Depende de Onde Olhar) e agilizaram o rolê em um lugar legal, fácil acesso e com estrutura decente, como a banda e a galera que compareceu mereciam. Acostumadxs com lugares improvisados para realização de gigs, xs punks presentes estranharam o fato de o lugar possuir bebedouro, lanchonete, palco, som legal, banheiro limpo e tudo aquilo que, mesmo nós punks, também merecemos. E tudo isso de graça. Felizmente, o pessoal apareceu em bom número, muitos casais com suas crias, muita molecada adolescente ávida por informação e rebelião. Pois é, talvez a situação do punk na Grande SP não esteja tão ruim quanto eu imagino. Por ter sido realizado no saguão do teatro, o som começou às 13h20min, sendo que os horários das bandas foram respeitados. Nem preciso dizer que perdi Excesso Bélico e Juventude Maldita. Quando cheguei, o pessoal do Subviventes estava arrumando o palco. Enquanto isso, bora circular pelo lugar, ver a exposição sobre a Libertadores, trocar uma ideia, conhecer gente nova e conferir a banquinha de material. Uns vinte minutos de embaço e o som começou. A banda tocou com muita energia, que era retribuída pela galera agitando. Era visível a felicidade dos caras da banda, sempre sorrindo. O clima foi o mesmo entre punks, sem cotoveladas maldosas, empurrões covardes ou falatório. O pessoal compareceu para apoiar o evento e não para bostear. Apesar da energia, em alguns momentos a frente do palco esvaziava devido ao calor, que fazia a galera ir atrás de hidratação ou de um pouco de ar menos quente. Mas isso não tirou a energia da apresentação, afinal são vinte e sete anos na batalha. E como o evento era festivo, rolaram diversas participações especiais, entre elas Barata (DZK), Cleiton (ex-vocalista da banda), entre outros. O único pormenor (se é que podemos chamar assim) foi a rápida presença de alguns lixos de cabeça raspada que apareceram achando que iam botar uma banca, mas tiveram que correr muito rápido para preservarem sua integridade física. Pilantra não tem vez! E o rolê estava tão bacana que nem percebemos que o fim estava próximo, e antes da 17h00min o barulho já estava sendo encerrado. Rolê bacana é assim, passa rápido e nem percebemos. Pois é, quem ficou com preguiça de colar por começar muito cedo, quebrou a cara e perdeu um rolê nota 10. Pele i Osso, Entendeu?, Maldita Ambição, Excomungados – 22/11/2015 – Bar do Diniz – São Paulo/SP Final de semana com diversos eventos na Grande SP, para todos os gostos e bolsos. Optei por esse que era de graça e perto de casa. Mas antes teve espetáculo do Corinthians, com o alvinegro colocando seis no tricolor do Morumbi e fazendo a festa ao receber o troféu de campeão. Obrigado ao freguês por ter colaborado imensamente com a festa. Depois de muito comemorar a trituração em cima do outro time, hora de seguir rumo ao local do som. Foi tanta emoção que nem percebi o horário adiantado (e nisso o horário de verão também colaborou, já que ainda estava claro) e quando cheguei, Pele i Osso e Entendeu? já tinham tocado. Com aquela cara típica de saco de vacilo, tratei de encostar em algum lugar que logo iria começar a apresentação da Maldita Ambição. Os garotos tem se apresentado em Sampa até com certa frequência e sempre com energia, independente da quantidade de pessoas presentes no evento. Novamente mandaram bem na apresentação, terminando com um cover de Extreme Noise Terror. Mas o ponto alto (se é que podemos chamar dessa maneira) foi um arranca rabo entre dois integrantes que terminou em vias de fato. Quando penso que já vi tudo, acontece isso. Resta torcer para que isso não tenha consequências graves na banda. Ainda era para tocar Excomungados, mas não sei por qual motivo não rolou.
