24 minute read

5. Os súditos do r e i n o

àprofecia de Zacarias: “ O teu rei vira a ti, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, filho de jum enta” (Mateus 21:5; Zacarias 9:9).

Jesus exemplificou aqui na terra o tipo de mansidão que requer de todos os que ingressam no seu reino. Longe de tentar estabelecer um reino político através da força, como tantos outros o fizeram antes dele, Jesus viveu entre nós um a vida de serviço sa crificia l e humilde, tanto para Deus como para todos os seres humanos.

Advertisement

Um dos maiores mestres da Bíblia escreveu acerca da humildade:

O ensino do Novo Testamento é que devemos ser suplicantes e não auto-suficientes. Este fato é um g r a n d e c h o q u e p a r a a v a id a d e contemporânea. Exatamente p o r esta razão é que eu me convenço de sua veracidade. Pode uma profunda, consciência de Deus su rgir ou ser imposta a conceitos auto-suficientes ? A essência do divino é a humildade. O primeiro passo para encontrar a Deus é destruir nosso orgulho, darlhe um tiro mortal para que, humilhados até o pó, sejamos exaltados até às alturas; tão tocados que rompamos num cântico; tão submissos que sejamos cônscios de nós mesmos. A fonte de nossa vida, espiritual será, daí p or diante, gratidão, exaltada g ra tid ã o porqu e, não tendo nada, possuímos tudo”.{w)

A h u m ild a d e , ou m a n sid ã o , é, p o r t a n t o , a característica dos que vão herdar a terra e ter, aqui, abundância de paz (Salmo 37:11). Todas as coisas que

realmente dão satisfação genuína e duradoura estão destinadas aos mansos, os únicos que de fato podem gozar a vida.

Os que têm fome e sede de justiça

Milhões de pessoas que hoje vivem no mundo jamais sofreram a amarga experiência da fome e da sede. Por isso não lhes é fácil entender o verdadeiro significado das palavras de Jesus. Mas no mundo antigo, em virtude de guerras e secas prolongadas, uma parcela muito grande da população vivia contentemente à beira dessas tr a g é d ia s , às v e z e s fu g in d o de p e r s e g u iç ã o ou atravessando longos desertos sem a devida provisão do precioso líquido.

Jesus sabia que, mediante tais figuras vividas, seus ouvintes avaliariam corretamente o anseio pela justiça que todo filho do reino deve ter, pois ele fala, não da fome e sede físicas, mas da espiritual. Os filhos de Coré, no Salmo 42:1-2, usam a sede com o figura de seu profundo anseio espiritual: “ Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo.”

Mas o que é a justiça? Frei Heitor Pinto escreveu um interessante poema à justiça, que diz:

O Justiça, guia da nossa vida, que seria do mundo sem ti?! Tu és inventora das leis; mestra dos bons costumes; tu alevantas as virtudes e abates os vícios. Tu és a inim iga da azeda d is c ó r d ia e con serv a d o ra da doce p a z. Tu espantas os maus e asseguras os bons. Sem ti, a ordem é desordem, a vida é morte, o descanso é

trabalho, a glória é infâmia, o bem é mal. Tu destruíste a confusão egeraste a boa governança. Tu livras os inocentes e condenas os culpados. Tu alegras os ju stos tristes e entristeces os justos a le g r e s , p a r a que d eix a d a s as su a s vãs e temporais alegrias, alcancem os verdadeiros e eternos contentamentos. Finalmente, tu és aquela gloriosa escada de Jacó, que com uma ponta estava na terra e com a outra tocava no céu, pela qual subiam uns e outros desciam: porque tu alevantas os justos e santos até os altos céus, e derribas os ímpios e danados até os profundos dos abismos. (21)

Que bom seria se a justiça cumprisse com rigor o seu importante papel na sociedade! Entretanto, quantas pessoas não têm sido vítimas da corrupção justamente da parte daqueles que têm o dever de fazer justiça! Um brasileiro no exterior, ao ser perguntado como ia o Brasil, respondeu ironicamente que ia muito bem, pois “ cinco por cento da população não tinha de que se queixar, e noventa e cinco por cento não tinha a quem se queixar” . Ele falava da impunidade dos poucos que se enriquecem à custa do desamparo de muitos.

