Daniel - Segredos da Profecia

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ntre os jovens levados cativos para Babilônia, na primeira invasão de Nabucodonosor, estava um jovem de apenas 18 anos de idade, Daniel, um dos príncipes do povo de Deus. No cativeiro, que durou 70 anos, Daniel escreveu o livro que leva seu nome. Nos relatos históricos e nas profecias, vemos um Deus de amor que trabalha continuamente a favor de Seu povo e o maravilhoso cuidado dispensado a Daniel e seus amigos.

Descubra os detalhes da vida e obra desse extraordinário jovem, que foi amado e honrado pelo Céu acima de qualquer outro mortal.

Arilton Cordeiro de Oliveira é natural de Aimorés, MG. Formou-se em Teologia na FADBA (Faculdade Adventista da Bahia), Cachoeira, BA; concluiu sua Pós-Graduação em Docência Universitária e seu Mestrado em Teologia no UNASP, Engenheiro Coelho, SP. Serviu a igreja como pastor distrital e no departamento de Escola Sabatina e Ministério Pessoal. Hoje atua como gerente da Escola Bíblica da Rede Novo Tempo de Comunicação e apresentador do programa Bíblia Fácil da TV Novo Tempo. É casado com a cirurgiã-dentista Juliana Boa Sorte de Oliveira e tem três filhos: Rafael, Mateus e Lucas.

DANIEL

Segredo S da Profecia

Descubra como a profecia nos habilita a enfrentar o futuro com confiança

DANIEL

Segredo S da Profecia

Descubra como a profecia nos habilita a enfrentar o futuro com confiança

arilton oliveira

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Editoração

Rubem Scheffel

Revisão

Lucas Diemer de Lemos

Projeto Gráfico Marcos Santos

Ilustração da Capa Rogério Chimello

IMPRESSO NO BRASIL / Printed in Brazil

1a edição

6a impressão: 2 mil Tiragem acumulada: 29 mil 2018

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Oliveira, Arilton

Daniel : segredos da profecia / Arilton Oliveira. – Jacareí, SP : Ed. do Autor, 2013. 2013.

Bibliografia. ISBN 978-85-916401-0-2

1. Bíblia – Profecias 2. Bíblia. A.T. Daniel –Profecias I. Título.

13-12740 CDD-224.506

Índices para catálogo sistemático:

1. Daniel : Livros proféticos : Bíblia : Interpretação 224.506

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.

Tipologia: Minion Pro 11/14 – 14560/38854

Sumário

Palavras

Introdução

Capítulos

Daniel, um homem amado pelo Céu 15

Daniel, um livro selado 25

Seção histórica

Desafios culturais 35

Uma estátua assustadora – primeira visão 49

A fornalha de fogo ardente 69

Do palácio ao pasto 79

A queda de Babilônia 89

Daniel na cova dos leões 99

Seção profética

Quatro animais estranhos – segunda visão 109

A visão do carneiro e do bode – terceira visão 141

A purificação do santuário terrestre............................. 149

2.300 tardes e manhãs e a purificação do santuário celestial .... 159

Daniel no Rio Tigre – quarta visão 173

Reis em guerra 179

Um tempo de angústia sem precedentes 187

O estabelecimento do eterno reino de Cristo 197

Conclusão 204

Referências 206

do autor .................................................. 7
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DEDICATÓRIA

Dedico esta obra a três pessoas que muito amo: José e Adelaide, meus queridos pais, que me deram vida e ensinaram pelo exemplo o amor e respeito ao próximo; e Juliana, minha amada esposa, que encheu minha vida de um novo significado e alegria.

Palavras do autor

O fascínio pelo livro de Daniel chegou muito cedo em minha vida. Eu tinha apenas 13 anos de idade quando assisti, durante a Semana Santa do ano de 1985, uma série de palestras apresentadas pelo saudoso Dr. Emanuel Ruela, cujo tema central ainda hoje me lembro: HÁ VIDA EM SUA MORTE. Foi naquele momento, após conhecer a linda histó ria da cruz, que aceitei a Jesus como meu Salvador pessoal.

Passei em seguida a frequentar a igreja que estava em meu bairro, Mucuri, no município de Cariacica, ES. Nessa igreja simples, com ir mãos queridos e zelosos, tínhamos todos os sábados, às 7h da manhã, o Culto do Poder. Sob a liderança dos irmãos Agostinho Machado, Valdomiro, Benedito Tonoli, Neudes Fraga, Edvirges Fraga, Samuel Ney, Nilton Gonçalves, Antônio Afonso e outros, estudávamos as pro fecias de Daniel referentes ao “tempo do fim”.

Fascinava-me o fato daqueles irmãos conhecerem tanto da Palavra de Deus. Eram versos da Bíblia recitados de cor, raciocínios lógicos, eventos históricos repassados, personagens da Bíblia e da história ana lisados. Isto tudo me fascinava.

Nessas reuniões, o livro de Daniel várias vezes era aberto e suas his tórias e profecias eram lidas. Uma estátua de vários metais, três jovens lançados numa fornalha, Daniel na cova dos leões, um animal terrível e espantoso, um chifre pequeno que falava insolências, um tempo de an gústia qual nunca houve, uma ressurreição especial – eram temas que iam tomando conta de minha mente juvenil e me fazendo crer ainda mais na inspiração da Bíblia e em sua relevância para nossos dias.

Uma coisa sempre me chamava a atenção nesses estudos: “Jesus vol tará em breve para estabelecer Seu reino”. Essa era a nota tônica de cada estudo. Eles ensinavam que a “pedra arrancada sem auxílio de mãos” que destrói a estátua (Daniel 2:45) seria o estabelecimento final do eterno reino de Cristo que jamais teria fim. Com essas belas imagens, minha mente juvenil foi se apaixonando pelo estudo das profecias. E comecei, assim como aqueles irmãos, a ansiar pela volta de Jesus. Tornei-me de fato um adventista, alguém que não apenas amava a

8 Segredos da Profecia

volta do Senhor, mas buscava, por meio da própria vida e trabalhos, apressar esse extraordinário dia (2 Pedro 3:12).

Muitos daqueles queridos irmãos já não vivem mais. Agostinho Machado, Antônio Afonso, Emanuel Ruela – todos já descansam no pó, assim como Daniel (Daniel 12:13). Felizmente, segundo o próprio Cristo, eles apenas dormem (João 11:11), e está chegando o dia de “acordarem” para receber a recompensa: “uma coroa imarcescível de glória” (Daniel 12:2; 2 Timóteo 4:8). É isso que acontece quando estudamos Daniel: Nós nos apaixonamos por Cristo e Sua vinda e nem mesmo a morte pode arrancar esta esperança de nosso coração.

Como foi dito a Moisés, junto à sarça ardente, devemos tirar “nos sas sandálias”, pois estudar o livro de Daniel é pisar em solo sagrado (Êxodo 3:5). Oremos para que o mesmo Espírito Santo que auxiliou o profeta no registro dessas histórias e profecias nos auxilie no estudo e compreensão das mesmas. Que, ao longo de cada capítulo, percebamos que o reino de Cristo se aproxima e busquemos ser cidadãos dele.

Esse é o sincero desejo de seu irmão de jornada.

O autor

Daniel

Introdução

A profecia é uma visão antecipada da história; já a história é um repasse retrospectivo da profecia, e em nenhum outro livro da Bíblia esses aspectos estão mais interligados do que nos livros de Daniel e Apocalipse. Há profecias que foram proferidas e que se relacionam com o período da escrita dos livros e outras que foram dadas para o chama do “tempo do fim” ou “últimos dias”.

Segundo a revelação profética, já estamos vivendo no assim chamado “tempo do fim”. Isso quer dizer que as mensagens de Daniel e Apocalipse são dirigidas especialmente para nós. Esta é uma das razões pelas quais devemos estudar atentamente o livro de Daniel. Mas existem outras razões:

a) Porque é inspirado por Deus. Nenhum mortal pode conhecer o futuro, a não ser que Deus o revele. Foi isso que Ele fez a Daniel. Revelou-lhe, pelo menos, 2.500 anos de história. Estudar o livro de Daniel é desvendar os eventos que ainda nos aguardam. Não como os “videntes” da modernidade que, por meio de “chutes” e predições descabidas tentam adivinhar o que vai acontecer, mas saber o futuro revelado pelo Senhor da história, que conhece o fim desde o princípio (Isaías 46:10).

b) Porque é dirigido especialmente às pessoas que vivem nos derradeiros dias da história. O livro trata de história e profecia. A parte profética, segundo o anjo Gabriel, foi velada a Daniel e o conhecimento das mesmas só viria no tempo do fim, ou seja, em nossos dias, como ainda veremos com mais detalhes.

c) Porque proporciona esperança e otimismo num tempo de cri ses sucessivas, violência, e confusão de valores e crenças. Nunca na história da humanidade vimos tantas pessoas vagarem sem rumo. Vidas vazias, solitárias, sem sentido. Estudar o livro de Daniel é receber uma overdose de esperança e fé. É encontrar sen tido não apenas na história secular, mas em nossa própria histó ria. É descobrir que existe um Deus que, apesar das fornalhas e dos leões, ama e cuida de forma paternal de Seus filhos.

d) E, além de tudo o que foi mencionado, porque ele foi indi cado pelo próprio Deus. No antigo Testamento, falando da justiça de Seus castigos contra os pecadores, Deus declarou: “Ainda que estivessem no meio dela (da terra em pecado) estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, salvariam apenas a sua própria vida, diz o Senhor Deus” (Ezequiel 14:14). Jesus, em Seu discurso profético acerca do fim do mundo, dá destaque especial ao livro do profeta. Mateus 24 é um capítulo de pura profecia e, ao mesmo tempo, parece ser uma crônica atualizada dos dias atuais. Então Jesus chama a atenção para o livro de Daniel e para os eventos ali preditos (Mateus 24:15).

Aqueles que consideram Daniel e Apocalipse como autênticos e verdadeiros defendem a literatura apocalíptica da Bíblia como uma for ma de profecia preditiva. Esta se distingue principalmente por alguns motivos:

a) Narrativa das visões conforme foram vistas;

b) Uso de símbolos de maneira predominante como veículos da re velação interpretados (como no caso do carneiro e do bode de Daniel 8), ou sem interpretação (como a mulher vestida de sol em Apocalipse 12).

c) Predição do futuro do povo de Deus (Israel no Antigo Testamento e a igreja no Novo Testamento) em relação às nações da Terra na vinda do Messias;

d) Estilo de prosa e não poético, que caracteriza as outras porções proféticas do Antigo Testamento.

Por excelência, o livro de Daniel é um livro profético, assim como o Apocalipse. Mas quais são os propósitos da profecia? Podemos desta car dois: (a) Habilitar o povo de Deus a se preparar para o futuro e (b) ao vermos o cumprimento das profecias na história secular, aumentar nossa confiança na Bíblia como inspirada Palavra de Deus.

A importância do estudo da Bíblia não pode ser exagerada. Como em nenhum outro período da história, vivemos num mundo com muita

Daniel 10 Segredos da Profecia

confusão religiosa e inúmeras vozes propondo apresentar uma direção segura para a vida espiritual. Entretanto, só a confiável Palavra de Deus, a Bíblia, pode ser um guia seguro para nossa vida. Mais que isso, precisamos de um manual ético para uma sociedade tão desti tuída de valores morais e justiça. Precisamos de um guia para as cri ses existenciais, para os problemas insolúveis da vida moderna, para as dificuldades e conflitos jamais imaginados. É isso que nos é oferecido no precioso livro de Daniel.

Logo no primeiro capítulo veremos a importância do cultivo de bons princípios de saúde e da estreita relação que existe entre aquilo que come mos e aquilo que somos. Aprenderemos com Daniel como um estilo de vida segundo a orientação bíblica pode ser uma poderosa ferramenta de sucesso em todos os aspectos da vida – física, mental e espiritual.

No segundo capítulo veremos Deus descortinar perante um rei ím pio, de uma nação pagã, o futuro da humanidade. Essa primeira visão do livro, das quatro que serão estudadas, nos mostrará Jesus como o Senhor da história, como Aquele que coloca e tira os reis, como aquele que dá sabedoria e força a Seus filhos.

No terceiro capítulo veremos um rei orgulhoso que, a despeito de todas as revelações que recebeu, desejou assumir o lugar de Deus e re ger a própria história. Veremos claramente o conflito entre o bem e o mal e como as forças satânicas agem para perseguir e destruir os “san tos de Deus”. Mas no final da história descobrimos um Deus que não apenas ama, mas entra no fogo para proteger Seus filhos queridos.

No quarto capítulo veremos como Deus trabalha – até onde vai Sua misericórdia para salvar. E descobriremos que, muitas vezes, o mal que nos alcança são permissões divinas para nos ensinar lições espirituais e nos preparar para a vida eterna.

No quinto capítulo veremos o cumprimento histórico das profecias de Jeremias (capítulo 25) e de Isaías (capítulos 44 e 45) sobre a queda da gran de Babilônia. Entenderemos que Deus não tolera para sempre as afron tas que Lhe são feitas e, nos surpreenderemos ao descobrir que a queda do maior império de todos os tempos, Babilônia, é um tipo da vitória de Cristo sobre as forças do mal (Apocalipse 14:8; 18:2) e da libertação de Seu povo nos dias que antecederão Sua vinda (Apocalipse 16:12 e 18:4).

11Introdução

No capítulo seis entraremos na cova dos leões acompanhados de um gigante na fé, Daniel. Este, diante do risco da própria vida, preferiu manter comunhão com o Céu a obedecer decreto de homens. A oração foi sua fonte de poder e segredo da vitória.

Já a partir dos capítulos 7 a 12 veremos várias profecias que mostram a ação de Deus na história para cumprir Seus propósitos e libertar Seu povo. Quatro animais que sobem do mar; um tribunal que se assenta para julgar; uma visão de um carneiro e um bode que se digladiam; um chifre pequeno que profere insolências e blasfêmias; setenta semanas de oportunidades para o povo de Daniel (judeus); reis do Norte e do Sul que batalham por supremacia; um tempo de angústia qual nunca houve na história; os 1335 e 1260 dias, etc. São cenas proféticas que abarcam um largo período da história, desde os dias de Daniel até os nossos.

Daniel – segredos da profecia é um livro para ser estudado com muita oração. Esse é o desafio para você, querido leitor. Então, se não o fez ainda, ore agora e suplique a luz do Céu para que, o mesmo Espírito que auxiliou Daniel há mais de 2.500 anos, possa estar ao seu lado e lhe dar a conhecer todas as verdades que o grande Deus tem para sua vida.

A escritora Ellen G. White fez várias declarações sobre a importân cia do estudo do livro de Daniel. Destacamos aqui algumas:

“A luz que Daniel recebeu de Deus foi dada especialmente para es tes últimos dias. As visões que ele viu [...] estão agora em processo de cumprimento, e logo ocorrerão todos os acontecimentos preditos”.1

“Quando os livros de Daniel e Apocalipse forem bem compreendi dos, terão os crentes uma experiência religiosa inteiramente diferente. Ser-lhes-ão dados tais vislumbres das portas abertas do Céu que o cora ção e a mente se impressionarão com o caráter que todos devem desen volver a fim de alcançar a bem-aventurança que deve ser a recompensa dos puros de coração”.2

“Grandes verdades que não foram ouvidas e contempladas desde o dia de Pentecostes resplandecerão da Palavra de Deus em sua pureza original. Aos que realmente amam a Deus, o Espírito Santo revelará

1 WHITE, Ellen G. Testemunhos para ministros e obreiros evangélicos. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1979, p. 112, 113.

2 Ibidem, p. 114.

Daniel 12 Segredos da Profecia

verdades que desapareceram da mente, e também lhes revelará verda des inteiramente novas. Os que comem a carne e bebem o sangue do Filho de Deus extrairão dos livros de Daniel e do Apocalipse verdades inspiradas pelo Espírito Santo”.3

“Deixemos que Daniel fale [...] Mas seja qual for o aspecto do as sunto apresentado, ele vai a Jesus como o centro de toda a esperança”.4

3 WHITE, Ellen G. Fundamentos da educação cristã. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996, p. 473.

4 WHITE, Ellen G. 1979, p. 118.

13Introdução

O profeta Daniel é um exemplo de verdadeira santificação. Seus longos anos foram cheios de nobre serviço a seu Mestre. Foi um homem “muito amado pelo Céu”, e foram-lhe concedidas tais honras que raramente têm sido conferidas a seres humanos. No entanto, sua pureza de caráter e inabalável fidelidade só eram igualadas por sua humildade e contrição (E Recebereis Poder, 97).

DANIEL, UM HOMEM AMADO PELO CÉU

Dois homens foram honrados de forma especial na Bíblia: João, o discípulo amado, que foi o escolhido para receber a revelação do Apocalipse, e Daniel. Homens a quem Deus escolheu revelar Seus pro pósitos com relação aos dias finais da história humana.

Daniel é um nome comum na Bíblia. Significa “Deus é meu juiz”. Davi tinha um filho chamado Daniel (1 Crônicas 3:1). Havia outro Daniel, filho de Itamar (Esdras 8:2), e ainda outro em Neemias 10:6. Mas de todos estes, Daniel, o príncipe de Judá, sem dúvida foi o perso nagem mais importante na história bíblica.

Daniel nasceu em uma família judia de alto nível que vivia na Palestina, por volta de 622 a.C. Viveu sua infância na Judeia, ou reino de Judá, e passou toda a sua vida adulta na Babilônia, para onde foi levado cativo com apenas 18 anos.1

A historicidade do homem Daniel e do livro que leva seu nome são confirmados pela própria Bíblia. No Antigo Testamento, o profeta Ezequiel referiu-se a ele (Ezequiel 14:14, 20), e no Novo Testamento, nada menos que o próprio Cristo, em seu discurso profético, cita o livro do profeta (Mateus 24:15).

1 WHITE, Ellen G. Testemunhos para a igreja, v. 4. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003, p. 570.

1

Mas quem era Daniel? Que informações a Bíblia apresenta sobre ele? Em seu livro, vários detalhes nos são oferecidos:

a) Da linhagem real (Daniel 1:3, 4)

b) Teve seu nome mudado para Beltessazar (Daniel 1:7)

c) Era determinado (Daniel 1:8)

d) Era entendido em todas as visões e sonhos (Daniel 1:17)

e) Era um jovem prudente (Daniel 2:14)

f) Confiava em Deus (Daniel 2:16; 6:23)

g) Era um jovem de oração (Daniel 2:18, 9:3)

h) Era grato a Deus (Daniel 2:19, 20)

i) Tornou-se governador e chefe principal de todos os sábios de Babilônia (Daniel 2:48)

j) Não se esquecia de seus amigos (Daniel 2:49)

k) Possuía um espírito excelente (Daniel 5:12; 6:3)

l) Não era amante dos bens terrestres (Daniel 5:17)

m) Era um jovem fiel (Daniel 6:4)

n) Era um jovem de oração (Daniel 6:10)

o) Era um servo do Deus vivo (Daniel 6:20)

p) Era próspero (Daniel 6:28)

q) Era um estudioso das Escrituras (Daniel 9:2)

r) Era um homem muito amado pelo céu (Daniel 9:23; 10:11, 19).

Uma das características que sobressaem ao personagem é, sem dú vida, o fato de ser uma pessoa amada pelo Céu. Por três vezes o Céu fez essa declaração (Daniel 9:23; 10:11, 19). Mas alguém que conhece um pouquinho da história desse jovem dirá: amado? Como?

No auge da adolescência e da vitalidade, levado como escravo para uma terra distante; tentado a usar alimentos que não eram os costumei ros e proibidos por sua religião; acusado e condenado simplesmente por ser uma pessoa de oração; vítima de invejas e falcatruas, lançado injustamente numa cova de leões; isto é ser amado pelo Céu?

Pois bem, o fato de enfrentarmos adversidades em nossa vida não quer dizer que Deus não nos ama. Simplesmente enfrentamos problemas e conflitos porque estamos neste mundo de pecado. Quantas vezes você

Daniel 16 Segredos da Profecia

17Daniel, um Homem Amado pelo Céu

já não se perguntou por que certas coisas aconteceram? Por que aquele namoro terminou? Por que perdi meu filho em um terrível acidente? Por que uma doença sem cura? Por que a falta de emprego? Por que não con sigo fazer feliz a pessoa que amo? Afinal, por que não sou feliz?

O que fazia de Daniel uma pessoa tão amada? Não eram as coisas que fazia nem as circunstâncias que o rodeavam, mas simplesmente quem ele era: um ser humano. Um ser humano que aprendeu, em meio a provações e dificuldades da vida, a desenvolver traços de caráter e hábitos que o Céu louva.

A grande verdade é que Deus ama a todos nós. Podemos não sentir esse amor, mas essa é a verdade. Você pode ignorar ou até se revoltar contra Ele, mas Ele o ama. Nunca vai deixar de amá-lo, não importa o que você faça. Isso mesmo! As pessoas podem nos magoar e ferir, podem nos abandonar e se esquecer de nós, podem jogar em nossa face nossos erros e defeitos, mas Deus nunca fará isso, pois sempre nos amará. E Daniel sabia disso. Sabia que era uma pessoa amada pelo Céu e foi isso que o ajudou a ficar firme nas horas de provação e perigo.

DAnIEl, O cATIVO

O grande ancestral do povo de Deus no Antigo Testamento foi Abraão (Gênesis 12:1-3). Este foi pai de Isaque, que foi pai de Jacó. Jacó, por sua vez, teve 12 filhos, que vieram a formar as 12 tribos de Jacó, ou Israel, pois o próprio Deus mudou seu nome (Gênesis 32:28). Assim, o povo de Deus no período do Antigo Testamento foi a nação de Israel, as 12 tribos de Israel (Gênesis 49:28).

Por ódio e inveja, José, um dos 12 filhos de Jacó, foi vendido por seus irmãos aos ismaelitas e, pela providência divina, foi parar no Egito (Gênesis 37:27, 28). Lá José tornou-se governador, e numa época de fome e miséria, Deus o usou para ajudar Seu povo, providenciando alimento. Tempos depois, o próprio faraó, monarca do Egito, convidou os irmãos de José para habitarem na terra de Gósen, terra próspera às margens do rio Nilo (Gênesis 47:27). Enquanto viveu esse faraó, os Israelitas foram favorecidos. Mas, subindo ao trono um faraó que não conhecia José e, temendo a quantidade dos israelitas e uma possível rebelião, logo os es cravizou (Êxodo 1:8-14). Esse foi o primeiro cativeiro do povo de Deus.

Passaram-se 430 anos até que Deus levantasse um libertador, Moisés, para tirar Seu povo do Egito e conduzi-lo à terra prometida a Abraão – Canaã (Gênesis 13:14,15; Êxodo 12:40; ). Com mão poderosa e dez pragas, Deus libertou Seu povo Israel do Egito. Este veio a se esta belecer em Canaã, e a terra foi repartida entre as tribos (Josué 14 a 19). O sistema de governo idealizado por Deus para Seu povo sempre foi uma teocracia, ou seja, Deus governa. Entretanto, no desejo de imitar as nações vizinhas, Israel pediu um rei (1 Samuel 8). Deus permitiu e Saul foi ungido o primeiro rei de Israel (1 Samuel 10:17). Seu reinado foi seguido por Davi e depois, Salomão.

Apenas durante esses três reinados as 12 tribos de Israel estiveram unidas como um reino apenas. Entretanto, depois de 40 anos de reinado, Salomão morre e surgem dois sucessores ao trono: Roboão, seu filho, e Jeroboão, um de seus servos. Neste momento da história ocorre a sepa ração das tribos. Duas tribos (Judá e Benjamim – 1 Reis 12:21) seguem a Roboão e dez tribos a Jeroboão (1 Reis 11:31). A partir deste momento, temos a dinastia do reino do Norte, com capital em Samaria (1 Reis 16:29) e a dinastia do reino do Sul, com capital em Jerusalém (1 Reis 14:21).

Por causa dos pecados cometidos contra Deus e de suas rebeliões, o reino do norte (dez tribos) seria dizimado e levado cativo. Várias profe cias advertiram o povo desse perigo. O profeta Oseias havia profetiza do: “Samaria levará sobre si a sua culpa, porque se rebelou contra o seu Deus; cairá à espada, seus filhos serão despedaçados, e as suas mulheres grávidas serão abertas pelo meio” (Oseias 13:16).

Também Isaías o havia predito: “Pois antes que o menino saiba di zer meu pai ou minha mãe, serão levadas as riquezas de Damasco, e os despojos de Samaria, diante do rei da Assíria” (Isaías 8:4).

Mas as advertências do Céu não foram ouvidas. Finalmente veio o cumprimento da profecia. O reino do Norte, com sua capital Samaria, foi escravizado e destruído pelos assírios no ano 722 a.C. (2 Reis 17:3-7). Esse foi o segundo cativeiro do povo de Deus.

Mas a profecia não se limitava ao reino do Norte. O profeta Isaías também havia predito a respeito do reino do Sul: “Porventura, como fiz a Samaria e aos seus ídolos, não o faria igualmente a Jerusalém e aos seus ídolos?” (Isaías 10:11). O cativeiro também chegaria para

Daniel 18 Segredos da Profecia

19Daniel, um Homem Amado pelo Céu

Jerusalém, o reino de Judá, se este não abandonasse os pecados que os separavam de Deus (Isaías 59:2). As várias advertências não foram ou vidas e o povo se afastou mais e mais de Deus. Quando a Bíblia declara que “O Senhor entregou” Judá nas mãos de Babilônia (Daniel 1:1, 2) era uma questão de juízo de Deus, e não força ou estratégia de Babilônia. Quando analisamos a história bíblica, descobrimos o “pano de fun do” para os acontecimentos do primeiro capítulo de Daniel. A história remonta a Ezequias, rei de Judá. Ele estava doente e o profeta Isaías re comendou que pusesse sua casa em ordem, pois a morte era iminente. Diante dessa dramática notícia, o rei orou fervorosamente, pedindo que sua vida fosse poupada e sua oração foi atendida (2 Reis 20:1-6). Deus lhe restauraria a saúde e lhe acrescentaria ainda mais 15 anos de vida; Também o livraria das mãos do rei da Assíria. Ezequias pediu então um sinal a Deus de que aquilo de fato aconteceria. Deus, que criou o Sol e o comanda (Jó 9:7), disse que este retrocederia 10 graus (2 Reis 20:11).

Não é maravilhoso descobrir um Deus que move os astros do Universo por amor a Seus filhos, mesmo quando rebeldes e desobe dientes? Deus interferiu na lei de rotação da Terra, lei que Ele mesmo havia criado, para mostrar ao rei Ezequias o quanto o amava. Essa alte ração no movimento da Terra não passou despercebida aos observado res babilônicos, que ficaram sabendo que aquilo que haviam observado tinha a ver com a cura do rei de Judá. Logo, uma delegação foi enviada para fazer averiguações.

Quando a embaixada babilônica chegou a Jerusalém, Ezequias “lhes mostrou toda a casa do seu tesouro, a prata, o ouro, as especia rias, os óleos finos, o seu arsenal e tudo quanto se achava nos tesouros” (2 Reis 20:13), mas nada disse sobre o Deus que move os astros em favor de Seus filhos. Uma tremenda oportunidade para testemunhar sobre o Deus verdadeiro, mas ela foi desperdiçada.

Deus então lança uma severa repreensão sobre Ezequias: “Eis que virão dias em que tudo quanto houver em tua casa [...] será levado para Babilônia [...] dos teus próprios filhos, que tu gerares, tomarão, para que sejam eunucos no palácio do rei da Babilônia” (2 Reis 20:17, 18). Aqui vemos uma profecia relativa aos príncipes judeus, e entre eles Daniel, Hananias, Misael e Azarias (Daniel 1:3).

O filho de Ezequias, Manassés, quando completou 12 anos de idade começou a reinar ao lado de seu pai. Nos 15 anos de vida que foram prometidos a Ezequias, em 10 deles Manassés foi co-regente. Isso acon teceu para dar ao novo rei experiência para o cargo. Não sabemos se Ezequias procurou influenciar seu filho, mas este seguiu uma condu ta religiosa totalmente diferente do padrão estabelecido por seu pai. A Bíblia apresenta seu currículo real ao longo dos 55 anos de reinado: (a) Edificou os altos que seu pai havia destruído, (b) levantou altares a Baal, (c) fez um poste-ídolo e o serviu, (d) edificou altares na pró pria casa de Deus (o templo construído por Salomão), (e) queimou seu filho como sacrifício, (f) adivinhava pelas nuvens, (g) era agoureiro, tratava com médiuns e feiticeiros, (h) fazia o que era mau perante o Senhor para O provocar à ira, etc. (2 Reis 21:2-7).

Por certo nos faltarão palavras para listar tudo que Manassés fez de abominável. Além de tudo isso, derramou sangue inocente, de um lado ao outro de Jerusalém, daqueles que resistiam à sua apostasia. (2 Reis 21:16). Mas a história não acaba aí e, às vezes, nos causa estra nheza e admiração. Este rei ímpio se arrependeu e mudou seu cora ção e Deus lhe perdoou tudo que havia feito (2 Crônicas 33:12, 13). Assim é a Bíblia, cheia de histórias que nos fascinam e nos fazem refle tir sobre um Deus que ama, compreende e perdoa (Salmo 130:4). Mas o mal que Manassés havia causado não pôde ficar sem consequências. Por intermédio dos profetas, Deus repetiu a predição de que o juízo se abateria sobre Jerusalém: “Estenderei sobre Jerusalém o cordel de Samaria e o prumo da casa de Acabe; eliminarei Jerusalém, como quem elimina a sujeira de um prato” (2 Reis 21:13). Deus estava simplesmente deixando que o povo sofresse as consequências de sua rebelião.

Agora entra em cena outro personagem: Amom, filho de Manassés. Este se demonstrou pior que seu pai. Nunca deu provas de arrepen dimento e foi assassinado depois de um breve reinado de dois anos (2 Crônicas 33:21-24).

Quando morre Amom, Josias seu filho, começa a reinar em seu lugar. Uma das primeiras tarefas de Josias foi reparar o Templo. Enquanto empre endia essa obra, encontrou o “livro da lei”, dado por Moisés (Deuteronômio 31:24 a 26; 2 Crônicas 34:14), que havia muito tempo estava desaparecido.

Daniel 20 Segredos da Profecia

21Daniel, um Homem Amado pelo Céu

Não nos espanta tamanha rebelião e miséria dos reis anteriores a Josias, quando descobrimos que o livro da lei de Deus estava esquecido. Esse é o resultado natural de deixar de ouvir as orientações divinas.

Achado o livro, Josias promoveu uma reforma espiritual entre o povo de Deus. No entanto, seu sucessor, Jeoacaz, não deu continuidade a obra. Jeoacaz é descrito como alguém que “fez o que era mau perante o Senhor” (2 Reis 23:32). Ele foi levado como refém para o Egito e lá morreu (2 Crônicas 36:4). O rei seguinte, Jeoaquim, foi igualmente mau e foi em seus dias que o cativeiro babilônico começou (2 Crônicas 36:6).

Ao delinearmos a história do povo de Deus antes do cativeiro, chegamos à conclusão de que Deus não é arbitrário no trato com Seus filhos, mas sim, paciente, compassivo e disposto a aceitar o arrependi mento. Mas quando o povo não se arrepende, Ele permite que colha os frutos de sua desobediência. É isso que veremos na história do cativeiro babilônico, o terceiro cativeiro do povo de Deus.

PROMESSA DE lIbERTAçãO

No entanto, Deus nunca abandona Seu povo. Várias profecias fo ram dadas falando sobre o retorno do cativeiro babilônico, com o obje tivo de animar e lhes dar esperança. Deus não deixou Seu povo em tre vas quanto aos eventos que sucederiam. Todos os detalhes foram postos diante de seus olhos por meio dos profetas Jeremias e Isaías:

a) O reino de Judá seria escravizado por Babilônia (Jeremias 25:11). Setenta anos seria o tempo de escravidão (Jeremias 25:12).

b) Ciro seria o libertador do cativeiro da Babilônia (Isaías 45:1).

c) Secar os rios seria a estratégia militar que Ciro usaria para li bertar os Judeus (Isaías 44:27).

d) A cidade de Jerusalém e o templo seriam novamente restaura dos (Isaías 44:28).

e) Neste templo restaurado, o Messias pisaria para salvar Seu povo (Isaías 9:6; Ageu 2:9).

Os cristãos do século 21 correm o mesmo risco do povo de Judá dos dias de Daniel. Temos nestes dois livros (Daniel e Apocalipse) todos

os detalhes proféticos de tudo que irá acontecer nos próximos anos, e corremos o risco de sermos pegos de surpresa (Lucas 12:40). Por isso, a urgente necessidade do estudo das profecias dos livros de Daniel e Apocalipse pelas lentes da história.

DAnIEl, O PROfETA

Não há profecia sem um profeta. Mas o ofício profético não ocorre porque alguém o deseja. Ninguém pode fazer de si mesmo um pro feta. O profeta é um indivíduo a quem Deus chama e capacita para o exercício do ofício. Para ser um profeta, a pessoa deve ser distinta e possuir qualidades que a habilitem a este tão sagrado ministério. Deve ser um servo leal de Deus, fiel a todos os reclamos de Sua lei, humilde, despretensioso, zeloso pela honra de Deus, de Sua causa, de Seu povo, um fervoroso porta-voz de Deus. Assim era Daniel, o amado de Deus.

Deus usaria esse jovem para escrever um dos mais extraordinários livros da Bíblia. Vilmar Gonzáles apresenta, em cada capítulo de seu livro sobre Daniel, uma manifestação de Jesus em Seu aspecto redentor, protegendo e zelando por Seus filhos:

capítulo 1: Os nomes de Daniel, Hananias, Misael e Azarias signi ficam atributos inerentes a Cristo. capítulo 2: Jesus Se revela indiretamente por meio do sonho dado a Nabucodonosor. capítulo 3: Jesus Se revela diretamente a Nabucodonosor, que O viu na fornalha ardente. capítulo 4: Nabucodonosor reconhece o poder de Cristo, que o humilhou, e reconhece Sua misericórdia ao ser ele restituído ao trono. capítulo 5: O nome de Jesus é vindicado após ser profanado. A destruição de Babilônia foi necessária para que Israel fosse liberto do cativeiro. capítulo 6: O poder de Jesus para libertar Daniel da cova dos leões. capítulo 7: O tribunal divino se assenta para intervir nos negócios da humanidade e salvar os “santos do altíssimo”. capítulo 8: A purificação do santuário e a intercessão de Cristo para perdoar os pecados de Seu povo e trazer juízo ao impenitente.

Daniel 22 Segredos da Profecia

23Daniel, um Homem Amado pelo Céu

capítulo 9: Clímax do amor de Deus ao enviar Seu filho na metade da septuagésima semana e salvar pecadores.

capítulo 10: Cristo (Miguel) intervém na política do mundo para favorecer e salvar Seu povo. capítulo 11: Vitória de Cristo a favor de Seu povo nas guerras dos reis do Norte e do Sul. capítulo 12: Vitória esmagadora e final de Cristo, que conduz Seu povo através do tempo final de angústia ao descanso e recompensa eternas.2

Percebemos um Deus que dirige a história, exalta Suas leis e conduz os interesses de Seu povo. Também pode ser notado o amoroso trato de Deus para com o exilado Daniel. Suas experiências na corte babilônica, recebendo a interpretação de sonhos, livrando seus companheiros da fornalha de fogo ardente, mantido no poder na transição de impérios, são cenas de uma história do amor e cuidado paternal de Deus.

Durante os 70 anos em que esteve cativo em Babilônia, Daniel foi uma testemunha ocular das ações divinas e alvo do amor e cuidado de Deus. É maravilhoso é pensar que o tratamento dispensado a Daniel (homem muito amado pelo Céu) é o mesmo que Deus deseja conceder a todos nós. Assim como Daniel, estamos vivendo agora um cativeiro espiritual. A grande “Babilônia” (Apocalipse 17 e 18) está ao redor, com suas sedutoras tentações e armadilhas. Os dias atuais também exigirão de nós uma fé firme e caráter nobre assim como exigiu de Daniel nos dias da Babilônia literal.

Estamos nós prontos para essa grande batalha moral e espiritual? Permitamos que a história de Daniel, um homem amado pelo Céu, nos encha de esperança e fé!

2 GONZÁLEZ, Vilmar E. Daniel e Apocalipse. Feira de Santana, BA: Grafinort, 1994,
p. 3.

No Apocalipse todos os livros da Bíblia se encontram e se cumprem. Ali está o complemento do livro de Daniel. Um é uma profecia; o outro uma revelação. O livro que foi selado não é o Apocalipse, mas a porção da profecia de Daniel relativa aos últimos dias. O anjo ordenou: “E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo” (Daniel 12:4) (Atos dos Apóstolos, 585).

DANIEL, UM LIVRO SELADO

O lIVRO DE DAnIEl

O costume de dar ao livro o nome de seu principal herói pode ser visto em vários exemplos: Josué, Samuel, Ester, Jó, etc. O mesmo acon tece com Daniel, pois o príncipe de Judá é seu principal protagonista.

A autoria do livro tem sido muito questionada nos últimos anos. Entretanto, a opinião tradicional, tanto de judeus como de cristãos, é que o livro foi escrito no 6º século a.C., e que Daniel foi seu autor. As evidências em favor dessa opinião são as seguintes:

a) Expressões no próprio livro. O profeta usa o tempo verbal na primeira pessoa várias vezes (8:1-7, 13-19, 27; 9:2-22; 10:2-5 etc.); também afirma ter recebido pessoalmente a ordem de preservar o livro (12:4).

b) O autor conhece bem a história. Somente um homem que vi veu no 6º século a.C., conhecedor dos assuntos babilônicos, poderia ter descrito os eventos históricos registrados no livro.

c) O testemunho do próprio Cristo. Jesus mencionou Daniel como sendo o autor do livro que leva seu nome (Mateus 24:15).

Quanta a data da composição do livro, certamente foi escrito em Babilônia, no período em que lá Daniel esteve cativo. Com exceção

2

do capítulo 4, certamente escrito pelo próprio Nabucodonosor, rei da Babilônia, todos os outros capítulos foram escritos por Daniel.