Novamente o público reduzido foi o ponto negativo. Infelizmente, com a atual divisão existente no punk aqui na Grande SP, o pessoal cola no evento mais próximo de sua quebrada ou naquele que rola uma maior afinidade com outras pessoas, e nisso muita coisa boa que está rolando acaba sendo deixada de lado. Claro que não é apenas por isso que os eventos estão vazios com certa frequência, mas aí já outro papo. Até quando haverá pessoas usando seu tempo para organizar gigs para pouquíssimas pessoas é uma incógnita. Mas é bom todo mundo ficar ligeiro porque do jeito que a coisa vai, está muito fácil se tornar passado o lance de evento todo fim de semana. Anti-Climax, N.Ó.I.A. Nuclear Fröst, Rot – 06/12/2015 - Morpheus Club – São Paulo/SP Domingo preguiçoso e com tempo chuvoso, ótimo para ficar em casa. Mas isso não valeu para punks e headbangers que colaram nesse rolê monstro. Imaginando que haveria um atraso básico, saí de casa tardão e quase peguei uma bela chuva. Apesar de escapar da chuva, como o meu pisante parece as contas públicas de tanto buraco que tem, foi o suficiente para me fazer praguejar ao imaginar as horas teria pela frente com os pés encharcados. Mas a raiva passou ao chegar e ver os botecos próximos cheios de gente bonita e bem vestida. Meus pés molhados se tornaram mero detalhe ante essa bela visão, que estou razoavelmente desacostumado em decorrência de colar em tanto evento com pouquíssimas pessoas apoiando. A agradável conversa do lado de fora me fez perder boa parte da apresentação do Anti-Clímax. Reunindo pessoas conhecidas do punk da terra da garoa, tocam uma bagaceira altamente influenciada pela Suécia e afins, e apesar de já ter uma galera considerável no lugar, o pessoal ficou de boa, apenas assistindo. Na sequência teve Nosso Ódio Irá Atacar, mais conhecido pela simpática sigla N.Ó.I.A. Detonando um grind monstrengo e com influências de crust e death metal, timidamente a roda abriu e o evento passou a ter uma cara mais simpática e condizente com o que esperamos de um evento desse tipo. Levei muito tempo tentando entender qual é a brisa do metalpunk. Como sou velho e chato, sempre achei mais interessante banda punk ou metal, cada uma no seu quadrado. Sem contar que por algum desvio mental, acabava por associá-lo ao crossover. Eles não têm nada a ver um com o outro (tirando o fato de ser música rápida e pesada), mas como une dois estilos em um... creio que isso justifique minha brisa. Entonces, como o crossover sempre me pareceu algo mais comercial em decorrência de algumas bandas que seguiram por caminhos musicalmente tortuosos, acabava associando esse papo de metalpunk com o crossover. Ainda bem que minha brisa era só uma falha mental, porque o que vi com Nuclear Fröst foi foda! A velocidade e a tosqueira do punk encontrando o peso do metal. Sem contar que o vocal da Gaby é uma das paradas mais brutas que tem no rolê. Também foi legal ver várias garotas agitando, o que comprova mais uma vez que o pogo/mosh pit pode ser um espaço de união e não de segregação. E encerrando o evento, Rot. A banda estava lançando o compacto “Nowhere”, depois de quase uma década sem gravar, mas isso em nada interferiu na brutalidade do playzinho. Se você ainda não escutou, escute! E por falar em brutalidade, a apresentação do Rot foi foderosa! Galera agitando de maneira selvagem, mas sem patifaria. Os vocalistas Marcelo e Marcolino desceram do palco e ficaram no meio da galera, fazendo o caos aumentar. É por isso que o underground é lindo. Como já citei no início dessa resenha tosca, muita gente colou no evento e isso deve ser frisado e comemorado. Em uma época que muitxs acreditam que tudo deva ser gratuito, foi ótimo ver o pessoal colando em um evento que não era gratuito, comprando material, interagindo, nada de bocó arrastando e coisas do tipo. E no mesmo dia ainda tinha outros eventos pela Grande SP, favorecendo a diluição do pessoal em vários rolês. Enquanto o underground respira e resiste, muita banda pelega continua insistindo em pedir cachê de lóki e tocando em picos fora da realidade financeira de quem escuta música barulhenta, se apresentando muitas vezes apenas para as pessoas das outras bandas participantes e depois ficam na internet reclamando da vida. Se esse pessoal colocasse em prática só uma pequena parte de seu discurso, tenho certeza que muita coisa seria diferente. Talvez rolasse algo parecido com o que presenciei nesse domingo.