No presente contexto do sermão do monte j ustiça vem a ser aquelas co n d içõ e s sociais e esp iritu a is que prevalecerão em nosso mundo por ocasião do reino milenial de Cristo, quando a vontade de Deus será feita na terra como agora é ela feita no céu. A promessa de Cristo é que Deus satisfará plenamente a todos aqueles que, como os filhos de Coré, todos os dias suspiram pela oportunidade de viver em plena harmonia com a vontade divina.

Jesus se serve, aqui, da figura de um banquete espiritual em que famintos e sedentos encontram farta satisfação para as suas mais profundas necessidades. “ O Senhor dos E xércitos preparará neste m onte a todos os povos uma festa com animais gordos, uma festa com vinhos puros, com coisas g ordurosas, e v in h os velhos, bem p u rifica d o s” (Isaías 2 5 :6 ). No ú ltim o livro da Bíblia, afirm a Jesus: “ Q uem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. A o que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual n in g u é m c o n h e c e s e n ã o a q u e le que o r e c e b e ” (Apocalipse 2:17).

Um grande homem de Deus observou que “ nunca conseguimos obter o suficiente daquilo que na verdade não queremos. Fomos criados para Deus e nada, exceto sua presença, nos satisfaz” .(22)

Portanto, a ju stiça pela qual os servos de Deus suspiram é muito superior a todo o tipo de justiça terrena, e inclui a consumação final da obra redentora de Jesus no Calvário, o que se dará por ocasião de sua volta em triunfo para reinar aqui na terra.

Os súditos do reino de Deus, vivendo ainda na carne, anseiam pelo momento ainda futuro da ressurreição dos que dormiram em Cristo, ou da transformação dos cristãos vivos, por ocasião do arrebatamento. Somente então se cumprirá o que Paulo escreveu: “ Pelo que Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelh o dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Cristo Jesus é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2 : 10- 11).

Os misericordiosos

A misericórdia é outra característica dos súditos do reino de Deus (M ateus 5:7-8). A palavra sign ifica compaixão despertada pela miséria alheia, e perdão.

No Novo Testamento o termo significa “ bondade” , e a ele e stã o a s s o c ia d a s e x p r e s s õ e s co m o “ a m o r persistente” e “ cheios de compaixão” , evidentemente compaixão pelos que estão perdidos, e sofrem. Dentro do contexto bíblico, a misericórdia praticada pelos súditos do rein o não é sim p lesm en te o fru to de em o çõ es passageiras ou de um a filantropia interesseira, tão comuns nas religiões de mercado, baseadas na salvação pelas obras. Os bem-aventurados misericordiosos são aquelas pessoas fiéis a um relacionamento de aliança, que p ra tica m a m is e r ic ó r d ia com u m a b o n d a d e intencional.

A vida humana de milhões, nos dias de Jesus, não passava de verdadeira tragédia, tanto na Palestina como na m aioria das outras nações. Eram espantosas a crueldade e a brutalidade infligidas pelas pessoas livres às multidões escravizadas. Em Roma, por exemplo, os escravos viviam à mercê do capricho de seus senhores, na maioria das vezes cruéis, que tinham pleno direito de tirar-lhes a vida quando bem o quisessem. “ De um tal Pólio, cavaleiro do tempo de Augusto, consta que foi censurado por atirar os escravos vivos ao seu lago para sustentar lampreias, que depois se aprazia em saborear na sua mesa!” (23) Atribui-se a Aristóteles a expressão: “ O escravo é um utensílio com vida, e um utensílio é um escravo sem vida” .

Foi nesse contexto que Jesus veio ao mundo, como bem escreveu Rui na sua célebre Prece de Natal:

“ Enquanto César cuidava do império, e Roma do mundo, assomavas Tu ao canto de uma província e na vileza de um estábulo, sem que Roma, nem o império, nem César Te percebessem, para ficar à posteridade a lição indelével de que a política ignora sempre os seus mais formidáveis interesses” .