DIVISõES DO lIVRO

O livro de Daniel é dividido em dois segmentos fáceis de distin guir: história e profecia. As profecias tratam dos grandes eventos no decorrer da história humana e apontam para um período chamado “tempo do fim” (capítulos 7-12). A parte histórica (capítulos 1-6) ensi na como podemos nos preparar para o “tempo do fim”. Essas histórias falam de fé, coragem e esperança. Apesar disso, o livro constitui uma unidade literária. Um dos argumentos é o fato de que diferentes partes do livro estão relacionadas entre si. Como, por exemplo:

a) Só se pode compreender o uso dos utensílios do templo na festa promovida por Belsazar (Daniel 5:3), quando se tem em conta como esses utensílios chegaram a Babilônia (Daniel 1:1-2).

b) No verso 12 do capítulo 3 se faz referência a uma medida admi nistrativa de Nabucodonosor que é descrita primeiro no verso 49 do capítulo 2.

c) No verso 21 do capítulo 9 se faz referência a uma visão prévia (8:15-16).

d) A parte histórica do livro contém uma profecia (capítulo 2) di retamente relacionada com o tema da profecia do capítulo 7. E na parte profética temos uma história, onde está registrada a oração de Daniel dentro do contexto de uma profecia: “setenta semanas” dadas aos judeus (Daniel 9:24).

cOnTExTO HISTóRIc O

O livro de Daniel contém o registro de alguns incidentes históri cos da vida do profeta e de seus amigos, Hananias, Misael e Azarias, judeus deportados e que estavam a serviço do rei de Babilônia. Também registra quatro visões recebidas por Daniel alusivas aos seus dias (capítulo 2) e ao tempo do fim (capítulos 7-12). Embora o livro fosse escrito em Babilônia durante o cativeiro, não tinha o propósito de proporcionar uma história do exílio dos judeus, e muito menos

Daniel 26 Segredos da Profecia

27Daniel, um Livro Selado

uma biografia de Daniel. O livro relata as experiências da vida do estadista-profeta e sua parte profética foi registrada com fins específi cos de orientação ao povo de Deus no tempo do fim, motivo pelo qual o livro foi selado até essa data (Daniel 12:4).

TEMA DO lIVRO

O tema central de Daniel trata do grande conflito entre o bem e o mal, entre a vontade de Deus e a vontade humana, entre as verdades do Céu e as crendices pagãs, entre o eterno governante do Universo e os transitórios governantes da Terra. O povo de Deus está envolvido no conflito, alvo dos ataques das forças do mal. Por isso, o tema do livro não visa apenas a indicar o surgimento e queda dos impérios mundiais, mas a demonstrar como Deus lança ao pó o orgulho dos reis e estabelece outros em seu lugar; como tem em Suas mãos a história humana e como guia Seu povo na marcha ascendente e vitoriosa rumo à terra prometida.

Logo em Daniel 1:2 é dito que Deus “entregou” Jeoaquim, rei de Judá, a Nabucodonosor, rei de Babilônia. O cativeiro do povo de Deus não ocorre por vontade de Nabucodonosor, mas por direção divina (Jeremias 25:11,12; 2 Reis 20:17, 18), e Nabucodonosor seria apenas um instrumento usado por Deus para ensinar uma preciosa lição a Seu povo (Esdras 5:12; Jeremias 25:9). Da mesma forma, a libertação e o re gresso do povo de Deus a Jerusalém não seria obra humana, mas Deus usaria Ciro, assim como usou Nabucodonosor, para trazer de volta os filhos cativos (Isaías 44:27, 28; 45:1).

Ao dar um relato detalhado do trato de Deus com Babilônia, o livro nos capacita a compreender o significado do surgimento e da queda de outras nações, cujas histórias estão esboçadas na porção profética do livro. Deus é apresentado como alguém controlando os negócios na Terra. Nada foge a Seu controle. Assim descobrimos a verdadeira filosofia da história: Deus agindo no tempo para realizar Seu eterno propósito de salvar o homem, restaurando nele a Sua imagem.

A missão de Daniel, nesse contexto, foi conseguir a submissão da vontade do rei à vontade de Deus para que se realizassem os propósi tos divinos. Numa hora crucial da história, Deus fez com que Daniel e Nabucodonosor estivessem juntos.

VISõES PROféTIcAS DO lIVRO

O livro de Daniel registra quatro visões proféticas. Cada uma de las alcança seu clímax quando “o Deus do Céu” levanta “um reino que não será destruído”, (Daniel 2:44), quando o “Filho do Homem” recebe “domínio eterno” (Daniel 7:13 a 14), quando a oposição ao “Príncipe dos príncipes” será quebrantada “não por mão humana” (Daniel 8:25), e quando o povo de Deus será liberado para sempre de seus opressores (Daniel 12:1). Em todos esses momentos vemos a ação de Deus na con dução da história.

Essas visões tratam da luta entre as forças do bem e do mal, desde os dias de Daniel até o estabelecimento final do reino de Cristo. Nelas vemos a ação de Satanás usando poderes terrestres para tentar frustrar os planos de Deus e destruir Seu povo.

A primeira visão (capítulo 2) trata principalmente de mudanças políticas. Seu objetivo era fazer saber a Nabucodonosor, líder da grande Babilônia, o que haveria de acontecer no futuro (Daniel 2:29).

Já a segunda visão (capítulo 7) complementa a primeira e prediz a vitória final dos “santos do Altíssimo” no julgamento de Deus sobre seus inimigos (Daniel 7:14, 18, 26 a 27).

A terceira visão (Daniel 8 e 9) complementa a segunda e ressalta os esforços de Satanás para destruir a religião e o povo de Cristo, tentando impedir seu regresso a Jerusalém, a reconstrução do santuário e o re torno dos sacrifícios expiatórios.

A quarta e última visão (capítulos 10 a 12) apresenta um resumo das visões anteriores, e oferece uma gama muito maior de detalhes do grande conflito envolvendo as forças do bem e do mal. No entanto, um novo elemento surge. Essa visão põe especial ênfase no tempo em que a parte profética de Daniel, especialmente relacionada ao “tempo do fim” (Daniel 12:4, 9), seria compreendida. Ou seja, o livro de Daniel teria uma parte selada e que não poderia ser compreendida naqueles dias (Daniel 8:27), mas somente no “tempo do fim” (Daniel 12:2).

SEl ADO ATé O “TEMPO DO fIM”

Na quarta e última visão do profeta Daniel foi-lhe dito que ela era “para os últimos dias [...] dias ainda mui distantes” (Daniel 10:14).

Daniel 28 Segredos da Profecia

29Daniel, um Livro Selado

Daniel recebeu instruções de fechar e selar aquela parte da profecia re ferente aos últimos dias até que, mediante um estudo diligente do livro, aumentasse o conhecimento de seu conteúdo (Daniel 12:4). Essas pro fecias requerem especial atenção, pois se destinam especificamente ao tempo em que vivemos.

A escritora Ellen G. White nos ajuda na compreensão desse tema. Falando sobre o selamento do livro de Daniel, ela escreveu: “No Apocalipse todos os livros da Bíblia se encontram e se cumprem. Ali está o complemento do livro de Daniel. Um é uma profecia, o outro, uma revelação. O livro que foi selado não é o Apocalipse, mas a parte da profecia de Daniel relativa aos últimos dias (Daniel 12:4).1 Assim, entendemos que uma parte das profecias feitas a Daniel não era para seus dias, pois ele recebeu ordem de “encerrar as palavras” e “selar o livro” (Daniel 12:4).

O estudo do livro de Apocalipse trará luz especial sobre os mistérios revelados a Daniel. Embora a parte da profecia de Daniel relacionada aos últimos dias tivesse sido selada (Daniel 12:4, 9), João recebeu ins truções específicas de não selar “as palavras da profecia” de seu livro, o Apocalipse, “porque o tempo está próximo” (Apocalipse 22:10). Assim, para obter uma compreensão mais clara de qualquer porção do livro do Daniel que seja difícil de entender, devemos estudar cuidadosamente o livro do Apocalipse em busca de mais luz sobre os temas.

A AbERTURA DO lIVRO DE DAnIEl

Quando então se daria a abertura do livro de Daniel? Quando sua parte profética relativa aos eventos dos “últimos dias” poderia ser compreendida? O Apocalipse pode ajudar? Olhemos com atenção o capítulo 10. João assim escreveu:

“E vi outro anjo forte que descia do céu, vestido de uma nuvem; por cima da sua cabeça estava o arco-íris; o seu rosto era como o sol, e os seus pés como colunas de fogo, e tinha na mão um livrinho aberto. Pôs o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra, e clamou com grande voz, assim como ruge o leão; e quando clamou, os sete trovões

1 WHITE, Ellen G. Atos dos apóstolos. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006, p. 585.

fizeram soar as suas vozes. Quando os sete trovões acabaram de soar eu já ia escrever, mas ouvi uma voz do céu, que dizia: Sela o que os sete trovões falaram, e não o escrevas. O anjo que vi em pé sobre o mar e sobre a terra levantou a mão direita ao céu, e jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos, o qual criou o céu e o que nele há, e a terra e o que nela há, e o mar e o que nele há, que não haveria mais demora” (Apocalipse 10:1-6).

Fazendo uma comparação da visão desse anjo forte que desce do Céu com a visão que João teve em Apocalipse 1:13 a 16, podemos con cluir que esse anjo é o próprio Jesus Cristo (ver imagens paralelas dessa visão em Ezequiel 1:26-28 e Daniel 10:5, 6). A posição com um pé so bre o mar e outro sobre a terra significa a ampla extensão da procla mação da Sua mensagem 2, e o livrinho aberto na mão era o livro do profeta Daniel.3

Uma coisa peculiar nessa visão de Apocalipse 10 é que o livrinho estava “aberto” na mão do anjo. Em Daniel 12:4 e 9, ordenou-se ao pro feta selar o livro “até o tempo do fim”. Teria então, nos dias de João, chegado o tempo de desselar o livro? Chegara o tempo do fim?

Em Daniel 12:6, um dos seres celestiais questiona ao homem ves tido de linho sobre “o tempo em que se cumprirão estas maravilhas”. O homem vestido de linho revela que seria depois de “um tempo, dois tempos e metade de um tempo” (Daniel 12:7). Na profecia bíblica, “um tempo” equivale a um ano (ver Daniel 11:13). Logo, três tempos e meio é igual a três anos e meio, ou 42 meses (12 + 12 + 12 + 6 = 42 meses) ou 1.260 dias (42 meses x 30 dias = 1.260 dias).4 Levando em conta outro princípio de interpretação profética chamado “princípio dia/ano”, em que cada dia literal equivale a um ano em profecia (Números 14:34; Ezequiel 4:6 e 7), teríamos então 1.260 anos literais até a chegada do “tempo do fim”.

Daniel 7:25, falando sobre o “chifre pequeno”, um poder antagônico a Deus, diz que os servos de Deus, chamados de “santos” em Daniel,

2 WHITE, Ellen G. Mensagens escolhidas, v. 2. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998, p. 107.

3 NICHOL, Francis D. Seventh-Day Adventist Bible Commentary. Washington, DC: Review and Herald, 1976-1980, v. 7, p. 797.

4 O ano judaico se compunha de 360 dias, o que é menos que 365 dias de um ano solar e mais de 356 dias de um ano lunar. 360 dias constituem a média aproximada entre o ano solar e o ano lunar.

Daniel 30 Segredos da Profecia

31Daniel, um Livro Selado

“lhe seriam entregues nas mãos por um tempo, dois tempos e metade de um tempo”, a mesma expressão usada em Daniel 12:7. Esse mes mo período de tempo pode ser encontrado no livro do Apocalipse, capítulo 12, envolvendo perseguição ao povo de Deus. João, falando da severa perseguição que a igreja de Cristo (simbolizada aqui por uma mulher vestida de sol), sofreria de Satanás (simbolizado aqui por um dragão), diz que Deus prepararia um lugar no deserto para sustentar a mulher durante 1.260 dias (Apocalipse 12:6). Já quando chegamos ao capítulo 13, descobrimos que a “besta que emerge do mar” receberia autoridade para agir durante 42 meses (Apocalipse 13:5).

Logo, “um tempo, dois tempos e metade de um tempo”, três anos e meio (Daniel 12:7), que é igual a “42 meses” (Apocalipse 13:5), que por sua vez é igual a “1.260 dias” (Apocalipse 12:6), são períodos proféticos que apontam para um mesmo evento, a saber, a chegada do “tempo do fim”, quando só então a parte profética de Daniel, alusiva aos últimos dias, seria compreendida.

Esse período profético é localizado na história a partir do ano 538, quando o poder papal recebe jurisdição temporal, até 1798, quando o papa Pio VI é preso na capela Sistina, em Roma.5 Assim, os 1.260 anos nos levam ao ano 1798, data apontada na profecia para a chegada do “tempo do fim”. (Veremos esta profecia em mais detalhes quando estu darmos o capítulo 7 de Daniel.)

Mas há em Daniel outra profecia que também trata da chegada do “tempo do fim”, a de Daniel 8:14. Segundo a informação do anjo, quan do se passassem “2.300 tardes e manhas” (2.300 anos, segundo a inter pretação profética), o santuário seria purificado. A data inicial desse período de 2.300 anos aparece em Daniel 9:25, a “saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém”. Segundo os estudiosos, essa ordem foi promulgada no ano 457 a.C., pelo rei persa Artaxerxes.6 Viajando 2.300 anos a partir de 457 a.C. chegaremos aos anos 1844 d.C. (Veremos esta profecia em mais detalhes quando estudarmos o capítulo 8 de Daniel.)

5 GONZÁLEZ, 1994, p. 149. Ver mais detalhes em: Alberto R. Timm, “A importância das datas de 508 e 538 A.D. no processo do estabelecimento da supremacia papal”. Revista Teológica, SALT IAENE. Janeiro a junho de 1999, p. 40-54.

6 Para um estudo detalhado sobre o decreto de Artaxerxes em 457 a.C., ver Juarez Rodrigues de Oliveira. Chronological Studies Related to Daniel 8:14 and 9:24-27, p. 9-20.

Assim, as datas de 1798 e 1844 marcam, respectivamente, a chegada do tempo do fim. A partir desses anos as profecias de Daniel, alusivas ao “tempo do fim”, poderiam ser compreendidas. João, em sua visão, vê o livrinho aberto, pois sua mente fora levada àqueles anos, quando o “tempo do fim” já havia chegado. Entendemos que com essa apresen tação feita a João do livrinho aberto, revelam-se as partes seladas da profecia de Daniel, especialmente o cômputo cronológico que assinala o fim da profecia das “2.300 tardes e manhãs” (Daniel 8:14).

Outro motivo para se crer nesses anos para a chegada do “tempo do fim” aparece na mesma visão de João em Apocalipse 10. João já ia escrever o que viu, mas recebeu do Céu uma ordem dizendo: “Guarda em segredo as coisas que os sete trovões falaram e não as escrevas” (Apocalipse 10:4). Entendemos com isso que as revelações da parte profética de Daniel também não eram para os dias de João. Então, o ser celestial continuou: “Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério de Deus, segundo Ele anunciou a Seus servos, os profetas” (Apocalipse 10:7). Logo, quando a sétima trombeta estivesse pronta para ser tocada, os mistérios de Daniel seriam revelados e compreendidos.

Isso quer dizer que essas revelações estão abertas para nós hoje. Não temos tempo a perder. Precisamos concentrar nossas energias mentais para entender os mistérios do livro de Daniel. Somente essa compreensão nos preparará para os últimos e extraordinários eventos que terão lugar em nosso planeta. Por isso, o vidente de Patmos, quan do o livro foi aberto, ouviu do próprio Cristo a proclamação: “Já não haverá demora” (Apocalipse 10:6). O livro de Daniel está agora aberto, e a revelação feita por Cristo deve ser levada a todos os habitantes da Terra, e sem demora.

Daniel 32 Segredos da Profecia

Entre os filhos de Israel que foram levados cativos para Babilônia no início dos setenta anos do cativeiro havia cristãos patriotas, homens que eram tão fiéis ao princípio como o aço, e que se não deixariam corromper pelo egoísmo, mas honrariam a Deus com prejuízo de tudo para si. Na terra de seu cativeiro esses homens deviam levar avante o propósito de Deus de dar às nações pagãs as bênçãos que vêm pelo conhecimento de Jeová. Deviam eles ser Seus representantes. Jamais deviam comprometer-se com idólatras; sua fé e seu nome como adoradores do Deus vivo deveriam ser levados como alta honra. E isto eles fizeram. Na prosperidade e na adversidade honraram a Deus; e Deus os honrou a eles (Profetas e Reis, 479).

DESAFIOS CULTURAIS

Uma vez que estamos vivendo no “tempo do fim”, quando as profecias de Daniel poderiam ser plenamente compreendidas, nos compete dedicar tempo e energia ao estudo desse maravilhoso livro da Bíblia. Daniel contém 12 capítulos. O capítulo 1 funciona como uma intro dução apropriada ao livro como um todo. Fala da primeira invasão de Babilônia a Jerusalém, do aprisionamento e cativeiro de Daniel e seus amigos e do teste que enfrentaram para ocupar uma posição junto à corte real. Também é fundamental para a compreensão dos eventos do capítulo 2, quando Nabucodonosor, rei de Babilônia, tem um sonho misterioso com uma assombrosa estátua. Explica também a procedência dos vasos de ouro e prata que estavam em Jerusalém e foram levados para o templo de Marduque, principal deus em Babilônia, os quais são profana dos momentos antes de sua queda, segundo o relato do capítulo 5. Assim, o primeiro capítulo fornece detalhes para a compreensão dos eventos registrados em todo o livro.

A lição ensinada no capítulo 1 é o interesse de Deus pelas nações e pelos indivíduos. Segundo C. A. Auberlen e S. P. Tregelles, a própria divisão do livro em duas línguas atesta esse fato. Segundo sabemos, o livro de Daniel foi escrito originalmente em dois idiomas:

3

a) 1:1 a 2:4a: Hebraico

b) 2:4b a 7:28: Aramaico

c) 8:1 a 12:13: hebraico

Esses autores sustentam que essa mudança de línguas é a chave para se compreender os propósitos de Deus no livro. Na medida em que existe uma estrutura, observa-se que o livro de Daniel transmite uma mensagem de julgamento e derrota para o mundo gentio, do qual os principais representantes no tempo do profeta eram Nabucodonosor, Belsazar, Dario e Ciro. A linguagem apropriada nessa parte que se re fere aos gentios é o aramaico, língua diplomática e comercial da época. O livro transmite ainda outra mensagem, uma mensagem de esperança e livramento para o povo de Deus, os hebreus. Para a parte que trata dos hebreus, a língua é, naturalmente, o hebraico.1

O GRAnDE cOnflITO c OMO PAnO DE fUnDO

Desde o início do livro vemos em marcha o grande conflito entre o bem e o mal, entre o culto pagão e a adoração ao verdadeiro Deus. Logo no primeiro verso, duas cidades se destacam. Jerusalém, capital do povo de Deus, e Babilônia, capital idólatra, representando a sede do poder que se opõe a Deus. De fato, essas duas cidades são citadas em toda a Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, e podemos ver a intensa luta entre a luz e as trevas, a verdade e o erro, em cada momento da história.

Logo no primeiro livro da Bíblia, Gênesis, no verso 18 do capítulo 4, lemos: “Ora, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; pois era sacerdote do Deus Altíssimo”. A expressão “Salém” deu origem ao nome “Jerusalém”, cidade da paz (Salmo 122; 135:21).

Onde está Babilônia no Gênesis? O capítulo 10 fala sobre um famo so caçador chamado Ninrode e que o princípio de seu reino foi Babel (Gênesis 10:10). No verso 9 do capítulo 11, falando sobre uma torre que os homens estavam construindo, lemos: “Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a linguagem de toda

1 CULVER, Robert D. Daniel: comentário bíblico Moody: Isaías a Malaquias. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1990, p. 210.
Daniel 36 Segredos da Profecia

a terra, e dali o Senhor os espalhou sobre a face de toda a terra”. De “Babel” vem a palavra “Babilônia”, confusão.

Já o livro de Apocalipse apresenta a Nova Jerusalém como sendo a morada do Altíssimo com os salvos por toda a eternidade (Apocalipse 21:2, 3), evento este que ocorrerá somente após a queda de Babilônia, descrita nos capítulos 14 e 18. Vemos assim essas duas cidades existin do durante todo o decorrer da história. No livro de Daniel, elas se en contram e a primeira impressão que temos é que Babilônia sai vitoriosa sobre a cidade de Deus, Jerusalém. Entretanto, somente a conclusão da história pelas lentes da profecia nos permitirá avaliar a questão de forma correta.

O cATIVEIRO DO POVO DE DEUS

Vimos no capítulo 1 que o povo de Deus enfrentou três cativei ros ao longo de sua história. O livro de Daniel inicia com a descri ção do terceiro – o cativeiro babilônico. “No ano terceiro do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém e a sitiou” (Daniel 1:1). Nesse período da história quatro principais nações dominavam o Oriente Médio: Egito, Lídia, Média e Babilônia.

O Império Assírio, terrivelmente cruel, havia dominado o crescente fértil2 por cerca de 300 anos. Esse mesmo império havia destruído as 10 tribos de Israel em 722 a.C., mas agora estava chegando ao seu ocaso e despontava um novo poder: Babilônia.

Por volta de 612 a.C., Nabopolassar conseguiu vencer a Assíria e tornou-se o fundador do Império Neobabilônico. Seu filho, Nabucodonosor II (o mesmo do livro de Daniel), conseguiu elevar Babilônia à sua época de ouro. Seu nome NABU-KUDURRI-USUR significava em caldeu “prece dirigida ao deus Nabu por proteção”.3

2 “Crescente fértil” é a região do planeta onde surgiram as primeiras civilizações. Região que englo bava a Mesopotâmia, uma faixa de terra junto ao Mar Mediterrâneo e o nordeste da África. Ficou conhe cida por esse nome porque seu traçado forma um semicírculo que lembra a Lua no quarto crescente e também pela presença de grandes rios (Tigre e Eufrates), cujos vales apresentavam solos férteis propícios para a prática da agricultura. Fonte: <http://www.historiamais.com/crescente_fertil.htm>. Acessado em 30 junho 2013.

3 NICHOL, Francis D. Comentário bíblico adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013. V. 4, p. 831.

37Desafios Culturais

Por vezes, os judeus buscaram o apoio do Egito para não caírem nas mãos de Babilônia, mas por meio do profeta Jeremias e Isaías, Deus orien tou que não buscassem essa aliança, mas cedessem ao domínio de Babilônia. Finalmente, no dia 1º de junho de 605 a.C., Nabucodonosor derrotou o posto militar avançado do Egito, localizado em Carquêmis. Com a morte de seu pai, Nabopolassar, no dia 15 de agosto do mesmo ano, Nabucodonosor viaja às pressas para Babilônia, antes que um impostor usurpe o trono. No dia 7 de setembro de 605 a.C. ele chega a Babilônia e é coroado rei.4 Judeia, cidade de Daniel e seus amigos, estava localizada ao longo da costa oriental do mar Mediterrâneo, território hoje ocupado por Israel. Babilônia se localizava junto ao rio Eufrates, próximo à atual localiza ção de Bagdá, capital do Iraque. Os rios Tigre e Eufrates irrigavam um vale bastante plano, limitado a Leste por uma cadeia de montanhas e a Oeste pelo deserto. O vale era chamado de “Mesopotâmia”, ou “terra que fica entre rios”. A rota regular de Jerusalém para Babilônia extendia-se por mais de 1.500 km. Caminhando cerca de 25 km por dia, seria uma viagem de aproximadamente dois meses.5 Foi esse longo percurso que Daniel, seus amigos e outros príncipes judeus fizeram como escravos.

Mas por que Deus “entregou” (Daniel 1:2) Jeoaquim, rei de Judá, e os utensílios do templo nas mãos do rei de Babilônia? Por que Deus permitiu o cativeiro de Seu povo?

Ellen G. White, falando dos propósitos divinos ao permitir o cati veiro do povo de Israel, escreveu: “A religião deles centralizava-se nas cerimônias do sistema sacrifical. Haviam feito da forma exterior algo da máxima importância enquanto tinham perdido o espírito do verdadeiro culto [...] O Senhor agiu ao permitir que o povo fosse levado ao cativei ro e ao interromper os serviços do templo, a fim de que as cerimônias exteriores não se tornassem a essência da sua religião [...] A glória exterior foi removida, para que o espiritual pudesse ser revelado”.6

A primeira invasão da Judeia é o evento que assinala a data do início do cativeiro babilônico que, segundo o profeta Jeremias, seria de 70 anos

4 MAXWELL, C. Mervyn. Uma nova era segundo as profecias de Daniel. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996. p. 32.

5 Ibidem. p. 18.

6 WHITE, Ellen G. Meditação Matinal: Olhando para o alto. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1983. p. 155.

Daniel 38 Segredos da Profecia

(Jeremias 25:11, 12). Ao todo, foram três as invasões babilônicas a Jerusalém. A primeira ocorreu no ano 605 a.C. Nabucodonosor fez Joaquim se ajoelhar diante dele e levou reféns, entre eles, Daniel e seus companheiros (Daniel 1:1-6). Mais tarde, em 597 a.C., em outra expe dição à Palestina, depois de certas atitudes rebeldes da parte dos reis judeus, Joaquim e Jeoaquim, Nabucodonosor viu a necessidade de pu nir essa rebeldia, e tornou a subjugar Jerusalém. Desta vez, ele levou cativo 10.000 prisioneiros, entre os quais estava o rei Jeoaquim e o jo vem profeta Ezequiel (Ezequiel 1:1-3; 2 Crônicas 36:10; 2 Reis 24:8-20). Finalmente, em 597 a.C., depois de um longo cerco, Nabucodonosor destruiu a cidade e o templo, bem como toda a comunidade judaica (2 Reis 25:1-7; Jeremias 34:1-7; 39:1-7; 52:2-11).

A Bíblia relata que Nabucodonosor profanou o santuário do Altíssimo, tomando parte dos utensílios sagrados do Templo, que somavam mais de 5.000 objetos,7 e os levou para Babilônia colocando-os na casa do seu deus, Marduque. Esses saques dos tesouros sagrados pelos babilônios cumpri ram as profecias de Isaías e Jeremias. Os profetas haviam declarado:

“Eis que virão dias em que tudo quanto houver em tua casa, junta mente com o que entesouraram teus pais até o dia de hoje, será levado para Babilônia; não ficará coisa alguma, disse o Senhor” (Isaías 39:6). “E voltarão os caldeus, e pelejarão contra esta cidade, e a tomarão, e a queimarão a fogo” (Jeremias 37: 8). O livro de lamentações de Jeremias (1:1-5; 2:1-4, 13) fala da tristeza que se abateu sobre o profeta ao teste munhar seu povo levado cativo.

Marduque era o principal deus de Babilônia que, no tempo da primeira dinastia, mais de mil anos antes, tinha sido chamado usual mente Bel, “senhor”. Seu templo principal chamado Esagila, em cujo pátio estava a grande torre chamada Etemenanki, ficava no coração de Babilônia.8 O fato dos utensílios sagrados usados no serviço do santuá rio estarem agora no templo de Marduque era um símbolo da vitória desse deus sobre o Deus dos judeus. Parecia que a situação havia fugi do ao controle. Entretanto, como veremos mais à frente, Deus estava

7 MAXWELL, 1996, p. 25.

8 SDABC, V. 4, p. 759.

39Desafios Culturais

conduzindo todas as coisas para beneficiar Seu povo, e dar ao mundo da época uma mensagem que jamais poderia ser esquecida, sendo per tinente ainda para nossos dias.

PORTA-VOzES DE DEUS nO cATIVEIRO

Ellen G. White afirma que “Daniel tinha apenas dezoito anos quan do foi levado a uma corte pagã a serviço do rei de Babilônia”.9 Junto com seus amigos, Hananias, Misael e Azarias, seria testado em todos os aspectos. As provas os preparariam para posições mais elevadas, onde teriam a oportunidade de testemunhar a respeito do Deus verdadeiro. Esses jovens se tornaram um exemplo para os jovens modernos, e em Babilônia passaram por quatro testes difíceis que foram verdadeiras provas de fé. Vamos analisá-las:

PRIMEIRA PROVA DE fé: DE nObRE A EScRAVO

O primeiro teste aos exilados hebreus foi a mudança de seu status social – de príncipes do reino de Judá a escravos em terra estrangeira. Os conquistadores da antiguidade tinham o costume de levar os nobres como reféns para assegurar a lealdade dos inimigos vencidos. Assim, seguindo o costume da época, Nabucodonosor ordenou que jovens sem nenhum defeito e de boa aparência, instruídos em toda sabedoria, doutos em ciência e versados em conhecimento, deveriam ser prepara dos para ajudarem no palácio do rei. Esse período preparatório duraria três anos (Daniel 1:3-5), e, ao final, um teste seria feito para saber quem estaria apto para ajudar no palácio real.

Diante de circunstâncias tão terríveis, a fé desses jovens poderia ter vacilado. As circunstâncias não eram nada boas. Escravizados em terra estranha, com sua cidade querida em ruínas, o glorioso templo que Salomão erguera e onde se ofereciam os sacrifícios estava agora destruído, seu rei feito escravo, o que poderia ser pior? Nessas condi ções, eles poderiam ter abandonado suas crenças e reconhecido que Marduque era o deus mais poderoso. No entanto, não fizeram isso. Em momento algum sua fé vacilou. Apegaram-se às promessas divinas e

Daniel 40 Segredos da Profecia
9 WHITE, 2003, p. 570.

creram que Deus agiria para libertar Seu povo como os profetas haviam anunciado (Isaías 44:27, 28; 45:1; Jeremias 25:11,12).

SEGUnDA PROVA DE fé: MUDAnçA DOS nOMES

Um segundo teste enfrentado pelos jovens hebreus foi sua mudan ça de nomes. Mudar nomes era uma prática comum na história bíblica. José recebeu um nome egípcio ao ingressar na vida cortesã egíp cia (Gênesis 41:45), e o nome de Hadassa foi trocado por (Ester 2:7). A mudança de seus nomes significava que esses jovens hebreus estavam sendo adotados pela corte babilônica. Seus novos nomes representa vam divindades caldeias.

Daniel agora é beltessazar: levando em conta o comentário de Nabucodonosor (Daniel 4:8), que o nome babilônico de Daniel se re lacionava com o deus dele, “Bel”, fica evidente que a primeira sílaba, “Bel”, refere-se a Marduk, o principal deus babilônico. Assim, a melhor tradução seria “Bel proteja sua vida [a do rei]”.10

Hananias agora é Sadraque: Hananias significa “o Senhor é bondoso comigo”. Sadraque: “Inspiração ao deus sol”. Seria o deus sol que pas saria a brilhar bondosamente sobre ele e não o senhor Deus de Israel.

Misael agora é Mesaque: Misael significa “semelhante a Deus”. Mesaque: “servo da deusa Sheba”.

Azarias agora é Abede-nego: Azarias: “o Senhor é meu ajudador”. Abede-Nego: “o servo de Nebo”. Geralmente se aceita que esse nome corresponde ao Abede-Nebo, “servo de [o deus] Nabu”, nome que se encontra em um papiro aramaico achado no Egito.11 Nabucodonosor não obrigou os jovens hebreus a renunciarem sua fé e adorarem os deuses de Babilônia, mas com essas mudanças de nomes es perava alcançar isso gradualmente. Também mediante as práticas e costu mes idólatras da nação esperava induzi-los a renunciar à religião hebraica e unir-se aos deuses de Babilônia. Mas isso não funcionou com Daniel e seus amigos. Mesmo alterando seus nomes, sua reverência e lealdade para

10 O Dr. S. J. Schwantes alega que a origem mais provável do nome dado a Daniel, Beltessazar, é do ba bilônico Belet-sar-usur, “Que a madona (Ishtar) proteja o rei”. Belet é feminino de bel, “Senhor”, título dado ao deus Marduque, chefe do panteão babilônico. (Ver SCHWANTES, S. J. Daniel, o profeta do juízo. Engenheiro Coelho, SP: Gráfica Alfa, 2003, p. 25).

11 FINLEY, Mark. Revelando os mistérios de Daniel. São Paulo: Editora Tempos Ltda., 1999, p. 14.

41Desafios Culturais

com o Deus verdadeiro não foram afetadas. Seus princípios religiosos, aprendidos desde a infância, se mostraram uma fortaleza nos momentos de prova e produziram um caráter nobre e forte. Ellen G. White escreveu:

“Entre os filhos de Israel que foram levados cativos para Babilônia no início dos setenta anos do cativeiro havia cristãos patriotas, homens que eram tão fiéis ao princípio como o aço, e que se não deixariam corromper pelo egoísmo, mas honrariam a Deus com prejuízo de tudo para si [...] Jamais deviam comprometer-se com idólatras; sua fé e seu nome como adoradores do Deus vivo deveriam ser levados como alta honra. E isso eles fizeram. Na prosperidade e na adversidade honraram a Deus; e Deus os honrou a eles”.12

TERcEIRA PROVA DE fé: REGIME AlIMEnTAR

O terceiro teste enfrentado pelos jovens em Babilônia estava rela cionado ao seu regime alimentar. Nessa mesma área, Adão e Cristo ha viam sido tentados. O primeiro falhou, mas Cristo saiu vencedor sobre a terrível prova e sua declaração ecoa como símbolo de vitória sobre o inimigo: “Nem só de pão viverá o homem” (Mateus 4:4).

A clara ordem do rei havia sido para que todos participassem dos manjares e vinho da mesa real. Nabucodonosor pensava estar fazendo um grande favor e concedendo um grande privilégio aos jovens cati vos. Daniel precisava tomar uma decisão agora: Deveria ele apegar-se aos ensinamentos de seus pais sobre comidas e bebidas, e desagradar o rei, com a provável perda não apenas de sua posição, mas da própria vida; ou desconsiderar os mandamentos do Senhor e conservar o favor do rei, garantindo dessa forma vantagens intelectuais e temporais? Não houve um momento de hesitação. Daniel e seus amigos eram regidos pelos princípios da Palavra de Deus. A Bíblia declara: “Resolveu Daniel firmemente não contaminar-se” (Daniel 1:8). Havia várias razões pelas quais um judeu piedoso evitaria comer da comida real:

1. Os babilônios, como outras nações pagãs, comiam carnes imundas (Levítico 11).

12 WHITE, Ellen G. Profetas e reis Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1995, p. 479.
Daniel 42 Segredos da Profecia

2. Os animais não tinham sido mortos de acordo com a lei levíti ca (Levítico 17:14-15).

3. Uma parte dos animais destinados ao alimento era oferecida, primeiro como sacrifício aos deuses pagãos (Atos 15:29).

4. O consumo de mantimentos e bebidas alcoólicas era contra os princípios de estrita temperança como apresentado no Antigo Testamento, a Bíblia desses jovens (Provérbios 20:1; 23:20; 31:4).

Daniel e seus amigos “estavam familiarizados com a história de Nadabe e Abiú, de cuja intemperança e seus resultados foi conservado o registro nos pergaminhos do Pentateuco; e sabiam que suas próprias faculdades físicas e mentais seriam danosamente afetadas pelo uso do vinho” (Levítico 10:1-3).13

Esse teste ao qual Daniel foi submetido ilustra a verdadeira tempe rança e as bênçãos que se seguem aos que a praticam. Se desejarmos manter nossas faculdades puras para o serviço de Deus, precisamos observar estrita temperança no uso dos alimentos. Devemos praticar a regra básica: usar com moderação as coisas que nos são benéficas e nos abster completamente das que nos são prejudiciais.

Como Daniel e seus amigos, devemos buscar desenvolver hábitos corretos que promovem a saúde plena. Faculdade intelectual, força fí sica e longevidade dependem de leis imutáveis criadas por Deus. Nessa questão o acaso não existe. Iremos colher aquilo que semearmos. “O Deus da natureza não interferirá para preservar os homens das conse quências da violação das leis da natureza”.14

Pense, por exemplo, em uma pessoa que não bebe a quantidade de água suficiente ao longo do dia. Ela pode ser diagnosticada com pedras nos rins e sofrer muitas dores. Males que poderiam ter sido evitados, se ela houvesse ingerido água na quantidade ideal. Mas muitos não dão a devida importância a essa questão do comer e beber. Ellen G. White pondera: “Hoje há entre os professos cristãos muitos que haveriam de julgar que Daniel era demasiado escrupuloso, e o sentenciariam como

13 WHITE, 1995, p. 482.

14 WHITE, Ellen G. Conselhos sobre regime alimentar. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993, p. 29.

43Desafios Culturais

mesquinho e fanático. Eles consideram a questão do comer e beber como de muito pequena importância para exigir tão decidida resistência – tal que poderia envolver o sacrifício de todas as vantagens terrenas. Mas os que assim raciocinam, notarão no dia do juízo que se desviaram das expressas reivindicações de Deus e se apoiaram em sua própria opinião como norma para o que é certo e para o que é errado. Descobrirão que aquilo que lhes parecera sem importância não fora assim considerado por Deus. Suas reivindicações deveriam ter sido sagradamente obedecidas”.15

DAnIEl PROPõE UM TESTE

Para resolver o problema de participar da mesa real, Daniel pro pôs um teste de dez dias. Ao fim desses dias os resultados se provaram exatamente o oposto do que o cozinheiro-chefe esperava. Não somen te na aparência pessoal, mas também no vigor mental, os que haviam sido temperantes em seus hábitos exibiam uma evidente superioridade sobre os seus companheiros, que haviam sido condescendentes com o apetite. Como resultado dessa prova, permitiu-se a Daniel e seus com panheiros continuarem com o regime simples durante todo o curso de seu treinamento para os deveres do reino.

Terminado o prazo dado pelo rei, que foi de três anos, quando sua capacidade e erudição foram testadas, veio o resultado: “entre todos eles não foram achados outros como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; por isso, passaram a servir perante o rei. Em toda matéria de sabedoria e de inteligência, sobre que o rei lhes fez perguntas, ele os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino” (Daniel 1:19 e 20).

“Aqui está uma lição para todos, mas especialmente para os jovens [...] Na experiência de Daniel e seus companheiros, temos um exemplo da vitória do princípio sobre a tentação para condescender com o apeti te, uma demonstração de que mediante o princípio religioso, podem os jovens triunfar sobre a concupiscência da carne, e permanecer fieis aos reclamos de Deus, mesmo que isso custe grande sacrifício”.16

15 WHITE, 1996, p. 78.

16 WHITE, 1993, p. 32.

Daniel 44 Segredos da Profecia

QUARTA PROVA DE fé: InSTRUçãO

Um último teste que podemos ver no capítulo 1 trata da educação que os jovens hebreus deveriam receber em Babilônia. Nabucodonosor havia determinado que lhes ensinasse a “língua e a cultura dos caldeus” (Daniel 1:4). Essa era uma estratégia usada por nações opressoras, mas que podem ainda ser vistas em nossos dias. Mark Finley escre veu: “Quando os russos invadiram o Afeganistão, jovens afegãos fo ram levados e colocados em escolas de ensino especial na Rússia, onde aprenderam a filosofia marxista-leninista. Em seguida, foram enviados pelo Kremlin como novos governantes do Afeganistão. Hitler fez tam bém isso com muitas nações que invadiu durante a Segunda Guerra Mundial. Ele trazia os jovens desses países para a Alemanha e lhes en sinava a filosofia nazista. Depois de ‘formados’ voltavam como gover nantes de seu povo difundindo a filosofia nazista entre as massas”.17 Essa era a intenção de Nabucodonosor.