Masters of Noise – 13/12/2015 - Bar do Diniz – São Paulo/SP Domingo ensolarado, calor, e enquanto seguia para o provável último rolê do ano, vi várias pessoas usando camisas da seleção brasileira. Ignorante que sou, pensei que talvez estivesse tendo algum jogo ou torneio de fim de ano. Mas que nada, era dia de micareta pedindo a saída de uma das integrantes da maior organização criminosa do país, a classe política. E essa diarreia pretensamente disfarçada de movimentação social e política rolou justamente no dia que o famigerado ai-5 fazia “ânusversário”... haja papel higiênico! O fest estava marcado para começar às 15h00min e começou com o mínimo de atraso. Nisso, acabei perdendo a apresentação da Maldita Ambição, que agora é um trio. Na sequência teve Atos de Vingança detonando seu hardcore influenciado por metal. Apesar de ser um festival de música torta, o clima era de confraternização, o que acabou contagiando o Atos que encerrou sua apresentação com uma versão de United Forces do S.O.D., contando com a participação nos vocais de alguns velhos de rolê, incluindo o Rafael, que já foi vocalista no Atos e que agora fica tímido frente ao microfone. Foi um final de apresentação nota 10 para um rolê que ainda estava no começo. Downhatta foi a próxima banda, talvez o som mais diferente do rolê. Seguindo uma linha mais crossover, com umas partes lentas e som sujão, deram azar ao tocar em um momento que muita gente estava do lado de fora, e quem ficou para prestigiar, se limitou a observar, sem muito agito. Festival tem dessas coisas. Mesmo assim a banda levou seu set de boa e agradou quem ficou no pico para vê-los. Depois desse som, foi a minha vez de sair para respirar, conversar um pouco e nisso fiquei sem ver Cruel Face. Depois da pausa para respirar, conversar e agilizar aquela hidratação esperta, hora de ver o N.Ó.I.A. Uma semana antes vi os caras mandando muito bem, mas deve vez o bicho pegou mesmo. O lugar encheu, um calor saaresco, chão escorregadio e o mosh pit nervoso. A brutalidade continuou com Nuclear Fröst, outra que tinha visto uma semana antes. No final da apresentação, chamaram dois ex-integrantes para uma jam e dá-lhe calor, chão escorregadio e roda aberta. Depois de algumas horas, minha carcaça já dava sinais de fome e enquanto o ambiente estava em silêncio, pensava na geladeira de casa (obviamente, no que tinha dentro da geladeira né). Nisso, o Óbitto sobe ao palco e começa a desgraça. Como já tinha rolado com o Downhatta, novamente muita gente sai para respirar, conversar e acaba tendo mais gente do lado de fora do que dentro. Mas como tudo estava correndo tranquilo, nem isso interferiu na apresentação, com a banda detonando tudo com seu grindcore. Como o horário avançava, algumas pessoas começaram a sair fora, mesmo tendo bandas para tocar. Social Chaos deu sorte, porque a debandada do pessoal ainda estava no começo e deu tempo de se apresentarem para muita gente. E encerrando o fest, a banda Hutt, com outro massacre de grindcore. Ainda era para tocar o Sistema Sangria, mas como rolaram alguns atrasos no decorrer do evento, a banda acabou não tocando. E se você achou que só rolou as bandas, fique sabendo que também teve tatuagem com Thamu Candylust e Arte Fixa e exposição de imagens guaxumônicas de Alexandre Soares. Pode parecer bizarro, mas dois eventos seguidos e com muita gente prestigiando é algo com o qual estou desacostumado. Mas isso nos mostra que o underground continua vivo, que não é necessário transformar gigs em produtos de consumo para que o pessoal cole em peso. Parabéns para a organização, para as bandas e para a galera que colou em ótimo número e que soube respeitar o espaço e quem estava ao lado.
POESIAS MARGINAIS Por Karl Straight e Juänito* A Bomba A terrível bomba atômica e a radioatividade
Se acabarmos com a guerra, tudo ficaria unido
Significam terror, ruína e calamidade
E o nosso mundo de hoje não seria destruído.
Despertar De um lado pro outro me espalho,
Mérito das madrugadas sem dormir
Cresço e evoluo
Som, luzes e a trilha do mundo
Ou não?