Jesus exemplificou essa compaixão em seu ministério. Mateus afirma, para citarmos apenas esse evangelista: “Vendo ele as multidões, tinha grande compaixão delas, porque andavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (9:36). “ Saindo Jesus, viu uma grande multidão, e, possuído de grande compaixão para com ela, curou os seus enfermos” (14:14). E mais adiante: “Jesus chamou os discípulos e lhes disse: Tenho compaixão da multidão... Movido de compaixão, Jesus tocou-lhes os olhos. Imediatamente recuperaram a vista, e o seguiram” (15:32; 20:34).

Os misericordiosos, portanto, são aqueles que, como J e su s, m o str a m m is e r ic ó r d ia aos fr a c o s , aos desamparados, aos pequeninos, possuindo assim “ o m esm o s e n tim e n to que h ou v e em C risto J e s u s ” (Filipenses 2:5).

Mas misericórdia é palavra sinônima de perdão. Os c a v a le ir o s da a n tig u id a d e davam o n o m e de “ Misericórdia” ao punhal que traziam à sua direita, com o qual matavam o adversário derribado, se este não pedisse misericórdia.

A B íblia afirm a que aos m is e r ic o r d io s o s Deus mostrará misericórdia. Essa reciprocidade está presente na oração do Pai Nosso, em que Jesus en fa tiza a necessidade de perdoar para ser perdoado: “ Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mateus 6:12). O verdadeiro súdito do reino

de Deus, portanto, é aquela pessoa incapaz de guardar mágoas ou ressentimentos contra quem quer que seja. Ele m antém sempre uma atitude perdoadora. Um experiente conselheiro sugere diversos passos para quem deseja de fato perdoar, sendo este um deles:

Mesmo quando cheio do pod er do Espírito S a n to, a p e s s o a deve to m a r uma d e c is ã o consciente de perdoar aquele que pecou contra ela. Veja, mesmo depois de nos tornarmos crentes, Deus nunca remove nosso livre arbítrio. Nós sempre temos a oportunidade e responsabilidade de escolher o que faremos. Deus não nos fará perdoar, mas ele nos ajudará a perdoar, se nossa escolha for obedecê-lo. Davi escreveu: “ Venha a tua mão so c o r r e r -m e , p o is e s c o lh i os teus preceitos ” (Salmo 119:173). Quando tomamos a decisão consciente de perdoar aos outros, Deus nos ajuda. (24)

Apiano, no primeiro volume do seu livro Maravilhas do Egito, narra surpreendente caso testemunhado por ele próprio na cidade de Roma, nos dias de Caio César.

No grande circo exibia-se ao povo um combate em grande escala com as feras. Foi introduzido o escravo de um cruel ex-cônsul da África do Norte. O nome do escravo era Androcles. Ao vêlo à distância, diz Apiano, o leão estacou como que s u r p r e e n d id o , d e p o is a p r o x im o u -s e vagarosamente do homem, e, tranqüilamente co m e ç o u a la m b e r -lh e os p é s e as m ãos. Androcles, ao passo que se submetia às carícias

de um animal tão feroz, readquiriu a perdida coragem e, aos poucos, volveu os olhos para o leão. Então, diz Apiano, ainda o homem e o leão trocaram efusivas saudações, como quem se reconhecia um ao outro. Sendo isso deveras pasm oso, o p ovo rom peu em altos g rito s de aclamações. Caio César chamou Androcles a si, e indagou a razão daquela cena.

Foi então que Androcles relatou a estranha e surpreendente história. Disse ele que, havendo fugido de seu cruel Senhor, escondera-se numa caverna em deserto solitário. Nessa caverna entrou, depois de algum tempo, um leão com uma pata ferida, a sangrar, dando a conhecer p or seus gemidos, a torturante dor que sentia. A princípio, Androcles ficou atemorizado, mas o leão ergueu a pata para ele, que viu uma enorme lasca de m adeira enterrada na sola de seu pé. Com cuidado, removeu-a, então, tratando a ferida o melhor que pôde. O leão deitou-se para repousar. A n os depois é que os dois se en con tra ra m novamente nesse fam oso dia no circo. Como Androcles fora misericordioso para com o leão, alcançou agora misericórdia também”.(25)