Segundo Maxwell, a “língua caldaica”, a qual os jovens exilados de veriam aprender, incluía o acádio, idioma nacional de Babilônia, o su meriano, que era o idioma da religião tradicional e o aramaico, idioma do comércio e da diplomacia internacionais.18 Já a “cultura” babilônica estava intimamente relacionada à idolatria e práticas pagãs; mesclava bruxaria com ciência e sabedoria com superstição. As práticas de magia, astrologia, adivinhação e exorcismo eram comuns entre os povos antigos, mas Deus havia alertado severamente Seu povo contra tais práticas (ver Deuteronômio 18:10-12). No entanto, os caldeus eram também erudi tos no verdadeiro sentido da palavra. Possuíam um vasto conhecimento astronômico. Podiam até mesmo predizer eclipses lunares. Sua capaci dade matemática também era bastante desenvolvida. Usavam fórmulas cujo descobrimento geral se atribui erradamente aos matemáticos gregos. Além disso, eram bons arquitetos, construtores e médicos que tinham en contrado, por meios empíricos, a maneira de curar muitas enfermidades.19

Supõe-se que estes são os aspectos da sabedoria em que Daniel e seus três amigos ultrapassaram os sábios de Babilônia. Aprenderam a

17 FINLEY, p. 12.

18 MAXWELL, 1996, p. 29.

19 Comentário bíblico adventista. v. 4, p. 789.

45Desafios Culturais

perícia e as ciências dos caldeus, mas sem adotar os elementos pagãos mesclados em sua cultura. Isso fica evidente através de sua dependên cia do poder de Deus nas experiências que se seguiram, registradas nos capítulos seguintes do livro.

fIDElIDADE REc OMPEnSADA

Deus recompensou a firmeza e fidelidade dos jovens hebreus. A Bíblia declara: “No fim dos dez dias, a sua aparência era melhor; es tavam eles mais robustos do que todos os jovens que comiam das finas iguarias do rei” (Daniel 1:15). Logicamente, apenas dez dias não seriam suficientes para uma grande diferença fisionômica, mas o resultado vis to foi devido a um estilo de vida que não começou em Babilônia, mas já era seguido desde muito tempo.

Deus deu aos quatro jovens “conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria”, mas a Daniel concedeu ainda “inteligência de todas as visões e sonhos” (Daniel 1:17). Essa habilidade espiritual se mostraria oportuna no decorrer dos eventos do capítulo 2. Ao fim dos três anos, os jovens foram testados pelo próprio Nabucodonosor. E o testemunho do rei foi: “Em toda matéria de sabedoria e de inteligência [...] os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encanta dores que havia em todo o seu reino” (Daniel 1:20). Deus cumpriu Sua promessa: “Aos que Me honram, honrarei” (1 Samuel 2:30).

Nos dias desses jovens nem todos os livros do Antigo Testamento haviam sido escritos, muito menos qualquer um do Novo. Mas estes jovens dispunham de vários livros. Foi a partir desses estudos que aprenderam a distinguir entre o Deus verdadeiro e os falsos deuses de Babilônia. Fundamentados em Levítico 11 e Deuteronômio 14 foram capazes de fazer separação entre os animais limpos e imundos. Também perceberam o perigo de beber vinho (Levítico 10:1-11; Provérbios 20:1, 23:31-35), e conheciam a importância de serem fieis e honestos em to das as suas ações.

O capítulo 1 termina com a expressão: “Daniel continuou até ao primeiro ano” (Daniel 1:21). Depois de severamente provados, Deus os recompensou. Daniel, por mais de 70 anos, foi um instrumento de Deus para levar avante Seus desígnios junto à corte de Babilônia

Daniel 46 Segredos da Profecia

Desafios Culturais

e da Média-Pérsia. Através de sua influência, veremos a conversão do grande rei Nabucodonosor e a assinatura de um decreto, por Ciro, o grande líder da Média-Pérsia, autorizando os judeus cativos a voltar para Jerusalém e a reconstruir a cidade e o templo. O quanto a huma nidade deve a estes jovens, pelo seu exemplo de fé e perseverança, só a eternidade o revelará.

47

Do surgimento e queda das nações conforme expostos nos livros de Daniel e Apocalipse, precisamos aprender quão sem valor é a glória meramente terrena e externa. Babilônia, com todo o seu poder e magnificência, como nosso mundo jamais contemplou igual [...] completamente passou [...] Assim pereceu o reino da Média-Pérsia, e os reinos da Grécia e de Roma. E assim perece tudo o que não tem a Deus por fundamento. Apenas o que está vinculado ao Seu propósito, e expressa Seu caráter, pode perdurar (Profetas e Reis, 548).

UMA ESTÁTUA ASSUSTADORA

Estacionei meu carro, comprei o ingresso e só precisava aguardar o momento. Estava ansioso, pois muitos amigos me haviam dito que aquele seria um grande musical. Passeava pelo local, enquanto aguardava o início da programação. Minutos antes, me dirigi ao estacionamento para buscar algo no carro e então veio a grande surpresa – ele havia sido rou bado. Entrei em desespero. Busquei o responsável pelo estacionamento e o meu desespero aumentou: percebi que ele estava envolvido no roubo. Enquanto reclamava da falta de segurança do estacionamento e cla mava por justiça, uma viatura da polícia chega ao local – não sei por que, mas dentro dela havia uma mulher ensanguentada. Disse para os poli ciais meu problema, meu carro havia sido roubado, eles não deram muita atenção, mas disseram que a alguns quilômetros dali havia outra delega cia que poderia me ajudar. Comecei a caminhar aqueles longos quilôme tros, inconformado, quando uma chuva forte começou a cair sobre mim. Comecei a chorar. Minhas lágrimas se misturavam com as gotas de chu va. Clamei de todos os meus pulmões: Por que Deus estava permitindo aquilo? Meu único carro ser roubado? Por que essa injustiça?

Foi num desses clamores que acordei. Voltei à consciência depois de algumas horas de sono e percebi que tudo não passava de um sonho, um angustiante sonho. O desespero deu lugar ao alívio e minha rotina

4

estava de volta. Abri a janela de casa e lá estava meu carro, são e salvo. Fora apenas um sonho.

Você já experimentou uma sensação assim? Quando o despertar lhe trouxe um tremendo alívio, ao perceber que tudo não passava de um sonho? Com o rei Nabucodonosor ocorreu o inverso. Quando des pertou do sono a angústia ficou maior.

O capítulo 2 de Daniel registra um sonho extraordinário e assustador. Mas quando o sonhador acordou não se sentiu aliviado. Pelo contrário, per cebeu que algo muito sério estava em jogo e ele não se lembrava de nada. Um rei com insônia – esse é o assunto do capítulo 2 do livro do profeta Daniel.

Pedro escreveu que a profecia é uma luz que alumia no escuro (2 Pedro 1:19). Somente a palavra profética poderia trazer luz e espan tar a escuridão da vida do maior monarca do mundo, o grande rei de Babilônia, Nabucodonosor.

Já vimos que o livro de Daniel relata quatro visões proféticas. A pri meira visão, apresentada no capítulo 2, trata principalmente de mudan ças políticas. Seu propósito inicial era revelar ao rei Nabucodonosor seu papel como rei de Babilônia e lhe fazer saber “a respeito do que há de ser depois disto” (Daniel 2: 29). Esse sonho do rei é uma profecia dos eventos que teriam lugar nos 2.500 anos seguintes da história de nosso mundo. Ela ensina que os movimentos dos grandes impérios e nações da terra são controlados por Deus e revelados a Seu povo escolhido, enquanto este, em meio às mutações da história, prossegue em direção ao Céu.

A profecia, segundo Arturo T. Pierson, “representa uma fechadu ra, para qual só uma história subsequente pode proporcionar a chave”.1 Assim, ao ser estudado o sonho do rei com uma estátua assustadora, devemos permitir que a história atue como intérprete da profecia e nos revele o significado dos simbolismos.

O SOnHO DO REI

Transcorria o 2º ano do reinado de Nabucodonosor, provavelmente o ano 603 a.C., quando ele teve um sonho. A Bíblia declara que ele ficou

1 MELLO, Araceli S. Testemunhos históricos das profecias de Daniel. Rio de Janeiro: Gráfica e Editora Laemmert, 1968, p. 13.
Daniel 50 Segredos da Profecia

Uma Estátua Assustadora

51

profundamente perturbado e lhe passou o sono (Daniel 2:1). Os antigos consideravam os sonhos com temor; pensavam que eram revelações de suas deidades e procuravam descobrir sua verdadeira interpretação.2

Por isso, Deus escolheu esse método, porque evidentemente era o meio mais efetivo para impressioná-lo com a importância da mensagem e para ganhar sua confiança e assegurar sua cooperação.

Esse sonho não ocorrera por acaso. Deus em Sua providência o deu a Nabucodonosor porque tinha uma mensagem para ele. Como Deus não faz acepção de pessoas, era seu propósito salvar o rei, bem como sua nação, a grande Babilônia. O sonho tinha o propósito de revelar a Nabucodonosor o que haveria de ser nos últimos dias (Daniel 2:28) e mostrar o papel que o rei poderia desempenhar nessa história. Não é em vão que por várias vezes Deus chama Nabucodonosor de “meu servo” (Jeremias 25:9; 27:6; 43:10).

Assim como a Babilônia, a cada nação da antiguidade Deus havia atribuído especial lugar em Seu plano, mas os governantes não apro veitaram as oportunidades, e sua glória foi abatida. As lições de histó ria dadas a Nabucodonosor teriam que instruir as nações até o fim do tempo. Por cima das flutuantes cenas da diplomacia internacional, o grande Deus do Céu está em Seu trono “a executar, silenciosamente, pacientemente, os conselhos de Sua própria vontade”3. Ao fim, a estabi lidade e a imutabilidade virão quando Deus mesmo, ao terminar o tem po, estabelecer “um reino que não será jamais destruído” (Daniel 2:44).

Nabucodonosor começou a viver um grande dilema: pensava ser o so nho uma mensagem de grande importância dos deuses, mas não se lembra va de nada que havia sonhado. Então mandou chamar aqueles que, na corte, eram os responsáveis pela interpretação dos sonhos, a saber: os magos, os en cantadores, os feiticeiros e os caldeus (Daniel 2:2). Quando estes chegaram, o saudaram em aramaico, língua falada pela família real. A partir daquele momento, o livro de Daniel troca o hebraico pelo aramaico até o capítulo 7.

UMA AMEAçA REAl

Quando os sábios chegaram à presença do rei, pediram que ele con tasse o sonho. Mas, para sua surpresa, o rei não se lembrava de mais nada.

2 SDABC, v. 4, p. 766.

Eles se viram numa situação delicada, pois tudo que inventassem acerca do sonho seria imediatamente detectado como mentira. Eles tentaram ganhar tempo, e isso provocou a ira do rei: “Uma coisa é certa: se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas monturo” (Daniel 2:5). Então veio o reco nhecimento dos sábios: “Não há mortal sobre a terra que possa revelar o que o rei exige; pois jamais houve rei, por grande e poderoso que tivesse sido, que exigisse semelhante coisa de algum mago, encantador ou caldeu. A coisa que o rei exige é difícil, e ninguém há que possa revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não moram com os ho mens” (Daniel 2:10,11). Foi essa confissão de fracasso que proporcio nou a Daniel uma excelente oportunidade para revelar algo do poder do Deus a quem ele servia e adorava.

Então irado, Nabucodonosor assinou um decreto ordenando a mor te de todos os sábios de Babilônia, o que incluía Daniel e seus amigos. Arioque, chefe da guarda de Nabucodonosor saiu para executar a ordem. A prisão surpreendeu a Daniel, pois este não sabia do ocorrido. Certamente isso se deu porque Daniel e seus amigos eram recém chegados à corte, haviam acabado de ser aprovados pelo rei e certamente não participaram do diálogo entre o rei e os magos. Daniel então pede uma audiência com o rei e diz que este designasse um tempo e ele traria a interpretação.

fIDElIDADE REc OMPEnSADA

Foi um ato de fé. Daniel era um jovem dependente de Deus e con fiava na oração. Fez saber o caso a seus amigos e todos buscaram a Deus por misericórdia e livramento. O Céu recompensou a fé dos jovens he breus. “Então foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite” (Daniel 2:19). Daniel louva e exalta ao Deus do Céu como Aquele que “muda os tempos e as estações, remove reis e estabelece reis; Ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes. Ele revela o pro fundo e o escondido” (Daniel 2:21).

O SOnHO E SUA InTERPRETAçãO

Imediatamente Daniel foi levado à presença do rei e disse: “O mis tério que o rei exige, nem encantadores, nem magos nem astrólogos o

Daniel 52 Segredos da Profecia

Uma Estátua Assustadora

podem revelar ao rei; mas há um Deus no céu, O qual revela os misté rios, pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias” (Daniel 2:27, 28). Daniel desejava que Nabucodonosor compreen desse a futilidade de confiar em seus sábios quando necessitava de con selho e ajuda do Deus verdadeiro a quem servia. Esperava com isso que o rei voltasse os olhos para o grande Deus verdadeiro, cujo povo tinha sido vencido pelo rei.

Daniel então passa a descrever o sonho: “Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; esta, que era imensa e de extraordinário es plendor, estava em pé diante de ti; e a sua aparência era terrível. A cabeça era de fino ouro; o peito e os braços de prata, o ventre e os quadris, de bronze; as pernas, de ferro, os pés, em parte, de ferro, em parte, de barro. Quando estavas olhando, uma pedra foi cortada sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou. Então, foi jun tamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das eiras no estio, e o vento os levou, e deles não se viram mais vestígios. Mas a pedra que feriu a estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a terra” (Daniel 2:31-35).

O rei ficou extasiado com a revelação de Daniel. Cada detalhe tra zia à sua memória as recordações do sonho. “É isso mesmo Daniel, foi isso que sonhei”. O rei está surpreso e ansioso para saber o significado de tudo aquilo. Então continuou Daniel: “Este é o sonho; e também a sua interpretação diremos ao rei” (Daniel 2:36). O gráfico a seguir mos tra os elementos do sonho e sua interpretação:

ElEMEnTOS DA ESTÁTUA E SUA InTERPRETAçãO

Elementos da estátua

Interpretação

Cabeça de ouro 2:32 Babilônia 2:37,38; 7:4 Peito e braços de prata 2:32 Média-Pérsia 2:39; 5:26-28

Quadris de bronze 2:32 Grécia 2:39; 8:3-7, 20, 21

Pernas de ferro 2:33 Roma 2:40; 7:7, 8, 17, 23-25

Pés de ferro e barro 2:33 Reino dividido 2:41-43; 7:7, 8, 23, 24

Pedra lançada contra estátua 2:34, 35 Volta de Jesus 2:44, 45; 7:13, 14, 26, 27

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A mensagem do sonho era para a instrução de Nabucodonosor, as sim como a dos governantes e povos até o fim do tempo e a segunda vinda de Cristo (Daniel 2:44, 45). Nabucodonosor desejava conhecer o futuro e pressentia algo tenebroso. No entanto, Deus lhe revelou, não para satisfazer sua curiosidade, mas para despertar em sua mente um sentido de responsabilidade pessoal para com o plano celestial.

No sonho do rei está revelada a verdadeira filosofia da história hu mana. Em última análise, os reis e governantes estão sob a direção e o controle de um Soberano todo-poderoso. Ellen G. White escreveu: “Nos anais da história humana o crescimento das nações, o levanta mento e queda de impérios, aparecem como dependendo da vontade e façanhas do homem. O desenvolver dos acontecimentos em grande parte parece determinar-se por seu poder, ambição ou capricho. Na Palavra de Deus, porém, afasta-se a cortina, e contemplamos ao fundo, em cima, e em toda a marcha e contramarcha dos interesses, poderio e paixões humanas, a força de um Ser todo misericordioso, a executar, silenciosamente, pacientemente, os conselhos de Sua própria vontade”.3

Por meio desse extraordinário sonho, Deus estava revelando ao rei e aos leitores do livro de Daniel as preciosas cenas que terão lugar até que a “pedra seja cortada” (Daniel 2:45), ou seja estabelecido o reino de Deus na Terra. Os quatro metais da estátua representam então os quatro impérios que dominariam o mundo desde Nabucodonosor até o quinto século de nossa era.4

bAbIlônIA – A cAbEçA DE OURO

Daniel disse ao rei: “Tu és a cabeça de ouro” (Daniel 2:38). Babilônia era também conhecida como Akkad (Terra dos Caldeus). Foi fundada por Ninrode, que foi um valente caçador diante do Senhor (Gênesis 10:8-10), e em tempos mais antigos representa o local em que se ergue ra a torre de Babel (Gênesis 11:1-9). Ela atingiu considerável destaque por volta de 1.800 a.C., sob a liderança do grande legislador Hamurabi,

3 WHITE, Ellen G. Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997, p. 173.

4 Ibidem, p. 173. Qualquer bom livro de história confirmará a sequência que será apresentada aqui. Veja por exemplo: EASTON, Stewart C. The Heritage of the Ancient World: From the Earliest Times to the Fall of Rome. New York: Rinehart and Campany, 1960.

Daniel 54 Segredos da Profecia

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cerca de 300 anos antes de Moisés.5 Após a morte de Hamurabi, Babilônia foi ofuscada por outros povos da Mesopotâmia. Finalmente o Império Assírio dominou toda a região, e por volta de 722 a.C. destruiu as dez tribos de Israel, cuja capital estava em Samaria.

Entre os anos de 626 a 612 a.C., período em que Daniel nasceu, Nabopolassar, pai de Nabucodonosor, esmagou o que restava do Império Assírio e tornou-se o fundador do Império Neobabilônico. Após sua morte em 605 a.C., Nabucodonosor assume o trono de Babilônia.

Nabucodonosor era a personificação do Império Neobabilônico. As conquistas militares e o esplendor arquitetônico de Babilônia se de viam, em grande medida, a suas proezas. Desde sua ascensão ao trono (605 a.C.), até sua morte (562 a.C.), elevou Babilônia a uma glória incom parável. Ele é o responsável pela construção de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo: os jardins suspensos da Babilônia. Na região não cresciam muitas árvores, mas o rei trouxe várias espécies, de várias partes da Terra, para embelezar seus jardins. A cidade de Babilônia também abundava em ouro. Heródoto, considerado o “Pai da história”, descreve o resplendor do ouro nos templos sagrados da cidade. “Na parte inferior do templo de Babilônia há outra capela, onde se vê uma grande estátua de ouro repre sentando Júpiter sentado. Ao lado, uma grande mesa de ouro. O trono e o escabelo são do mesmo metal [...] Vê-se também, fora da capela, um altar de ouro [...] havia naquele templo, no recinto sagrado, uma estátua de ouro maciço de 12 côvados de altura”.6 O profeta Jeremias compara Babilônia com um copo de ouro nas mãos do Senhor (Jeremias 51:7).

José Carlos Ramos assim descreve a trajetória dos monarcas de Babilônia: “Nabucodonosor morre no ano 562 a.C. após ter reinado 43 anos sobre Babilônia. Depois de sua morte, Evil-Merodaque (também co nhecido como Amel-Marduque), seu filho, reina em seu lugar. Três anos depois, em 560 a.C., Evil-Merodaque morre e sobe ao trono Neriglissar (Nergal-Sharuzur), genro de Nabucodonosor. Em 556 a.C., morre Neriglissar e sobe ao trono Laboroso-Archod (Labashi-Marduque), seu filho. Este tem um curto reinado e morre no mesmo ano. Chega então

5 Ver mais detalhes em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Código_de_Hamurabi>

6 HERÓDOTO. História. v. 1. São Paulo: Gráfica Editora Brasileira, 1957, p. 91, 92.

ao trono Nabonido (Labineto), também genro de Nabucodonosor. No ano 552 a.C., Belsazar torna-se co-regente da Babilônia ao lado de seu pai Nabonido. No ano 539 a.C., Babilônia é conquistada por Ciro, rei da Pérsia e Dario, o Medo, passa a reinar em Babilônia”.7 No idioma caldaico, o nome Nabucodonosor (NABU-KUDURRIUSUR) é um termo que representa uma prece dirigida ao deus Nabu, em favor de proteção.8 Mas de nada valeu esse deus quando chegou a hora de se cumprir a profecia e entrar em cena outro império mundial. Babilônia dominou o mundo dos anos 605 a.C. até 539 a.C., quando cai diante da coalisão dos Medos e Persas. Veremos mais detalhes sobre a queda de Babilônia no capítulo 7 deste livro.

MéDIA-PéRSIA – PEITO E bRAçOS DE PRATA

Daniel continuou sua interpretação do sonho ao rei: “Depois de ti, se levantará outro reino, inferior ao teu” (Daniel 2:39). O próprio Daniel, pouco mais de 60 anos no futuro, revelaria ao então rei de Babilônia, Belsazar, neto de Nabucodonosor, quem seria esse segundo reino (ver Daniel 5:26-28). Como a prata é inferior ao ouro, o Império Medo-Persa seria inferior ao babilônico. Em cumprimento às pre dições proféticas de Isaías e Jeremias (Isaías 45:1; 44:27, 28; Jeremias 25:11,12), Babilônia perdeu sua hegemonia mundial. Ciro, o grande, foi quem conquistou Babilônia. Ciro reconheceu que o Senhor lhe tinha dado todos esses reinos (2 Crônicas 36:23; Esdras 1:2).

A história da queda de Babilônia está registrada no cilindro de ciro, de propriedade do Museu Britânico. O arqueólogo britânico Hormuzd Rassam descobriu esse cilindro em março de 1879. Ele data do 6º século a.C., e foi descoberto nas ruínas da Babilônia na Mesopotâmia (atual Iraque). Estava nas fundações de Esagila, o templo principal da cidade de Babilônia, consagrado ao deus Marduque. E é do templo do princi pal deus babilônico que nos vem a comprovação histórica da queda de Babilônia e da ascensão do Império Medo-Persa.

7 RAMOS, José Carlos. Profecia bíblica. Apostila SALT, Pós-graduação – IAE-Ct, 1998, p. 54. Ver tam bém: ALOMÍA, Merling. Daniel: Su vida, sus tiempos y su mensaje. Lima, Peru: Universidad Unión Incaica, 1991, p. 111.

8 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 831.

Daniel 56 Segredos da Profecia

Esse cilindro é dividido em vários fragmentos e registra uma de claração em escrita cuneiforme acadiana, em nome do rei Aquemênida da Pérsia, Ciro, o Grande. O artefato conta a história da queda de Babilônia sob Ciro, o Grande. Nas linhas 15 a 21 do cilindro aparecem trechos dando a genealogia de Ciro, o Grande, e relatando a captura de Babilônia em 539 a.C. Revela a queda de Nabonido, rei da Babilônia, e exalta os esforços de Ciro para repatriar os povos deslocados e restaurar templos e santuários religiosos na Mesopotâmia e em outros lugares da região. Segundo alguns estudiosos, essa é uma evidência da política de Ciro de repatriação dos hebreus após o cativeiro na Babilônia – um ato que o livro de Esdras atribui a Ciro (Esdras 1:1, 2).9

Outro a relatar detalhes da queda da grande Babilônia foi Heródoto. Ele afirma: “Finalmente, ou porque concluísse por si mesmo sobre o que deveria fazer, ou porque alguém, vendo-o em dificuldades, o acon selhasse, o príncipe (Ciro) tomou a seguinte resolução: Colocou o exér cito, parte no ponto onde o Eufrates passa dentro de Babilônia, parte no local onde o rio deixa o país, com ordem de invadir a cidade pelo leito do mesmo, logo que se tornasse vadeável. Com o exército assim distribuído, dirigiu-se para o lago [...] A exemplo do que fizera a rainha Nitócris, desviou as águas do rio para o lago pelo canal de comunicação. As águas se escoaram, e o leito do rio facilitou a passagem [...] os persas entraram na cidade com as águas do rio dando apenas pelas coxas”.10

Vencida Babilônia, Dario, da Média reinou por permissão do verda deiro conquistador, Ciro, fato que Daniel certamente sabia. O livro do Daniel se refere várias vezes à nação que conquistou Babilônia, a qual Dario representava, como “os medos e os persas” (Daniel 5:28; 6:8, 28), e em outras partes representa a esse império dual como uma só besta (ver Daniel 8:3, 4).

Assim, Dario foi o primeiro a reinar após a queda de Babilônia. Isso explica os acontecimentos do capítulo 6 de Daniel, quando este é lança do na cova dos leões por ordem de Dario. Depois de Dario, reinou Ciro, que assina o primeiro decreto para o retorno dos judeus à Palestina

9 <http://pt.wikipedia.org/wiki/Cilindro_de_Ciro>

10 HERÓDOTO. História. v. 1, p. 95, 96.

57Uma Estátua Assustadora

(ano 536 a.C.; ver Esdras 1:1-4), assinalando o fim do cativeiro de 70 anos (Jeremias 25:11,12). No ano 525, Cambises (filho de Ciro), torna-se rei da Pérsia e conquista o Egito. Depois do reinado de Cambises, chega ao trono Dario I, que vai assinar o segundo decreto (possivelmente no ano 519 a.C.) para o início da reconstrução do templo em Jerusalém.11 Outro nome importante dos reis da Média-Pérsia foi Artaxerxes. No 7º ano do seu reinado, ele assinou um novo decreto para o retorno dos judeus à Palestina. Esse é o terceiro decreto e marca o início das 70 semanas de Daniel 9:24 a 27 e as 2.300 tardes e manhãs de Daniel 8:14. Mas este é assunto para nossos próximos capítulos.

A profecia apontava para o surgimento de um terceiro reino que viria assumir o lugar da Média-Pérsia. Daniel 8:20 exibe uma mu dança de simbolismo de um metal, o bronze, para um bode peludo. E revela o nome da nação que derrotaria a Média-Pérsia: “Mas o bode peludo é o rei da Grécia” (Daniel 8:21).

GRécIA – OS QUADRIS DE bROnzE

Na interpretação de Daniel ao rei Nabucodonosor foi dito: “[...] e um terceiro reino, de bronze, o qual terá domínio sobre toda a terra” (Daniel 2:39). Este terceiro poder estava representado pelos quadris de bronze da estátua.12 A profecia aponta de forma inequívoca para a Grécia (Daniel 8:21). Os soldados gregos se distinguiam por sua arma dura de bronze. Seus cascos, escudos e tochas de batalha eram todos de bronze. Mas como a Grécia poderia vencer a Média-Pérsia?

O Império Medo-Persa continuou estendendo seu domínio, mas, à semelhança de Babilônia, também entrou em declínio. Até esse mo mento, a Grécia estava dividida em pequenas cidades-estados que ti nham um idioma comum, mas pouca ação unificada. Ao pensar na Grécia antiga, pensamos principalmente na idade de ouro da civiliza ção grega sob a liderança de Atenas, no 5º século a.C., e em todos os seus filósofos, Platão, Aristóteles, Sócrates. Mas a profecia refere-se a um período posterior da Grécia.

11 RAMOS, 1998, p. 54.

12 MELLO, p. 128.

Daniel 58 Segredos da Profecia

Em Daniel, 8:21, a “Grécia” refere-se ao Império Greco-Macedônico. A Macedônia, uma nação consanguínea situada ao norte da Grécia, con quistou as cidades gregas e as incorporou pela primeira vez a um Estado for te e unificado. No ano 336 a.C., morre Felipe II, pai de Alexandre, e este her da o trono da Macedônia e lança-se em marcha para estender seu domínio. Alexandre travaria três batalhas até vencer Dario III, rei da MédiaPérsia. A primeira foi a batalha de Grânico, no ano 334; a segunda foi a de Issos, no ano 333 a.C., e a última, no ano 331 a.C., foi a batalha de Arbelas ou Gaugamela. Assim, o ano 331 a.C. assinala o fim do Império Medo-Persa e o início do domínio de Alexandre, o Grande. Assim nar rou o historiador: “O poder de Dario estava abatido para sempre. Uma nova fase do mundo antigo havia começado”.13

A história registra que o domínio de Alexandre foi o império mais extenso do mundo antigo até aquela época. Estendeu-se sobre a Macedônia, Grécia e o Império Persa. Incluiu o Egito e se expandiu pelo Oriente até a Índia. Daniel declara que seu domínio seria “sobre toda a terra” (Daniel 2:39), mas no sentido de que nenhum outro poder foi igual a ele, e não porque cobrisse o mundo todo, nem mesmo toda a terra conhecida nesse tempo. Um “poder mundial” pode ser definido como aquele que está por cima de todos outros, invencível; não neces sariamente porque governe o mundo todo.

Alexandre reinou menos de 10 anos e morreu ainda jovem, com 33 anos de idade, no dia 13 de junho de 323 a.C.14 Após sua morte seu irmão natural, Felipe Aridau, foi declarado rei. Ele e os filhos de Alexandre, Egus e Hércules, mantiveram por algum tempo o Império Greco-Macedônio. Porém, não muito tempo depois, os filhos de Alexandre e toda a sua família foram assassinados, os generais se tor naram governadores das províncias, e o reino foi fragmentado.15

Logo se instaurou entre esses governadores uma tremenda guerra civil que durou cerca de 20 anos. Ela só teve fim na batalha de Ipsos, na Frígia (301 a.C.), quando o reino foi finalmente dividido entre os quatro mais famosos generais de Alexandre:

13 CASTRO, Paulo de. Alexandre, o Grande. Biblioteca de história. Rio de Janeiro: Editora Três, 1973. v. 4, p. 124.

14 Ibidem, p. 192.

15 MELLO, p. 466.

59Uma Estátua Assustadora

Lisímaco: Trácia e Betínia

Cassandro: Grécia, Macedônia e Épiro

Seleuco: Síria

Ptolomeu: Egito, Líbia, Arábia e Celosíria16

Essa divisão do reino grego já estava também profetizada (compare com as quatro cabeças do leopardo; Daniel 7:6). Essa divisão provocou o enfraquecimento do império e, já por volta de 168 a.C., Roma domi nava a região do Mediterrâneo, assumindo a posição de quarto império mundial da estátua profética.

ROMA – AS PERnAS DE fERRO

Daniel continuou sua interpretação do sonho ao rei: “O quarto rei no será forte como ferro; pois o ferro a tudo quebra e esmiúça; como o ferro quebra todas as coisas, assim ele fará em pedaços e esmiuça rá” (Daniel 2:40). Esse quarto reino na profecia representa o férreo Império Romano. Roma foi fundada, segundo a tradição, por dois ir mãos, Rômulo e Remo, por volta de 753 a.C. Com o passar dos anos, expandiu seu território e foi ganhando força. O Comentário Bíblico Adventista declara:

“Roma conquistou seu território pela força ou pelo medo que ins pirava seu poder armado. A princípio, interveio em questões interna cionais numa luta por sua sobrevivência contra seu rival, Cartago, e se viu envolvida em guerra após guerra. Depois, esmagando um oponente após outro, finalmente, tornou-se um conquistador agressivo e inven cível do mundo mediterrâneo e da Europa Ocidental. No início da era cristã e pouco depois, o poder de ferro das legiões romanas respaldava a Pax Romana (paz romana). Roma era o maior e mais forte império que o mundo havia conhecido até então”.17

O ano 168 a.C. foi quando o império assumiu o poder mundial. A batalha de Pidna nesse ano foi decisiva no processo de decadência do Império Grego e ascensão de Roma ao poder.

16 NEWTON, Isaac. As profecias de Daniel e Apocalipse. São Paulo: Editora Édipo, 1950, p. 42.

17 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 852.

Daniel 60 Segredos da Profecia

Uma Estátua Assustadora

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Daniel 2:41 declara: “Quanto ao que viste dos pés e dos artelhos, em parte, de barro de oleiro e, em parte, de ferro, será esse um reino dividido”. Na metade do 4º século d.C., tribos bárbaras começaram a ganhar terreno e minar o poder e força de Roma. Dos anos 351 a 476 d.C., essas tribos ganharam força e se estabeleceram no território roma no provocando sua queda.

OS DEDOS DA ESTÁTUA

O férreo império de Roma manteve seu poder até o ano 476 d.C., quando finalmente foi dividido e caiu seu último imperador, Rômulo Augusto. Assim como os pés possuem dez artelhos, Roma perdeu seu poder para dez tribos bárbaras que, ao longo de décadas, foram minan do sua autoridade. Esses dez artelhos correspondem aos dez chifres do quarto animal do capítulo 7 (ver Daniel 7:7).

A seguir, temos uma lista das tribos que se estabeleceram no ter ritório de Roma entre os anos de 351 a 476 d.C., e as nações que estas chegariam a formar:18

351 d.C. Alamanos Germânia / Alemanha 351 d.C. Francos França 406 d.C. Burgundos Suíça 406 d.C. Suevos Portugal 408 d.C. Visigodos Espanha 409 d.C. Anglo-saxões Bretanha / Inglaterra 453 d.C. Lombardos Itália 406 d.C. Vândalos Extintos 453 d.C. Ostrogodos Extintos 476 d.C. Hérulos Extintos

O historiador Gibbon, discutindo o período compreendido entre os anos 400 e 500 d.C. menciona não menos que oito dessas tribos num

18 MELLO, p. 138.

só parágrafo: “Os poderosos Visigodos adotaram universalmente a re ligião dos Romanos, com quem mantinham um intercâmbio perpétuo, de guerra, de amizade, ou de conquista. Durante o mesmo período, o cristianismo foi abraçado por quase todos os bárbaros, que estabelece ram seus reinos sob as ruínas do Império Ocidental; Os burgundos na Gália, os Suevos na Espanha, os Vândalos na África, os Ostrogodos na Polônia, e vários bandos de mercenários (Hérulos, etc) que levaram Odoacro ao trono da Itália. Os francos e os Saxões ainda perseveraram nos erros do paganismo; entretanto, os Francos obtiveram a monarquia da Gália por sua submissão ao exemplo de Clóvis”.19 O desenvolvimen to dessas tribos bárbaras resultou nas modernas nações europeias.

UM REInO DIVIDIDO

Mas a profecia não para por aí. O profeta continuou: “Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão mediante casamento, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro”. Várias tentativas foram feitas para se tentar man ter a unidade deste poder. Mas a profecia decretava: “mas não se ligarão um ao outro”. O historiador George H. Merrit, falando sobre as ligações familiares da Europa, na tentativa de se manter unida, assim escreveu:

“William II da Alemanha é primo em primeiro grau de Jorge V, e a sua mãe Vitória, era irmã do pai de Jorge, Eduardo VII da Inglaterra. Além disto, Nicolau casou-se com outra prima em primeiro grau de Jorge e William; a mãe da czarina era outra irmã de Eduardo VII. Finalmente, Jorge, William e Nicolau, são por seus pais, netos de Carlos, duque de Mecklenburg-Stretlitz, que morreu em 1752, e William e Nicolau são descendentes do rei Frederico William III da Prússia. Outros pri mos do rei Jorge e do Czar Nicolau, também netos de Cristiano IX da Dinamarca, são: Cristiano X da Dinamarca, Constantino I da Grécia e Ernesto Augusto, duque de Brunswick, que é também genro do impe rador William II”.20

19 GIBBON, Edward . The Decline and Fall of the Roman Empire. v. 3. New York: The Modern Library, 1995, p. 543.

20 MERRIT, George H. “The Royal relatives of Europe”, The World´s Work, outubro de 1914, p. 594, apud GONZÁLEZ, 1994, p.11.

Daniel 62 Segredos da Profecia

Não só através de casamentos reais se buscou a unificação do rei no dividido, mas também muitas alianças políticas entre as nações. Estadistas de ampla visão por diversos meios trataram de realizar uma federação de nações que se desempenhasse eficazmente, mas todas es sas tentativas falharam. Podemos mencionar Carlos Magno, Carlos V, Luiz XIV, Napoleão Bonaparte, Hitler, etc. A profecia ratificava: “Não se ligarão um ao outro” (Daniel 2:43). Nenhum poder humano pode mudar o rumo da profecia. O que Deus revelou vai cumprir-se inequi vocamente. Como reconheceu Jó: “nenhum dos Teus planos podem ser frustrados” (Jó 42:2).

UMA PEDRA c ORTADA SEM AUxIlIO DE MãOS

Depois de relatar os quatro poderes que dominariam o mundo, Daniel revela: “Mas nos dias destes reis” (Daniel 2:44), referindo-se aos dez reinos que assumiriam o controle de Roma, “o Deus do céu suscita rá um reino que não será jamais destruído [...] como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxilio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro” (Daniel 2:44, 45).

Quem ou o que essa pedra representa? Desde o segundo século da era cristã, essa pedra tem sido interpretada como sendo Cristo, que irá devastar os reinos do mundo após as divisões do Império Romano.21 Martinho Lutero, o grande reformador do século 16, também susten tava a visão de que Roma estava representada na estátua pelas pernas, pés e artelhos. Que fora dividida nas modernas nações da Europa e que a pedra representava o reino de Cristo a ser estabelecido em Sua segunda vinda.22

Não resta dúvida de que a pedra é Jesus Cristo e a implantação de Seu reino eterno. Isaías 28:16 declara: “Portanto, assim diz o Senhor Deus: Eis que Eu assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra

21 Entre os escritores cristãos primitivos que defendiam essa interpretação estava Irineu. Ver FROOM, LeRoy Edwin. The Prophetic Faith of Our Fathers. 4 volumes. Washington, DC: Review and Herald, 19461954, p. 245.

22 Ibidem, p. 267-268. Um dos primeiros questionadores dessa interpretação profética foi Agostinho, bispo de Hipona. Em sua obra “Cidade de Deus”, começou a alegorizar e espiritualizar a profecia e ensinar que a pedra era a Igreja que triunfaria sobre os reinos terrestres. Ver mais detalhes em: HOLBROOK, Frank B. Symposium on Daniel. Hagerstown, MI: Review and Herald, 1986, p. 337.

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preciosa, angular, solidamente assentada; aquele que crer não foge”. Isaías fala de Cristo como sendo uma variedade especial de pedra, a “preciosa pedra angular”. O próprio Cristo entendia esses simbolismos usados no Antigo Testamento. Em Lucas 20:17 e 18, Ele disse a Seu próprio respeito: “Que quer dizer, pois, o que está escrito: A pedra que os construtores rejeitaram, esta veio a ser a principal pedra, angular?” Aqui Ele Se refere a Si próprio como sendo a pedra angular de Isaías. Ele prossegue: “Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó”.

O apóstolo Pedro, escrevendo sob inspiração do Espírito Santo, re vela essa mesma verdade: “Chegando-vos para Ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa [...] Pois isso está na Escritura : Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergo nhado” (1 Pedro 2:4, 6).

