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8. A harmonia do reino

Enquanto o hom em não harmonizar-se com Deus mediante a conversão e o novo nascimento, não se harm onizará com a criação. O reino de Deus, por abranger em seu sentido mais amplo todo o universo submisso à soberania divina, é o único estado em que o ser humano se sente de fato em sintonia harmoniosa consigo mesmo, com o próximo, com Deus, e com tudo o que Deus criou.

Tem sido a experiência de milhões de pessoas que, ao se reconciliarem com Deus, passaram a perceber belezas em todas as obras dele, ao ponto de exclamarem como Davi: “ Os céus declaram as obras de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Salmo 19:1). A partir do momento em que pomos os pés dentro do reino, tudo aquilo que antes nos parecia comum e rotineiro, como sol, chuva, plantas, aves, enfim, tudo se reveste de graça e beleza nunca antes percebidas. Nossa harmonia com o reino nos coloca em harmonia com todo o universo, a passamos em tudo a ver a mão de Deus e a ver o próprio Deus, como alguém escreveu:

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Vejo o meu Deus na terra que germina, no prado que floresce, no campo em que se doura a messe, nas árvores que frutificam, no vale onde rastejam ervas, no monte em que soberbos se levantam cedros... Vejo-o nos rios que impetuosos correm, lembrando as torrentes da divina ira; vejo-o nos mares que, ocultando-me o termo de suas praias, figuram a imensidade do Senhor; vejo-o no horizonte que se estende pelo infinito, envolvendo o espaço inteiro, e sugere-me a eternidade daquele que, existindo outrora, hoje epara sempre, abraça e compreende toda a criação. (30)

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A perenidade do reino

ALANDO DE UM dos mais poderosos reinos do passado, o Babilônico, escreveu o profeta Jeremias: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Os la rg o s m u ro s de B a b ilô n ia serão t o ta lm e n t e derrubados, e as suas altas portas serão abrasadas pelo fogo; trabalham os povos em vão, e o trabalho das nações é combustível para o fogo” (Jeremias 51:58).

Trabalham os povos em vão! Que extraordinária verdade, a atestar a falibilidade de tudo o que o homem realiza na terra em seu alheamento de Deus. O incrédulo Voltaire parece ter ecoado essa sentença divina ao afirmar que o papel que o homem realiza na terra é semelhante ao que realizaria um piolho no alto de uma grande montanha.

A Bíblia não apenas afirma que os reinos do mundo passam, mas que o próprio mundo vai passar. “ Pela mesma palavra os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e destruição dos homens ímpios... Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, com todas as obras que nela há, será desnudada... Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor” (2 Pedro 3:7, 10, 12, NVI).

Conta-se que um novo convertido, depois de ouvir uma mensagem acerca do fim do mundo, procurou o seu pastor e perguntou-lhe se de fato o mundo ia acabar. “ O m u n d o v a i acabar, s im ” , r e s p o n d e u o p a stor, e acrescentou: “Mas não se preocupe. Podemos viver sem ele” .

Poderosos que não governam...

Ensinando aos discípulos, Jesus afirm ou que os governantes deste mundo em verdade não governam, ou governam só na aparência: “Vocês sabem que aqueles que são co n sid e ra d o s g o v e rn a n te s das n a çõ es as dominam, e os seus grandes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês” (Marcos 10:42-43).

A Bíblia fala de “ poderes destronados que governam” (1 Coríntios 2:6, Moffat). Outras versões trazem assim esta passagem: “ Príncipes que hoje são poderosos e manhã deixarão de o ser” (Phillips); “ poderosos que estão perdendo o seu poder” (Inglês de Hoje); “poderosos deste mundo que estão sendo reduzidos a nada” (Versão Brasileira); “príncipes deste mundo, votados à destruição” (Bíblia de Jerusalém); “ poderosos desta terra, que se reduzem a nada” (NKJV [Nova Versão do Rei Tiago], ARA); “poderosos desta era, que estão sendo reduzidos a nada” (NVI).

E fato que os poderes deste mundo governam, mas o fazem sob a lei da decadência; a vida já os julgou. Imagine Jesus contrastando os titubeantes discípulos com os poderosos de Roma! E exatamente isso que ele faz quando afirma que o governo dos discípulos é diferente do governo dos “ assim chamados” governadores dos gentios.