Ninguém perdoou mais do que Deus e do que Jesus. A Bíblia está cheia de expressões que falam do amor perdoador de Deus, e o Salmo 136 é bom exemplo, ao afirmar vinte e seis vezes que “ o seu amor dura para sempre” . Noutro Salmo, lemos que “ Quanto está longe o oriente do ocidente, assim [o Senhor] afasta de nós as nossas transgressões” (Salmo 103:12). Note que não se trata da distância entre o norte e o sul, que é finita, mas

entre o oriente e o ocidente, que é infinita. Se pudéssemos tom ar um avião rumo ao norte, em dado m om ento alcançaríamos o nosso alvo; mas se esse alvo é o oriente ou o ocidente, então nunca o alcançaríamos.

E assim que devemos perdoar. Gamaliel de Jabné, famoso rabino do primeiro século, dizia: “ Enquanto você f o r m is e r ic o r d io s o , o M is e r ic o r d io s o lh e será misericordioso” .(26) O perdão de Deus está condicionado ao perdão com que perdoamos aos outros. Jesus deixou essa verdade bem clara quando disse: “ Pois se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Porém se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial não perdoará as vossas” (Mateus 6:14-15).

Kay Arthur afirma que “ deixar de perdoar vai co n tra tod o o evan gelho da salvação, que lhe traz o perdão dos pecados, das suas dívidas, outorgado por um Deus santo. R ecu sar-se a perdoar é negar ou esqu ecer o con teú do da salvação. E o m esmo que dizer: ‘ Deus o perdoará, mas eu não. O seu pecado, com panheiro, é grande dem ais!’ ” (27)

P orta n to, todos os que v erdadeiram en te foram perdoados por Deus, não fazem outra coisa senão perdoar.

Os puros de coração

Em bora a pureza sexual esteja presente aqui, a expressão puros de coração é mais abrangente e inclui a retidão e a inteireza ou sobriedade. Trata-se portanto, de pessoas que não têm o eu dividido, mas unido e harmônico.

Tiago considera sinônimas as expressões duplo ânimo

e coração impuro, quando afirma: “Vós, de duplo ânimo, purificai os corações” (Tiago 4:8).

A bem-aventurança dos puros de coração é que verão a Deus. A Bíblia diz que essa será a maior bênção que um ser humano possa receber, uma vez que ninguém jamais viu a Deus (João 1:18), pelo fato de Deus habitar na luz inacessível (1 Timóteo 6:16).

A promessa de Apocalipse 22:4, de que os salvos verão a D eu s, te rá o seu c u m p r im e n to p le n o q u a n d o recebermos o nosso novo corpo, pela ressurreição ou pela transformação, por ocasião do regresso do Senhor Jesus. Enquanto esse glorioso dia não chega, podemos ter uma visão mais profun da de Deus mesmo neste tem po presente, através de uma comunhão mais íntima com ele.

Os pacificadores

A virtude da pacificação torna os que a possuem em filhos de Deus. Sendo Deus um Deus de paz, que pelo sangue de seu próprio Filho fez a paz entre nós e ele, quando reconciliamos as pessoas umas com as outras, fazendo isso de todo o coração, então herdamos de nosso Pai celestial essa virtude dele. Um pastor evangélico de gênio extremamente agressivo tentava justificar as suas atitudes belicosas junto a outro pastor, dizendo que herdara de seu pai aquele temperamento. O colega retrucou que, como cristãos, todos nós temos um novo pai, o Pai Celestial, de quem nos tornamos herdeiros.

Davi nos diz que devemos procurar a paz e segui-la (Salmo 34:14), e o autor de Hebreus nos manda seguir a paz com todos (Hebreus 12:14). Lincoln, o presidente dos Estados Unidos da América ao tempo em que aquela

nação viveu a sua maior crise social — a guerra civil — agiu como perfeito pacificador, jamais tomando partido entre os estados do Norte e os do Sul, e essa atitude foi d e c is iv a p a ra a p a c ific a ç ã o do p ó s -g u e r r a e o fortalecimento de toda a nação.