Chegamos então a uma pergunta crucial: quando esse reino de Cristo será estabelecido? O que Daniel queria dizer quando disse “nos dias destes reis”? (Daniel 2:44). Alguns têm interpretado esses reis como sendo os quatro impérios desde Babilônia até Roma. Entretanto, o elemento tempo na profecia nos assegura que a pedra simbolizando o reino de Cristo será estabelecida nos dias dos reis representados pelos pés e dedos da estátua (Daniel 2:41 a 44). Esses reinos não vieram à existência historicamente senão depois do ministério terrestre de Jesus, e finalmente com a queda de Roma Ocidental, em 476 d.C.

Uma evidência adicional a essa visão pode ser encontrada no pa ralelo entre os capítulos 2 e 7 de Daniel. O quarto animal de Daniel 7:7 (terrível e espantoso), representa o mesmo império das pernas de ferro da estátua, ou seja, Roma. Assim como os pés possuem dez artelhos, esse quarto poder possui dez chifres. No capítulo 7, somente após o surgi mento dos dez reinos é que surge uma nova cena – o estabelecimento do juízo e o reino sendo entregue aos santos do Altíssimo (Daniel 7:26, 27).

O mesmo se dá na visão do capítulo 2 com a pedra atirada sem auxilio de mãos. Isso significa que o reino eterno de Cristo será estabelecido nos dias da moderna Europa, que se formou a partir das tribos bárbaras que minaram Roma.

Daniel 64 Segredos da Profecia

Uma Estátua Assustadora

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Assim, na história universal das nações podemos contemplar o cumprimento literal da profecia divina dada no capítulo 2 de Daniel até a divisão do quarto reino em dez. Agora esperamos com expectativa o surgimento daquela pedra, cortada sem auxilio de mãos, que represen ta a segunda vinda de Cristo e o estabelecimento do Seu reino eterno (Daniel 2:44, 45; 7:13,14, 26, 27). É isso que mantém o povo de Deus esperançoso nos dias finais da história humana.

ATITUDE DE nAbUc ODOnOSOR

O rei estava convencido da verdade da interpretação, e em humildade e temor “se inclinou, e se prostrou rosto em terra [...] e disse: Certamente, o vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador de mistérios, pois pudeste revelar este mistério” (Daniel 2:46, 47).

Nabucodonosor engrandeceu a Daniel e lhe deu muitas e grandes dá divas e o pôs por governador sobre toda a província de Babilônia. Nesse momento, Daniel não se esqueceu de seus amigos, Hananias, Misael e Azarias e, conforme seu pedido, eles foram colocados como superinten dentes “sobre os negócios da província da Babilônia” (Daniel 2:49).

Séculos antes desses eventos históricos, o Revelador de Mistérios lançou um olhar para o futuro e predisse as cenas do surgimento e que da destes quatro impérios universais. Deus fez saber a Nabucodonosor, a quem chama de “Meu servo”, que seu reino devia cair, e um segundo reino surgiria, o qual também teria o seu período de prova. Deixando de exaltar o verdadeiro Deus, sua glória também seria abatida, e um terceiro reino lhe ocuparia o lugar. Este também passaria; e um quarto, forte como ferro, submeteria as nações do mundo.

Em cada uma dessas revelações Deus tencionava usar estas nações para Seus propósitos. Se tivessem elas conservado sempre diante de si o temor de Deus, seriam mantidas em sabedoria e força. Mas menospre zaram as oportunidades, e seu período de glória passou.

Hoje, a cada governante da terra são dirigidas as mesmas palavras que foram ditas a Nabucodonosor: “Põe termo, pela justiça, em teus pe cados e em tuas iniquidades, usando de misericórdia para com os pobres; e talvez se prolongue a tua tranquilidade” (Daniel 4:27). Compreender essas coisas, isto é, que “a justiça exalta as nações” (Provérbios 14:34), que

Daniel 66 Segredos da Profecia

“com justiça se estabelece o trono” (Provérbios 16:12), e “com benigni dade sustém ele o seu trono” (Provérbios 20:28), reconhecer a operação desses princípios na manifestação de Seu poder que “remove os reis, e estabelece os reis” (Daniel 2:21) é compreender a filosofia da História.

Com a história do capítulo dois aprendemos que a força, tanto das nações como dos indivíduos, não se encontra nas oportunidades ou facilidades que possuímos, nem em aparente grandeza, mas é medida pela fidelidade com que se cumpre o propósito de Deus em nossa vida.

A maior necessidade do mundo é a de homens – homens que se não comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus (Educação, 57).

A FORNALHA DE FOGO ARDENTE

O capítulo 3 de Daniel descreve uma história surpreendente dos dias de Daniel, que tem seu paralelo nos últimos dias, como é mostrado no livro do Apocalipse.

O rei Nabucodonosor ficou por um tempo impressionado com a in terpretação do sonho da estátua, que abriu perante ele acontecimentos que chegariam até o “tempo do fim”, e foi instruído sobre a parte que lhe cabia desempenhar na história até o estabelecimento do eterno reino de Deus. Mas essa impressão não durou muito tempo. Seu coração não es tava purificado da ambição mundana e do desejo de exaltação. A prospe ridade que acompanhou o seu reinado o encheu de orgulho e presunção.

Acredita-se que tenham se passado nove anos desde o sonho com a estátua e o episódio descrito no capítulo 3. Foi por causa do conselho dos sábios de Babilônia que Nabucodonosor decidiu construir a imagem. Mas diferente da divisão dos metais, ele decidiu ir além. Daniel relata: “O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro que tinha sessenta côvados de altura e seis de largura; levantou-a no campo de Dura, na província da Babilônia” (Daniel 3:1). Esse evento indica claramente que ele cessou de honrar a Deus, e retomou seu culto idólatra com maior zelo e fanatismo.1

1

WHITE, 1995, p. 504. 5

A lUTA PEl A ADORAçãO

A mesma imagem usada por Deus para revelar aos homens Seus eternos propósitos, ao desdobrar perante eles importantes eventos do futuro, seria agora usada para glorificação do poder humano. A inter pretação dada por Daniel seria esquecida, e a verdades seriam mistifi cadas. Nisso vemos a ação satânica tentando frustrar os planos divinos. Ellen G. White diz que “Satanás estava procurando frustrar o propósito divino em favor da raça humana. O inimigo da humanidade sabia que a verdade isenta de erro é uma força poderosa para salvar; mas que quan do usada para exaltar o eu e favorecer os projetos dos homens, torna-se um poder para o mal”.2

Se na estátua do sonho seu império, Babilônia, era simbolizado pela cabeça de ouro, essa outra estátua, erigida na planície de Dura, era toda em ouro, simbolizando assim a perpetuidade de seu reino. O tamanho da estátua também é digno de nota, 60 côvados de altura e 6 côvados de largura. Isso reflete o uso do sistema sexagesimal (sistema que depende do número 60) em Babilônia. O sistema sexagesimal foi inventado pe los próprios babilônicos. Esse sistema ainda é muito usado em nossos dias, como se vê na contagem dos segundos, minutos e horas.

O côvado podia variar de 44,7 a 52,4 cm.3 Tomando como média 50 cm para cada côvado, isso nos daria uma imagem de 30 metros de altura, por 3 de largura. Dimensões que certamente incluíam algum tipo de pedestal, onde a imagem pudesse estar firmada. Ela poderia ser comparada a um edifício com cerca de dez andares.

Mas qual foi o motivo da construção da estátua? Como já foi dito, sua intenção era perpetuar o poder de Babilônia, e para isso foi convo cada uma assembléia geral, onde deveriam comparecer todos os políti cos e administradores de Babilônia para adorar a imagem de ouro que o rei levantara. Daniel 3:5 declara: “No momento em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou”. O render comemoração à estátua

2 WHITE, 1995, p. 505.

3 VINE, W. E. Dicionário Vine: O significado exegético e expositivo das palavras do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 86.

Daniel 70 Segredos da Profecia

daria evidência de submissão ao poder do rei, e ao mesmo tempo de monstraria reconhecer que os deuses de Babilônia eram superiores a todos os outros deuses dos povos.

Havia ainda mais um detalhe: a adoração era obrigatória; e qual quer que não adorasse a estátua seria, no mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente (Daniel 3:6).

Se fizermos uma pausa em nossa história e sistematizarmos seus elementos, poderemos facilmente defini-los:

Um soberano poderoso Uma imagem falsa Uma adoração forçada

União do poder civil ao religioso Pena de morte aos desobedientes

Existe alguma aplicação dessa experiência para os últimos dias da história ou só foi registrada para ensino dos povos há 2.500 anos? Uma rápida olhada no capítulo 13 de Apocalipse responde a essa pergunta.

Daniel Apocalipse

3:1

Poderoso soberano 13:11 3:2

Uma imagem falsa 13:14 3:5

Uma adoração forçada 13:15 3:2

União igreja e estado 13:12

3:6 Pena de morte 13:15

Como visto na relação dos textos acima, o Apocalipse aponta para um acontecimento idêntico envolvendo o povo de Deus justamente em nossos dias. O poder representado por Apocalipse 13:11 fará um de creto obrigando todos os habitantes da terra a adorar a primeira besta (Apocalipse 13:1-10), com uma terrível ameaça de morte para todos aqueles que não se renderem a essa adoração (Apocalipse 13:15). E cer tamente nesse tempo, como Hananias, Misael e Azarias, muitos sin ceros filhos e filhas de Deus se oporão, com o risco da própria vida,

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a este ato idólatra, escolhendo adorar somente ao Deus Criador dos Céus e da Terra (Apocalipse 14:6, 7; 12:11).

TRêS jOVEnS c ORAjOSOS

Chegado o dia da grande convocação, milhares se ajuntaram na pla nície de Dura diante da imagem de ouro que o rei construíra. Segundo a orientação do arauto, quando os instrumentos musicais foram toca dos, todos se prostraram em reverência e adoraram a imagem de ouro e ao poder que ela simbolizava (Daniel 3:4, 5). Os poderes das trevas pareciam haver obtido notável triunfo e a idolatria parecia prestes a se perpetuar em Babilônia. Satanás esperava assim frustrar os planos de Deus de usar Seus filhos cativos em Babilônia como uma forma de abençoar todas as nações. Mas a história tomaria outro rumo, e Deus mais uma vez seria honrado.

Não é fácil ficar em pé quando todos se prostram. Mas foi isso que fizeram os amigos de Daniel, Hananias, Misael e Azarias (Daniel 3:12). Desde a infância, eles haviam aprendido a adorar e reverenciar somente ao verdadeiro Deus. Estava claro o mandamento em suas mentes: “Não terás outros deuses diante de mim; Não farás para ti imagem de escultura; Não as adorarás nem lhes darás culto” (Êxodo 20:3-5). “Não vos volteis para os ídolos, nem façais para vós deuses de fundição (Levítico 19:4).

“E vistes as suas abominações, os seus ídolos de pau e de pedra, de prata e de ouro” (Deuteronômio 29:17). Eles eram servos do Deus vivo, e não se curvariam diante dos falsos deuses de Babilônia.

O rei logo soube da rebeldia e deu a eles uma segunda chance. “É verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego [nomes babilônicos dos jovens], que vós não servis a meus deuses, nem adorais a imagem de ouro que levantei? Agora, pois, estai dispostos e, quando ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles, prostrai-vos e adorai a imagem que fiz; porém, se não a adorardes, se reis, no mesmo instante, lançados na fornalha de fogo ardente. E quem é o deus que vos poderá livrar das minhas mãos? (Daniel 3:14, 15).

Essa pergunta não poderia ficar sem resposta, pois o Deus de Israel, o Deus Criador dos Céus e da Terra, iria ser glorificado na fidelidade desses três jovens. Com confiança e coragem que só podem brotar de um íntimo

Daniel 72 Segredos da Profecia

relacionamento com o Senhor, esses jovens responderam: “Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem ser vimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (Daniel 3:16-18).

Falando sobre a necessidade de homens assim na atualidade, Ellen G. White escreveu: “A maior necessidade do mundo é a de homens –homens que se não comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus”.4

Os três jovens hebreus não temeram nem mesmo a queda do céu sobre suas cabeças. Apegaram-se à promessa divina: “quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti” (Isaías 43:2).

Você pode estar se perguntando: onde estava Daniel nesse mo mento? Porque não aparece na história? Não temos resposta para essa pergunta, mas há algumas possibilidades. Uma delas é que ele poderia estar em algum tipo de viagem, cuidando dos interesses do próprio rei no. É possível que o próprio rei, em virtude de conhecer bem Daniel, e saber que ele não se prostraria em reverência à imagem, de alguma forma, trabalhou para que ele não estivesse em Babilônia no dia da con sagração da mesma. Esse detalhe permanece ainda um mistério.

UMA fORnAlHA ARDEnTE

A fornalha descrita no texto certamente era um lugar onde se quei mavam tijolos, visto que boa parte dos edifícios de Babilônia era cons truída com esse tipo de material. Heródoto, o “Pai da história”, falando das reformas que a filha de Nabucodonosor, Nitócris, provavelmente esposa de Nabonido e mãe de Belsazar, empreendeu em Babilônia, pouco antes da invasão medo-persa, menciona o uso de tijolos na cons trução de muralhas e da ponte que ligava as duas partes da cidade.5

4 WHITE, 1997, p. 57.

5 HERÓDOTO, p. 92-94.

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Por ordem do rei uma dessas fornalhas foi esquentada sete vezes mais (Daniel 3:19). O calor era tão intenso que mesmo os valentes ho mens responsáveis por lançar os jovens na fornalha perderam suas vidas (Daniel 3:22). O que se vê em seguida é um Deus poderoso agindo para salvar seus filhos da morte. O texto bíblico menciona a surpresa do rei Nabucodonosor, ao perguntar a seus conselheiros: “Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? [...] Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses” (Daniel 3:24, 25).

Aqui vemos o aspecto redentor de Jesus no terceiro capítulo. Ninguém menos que o próprio Cristo veio para estar com Seus filhos no meio da provação. Jesus andou com os jovens entre o fogo, que per deu totalmente seu efeito diante do Senhor Deus, Criador de todos os elementos existentes. Nabucodonosor teve uma visão do filho de Deus. Naquele dia compreenderia mais uma vez a superioridade do Deus dos jovens hebreus sobre os deuses de Babilônia. Um Deus tão zeloso que nada se queimou na fornalha, exceto as cordas que os prendiam.

Um detalhe nos chama a atenção: Como sabia o rei pagão a que era semelhante o Filho de Deus? Ellen G. White apresenta uma resposta: “Os cativos hebreus que ocupavam posição de confiança em Babilônia tinham representado a verdade diante dele na vida e no caráter. Quando perguntados pela razão de sua fé, tinham-na dado sem hesitação. Clara e singelamente tinham apresentado os princípios da justiça, ensinando assim aos que lhes estavam ao redor a respeito do Deus a quem adora vam. Eles tinham falado de Cristo, o Redentor vindouro; e na aparência do quarto no meio do fogo, o rei reconheceu o Filho de Deus”.6

É maravilhoso pensar no poder do testemunho. Nossa vida fala muito mais do que nossas palavras. O melhor sermão que pode ser pre gado é uma vida de consagração a Deus e serviço em favor do próximo. O mundo ainda espera ver esse tipo de fé nos cristãos modernos.

Talvez sofrendo o calor do intenso fogo, o rei se aproximou o má ximo que pôde para fazer ouvir sua voz e chamar os jovens para fora da fornalha. Interessante pensar na cena. Ao receberem a visita de Jesus

Daniel 74 Segredos da Profecia
6 WHITE, 1995, p. 509.

e testemunharem o milagre do fogo que não queimava, os jovens não saíram da fornalha, mas ficaram lá e, segundo as palavras do próprio rei, estavam passeando dentro da fornalha. Isso nos leva à conclusão de que com Jesus, mesmo o fogo da provação se torna um lugar agradável. Nesse exato momento você pode estar enfrentando uma verdadeira prova de fogo, mas preste atenção. Além das nuvens negras que se formam no horizonte, além das lágrimas que rolam no rosto por coisas que só seu coração sabe, existe um Deus de amor. Um Deus tão maravilhoso que vem para estar com Seus filhos nos momentos das mais duras provas. Apegue-se às Suas promessas agora: “Não vos sobreveio tentação que não fosse huma na; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas for ças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1 Coríntios 10:13). E ainda mais: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, da queles que são chamados segundo o Seu propósito (Romanos 8:28). Você muitas vezes “subiu” ao Céu em oração em momentos de lutas, mas na hora do fogo Ele descerá até sua fornalha. O próprio Filho de Deus vai estar ao Seu lado nas horas mais difíceis de sua vida. Somente creia!

fIDElIDADE REc OMPEnSADA

Todos se ajuntaram para testemunhar que nem cheiro de alguma coisa queimada havia por perto. Esse acontecimento extraordinário le vou o rei a reconhecer: “Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o Seu anjo e livrou os Seus servos, que con fiaram nEle, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar o seu corpo, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus” (Daniel 3:28).

Impressionado com a fidelidade dos jovens e o maravilhoso poder deste Deus dos hebreus, o rei baixou então um decreto advertindo a todas as nações que qualquer blasfêmia contra esse Deus seria punida com morte. E o decreto terminava com um reconhecimento: “Porque não há outro deus que possa livrar como este” (Daniel 3:29).

O capítulo 3 termina dizendo que “o rei fez prosperar a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na província da Babilônia” (Daniel 3:30). Esses mesmos três jovens que ao fim do capítulo 2 foram colocados sobre os

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negócios da província de Babilônia, novamente foram promovidos pelo próprio rei. Sua fidelidade foi recompensada e eles deram um poderoso testemunho, que ecoa ainda hoje, sobre o poder e cuidado de Deus para com Seus filhos.

Manuscritos das mais antigas traduções, como a Septuaginta (LXX)7 e a tradução de Teodócio, logo em seguida ao verso 23 do capítulo 3, in seriram um texto apócrifo chamado o “Cântico dos Três Jovens Santos” . Esse cântico contém 68 versos e na Bíblia de Jerusalém aparece com as seguintes divisões: (1) Cântico de Azarias (Abede-Nego) na fornalha, composta tanto de uma confissão como de uma súplica (versos 24-45); (2) um interlúdio em prosa, que descreve o aquecimento do forno e a descida do anjo do Senhor para esfriar as chamas (versos 46-50); e (3) o cântico dos três jovens (versos 51-90).

Embora o próprio Jerônimo8 tenha reconhecido esse texto como espúrio, essa adição apócrifa foi mantida em várias versões católicas. Os eruditos debatem se a origem do canto é judeu ou cristão. Vários deles acreditam que essa obra foi criada ao redor do ano 100 a.C.9 Independentemente da data de sua composição, o cântico tem valor histórico, assim como os sete livros apócrifos, inseridos em algumas versões da Bíblia. Esse aspecto histórico, e não de inspiração divina como os outros livros do Cânon, tem seu valor, pois quem escreveu o cântico buscou imaginar a gratidão dos jovens hebreus após testemu nharem tamanho livramento.

O verso 31, parte do cântico de Azarias, menciona que a prova foi um julgamento que Deus fez a eles. O verso 40 declara: “Tal como se viéssemos com holocaustos de carneiros e de touros, e com miríades de cordeiros gordos. Tal se torne o nosso sacrifício hoje diante de Ti, porque não serão confundidos os que confiam em Ti”. O cântico está fazendo uma comparação entre os sacrifícios oferecidos e queimados

7 Septuaginta, identificada também pelo número romano 70 (LXX), é uma tradução do Antigo Testamento, originalmente escrito em hebraico e aramaico, para o grego. Esta versão foi feita por setenta e dois rabinos (seis de cada uma das doze tribos) que trabalharam nela e, segundo a história, teriam completa do a tradução em setenta e dois dias.

8 Jerônimo é conhecido como tradutor da Bíblia do grego antigo e do hebraico para o latim. A edição de São Jerônimo, a Vulgata, é ainda o texto bíblico oficial da Igreja Católica Romana.

9 Comentário bíblico adventista, V. 4, p. 863.

Daniel 76 Segredos da Profecia

no santuário com a situação que os jovens estavam vivendo. Como se estivessem oferecendo seus corpos como sacrifício vivo a Deus.

Durante os anos da Idade Média, os filhos de Deus também foram severamente perseguidos e provados. No raiar do século 15, havia três papas reinando simultaneamente.10 Para solucionar esse problema, foi convocado um concílio geral em Constança, no ano de 1414, pelo im perador Sigismundo e o papa João XXIII. Esse concílio durou três anos e cinco meses. Duas decisões nesse concílio chamaram minha atenção. Primeira: depuseram os três papas reinantes e elegeram Martinho V como o papa legítimo; segunda, condenaram à fogueira João Huss e cerca de um ano depois, Jerônimo de Praga.

No dia 6 de julho de 1415, Huss foi despido e depois amarrado com cordas molhadas. Seu pescoço foi preso à estaca por uma corrente. Antes de a fogueira ser acesa, Louis, Duque da Baviera exortou Huss pedindo que pensasse em sua salvação e renunciasse a seus erros. Sua resposta foi: “A que erros devo renunciar, se não me sinto culpado de nada? [...] Com a mente serena e cheia de fé estou pronto para enfrentar a morte”.11 O fogo foi aceso e enquanto as chamas crepitavam se pôs a cantar: “Jesus Cristo! Filho do Deus vivo! Tem piedade de mim”. Silenciou-se assim, nesta vida, a voz do grande mestre John Huss. Cerca de um ano depois, de igual ma neira e no mesmo lugar foi morto seu grande amigo, Jerônimo de Praga.

Três jovens hebreus e dois heróis mártires da Idade Média. Dois destinos completamente diferentes! Em momentos assim me pergunto: Por que Deus não livrou Huss e Jerônimo como fez com os jovens he breus? Não encontro resposta para minha pergunta, mas fica uma úni ca certeza: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, po rém as reveladas nos pertencem, a nós” (Deuteronômio 29:29).

Um dia na eternidade, Hananias, Misael e Azarias vão se encon trar com Huss e Jerônimo. Eles poderão partilhar todas as cenas que viveram na Terra e de como Deus cuidou de cada um deles. Não seria maravilhoso poder participar dessa reunião? Prepare-se então e não perca a confiança mesmo que uma fornalha faça parte de sua jornada.

10 Os três Papas eram: papa João XXIII, eleito pelos italianos; papa Gregório, eleito pelos franceses e, papa Benedito, eleito pelos espanhóis.

11 FOXE, John. O livro dos mártires. São Paulo: Mundo Cristão, 2003, p. 119.

77

A cada nação, a cada indivíduo de hoje, tem Deus designado um lugar no Seu grande plano. Homens e nações estão sendo hoje medidos pelo prumo que se acha na mão dAquele que não comete erro. Todos estão pela sua própria escolha decidindo o seu destino, e Deus está governando acima de tudo para o cumprimento de Seu propósito (Educação, 178).

DO PALÁCIO AO PASTO

De todos os capítulos registrados em Daniel, o capítulo 4 é o único que não foi escrito por ele. O autor é o próprio rei Nabucodonosor, e registra uma proclamação real. Ele escreveu: “O rei Nabucodonosor a todos os povos, nações e homens de todas as línguas, que habitam em toda a terra: Paz vos seja multiplicada!” (Daniel 4:1).

Este capítulo é o desfecho da história do grande rei do período neo babilônico. Registra seu último relato. E está impregnado de lições espi rituais e da misericórdia de Deus manifestada a um rei pagão e idólatra.

A mudança nesse capítulo, da primeira pessoa para a terceira e de novo à primeira (ver Daniel 4:2-27; cf. 28-33; 34-37) ocorre por que Daniel certamente escreveu o decreto por ordem do rei, ou como principal conselheiro, acrescentou certas partes ao decreto. O decreto refletia os sentimentos do rei quando tinham sido completamente res tabelecidas suas faculdades mentais. “O outrora orgulhoso monarca, tinha-se tornado um humilde filho de Deus”.1

UM DEcRETO REAl

Assim dizia o decreto: “Pareceu-me bem fazer conhecidos os sinais 521.

6
1 WHITE, 1995, p.

e maravilhas que Deus, o Altíssimo, tem feito para comigo. Quão gran des são os Seus sinais, e quão poderosas, as Suas maravilhas! O Seu reino é reino sempiterno, e o Seu domínio, de geração em geração” (Daniel 4:2, 3).

Nabucodonosor reinou 43 anos em Babilônia. Esse sonho ocorreu na segunda parte de seu reinado. O rei declarou: “Eu, Nabucodonosor, estava tranquilo em minha casa e feliz no meu palácio” (Daniel 4:4). De súbito, muda-se a cena e o rei se espanta: “Tive um sonho, que me espantou; e, quando estava no meu leito, os pensamentos e as visões da minha cabeça me turbaram” (Daniel 5:5).

Neste caso, diferente do capítulo 2, o rei não havia esquecido o con teúdo do sonho, mas também não sabia qual o significado do mesmo. Assim, mais uma vez foram chamados os sábios (os magos, encanta dores, os caldeus e os feiticeiros) para darem ao rei a interpretação do sonho. Mas Daniel 4:7 declara que eles não puderam dar ao rei a in terpretação. Mais uma vez ficou provada a incapacidade de qualquer homem de revelar os mistérios que o Altíssimo reservou para Si.

nAbUc ODOnOSOR nARRA O SOnHO

Os habitantes da Babilônia costumavam ver um significado em cada sonho. Possivelmente por essa razão Deus empregou mais uma vez um sonho como um instrumento para expor Seus intuitos. Deus sempre usa parábolas e figuras para transmitir Suas verdades. Os sím bolos ajudam a recordar tanto a mensagem como sua importância, por mais tempo do que se a mensagem tivesse sido comunicada de outra maneira. Veja como exemplo a advertência da Natã a Davi, depois do adultério com Bate-Seba (2 Samuel 12:1-15).

Já na presença de Daniel, em quem o rei reconheceu haver “o espí rito dos deuses santos” (Daniel 4:8, 18), o rei narra seu sonho:

“Eu estava olhando e vi uma árvore no meio da terra, cuja altu ra era grande; crescia a árvore e se tornava forte, de maneira que a sua altura chegava até ao céu; e era vista até aos confins da terra. A sua folhagem era formosa, e o seu fruto, abundante, e havia nela sus tento para todos; debaixo dela os animais do campo achavam sombra, e as aves do céu faziam morada nos seus ramos, e todos os seres viventes

Daniel 80 Segredos da Profecia

se mantinham dela. No meu sonho, quando eu estava no meu leito, vi um vigilante, um santo, que descia do céu, clamando fortemente e dizendo: Derribai a árvore, cortai-lhe os ramos, derriçai-lhe as folhas, espalhai o seu fruto; afugentem-se os animais de debaixo dela e as aves, dos seus ramos. Mas a cepa, com as raízes, deixai na terra, atada com cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo. Seja ela molhada do orvalho do céu, e a sua porção seja, com os animais, a erva da terra. Mude-se-lhe o coração, para que não seja mais coração de homem, e lhe seja dado coração de animal; e passem sobre ela sete tempos. Esta sentença é por decreto dos vigilantes, e esta ordem, por mandado dos santos; a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domí nio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer e até ao mais humilde dos homens constitui sobre eles” (Daniel 4:10-17).

DAnIEl InTERPRETA O SOnHO

Após ouvir atentamente o relato, Daniel ficou “atônito por algum tempo” (Daniel 4:19). Seu respeito e amizade pelo rei o deixaram per turbado diante do significado do sonho. O rei o animou a não ficar perturbado, mas a revelar o sonho, e Daniel então passa a interpretar os eventos que teriam lugar na vida do rei.

“A árvore que viste [...] és tu, ó rei, que cresceste e vieste a ser forte” (Daniel 4:20-22). Quanto ao fato de a árvore ser cortada e destruída e sua cepa com as raízes ficarem na terra, significava que o rei seria expulso de entre os homens e passaria a morar com os animais do campo e a comer erva como eles. Iriam se passar sete tempos, ou seja, sete anos2 (Daniel 4:25. Conferir com 11:13), até que o rei reconhecesse “que o Altíssimo tem do mínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer” (Daniel 4:25). Em seguida, a esse período de sete anos o rei voltaria à sua condição normal. Nabucodonosor havia sido exaltado ao máximo da glória munda na. Mesmo na profecia de Ezequiel, ele havia sido chamado de “o rei dos reis” (Ezequiel 26:7). No entanto, ainda que algumas vezes tivesse atribuído a Deus a glória de seu reino, estava prestes a voltar-se para

2 A palavra aramaica ‘iddan, “tempo”, aparece também em 4:23, 25, 32; e depois em 7:25; 12:7, signifi cando “ano”. O texto da LXX diz “sete anos”. Entre os primeiros expositores que se inclinaram por esta opinião está Flávio Josefo. Ver História dos hebreus: Obra completa, p. 253.

81Do Palácio ao Pasto

si mais uma vez e esquecer a verdade eterna de que nos assuntos das nações Deus está sempre executando “silenciosamente, pacientemente, os conselhos de Sua própria vontade”.3

Daniel encerra a interpretação do sonho e dá um conselho ao rei: “Portanto, ó rei, aceita o meu conselho e põe termo, pela justiça, em teus pecados e em tuas iniquidades, usando de misericórdia para com os pobres; e talvez se prolongue a tua tranquilidade” (Daniel 4:27).

Ao rei Nabucodonosor foi ensinado um princípio divino: os julgamen tos de Deus contra os homens podem ser evitados pelo arrependimento e conversão (ver Isaías 38:1-2, 5; Jeremias 18:7-10; Jonas 3:1-10). Durante os 12 meses seguintes parece que Nabucodonosor atentou ao conselho de Daniel, mas ao fim, o desejo de exaltação própria e orgulho mundano ocuparam sua mente. O coração não transformado pela graça de Deus logo perde as impressões do Espírito Santo. A condescendência própria e ambição não haviam ainda sido erradicadas do coração do rei. Mais tarde, esses traços reapareceram, como veremos em seguida.

O cUMPRIMEnTO DA PROfEcIA

Passado exatamente um ano, disse o rei: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para glória da minha majestade?” (Daniel 4:30). Uma das inscrições antigas que foram preservadas dos escombros das ruínas de Babilônia mostra algo bem semelhante ao texto sagrado. Nela se lê: “Então cons truí eu o palácio, o assento de minha realeza, o vínculo da raça humana, a morada de júbilo e regozijo”.4

É claro que a pretensão de Nabucodonosor de ter “edificado” a ci dade de Babilônia não deve ser interpretada como uma referência a sua fundação, que ocorreu pouco depois do dilúvio (Gênesis 11: 1-9), mas refere-se à obra de reconstrução começada por seu pai Nabopolasar, e completada por Nabucodonosor.5 Nos intervalos de suas guerras, Nabucodonosor dedicou-se a embelezar e fortificar sua capital, até que afinal a cidade de Babilônia se tornou a principal glória da terra,

3 WHITE, 1997, p. 173.

4 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 872.

5 Ibidem

Daniel 82 Segredos da Profecia

chamada na profecia de “senhora de reinos” (Isaías 47:5). Heródoto de clara que Babilônia era “a mais célebre e mais importante de todas as cidades”.6 Cortada pelo rio Eufrates, às margens do qual podia se plan tar e tirar seu sustento, somando-se a isso suas altas e fortes muralhas, de fato Babilônia era uma cidade inexpugnável.

Seu tamanho também impressionava. “Babilônia tinha a forma de um grande quadrado, de 22 km de lado. Essas medidas dariam aos mu ros uma extensão total de 88 km, e à cidade em si uma área de quase 490 quilômetros quadrados”.7

Não apenas nos aspectos de segurança e grandeza, mas também suas belezas encantavam. Durante seu longo reinado de 43 anos, Nabucodonosor construiu três grandes palácios. O primeiro estava na Cidade Interior. Um segundo, ao qual os escavadores dão agora o nome de Palácio Central, estava imediatamente fora do muro norte da Cidade Interior. E um terceiro, o Palácio do Sul, que se localizava no rincão no roeste da Cidade Interior, e incluía, além de outros edifícios, os famosos jardins suspensos.8 Estes, construídos pelo próprio Nabucodonosor, viriam a se tornar uma das sete maravilhas do mundo antigo. Também as nove portas que davam acesso à cidade. Cada uma delas dedicada às principais deidades de Babilônia. Em direção ao Este estavam as portas de Marduk, principal deus babilônico; e também a de Ninurta, o deus da caça e da guerra. A Oeste estava a porta de Adad, o deus das tor mentas. Ao Sul estavam as portas de Enlil, o deus do céu, a de Shamash, o deus do sol, e a de Urash. Em direção ao Norte estavam as portas de Ishtar, a deusa do amor e da guerra; a porta de Sin, o deus lua; e a de Lugalgirra (ou Nergal), o deus da febre e da pestilência.9

Não é por acaso que Rawlinson afirma: “Dificilmente se poderia afirmar demasiado, ao dizer que sem Nabucodonosor os babilônios não teriam tido lugar na história”.10

No exato momento em que o rei se orgulhava das maravilhas diante de seus olhos, veio o juízo do Céu: “Falava ainda o rei quando desceu

6 HERÓDOTO, p. 89.

7 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 874.

8 Ibidem

9 ALOMÍA, p. 19.

10 Ibidem, p. 13.

83Do Palácio ao Pasto

uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Já passou de ti o reino. Serás expulso de entre os homens, e a tua morada será com os animais do campo; e far-te-ão comer ervas como os bois, e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que aprendas que o Altíssimo tem domí nio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. No mesmo instante, se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor; e foi expulso de entre os homens e passou a comer erva como os bois, o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceram os cabelos como as penas da águia, e as suas unhas, como as das aves” (Daniel 4:31-33).

Num momento, a razão que Deus lhe havia dado foi tirada e o poderoso governante tornou-se um maníaco. Durante sete anos Nabucodonosor foi um espanto para todos os seus súditos; por sete anos foi humilhado perante todo o mundo. Até que finalmente reco nhecesse a soberania do Deus que tudo governa.

Não se sabe ao certo a identidade da doença do rei.11 Em 1975 foi traduzido um tablete de barro que faz referência à enfermidade de Nabucodonosor.12 Esse tablete se encontra no Museu Britânico sob o número B. M. 34.113, sp. 213. O documento está bastante danificado, mas pode-se ler as seguintes expressões: “Nabucodonosor considerou que [...] sua vida parecia de nenhum valor [...] ele não demonstrou amor a filho ou filha [...] família e clã não existem [...] sua atenção não foi conduzida no sentido de promover o bem-estar de Esagila [...] ele chora amargamente diante de Marduque”.13

As expressões acima muito bem podem ser aplicadas ao período trágico vivido por Nabucodonosor. Muitos também se perguntaram por que o rei demente não foi morto, ou por que seus súditos ou mi nistros de Estado não puseram algum outro no trono durante esses sete anos. Deu-se a seguinte explicação: Os supersticiosos da antiguidade acreditavam que todos os distúrbios mentais eram causados por maus

11 Maxwell, por exemplo, diz ser Licantropia (Síndrome do homem-lobo). Uma nova era segundo as profecias de Daniel, 62. Já para Vilmar González, a doença chama-se Zoantropia, uma espécie de mania mental em que o doente se julga convertido em um animal. Ver G ONZÁLEZ, Daniel e Apocalipse, p. 19.

12 GRAYSON, A. K. Babylonian Historical Literary Texts: Toronto Semitic Texts and Studies. Toronto: University of Toronto Press, 1975, p. 87-92.

13 HORN, Siegfried H. “New Light on Nebuchadnezzar´s Madness”. Ministry, abril 1978, p. 39-40. Disponível em: <https://www.ministrymagazine.org/archive/1978/04/new-light-on-nebuchadnezzars-mad ness> Acessado em 24 novembro 2013.

Daniel 84 Segredos da Profecia

espíritos que se apoderavam de suas vítimas; que se alguém matava o demente, esse espírito se apossava do homicida ou instigador do crime; e que se sua propriedade era confiscada ou seu cargo ocupado por ou tro, uma terrível vingança recaía sobre os responsáveis pela injustiça. Por essa razão, os dementes eram afastados da sociedade, mas em ou tros sentidos não eram incomodados (ver 1 Samuel 21:12 a 22:1).

cOnclUSãO

A Palavra de Deus declara: “Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o Seu segredo aos Seus servos, os profetas” (Amós 3: 7). Deus havia advertido o rei das consequências de sua atitude. Mas o juízo pronunciado sobre Nabucodonosor produ ziu resultados positivos. O texto declara: “Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimen to, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sem pre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por Ele reputados em nada; e, segundo a Sua vontade, Ele opera com o exército do céu e os moradores da ter ra; não há quem Lhe possa deter a mão, nem Lhe dizer: Que fazes? Tão logo me tornou a vir o entendimento, também, para a dignidade do meu reino, tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor; buscaramme os meus conselheiros e os meus grandes; fui restabelecido no meu reino, e a mim se me ajuntou extraordinária grandeza” (Daniel 4:34-36).

Ellen G. White declara: “O outrora orgulhoso monarca tinha-se tornado um humilde filho de Deus; o governante tirânico e opressor tornara-se um rei sábio e compassivo. Aquele que tinha desafiado o Deus do Céu e dEle blasfemado, reconhecia agora o poder do Altíssimo, e fervorosamente procurou promover o temor de Jeová e a felicidade dos seus súditos”.14

Nabucodonosor tinha afinal aprendido a lição que todos os líde res e governantes precisam hoje aprender – de que a verdadeira gran deza consiste na verdadeira bondade. Ele declarou: “Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e glorifico ao Rei do céu, porque todas as

85Do Palácio ao Pasto
14 WHITE, 1995, p. 521.

Suas obras são verdadeiras, e os Seus caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba” (Daniel 4:37). “O propósito de Deus de que o maior reino do mundo mostrasse o Seu louvor, estava agora cum prido. Esta proclamação pública, em que Nabucodonosor reconhecia a misericórdia, bondade e autoridade de Deus, foi o último ato de sua vida registrado na história sacra”.15

Deus hoje age da mesma maneira com os líderes atuais. “A cada nação, a cada indivíduo de hoje, tem Deus designado um lugar no Seu grande plano. Homens e nações estão sendo hoje medidos pelo prumo que se acha na mão dAquele que não comete erro. Todos estão por sua própria escolha decidindo o seu destino, e Deus está governando acima de tudo para o cumprimento de Seu propósito”.16

Qual será nossa atitude diante desta verdade eterna? Vamos nos sujeitar às orientações divinas ou conduziremos nossa vida como se a ninguém devêssemos responder? Deus nos conceda assumir uma po sição humilde e de confiança, sabedores de que Deus fará sempre o melhor na vida de Seus filhos.