Em verdade, as décadas e os séculos têm falado contra os dias e os anos, confirmando as palavras de Jesus. Onde estão os grandes do passado? Onde está o governo deles? Mas os discípulos governaram de direito e de fato, alterando profundamente as civilizações do passado, e ainda governam no presente através da proclamação do evangelho. Um conhecido teólogo liberal europeu, que suportou as agruras das duas grandes guerras do século vinte, escreveu:

Precisamos ficar cientes de que o curso da natureza e do mundo em todas as épocas, e assim também a história da nossa época, com todas as suas complicações, seus antagonismos e enigmas, segundo as premissas do Novo Testamento, não é regido nem pelo acaso, nem p or algum princípio imanente a ele, nem tampouco p or algum “deus” indeterminado, mas sim pelo Filho assentado à direita de Deus Pai, Todo-Poderoso, nosso Senhor Jesus Cristo. Que presença, que atuação do novo ser humano!(31)

Só o cristão é verdadeiro governador, pelo fato de ser o instrum ento de Deus que leva as pessoas a uma tra n sform a çã o de vida, e, em con seq ü ên cia dessa transformação, transformam igualmente povos e nações. Vejamos dois exemplos.

Um empurrão para a metade do mundo

O primeiro exemplo é o de Malla Moe. Desconhecida de muitos, ela serviu como missionária na Suazilândia, África do Sul, ao sul de Moçambique, desde fins do século

dezenove até às primeiras décadas do século vinte. “ Nkosazana Malla M oe” , como o povo a chamava, era amada e respeitada por todos. Sua vida era bem simples. Seguia a rotina da igreja, das escolas da missão, e de outras ocupações dos nativos, mas possuía ela muita ousadia para testificar, e foi grande ganhadora de almas.

A missionária herdara o seu ardor evangelístico do evangelista Frederico Franzon, de quem ela guardava fortes impressões. Ela era ainda jovem quando o ouviu pregar em Chicago, cerca de uma década antes de findar o século dezenove. Franzon, enquanto pregava, apelava aos ouvintes para que levassem o evangelho a outros países. De repente ele se voltou para Malla e perguntou- lhe: — Por que não está trabalhando para o Senhor? Como pode ficar sem trabalhar, quando tantos morrem?

No seu zelo, ele desceu do estrado, agarrou a jovem pelo braço, puxou-a para o corredor e a empurrou pelas costas na direção da porta, dizendo: — Vá embora e trabalhe para Jesus!

A jo v e m havia acabado de chegar aos E sta dos U n id o s , v in d a da N o r u e g a , e t r a b a lh a v a c o m o lavadeira. Ela sem pre disse que aquele em p u rrã o a havia en via do “ ao red or de m etade do m u n d o ” .

Após preparar-se para a obra missionaria, Malla foi enviada para Suazilândia, onde depressa venceu a dificuldade com a língua e tornou-se uma testemunha ardente tanto para os negros como para os brancos. A sua habitação era muito simples, como as demais casas da “ missão” , edificada com grandes pedras, unidas com cal, areia e cimento, e telhado de folha de flandres.

E nessa cena que entra um jovem oficial britânico, Edmundo Allemby. Este esteve na África juntamente

com outro conhecido inglês, Winston Churchill, no raiar do século vinte. Era um tempo difícil para esses oficiais, e por isso eles buscavam refúgio na missão de Malla Moe. A missionária sentiu de orar especialmente por Allemby, que entregou sua vida ao Senhor. Mal poderia ela supor que “ Sir” Edmundo Allemby se tornaria uma das figuras mais preeminentes da Primeira Grande Guerra pelo fato de haver tomado Jerusalém aos turcos sem disparar um só tiro, depois de derrotar o poderoso império otomano em diversas batalhas. Ele se torn a ria mais tarde marechal e comissário supremo.

Era o ano de 1917, e o exército britânico marchava vitorioso contra Jerusalém. Mas o general Allemby, como cristão, não queria que a conquista daquela famosa cidade fosse feita com derramamento de sangue, e por isso ele orou a Deus. Ele pedia orientação acerca de como agir na batalha contra os inimigos entrincheirados na Cidade Santa. Sentiu, então, que deveria enviar aviões para que fizessem o reconhecimento da área.

Os defensores de Jerusalém nunca antes haviam visto um avião. Quando aquelas enormes aves metálicas começaram a rugir sobre as suas cabeças, eles ficaram tão apavorados que abandonaram as suas posições e fugiram, deixando a cidade totalmente desguarnecida. Cumpria-se, ali, a profecia de Isaías 31:5: “ Como adejam as aves, assim o Senhor dos Exércitos amparará a Jerusalém; ele a amparará e a livrará e, passando, a salvará” .(32)

Ao aproximar-se de Jerusalém, Allemby apeou de seu animal, descobriu a cabeça e, conduzindo seu cavalo branco pelas rédeas, entrou na Cidade Santa a pé, em reverência ao seu Mestre, Jesus Cristo, que ali havia padecido.

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