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9. A perenidade do rein o

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P r e fá c io

P r e fá c io

Na noite daquele mesmo dia memorável para judeus e cristãos, Allem by escreveu uma carta para Malla Moe, agradecendo-lhe o fato de ela o haver conduzido a C risto , e c o n ta n d o a ce rca d a q u ele e v e n to tão importante da história mundial. Essa carta deve estar arquivada entre os tesouros da Missão.

Depois da guerra, o general Allemby foi o Diretor da Escola de Guerra do Império Britânico, onde testificava para os seus alunos. Foi ele um instrumento nas mãos de Deus para testificar para outro oficial, que também se tornaria um dos mais famosos soldados da Segunda G ra n d e G u erra, o m a re ch a l M on tg om ery . C om o comandante do Terceiro Exército no Norte da África, M ontgom ery enchia as páginas dos jorn ais com as notícias de seus feitos. Foram os seus soldados que mudaram o rumo da guerra a partir de 25 de outubro de 1942. Montgomery era um cristão nascido de novo, que lia a Bíblia e orava, e que influenciou poderosamente muitos de seus comandados. Mas os demais elos dessa cadeia somente serão conhecidos na eternidade.

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A jovem norueguesa, ateando o fogo divino a homens que fizeram história nos tempos modernos, alterou de fa to o d e s tin o de grandes n a ções, e p ro d u z iu as necessárias condições para o cumprimento de diversas profecias bíblicas acerca de Israel e de outros povos. Ela continuou a viver numa região pouco conhecida do mundo, e, ao falecer, grandes multidões compareceram ao seu sepultamento. Choravam uma amiga, uma fiel missionária, e uma crente viva, que o Senhor havia usado para levar o evangelho tanto a grandes como a pequenos. Como uma agente do reino de Deus, essa humilde serva “ g ov ern ou ” m uito mais do que os poderosos deste mundo.

Napoleão versus Bíblia

Era o ano de 1804, e todo o mundo comentava acerca da ascensão de Napoleão Bonaparte ao Império da França. Previam-se grandes mudanças nos destinos do m u n d o , m u d a n ça s que em p a rte o c o r r e r a m , principalmente devidas a grandes batalhas e a centenas de milhares de mortos e feridos. Waterloo, que visitei em 1983, é uma boa amostragem de como foram as guerras napoleônicas. Cerca de 40 mil homens morreram naquela famosa batalha. Após a grande vitória do Duque de Wellington, os ingleses rasparam o solo encharcado de sangue e com aquela terra construíram o monumento que marcou o fim da expansão francesa.

Mas naquele mesmo ano de 1804 alguns evangélicos de Londres se associaram a fim de traduzir e imprimir a Bíblia Sagrada, nascendo assim a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. O mundo político e social não tomou conhecimento desse fato, nem sequer os meios de comunicação da época.

O fato é que o poderoso império de Napoleão durou muito pouco, enquanto que aquela sociedade bíblica existe até hoje, e já imprimiu a Bíblia em mais de mil e cem línguas! Quem pode avaliar a influência poderosa da Palavra de Deus em milhões de vidas de centenas de povos e nações de todo o mundo?

O próprio Napoleão, quando prisioneiro na ilha de Santa Helena, tornou-se assíduo leitor da Bíblia. Ele deixou marcadas, especialmente no Novo Testamento, as passagens que mais falaram ao seu coração. Nas palavras dele dirigidas ao general Bertrand podemos perceber a poderosa influência da Bíblia na vida do grande imperador:

Sim, nossa vida fulgiu uma vez, com toda a beleza, com todo o esplendor da coroa e do trono... Mas sobrevieram desastres... O ouro, pouco a pouco se obscureceu... O reino do infortúnio apagou todo o esplendor. Somos, agora, simples chumbo, General Bertrand, e em breve estarei no meu sepulcro. Tal é a sorte dos grandes homens...

Nossas proezas são tarefas dadas aos pupilos, pelo seu Tutor, que se assenta em juízo sobre nós, dispensado-nos censura ou louvor... Morro antes do tempo; o meu corpo morto deve voltar à terra para se tornar alimento dos vermes. Eis o próximo d estin o daquele que foi cham ado o g ra n d e Napoleão. Que abismo entre a minha profunda miséria e o reino eterno de Cristo, proclamado, amado, adorado, e que se estende por toda a Terra. E isto morrer ? Não, é antes viver!(33)

O reino de Deus crescerá sempre

Segundo profetizou Isaías, o reino de Deus é o único que crescerá sempre: “ O seu reino sempre crescerá e viverá em completa paz” (9:7, A Bíblia Viva). O profeta, evidentemente, fala do reinado milenial do Messias, mas já em nosso tempo presente o reino de Deus está sempre a crescer, segundo o que o próprio Senhor Jesus disse: E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações. Então virá o fim ” (Mateus 14:14).