15 WHITE, 1995, p. 228.

16 WHITE, 1997, p. 178.

Daniel 86 Segredos da Profecia

A história que o grande Eu Sou assinalou em Sua Palavra, unindo-se cada elo aos demais na cadeia profética, desde a eternidade no passado até a eternidade no futuro, diz-nos onde nos achamos hoje, no prosseguimento dos séculos, e o que se poderá esperar no tempo vindouro. Tudo o que a profecia predisse como devendo acontecer, até a presente época, tem-se traçado nas páginas da História, e podemos estar certos de que tudo que ainda deve vir se cumprirá em sua ordem (Educação, 178).

A QUEDA DE BABILÔNIA

SUcESSORES AO TROnO

Nabucodonosor reinou durante 43 anos em Babilônia1 (605 a.C até 562 a.C). Esse longo e próspero reinado marcou o apogeu do Império Neo-Babilônico. Somente 23 anos separam sua morte da que da de Babilônia em 539 a.C. Ramos menciona que, após sua morte, Nabucodonosor foi sucedido por seu filho, Evil-Merodaque (tam bém conhecido como Amel-Marduque). Este reinou apenas por três anos. Após sua morte (560 a.C.), sobe ao trono Neriglissar (também conhecido como Labashi-Sharuzur), genro de Nabucodonosor. Este, após reinar cerca de 5 anos, morre em 556 a.C. e seu filho, LaborosoArchod (também conhecido como Labashi-Marduque), começa seu reinado. No entanto, morre neste mesmo ano e em seu lugar sobe ao trono Nabonido (também conhecido como Labineto), outro genro de Nabucodonosor.2 Será durante seu reinado que terão lugar os aconteci mentos descritos no capítulo 5 do livro de Daniel.

1 JOSEFO, Flávio. História dos hebreus: Obra completa. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1992, p. 253. 2 RAMOS, 1998, p. 54.
7

O texto bíblico inicia falando de um grande banquete. “O rei Belsazar deu um grande banquete a mil dos seus grandes e bebeu vinho na pre sença dos mil” (Daniel 5:1). Crê-se que Nabonido tenha se casado com uma filha de Nabucodonosor.3 Neste caso Belsazar, filho de Nabonido, seria neto de Nabucodonosor por parte de mãe. A rainha-mãe, chama do por Heródoto de Nitócris, mencionada em Daniel 5:10, conhecia muito bem as histórias que haviam se passado com Nabucodonosor, seu pai, e vai tomar parte nos eventos desse capítulo. Segundo o Comentário Bíblico Adventista, Nabonido estava no Líbano convalescendo de uma enfermidade, e pouco antes de iniciar uma campanha contra Tema no ocidente da Arábia, chamou a seu filho maior (Belsazar) e “confiou-lhe o reino”. Desde esse tempo em diante Belsazar controlou os assuntos de Babilônia, enquanto Nabonido resi diu em Tema, na Arábia.4

UM bAnQUETE REAl

Se assumirmos o ano de 552 a.C., quando Belsazar tornara-se co-regente com seu pai, Nabonido, passaram-se cerca de treze anos até a data do banquete no salão real. É inexplicável o fato de se dar um banquete diante das circunstâncias em que Babilônia vivia. Algumas batalhas já haviam sido travadas entre a Pérsia e Babilônia, mas nada disso inter feriu nos planos do rei. Josefo menciona que quando a festa foi dada a cidade de Jerusalém já estava sofrendo um cerco dos exércitos de Ciro.5

Heródoto também menciona que “no momento em que se deu a invasão, os babilônios estavam realizando um festim, e, longe de imagi nar que um perigo iminente os ameaçava, entregaram-se aos prazeres e às danças. Quando se inteiraram da situação era demasiado tarde”.6 Ellen G. White menciona os motivos do banquete: “Babilônia foi sitiada por Ciro, sobrinho de Dario, o Medo, e comandante geral dos exércitos combinados da Média e da Pérsia. Mas dentro das fortale zas aparentemente inexpugnáveis, com suas muralhas maciças e seus

3 Heródoto a chama de Nitócris, uma segunda rainha. A primeira chamava-se Semíramis. Ver HERÓDOTO, p. 92, 93.

4 Comentário bíblico adventista. V. 4, p. 881.

5 JOSEFO, p. 254.

6 Ver HERÓDOTO, p. 96.

Daniel 90 Segredos da Profecia

portões de bronze, protegida pelo rio Eufrates, e com abundante provi são em estoque, o voluptuoso rei sentiu-se seguro, e passava seu tempo em folguedos e festança. Em seu orgulho e arrogância, com um teme rário senso de segurança, Belsazar ‘deu um grande banquete a mil dos seus grandes e bebeu vinho na presença dos mil’ (Daniel 5:1)”.7

Não bastassem as orgias e a bebedeiras, Belsazar, para difamar o Deus verdadeiro, mandou que trouxessem os utensílios sagrados usa dos no serviço do templo em Jerusalém para que neles bebessem vinho. Josefo menciona que “numa sala onde havia um armário riquíssimo em que se conservavam os preciosos vasos de que os reis costumavam se servir; a isso ele quis acrescentar uma nova magnificência e ordenou então que trouxessem os vasos sagrados do templo de Jerusalém”.8

Josefo menciona que mesmo Nabucodonosor não se atreveu a servirse dos vasos, mas agora seu neto, Belsazar, já dominado pelo vinho, teve a ousadia de beber nos vasos e blasfemar contra Deus.9 Os utensílios do tem plo tinham sido tirados de Jerusalém em três ocasiões: (1) Uma parte deles quando Nabucodonosor levou cativos de Jerusalém em 605 a.C. (Daniel 1:1-2); (2) a maior parte quando o rei Joaquim foi levado cativo em 597 a.C. (2 Reis 24:12-13); e (3) o resto dos objetos de metal, principalmente de bronze, quando o templo foi destruído em 586 a.C. (2 Reis 25:13-17).

O texto diz que Belsazar “mandou trazer os utensílios de ouro e de prata que Nabucodonosor, seu pai, tirara do templo [...] Então, trou xeram os utensílios de ouro, que foram tirados do templo da Casa de Deus que estava em Jerusalém, e beberam neles o rei, os seus grandes e as suas mulheres e concubinas [...] Beberam o vinho e deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra” (Daniel 5:2-4). “O rei queria provar que nada era demasiado sagrado para que suas mãos tocassem”.10

A Bíblia chama Nabucodonosor de pai de Belsazar. Mas já vimos que ele era avô. A palavra “pai” deve interpretar-se como “avô” ou “an tepassado”, como em outras passagens da Bíblia (ver 1 Crônicas 2:7).

7 WHITE, 1995, p. 523.

8 JOSEFO, p. 254.

9 Ibidem

10 WHITE, 1995, p. 524.

91A Queda de Babilônia

UMA MãO MISTERIOSA

No mesmo instante em que bebiam nos utensílios sagrados do tem plo, Deus agiu para punir esse rei idólatra e displicente. Uma mão mis teriosa apareceu no palácio e escreveu algumas palavras que encheram de temor a todos. Não sabendo o significado das mesmas, mais uma vez o rei mandou chamar os sábios da corte: “O rei ordenou, em voz alta, que se introduzissem os encantadores, os caldeus e os feiticeiros; falou o rei e disse aos sábios da Babilônia: Qualquer que ler esta escritura e me declarar a sua interpretação será vestido de púrpura, trará uma ca deia de ouro ao pescoço e será o terceiro no meu reino. Então, entraram todos os sábios do rei; mas não puderam ler a escritura, nem fazer saber ao rei a sua interpretação” (Daniel 5:7, 8).

A vergonha vivida pelos sábios foi a mesma exposta a Nabucodonosor no capítulo 2, quando os sábios nada sabiam sobre os mistérios de Deus revelados no sonho da estátua. Como diria Cristo séculos depois: “Graças te dou, ó Pai [...] porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Lucas 10:21). Os sábios de Babilônia não possuíam a verdadeira grandeza, uma atitude de submissão e serviço ao Deus do Universo. Mas nem tudo estava per dido. Havia alguém ali na corte que possuía essa grandeza de espírito. Daniel é descrito pela rainha-mãe, Nitócris, como sendo um homem “que tem o espírito dos deuses santos [...] se achou nele luz, e inteligên cia, e sabedoria como a sabedoria dos deuses [...] porquanto espírito excelente, conhecimento e inteligência, interpretação de sonhos, decla ração de enigmas e solução de casos difíceis se acharam neste Daniel” (Daniel 5:11,12).

Imediatamente o rei ordena a introdução de Daniel e lhe faz uma promessa: “Tenho ouvido dizer de ti que podes dar interpretações e solucionar casos difíceis; agora, se puderes ler esta escritura e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço e serás o terceiro no meu reino” (Daniel 5:16). O fato de ter prometido o terceiro lugar corrobora o fato de ser ele o segundo em poder, e seu pai, Nabonido, que estava em Tema na Arábia, o primeiro.

A resposta de Daniel é ao ponto: “Os teus presentes fiquem contigo, e dá os teus prêmios a outrem; todavia, lerei ao rei a escritura e lhe farei

Daniel 92 Segredos da Profecia

saber a interpretação” (Daniel 5:17). Daniel não tinha ambição de bens terrenos. Seus olhos estavam fitos em Deus e aguardava a manifestação divina na libertação de seu povo. Via nos acontecimentos atuais a mão de Deus dirigindo a história e o cumprimento da profecia que revelara a Nabucodonosor cerca de 60 anos antes.

Antes de fazer saber ao rei a interpretação da escritura, deu a este uma severa repreensão. Falando do seu avô, Nabucodonosor, disse a Belsazar: “Quando, porém, o seu coração se elevou, e o seu espírito se tornou soberbo e arrogante, foi derribado do seu trono real, e passou dele a sua glória. Foi expulso dentre os filhos dos homens, o seu coração foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens e a quem quer constitui sobre ele. Tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que sabias tudo isto. E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos os utensílios da casa dEle perante ti, e tu, e os teus grandes, e as tuas mulhe res, e as tuas concubinas bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a ele não glorificaste. Então, da parte dele foi enviada aquela mão que traçou esta escritura” (Daniel 5:20-24).

Belsazar foi acusado de vários pecados: falta de humildade, blasfê mia, idolatria, glutonaria etc. Tivera uma excelente oportunidade, mas não aprendera a lição. As histórias de seu avô deveriam ter impressio nado seu coração e o levado a adorar o verdadeiro Deus como este fi nalmente fizera, mas em vez disso, dando lugar ao pecado e ao orgulho, preferiu seguir seu próprio caminho. “Profanando os vasos sagrados do templo, Belsazar havia ultrapassado os limites da paciência divina e selado sua própria sorte”.11

Daniel então passa a interpretar a escritura na parede: “Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM. Esta é a interpretação daquilo:

93A Queda de Babilônia
11 SCHWANTES, p. 47.

MENE: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele.

TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta.

PERES: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas (Daniel 5:25-28).

Flavio Josefo explica cada expressão aramaica com seu signifi cado: “Mene – isto é, número, significa que o número que Deus marca ra aos anos de seu reinado vai se completar e só lhe resta muito pouco tempo de vida. Tequel – Isto é, peso, significa que Deus pesou na sua justa balança a duração de seu reinado e que ele tende ao seu fim. Peres – quer dizer fragmento e divisão; significa que seu reino será dividido entre os medos e os persas”.12

Uma leitura atenta do texto nos mostra vocábulos diferentes entre os versos 25 e 28. O Comentário Bíblico Adventista explica que o vocá bulo PERES pode ser considerado como substantivo singular que sig nifica “parte” ou “porção”. A diferença dessa palavra com a que aparece no verso 25 (PARSIM ou UFARSIM em algumas versões) é que aquela aparece no plural e com a conjunção, podendo-se traduzir como “peda ços”. “É interessante que a forma aramaica peres contenha as consoantes das palavras aramaicas para Pérsia e persas, que estavam naquele mo mento às portas de Babilônia.”13

O jUízO DIVInO

O capítulo termina dizendo: “Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus. E Dario, o Medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou do reino” (Daniel 5:30, 31). Na queda da grande Babilônia, fica exposta mais uma vez a veracidade da profecia bíblica. Devido à sua idade avançada (62 anos), Dario reinou por pouco tempo, pois morreu “cerca de dois anos depois da queda de Babilônia”.14 Em seguida, Ciro sobe ao trono. A profecia havia dado todos os detalhes desse evento.

Nos metais da estátua do sonho do capítulo 2 ficou claro que Babilônia perderia seu poder para um império inferior. Mais de um

12 JOSEFO, p. 255.

13 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 886.

14 WHITE, 1995, p. 556, 557.

Daniel 94 Segredos da Profecia

século antes os profetas de Deus já haviam previsto esse momento. Antes mesmo que o povo judeu, incluindo Daniel, fosse levado para o cativeiro, Deus havia dado todas as informações necessárias.

Jeremias havia predito o cativeiro, a duração do mesmo e a liber tação: “Toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; estas na ções servirão ao rei da Babilônia setenta anos. Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os setenta anos, castigarei a iniquidade do rei da Babilônia e a desta nação, diz o Senhor, como também a da terra dos caldeus; farei deles ruínas perpétuas” (Jeremias 25:11, 12).

Isaías havia predito o nome do libertador: “Assim diz o Senhor ao Seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão” (Isaías 45:1). O profeta também predisse qual estratégia seria usada por ele: “Que digo à profundeza das águas: Seca-te, e eu secarei os teus rios; que digo de Ciro: Ele é Meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; que digo também de Jerusalém: Será edificada; e do templo: Será fundado” (Isaías 44:27, 28).

Heródoto escreveu: “Foi contra o filho de Nitócris que Ciro lançou suas tropas [...] Finalmente, ou porque concluísse por si mesmo sobre o que devia fazer, ou porque alguém, o vendo em dificuldades, o acon selhasse, o príncipe tomou a seguinte resolução: Colocou seu exército, parte no ponto onde o Eufrates penetra a Babilônia, parte no ponto onde o rio deixa o país, com ordem de invadir a cidade pelo leito do mesmo, logo que se tornasse vadeável. Com o exército assim distribuí do [...] desviou as águas do rio para o lago pelo canal de comunicação. As águas se escoaram, e o leito do rio facilitou a passagem. Sem perda de tempo, os Persas postados nas margens entraram na cidade, com as águas do rio dando apenas nas coxas [...] No momento em que se deu a invasão, os Babilônios estavam realizando um festim [...] quando se inteiraram da situação era demasiado tarde”.15

Foi assim que se deu a queda de Babilônia no ano 539 a.C. Através de multiformes providências, Deus tinha procurado ensinar aos caldeus a reverência por Sua lei. O profeta escreveu: “Queríamos curar Babilônia,

95A Queda de Babilônia
15 HERÓDOTO, p. 96.

ela, porém, não sarou” (Jeremias 51:9). Em virtude da perversidade do coração humano, Deus achou necessário passar a irrevogável sentença. Babilônia deveria cair e outro reino ser colocado em seu lugar. Os profe tas de Deus haviam advertido sobre como cairia Babilônia: “Como está quebrado, feito em pedaços o martelo de toda a terra! Como se tornou a Babilônia objeto de espanto entre as nações! [...] Ao estrondo da toma da de Babilônia, estremeceu a terra; e o grito se ouviu entre as nações” (Jeremias 50:23, 46).

Paralelo com aPocaliPse

Qual a relação desses eventos do capítulo 5 de Daniel com nos sos dias? João, assim como Jeremias, também profetizou a queda de Babilônia: “Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detes tável, pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prosti tuição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria” (Apocalipse 18:2, 3).

De qual Babilônia está João falando? Não pode ser a física, pois esta havia caído em 539 a.C. e posteriormente foi completamente destruída. João está falando de uma Babilônia mística ou espiritual. Veja o relacio namento tipológico entre a queda da Babilônia antiga e da moderna:16 bíblica

Daniel 96 Segredos da Profecia
ANTIGA BABILÔNIA MODERNA Daniel 5:27Cai em decorrência de um ato de juízo divino Apocalipse 19:2 Jeremias 51:9O juízo veio quando os pecados se completaram Apocalipse 18:5 Jeremias 51:13Faz das águas o seu sustentáculoApocalipse17:1 Isaías 44:27, 28Secamento do Rio EufratesApocalipse 16:12 Isaías 45:1Ciro – um tipo de Cristo Apocalipse 19:11, 14, 16 Jeremias 51:31Mensageiros anunciam a quedaApocalipse 14:8 16 Adaptado de R Amos, José Carlos. Profecia
, p. 58.

cOnclUSãO

Assim temos um paralelo entre os eventos dos dias de Daniel e dos nossos. Aí está Babilônia, embebedando as multidões com suas falsas doutrinas. As verdades bíblicas foram esquecidas, e em seu lugar impe ra a tradição e as heresias. Ciro é um tipo de Cristo e virá para libertar Seu povo. Mas existe ainda um último paralelo. Quando finalmente o povo judeu foi liberto e tinha autorização para retornar a Jerusalém, eles não quiseram. E por que não? Porque haviam prosperado, criado laços e raízes em Babilônia.

Em nossos dias, a história vai se repetir. No momento de deixar Babilônia para ir para a Nova Jerusalém, muitos não irão querer ir, pelo mesmo motivo: prosperidade temporal e laços com Babilônia.

Ellen G. White escreveu: “A Bíblia, e a Bíblia só, permite uma visão correta dessas coisas. Nela estão reveladas as grandes cenas finais da história de nosso mundo, acontecimentos que já estão lançando suas primeiras sombras, o som de cuja aproximação fazendo tremer a Terra, e o coração dos homens desmaiando de terror”.17

97A Queda de Babilônia
17 WHITE, 1995, p. 537.

O Céu está mais próximo daqueles que sofrem por amor da justiça. Cristo identifica os Seus interesses com os interesses do Seu fiel povo; Ele sofre na pessoa dos Seus santos; e seja o que for que toque em Seus escolhidos, toca nEle. O poder que está perto para libertar do dano físico e da angústia está perto também para salvar do mal maior, tornando possível ao servo de Deus manter sua integridade sob todas as circunstâncias, e triunfar através da graça divina (Profetas e Reis, 546).

DANIEL NA COVA DOS LEÕES

Um rapaz procurou Sócrates e lhe disse que precisava contar algo sobre alguém. Sócrates ergueu os olhos do livro que lia e perguntou: – O que você vai contar já passou pelas três peneiras?

– Três peneiras?

– Sim. A primeira é a verdade. O que você quer contar dos outros é um fato? Caso tenha apenas ouvido falar, a coisa deve morrer por aí mesmo. Suponhamos que seja verdade. Deve, antes, passar pela segun da peneira: a bondade. O que você vai contar é uma coisa boa? Ajuda a construir a fama do próximo? Se o que você quer contar é verdade, e é uma coisa boa, deverá ainda passar pela terceira peneira: a necessi dade. Convém contar? Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Melhora alguma coisa? E finalizou Sócrates: Se passar pelas três peneiras, conte! Tanto eu quanto você e os outros iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o am biente e fomentar a discórdia entre irmãos, amigos e colegas.1

A história tão conhecida até mesmo por crianças não existiria, se os contemporâneos de Daniel tivessem praticado o conselho de Sócrates. Uma história cheia de inveja, intrigas e fofocas.

Assim que a Média-Pérsia derrota Babilônia, através do grande lí der Ciro, ele não assume o trono, mas seu aliado, Dario. Esse detalhe é

1 CERQUEIRA, Sílvio. A língua, uma arma perigosa e uma ferramenta poderosa. Eklesia, 2012, p. 6, 7.

8

digno de nota e veremos isso mais a frente, quando estudarmos algu mas profecias relacionadas ao Império Medo-Persa. O capítulo 6 inicia com uma decisão do novo rei: “Pareceu bem a Dario constituir sobre o reino a cento e vinte sátrapas, que estivessem por todo o reino; e sobre eles, três presidentes, dos quais Daniel era um, aos quais estes sátrapas dessem conta, para que o rei não sofresse dano” (Daniel 6:1, 2).

Essas satrapias eram as principais divisões do império lideradas por pre feitos que estavam subordinados a três presidentes, dos quais Daniel era um.

MOVIDOS PEl A InVEjA

Assim que Dario conheceu brevemente a Daniel, um sobrevivente da idade de ouro da Babilônia, logo se convenceu de que seria uma de cisão sábia pôr a Daniel como principal administrador do novo império e conselheiro do rei. O texto diz: “Então, o mesmo Daniel se distinguiu destes presidentes e sátrapas, porque nele havia um espírito excelente; e o rei pensava em estabelecê-lo sobre todo o reino” (Daniel 6:3).

Ao fazer seus planos de colocar a Daniel no mais alto cargo civil do governo, estava pensando nos benefícios que isso traria ao império. Entretanto, não considerou o fato de que os outros presidentes, sendo eles cidadãos do império, sentissem ciúmes de um governante judeu. Os ciúmes só aumentaram ao perceberem a irrepreensível conduta de Daniel. Eles mesmos reconheceram isso: “Então, os presidentes e os sátrapas procuravam ocasião para acusar a Daniel a respeito do reino; mas não puderam achá-la, nem culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem culpa. Disseram, pois, estes homens: Nunca acharemos ocasião alguma para acusar a este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus” (Daniel 6:4, 5).

Daniel era um homem íntegro e confiava na infalível orientação divina. Estava disposto a sacrificar mesmo a vida por amor ao Deus que servia. Sua observância aos princípios e leis de saúde, como visto no capítulo 1 do livro, sem dúvida contribuiu para o vigor intelectual e físico incomum aos homens de sua idade.

UM ESTRATAGEMA SATânIc O Mesmo depois de uma apurada investigação, os inimigos de Daniel

Daniel 100 Segredos da Profecia

Daniel na Cova dos Leões

101

não puderam encontrar nenhuma irregularidade em sua vida. De fato Daniel era um político de ficha limpa. Entretanto, estes homens nunca haviam visto a Daniel rendendo culto a qualquer um dos deu ses de Babilônia, nem tomava partes nas cerimônias religiosas pagãs. Certamente haviam observado seu respeito pelo sábado, o quarto man damento da lei do seu Deus (Êxodo 20:8-11); e de como, três vezes ao dia, orava a seu Deus.

Em mútuo conselho, esses príncipes e presidentes traçaram um plano. Pediriam ao rei que assinasse um decreto proibindo qualquer pessoa no reino, que no espaço de trinta dias, fizesse petições a qual quer deus ou a qualquer homem, se não a Dario. E que a violação desse decreto fosse punida com morte na cova dos leões.

“Agora, pois, ó rei, sanciona o interdito e assina a escritura, para que não seja mudada, segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar. Por esta causa, o rei Dario assinou a escritura e o interdito” (Daniel 6:8, 9).

Ignorando o sutil propósito dos príncipes, o rei não percebeu a ani mosidade deles no edito, e cedendo a sua lisonja assinou-o. Ellen G. White declara: “Na conspiração assim formada tinha Satanás desempe nhado importante parte. O profeta havia sido exaltado em mando no reino, e os anjos maus temiam que sua influência pudesse enfraquecerlhes o controle sobre seus governantes. Foram essas forças satânicas que impeliram os príncipes a sentir inveja e ciúmes; foram eles que inspi raram o plano da destruição de Daniel; e os príncipes, rendendo-se aos instrumentos do mal, levaram-nos à execução”.2

Qual foi a reação de Daniel ante ao decreto? Ele tomou a decisão de não permitir sequer a aparência de que sua ligação com o Céu estava interrompida. Em todos os casos onde o rei tivesse o direito de ordenar, Daniel obedeceria; mas nem o rei nem o seu decreto poderiam fazê-lo desviar-se de sua obediência a Deus. Sua postura exprimia o conceito: “Antes importa obedecer a Deus que aos homens” (Atos 5:29).

Daniel, um homem De oração

“Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou

2 WHITE, 1995, p. 236.

em sua casa e, em cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas do lado de Jerusalém, três vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer” (Daniel 6:10). Desde o primeiro capítulo de Daniel percebemos ser ele um homem de oração. No capítulo 1 Daniel orou para que Deus os ajudasse a não contaminar-se com as finas iguarias do rei. No capítulo 2, o mo tivo da oração foi receber sabedoria para interpretar o sonho do rei Nabucodonosor. A oração era um hábito diário e não seria agora que agiria de outra forma.

Essas orações também coincidiam com as horas dos sacrifícios no santuário. Segundo as tradições posteriores, a oração elevada três vezes ao dia devia oferecer-se à terceira, sexta e às nove horas do dia (o que equivale hoje às 9h, 12h e 15h). O salmista seguiu a mesma prática (ver Salmo 55:17). Em tempos posteriores, o orar três vezes ao dia se converteu em costume fixo para todo judeu ortodoxo que vivia segundo os regulamentos rabínicos quanto para os membros da igreja cristã primitiva.3

O plano dos presidentes e sátrapas estava funcionando perfeita mente. “Então, aqueles homens foram juntos, e, tendo achado a Daniel a orar e a suplicar, diante do seu Deus, se apresentaram ao rei, e, a res peito do interdito real, lhe disseram: Não assinaste um interdito que, por espaço de trinta dias, todo homem que fizesse petição a qualquer deus ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, fosse lançado na cova dos leões? Respondeu o rei e disse: Esta palavra é certa, segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar. Então, responderam e disseram ao rei: Esse Daniel, que é dos exilados de Judá, não faz caso de ti, ó rei, nem do interdito que assinaste; antes, três vezes por dia, faz a sua oração” (Daniel 6:11-13).

A maneira com a qual se referiram a Daniel revelava o ódio e me nosprezo que esses eles sentiam. O descreveram meramente como a um estrangeiro, um judeu deportado. Sem dúvida assim esperavam que o rei suspeitasse que sua conduta era um ato de rebelião contra a au toridade real, principalmente sendo ele um estrangeiro em Babilônia.

3 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 894.

Mas Dario logo percebeu a cilada da qual fora envolvido. Havia sido lisonjeado por ocasião do decreto, mas estes homens ocultaram seus verdadeiros propósitos. Compreendeu que não fora o zelo pela honra e glória real, mas a inveja de Daniel, o que os levara a propor o decreto real. Percebeu todo ódio que estes homens nutriam contra Daniel e se esforçou ao máximo para livrá-lo.

Os presidentes e sátrapas, percebendo os esforços do rei a favor de Daniel, voltaram a sua presença e disseram: “Sabe, ó rei, que é lei dos medos e dos persas que nenhum interdito ou decreto que o rei sancio ne se pode mudar” (Daniel 6:15). Dario então percebeu que seus esfor ços seriam em vão. “Então, o rei ordenou que trouxessem a Daniel e o lançassem na cova dos leões. Disse o rei a Daniel: O teu Deus, a quem tu continuamente serves, que ele te livre. Foi trazida uma pedra e pos ta sobre a boca da cova; selou-a o rei com o seu próprio anel e com o dos seus grandes, para que nada se mudasse a respeito de Daniel” (Daniel 6:16, 17).

Dario nutria um profundo respeito por Daniel. Isto pode muito bem ser visto na tristeza e angústia que o envolveu durante toda aquela noite. “Então, o rei se dirigiu para o seu palácio, passou a noite em je jum e não deixou trazer à sua presença instrumentos de música; e fugiu dele o sono” (Daniel 6:18).

fIDElIDADE REc OMPEnSADA

Aquela foi uma longa noite para Dario. Havia passado pela terrível pro va de ver seu servo mais fiel sendo lançado aos leões. Essa espantosa expe riência fez fugir dele o sono. Com inquietação e ansiedade, logo ao raiar do dia, se dirigiu à cova para ver o desfeche da história. “Pela manhã, ao rom per do dia, levantou-se o rei e foi com pressa à cova dos leões. Chegando-se ele à cova, chamou por Daniel com voz triste; disse o rei a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo! Dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continua mente serves, tenha podido livrar-te dos leões?” (Daniel 6:19, 20).

As palavras do rei revelam certo grau de conhecimento do Deus e da religião do Daniel. Isso nos sugere que Daniel o tinha instruído sobre a natureza e o poder do Deus verdadeiro que ele servia. Ansioso esperava alguma manifestação de vida vinda do fundo da cova. “Deus não impediu

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os inimigos de Daniel de lançarem-no na cova dos leões; Ele permitiu que anjos maus e homens ímpios chegassem a realizar o seu propósito; mas isto foi para que pudesse tornar o livramento do Seu servo mais marcante e mais completa a derrota dos inimigos da verdade e da justiça”.4

“Ó rei, vive eternamente!” Estas foram as palavras que soaram com boa música aos ouvidos de Dario. Daniel estava vivo. O Deus de Daniel o pode li vrar mais uma vez. Deus o honrou, pois este era um servo fiel e zeloso. Daniel completou: “O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca aos leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dele; também contra ti, ó rei, não cometi delito algum” (Daniel 6:22).

Foi uma prova de fé para Daniel. O autor de Hebreus menciona que esse livramento se deu devido a fé de Daniel (Hebreus 11:33). Mais uma vez foi provado e Deus recompensou sua fidelidade enviando um anjo para estar com ele.

Com profunda alegria o rei ouviu a voz de Daniel. Logo ordenou que ele fosse tirado do fosso e restabelecido em sua posição. Movido por um senso de justiça e mesmo vingança, também ordenou que fos sem trazidos os acusadores de Daniel e que, da mesma forma, fossem lançados à cova dos leões. Não apenas eles, mas seus filhos e suas mu lheres. O texto sagrado declara que eles “ainda não tinham chegado ao fundo da cova, e já os leões se apoderaram deles, e lhes esmigalharam todos os ossos” (Daniel 6:24). Seres humanos com histórias bem dife rentes, pois serviam a divindades diferentes.

O Deus de Daniel mostrou mais uma vez ser um Deus justo. De fato o nome do profeta já carregava esse sentido (Daniel = Deus é meu juiz). Entretanto, os deuses os quais serviam os presidentes e sátrapas, nada puderam fazer por eles. Essa experiência foi tão marcante, que motivou o rei Dario a baixar um novo decreto: “Faço um decreto pelo qual, em todo o domínio do meu reino, os homens tremam e temam perante o Deus de Daniel, porque ele é o Deus vivo e que permanece para sempre; o seu reino não será destruído, e o seu domínio não terá fim. Ele livra, e salva, e faz sinais e maravilhas no céu e na terra; foi ele quem livrou a Daniel do poder dos leões” (Daniel 6:25-27).

4 WHITE, 1995, p. 237.

cOnclUSãO

Ellen G. White declarou: “O Céu está mais próximo daqueles que sofrem por amor da justiça. Cristo identifica os Seus interesses com os interesses do Seu fiel povo; Ele sofre na pessoa dos Seus santos; e seja o que for que toque em Seus escolhidos, toca nEle. O poder que está perto para libertar do dano físico e da angústia está perto tam bém para salvar do mal maior, tornando possível ao servo de Deus manter sua integridade sob todas as circunstâncias, e triunfar através da graça divina”.5

Este foi o segredo de Daniel: ele confiava na graça divina e na jus tiça de Cristo para o salvar. Por sua fidelidade, Deus o fez prosperar. O capítulo 6 termina com a sentença: “Daniel, pois, prosperou no reinado de Dario e no reinado de Ciro, o persa” (Daniel 6:28). Foram cerca de 70 anos como estadista dedicados aos dois impérios mundiais, Babilônia e a Média-Pérsia. Atuou no período de pelos menos oito reis diferentes. Ellen G. White declara: “Honrado pelos homens com as responsabili dades de Estado e os segredos de reinos que tinham alcance universal, Daniel foi honrado por Deus como Seu embaixador, sendo-lhe dadas muitas revelações dos mistérios dos séculos por vir. Suas maravilho sas profecias, tais como registradas por ele nos capítulos sete a doze do livro que traz o seu nome, não foram inteiramente compreendidas mesmo pelo próprio profeta; mas antes que findassem os labores de sua vida, foi-lhe dada a abençoada certeza de que ‘no fim dos dias’, isto é, na conclusão do período da história deste mundo, ser-lhe-ia permitido outra vez estar na sua posição e lugar”. 6

Daniel não compreendeu tudo que escreveu. Ele recebeu ordem: “Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim; muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará” (Daniel 12:4). Uma vez mais o anjo ordenou ao fiel mensageiro: “Vai, Daniel, porque estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim [...] Tu, porém, segue o teu caminho até ao fim; pois descansarás e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança” (Daniel 12:9, 13).

5 WHITE, 1995, p. 238.

6 Ibidem, p. 239.

105Daniel na Cova dos Leões

Daniel

106 Segredos da Profecia

Nos próximos capítulos iniciaremos uma viagem através da seção profética de Daniel. As verdades ali contidas são para nossos dias e não para os dias de Daniel. Mas ele possuiu uma recompensa que o aguarda. O anjo prometeu que ele se levantaria para receber sua herança. Essa heran ça será ver milhares de pessoas salvas no reino de Deus graças às verdades que ele registrou em seu livro. Que privilégio o nosso vivermos justamente nesse momento da história. Coloque sua vida nas mãos de Deus e busque o conhecimento profético que pode tornar sábio para a salvação, sempre confiados na promessa de Daniel 12:10: “...Mas os sábios entenderão”.

Ao nos aproximarmos do fim da história deste mundo, as profecias registradas por Daniel demandam nossa especial atenção, visto relacionarem-se com o próprio tempo em que estamos vivendo. Com elas devem-se ligar os ensinos do último livro das Escrituras do Novo Testamento. Satanás tem levado muitos a crer que as porções proféticas dos escritos de Daniel e João o revelador não podem ser compreendidas. Mas a promessa é clara de que bênção especial acompanhará o estudo dessas profecias. ‘Os sábios entenderão’ (Daniel 12:10), foi dito com respeito às visões de Daniel que deviam ser abertas nos últimos dias (Profetas e Reis, 547).

QUATRO ANIMAIS ESTRANHOS

(Segunda Visão Profética)

Terminados os capítulos históricos de Daniel (1 a 6), onde se estabe leceu um firme fundamento para confiarmos em Deus, as cenas agora se voltam para o futuro, até os dias do estabelecimento do eterno reino de Cristo (7 a 12). Esses capítulos “são escritos sob o ponto de vista da eter nidade, pois delineiam o futuro do ponto de vista do céu, de tal modo que os acontecimentos-chave na terra são vistos como a repercussão de acon tecimentos-chave no céu”.1 Como o pano de fundo para a compreensão do livro de Daniel está o grande conflito entre o bem e o mal, assim como nos últimos seis capítulos, nos seis primeiros, há uma guerra pela adoração e esta envolve o santuário e a lei de Deus (ver Daniel 1:2, 8; 3:5; 5:2; 6:7).2

De acordo com Daniel 12:4, 9 e 13, as visões proféticas do livro de Daniel seriam compreendidas apenas com a chegada do “tempo do fim”. Há duas profecias em Daniel que ajudam a identificar de forma particular a chegada deste período. São elas: a atuação do chifre peque no por um tempo, dois tempos e metade de um tempo (Daniel 7:25) e

1 SCHWANTES, p. 53.

2 No capítulo 1, o rei de Babilônia profana e saqueia o templo de Deus em Jerusalém, roubando os utensílios sagrados usados no serviço de adoração; no capítulo 3, o rei decidiu construir uma enorme estátua toda de ouro, para que fosse objeto de adoração e desafiou a autoridade do Céu; no capítulo 5, o rei de Babilônia profana mais uma vez os utensílios sagrados do santuário e faz transbordar o cálice da paciência divina; já no capítulo 6, um decreto de morte é assinado e o ponto principal é a questão da adoração.

9

as 2.300 tardes e manhãs para a purificação do santuário (Daniel 8:14). Na sequência de nosso estudo veremos essas profecias em detalhes, mas posso adiantar que elas apontam insofismavelmente para duas datas específicas, 1798 e 1844. Somente a partir desses anos a seção profética selada de Daniel seria aberta e o conteúdo revelado.

Por que estas profecias foram ocultadas até o “tempo do fim”? Já dissemos que as profecias podem ser classificadas como clássicas ou apocalípticas. À profecia clássica, via de regra, falta a perspectiva de tempo. Para os profetas clássicos, como Isaías e Joel, não havia um lon go período de tempo separando de seus dias os eventos que descre viam. Quando Isaías fala do retorno dos judeus de Babilônia, após 70 anos de cativeiro, retrata a restauração de Israel como introduzindo os novos céus e nova Terra (Isaías 65 e 66). Quando Joel fala do derrama mento do Espírito Santo, fala do evento que precede o grande dia do Senhor (Joel 2:28-30). Assim também nos dias do Novo Testamento, Paulo, quando escreveu sua primeira carta aos Tessalonicenses, espera va a vinda de Cristo para seus dias (1 Tessalonicenses 4:13-17).

Por que Deus permitiu essa visão dos profetas? Parece-me que Ele não queria que Seu povo soubesse do longo período que separava seus dias do grande dia do estabelecimento de Seu reino. Isso teria sido doloroso para eles e poderia comprometer o senso de urgência em sua pregação. Imagine um membro da igreja de Esmirna, uma das sete igrejas do Apocalipse (capítulos 2 e 3), cujo período histórico é coberto dos anos 100 a 313, ter em mente que ainda se passariam mais cinco períodos (Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia), até o estabelecimento do reino de Cristo? Qual seria sua postura diante de um evento tão distante?

Por isso Deus, em Sua sabedoria, permitiu a Daniel e João, intro duzirem uma perspectiva de tempo na visão do futuro. Somente ago ra, com a chegada do tempo do fim (1798 e 1844), os acontecimentos críticos da história da redenção poderiam ser percebidos como sepa rados por intervalos de tempos maiores ou menores. Não fosse pelas profecias de Daniel 7, 8 e 9 e Apocalipse 11, 12 e 13, a igreja não saberia onde se encontra no curso da história.3 Mas graças a essas profecias,

Daniel 110 Segredos da Profecia
3 SCHWANTES, p. 54.

podemos identificar os dias que vivemos e perceber que estamos no limiar da eternidade.

Nosso objetivo agora é compreender então os simbolismos proféti cos de Daniel. Partiremos do seguinte princípio: “O melhor interprete da profecia é a própria história secular”. Analisaremos o que os estu diosos da história e da profecia falaram sobre os simbolismos de Daniel e nos surpreenderemos com os mistérios guardados em segredo por milênios e revelados em nossos dias.

A DATA DA VISãO DE DAnIEl 7

“No primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia, teve Daniel um so nho e visões ante seus olhos, quando estava no seu leito; escreveu logo o sonho e relatou a suma de todas as coisas” (Daniel 7:1). O capítulo inicia identificando a data da visão profética de Daniel como sendo o primeiro ano de Belsazar, último rei de Babilônia. Logo, a visão do capítulo 7 ocorre antes da queda de Babilônia (Daniel 5), e antes de Daniel ser lançado aos leões nos dias de Dario, o Medo (Daniel 6). Isso nos leva a concluir que os capítulos de Daniel não estão em sequência cronológica e que o capítulo sete figura, cronologicamente, depois do capítulo quatro e antes do cinco.

