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10. A plenitude do rein o

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O aconchego do reino

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Disse Gregório Maranón que, “para a mulher, a pátria é o lar, mas para o homem o lar é a p á tria ”. (38) Casimiro de Abreu, longe do Brasil, escreveu:

— F lo r dos trópicos — Cá na E uropa fr ia E u definho, chorando noite e dia Saudades do meu la r (39)

REINO DE DEUS é o nosso verdadeiro lar; a n o s s a v e r d a d e ir a p á tr ia . N e sse r e in o estamos todos irm anados sob os cuidados p a tern a is de um D eus que é amor, e que já nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais em Cristo Jesus (Efésios 1:3).

S endo Deus o n osso am oroso Pai, seu g o vern o sobre nós é absoluto, e sua vontade é soberana. Mas a v o n t a d e do Pai é “ b o a , a g r a d á v e l e p e r f e i t a ” (Rom anos 12:2), e nós a cum prim os através do amor. “ O am or de Cristo nos co n stra n g e ” (2 C oríntios 5 :1 4 ), a fir m a o a p ó s t o lo P a u lo . O C â n tic o d os Cânticos fala desse am or divino: “ Levou-m e à sala do banquete, e o seu estandarte sobre mim é o a m or...

As muitas águas não poderiam apagar este amor, nem os rios a fog á -lo ” (2:4; 8:7).

Como filhos de Deus, som ente o obedecem os de verdade quando o amamos. Deixe-me ilustrar. Eu e meu cu nh ad o con v e rsá v a m o s na sala de v isita da sua fazenda, quando ele levantou os olhos para o pasto e comentou que era tempo de trazer o gado para o curral. Meus sobrinhos, que estavam à distância, ao ouvirem o pai dizer aquilo, saíram sorrateiramente, e minutos depois estavam trazendo o gado ao curral. Meu cunhado não havia dado nenhuma ordem; apenas revelara uma necessidade, um desejo seu. E nesse sentido que o Pai c e l e s t i a l g o v e r n a s o b e r a n a m e n t e . Seu r e in o é totalitário.

A palavra totalitarismo adquiriu conotação negativa em razão das ditaduras cruéis que trouxeram muito sofrimento a grandes parcelas da população do mundo — e ainda trazem — provocando mesmo conflitos de âmbito mundial, como foi a última grande guerra de 1939-1945. Mas a Bíblia, quando fala do governo de Deus, afirma com toda clareza que esse governo é total, é ordem absoluta entrando em nossa ordem relativa.

O totalitarismo do reino de Deus abrange o passado, o presente e o futuro. O reino dele é sempre total. Quando Jesus, falando de Abraão, disse que aquele patriarca havia visto o seu dia, isto é, o dia do Messias (João 8:56), os seus ouvintes não entenderam nada. De fato Abraão, na condição de amigo de Deus, teve a revelação de que o Messias viria, e pela fé viu esse dia, possivelmente na figura do cordeiro substituto de Isaque, lá no Monte Moriá.

Mas a Bíblia não menciona apenas Abraão como tendo o privilégio de “ ver” os tempos futuros. O autor da carta

aos Hebreus diz que os heróis da fé do Antigo Testamento viram as promessas “ de longe, e as saudaram. E confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra” (Hebreus 11:13). Esses homens e mulheres de fé viveram na dimensão do reino de Deus. Dentro desse reino eles “ viram” uma pátria melhor, e a desejaram e buscaram, vivendo como estrangeiros neste mundo.

“Eu não desejo n a da ”

A segunda parte de Mateus 6:33, “ e todas estas coisas vos serão acrescentadas” , foi traduzida por Mateus Hopers como “ e todas estas coisas vos serão dadas de quebra” . A idéia é de que tudo aquilo que consideramos essencial à vida, como roupa, alimento, calçado etc., na verdade não é assim tão essencial. O cristão pode viver sem essas coisas.

Davi, no conhecido Salmo 23, concorda com esse pensamento, quando afirma: “ O Senhor é o meu pastor; eu não desejo nada” (Tradução do Rei Tiago). Outras traduções dão a mesma idéia: “ eu tenho tudo o que necessito” , “ nada me falta” ; “ eu não necessito de nada” . Será realm ente isso o que Davi afirma? Têm suas palávras respaldo em outras escrituras?

Vejamos estas passagens: “ O Senhor é a porção da minha herança e do meu cálice; tu és o sustentáculo da minha sorte” (Salmo 16:5). “ O Senhor é a força da minha vida” (Salmo 27:1b). Asafe diz a mesma coisa: “A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem, mas Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre” (Salmo 73:25-26). Jeremias faz coro com os salmistas: “A minha porção é o Senhor,

diz a minha alma; portanto esperarei nele” (Lamentações 3:24).