A grande importância do reino de Deus está em que ele precede e sucede a era da igreja, e “ inclui todos os seres m o ra is e in t e lig e n t e s que se su je ita m voluntariamente a Deus, sejam anjos, igreja, ou os santos

de dispensações passadas e futuras (v. 27); e que Deus, o Pai, de um m od o m a ra v ilh o so aos n osso s o lh o s, inauguraria um novo dia” .(34)

Foi esse reino que João Batista, Jesus e seus discípulos anunciaram, e que chegou à terra através da igreja. Ele veio em sua forma progressiva, e assim tem avançado através dos séculos passados e continuará avançando até a sua consumação, que ocorrerá no final do milênio, quando Cristo terá posto todos os seus inimigos debaixo de seus pés, e então entregará o reino ao seu Pai.

Quando Jesus disse aos líderes religiosos israelitas que o reino de Deus seria tirado deles e entregue a uma nação que desse os seus frutos, ele se referia à igreja (1 Pedro 2:9). E interessante notar que Jesus usou o verbo no futuro, pois àquele tempo a era da igreja ainda estava no futuro. Essa era chegou com a rejeição final do Messias, que marcou o fim de uma dispensação e o início de outra. Pedro, ao falar da igreja como partícipe do reino de Deus, usou o verbo no presente: “Vós sois a geração e le ita , o s a c e r d ó c io rea l, a n a çã o san ta, o p o v o adquirido...” (1 Pedro 2:9).

A profecia messiânica do Salmo 118, citada por Pedro em sua primeira carta, diz que o Salvador, como a pedra angular, seria rejeitado pelos edificadores, os judeus (v. 22); que Jesus, como a Luz do mundo, morreria como a vítima da festa, atada às pontas do altar, o que aponta para a cruz (v. 27), e finalmente, com a rejeição do Messias por parte de Israel, Deus Pai inauguraria o dia da graça, no qual nos regozijaríamos e alegraríamos (v. 24).

Mas a presença do reino de Deus hoje no mundo, através da igreja, não ocorre em sentido pleno, mas restrito. Por isso Jesus afirmou que “ o reino de Deus

não vem com aparência visível” (Lucas 17:20). Embora ainda restrito em sua abrangência, são bem visíveis os p o d e r o s o s sin a is desse r e in o na c o n v e r s ã o e transformação de vidas, e nos milagres de cura dos enfermos, de libertação dos oprimidos do diabo, e na ressurreição dos mortos. E interessante observar que quando Filipe pregava o evangelho aos samaritanos, as multidões “ ouviam e viam os sinais que ele fazia. Os espíritos im undos saíam de muitos que os tinham, clamando em alta voz, e muitos paralíticos e coxos eram curados. Havia grande alegria naquela cidade” (Atos 8:6- 8). O reino de Deus, portanto, está sempre acompanhado das manifestações do poder ativo de Deus no coração e no corpo do homem.

A perenidade do reino de Deus não poderia ser melhor expressa do que neste texto: “Ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória, majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre. Amém “ (Judas 25). A glória, a majestade, o domínio e o poder do reino de Deus é “antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre” . Comparando Mateus 6:13 com 1 Coríntios 15:25, percebemos que o poder e a glória são o poder e a glória do reino, e que não apenas o pai reina, mas também o Filho, “ pois convém que ele reine até que...” , e não quando.

E claro que Deus reina hoje, como sempre reinou desde a eternidade passada, e seu reinado é pleno. Jesus não disse: “ Teu será o reino” , mas: “ Teu é o reino” (Mateus 6:13). Deus nunca abdicou. Ele reina hoje em todo o universo, e sua vontade é feita de um modo pleno por todos os seres que se submetem a ele, inclusive os que, pelo novo nascimento, entram nesse reino. O reino de Deus, portanto, está no coração do crente, e este tem

ciência disso pela presença nele do Espírito Santo, e pelo testemunho que este dá (Romanos 8:16; 1 João 5:10).

Concluo este capítulo com Apocalipse 1:9, que afirma: “ Eu, João, irmão vosso e companheiro convosco na aflição, no reino e na perseverança em Jesus.. Notem o “ rein o” estrategicamente colocado entre a “ aflição” e a “ perseverança” , como o fiel da balança a manter o perfeito equilíbrio da vida. Quando o reino de Deus está ocupando o seu lugar devido em nossa vida, ou seja, o centro, então podemos suportar as aflições deste tempo presente, e podemos perseverar em nossa caminhada de fé.