Em seu propósito de sempre buscar a paz com todos, L in c o ln c o n s e g u iu t o r n a r -s e am igo de um f o r t e adversário político, provocando críticas de alguns amigos. Sua resposta foi: “ Não é nosso dever acabar com os nossos inimigos? Eu acabei com um deles, fazendo dele um amigo” . Não é sem motivo que os norte-americanos, e tantos outros povos, não conseguem esquecer-se de Lincoln, o Pacificador.

Os que sofrem perseguição

Esta bem-aventurança destina-se somente àqueles que são perseguidos “ por causa da justiça” , ou seja, que sofrem pelo fato de perseverarem na prática da fé cristã, afastando-se do pecado e de todo o tipo de corrupção.

Especialmente quando um fiel servo de Deus assume um cargo de influência em uma empresa ou um mandato público, onde a corrupção existe, e esse crente rejeita participar de manobras ou negociatas desonestas, é certo que a perseguição virá de muitas formas.

A sociedade em geral tem a tendência de perseguir e afastar de seu meio tanto os que descem abaixo do nível moral dela quanto aos que se elevam acima dela. Por isso estão nos presídios os criminosos comuns, que matam, estupram, assaltam e roubam. Mas também são banidos do meio social os que se elevam acima da média, com o tem acontecido com tantos, dentre eles João Bunyan, que passou 20 anos encarcerado sem nunca ter

sido julgado, somente porque desejava viver o evangelho com o Jesus viveu. É como o próprio Jesus afirmou: “ Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas” (João 3:20, NVI).

Um cristão verdadeiramente honesto incomoda muito os que vivem na prática da desonestidade, que tudo fazem para se livrar dele. “ Todos os que desejam viver piamente em Cristo padecerão perseguições” (2 Timóteo 3:12), afirma o apóstolo Paulo. Sei de crentes que perderam bom emprego público por se recusarem a participar de negócios escusos que envolviam até mesmo os seus coniventes superiores.

Jesus diz que o reino dos céus pertence a essas pessoas perseguidas. Não somente estão elas dentro do reino; este lhes pertence, é delas.

6

A prioridade do reino

( ^ 7 7 BÍBLIA COMEÇA COM Deus. “ No princípio y ^ ^ D e u s ...” lemos no primeiro versículo de Gênesis, S jC que é o livro dos começos. A mesma verdade encontramos no primeiro versículo do Evangelho de João: “ No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” .

A o lo n g o das p á g in a s da E s c r it u r a S a g ra d a encontramos muitos conceitos de Deus, mas eu gostaria de destacar a apresentação que Jeremias faz do Deus de Israel, quando o compara aos ídolos: “Mas o Senhor Deus é o verdadeiro Deus; ele mesmo é o Deus vivo, o Rei e t e r n o ” (10:10a). Vejamos o que sign ificam essas expressões:

Senhor Deus, que é a tradução de Jeová, é o título por excelência que a Bíblia atribui ao Criador. Deus mesmo adotou esse nome e o deu a Israel a fim de exprimir o mistério de seu ser. Jeová, ou Iavé, significa existência e te rn a . Os is r a e lita s , p o r r e v e r ê n c ia , e v ita v a m pronunciar esse nome.

Verdadeiro Deus indica a realidade essencial do Criador em contraste com a vaidade, ou a vacuidade dos ídolos. Esta expressão indica, também, a unidade de Deus, que vem a ser o primeiro de todos os seus atributos

naturais. Deus é um. Não há respaldo bíblico, portanto, para o dualismo, que é a crença em duas divindades antagônicas e eternas, uma do bem e a outra do mal, e muito m enos para o politeísm o, que é a crença na pluralidade de deuses.

Deus vivo, por sua vez, indica que o Senhor Deus é o único que possui vida própria, que existe por si mesmo, coisa que nenhuma criatura possui. Todas as coisas criadas vivem nele, como afirma o apóstolo Paulo: “ Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17:28a).