O que esses servos de Deus do passado nos querem dizer com O Sen hor é a m inha p o r ç ã o? Eles estão testificando que o Senhor é tudo o de que necessitam; que nele eles estão com pletados. David Livingstone registrou essa verdade em seu diário. U m pou co antes de ser encontrado m orto de joelh os, no in terior da África, um amigo dele havia insistido com ele para que voltasse para a Inglaterra, mas o m issionário d is s e que a in d a h a v ia m u ita s a ld e ia s a s e r e m alcançadas com o Evangelho. E assim perm aneceu na África. No diário dele encontraram estas palavras: “ Meu Jesus, meu Rei, e meu tu d o ” .

Na experiência dos apóstolos e m ártires temos a confirmação dessa tremenda verdade de que o reino é tão completo que onde ele opera é o céu, e onde ele não opera é o inferno. Esse reino divino pode trazer o céu a uma masmorra, como nos casos de Pedro, de Paulo, de Silas, de Bunyan, e de tantos outros, e até mesmo a uma fogueira. João Hus, ao ser queimado vivo, cantou enquanto pôde; depois, impedido de continuar cantando por causa da fumaça, orou até render o espírito.

Por outro lado, onde o reino não opera, aí é o inferno. Há crentes que vivem em um verdadeiro inferno porque desconhecem a plenitude do reino de Deus em sua vida. Às vezes têm tudo, e se sentem vazios. O reino pode trazer o céu a uma choupana, e a ausência do reino pode fazer que o inferno reine num palácio.

“Assim na terra como no céu ”

A plenitude do reino não é outra coisa senão a pleni

tude da vontade de Deus. Ou Deus reina, ou não reina. O melhor texto que vejo nas Escrituras para expressar esta verdade é o de Romanos 12:1-2: “ Portanto, rogo- vos, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” .

Note o leitor que a vontade de Deus vem por último, significando que tudo o que vem antes é condição sine qua non para experimentá-la. Os passos são entrega e transformação. Vejamos esses passos: 1. A entrega. O “ portanto” com que o apóstolo Paulo in icia essa exortação tem relação com o con te x to im ediatamente anterior, que é a glória de Deus. E desejo do apóstolo que a nossa vida seja oferecida a Deus com o um sacrifício vivo, a fim de ser vivida unicamente para a glória dele. Jesus viveu com esse propósito, e nós devemos seguir-lhe o exemplo. Eis outros textos que indicam a verdadeira posição do cristão neste mundo: “ Pois nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, quer vivamos quer morramos, somos do Senh or” (Romanos 14:7-8). “ E tudo o que fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos hom ens” (Colossenses 3:23).

Um experiente servo de Deus, comentando as palavras de Jesus em Lucas 9:24, recomenda:

Entregue sua vida em submissão e renúncia, e há de encontrá-la mais abundante. Ela não nos

p e r t e n c e en q u a n to não a dam os. Eu v e r dadeiramente nunca tive minha alma enquanto não a entreguei a Cristo. Eu possuía um mundo de apreensões, desejos contraditórios, mas não realmente uma alma, até que, entregando-me submisso a Cristo, ele a purificou, harmonizoua e ma entregou na devida forma. Há muitos moços hoje falando em autoexpressão, mas não têm uma personalidade para expressar. Têm no seu interior um caos e a isso chamam o eu. O caminho da auto consciência é o caminho da, renúncia. (40)

2. A transformação. Muitas pessoas fizeram um dia a entrega de sua vida a Deus, mas nunca conseguiram de fato renunciar ao mundo. Vivem com um pé na igreja e um pé no mundo, e por isso são pessoas miseráveis. Não podem desfrutar o gozo da vida cristã porque conservam no coração um pouco do m undo; e não podem desfrutar o gozo do mundo porque conservam no coração um pouco do evangelho. São pessoas dúbias, divididas e frustradas.

O tipo de transformação de que fala o apóstolo São Paulo não é mera conformidade exterior com a vontade de Deus, pois uma pessoa pode realizar muitas ações virtuosas e dignas de louvor sem estar intimamente submissa à vontade divina. Ao m encionar que essa mudança deve ocorrer mediante a renovação do nosso e n te n d im e n to , o a p óstolo P aulo se re fe re a um a transformação espiritual de profundidade tal que recrie por completo toda a nossa vida e a nossa maneira de viver. Essa vida transformada deve ser nova tanto em seus motivos como em seus fins.

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