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A plenitude do reino

INTERESSANTE OBSERVAR QUE Jesus fala do reino em Mateus 6:33 como uma ordem, e em João 14:6 a referência é à sua pessoa. Lemos que, no início de seu ministério, “ percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando todos os tipos de doenças e enfermidades entre o povo” (Mateus 4:23), e mais adiante, no mesmo evangelho, vemos Jesus convidando: “ V in d e a m im t o d o s os que e s ta is ca n s a d o s e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (11:28-39). Como conciliar estas passagens? Seria o reino de Deus a um só tempo uma ordem e uma pessoa? Ordem aqui tem o sentido de hierarquia, confraria, companhia, e classe de pessoas.

A resposta é sim. Jesus considerou o reino e a sua pessoa como coisas sinônimas.

O reino de Deus é, prim eiram ente, uma ordem. Quando Jesus disse aos judeus que o reino de Deus lhes seria tirado, e seria dado a uma nação que produzisse os necessários frutos, ele estava falando de uma ordem so-

ciai. Embora Israel não fosse a plenitude do reino de Deus, era um agrupamento social que tinha a posse do reino. O reino estava em Israel, mas, pelo fato de essa nação haver rejeitado o seu rei, dizendo: “ Não queremos que este reine sobre nós” (Lucas 19:14), esse mesmo reino lhes foi tirado e dado a outra nação, a igreja, que continua sendo uma ordem, ou agência do reino na terra. Veja Mateus 21:43 e Lucas 22:29.

Poucos expositores da Palavra de Deus entenderam tão bem essa verdade como Stanley Jones. Escreveu ele:

O Cam inho, então, é im p essoa l — uma Ordem. E é pessoal -— uma Pessoa. Se fosse só impessoal, não nos satisfaria. Posso ser fiel a uma Ordem, mas não posso amá-la; só posso amar a uma Pessoa. Mas, se o Caminho fosse só Pessoa, daí a religião se reduziria a relações pessoais com essa P essoa - co isa boa, mas não de todo suficiente. Daí, ã religião faltariam significados concretos e totais. Mas, sendo a um tempo Ordem e Pessoa, combinadas num todo vivo, satisfaz à necessidade que sentimos de intimidade — do Pessoal — ao remate — da Ordem. Isto faz com que a religião seja, p or sua própria natureza, e a um só tempo, coisa individual e social; porque, relacionando-nos com a Pessoa, passamos a nos relacionar com a nova Ordem corporificada na Pessoa. E tal Ordem é inteiramente totalitária. (35)

Assim como um reino não está completo sem um rei, assim também um corpo não está completo sem a cabeça. “ Pregar a Jesus Cristo crucificado e ressuscitado, e pregar o reino de Deus são uma só e a mesma coisa, uma

vez que é pela sua morte e ressurreição que Jesus veio a ser Senhor, sendo ademais a fé no seu nome a que merece o perdão dos pecados e a admissão no reino” .(36)

A igreja, portanto, sujeita ao reino de Cristo, confessa e proclama a realeza de seu cabeça, e anuncia o reino como a bem-aventurada esperança tanto dela própria como de todo o mundo, até ao tempo ainda futuro em que uma forte voz bradará do céu: “Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo” (Apocalipse 12:10).

Enquanto esse tempo vindouro não chega, é dever da igreja, hoje, envolver-se tanto no plano individual como coletivo, ou seja, tanto no sentido pessoal quanto social. Nossa comunhão é com Cristo e com o reino, o que implica um duplo relacionamento, com Jesus e com a igreja.

Mas a igreja não é um simples corpo no sentido soc ia l, ou um a a g ê n cia fila n t r ó p ic a v o lta d a primordialmente para as necessidades materiais de seus membros ou da coletividade em que atua. A esse respeito b em a d v e rte S e n a r c le n s , p r o fe s s o r de T e o lo g ia Dogmática da Universidade de Genebra:

O conceito de corpo parece ter dado origem a certas interpretações lamentáveis. Quando usado em relação à Igreja, não pretende denotar sua estru tu ra s o c io ló g ic a , e sim o fa to de sua existência na pessoa de Cristo, cuja realidade se expressa na igreja da mesma maneira como nosso corpo exprime os impulsos de nossa alma. Trata-se, pois, meramente de um epíteto ligado ao nome de Cristo, uma forma de sua existência, parte de sua essência. Não se deve concluir daí

que a igreja não seja visível ou humana. Todavia, na sua humanidade a igreja é expressão da vida, obra e presença de Cristo. (37)

Esse reino não pode vir ao mundo a não ser através do indivíduo, pois somente quando as pessoas aceitam o reino de maneira pessoal é a sociedade aos poucos transformada para melhor, sem, contudo, tornar-se o reino de Deus. O reino não pode ser confundido com o progresso social.

