FIASCO
Confesso que não sei onde chutar a bola Quando o adversário me marca. Ainda tenho que aprender o ângulo, a trave, Onde vai a bola e se diz “gol”.
No meu time eu sou o único que não sabe chutar,
Estou sempre com um pé atrás,
Mas errar é fácil, é ainda mais fácil do que fintar o goleiro.
Com uma pulga que me atormenta.
Jogo na zaga ou de gandula,
E inquieto sigo meu destino
Meu negócio são outros quinhentos.
À passadas tortas sem ritmo, Desafino.
Concordo em ficar no banco quando a partida é
Dura, meu coração não suporta grandes emoções.
Desse modo, sem nenhuma aparência Interpreto os sinais
Quando pequeno não jogava com os amigos
Antes que outro os intercepte.
Ficava vendo os cantos da quadra,
Na clareira dos sonhos não estou só.
Reparando nas rachaduras. Pois aqui e agora sei que Tenho medo de coisas mínimas
Não estou,
Não tenho ânimo pra esportes,
Só não estou
Meu negócio são as ranhuras da bola.
Aflito, pois há outros Meios em que eu posso me enfiar Quando a barra pesa.
Estou sempre a um pé de dar pra trás na última hora, Na hora H em que a bomba está prestes a explodir Quando o porrete está a um palmo de dar na cara.
Um poema surte efeito como um analgésico alivia a dor
Assim como a abelha se enche de pólen e por aí vai. Sem pretensão.
Escrevo por prazer mas na prática é mentira,
Desconfio de que em alguma hora as cortinas se abrirão e estarei à beira do abismo – e não será o de teus braços.
Por vezes me presenteio com dúvidas sobre a vida de alguém que não importa quem seja, se parar pra pensar, não vale a tinta da caneta que registra sua certidão de nascimento.
Digo isso pois os fatos me apoiam. Sem nome na praça, o samba que corre aos sábados não te faz vivo. O gatilho apontado no fim da sina é a cena mais linda da semana (e é possível vê-la todas as noites depois das dez).
Uma vez olhei pro lado e reparei em cada pessoa dentro da roda. Não é fácil, os porcos farfalham.
Se fosse fácil, eu não corria os olhos toda vez que um ou outro me olha torto na rua; Não uso a porta da frente, tenho medo de ser bem visto. sempre escapo pela culatra.
Reparo nas pedras que moram no chão, sempre quietas escutando os espasmos da terra.
Bilhões de anos, duas guerras mundiais, bombas e balas perdidas e continuam firmes em seu nicho.
Quando morrer quero ser pedra
me tornar estático, ínfimo espectador do mundo, dar a cara à tapa e não revidar.
Ser visto apenas pelos cães que passam cheirando o lixo, ganhar medalha de honra por resistir as catástrofes naturais e servir de encalço pro que ainda está por vir.