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6. A prioridade do r e in o

da nossa vida mediante a sua Palavra, se tornará a nossa própria vontade.

O apóstolo São Paulo, ao referir-se à tentativa da nossa natureza pecaminosa de rebelar-se contra a vontade do Espírito Santo, afirma que isso ocorre para que não façamos o que queremos (Gálatas 5:16-17). Mas qual seria, então, o mais profundo desejo do crente?

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O mais profundo anseio dos filhos de Deus não é outro senão o de fazer a vontade dele. A Bíblia insiste que devemos desejar que a vontade de Deus seja realizada em nós e por meio de nós. Por isso oramos: “ Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu” (Mateus 6:10).

Como é a vontade de Deus feita no céu? Ali não pode haver a menor resistência à soberana vontade divina. Ela impregna todas as atividades dos seres angelicais e está presente em todos os arranjos sociais do céu. Aqui na terra, entretanto, as coisas são bem diferentes. Por habitar em uma natureza pecaminosa, há no ser humano um constante foco de resistência à vontade de Deus representada pela paixão do Espírito Santo. O que fazer, então? Lutar? Não! Entregar-se a Deus? Sim!

A Bíblia diz que a vontade de Deus para nós e a frutificação do Espírito Santo são uma mesma coisa. Eu não posso viver a vida cristã, mas posso deixar que Cristo, pelo Espírito Santo, a viva em mim. A colheita do Espírito (Moffat traduz fruto por colheita) é de fato do Espírito, e não nossa. O que devemos então fazer?

Afirma Romanos 12:1-2: “ Portanto, rogo-vos, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa,

agradável e perfeita vontade de Deus.

Toda a ênfase está na entrega. Havendo esta, haverá então a não conformacão com o mundo, a transformação pela renovação do nosso entendimento e, ao final, a experimentação da vontade divina. Em outras palavras: entrega, santificação, transformação, serviço.

Quantas pessoas, que se dizem cristãs, ainda não experimentaram a vontade de Deus na vida delas! O conceito que muitos têm da vontade de Deus é o de que Deus quer tirar de nós tudo o que nos é mais caro, e depois nos mandar para uma terra à qual não queremos ir. Nada pode estar mais longe da verdade. Por mais estranha que possa parecer, a vontade de Deus é sempre “boa, agradável e perfeita” .

A pessoa que escreveu estas palavras, o apóstolo Paulo, havia experimentado em diversas ocasiões o seu real s i g n ific a d o . Em um a dessas o c a s iõ e s ele e seu companheiro Silas haviam sido açoitados e lançados na prisão, mas ali eles oravam e cantavam hinos a Deus. E seus cânticos subiram tão alto que Deus teve de enviar uma nota grave, um terremoto. Os muitos sofrimentos dos apóstolos foram como que as dores de parto para o nascimento da igreja filipense.

Para os apóstolos e para todos os mártires cristãos a vontade de Deus é “ boa, agradável e perfeita” . Caindo Estêvão sob o peso das pedradas, levantou logo adiante a Saulo de Tarso. João Hus, cantando na fogueira em que morria, levantou, um século depois, a Lutero, Calvino e outros reformadores. Para todos eles a vontade de Deus era “boa, agradável e perfeita” .

Donald C. Stamps, de saudosa memória, afirmou que a busca do reino é “um combate da fé, aliado a uma forte vontade de resistir a Satanás, ao pecado e à sociedade

perversa em que vivemos. Não conhecem o Reino de Deus aqueles que raramente oram, que transigem com o mundo, que negligenciam a Palavra, e que têm pouca fome espiritual” .(2S)

Concluindo este capítulo, devo dizer que o reino de Deus é de fato o reinado de Deus, e não do homem. Há cristãos que reinam mais do que o próprio Deus, que estão mais interessados na sua parte do reino do que no reinado absoluto de Deus. Há até pastores que, em defesa de seu próprio reino, chegam ao ponto de praticar a simonia, negociando cargos eclesiásticos em defesa de seus próprios interesses. Não seguem o exemplo de Barnabé que, quando chegou em Antioquia e viu a obra de Deus, ele “ se alegrou” (Atos 11:23).