Rei eterno. Este último título que Jeremias dá ao Senhor Deus no versículo que vimos revela o contraste entre o verdadeiro Deus e todos os demais objetos de culto, que são por natureza temporais. Deus reina, e o seu reino é eterno, isto é, existiu no eterno passado, existe no presente, e existirá no futuro, sem fim.

A s coisas de Deus são prioritárias

O Antigo Testamento mostra como Deus sempre exigiu para ele as primeiras coisas. “ O primogênito de teus filhos me darás. Assim farás com os teus bois e com as tuas ovelhas” (Êxodo 22:29). “As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à casa do Senhor teu Deus” (Êxodo 34:26). “A eles darás também as primícias do cereal, do vinho e do azeite, e as primícias da tosquia das ovelhas” (Deuteronômio 18:4).

A verdadeira razão por que tantos cren tes não conseguem entregar ao Senhor o dízimo de suas rendas é porque eles não buscam em primeiro lugar o reino de Deus. Essa inversão de valores gera tremendos conflitos espirituais na vida do cristão, e tem sido a causa da m aioria dos seus problem as fin an ceiros, m orais e

espirituais. Como cristãos, devemos ter somente um problema: buscar em primeiro lugar o reino de Deus. Se esse não for o nosso único problema, então só teremos problemas.

O rei Davi, talvez uma das pessoas mais ocupadas de seu tempo, percebeu essa verdade quando escreveu: “Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e aprender no seu templo” (Salmo 27:4). Em meio a inúmeras necessidades, Davi sabia que a principal delas era buscar a presença de Deus e aprender dele. Tudo o mais era secundário.

No maravilhoso sermão do monte Jesus exortou aos seus ouvintes a que não se preocupassem com os aspectos secundários da nossa vida, como roupa, alimento e abrigo, e concluiu com a expressão: “ Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Lucas 12:31). Mateus Hoepers traduz assim o texto paralelo de Mateus 6:33: “ Buscai, pois, em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas de quebra” . Foi precisamente isso o que Jesus quis dizer. O reino de Deus satisfaz tão plenamente que as coisa s que nós co n sid e ra m o s de p rim eira necessidade na verdade são dispensáveis, mas Deus no- las dá de quebra.

O apóstolo Paulo viveu essa experiência de achar-se completo em Deus, ao dizer: “ Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). Ele podia viver tanto na abundância como na penúria; em tudo estava in struído. A graça de Deus lhe bastava (2 C orín tios 12:9). O utros hom ens de Deus tam bém disseram o mesmo, como Davi, no Salmo 23: “ O Senhor é o meu pastor; eu não desejo nada” (Tradução do Rei

Tiago). Por que Davi não desejava nada? Porque o Senhor lhe bastava, sendo a porção dele e a verdadeira fonte de alegria e de todo o significado para a sua vida, como afirma também em outros salmos (Salmo 16:5; 142:5). Asafe e Jerem ias também disseram a mesma coisa (Salmo 73:26; Lamentações 3:24).

No caso de Jeremias, suas palavras foram registradas em um tem p o de calam idades para a sua nação: Jerusalém destruída, o templo queimado, o povo levado para o cativeiro babilônico, o sacerdócio e o sacrifício contínuo interrompidos. Para a maioria das pessoas acabara-se tudo, mas não para o profeta, que não dependia de nada de fora para a sua vida, pois o Senhor era a sua porção para sempre. Ele tinha um mundo especial só para ele, o reino de Deus, bem dentro dele.

Conta-se que um novo convertido, depois de ouvir um serm ão sobre o fim do m undo, procu rou o pastor Emerson e perguntou-lhe se era verdade que o — mundo ia acabar. A resposta do homem de Deus foi: “ E verdade, sim, mas não se preocupe; podemos viver sem ele” .

Jesus deixa claro em Lucas 12:29 que, quando não buscamos primeiro o reino, então temos inquietações, ou preocupações.

A vontade de Deus é prioritária

Jesus afirma em João 15:7: “ Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e vos será feito” . E possível, portanto, a nossa vontade harmonizar-se com a vontade de Deus ao ponto de a nossa oração ir ao encontro de tudo o que Deus deseja, e de tudo o que lhe pedirmos, recebermos. A vontade de Deus, ao tomar posse plena

This article is from: