Tacape

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TACAPE TACAPE TACAPE

FIASCO


AUTORES:

JOÃO FELIPE CASTILHO

RAFAEL VAZ

JHEFERSON NEVES

EMANUELA MADEIRA

ÍCARO

PAULOMANOEL


Penso o poema incisivo Os melhores poemas que perfura o tórax. espantosamente frágil e ingênuo, Uma doença degenerativa a longo prazo. onde a maior parte naufraga,

Encontrei essa vacina quando estava no FUNDO FUNDO

cheios de tiques retóricos Não apenas literatura. no ambiente hostil Elemento em constante renovação. em ondas subfuturistas

do poço

estão sempre semanalmente Deterioração na primeira sentimental dentição.

Quando afirmei de não ter lembrança

de ter

seguido de

escrito.

Drogados veteranos certamente lembrarão de limpar a sujeira.

Rafael Vaz

curvas e traços É verdade que lá está, que dissolvem mais consistente, desinformado e a poesia como ferramenta, provinciano, despida da objetividade a ponto de abrigar e tendo em mãos a objetivação o avestruz emblemático do verbo. da política cultural. Sintaxe dissonante e certeira. Lamentavelmente Que deveria surgir o que há de mais afinado na incivilidade cotidiana em sua face mais autêntica e agressiva em suas mais sensíveis rupturas é o que explica a assimilação do convencional. indiscriminada dos trechos de seu poema mais significativo em plena ebulição.

João Felipe Castilho


Eram 3 da manhã. Eu estava deitado na cama, observando reflexo da lua que pairava na sacada do meu quarto. Tédio. Nunca havia sentido aquilo durante toda minha vida. Era novidade pra mim. Minha vida sempre fora agitada, sempre eu tinha algo pra fazer. Não dormia, não parava. E lá estava eu, me entregando aos luxos da miséria humana. A que ponto eu havia chegado? Senti nojo de mim mesmo e me levantei da cama. Tomei um banho, procurei algo pra vestir. Vi meu terno. Então uma súbita ideia me ocorreu. Era uma boa noite pra caçar. O vesti. Fui até a sacada e observei lá embaixo: ruas movimentadas e iluminadas (como quase sempre são). “Hora da diversão”, eu pensei. Procurei Korpe no terno, em vão. Um desespero imenso tomou conta de mim. Onde estava minha lâmina? Procurei dentro do guarda roupa, mas também não estava lá. Desgraça. Recorri, então, a outra coisa. Destranquei a porta e sai, pensando onde eu iria numa hora daquela... Então eu me dirigi a um bar qualquer, sentei numa mesa vazia e esperei. Então vi algo que me chamou atenção. Havia uma menina, igual a mim. Sozinha, numa mesa. Ela estava pensativa e parecia que queria se isolar do mundo. Fui até ela. Ao notar minha presença, ela ergueu a cabeça. Seus olhos penetraram em mim. Eram olhos azuis. Azuis como o oceano, de um brilho imenso como o sol. Eu sorri para ela, e ela retribuiu o sorriso. O sorriso dela era, sem duvida alguma, o mais lindo que eu já vira em toda minha vida. Um sorriso sem jeito, tímido. Coberto pelo cabelo liso e castanho que tampava um de seus olhos. Logo procurei afastar todos esses pensamentos bons em relação a ela, atrapalharia o serviço. Então eu resolvi perguntar o que a incomodava tanto. Ela começou a falar. O seu noivo havia falecido naquela noite. Perguntei os motivos, sabia que estava sendo inconveniente, mas não me importava com isso. Ele havia morrido de câncer. Câncer no estomago. Disse que sentia muito, mesmo sabendo que isso não ajudaria em nada. Eu sabia que câncer no estômago era o pior tipo existente, matava a pessoa aos poucos... Então perguntei à ela se estava com sede, e ela negou. Mas, ela disse que seria bom tomar algo. Um sorriso largo apareceu no meu rosto. “É agora.” Disse que iria pegar alguma bebida para ela, e o fiz. Ela assentiu, agradecida. Pedi algo leve ao barman. Não sei por quais motivos, tive pena daquela garota. Ela parecia tão... Ingênua. Tão doce, tão única. Peguei o que substituía Korpe no meu bolso. Era um pó. Um veneno. Causaria um infarto fulminante nela. Dor. Agonia. Peguei o copo já envenenado e voltei a mesa. Ela estava lá, do mesmo jeito. Pequena. Frágil. Senti vontade de abraçá-la. E no mesmo vontade senti vontade de me dar um tiro por esses pensamentos. Eu não era assim. Entreguei o copo e ela agradeceu, com um enorme sorriso no rosto. Me sentei. Então, em questão de momentos, o anjo que estava na minha frente se transformou em demônio. Os olhos dela davam impressão de que iriam saltar do rosto. Sua pele ficou pálida, de uma hora pra outra. Ela colocou a mão na garganta, como se estivesse sendo asfixiada. Eu assisti a vida esvair de seu corpo, e o tédio que estava se esvaindo do meu.