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0 bem do reino

Z ' ^ UANDO A BÍBLIA afirma que os heróis da fé ___ / que viveram no passado buscavam uma pátria - (Hebreus 11:14), é claro que está falando da pátria celestial. E essa pátria celestial não pode ser outra coisa senão o reino de Deus em toda a sua plenitude, que incluirá o céu e a Nova Jerusalém.

Todavia, em nossa realidade presente, a busca do reino de Deus é a busca dessa pátria divinal, aqui mesmo, na terra, onde peregrinamos.

Um lar cósmico

As estatísticas nos informam que, em todo o mundo, a grande, maioria das crianças-problemas que lotam instituições correcionais ou perambulam pelas ruas p ro v êm de la res d e s fe ito s . A ca u sa de m u ito s adolescentes, jovens e adultos se haverem enveredado pela senda do crime ou das drogas é a falta de um verdadeiro lar, alicerçado nos princípios cristãos.

E bem conhecida a história, considerada por muitos como verdadeira, de um jovem condenado à morte. Antes da execução perguntaram-lhe qual seria o seu último desejo, e ele disse que gostaria de beijar a face de sua mãe.

Quando esta, trêmula e apavorada, aproximou-se do filho a fim de receber o beijo, o filho arrancou-lhe com os dentes parte do nariz, e disse: “ Mãe desgraçada. Morro por sua culpa, porque, se desde que eu fiz o primeiro roubo a senhora me tivesse corrigido com uma surra, ao invés de me ter elogiado, eu não estaria aqui hoje nesse cadafalso. Esta marca no seu nariz é para que a senhora se lembre sempre de que morro por sua culpa” .

Os chineses têm razão quando afirmam que “ no ninho desfeito não há ovos inteiros” . Nos lares desfeitos não há significado para a vida. Quando a estrutura familiar desaba, desaba com ela a sociedade de que faz parte a família. Por isso tantas pessoas vivem intimamente confusas, na orfandade, sem o amparo de um verdadeirc. lar.

Em um sentido mais amplo, o nosso ninho — o mundo que nossos pais criaram e nos legaram, e que estamos legando a nossos filhos — está desfeito. Nele já não há qualquer unidade central, e em nada se parece com um lar de v erda de. N ece ssita m o s, p o rta n to , de um a estrutura cósmica, de uma aprovação cósmica, de um lar cósmico. E esse lar cósmico é o reino de Deus. Quando Jesus disse que buscássemos em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, ele fez sinônimo do reino o nosso bem, pois justiça pode também ser traduzido por bem, como o faz Moffat.

O reino de Deus é o nosso bem

Mas será mesmo o governo de Deus, ou o reinado dele, o nosso bem em todos os sentidos? Vejamos:

Um bem espiritual. O reino de Deus é, em primeiro lugar, o nosso bem espiritual. Quando recebemos o reino,

recebemos a nossa plena realização espiritual. O nosso espírito, antes morto, revive com aquela vida abundante que Cristo oferece aos que crêem nele.

Um bem emocional. Essa realização espiritual, por sua vez, resulta em nosso bem emocional. Nossas emoções, antes confusas, se harmonizam quando adentramos o reino. O ódio desaparece, dando lugar ao amor, e o amor tudo perdoa.

Escrevo estas linhas em pleno vôo Rio — Nova York, de volta do sepultamento, no Rio de Janeiro, de uma verdadeira mulher de Deus, que soube viver a vida cristã em toda a sua plenitude, sem guardar mágoas ou ressentim entos de quem quer que fosse. Ela soube perdoar e amar além de todas as limitações humanas, pois ela o fazia com os inesgotáveis recursos divinos.

Horas depois do sepultamento, seu filho, que é pastor, contou-me algo por ele mesmo presenciado cerca de vinte anos antes. Seus pais estavam em um jantar de empresários, ao qual compareceu também a amante de seu pai. Quando sua mãe viu a sósia à distância, levantou- se, foi até ela e lhe disse: “ Fulana, quero que saiba que eu a perdôo, e que a amo, e que Deus também a ama” .

Que tremendo bem emocional nos faz perdoar assim, de coração, àqueles que nos odeiam e nos prejudicam!