Amor e ira, talvez
Dúvidas frequentes
Sejam palavras chaves
Metades e inteiros pedaços de mim
Sobre tudo que o espelho tenta encobrir
Nós, eles...
E me vejo imerso em sarcasmo
E assim eu sou pura ironia!
Apenas um álibi pra me prender,
Fardos e cruzes,
Outro erro pra conspirar
Lágrimas e maliciosos risos
E eu, inteiramente tolo
De quem vê os dois lados da moeda
1... 2... 3... despertar!
As múltiplas faces da existência
Traços e distorções,
Ou puramente, a segunda,
Chaves e uma pilha de limitações
Terceira
Significados de palavras mal compreendidas
Ou quarta intenção por trás do fato
Relativo, nem tudo é o que parece
Eu vejo!
Verdade, cogite antes de estar
E consequentemente,
Real, não pense duas vezes
Sou doses de provocação
Aceite, é hora de arriscar! Solidão
Se nenhum de nós pudesse
Não disse o que desejava
Por para fora nossos demônios
Não disse o que vejo nem o que sinto em teu olhar
Talvez não pudéssemos viver no mundo Esperei por mais um tempo Trago então para você um pouco de dor e amor Não esperando em vão Descobertas que fiz na vida Seus olhos não são de vidro Não sem sofrimento e solidão Nem sua boca ilusão Sendo que a solidão está em mim Agora vejo como fui tolo Sou só, gosto da solidão Imagino certos lamentos Deixando de lado uma vida fútil O tempo passou e você ficou na lembrança Quem passar por está vida sem dar ou ter amor O olhar é vago e cheio de surpresas Não viveu Cada um cria seu próprio destino Chorei quando não queria Em seu próprio inferno
Um Dia* Um dia nos perguntamos
Saber que pior que a perda
Por que as pessoas adoecem?
É padecer de solidão
Por que a vida dá esses deslizes
Se de perda padecemos
E essas coisas acontecem
Deve ser porque logo aprendemos
Um dia nos perguntamos
Que ganhar consola o que perdemos
Porque as pessoas boas vão?
Um dia florescemos
Será que não merecem esse mundo?
E com a vida aprenderemos
Que é só ganância e perdição
Que se aprendermos a perder
Um dia ouvimos dizer
Quando a morte chegar
Que muito sofre o coração
Será só uma questão de viver
Maio* Todo primeiro de maio
Homem, aprendiz, mulher
O mesmo ensaio
Não tem idade
Sorteio, festa e carro Nessa enganação sempre caio
No dia do trabalhador(a) a falsidade
A força, cut e metalúrgicos
Que não condiz com a realidade
Vendo o paulinho se entregar
De quem sua de verdade
Agora é patrão e quer terceirizar
Debaixo do sol, do telhado fabril Da máquina a mil
Pra ter direito é preciso pagar A mensalidade da categoria que quero lutar
Sem falar do estado
Pra ter greve o sindicato precisa autorizar
Que quer foder a CLT por todo lado
E sua parte quer levar
Querem tirar os poucos direitos
No acordo da participação a lucrar
Que há anos nos foi (e a cada dia) negado
Nos abonos, nos acordos
Com muita greve, sangue e luta Terceiriza
A liberdade proletária foi
Porque para o governo corporativo
A custo de mensalidade
Quem bate cartão é um número
Contribui qualquer um (0,2% na folha)
Que com seu suor só o patrão é que lucra.
A Cena na Rima (Inspirado num Clássico do Rap)* Punk é política
Punk é descompromisso
Não pilantragem
Com os que não interagem
Uns tão no ativismo
Atrasa lado no movimento
Outros só de passagem
Tá de bobagem
Punk não é omisso
Punk é tudo isso
Está a margem
É só uma fase?
Do mundo em consumismo
Punk também é compromisso
A moda é só miragem
Não é viagem
Desmundo* João sem bandeira
Um sábio um dia disse
Desbravando a fronteira
Que a pátria é o mundo
O mundo é tão infinito
Sua bandeira, a liberdade
Demarcá-lo é bobeira
Assim ele disse sem bandeira e vaidade
Uma linha imaginária
As divisões que enxergamos
Divide nações
É de frente pra trás
Que muro é esse?
Veja as crianças imaginando além do horizonte
Que separa milhões
É de dentro pra for, é assim que se faz
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