Os sonhos e visões deste capítulo foram dados no 1º ano de Belsazar (cerca de 550 a.C.). Se admitirmos que Daniel tinha 18 anos de idade quando foi levado cativo para Babilônia em 605 a.C., ele estaria então com cerca de 73 anos. Como estadista, sem dúvida olhava atentamen te os eventos políticos com grande interesse. Era evidente que os dias áureos de Babilônia haviam passado. Nabucodonosor havia morrido em 562 a.C. Sucedeu-lhe seu filho, Amel-Marduk, que só reinou dois anos. Este foi morto por seu cunhado, Neriglissar, que reinou apenas quatro anos. O filho de Neriglissar, Laboroso-Archod, assume o trono e passados alguns meses, Nabonido (Labineto), um nobre babilônico e genro de Nabucodonosor, se apodera do trono. Visto que este preferiu viver em Tema, na Arábia, ele colocou seu filho, Belsazar, no trono da Babilônia como seu co-regente.4 Logo, a visão ocorre cerca de uma dé cada antes da queda de Babilônia.

4 K EOUGH, G. Arthur. Deus e nosso destino. Lição da Escola Sabatina, 1º Trimestre de 1987, p. 115.
111Quatro Animais Estranhos

O SOnHO c OM QUATRO AnIMAIS

Certamente você já ouviu expressões tais como: feroz como um leão; esperto como uma raposa, fiel como um cachorro, simples como uma pomba, sujo como um porco, etc. Às vezes se usa animais para exemplificar algum traço de personalidade. Já no capítulo 7 de Daniel Deus usou animais como símbolos proféticos para representar nações. Lendo atentamente os versos 2 a 8, podemos resumir a primeira parte desta segunda visão do livro de Daniel (a primeira visão ocorre no ca pítulo 2) da seguinte maneira:

Versos 2 e 3: “Os quatro ventos do céu agitavam o mar Grande. Quatro animais [...] subiam.”

Verso 4: “O primeiro era como leão e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, foi levantado da terra e posto em dois pés, como homem; e lhe foi dada mente de homem.”

Verso 5: O segundo “semelhante a um urso, o qual se levantou so bre um dos seus lados; na boca, entre os dentes, trazia três costelas.”

Verso 6: O terceiro “semelhante a um leopardo, e tinha nas costas quatro asas de ave; tinha também este animal quatro cabeças...”

Verso 7: O quarto “terrível, espantoso e sobremodo forte [...] tinha grandes dentes de ferro [...] era diferente de todos os animais que apa receram antes dele e tinha dez chifres”.

Verso 8: “Estando eu a observar os chifres, eis que entre eles subiu outro pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arran cados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava com insolência.”

Um conceito que irá nos acompanhar nesta seção de Daniel é que a profecia é uma verdade que se amplia. A segunda visão de Daniel (capítulo 7) está em íntimo paralelo com a primeira (capítulo 2). Os mesmos impérios representados pelos metais da estátua do sonho de Nabucodonosor são agora apresentados nas figuras de quatro animais. Se um quadro vale por mil palavras Deus resolveu ilustrar os aconteci mentos futuros com vívidas representações simbólicas. Vejamos então a interpretação dos elementos do capítulo 7.

“Quatro ventos do céu agitavam o mar Grande” (Daniel 7:2). O que simboliza “mar” nas profecias? Vejamos alguns textos bíblicos:

Daniel 112 Segredos da Profecia

Quatro Animais Estranhos

“Porque o Senhor destrói Babilônia, e faz perecer nela a sua grande voz; bramarão as ondas do inimigo como muitas águas; ouvir-se-á o tumulto da sua voz” (Jeremias 51:55).

“Assim diz o Senhor Deus: Eis que Eu estou contra ti, ó Tiro, e fa rei subir contra ti muitas nações, como faz o mar subir as suas ondas” (Ezequiel 26:3).

“As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, mul tidões, nações e línguas” (Apocalipse 17:15).

Em todos os textos se vê claramente a relação entre “ondas” e mul tidões, pessoas. A expressão “mar de gente” não soa estranha para ne nhum de nós. Logo, o “mar” de onde surgem os quatro animais, signi fica “povos, multidões e nações”.

E os “quatro ventos” que agitavam o mar? Os “quatro ventos” assim são descritos como provenientes dos quatro pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste), e representavam, sem dúvida, a atividade política em diversas partes do mundo (conferir com Jeremias 49:36; Daniel 8:8 e 11:4; Zacarias 2:6 e 6:5).

E o que representam os quatro animais? O próprio capítulo 7 es clarece: “Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis que se levantarão da terra” (Daniel 7:17). O verso 23 declara: “O quarto animal será um quarto reino na terra”. Logo, “animal” em profecias significa “reis” ou “reinos”.

Quais são os reinos representados por estes animais? Como já foi dito, existe um íntimo paralelo entre a primeira e a segunda visão de Daniel. Façamos uma correspondência entre eles:

Primeira visão 2 Simbolismo visão Daniel 7

Cabeça de ouro Babilônia

Leão alado Peito e braços de prata Média-Pérsia

Urso com 3 costelas na boca Quadris de bronze Grécia Leopardo com 4 cabeças e 4 asas Pernas de ferro Roma Animal terrível e espantoso 10 dedos dos pés 10 reinos 10 chifres

113
Daniel
Segunda

IDEnTIfIcAnDO OS QUATRO IMPéRIOS nA HISTóRIA

A profecia de Daniel 7 cobre essencialmente o mesmo período his tórico do capítulo 2, ou seja, dos dias do profeta Daniel até os dias do estabelecimento do eterno reino de Cristo, representado no capítulo 2 por uma pedra que foi cortada sem auxílio de mãos e destruiu comple tamente a estátua (Daniel 2:44, 45) e no capítulo 7 pelo estabelecimento do juízo divino, quando a autoridade das nações será dada “ao povo dos santos do Altíssimo” (Daniel 7:26, 27).

Daniel 7:17 declara: “Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis que se levantarão da terra.” A contar dos dias de Daniel, so mente quatro poderes mundiais dominaram a terra, a saber: Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma.

Assim, o capítulo 7 revela mais detalhes do que os que são apre sentados no capítulo 2, pois a profecia é uma verdade que se amplia. Vamos ao estudo dos quatro animais.

UM lEãO Al ADO (bAbIlônIA)

O primeiro animal que surge do mar é um leão alado. Esse leão com asas de águia é um símbolo muito adequado para representar o impé rio de Babilônia. Ele pode ser visto em várias peças de arte da antiga Babilônia. É uma das formas de divindades que frequentemente com batem junto a Marduk, o deus patrono de Babilônia.5 As pessoas que visitam as ruínas de Babilônia podem ainda hoje ver as figuras de leões em baixo-relevo, nos muros e paredes construídos com tijolos.6 Vários autores concordam com a interpretação do leão como representando o império de Babilônia.7

No entanto, o argumento mais forte para essa aplicação provém do pró prio texto bíblico. Vários profetas se referiram ao rei Nabucodonosor por meio de figuras semelhantes às da visão (conferir com: Jeremias 4:7; 50:17, 44; Lamentações de Jeremias 4:19; Ezequiel 17: 3, 12; Habacuque 1:8).

5 Ver mais detalhes em: L ANGDON, S. H. Semitic Mythology (“The Mythology of All Races”, T. 13), p. 116-118, 277-282; F ROOM, L. E. Prophetic Faith of Our Fathers, T. I, p. 50, 52.

6 MAXWELL, 1996, p. 109.

7 F INLEY, Mark. Revelando os mistérios de Daniel, p. 86; MAXWELL, C. Mervyn. Uma nova era segundo as profecias de Daniel, p. 109; N EWTON, Isaac. As profecias de Daniel e Apocalipse, p. 41; S CHWANTES, S. J. Daniel, o profeta do juízo, p. 56.

Daniel 114 Segredos da Profecia

O Comentário Bíblico Adventista assim declara: “O leão como rei dos animais, e a águia, como rainha das aves, representavam adequa damente o Império Babilônico no auge de sua glória. O leão é notável por sua força, enquanto a águia é famosa pelo poder e alcance de seu voo. O poder de Nabucodonosor foi sentido não só em Babilônia, mas do Mediterrâneo até o golfo Pérsico, e da Ásia Menor ao Egito. Assim, é adequado representar o alcance do poder de Babilônia por um leão com asas de águia.8

O profeta viu: “Foram-lhe arrancadas as asas, foi levantado da terra e posto em dois pés, como homem; e lhe foi dada mente de homem” (Daniel 7:4). Babilônia dominou o mundo dos anos 605 a.C. até 539 a.C. Destes 66 anos de domínio mundial, Nabucodonosor reinou em 43 deles. Perto do fim do seu reinado, foi retirado do convívio humano e como diz Flávio Josefo, “viveu sete anos à maneira dos animais”.9 Mello vê nessas palavras uma alusão à conversão de Nabucodonosor10 e para Schwantes, “o arrancar das asas do leão e a perda de seu caráter bestial parecem apontar para a fraqueza militar de Babilônia durante os últi mos vinte anos de sua existência”.11 Após a morte de Nabucodonosor o reino se enfraqueceu e finalmente foi vencido pelo império representa do pelo urso com três costelas na boca.

UM URSO c OM TRêS c OSTEl AS nA b O cA (MéDIA-PéRSIA)

Daniel disse a Belsazar, último rei de Babilônia: “Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas” (Daniel 5:28). Os detalhes da que da de Babilônia já foram descritos no capítulo 7 desta obra. O segundo animal era como um urso e representa o Império Medo-Persa. Os traços de crueldade e fúria do urso são atribuídos aos medos por Isaías (Isaías 13:17). Este segundo animal apresenta duas características interessantes:

a) “Ele se levantou sobre um dos seus lados”. O grande nome da conquista de Babilônia foi Ciro. Isaías havia antecipado seu nome

8 Comentário bíblico adventista, V. 4, p. 903.

9 JOSEFO, p. 255.

10 MELLO, p. 327.

11 SCHWANTES, p. 56.

115Quatro Animais Estranhos

(Isaías 45:1), e até mesmo a estratégia militar que usaria para derrotar Babilônia (Isaías 44:27, 28). Mas quando cai Babilônia é Dario que se assenta no trono. Schwantes afirma que o fato de o urso ter- se levanta do sobre um dos seus lados “parece apontar para o fato de que primeiro os medos, e depois os persas, detiveram a liderança nesta monarquia dupla. É um fato que os medos foram os primeiros a se organizar em um reino unido e a manter a Pérsia em vassalagem. Mas com a vitória de Ciro II em 550 a.C. as mesas se inverteram, e desde então os reis per sas ocuparam o trono dos medos e persas”.12 Isaac Newton interpreta da mesma forma: “Esta besta levantou-se e se pôs ao seu lado, pois esta vam os persas dominados pelos medos quando da queda de Babilônia, mas depois levantaram-se e os dominaram”.13

b) “Entre os dentes, trazia três costelas”. Estas três costelas são in terpretadas por Newton como sendo os reinos de Sardes, Babilônia e Egito,14 reinos estes que foram vencidos para que a Média-Pérsia estabe lecesse sua hegemonia mundial. Heródoto menciona uma coalisão feita contra as forças de Ciro, sendo ela Cresso, rei da Lídia (Sardes), Amasis, faraó do Egito e Labineto (o mesmo Nabonido, pai de Belsazar), rei da Babilônia.15 Ciro venceu a Lídia no ano 547 a.C., a Babilônia em 539 a.C, e o Egito caiu nas mãos de seu filho, Cambises, em 526 a.C. Assim, a Média-Pérsia inicia seu domínio mundial no ano 539 a.C., quando derrota Babilônia e domina até 331 a.C. Nesse ano perderia seu poder para o império representado pelo leopardo.

UM lEOPARDO c OM QUATRO cAbEçAS E QUATRO ASAS (GRécIA)

Quem é representado pelo leopardo na profecia de Daniel 7? Olhando com os olhos da história só podemos interpretar o leopardo como sendo a Grécia, reino que finalmente põe fim ao domínio medopersa. Isaac Newton declara: “A terceira besta é o reino que sucedeu

12 SCHWANTES, p. 56.

13 NEWTON, p. 42.

14 Ibidem

15 HERÓDOTO. História, v. 2, p. 40.

117Quatro Animais Estranhos aos persas, isto é, o império dos gregos”.16 O próprio livro do profeta Daniel confirma esta informação. No capítulo 8 se vê a figura de dois animais, um carneiro e um bode peludo. O anjo explica para Daniel que o carneiro era um símbolo dos reinos da Média e da Pérsia, e estes seriam vencidos pelo bode peludo, identificado pelo anjo como sendo a Grécia (Daniel 8:20, 21).

O leopardo é um animal feroz e carnívoro, notável por sua veloci dade e agilidade de seus movimentos (ver Habacuque 1: 8). Daniel 7:6 diz que o leopardo “tinha nas costas quatro asas de ave; tinha também este animal quatro cabeças”. Historicamente as quatro asas têm sido in terpretadas como representando a velocidade com que Alexandre, o grande, venceu os exércitos inimigos. Partindo do nada, no curto pra zo de 12 anos dominou o mundo. Com a morte de seu pai, Felipe da Macedônia, em 336 a.C., Alexandre, com apenas 20 anos de idade, con seguiu unificar os estados gregos e lançá-los contra a Pérsia. Travando as batalhas de Grânico (334 a.C.), Isso (333 a.C.) e Arbela (Gaugamela) em 331 a.C., tornou-se senhor do mundo.17 Enquanto residia em Babilônia, morreu no ano 323 a.C. aos 33 anos de idade.18

E quanto às quatro cabeças do leopardo? Após a morte de Alexandre, a questão a ser decidida era se o império devia permanecer unido sob Antígono e seu filho Demétrio, ou dividido entre os gene rais. Finalmente, na batalha de Ipso, em 301 a.C., a questão foi decidida quando Antígono perdeu a vida e o Império Greco-Macedônico foi di vidido. Essa divisão se deu exatamente em quatro partes como estava indicada na profecia pelas quatro cabeças do leopardo. Segundo Isaac Newton assim ficaram distribuídos os territórios:

Cassandro: reinou sobre a Macedônia, a Grécia e o Épiro.

Lisímaco: ficou com a Trácia e a Bitínia.

Ptolomeu: reinou sobre o Egito, Líbia, Arábia, Celo-Síria e a Palestina.

Seleuco: reinou sobre a Síria.19

16 N EWTON, p. 42.

17 CASTRO, p. 119

18 SCHWANTES, p. 57.

19 NEWTON, p. 42.

UM AnIMAl TERRíVEl E ESPAnTOSO (ROMA)

A profecia fala então de um quarto poder, representado por um animal sem paralelo na zoologia. Daniel escreveu: “Depois disto, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha dez chifres. Estando eu a obser var os chifres, eis que entre eles subiu outro pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava com insolência” (Daniel 7:7, 8).

A expressão “o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava” está em paralelo com o capí tulo 2 de Daniel. Falando do quarto poder, é mencionado: “O quarto reino será forte como ferro; pois o ferro a tudo quebra e esmiúça; como o ferro quebra todas as coisas, assim ele fará em pedaços e esmiuçará” (Daniel 2:40).

A história ensina claramente que o poder mundial que se seguiu à Grécia foi Roma. Entretanto, a transição foi gradual, de maneira que não é fácil assinalar um acontecimento específico que indique o mo mento da mudança. Os escritores não estão de acordo quanto à data que assinala a hegemonia do Império Romano, entretanto, alguns pro curam afirmar que uma boa data seria o ano 168 a.C., quando na bata lha de Pidmá, os romanos, sob o comando de Lúcio Emílio, conquistam a Macedônia vencendo os exércitos de Perseu.20

A expressão “dentes de ferro” refere-se à crueldade com que Roma tratava seus inimigos. Em suas conquistas, às vezes destruía cidades inteiras, como no caso de Corinto em 146 a.C.; de outras vezes, reinos, tais como a Macedônia e os domínios selêucidas, eram divididos e con vertidos em províncias.21

DEz cHIfRES

A profecia também fala de dez chifres que esse animal possuía: “Era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha

20 MELLO, p. 373.

21 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 907.

Daniel 118 Segredos da Profecia

119

Quatro Animais Estranhos dez chifres” (Daniel 7:7). O próprio texto explica que estes dez chifres são dez reinos (Daniel 7:24). Se os “quatro reis” de Daniel 7:17 repre sentam quatro reinos (Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma), en tão os dez chifres também podem ser interpretados como dez “reis” ou “reinos” e são os mesmos reinos do capítulo 2 de Daniel.

Já vimos que o férreo império de Roma manteve seu poder até o ano 476 d.C., quando finalmente foi dividido, perdendo seu poder para dez tribos bárbaras que minaram sua autoridade. Estes dez chifres cor respondem então às dez tribos bárbaras que se estabeleceram no terri tório de Roma entre os anos de 351 a 476 d.C.

O cHIfRE PEQUEnO E SUA IDEnTIfIcAçãO

Mas Daniel continuou: “Estando eu a observar os chifres, eis que en tre eles subiu outro pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava com insolência” (Daniel 7:8). O que representam esses símbolos? Por certo o mesmo desejo de aprender que você sente agora foi vivido por Daniel. Nos versos 15 e 16 do capítulo 7 é-nos dito que Daniel ficou “alarmado” e “perturbado” com as revelações e se apro ximou de um ser que estava perto dele e quis saber os mistérios da visão. Esse ser informou a Daniel parte do que vimos até aqui. Disse que os quatro animais representavam quatro reis ou reinos, que dominariam na terra por um período de tempo, mas finalmente o reino seria dado aos “santos do Altíssimo”, e os santos o possuiriam por toda a eternidade. Mas Daniel estava curioso para saber mais. Ele disse: “Então tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era di ferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro, cujas unhas eram de bronze, que devorava, fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobejava; e também a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça e do outro que subiu, diante do qual caíram três, daquele chifre que tinha olhos e uma boca que falava com insolência e parecia mais robusto do que os seus companheiros. Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra contra os santos e prevalecia contra eles, até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino” (Daniel 7:19-22).

Já vimos que este quarto poder representa Roma, e que os dez chi fres representam as dez tribos bárbaras. Mas o que representa esse chifre pequeno na profecia bíblica? Sobre esse assunto Isaac Newton escreveu:

“Os reis representam reinos, como já foi dito. Portanto, o pequeno chifre é um pequeno reino. Era um chifre da quarta besta e arrancou os três dos primitivos. Por isso devemos procurá-lo entre as nações do Império Latino, depois do aparecimento dos dez chifres. Mas era um reino com um rei diferente dos outros, tendo uma vida ou alma que lhe era peculiar, com olhos e boca. Por seus olhos era um vidente e por sua boca falando insolências e mudando os tempos e as leis, era ao mesmo tempo um profeta e rei. Tal vidente, profeta e rei é a igreja de Roma. Um vidente, Episkopos, é um bispo, no sentido literal do vocábulo; e essa igreja reivindica o bispado universal. Com a boca dá leis aos reis e na ções; assim como um Oráculo; arroga-se a infalibilidade e pretende que seus decretos obriguem o mundo inteiro; o que quer dizer que é um pro feta no mais alto grau.”22

Estaria Newton correto em sua interpretação? Seria o chifre pequeno o papado?

Daniel vislumbrou algumas características do chifre pequeno e o anjo lhe deu informações adicionais. Vejamos a seguir dez caracterís ticas apresentadas no texto bíblico e procuremos identificar esse poder na história:

1. O chifre pequeno surgiria entre os dez chifres do quarto animal (verso 8) e depois deles (verso 24).

2. O chifre pequeno arrancaria três chifres para se firmar (versos 8, 20 e 24).

3. O chifre pequeno possuía “olhos como de homem” e uma “boca que falava com insolência” (versos 8 e 20).

4. Parecia mais robusto que seus companheiros (verso 20).

5. Faria guerra contra os santos e prevaleceria contra eles (verso 21).

6. Proferiria palavras contra o Altíssimo (verso 25).

7. Magoaria os santos do Altíssimo (verso 25).

8. Cuidaria em mudar os tempos e a lei (verso 25).

Daniel 120 Segredos da Profecia
22 NEWTON, p. 80, 81.

9. Os santos lhes seriam entregues nas mãos por um tempo, dois tempos e metade de um tempo (verso 25).

10. Seu domínio seria tirado por um tribunal e ele seria destruído (verso 26).

Passaremos agora a analisar algumas dessas características:

1. O chifre pequeno surgiria entre os dez chifres do quarto animal (verso 8) e depois deles (verso 24); logo, seria um poder que se levan taria do Império Romano.

Segundo o que o profeta viu na visão, o chifre pequeno não se mani festou no primeiro, segundo, ou terceiro animal, mas no quarto (Daniel 7:7,8). Identificamos o primeiro animal, o leão, como representando o império de Babilônia; O urso representando a Média-Pérsia e o le opardo a Grécia. O quarto animal, descrito como terrível e espantoso, está em paralelo com o quarto metal da estátua do capítulo 2 de Daniel, o ferro, e representa Roma. Maxwell informa: “Após a morte de Alexandre, os seus domínios foram divididos em vários reinos grecohelenísticos. Enquanto isso, Roma se desenvolvia no ocidente, e a seu devido tempo começou a influenciar os reinos helenísticos. Por volta de 168 a.C., Roma dominava a região do Mediterrâneo, assumindo a posição de quarto império da estátua profética”.23

Dos anos 351 até 476 d.C., o Império Romano foi minado pelas dez tri bos bárbaras, representadas na profecia da estátua pelos dedos dos pés e no capítulo 7 pelos dez chifres do quarto animal. O chifre pequeno, identifica do aqui como o papado, surge entre os dez chifres, no sentido de já existir num estado embrionário desde os dias de Paulo (2 Tessalonicenses 2:7) e depois deles, pois só se estabeleceria depois de destruir três dos chifres, o que só ocorreu no 6º século, como veremos mais adiante.

Mas como o papado já operava nos dias de Paulo? A história ensina que o desenvolvimento da grande apostasia que culminou finalmente com o papado foi um processo lento e gradual que abrangeu vários séculos. Paulo escreveu: “E que, dentre vós mesmos, se levantarão

121Quatro Animais Estranhos
23 MAXWELL, 1996, p. 37.

homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (Atos 20:30). Essas palavras advertiam sobre uma apostasia du rante a qual se revelaria o “homem do pecado” e o “filho da perdição” (ver 2 Tessalonicenses 2:3-4). Esse poder já atuava nos dias de Paulo, mas de forma limitada (conferir com o verso 7).

Antes do fim do primeiro século, João também havia advertido: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (1 João 4:1). E acrescentou: “E todo espírito que não con fessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo” (1 João 4:3). Essas predições advertiam da presença de forças sinistras que já operavam na igreja, forças que prenunciavam uma heresia e apostasia de proporções ainda maiores.

Durante os tempos apostólicos cada congregação local escolhia seus dirigentes e dirigia-se por si mesma (Atos 6:3). O Espírito Santo distri buía dons (1 Coríntios 12:11) e a igreja, o corpo espiritual de Cristo, era edificada (1 Coríntios 14:12). Entretanto, com o passar do tempo e o esfriamento do amor genuíno, o “primeiro amor” (Apocalipse 2:4), a igreja apostólica foi perdendo sua pureza e simplicidade. O poder pes soal começou a determinar a eleição de seus dirigentes que primeiro assumiram maior autoridade dentro da igreja local e depois tentaram estender sua autoridade sobre as outras igrejas.

A administração local da igreja sob a direção do Espírito Santo fi nalmente deu lugar ao autoritarismo eclesiástico de um único magistra do, o bispo, a quem cada membro de igreja estava pessoalmente sujeito, e unicamente por cujo intermédio o crente tinha acesso à salvação.24 Em cada cidade os bispos iam sendo nomeados. Aos poucos, a auto ridade do bispo da cidade de Roma foi tendo proeminência sobre os bispos de outras cidades. Isso se deveu a vários fatores. O Comentário Bíblico Adventista apresenta alguns:

a) Como capital do império e metrópole do mundo civilizado, Roma era o lugar natural para a sede de uma igreja mundial.

24 Comentário bíblico adventista. v. 4, p. 919, 920.

Daniel 122 Segredos da Profecia

123Animais Estranhos

b) A igreja de Roma era a única no Ocidente que pretendia ter sua origem apostólica, um fato que, naqueles dias, fazia parecer como na tural que o bispo de Roma tivesse prioridade sobre os outros bispos. Roma ocupava uma posição muito honorável até antes do ano 100 d.C.

c) O traslado da capital política de Roma para Constantinopla reali zado por Constantino (330 d.C.) deixou o bispo de Roma relativamente livre da tutela imperial, e desde esse tempo o imperador quase sempre apoiou as pretensões do bispo de Roma contra as dos outros bispos.

d) Em parte, o imperador Justiniano apoiou fortemente o bispo de Roma e fez avançar seus interesses por meio de um edito imperial que reconhecia sua supremacia sobre as Igrejas do Oriente e do Ocidente. Esse edito não pôde se tornar plenamente efetivo até o declínio do do mínio ostrogodo sobre Roma em 538.

Aliado a esses fatores, soma-se a conversão do imperador Constantino, que vinculou a igreja ao estado e fez dela um instrumento da política do Estado. Sua reorganização do sistema administrativo do Império Romano chegou a ser o modelo da administração eclesiástica da igreja romana e assim da hierarquia católica romana.25

Assim, o papado se desenvolveu dentro do próprio Império Romano desde os dias de Paulo e se estabeleceu finalmente a partir do ano 533, com a promulgação do edito de Justiniano,26 e em 538, quan do é expulsa a última tribo bárbara que não se submetia à autoridade papal. Por isso a explicação do anjo a respeito do chifre pequeno surgir “entre” e “depois” dos dez chifres.

Eckhardt acrescenta: “Sob a potestade do Império Romano os papas não tinham poder temporário. Mas quando o Império Romano se de sintegrou e seu lugar foi ocupado por vários reinos rudes e bárbaros, a Igreja Católica Romana não só conseguiu sua independência do Estado no aspecto religioso, mas dominou também no secular. Às vezes, sob go vernantes tais como Carlos Magno (768-814), Oton, o Grande (936-973) e Enrique III (1039-1056). O poder civil teve certo predomínio sobre a

25 Comentário bíblico adventista. v. 4, p. 920.

26 Esse decreto declarava ser o papa “a cabeça de todas as Santas igrejas”.

Quatro

igreja; mas em geral, durante o débil sistema político do feudalismo, a igreja, bem organizada, unificada e centralizada, com o papa à sua ca beça, não só era independente nos assuntos eclesiásticos, mas também controlava os assuntos civis”.27

2. O chifre pequeno arranca três chifres para se estabelecer (ver sos 8, 20 e 24).

A profecia previu que o chifre pequeno chegaria ao pleno domínio com a derrubada de três dos dez primeiros chifres. Entre os principais obstáculos para o surgimento de Roma Papal, como poder político, es tavam os hérulos, vândalos e ostrogodos. Os três apoiavam o arianis mo, que foi o maior rival do catolicismo na época.28

Os hérulos foram os primeiros a governar Roma. Eles depuseram, em 476 d.C., o jovem Rômulo Augusto, último imperador do Ocidente. À frente deles estava Odoacro, que se declarou rei de Roma. Teodorico, líder dos ostrogodos, foi o seguinte a invadir a Itália. Ele chegou ali em 489, e em 493 assegurou a rendição de Odoacro para, logo depois, o matar.29 Assim diz o registro histórico sobre os Hérulos: “Depois da primeira me tade do sexto século, no entanto, seu nome desapareceu completamente”.30

Nesse mesmo tempo, os vândalos, liderados por Genserico, tinham-se estabelecido no norte da África e tomado Cartago, em 493 d.C. Eles eram intolerantes com os católicos, os quais chamavam de hereges. Em defesa dos católicos surge o imperador Justiniano, que governava a metade Oriental do Império Romano em Constantinopla. Ele enviou Belisário, o mais hábil de seus generais, que destruiu os vândalos por completo em 534.31 Restavam agora apenas os ostrogodos no caminho do papado. Belisário veio contra eles na Itália e a guerra durou cerca de 20 anos.

27 ECKHARDT, Carl Conrad. The Papacy and World Affairs, as Reflected in the Secularization of Politics. Chicago: The University of Chicago Press, 1937, p. 1.

28 Arianismo é uma heresia que teve origem com Ário, um sacerdote de Alexandria que cria que os evan gelhos apresentam o filho em subordinação ao Pai, como o primeiro ser criado. A essa subordinação deu ele um sentido absoluto, o que destruía a igualdade das pessoas da Trindade. Daí passou a negar a divindade do filho e a considerá-Lo uma criatura de Deus. O concílio de Niceia, conclamado por Constantino em 325, combate essa heresia e condena Ário como um herege, e seus ensinamentos como heresias. (Ver Mello, p. 748; Feyerabend, p. 122, 123).

29 Ver Thomas Hodgkin, Italy and Her Invaders, v. 3, 180-213, apud Comentário bíblico adventista, v. 4, 910.

30 Encyclopaedia Brittanica, artigo “Sunday”, vol. 21, Chicago: William Benton, 1972.

31 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 910.

Finalmente, depois de severas batalhas, os ostrogodos foram expulsos de Roma em 538 d.C., e o papado ficou livre para expandir seu domínio.

Em 538, o mesmo ano em que ocorre a expulsão dos ostrogodos, Virgílio, bispo de Roma se torna o primeiro papa com jurisdição tempo ral e aí se inicia o período de completo domínio papal, que, segundo o próprio Daniel, se estenderia por 1.260 anos como veremos mais à frente.

3. O chifre pequeno possuía “olhos como de homem” e uma “boca que falava com insolência” e “proferiria palavras contra o Altíssimo” (versos 8, 20 e 25).

O chifre pequeno possuía “olhos como de homem”. Os olhos, sem dúvida, denotam inteligência e sagacidade.32 O texto também informa que o chifre pequeno seria um poder blasfemo. Estas palavras insolen tes seriam proferidas “contra o Altíssimo” (verso 25). Como o papado cumpre essa especificação da profecia? O que é blasfêmia à luz da Bíblia?

De acordo com Mateus 26:64, 65 e João 10:33, blasfêmia é pretender ser igual a Deus. Os títulos que Roma pagã e papal tem-se atribuído ao lon go da história são como uma espécie de intermediário entre o céu e a terra, como se fosse representante de Deus e de Cristo. Vejamos alguns exemplos:

O papa Leão XIII escreveu: “O supremo ensinador da igreja é o pontífice romano. A união das mentes, portanto, requer [...] completa submissão e obediência à vontade da igreja e ao pontífice romano, como se fosse ao próprio Deus”.33 Ele ainda declarou: “Nós [ou seja, ele próprio e os outros papas] ocupamos na terra o lugar do Deus Altíssimo”.34 No Dicionário Eclesiástico Católico lemos: “O papa é de tão grande dignidade e exaltado que ele é, não um mero homem, mas como se fosse Deus e substituto de Deus [...] O papa é de tão grande autoridade e poder que ele pode modificar, explicar e interpretar as leis divinas, [...] O que quer que seja que Deus ou o Redentor faça, o vigário pode fazer sem nada contrariar a fé”.35

32 SCHWANTES, p. 59.

33 Disponível em: <http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-xiii_ enc_10011890_sapientiae-christianae_en.html> Acessado em 21 novembro 2013

34 Encíclica Papal “A Reunião da Cristandade”, datada de 20 de junho de 1894, apud MAXWELL, 1996, p. 131.

35 FERRARI, P. F. Lucius. Prompta Bibliotheca (Handy Library), v. 5 (Paris: J. P. Migne, 1858). Disponível em: <http://biblelight.net/1825r.gif> e <http://biblelight.net/1829r.gif>

125Quatro Animais Estranhos

Outra blasfêmia mencionada na Bíblia é a pretensão de perdoar pe cados (Marcos 2:7). De acordo com os dogmas católicos para que o per dão de Deus seja alcançado, o pecador deve se confessar a um sacerdote e receber dele absolvição. Vejas as declarações a seguir: “Na confissão, o sacerdote tem o poder de confessar todos os crimes cometidos depois do batismo”. E mais: “Quando um criminoso confessa seus pecados ao sacerdote, todos os crimes não são somente perdoados, mas destruídos e o criminoso se torna uma nova pessoa, um santo”.36

O Catecismo Romano, falando sobre a necessidade de confissão de pecados, assim ensina: “A declaração dos pecados ao sacerdote cons titui uma parte essencial do sacramento da penitência. Os penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados mortais de que te nham consciência depois de examinar-se seriamente, mesmo que esses pecados sejam muito secretos e tenham sido cometidos somente contra os dois últimos preceitos do decálogo [...]”37 Em seguida declara: “Como Cristo confiou a Seus apóstolos o ministério da reconciliação, os bispos, Seus sucessores, e os presbíteros, colaboradores dos bispos, continuam a exercer esse ministério. De fato, são os bispos e os presbí teros que têm, em virtude do sacramento da Ordem, o poder de perdo ar todos os pecados “em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo”.38 Contrariando todas essas afirmações, a Bíblia declara que só Deus pode perdoar pecados (ver 1 João 1:9; Hebreus 4:13-16, 8:1,2; 1 Timóteo 2:5; 1 João 2:1).

4. cuidará em mudar os tempos e a lei (verso 25).

O que a profecia quer dizer com “mudar os tempos?” A expressão aramaica aqui é ZIMNIN, termo que denota tempo fixo (ver Daniel 3:7, 8; 4:36; 6:10, 13), ou um período de tempo (ver Daniel 2:16 e 7:12). Todavia as prerrogativas de mudar os tempos pertencem somente a Deus, pois só ele tem o destino das nações sob Seu controle. O exa to período de tempo que Nabucodonosor, Dario, Ciro, Alexandre, etc,

36 Cânon Católico – Concílio de Trento, p. 870, 440, apud OLIVEIRA, Orlando Jerônimo. A Igreja Católica na profecia. Rio de Janeiro: Editora Ados, 2001, p. 174.

37 Catecismo da Igreja Católica. Edição Típica Vaticana. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2000, p. 401.

38 Ibidem, p. 403. Para mais detalhes sobre a pretensão da igreja Romana em perdoar pecados, ver OLIVEIRA, 2001, p. 173-181.

Daniel 126 Segredos da Profecia

deveriam governar foi determinado por Deus. Daniel 2:21 declara que é Ele quem “remove reis e estabelece reis”.

Isso quer dizer que “o esforço do chifre pequeno para mudar os “tempos” indicaria uma tentativa deliberada de exercer a prerrogativa de Deus de dirigir o curso da história humana”.39

Assim como é Deus quem muda os tempos (Daniel 2:21), somente Ele pode alterar Sua lei, se ela, de fato, pudesse ser alterada. Mas por ser um transcrito de Seu caráter, a lei, a exemplo dEle, não muda (ver Malaquias 3:6; Tiago 1:17). É por isso que Jesus afirmou: “É mais fácil passar o céu e a terra, do que cair um til sequer da lei” (Lucas 16:17).

No entanto, a profecia de Daniel falava de um ataque contra a lei de Deus. O chifre pequeno cuidaria em mudar não apenas “os tempos”, mas também a “lei”. Como isso ocorreu na história?

Vamos destacar agora três mudanças efetuadas na lei dos Dez Mandamentos pelo papado. A primeira delas foi a exclusão do segundo mandamento. Em dois locais na Bíblia podemos ler os dez mandamentos de forma unida (Êxodo 20:3-17; Deuteronômio 5:7-21). O segundo man damento diz claramente: “Não farás para ti imagem de escultura [...] não as adorarás [...] nem lhes darás culto” (Êxodo 20:4, 5; Deuteronômio 5:8, 9).

Na segunda seção do Catecismo, vemos a transcrição dos dez man damentos, como aparece em Êxodo e Deuteronômio, mas na fórmula catequética, a proibição de adorar imagens de escultura simplesmente não aparece. Esse segundo mandamento foi extraído completamente do Catecismo Romano. Tentando explicar o uso de imagens como objetos de adoração, o Catecismo diz: “Foi fundamentando-se no mistério do Verbo encarnado que o sétimo Concílio ecumênico, em Niceia (787), justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: os de Cristo, mas também os da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Ao Se en carnar, o Filho de Deus inaugurou uma nova “economia” das imagens [...] O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro manda mento, que proíbe os ídolos. De fato, “a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original”.40

39 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 915.

40 Catecismo, p. 560, 561.

127Quatro Animais Estranhos

Você percebe a verdadeira confusão que é feita? Primeiro o Catecismo cita vários textos da Bíblia condenando a adoração de imagens, depois, sem qualquer base bíblica, afirma que Jesus, após Sua encarnação, inau gurou uma nova “economia” onde as orientações anteriormente dadas podem ser contrariadas. Nessa ideia se insere a veneração a Maria, aos anjos e aos santos. Não queremos nos deter muito nessa questão, mas basta lermos alguns textos para percebermos que, mesmo após a morte, ressurreição e ascensão de Jesus, nem Pedro nem os anjos aceitaram ser adorados, mas dirigiram essa adoração para Deus (ver Atos 10:25, 26; Apocalipse 22:8, 9). Jesus foi claro nessa questão de adoração: “Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a Ele darás culto” (Mateus 4:10).

Com a exclusão do segundo mandamento, que proíbe adorar ima gens foi necessário uma manobra, para que a lei não ficasse apenas com nove mandamentos. Então, se dividiu o décimo mandamento da lei em dois. Assim lemos no Catecismo Romano:

9º Mandamento: “Não desejar a mulher do próximo”.

10º Mandamento: “Não cobiçar as coisas alheias”.41

MUDAnçA DO QUARTO MAnDAMEnTO

Outra mudança arbitrária feita pelo papado envolve o quarto man damento da lei de Deus. Gênesis informa que Deus criou o mundo em seis dias e, como memorial de Sua criação, descansou no sétimo (Gênesis 2:1-3). O primeiro anjo de Apocalipse, que traz o evangelho eterno para apresentar ao mundo, declara: “Adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar e as fontes das águas” (Apocalipse 14:7). Somente Deus é digno de ser adorado e para isso abençoou um dia em especial, o sétimo.

O sábado é um memorial da criação, um dia separado por Deus para que Suas criaturas O adorem (Isaías 66:22, 23). É também um sinal da relação de Deus com Seus filhos (Ezequiel 20:12, 20). O próprio Cristo santificava esse dia (Lucas 4:16, 31), e Ele mesmo deixou claro que Sua lei não poderia ser mudada (Mateus 5:17, 18). Após Sua morte os discípulos continuaram a santificar o sábado (Lucas 23:54-56; Atos 16:13; 17:2; 18:4).