Emanuela Madeira


estou suspenso um milhão de versos cozinhando meu gelo em decreto e na oração fiel imploro pelo adubo dos jasmins retirados dos tubos das chagas

O Homem

Martelou a própria cabeça para ver o que tinha dentro lamentou a tarde inteira por não encontrar o esperado na verdade só tinha mato. E lixo. Um verdadeiro quintal abandonado e as flores, nem uma mais viva.

Prosseguiu a escavação quanto mais amassava seu crânio contra a maciça ferramenta mais sentia que de nada valeria pois nada, era o que ele mais tinha por dentro.

sou dividido pelo contrário das fábulas inscritas nas esquinas um hospício antes de tudo é uma grande cidade: diálogos metálicos e o fantasmagórico sustentáculo ilusório atrás de tuas almas tropicais e a vantagem de embrulhar enigmas à sete chaves

Mas não parou de martelar os vizinhos paravam os afazeres para olhar e ele parecendo um tronco oco quanto mais batia mais desaparecia seu corpo.

vibro no balanço fluído da maré até que todo espaço em ardor atrase meus dias detendo no punho a medida do tempo e dos segredos

E depois de algumas horas tudo que restara era areia que os vizinhos recolheram num pote de azeitonas a enfeitar a sala da dona Cortelo no quintal sobrou o martelo que apelidaram de dúvida.

nunca tive jamais vontade de correr quanto mais aproximo de um sinal asmático a mobília se afunda por fanáticas fantasias em lembranças

Jheferson Neves

é de mim mesmo que estou disperso quanto maior os encontros menor a troca é justa: fujo e de cada voo o forçado pouso que percebo um trajeto sem impulso ocasionalmente atrai um acidente sem repouso

Mazinho


fuga cinematográfica

intervenção

hoje eu

a dizer logo de início / que pandora é felina / sua caixa esfera cintilante / fala de lenda quem / vive nos arredores de lâmpadas aquecidas / pelo brilho que não cabe / na baixa temperatura / um cilíndrico medo perpassando / pela cauda do octógono a dizer / logo de início que redondo é meu ovo / e quanto mais alto o prédio maior / o suicídio mais longa a onda / do grito se propagando metros abaixo / rompendo a barreira do som em um voo / rasante corroído pela névoa dos dias / um pulo de gato desenhado / no ar o vapor das garras / que gritam por um pouco de penas / -- o felino comeria pipoca no parque central -- / e o pombo a dizer / logo de início que para / mirar os olhos de vagina é preciso / se render ao núcleo da esfera em primeira instância / brindo à futilidade dos efeitos efêmeros / distribuindo signos e significâncias / aos pombos felinos esferas e cilindros / e todos perpassam na minha cabeça disforme / equilátera / como num quadro daquele pintor anônimo / e sem lábios.

já fui de mal a priori

por que, deus, por + que eu ore ?

Ícaro

paulomanoel


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