Um bem f ís i c o . Q u a n d o n o s sa m en te é assim purificada de quaisquer sentimentos de inimizade, de mágoas ou ressentimentos, nosso corpo desfruta saúde, pois o reino de Deus é também o nosso bem físico.

São inúmeros os casos de cura física através do perdão. Os médicos confirmam o que acabamos de dizer. A causa de muitas enfermidades está exatamente em nossa recusa de perdoar. Quando abrigamos no coração desejo de vingança, inimizades e invejas, abrigamos também

distúrbios circulatórios, respiratórios, glandulares, etc. E quando sobre nós reina o Deus de amor, também reina a saúde.

Um bem intelectual. O bem físico produzido pelo reino de Deus em nossa vida resulta em nosso bem intelectual. Centralizados em Deus, os nossos conhecimentos têm amparo universal, cósmico. A própria Bíblia afirma que o tem or do Senhor é o princípio da sabedoria. Isso eqüivale a dizer que fora do âmbito do temor do Senhor, ou seja, fora do reino, nossa intelectualidade se perde, fic a sem p r o p ó s it o , e t o ta lm e n t e co n fu s a . D eus considerou louca a sabedoria deste mundo, diz a Bíblia, que também afirma que aprouve a Deus salvar o homem pela loucura da pregação, pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens (1 Coríntios 1:25-27).

A Bíblia também afirma que “ enganoso é o coração, mais do que todas coisas, e in co rrig ív e l. Q uem o c o n h e c e r á ? ” (Jerem ias 17:9). C on fia r no p ró p rio entendimento é muito perigoso, pois pode acarretar tremendos desastres.

O século vinte tem testemunhado a falência total de sistemas filosóficos e ideológicos, como os absolutismos de esquerda e de direita, embora verdadeiros gigantes intelectuais estejam por detrás desses bem elaborados siste m a s. Mas q u a n to cu s t o u , p o r e x e m p lo , a implantação dos princípios absolutistas de Hegel, Engel e Marx?

Os absolutismos filosóficos ou ideológicos custaram, literalmente, dezenas de milhões de vidas para que fossem implantados ou mantidos, como o fascismo, o nazismo e o comunismo. Não é difícil perceber que tais sistem as, em bora pareçam p ossuir algum a ló g ica humana, vão de encontro às verdades eternas das

Escrituras Sagradas, e de fato não poderiam prevalecer. O nivelamento de todas as classes sociais em uma só, por exemplo, contraria o ensino claro da Bíblia, que afirma a individualidade da pessoa humana e a sua r e s p o n s a b ilid a d e p e s s o a l d ian te de D eus e das oportunidades que a vida lhe oferece; e a descrença na existência de Deus faz de cada comunista um néscio, pois afirma a Escritura: “ Diz o néscio no seu coração: Não há Deus” (Salmo 14:1).

Um bem político. Por outro lado, uma intelectualidade iluminada pelo Espírito Santo e envolvida no reino de Deus produz, por sua vez, um bem político. Vota-se melhor, em melhores administradores, que por sua vez exercerão seus mandatos com lisura, sabendo que se não agirem dessa forma perderão para sempre as chances de fazer uma boa carreira política.

A propósito, ouvi recentemente de um político que se fingiu de crente para “pescar” alguns votos nas igrejas evangélicas do Distrito Federal. Munido de uma Bíblia, ele se dirigiu ao auditório de uma Assembléia de Deus com a estranha saudação: “ Saúdo os irmãos com a Paz do Senhor e as irmãs com a Paz da Senhora” . Depois de afirmar que estava lendo a Bíblia do início ao fim, um irmão perguntou-lhe se já havia lido na Bíblia acerca da criação do mundo, ao que o pseudo crente respondeu: “Ainda não cheguei lá” . Nem é preciso dizer que tal enganador não teve a menor chance de se eleger.

Um bem social. E que dizer, então, de políticos e administradores públicos que buscam em primeiro lugar o reino de Deus? Esse reino, presente na vida de a utoridades executivas, legislativas e ju d iciá ria s, produzirá o nosso bem social. Já não haverá a gritante injustiça social que deixa milhões de pessoas à margem

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