Caminho, verdade e vida

O reino de Deus encontra outros sinônimos no Novo Testamento, como caminho (Atos 16:17; 18:26; 19:9; 22:4, etc.), verdade (João 8:32) e vida (Marcos 9:43-47), que correspondem ao que o próprio Jesus diz ser em João 14:6.

Ao apresentar-se como caminho, verdade e vida, Jesus afirmou ser ele o supremo padrão da vida para todos os povos e em todas as épocas.

Encontramos passagens nas Escrituras acerca do “ caminho que conduz para a vida” (Mateus 7:14); do “ caminho para o Santo dos Santos” (Hebreus 9:8); do “ novo e vivo caminho” (Hebreus 10:20); do “ caminho da verdade” ; do “ caminho direito” , e do “ caminho da ju stiça ” (2 Pedro 2:2, 15, 21), mas o Caminho, sem nenhum qualificativo, com o apontando para Jesus, abrange e supera a todos os outros.

Ao proferir tais palavras acerca de si mesmo, Jesus reuniu em sua pessoa todo o plano de Deus para a salvação da criatura humana. Todas as prom essas bíblicas, desde os livros de Moisés, onde o Messias é

apresentado como a semente da mulher e o cordeiro substituto de Isaque e dos sacrifícios pelo pecado, passando pelos Salmos e pelos profetas, em que o vemos como o servo sofredor, o Desejado de todas as nações ou o Sol da justiça, etc., Jesus Cristo encarnou em si mesmo todas as figuras do Antigo Testamento ao apresentar-se como o caminho, a verdade e a vida.

C om o o ca m in h o , no singular, J e s u s e x c lu i a possibilidade de existir qualquer outro meio do homem encontrar-se com Deus para ser salvo. Por melhores que pareçam ser os recursos de que dispõem as religiões do mundo, mesmo as que pregam o amor, a caridade e a fraternidade, elas não podem jamais conduzir uma só criatura humana à salvação, uma vez que só existe um caminho para Deus. Muitas religiões humanas, mesmo algumas que se dizem cristãs, não passam de escuros la b ir in t o s nos q u a is os h o m en s se p e rd e m . As penitenciárias e casas correcionais estão cheias de criminosos que sempre foram bons religiosos. Lampião, A n tôn io Silvino e outros cangaceiros, com os seus seguidores, se diziam religiosos e gozavam até da proteção de certos bispos.

As palavras de Jesus eliminam também da salvação e t e r n a os que a p en a s a ceita m t e o r ic a m e n t e o ensinamento da Bíblia. Estar no caminho é muito mais do que simplesmente ser religioso, pois implica em estar em Cristo, vivendo a vida dele e tendo os m esmos sentimentos dele, como afirma São Paulo: “Já estou crucificado com Cristo, e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em m im ” (Gálatas 2:20).

A segunda experiência do crente, depois de achar-se no caminho, é possuir a bendita certeza de estar na verdade. Agora tem ele o testemunho do Espírito Santo,

que testifica com o seu espírito de que é um filho de Deus (Romanos 8:16). Ele sabe que fora de Cristo só existem mentiras.

A revelação da verdade no coracão do crente encheO -5 lhe de profunda alegria, que o impulsiona a anunciar aos outros as verdades eternas do Evangelho.

F in a lm e n te, o Filh o de Deus diz ser a vida, a verdadeira fonte da vida eterna. Já antes ele havia dito: “ E não quereis vir a mim para terdes vida... eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (João 5:40; 10:10). Sentindo-se no caminho e tendo a bendida certeza de que está na verdade, o crente descobre em Cristo um glorioso rio de vida abundante, que jamais se esgota. Percebe que pode abeberar-se à vontade nessa sanadora fonte, e que sua vida realmente adquire significado. Pode dizer, então, como disse um jovem recém-convertido do comunismo para a fé cristã: “ O cristianismo é uma vida para se viver aqui na terra, e a única vida para a qual vale a pena viver” .

Mas, por outro lado, se caminho dá-nos a idéia de caminhada, de ação, a verdade apela para o nosso intelecto. E vida, por sua vez, é aquela plenitude que dá sentido tanto às nossas ações como ao nosso intelecto.

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