Daniel 128 Segredos da Profecia
41 Ibidem, p. 540.

A mudança do quarto mandamento operada pelo papado foi um processo lento e gradual na história. A igreja romana admite aberta mente a responsabilidade de introduzir a adoração no domingo em lugar do sábado, afirmando que tem o direito de fazer tais mudanças. Como evidência desse fato podemos mencionar uma tese doutoral que recebeu o imprimatur do Vaticano. O Dr. Samuele Bacchiocchi, falecido em 2008, foi o primeiro não católico a se formar na Pontifical Gregorian University, em Roma, tendo recebido uma medalha de ouro do papa Paulo VI por conquistar a distinção acadêmica summa cum laude por sua tese: From Sabbath to Sunday: A Historical Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity (Do sábado para o domingo: Uma investigação histórica do surgimento da observância do domingo no cristianismo primitivo). Bacchiocchi pesquisou durante cinco anos e mostrou que não há evidência bíblica para mudança ou eliminação do sábado como dia de guarda. Ele ainda apontou três fatores principais para essa mudança histórica: (a) o sentimento anti-judaísmo já vivenciado no segundo século da Era Cristã, (b) o culto pagão ao Sol realizado no primeiro dia da semana e (c) o papel preponderante da Igreja Católica.42

Nesse processo histórico um imperador romano vai desempenhar papel fundamental. Estamos falando de Constantino.43 Após sua aceita ção do cristianismo, ainda que nominal, promulgou o primeiro decreto dominical da história. Veja o texto a seguir:

“Devem os magistrados e as pessoas residentes nas cidades repou sar, e todas as oficinas ser fechadas no venerável dia do sol. Aos que residem no campo, porém, permita-se o entregarem-se livremente aos misteres da sua lavoura, porque é muito frequente não haver dia mais apropriado para se proceder à semeadura de cereais e ao plantio de vinhas; tememos que, pela negligência do momento apropriado para tais operações, as bênçãos celestiais sejam perdidas.”44

42 BACCHIOCCHI, Samuele. From Sabbath to Sunday: A Historical Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity. Rome: The Pontifical Gregorian University Press, 1977, p. 165-269. Esta tese doutoral foi publicada pela gráfica da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

43 Constantino (288-337 d.C.) foi o primeiro imperador a tornar-se cristão e a religião cristã tornou-se oficial em seu governo.

44 Promulgado em 07 de março de 321. Codex Justinianus, livro 3, Tit. 12,13; Traduzido por Philip Schaff, em History of the Christian Church, v. 3, 1902, p. 380.

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A legislação iniciada por Constantino é assim comentada por duas enciclopédias:

“O mais antigo reconhecimento da observância do domingo como uma legislação legal é a constituição de Constantino, de 321 d.C., de cretando que todas as cortes de justiça, habitantes de cidades e oficinas, repousem no dia do sol (venerabili die solis), exceção feita apenas àque les que estivessem ocupados em trabalho de agricultura”.45

“Inquestionavelmente, a primeira lei, seja eclesiástica ou civil, pela qual a observância sabática é conhecida como havendo sido ordenada, é o edito de Constantino, de 321 d.C.”46

Mas essa legislação não tinha muita relação com o cristianismo. Porém, mais tarde, a própria igreja romana arrolaria em seu credo a confissão do domingo como o dia a ser observado pelos cristãos. O concílio de Laodiceia, em 364 decidiu:

“Os cristãos não devem judaizar e estar ociosos no sábado, mas devem trabalhar nesse dia; porém, o dia do Senhor devem honrar es pecialmente, e, sendo cristãos, não deverão, se possível, fazer nenhum trabalho nesse dia. Se, contudo, forem achados judaizando, serão sepa rados de Cristo”.47

O Código de Direito Canônico, promulgado em 1917, conhecido como código pio-beneditino, passou a formar um corpo único e autêntico para toda a Igreja Católica de rito latino. Ele assim orienta: “No domingo e nos outros dias festivos de preceito os fiéis têm obrigação de participar na Missa; abstenham-se ainda daqueles trabalhos e negócios que impe çam o culto a prestar a Deus, a alegria própria do dia do Senhor, ou o devido repouso do espírito e do corpo”.48

Para se manter diante de todos os católicos a devoção que se deve ter para com o domingo e principalmente para provocar um reaviva mento na guarda do domingo, o papa João Paulo II publicou em 31 de maio de 1998 uma carta apostólica chamada Dies Domini (Dia do Senhor). Ele escreveu:

45 Encyclopaedia Brittanica, artigo “Sunday”, v. 21.

46 Chamber’s Encyclopaedia, v. VIII, art. “Sabbath”. Philadelphia: J. B. Lippincott & CO, 1870.

47 Disponível em: <http://www.newadvent.org/fathers/3806.htm>. Acessado em: 28 julho 2013.

48 Código do Direito Canônico. Cânon 1247. Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/cod -iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf>

Daniel 130 Segredos da Profecia

Quatro Animais Estranhos

“Os cristãos [...] assumiram como festivo o primeiro dia depois do sábado, porque nele se deu a ressurreição do Senhor [...] Aquilo que Deus realizou na criação e o que fez pelo Seu povo no Êxodo, encon trou na morte e ressurreição de Cristo o seu cumprimento, embora este tenha a sua expressão definitiva apenas na parusia, com a vinda glorio sa de Cristo. Nele se realiza plenamente o sentido “espiritual” do sábado [...] Do “sábado” passa-se ao “primeiro dia depois do sábado”, do sétimo dia passa-se ao primeiro dia: o dies Domini torna-se o dies Christi!”.49

Assim percebemos ao longo de milênios como o chifre pequeno atuou para mudar a santa lei de Deus. Hoje a santidade do domingo é a crença mais popular compartilhada por católicos e protestantes, ambas considerando o domingo como “dia do Senhor” em homenagem à res surreição de Cristo, mesmo não havendo um único texto na Bíblia que aprove tal conceito.50

5. fará guerra contra os santos, magoará os santos do Altíssimo e os santos lhes serão entregues nas mãos por um tempo, dois tempos e metade de um tempo (versos 21 e 25).

O poder representado pelo chifre pequeno também investiria con tra os fiéis de Deus, chamados “santos do Altíssimo” na profecia (versos 22 e 25). Essa perseguição aos santos foi uma continuidade das cruel dades e injustiças que sempre infligiram ao povo de Deus. Os apóstolos morreram como mártires,51 os cristãos dos três primeiros séculos, até o Edito de tolerância de Milão, assinado pelo imperador Constantino em 313 d.C., também sofreram cruéis perseguições.52

Os séculos da Idade Média ou Idade Escura testemunhariam enormes perseguições e o povo de Deus teve que se ocultar nas montanhas, cavernas e ermos da terra. No ano de 1232 foi instituída pelo papa Gregório IX a as sim chamada “Santa Inquisição”, que vigorou até 1859, quando o papado

49 Papa João Paulo II, Carta apostólica Dies Domini. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 20, 21.

50 Para um estudo detalhado sobre a santidade do sábado na Bíblia, ver Alberto R. Timm, O sábado na Bíblia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011.

51 John Foxe relata em sua obra que Tomé foi morto na Índia por uma flechada; Marcos morreu numa fogueira no Egito; André foi crucificado por Egéias; Mateus foi traspassado por uma lança; Felipe foi cruci ficado e apedrejado até a morte na Frígia; Tiago foi apedrejado e depois golpeado na cabeça até a morte. Ver John Foxe, O livro dos mártires. São Paulo: Mundo Cristão, 2003, p. 17-21.

52 G ONZÁLEZ, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo. A era dos mártires, v. 1, p. 176.

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extinguiu definitivamente o Tribunal do Santo Ofício.53 Esse papa toma para si a responsabilidade de perseguir os hereges que começavam a inco modar os alicerces da Igreja Católica. Para se obter uma confissão se usava a tortura que era seguida do julgamento, e a última etapa era o auto-da-fé.

O Dr. Stanger explica: “Os que eram condenados a penas leves – como cárcere e hábito penitencial perpétuo, bem como a flagelação – caminha vam com uma vela nas mãos. Na frente do cortejo seguiam-se os condena dos à morte, entregues à justiça civil para serem queimados vivos. Eis um aspecto interessante. Por ser um tribunal eclesiástico o Santo Ofício não podia executar seus condenados, ou seja, aos olhos de Deus não era a igreja quem matava, pois a esta cabia apenas julgar. A decisão de fazer valer o jul gamento cabia à justiça dos homens e esses é que teriam que acertar com o Todo-Poderoso, caso não fizessem valer a determinação do Santo Ofício.” 54

Cerca de 20 anos depois do estabelecimento do tribunal do Santo Ofício, o papa Inocêncio IV, em sua bula “Ad Extirpanda” de 1252 escre veu: “Quando os que forem decretados culpados de heresia tenham sido re metidos ao poder civil pelo bispo ou seu representante, ou pela Inquisição, o poder ou magistrado principal da cidade toma-los-á imediatamente, e dentro de cinco dias no máximo, executará as leis feitas contra eles”. Essa bula “passou a ser desde então um documento fundamental da Inquisição, renovado ou reforçado por papas, tais como Alexandre IV (1254-1261), Clemente IV (1265-1268), Nicolau IV (1288-1292), Bonifácio VIII (12941303), e outros. As autoridades civis, portanto, foram intimadas pelos pa pas, sob pena de excomunhão, a executar as sentenças legais que conde nassem os hereges impenitentes à morte pelo fogo”. 55

Essa perseguição aos santos perdurou por séculos e foi direcionada a todos os que ousaram discordar dos ditames de Roma, especialmente os Valdenses, Albigenses e Huguenotes, que na noite de São Bartolomeu, na França (24 de agosto de 1572), foram arrancados de dentro de suas

53 STANGER, Célio Roberto. Da inquisição à liberdade religiosa no raiar do novo milênio. Vitória, ES: Gráfica Sodré, 2001, p. 141.

54 Ibidem, p. 145.

55 BLOZER, J. “Inquisition”, The Catholic Encyclopedia. Disponível em: <http://www.newadvent. org/cathen/08026a.htm> Acessado em 24 novembro 2013. A Bula “Ad Extirpanda”, do papa Inocêncio IV, está disponível em: <http://www.documentacatholicaomnia.eu/01p/1252-05-15,_SS_Innocentius_IV,_ Bulla_%27Ad_Extirpanda%27,_EN.pdf>

Daniel 132 Segredos da Profecia

Quatro Animais Estranhos

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casas e assassinados em praça pública. Segundo Ellen G. White, em cer ca de dois meses, 70.000 foram mortos, da legítima flor da nação.56

Mas essas perseguições aos santos do Altíssimo não perdurariam para sempre. Foi dito a Daniel que o chifre pequeno atuaria por um tempo, dois tempos e metade de um tempo. Vejamos em qual período da história essa profecia se encaixa.

UM TEMPO, DOIS TEMPOS E METADE DE UM TEMPO

Anteriormente afirmamos que existem duas profecias em Daniel que indicam a chegada do “tempo do fim”: O período de domínio do chifre pequeno (Daniel 7:25) e a profecia da purificação do santuário, no fim das 2.300 tardes e manhãs (Daniel 8:14). Vamos agora analisar a primeira.

A profecia estabeleceu que o poder representado pelo chifre peque no, o papado, dominaria por um tempo, dois tempos e metade de um tempo (Daniel 7:25).57 Considerando que na mensagem profética do livro de Daniel “tempo” corresponde a “ano” (ver Daniel 11:13), temos aqui três tempos e meio, ou seja, três anos e meio. Considerando ainda que, de acordo com Apocalipse 11:3; 12:6, 14; e 13:5, o ano profético contém 360 dias, três tempos e meio seriam o produto de 3,5 X 360, isto é, 1260 dias.

Considerando ainda que, na profecia de gênero apocalíptico, um dia profético equivale a um ano literal (ver Números 14:34 e Ezequiel 4:6, 7), 1260 dias (três tempos e meio) são na realidade 1260 anos. Esse período se situa na história, dos anos 538 d.C. até 1798 d.C. Mas quais são os eventos que assinalam o início e o fim desse período?

A consolidação de Roma Papal teve início em 533, quando Justiniano promulgou um edito onde confirmava legalmente o bispo de Roma, João II, como “cabeça de todas as igrejas”. Assim rezava o decreto:

“Com honra à Sé Apostólica, e a vossa Santidade, que é, e sem pre tem sido lembrado em nossas orações, agora e anteriormente,

56 WHITE, Ellen G. O grande conflito. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988, p. 272.

57 Algumas versões da Bíblia trazem Daniel 7:25 assim: “.. um tempo, tempos e metade de um tempo”. Doukhan explica que o aramaico entende a forma plural indefinida “tempos” como um plural de dualida de (ou seja, “dois tempos”), somando assim um período de três anos e meio, ou seja, 1.260 dias, já que o ano judaico, igual ao ano babilônico, segue o calendário lunar e consta de 360 dias. Ver mais detalhes em DOUKHAN, Jacques B. Secretos de Daniel. Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2011, p. 109.

e honrado vossa prosperidade, como é próprio no caso de alguém que é considerado como pai. Nós nos apressamos em trazer ao conheci mento de Vossa Santidade tudo o que se refere à condição da igreja, [...] Portanto, nós nos temos empenhado em unir todos os sacerdotes do Oriente, e sujeitá-los à Sé de Vossa Santidade, e, portanto as questões que até o presente têm-se levantado, embora sejam manifestas e fora de dúvida, e, de acordo com a doutrina de vossa Sé Apostólica, e constan te e firmemente observado e pregado por todos os padres, nós temos ainda considerado necessário que devessem ser trazidas à atenção de Vossa Santidade. Porque nós não toleramos nada que tem referência ao estado da igreja, mesmo embora o que causa dificuldade, talvez seja claro e fora de dúvida, para ser discutido sem ser trazido à notificação de Vossa Santidade, porque vós sois a cabeça de todas as Santas igrejas, porque nós nos empenhamos por todos os meios (como já tem sido declarado), aumentar a honra e a autoridade de Vossa Sé”.58

Ainda que esse decreto tenha sido promulgado em 533, a consolida ção do papado só foi possível quando ocorreu a expulsão da última tribo antagônica ao papado, ou seja, os ostrogodos. Isso ocorreu somente em 538 e Virgílio, bispo de Roma é o primeiro papa com jurisdição tempo ral. A partir deste ano, 538, inicia-se o período de completo domínio papal que, segundo o próprio Daniel, se estenderia por 1.260 anos. Se contarmos 1.260 anos a partir de 538 chegaremos a 1798. O que ocorreu nesse ano que possa assinalar o fim do domínio temporal do papado?

Em janeiro de 1798, o general Berthier, que substituía José Bonaparte no comando do exército da Itália, recebeu instruções para prender o papa. Assim narra o historiador:

“A 10 de fevereiro surgiu com o exército junto à cidade eterna, onde entrou no dia seguinte com 9.000 homens. A 15 de fevereiro foi plantada no Capitólio uma árvore da liberdade e o general Berthier, depois de ter feito redigir por cinco notários um documento em que o povo romano se declarava livre, compareceu também no Capitólio com todo o seu Estado Maior [...] foi comunicar brutalmente ao papa, que então contava perto de 80 anos, que o povo romano tinha proclamado a sua independência e já , v. XII, p. 11, 12. Apud GONZÁLEZ, 1994, p.148.

Daniel 134 Segredos da Profecia
58 SCOTT, S. P. The Civil Law

não o reconhecia como soberano político. Tiram ao pontífice a sua guar da suíça e oferecem-lhe o laço tricolor da nova república. Renunciando espontaneamente ao domínio temporal, o papado poderia conservar a dignidade espiritual e a república francesa garantir-lhe-ia uma pensão de 300.000 francos. Caso contrário, isto é, se se recusasse a abdicar, privá-loiam de tudo, inclusive da liberdade individual. O papa não quis abdicar, e a 18 de fevereiro Haller voltou ao Vaticano. Sem se descobrir, entrou na sala onde o papa estava a almoçar e exigiu-lhe a entrega de suas jóias. Tirou-lhe do dedo dois anéis preciosos e intimou-o a preparar-se para deixar o palácio e a cidade de Roma. Como o papa pedisse que o deixas sem morrer na capital do mundo cristão, foi-lhe respondido: ‘Podeis ir morrer em qualquer outro sítio. Ou partis espontaneamente ou ireis à força. Escolhei’. Na manhã de 20 de fevereiro foram buscá-lo no Vaticano, metendo-o à pressa numa carruagem, que o levou a Siena, onde ficou provisoriamente alojado no convento dos Agostinhos”.59

Posteriormente Pio VI foi levado a Florença e no ano seguinte trans portaram-no para Grenoble e afinal para a cidade de Valença, França, onde morreu em 29 de agosto de 1799. Assim terminava a supremacia de 1260 anos justamente em 1798. Cumpriam-se mais uma vez com exatidão as palavras do profeta Daniel e chegara ao fim a longa e terrí vel Idade Média quando os filhos sinceros de Deus foram perseguidos e mortos. Dessa forma o ano de 1798 assinala a primeira data para a chegada do tempo do fim, quando só então a parte profética do livro de Daniel, que não fora compreendida, seria revelada.

6. Seu domínio seria tirado por um tribunal e seria consumido até o fim (verso 26).

A profecia agora informa que depois do período de domínio do chifre pequeno (538 a 1798) seu poder seria tirado por um tribunal. Assim diz o texto: “Eu olhava e eis que esse chifre fazia guerra contra os santos e prevalecia contra eles, até que veio o Ancião de Dias e fez justi ça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram

59 ONCKEN, G. História universal, v. XIX, p. 804, 805, apud MELLO, Araceli S. A verdade sobre as profecias do Apocalipse. São Paulo: Gráfica e Editora EDIGRAF, 1959, p. 340, 341.

Quatro

o reino [...] Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domí nio, para o destruir e o consumir até ao fim. O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo [...]” (Daniel 7:21, 22, 26 e 27).

No final da história o domínio que por séculos estivera nas mãos do papado (chifre pequeno) será dado ao povo de Deus, aos santos do Altíssimo. Daniel 7 muda para uma cena de juízo. Já nos versos anterio res essa cena havia sido introduzida. Vejamos o texto:

“Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias Se assentou; Sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a pura lã; o Seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo ardente. Um rio de fogo manava e saía de diante dEle; milha res de milhares O serviam, e miríades de miríades estavam diante dEle; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros” (Daniel 7:9, 10).

Daniel vê uma cena de juízo, uns tronos sendo postos e o Ancião de Dias assentado. Em seguida o tribunal se assenta e livros são abertos. O que significa essa visão? Quando ela ocorre?

As visões dadas aos profetas tinham um fim didático. João, por exemplo, em uma visão da segunda vinda de Cristo, viu Jesus senta do sobre um cavalo branco e Suas vestes estavam cingidas com man to tinto de sangue e de Sua boca saía uma espada afiada para ferir as nações (Apocalipse 19:11-15). Obviamente, quando Jesus voltar não esperamos vê-Lo vestido assim, e muito menos montado em um cava lo. Entretanto, cada um desses elementos tem um valor didático.60 Na visão de Daniel podemos ver nas “vestimentas brancas” um símbolo de pureza e perfeição; nos “cabelos brancos” vemos um símbolo de idonei dade, autoridade patriarcal e sabedoria.61

O texto também informa que “milhares de milhares o serviam”. Esses são os anjos celestiais que ministram diante do Senhor e cum prem sempre Sua vontade (Apocalipse 5:11). Os anjos desempenham uma parte importante no julgamento. Assim, o Ancião de Dias, que é servido pelos anjos, é uma clara referência a Deus o Pai.62

60 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 912.

61 FEYERABEND, Henry. Daniel verso por verso. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005, p. 124.

62 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 911.

Quanto ao tribunal se assentar, a Daniel foi revelado o julgamento final em seus dois aspectos: investigativo e executivo. Na fase investi gativa do juízo se lança mão dos livros de registros para que, com base neles, se efetue o juízo. Daniel viu: “assentou-se o tribunal, e se abriram os livros” (Daniel 7:10). Em Apocalipse 20:12 lemos: “Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se acha va escrito nos livros”. Esses livros e também o Livro da Vida são usados para registrar todas as obras praticadas pelos homens.

O Livro da Vida contém os nomes de todos aqueles que um dia en traram para o serviço de Deus. Jesus disse aos discípulos: “Alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos Céus” (Lucas 10:20). Paulo fala de seus fiéis coope radores, “cujos nomes se encontram no Livro da Vida” (Filipenses 4:3). Daniel, olhando através dos séculos para um “tempo de angústia, qual nunca houve”, escreveu que Deus salvará “todo aquele que for achado inscrito no livro” (Daniel 12:1). E João, no Apocalipse, diz que apenas entrarão na cidade de Deus “os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro” (Apocalipse 21:27).

O profeta Malaquias também acrescenta: “Então aqueles que te miam ao Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia, havia um memorial escrito diante dEle, para os que temiam ao Senhor e para os que se lembram do Seu nome” (Malaquias 3:16). Ellen G. White escreveu: “No livro memorial de Deus toda ação de justiça se acha imortalizada. Ali, toda tentação resistida, todo mal vencido, toda palavra de terna compaixão que se proferir, acham-se fielmente histo riados. E todo ato de sacrifício, todo sofrimento e tristeza, suportado por amor a Cristo, encontra-se registrado”.63

Isso quer dizer que todas as obras praticadas pelos homens um dia virão a juízo. É isso mesmo que Jesus ensinou quando disse: “Porque o Filho do Homem há de vir na glória de Seu Pai, com os Seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras (Mateus 16:27).

63 WHITE, Ellen G. Cristo em Seu santuário. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988, p. 111.

137Quatro Animais Estranhos

Jesus também disse que seremos julgados por nossas palavras: “Digovos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo” (Mateus 12:36).

Já na fase executiva do juízo podemos ver que chegou a hora do chifre pequeno ser julgado por tudo que fez, principalmente contra os santos do Altíssimo. A visão continua: “Eu estava olhando nas mi nhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-Se ao Ancião de Dias, e O fizeram chegar até Ele. Foi-Lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas O servissem; o Seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o Seu reino jamais será destruído (Daniel 7:13, 14). Quem é este que Se aproxima do Pai, o Ancião de Dias? E quando esse evento ocorre?

A expressão “um como o Filho do Homem” é uma referência direta a Jesus. Foi através da encarnação, que o Filho de Deus tomou sobre Si a forma humana (João 1:1-4, 12, 14; Filipenses 2:7; Hebreus 2:14), e chegou a ser o Filho do Homem (ver Marcos 2:10), unindo assim a Sua divindade com a nossa humanidade com um laço que nunca mais se partirá. Assim os pecadores arrependidos têm como seu representante ante o Pai a um como eles mesmos, um que foi tentado em tudo como o são eles e que Se comove por suas fraquezas (Hebreus 4:15).

Onde e quando se dá essa cena de Jesus vindo ao Pai? A julgar pe los símbolos e imagens fornecidos pelo texto, o julgamento não ocorre na Terra, mas no céu.64 Quanto à data, se o juízo se assenta para, entre outras ações, tirar o domínio do chifre pequeno, então deve ser numa data posterior a 1798, pois aí devia terminar o período de domínio do chifre pequeno, como já vimos.

No próximo capítulo iremos estudar a profecia das 2.300 tardes e manhãs (Daniel 8:14), e veremos que no fim desse período ocorreria a purificação do santuário, que era um dia de juízo em Israel e simbolizava uma nova fase no ministério de Cristo no santuário celestial. De fato, esse é o clímax da profecia do capítulo sete. Enquanto o profeta testemunha animais e chifres, repetidas vezes a cena se volta para um tribunal e é dada

Daniel 138 Segredos da Profecia
64 FEYERABEND, p. 124.

a certeza de que o juízo irá começar, o chifre pequeno será aniquilado e o reino será dado aos santos do Altíssimo (ver 7:9-14, 18, 22, 26 e 27).

Esse assunto é de suprema importância para todos nós, pois nosso caso está sendo julgado neste exato momento e precisamos suplicar que Jesus interceda em nosso favor. Ellen G. White escreveu:

“O mais profundo interesse manifestado entre os homens nas deci sões dos tribunais terrestres não representa senão palidamente o inte resse demonstrado nas cortes celestiais quando os nomes insertos nos livros da vida aparecerem perante o Juiz de toda a Terra. O Intercessor divino apresenta a petição para que sejam perdoadas as transgressões de todos os que venceram pela fé em Seu sangue, a fim de que sejam restabelecidos em seu lar edênico, e coroados com Ele como coerdei ros do “primeiro domínio” (Miqueias 4:8). Satanás, em seus esforços para enganar e tentar a nossa raça, pensara frustrar o plano divino na criação do homem; mas Cristo pede agora que este plano seja levado a efeito, como se o homem nunca houvesse caído. Pede, para Seu povo, não somente perdão e justificação, amplos e completos, mas participa ção em Sua glória e assento sobre o Seu trono.65

Qual será nossa atitude diante da verdade de que há um juízo ocor rendo? Buscaremos colocar nosso caso nas mãos do Advogado que nunca perdeu uma causa, Jesus?

CONCLUSÃO

Após uma análise dos fatos históricos percebemos que Isaac Newton tinha razão em apontar o papado como sendo o poder representado pelo chifre pequeno de Daniel 7. Esta visão é partilhada mesmo por au tores católicos, como Eberhard II (1200-1246), arcebispo de Salzburgo e o jesuíta português, Blasius Viegas (1554-1599).66 WHITE, 1988b, p. 113. DOUKHAN, p. 111.

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Um cuidadoso estudo da operação do propósito de Deus na história das nações e na revelação das coisas por acontecer, nos ajudará a estimar no seu verdadeiro valor as coisas visíveis e as invisíveis, e a aprender o que é o verdadeiro alvo da vida. Assim, considerando os acontecimentos do tempo à luz da eternidade, podemos, como Daniel e seus companheiros, viver pelo que é verdadeiro, nobre e perdurável. E aprendendo nesta vida os princípios do reino de nosso Senhor e Salvador, esse abençoado reino que deve durar para todo o sempre, podemos estar preparados em Sua vinda para com Ele entrar em sua posse (Profetas e Reis, 548).

A VISÃO DO CARNEIRO E DO BODE

(Terceira Visão Profética)

Passados cerca de dois anos depois da visão do capítulo 7, Daniel recebeu sua terceira visão conforme registrada no capítulo 8 de seu livro. Novamente, animais surgem na cena profética e mais uma vez representam nações que lutavam pelo poder. Daniel declara: “pare ceu-me estar eu na cidadela de Susã, que é província de Elão, e vi que estava junto ao rio Ulai” (Daniel 8:2). É provável que Daniel não esti vesse lá fisicamente, mas fora levado ao local em visão. Há na Bíblia outros exemplos de profetas sendo arrebatados em visão, mas que não foram transpostos na realidade para tais localidades (ver Ezequiel 8:3; Apocalipse 17:3).

VISãO DO cARnEIRO E DO b ODE

Dois animais aparecem na visão do capítulo 8, um carneiro e um bode. Neste ponto do nosso estudo, seria bom compreendermos que o tema aqui tratado tem como pano de fundo o santuário terrestre, que foi construído por Moisés quando o povo de Israel foi tirado do Egito. Uma vez ao ano, no dia da expiação, estes dois animais participavam do ritual de perdão e purificação do povo de Deus (ver Levítico 16:5).

O primeiro animal visto por Daniel foi um carneiro. O verso 3 in forma que o chifre “mais alto subiu por último”. Reconhecendo que a

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profecia é uma verdade que se amplia, precisamos destacar o paralelo que existe entre os capítulos 7 e 8 em nossa interpretação profética.

No capítulo 7 temos um animal semelhante ao urso que “se levan tou sobre um de seus lados” (Daniel 7:5), assim como esse chifre do carneiro. Se no capítulo 7 esse urso representa os Medos e os Persas, sendo que os Persas assumem o poder por último, com Ciro, o mesmo se dá aqui com o carneiro.1 O anjo Gabriel foi muito claro em dar essa interpretação a Daniel. Ele disse: “Aquele carneiro com dois chifres, que viste, são os reis da Média e da Pérsia” (Daniel 8:20).

O segundo animal visto por Daniel foi um bode. Continuando nos so paralelo com o capítulo 7, é lógico supor que o bode representa o reino da Grécia, que venceu a Média-Pérsia. O fato do bode não tocar o chão está em paralelo com as quatro asas do leopardo (Daniel 7:6), significando a velocidade com que os gregos dominariam o mundo. Quanto ao “chifre notável entre os olhos” só pode ser uma referência ao principal líder dos gregos, Alexandre, o Grande, e suas notáveis con quistas. O anjo Gabriel mais uma vez confirma essa interpretação ao declarar que “o bode peludo é o rei da Grécia; o chifre grande entre os olhos é o primeiro rei” (Daniel 8:21).

A profecia revela que uma batalha mortal foi travada entre os dois animais. A Média-Pérsia (representada pelo carneiro), foi vencida pela Grécia de Alexandre (representada pelo bode). A história confirma que Alexandre travou três batalhas até vencer Dario III, rei da Média-Pérsia. A primeira foi a batalha de Grânico, no ano 334 a.C.; a segunda foi a de Issos, no ano 333 a.C.; e a última, no ano 331 a.C., foi a batalha de Arbela ou Gaugamela.2 Assim, o ano 331 a.C. assinala o fim do Império Medo-Persa e o início do domínio de Alexandre, o Grande. No entanto, a profecia revela que algo aconteceria com o chifre notá vel: “O bode se engrandeceu sobremaneira; e, na sua força, quebrou-selhe o grande chifre, e em seu lugar saíram quatro chifres notáveis, para os quatro ventos do céu” (Daniel 8:8).

1 Os medos eram mais poderosos que os persas e desde o 9º até o 7º século a.C. resistiram fortemente aos inimigos. Mas foi com Ciro que os persas chegaram a ser mais fortes que os medos. Ver mais detalhes em: SHEA, William H. Daniel: Una guia para el estudioso. Buenos Aires, Asociación Casa Editora Sudamericana, 2010, p. 174.

2 CASTRO, p. 124.

Daniel 142 Segredos da Profecia

A Visão do Carneiro e do Bode

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O grande chifre representa Alexandre, o Grande, que após sua mor te (quebrou-se-lhe o grande chifre), foi sucedido por quatro generais (quatro chifres notáveis), Ptolomeu, Lisímaco, Selêuco e Cassandro.3

Após o período dos quatro generais, surge mais uma vez na profe cia o poder representado pelo chifre pequeno (comparar Daniel 7:8, 20 com 8:9). A mesma expressão de Daniel 7:8 aparece aqui no capítulo 8:9: “chifre pequeno”. Precisamos aqui fazer uma observação funda mental. No capítulo 2 de Daniel, cada império foi representado por um metal, com exceção do quarto império. As pernas eram de ferro (Roma Imperial) e os pés de ferro e barro (Roma Papal). Quando chegamos ao capítulo 7, aparecem quatro animais ou bestas, uma para cada im pério, mas novamente temos dez chifres e um chifre pequeno. Assim, temos Roma, em duas fases, pagã (Roma Imperial) e religiosa (Roma Papal) que atuaria contra Deus e Seu povo. De fato, Roma Papal é a continuidade da Roma Imperial, o que pode ser atestado pelo fato de que o bispo de Roma se senta na cadeira do Imperador e assume seu título (pontifex maximus), na conservação dos deuses romanos, onde se tornaram “santos” com nomes cristianizados, na manutenção da língua latina para versão oficial das Escrituras (Vulgata Latina) e nas celebra ções das missas no idioma latino.4

Alguns têm questionado de qual parte do domínio grego, agora di vidido pelos quatro generais, teria vindo o chifre pequeno. No entanto, uma explicação se faz necessária. A expressão “de um dos chifres saiu...” (Daniel 8:9) não está bem traduzida em algumas versões bíblicas. No ori ginal hebraico está escrito assim: “De um deles...”, e não aparece a palavra “chifre”. Isso quer dizer que o chifre pequeno se origina de um dos “qua tro ventos do céu” (substantivo plural mais próximo – Daniel 8:8), e não de um dos “chifres” (ver Zacarias 6:5, 6). Os ventos simbolizam os pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste), e de um deles viria o chifre pequeno.5

O texto bíblico informa cinco atividades que o poder do chifre pequeno faria, que é o mesmo rei de “feroz catadura” de Daniel 8:23.

3 NEWTON, p. 42.

4 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pontifex_maximus> Acessado em 07 outubro 2013.

5 Ver mais detalhes em: HERNÁNDEZ, Héctor Urrutia. Profecías apocalípticas de Daniel. Chile, 2012, p. 214-215.

Estas ações, segundo Hernández,6 podem ser distinguidas em duas direções: crescimento horizontal (conquistas políticas) e crescimento vertical (conquistas religiosas).

cREScIMEnTO HORIzOnTAl (ROMA IMPERIAl)

a) Se tornou forte para o Sul, para o Oriente e para a terra gloriosa (Daniel 8:9).

Roma, uma pequena república fundada em 753 a.C., começou sua expansão em 334 a.C., crescendo para o Sul, quando conquista toda a península itálica e todas as ilhas do Mar Mediterrâneo. No ano 202 a.C., conquistou Cartago, na África, ao extremo sul do mundo conhe cido. No ano 168 a.C., Roma foi considerada Império ao conquistar a península grega, a Macedônia, Ásia Menor e Síria, o que representa seu crescimento em direção ao Oriente. Faltava agora o crescimento em direção ao Norte, ou “terra gloriosa” (Daniel 8:9). Essa profecia se cumpre quando Roma imperial conquista a Gália, a Britânia e estende seus limites por todo o continente.

b) cresceu até atingir o “exército dos céus” e lançou algumas “es trelas” por terra (Daniel 8:10).

O “exército dos céus” e as “estrelas”, segundo a explicação do próprio anjo a Daniel, representam “os poderosos e o povo santo” (Daniel 8:24), ou seja, o povo de Deus a quem o poder papal perseguiria (ver tam bém Daniel 12:1, 3). De acordo com o livro do Apocalipse, foi o Dragão, Satanás, que enganou a terça parte das estrelas do céu (Apocalipse 12:3, 4) e as lançou para a terra, que neste contexto representam os “anjos celestes” (Apocalipse 1:20). Entretanto, o representante terrestre do Dragão, o chifre pequeno, que é o mesmo poder de Apocalipse 13:1-10, recebe do próprio Dragão o seu poder, o trono e grande autoridade (Apocalipse 13:2), a fim de atacar as legiões terrestres do exército de Deus, Seus santos (Daniel 8:10

Daniel 144 Segredos da Profecia
6 HERNÁNDEZ, p. 220.

A Visão do Carneiro e do Bode

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e Apocalipse 13:7). Essa guerra entre o bem e o mal começou no céu, mas se estendeu à terra e pode ser chamada de o “Conflito Cósmico”, porque cada ser humano está intimamente envolvido.

c) Engrandeceu-se até ao príncipe do exército e tirou dEle o sacri fício diário e o lugar do Seu santuário foi deitado abaixo (Daniel 8:11).

Quem é este “príncipe do exército”? Essa mesma expressão aparece em Josué 5:13-15, no contexto da conquista de Canaã por Josué, após a morte de Moisés. O texto deixa claro que Josué adorou este príncipe e este não o repreendeu pelo ato. Logo, não pode ser apenas um anjo, pois os anjos de Deus não aceitam adoração (ver Apocalipse 19:9, 10; 22:8, 9; Mateus 4:10). Outro detalhe que chama a atenção é que o príncipe disse: “Descalça as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é santo”. Essa expressão só aparece mais uma vez na Bíblia, justamente quando Deus chamou Moisés para libertar Seu povo do Egito (Êxodo 3:5). Não há dúvida de que o título “Príncipe do Exército” ou “príncipe dos prín cipes” (Daniel 8:25), é uma referência ao próprio Jesus Cristo.

O chifre pequeno (Roma Papal) tira do príncipe (Jesus) o “sacrifí cio diário”, que poderia ser melhor traduzido como “contínuo”.

A expressão hebraica traduzida como “sacrifício diário” ou “contí nuo” em algumas versões da Bíblia é TAMID, que no Antigo Testamento, segundo Shea, “é uma palavra que abarca todas as atividades conecta das com o santuário”.7 (Ver Êxodo 30:8; Levítico 24:4, 8; Números 28:3). Todas essas cerimônias tratavam do perdão dos pecados e da salvação do povo. Mas como o sistema papal ataca essas práticas?

A Igreja Romana pretende ser o Templo do novo pacto, negando a realidade de um santuário celestial, do qual o terrestre era um tipo (Êxodo 25:8, 40). Seus líderes espirituais são chamados de sacerdotes, que escutam confissões, e realizam o sacrifício da missa, diminuindo o sacrifí cio único e perfeito de Cristo. Ensina que Cristo não é o único Mediador ou Sumo-Sacerdote entre Deus e os homens, mas também a Virgem Maria e os Santos.8 Resumindo, significa substituir a obra de Cristo no

7 SHEA, William H. Daniel: Uma guia para el estudioso. Buenos Aires, Associación Casa Editora Sudamericana, 2010, p. 182.

8 HERNÁNDEZ, p. 232.

santuário celestial em favor do pecador (Hebreus 4:16; 8:1; 9:11, 12; 12:2, 3), por uma obra de salvação de feitura humana, mediante a qual esse poder (chifre pequeno) teve êxito em eliminar o conhecimento e a dependência do ministério contínuo de Cristo no santuário celestial.9 Daniel também afirma que o papado se levantaria contra o “Príncipe dos Príncipes” (Daniel 8:25). Esse “levantar” indica que ele tentaria ocupar o lugar de Cristo, o que Paulo também advertiu, quando disse: “O qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2 Tessalonicenses 2:4). As doutrinas romanas da Confissão auricular (perdão dos pecados por meio do sacerdote) e a doutrina da Infalibilidade Papal demonstram bem o cumprimento dessa profecia.

d) Deitou a verdade por terra e o que fez prosperou (Daniel 8:12).

Estudamos no último capítulo a profecia que falava de um ataque contra a Lei de Deus. Destacamos naquele estudo três alterações que o papado fez na Lei de Deus: (a) a exclusão do segundo mandamen to, que proíbe adorar imagens de escultura; (b) a divisão do décimo mandamento em dois, para que a lei voltasse a ter dez mandamentos e, (c) a mudança do sábado para o domingo.

Além dessas mudanças, vários outros ensinos, baseados apenas na tradição da igreja e seus dogmas, têm suplantado a verdade da Palavra de Deus e mantido as pessoas no cativeiro da ignorância com respeito à vontade de Deus, como por exemplo: orar pelos mortos, penitências, indulgências, batismo infantil, doutrina da transubstanciação e outros. Deus não permitiria que Sua lei e Seu povo fossem atacados pelo chifre pequeno sem que fizesse justiça. Daniel 8:13, 14 informa que depois de se passarem 2.300 tardes e manhãs o santuário seria puri ficado. Como a purificação do santuário terrestre, nos dias do Antigo Testamento, representava um juízo de vindicação do povo de Deus, o mesmo se daria ao terminar este período, quando o chifre pequeno se ria destruído sem esforço de mãos humanas (Daniel 8:25).

9 P R ö BSTLE, Martin. O Santuário. Lições da Escola Sabatina, 4º trimestre de 2013, p. 121.

A MAIOR PROfEcIA DA bíblIA

Daniel teve interesse em entender a visão, mas Gabriel lhe respon deu: “Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira, porque esta visão se refere ao tempo determinado do fim” (Daniel 8:19). As expressões “tempo do fim” e “tempo determinado do fim”, mostram que certas profecias do livro de Daniel aplicam-se exclusivamente aos nossos dias. Por isso, é importante estudarmos e compreendermos cada profecia do livro de Daniel, pois elas se referem aos nossos dias.

Nas cenas seguintes o anjo explicou alguns elementos da visão a Daniel, como a identidade dos animais, e uma parte da visão que Daniel não entendeu (Daniel 8:26, 27). A visão da “tarde e da manhã” nestes versos é uma referência à profecia das 2.300 tardes e manhãs de Daniel 8:14. Somente quando terminasse esse período de tempo é que o santuário seria purificado e a ação do chifre pequeno seria freada. Por isso o interesse de Daniel em compreender o assunto. Em nosso próxi mo capítulo veremos com detalhes esta profecia, que é a maior profecia da Bíblia e descobriremos que no fim o povo de Deus sairá vitorioso.

147A Visão do Carneiro e do Bode

Do templo celestial, morada do Rei dos reis, onde milhares de milhares O servem, e milhões de milhões estão diante dEle (Daniel 7:10), templo repleto da glória do trono eterno, onde serafins, seus guardas resplandecentes, velam o rosto em adoração; sim, desse templo, nenhuma estrutura terrestre poderia representar a vastidão e glória. Todavia, importantes verdades relativas ao santuário celestial e à grande obra ali prosseguida em prol da redenção do homem, deveriam ser ensinadas pelo santuário terrestre e seu cerimonial (Patriarcas e Profetas, 370).

A PURIFICAÇÃO DO SANTUÁRIO TERRESTRE

Nos primeiros séculos da história do cristianismo, milhares de cris tãos perderam a vida por amor a Cristo. Foram lançados às feras no Coliseu romano, queimados em praça pública ou mortos em prisões sombrias. Satanás perseguia todos aqueles que ousassem partilhar o evangelho de Cristo com outros. Entre estes estavam Estêvão, Paulo, Pedro e outros. No entanto, algo estava acontecendo. Tertuliano, um escritor cristão do segundo século, chegou a afirmar: “O sangue dos mártires é a semente da igreja”, ou seja, quanto mais cristãos morriam, maior era o número dos novos conversos e com isso o cristianismo avançava e ganhava força.

Satanás então mudou de estratégia. Ao invés de perseguir os que pregavam o puro evangelho de Cristo, ele se insinuou dentro da igre ja cristã e corrompeu a verdadeira fé. A pura doutrina apostólica logo deu lugar às tradições e dogmas vindos do paganismo, e a igreja cristã perdeu sua pureza doutrinária. Hoje, quando alguém decide seguir a Cristo, se vê diante de um dilema: milhares de religiões e todas elas defendendo a legitimidade de sua fé.

A profecia das 2.300 tardes e manhãs, que hoje estudaremos, fala de dois acontecimentos chaves: (a) na terra, surgiria a igreja rema nescente restaurando a verdade de Deus pisada pelo chifre pequeno

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Daniel 150 Segredos da Profecia

(Isaías 58:12; Daniel 8:12; Apocalipse 10:8-11), (b) no céu, se inicia ria o juízo de investigação e quando este terminasse, o chifre peque no seria finalmente destruído e o reino dado aos santos do Altíssimo (Daniel 7:18 e 27).

A MAIOR PROfEcIA DA bíblIA

Daniel 8:13, 14 registra uma conversa entre seres santos e um res ponde ao outro até quando durariam as ações do chifre pequeno. As ações do chifre pequeno e sua presunção levam ao clamor por um jul gamento. Como o carneiro e o bode foram destruídos (Daniel 8:4, 7, 8), igualmente o poder representado pelo chifre se exaltou (Daniel 8:9-11). Por isso vem a pergunta: “Até quando durará a visão?” (Daniel 8:13). Essa expressão é um lamento por uma aflição contínua, e o pedido de mudança nas condições prevalecentes em determinados momen tos, é uma súplica por julgamento divino (ver Êxodo 10:3; Números 14:27; 1 Reis 18:21). Então vem a resposta: “Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (Daniel 8:14).

A profecia é clara em definir que o alvo de ataque do chifre peque no é o santuário celestial e o povo de Deus (Daniel 8:10-12). Sendo que a resposta do anjo envolvia a purificação do santuário (Daniel 8:14), fica claro que somente o Dia da Expiação poderia trazer o santuário e o povo de Deus à sua legítima condição. É no Dia da Expiação que Deus efetua Seu juízo e restaura todas as coisas ao seu estado original. Daí a importância de se compreender bem essa profecia.

As “2.300 tardes e manhãs” é a profecia que cobre o maior período de tempo na Bíblia. A expressão “tarde e manhã” é tomada do livro do Gênesis, onde Deus, após haver criado o mundo e tudo que nele há, declara: “Houve tarde e manhã, o dia...” (ver Gênesis 1:5, 8, 13, 19, 23, 31). Essa expressão significa, então, um dia de 24 horas.

Já aprendemos o princípio de interpretação profética dia/ano. Esse princípio ensina que um dia profético equivale a um ano literal (ver Números 14:34 e Ezequiel 4:6, 7). Dessa forma, a purificação do santuário, da qual fala Daniel, só ocorreria depois que se passassem os 2.300 anos literais.

SAnTUÁRIO – PRIncIPAl TEMA DA bíblIA

No Pentateuco, os cinco livros de Moisés, 45 capítulos são dedica dos ao tema do santuário. Nos livros dos profetas, outros 45 capítulos também tratam desse tema. Nos demais livros da Bíblia, há cerca de 150 referências ao santuário. Acredita-se que os salmos foram escritos para servirem de coletânea para os louvores do santuário. O livro do Apocalipse é estruturado no santuário. Ele possui sete divisões e cada uma delas se inicia com uma cena no santuário celestial. As epístolas descrevem Jesus como sacerdote, sumo-sacerdote, propiciatório e ofer ta. Ou seja, o santuário é o centro do pensamento dos escritores bíblicos.

Já descobrimos que a profecia de Daniel 8:14 fala de um período de 2.300 anos, depois dos quais o santuário seria purificado. Precisamos entender agora o que é o santuário e o que significa sua purificação.

O SAnTUÁRIO TERRESTRE

Moisés recebeu a ordem divina de construir um santuário (Êxodo 25:8). Esse santuário ou tabernáculo deveria ser construído conforme um mo delo já existente, que lhe foi mostrado no monte (Êxodo 25:9, 40; 26:30), ou seja, o santuário celestial (Hebreus 8:5). A palavra hebraica para “mo delo” (tabnit) expressa a ideia de modelo ou cópia. Assim, concluímos que Moisés viu um modelo em miniatura, que representava o santuário celestial, e que esse modelo serviu de padrão para a construção do san tuário terrestre.

O santuário ou tabernáculo foi construído em um átrio ou pátio, que media cerca de 30 metros de largura por 60 metros de cumpri mento (Êxodo 27:9-19). Ele era cercado com 48 tábuas de madeira de acácia com cinco metros de comprimento e cerca de 75 cm de largura. Eram chapeadas com ouro e presas por argolas do mesmo material. Estavam fixadas em bases de prata e presas por barras forradas de ouro que as mantinham na posição correta e cercavam todo o átrio (Êxodo 26:15-30).

Neste átrio, além do santuário, ficavam dois móveis, o altar de holocaus to, onde após serem mortos os animais eram queimados (Êxodo 27:1-8), e uma bacia de bronze com água, na qual o sacerdote se lavava antes de iniciar os serviços dentro do santuário (Êxodo 30:17-21).

151A Purificação do Santuário Terrestre

O santuário em si era uma tenda com paredes de madeira for rada por quatro camadas de materiais: a primeira era de peles finas ou teixugo (Êxodo 26:14), a segunda de peles de carneiro tingidas de vermelho (Êxodo 26:14), a terceira era coberta de pelos de cabra branca (Êxodo 26:7); por fim, uma quarta camada que revestia o in terior da tenda, vista apenas pelos sacerdotes e o sumo sacerdote, e era feita de linho branco retorcido nas cores azul, púrpura e carme sim (Êxodo 26:1).

O tabernáculo media aproximadamente seis metros de altura por 18 de cumprimento e era dividido em dois compartimentos, o Santo e o Santíssimo, separados apenas por um véu (Êxodo 26:33). No pri meiro compartimento ou Lugar Santo se encontravam três móveis: (a) a mesa com os doze pães da proposição, (b) o altar de incenso e (c) um candelabro com sete lâmpadas (Êxodo 25:17-40 e 26:35). Já no se gundo compartimento, chamado Lugar Santíssimo ou Santo dos Santos, havia apenas um móvel, a arca da aliança e dentro dela as duas tábuas da lei, dadas a Moisés no monte Sinai (Êxodo 25:10-16). Andreasen destaca que “o tabernáculo era um edifício portátil, de maneira que podia ser desmontado e facilmente transportado. Destinava-se a servir somente até ao tempo em que Israel se estabelecesse na terra prometida e um edifício de natureza mais estável pudesse ser erigido”.1

O santuário tinha três propósitos básicos:

a) Ser a morada de Yahweh (Êxodo 25:8).

b) Ser depositário da lei de Deus (Êxodo 25:16; 31:18).

c) Perpetuar e ampliar a dimensão tipológica dos sacrifícios como meio de perdão e salvação.2

Os simb OlismOs d Os móveis d O santuáriO Todos os móveis do santuário tipificavam o Messias e a obra que viria realizar para salvação de Seu povo. Dessa forma, se ampliava a dimensão tipológica e apresentava-se ao povo de Israel um evangelho em símbolos.

1 ANDREASEN, M. L. O ritual do santuário. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1983, p. 23. 2 WHITE, Ellen G. Review and Herald, 5 de março de 1901.
Daniel 152 Segredos da Profecia

A Purificação do Santuário Terrestre

Móvel ou objeto Simbolismo Texto prova

Tabernáculo Jesus e o ser humano João 1:14; 1 Coríntios 6:19, 20

Altar de holocausto Jesus, nossa oferta Hebreus 10:10-12

Bacia com água Batismo / purificação Mateus 3:16; 1 Coríntios 6:11

Mesa com 12 pães Jesus, o pão da vida João 6:35

Candelabro com 7 lâmpadas Jesus, a luz do mundo João 9:5

Altar de incenso Orações dos santos Apocalipse 8:3, 4

Tampa da arca (propiciatório) Jesus, o propiciatório (tampa)

Romanos 3:25

Arca do testemunho Presença de Jesus Mateus 1:23

OS SERVIç OS DO SAnTUÁRIO

No santuário trabalhavam 38.000 Levitas (1 Crônicas 23:3), sendo 288 cantores (1 Crônicas 25:7), 4.000 músicos, 4.000 porteiros (1 Crônicas 23:5), 6.000 oficiais e juízes e ainda os sacerdotes que se dividiam em vinte e quatro turnos (1 Crônicas 24:1). Todos esses trabalhavam para tornar possível a mediação e perdão dos pecados do povo de Israel.

Dois serviços básicos realizados no santuário serão descritos aqui: serviço diário e serviço anual.

Serviço diário – Ofertas pelos pecados (êxodo 29:38, 39).

Os sacrifícios da manhã e da tarde eram oferecidos diariamente –mesmo na festa da Páscoa, no Pentecostes, no Dia da Expiação ou em qualquer outra festa especial. Por isso, chamavam-se sacrifício “contínuo”, que não cessam (Êxodo 29:42), e prefiguravam de forma especial o sacri fício de Cristo na cruz do Calvário. Esse sacrifício não era providenciado por qualquer pessoa. Era oferecido em favor do povo como um todo. Não era um sacrifício que o pecador oferecia a Deus, mas sim um sacrifício que Deus oferecia em favor de Seu povo. Isso beneficiava especialmente os pobres, que não possuíam animais para sacrificar, e os israelitas que porventura estivessem distantes do santuário, como no caso de Daniel, que fazia suas orações com o rosto voltado para o santuário (Daniel 6:10).

153

Havia outro tipo de oferta no santuário – ofertas pelos pecados cometidos. Quando um israelita cometesse um pecado deveria levar um animal até o santuário. Havia um animal para cada tipo de pecado. O animal mais comum era o cordeiro. O pecador impunha as mãos sobre a cabeça do animal, confessava seu pecado e em seguida o imo lava. O sacerdote tomava o sangue da oferta e o levava para dentro do primeiro compartimento do santuário, chamado Lugar Santo. Em al guns casos, o sangue das ofertas deveria ser aspergido na cortina que separava os compartimentos Santo e Santíssimo, e ainda colocado so bre os chifres do altar de incenso (Levítico 4:5-7). Esse era o princípio de transferência do pecado para dentro do santuário, através do sangue ou através da carne da oferta que o sacerdote comia antes de entrar no santuário. Assim o santuário recebia os pecados diários e, dessa forma, era contaminado e precisava passar por uma purificação.

Serviço anual – Dia da Expiação ou purificação (levítico 16:29, 30).

O Dia da Expiação ocorria sempre no décimo dia do sétimo mês, chamado de Tishri. Essa festa anual era a purificação do Santuário. Era o maior dia em Israel e envolvia uma cerimônia sofisticada.

Durante o ano, o santuário era contaminado através dos pecados que eram simbolicamente transferidos para ele através do sangue dos sacrifícios. Assim, o pecado era perdoado, o pecador considerado lim po, mas seus registros ficavam gravados no santuário e o contamina vam. Por isso, se fazia necessário uma purificação.

Procedimentos preliminares

A preparação para as festividades desse dia começava dez dias an tes. Esses dias eram de arrependimento, destinados a operar uma per feita mudança de coração. O sumo sacerdote, que dirigia a cerimônia, tinha uma preparação especial:

1. Uma semana antes do Dia da Expiação ele se mudava para os recintos do templo, para oração e meditação.

2. Não dormia no dia anterior para que não lhe viesse qualquer contaminação.

3. Banhava-se e vestia vestes santas.

Daniel 154 Segredos da Profecia

4. Ele usava um cinto branco e uma mitra de linho sem ostentação para estar diante de Deus.

Antes de começar a expiação pelo povo, o Sumo sacerdote devia fazer expiação por seus próprios pecados; assim estava limpo para ser um mediador entre Deus e o povo (Levítico 16:3, 11-14).

OS RITOS DE PURIfIcAçãO

No Dia da Expiação ou purificação do santuário dois bodes entravam em cena (Levítico 16:5-10). Eles eram separados no 10º dia do 7º mês. A sorte era lançada sobre ambos, uma para o Senhor e outra para o bode emissário (Hebraico Azazel). Após lançar sorte sobre os bodes, o sumo sacerdote tomava um novilho e o matava, e um sacerdote colocava parte do sangue numa tigela, mexendo-o de modo a não coagular. Enquanto isso, o sumo sacerdote tomava brasas do altar onde as ofertas eram quei madas, e colocava-as num incensário. Enchia também as mãos de suave incenso e levava ambos para dentro do santuário, no Lugar Santíssimo. Colocava o incensário no propiciatório, o qual era coberto por uma nu vem, para que ele não morresse (Levítico 16:13).

Concluída essa parte, o sumo sacerdote saía para receber do sacer dote o sangue do novilho, e então ele levava este sangue para o Lugar Santíssimo, onde o aspergia sete vezes com o dedo sobre o propiciató rio, em direção à banda do Oriente.

Ao voltar do Lugar Santíssimo, o sumo sacerdote matava o bode da expiação pelos pecados do povo. Tornava a entrar no Santíssimo, onde aspergia o sangue do bode sobre o propiciatório, como fizera com o sangue do novilho (Levítico 16:15).

Depois disso, o sumo sacerdote voltava ao pátio e abençoava o povo. “Havendo, pois, acabado de fazer expiação pelo santuário, pela tenda da congregação e pelo altar” (Levítico 16:20), fazia chegar o bode vivo, para Azazel, e o enviava ao deserto, onde morria.

Simbolismos dos animais mortos no santuário

O bode para o Senhor que morria no Dia da Expiação é um símbolo de Cristo, que viria ao mundo para morrer pelos pecados da humanida de (Isaías 53:7; João 1:29; Apocalipse 13:8). A purificação do santuário

155A Purificação do Santuário Terrestre

ilustrava, então, três fases do ministério de Cristo: (a) sacrifício substi tutivo, (b) mediação sacerdotal e (c) julgamento final.

O bode emissário, ou Azazel, que era levado para o deserto e aban donado para ser morto é uma representação de Satanás que, após a volta de Cristo, será aprisionado por 1.000 anos (Jeremias 4:23-26; Apocalipse 20:1, 2). Depois disso, será solto e destruído (Apocalipse 20:7-9).

Uma vez que o bode emissário só entrava em cena “terminada a expiação” (Levítico 16:20), é evidente que Satanás não participa na ex piação dos pecados, mas é destruído por seus próprios pecados e pelos pecados que levou outros a cometer.

Todos os sacrifícios do santuário constituíam o caminho da salva ção pela fé e instruíam o povo de Deus sobre o terrível caráter do peca do e apontavam o meio escolhido por Deus para acabar com o pecado, ou seja, o sacrifício do Filho de Deus (João 1:29). Quando Jesus morreu na cruz, o véu do templo, que separava o Lugar Santo do Santíssimo, rasgou-se de alto a baixo, indicando o fim de todo o sistema sacrifical de animais que, por milênios, apontava para a morte do filho de Deus (Mateus 27:50, 51; Lucas 24:44-47).

A TRAjETóRIA DO SAnTUÁRIO TERRESTRE

O santuário terrestre foi o centro de adoração para o povo de Deus ao longo de séculos. A primeira tenda foi construída por Moisés por ordem divina (Êxodo 25:8). Esse tabernáculo, ou tenda móvel, mudava de local à medida que o povo viajava pelo deserto em direção a Canaã. Alguns calculam que nesse período de 40 anos de peregrinação no deserto, o tabernáculo tenha sido mudado 41 vezes. Quando finalmente chegaram a Canaã, o tabernáculo foi fixado definitivamente em Siló (Josué 18:1).

Quando Davi se tornou rei, após Deus ter-lhe concedido vitória so bre todos os seus inimigos, ele sentiu o desejo de construir uma habita ção mais digna para morada do Altíssimo (2 Samuel 7:1, 2). Entretanto, pelo fato de ele ter sido um homem sanguinário, Deus não lhe permitiu edificar o templo, e disse que seu filho, Salomão, o construiria (1 Reis 6).

Salomão edificou o templo, trouxe a arca da aliança e a colocou no Lugar Santíssimo do templo (1 Reis 8:6) e foi sentida a presença de Deus. Esse templo foi o centro de adoração por séculos, até que foi destruído

Daniel 156 Segredos da Profecia

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A Purificação do Santuário Terrestre por Nabucodonosor, na terceira invasão babilônica a Jerusalém, no ano 586 a.C. (2 Reis 25:9). Depois do cativeiro babilônico, que durou 70 anos (Jeremias 25:11), o povo de Deus voltou para Jerusalém, e Esdras e Neemias se encarregaram da reconstrução da cidade e do templo (Esdras 1; Neemias 3). Este templo, agora reformado, recebe o nome de Templo de Zorobabel, que era então o governador da Judeia (Esdras 6:16; Ageu 1:1).

Esse mesmo templo foi reformado por Herodes, e passou a se chamar templo de Herodes. Foi este que Jesus visitou e sobre o qual fez a profética declaração: “Não ficará aqui pedra sobre pedra” (Mateus 24:1, 2). Esta pro fecia de Cristo se cumpriu no ano 70 d.C., quando a cidade de Jerusalém e o templo foram destruídos por ordem de Tito, o imperador romano.

A REAlIDADE DO SAnTUÁRIO cElESTIAl

Se a profecia das 2.300 tardes e manhãs foi feita nos dias de Daniel, e este viveu cerca de 600 anos antes de Cristo, então não pode estar se re ferindo ao santuário terrestre. A profecia apontava para uma purificação no fim do período de 2.300 anos, o que excede a história do santuário ter restre, destruído no ano 70 d.C. De fato, o santuário a ser purificado no fim das 2.300 tardes e manhãs era o santuário celestial (Hebreus 9:23, 24).

Assim como a purificação do santuário terrestre, nos dias do Antigo Testamento, representava um juízo de vindicação do povo de Deus, o mesmo ocorrerá ao término da purificação do santuário celestial. O povo de Deus será vindicado, a lei de Deus que fora pisada pelo chifre pequeno, será restaurada, e a igreja remanescente que estivera oculta no deserto por anos (Apocalipse 12:6, 16), será revelada.

Estamos agora prontos para compreender a profecia das 2.300 tar des e manhãs, quando então o santuário seria purificado. Em que ano ocorreu esse evento? Quais as implicações para os cristãos modernos? Essas perguntas serão respondidas em nosso próximo capítulo.

Por hoje, vamos nos apegar à promessa da Bíblia: “Porque não te mos sumo sacerdote que não possa compadecer-Se das nossas fraque zas; antes, foi Ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para so corro em ocasião oportuna” (Hebreus 4:15, 16).

Temos a preciosa promessa de que todo o pecado, do qual houve sincero arrependimento, será perdoado. Voltar para Deus com a alma em contrição, clamando os méritos do sangue de Cristo, nos trará luz, perdão e paz. mas precisamos nos voltar para o Senhor com inteireza de propósito no coração, com a decisão de sermos praticantes das palavras de Cristo. Algumas vezes nossos pecados virão à mente e lançarão uma sombra sobre nossa fé; de forma que não possamos ver nada além de uma merecida punição acumulada para nós. Mas em tais ocasiões, enquanto sentimos tristeza pelo pecado, devemos olhar para Jesus, e crer que Ele perdoou nossas transgressões (Review and Herald, 13 de janeiro de 1891).

2.300 TARDES E MANHÃS E A PURIFICAÇÃO DO SANTUÁRIO CELESTIAL

Deus declarou por meio do profeta Amós que não faria coisa algu ma sem “primeiro revelar o Seu segredo, aos Seus servos, os profetas” (Amós 3:7). Todas as profecias na Bíblia foram dadas ao povo de Deus com o objetivo de prepará-lo para os eventos que ainda aconteceriam e envolvê-los no cumprimento dos desígnios divinos.

A profecia das “2.300 tardes e manhãs” é a profecia mais longa da Bíblia, chegando até os nossos dias. Como já vimos, ela fala de dois acontecimentos chaves: (a) na terra, surgiria a igreja remanescente res taurando a verdade de Deus pisada pelo chifre pequeno (Isaías 58:12; Daniel 8:12; Apocalipse 10:8-11), (b) no céu, se iniciaria o juízo de in vestigação e quando este terminasse, o chifre pequeno seria finalmente destruído e o reino dado aos santos do Altíssimo (Daniel 7:18 e 27). Agora aprenderemos com mais detalhes.

cOMPREEnDEnDO A PROfEcIA

O texto central para o estudo da purificação do santuário é Daniel 8:14. Já vimos que este santuário a ser purificado era o celestial, e isto acon teceria apenas ao término do período profético. Logo, para sabermos

12

160 Segredos da Profecia

quando terminam os 2.300 anos, precisamos descobrir quando eles co meçam. Para isso, voltemos nossa atenção ao capítulo 9 de Daniel.

A ORAçãO DE DAnIEl (DAnIEl 9:1-3, 17, 18)

Segundo os versos acima, Daniel orava por uma restauração do povo, da cidade e do templo, que estava em ruínas. Nabucodonosor, rei de Babilônia, invadiu Jerusalém três vezes. Na primeira invasão, em 605 a.C., os príncipes foram feitos escravos e levados para Babilônia, e entre estes estava Daniel (2 Reis 24:14; Daniel 1:3-6). A cidade de Jerusalém e o templo de Salomão foram destruídos somente na terceira invasão babilônica, que ocorreu no ano 586 a.C. (ver 2 Reis 25:8, 9).

Por meio do profeta Jeremias, Deus predisse que o cativeiro babilô nico duraria 70 anos (Jeremias 25:11), e que depois deste tempo Deus levantaria o libertador, Ciro, para trazer Seu povo de volta a Jerusalém (Isaías 45:1). A queda de Babilônia no ano 539 a.C. levou Daniel a estu dar as profecias, especificamente a de Jeremias, que fala do período de 70 anos que duraria o cativeiro (Jeremias 25:11, 12; Daniel 9:2). Transcorria o primeiro ano de Dario, filho de Assuero, ou seja, cerca de 538 a.C. O Império Medo-Persa acabara de derrotar Babilônia e faltava agora apenas a autorização para que o povo judeu voltasse para sua terra natal.

Já haviam se passado 68 anos desde que Daniel fora levado cativo para Babilônia, o que significa que faltavam apenas dois anos para se completar os 70 anos de cativeiro predito pelo profeta. Então Daniel se pôs a orar para que Deus cumprisse Sua promessa e libertasse Seu povo. Um detalhe não pode ser olvidado aqui: Daniel pensava que a profecia da purificação do santuário de Daniel 8:14, se referia à restauração do templo e da cidade de Jerusalém, ora em ruínas.

Enquanto Daniel orava o anjo Gabriel foi enviado para lhe explicar a “visão” (Daniel 9:23). Que visão? A das 2.300 tardes e manhãs (Daniel 8:14), visão esta que Daniel não havia compreendido (Daniel 8:26, 27). Contudo, ao invés de falar dos 2.300 anos proféticos, que alcançariam o tempo do fim e a purificação do santuário, ele introduz o tema da pro fecia das 70 semanas. Daniel havia orado por seu povo e pelo santuário terrestre que estava desolado, por isso o anjo se limita a um período me nor relacionado apenas com o povo de Daniel e sua cidade, Jerusalém.

1612.300 Tardes e Manhãs e a Purificação...

A PROfEcIA DAS 70 SEMAnAS

O anjo disse a Daniel: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgres são, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos” (Daniel 9:24).

A expressão “determinadas” (Hatak) pode ser traduzida literalmen te como “cortadas”,1 ou seja, as 70 semanas ou 490 anos seriam cortados do período maior de 2.300 anos. Esse período de tempo seria destinado ao povo judeu para: (a) fazer cessar a transgressão, (b) dar fim aos peca dos, (c) expiar a iniquidade, (d) trazer a justiça eterna, (e) selar a visão e a profecia e (f) ungir o Santo dos Santos (Daniel 9:24). Em outras pala vras, o Céu esperava arrependimento por parte do povo de Daniel e, se isso não acontecesse, o povo perderia o privilégio de nação escolhida.

Então o anjo declara quando deveria se iniciar o período das 70 semanas e os 2.300 anos: “Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos” (Daniel 9:25).

O evento foi destacado: “a ordem para restaurar e para edificar Jerusalém”. O livro de Esdras registra três decretos referentes à repa triação dos judeus: o primeiro foi promulgado no primeiro ano de Ciro, ao redor de 538/537 a.C. (Esdras 1:1-4); o segundo, durante o reinado de Dario I, cerca do ano 520 (Esdras 6:1-12); o terceiro, no sétimo ano de Artaxerxes, 457 a.C. (Esdras 7:1-26).2

Entretanto, apenas o decreto de Artaxerxes em 457 a.C. cumpre os requisitos da profecia de Daniel 9:25, e marca o início do período pro fético das 70 semanas e das 2300 tardes e manhãs (dias). Neste decreto, além de permitir a repatriação dos judeus, Artaxerxes também concedeu a eles o status de autonomia governamental (ver Esdras 6:14; 7:25-26).

1 Este verbo hatak ocorre uma única vez em todo o Antigo Testamento, justamente aqui em Daniel. Por isso não é tão fácil determinar seu sentido original. Entretanto, olhando para outras literaturas judias pósbíblicas, vemos dezenas de vezes seu uso como “cortar”, e apenas uma vez como “decretar” ou “determinar”. Por isso esta é a melhor tradução. Mais detalhes em: SHEA, William H. Daniel: Una guía para el estudioso, p. 184.

2 Ver mais detalhes em: HOLBROOK, Frank B. Setenta semanas: levítico e a natureza da profecia. Engenheiro Coelho, SP: UNASPRESS, 2010, p. 39-47.

O anjo Gabriel dividiu a profecia das setenta semanas em períodos:

7 semanas + 62 semanas = 69 semanas

Se cada semana possui 7 dias e estamos falando em dias proféticos, ou seja, cada dia representando um ano, temos o seguinte cálculo:

69 semanas X 7 dias = 483 dias proféticos /anos literais

Se partirmos do ano 457 a.C., data do decreto de Artaxerxes, e via jarmos no tempo 483 anos, chegaremos ao ano 27 d.C. Segundo o anjo, este seria o ano do aparecimento do “Ungido”, o “Príncipe” (Daniel 9:25).

O que aconteceu no ano 27 d.C., ao fim das 69 semanas da profecia?

Tibério Cláudio Nero César foi o segundo imperador romano perten cente à dinastia júlio-claudiana. O 15º ano de Tibério César é justamente o ano 27 da Era Cristã.3 Esse foi o ano do batismo de Cristo quando Ele recebe a unção do Espírito Santo (Mateus 3:16). Jesus estava então com cerca de 30 anos ao iniciar Seu ministério terrestre (Lucas 3:1-3; 21-23).

Assim, podemos representar a profecia até aqui com o seguinte gráfico:

O anjo continua falando sobre a obra do Messias, o Ungido: “Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares...” (Daniel 9:27).

Jesus foi batizado no ano 27 da Era Cristã. Conforme a profecia, Ele faria uma “firme aliança com muitos, por uma semana”, ou seja, sete anos, alcançando assim o ano 34 d.C. Que acontecimento assinala o fim desse período de aliança? Estudando o livro de Atos, encontramos o último dis curso de Estêvão, um dos sete diáconos da igreja primitiva (Atos 7:1-53). Após sua pregação ele foi apedrejado até a morte (Atos 7:54-58). Antes de morrer ele contemplou Jesus em pé à direita do Pai (Atos 7:55, 56),

3 Comentário bíblico adventista, v. 5, p. 232-237.

Daniel 162 Segredos da Profecia

1632.300 Tardes e Manhãs e a Purificação...

numa atitude de reprovação e julgamento à nação judaica. Isso ocorreu no ano 34 e assinala o fim dos 490 anos de oportunidade ao povo judeu como povo escolhido. Após isto Deus levantou Sua igreja para que atra vés dela o evangelho fosse pregado a todas as nações. Saulo, que estava presente no apedrejamento de Estêvão (Atos 7:58) tornou-se Paulo, o apóstolo dos gentios, e pregou o evangelho aos pagãos, gregos e roma nos (Atos 9:1-9; Romanos 1:1).

A profecia informa que na metade da septuagésima semana Jesus faria cessar “o sacrifício contínuo e a oferta de manjares”. Como Jesus fez isso? Ele próprio deu fim ao sistema de sacrifícios do Antigo Testamento, tornando-se a própria oferta (João 1:29; 1 Coríntios 5:7). No exato mo mento de Sua morte, o véu do templo, que separava o local Santo do Santíssimo, se rasgou de alto a baixo, indicando assim o fim daquele sistema tipológico de salvação (Mateus 27:50, 51; Hebreus 9:11-15 e 28).

A PROfEcIA DAS 2.300 TARDES E MAnHãS

A ordem para “restaurar e edificar Jerusalém” foi promulgada no ano 457 a.C. Viajando os 490 anos, dados aos judeus, chegamos ao ano 34 d.C., quando Estêvão foi apedrejado. Restam ainda 1.810 anos do período maior de 2.300 anos. Basta agora adicionar os 1.810 anos res tantes, e a profecia alcança o tempo exato em que se iniciaria a purifica ção do santuário, ou seja, 1844.

Fazendo agora um paralelo entre o 10º dia do 7º mês do calendário judaico, dia em que acontecia a expiação em Israel (Levítico 16:29), com o nosso calendário atual, o Gregoriano, chegamos ao dia 22 de outubro

de 1844. Dois acontecimentos especiais ocorreram nessa data: (a) na ter ra, surgiria a Igreja Remanescente restaurando a verdade de Deus pisa da pelo chifre pequeno (Isaías 58:12; Daniel 8:12; Apocalipse 10:8-11), (b) no céu, se iniciaria o juízo de investigação e quando este terminasse, o chifre pequeno seria finalmente destruído e o reino dado aos santos do Altíssimo (Daniel 7:18 e 27).

a) na terra: surgiria a Igreja Remanescente erguendo as verdades deitadas por terra pelo chifre pequeno. Segundo a profecia de Daniel 8:10, o chifre pequeno cresceria até atingir o exército dos Céus; a alguns do exército e das estrelas lançaria por terra e os pisaria. Estas são as legiões terrestres do exército de Deus, Seus santos (Daniel 8:10 e Apocalipse 13:7). Já a profecia de Daniel 7:25 afirma que estes mesmos santos seriam entregues nas mãos do chifre pequeno por um período de 1.260 anos. Quando terminasse este período, a igreja deveria surgir como organização. O mesmo revela o livro de Apocalipse no capítulo 12.

UMA IGREjA nO DESERTO

Apocalipse 12 é nossa base para o estudo da igreja de Deus no pe ríodo do deserto. Neste capítulo temos os seguintes elementos:

a) Uma mulher vestida de Sol simbolizando a igreja verdadeira (Efésios 5:23 ).

b) Um Dragão que representa o próprio Satanás (Apocalipse 12:9) e Roma pagã e papal como agentes de Satanás em infligir perseguições ao povo de Deus.

c) Um Filho Varão que seria arrebatado para Deus até Seu trono. Aqui há uma referência ao próprio Cristo (Mateus 19:28; Hebreus 8:1; 12:2; Apocalipse 3:21).

Satanás tentou destruir a Cristo, através de Herodes, na matança dos inocentes (Mateus 2:16-18), e depois crucificando-O, através dos roma nos (Marcos 15:24). Como não pôde destruir a Cristo, sua ira voltou-se contra a igreja de Cristo. “Quando, pois, o dragão se viu atirado para a terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho varão” (Apocalipse 12:13).

Daniel 164 Segredos da Profecia

1652.300 Tardes e Manhãs e a Purificação...

Essa perseguição é a mesma da qual falara o profeta Daniel (7:25), e seria mantida por 1.260 anos (Apocalipse 12:6, 14). Esse período da igreja oculta no deserto confere exatamente com o período de supre macia papal, ou seja, dos anos 538 a 1798.

Quem eram os representantes da igreja de Deus no período do deserto?

Enquanto a igreja cristã primitiva resistiu vitoriosamente às perse guições do Império Romano, os crentes se multiplicaram em toda parte. Todavia, terminados os dez anos de perseguição aos cristãos, movidos pelos imperadores Diocleciano e seu sucessor, Galério (303 a 313 d.C.), profetizados em Apocalipse 2:10, o imperador Constantino firmou o edito de tolerância de Milão. Nesse edito (313 d.C.), a religião cristã se tornou a religião oficial do império e os bens, outrora confiscados, fo ram devolvidos e os cristãos viveram um tempo de paz e prosperidade.

Muitos nesse período se tornaram cristãos por interesse, e segun do alguns historiadores, “a conversão em massa dos pagãos, teve como consequência a introdução de falsas doutrinas e erros dentro da igreja”.4 Ellen G. White afirma: “Quase imperceptivelmente os costumes do paganismo tiveram ingresso na igreja cristã”.5 E isso se deu em grande parte por causa da falsa conversão de Constantino. “Constantino foi imperador de Roma de 306 a 337 d.C. Foi ele adorador do Sol durante os primeiros anos de seu império. Mais tarde, afirmou haver se con vertido ao cristianismo; mas, de coração continuou venerando o Sol”.6 Nesse período se desenvolveu a doutrina do papa como sendo a cabeça visível da igreja universal de Cristo; a santidade do primeiro dia da semana; o papa como mediador terrestre e que ninguém podia se aproximar de Deus se não por seu intermédio; a infalibilidade papal e a exigência de que o papa recebesse adoração de todos os homens. “As trevas pareciam tornar-se mais densas. Generalizou-se a adora ção das imagens. Acendiam-se velas perante imagens e orações se lhes dirigiam. Prevaleciam os costumes mais absurdos e supersticiosos”.7 Esse entrave espiritual afetou mesmo outros aspectos da sociedade e

4 NAENNI, Eduardo. Historia dos valdenses del Piomonte. Bogotá, Colombia: Associacion Publicadora Interamericana, s.d., p. 10.

5 WHITE, 1988b, p. 49.

6 HAYNES, Carlyle B. Do sábado para o domingo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1994, p. 44.

7 WHITE, 1988a, p. 57.

“durante séculos a Europa não fez progresso no saber, nas artes ou na civilização. Uma paralisia moral e intelectual caíra sobre a cristandade”.8

Os verdadeiros crentes não poderiam se coadunar com essas doutrinas, e por isso, separaram-se da igreja. Por este motivo foram alvo das mais terríveis perseguições. Temos neste mesmo período a criação das indulgências (completa remissão dos pecados passados, presentes e futuros) e, no 8º século, foi instituído o mais terrível de todos os estratagemas do papado: a “Santa Inquisição”. Milhares foram entregues à morte por causa de seu amor a Cristo. Mas mesmo diante de tantas perseguições, Deus tinha Seu povo fiel. Em todas as eras, Ele sempre teve Suas testemunhas. Quando veio o dilúvio, Deus tinha Noé. Quando Sodoma e Gomorra foram destruídas, Deus tinha Ló; Quando o povo judeu foi cativo para Babilônia por causa do pecado da idolatria, Deus tinha Daniel, Misael, Ananias e Azarias. O quanto devemos a es ses homens por seu exemplo de fidelidade é difícil calcular.

Neste momento caótico do cristianismo, nada estava fugindo aos planos de Deus. O Apocalipse diz que a terra ajudaria a mulher (12:16). Em terras que ficavam além da jurisdição de Roma, existiam fiéis que permaneceram quase inteiramente livres da corrupção papal. Podemos citar, entre outros, os Valdenses, os Albigenses e os Huguenotes. Por causa de sua fidelidade a Deus, os Valdenses foram excomungados em 1183. “O concílio de Verona, convocado e presidido pelo papa Lúcio II [...] excomungou os Valdenses, assim como outros grupos cristãos que se haviam separado de Roma”.9

Assim, podemos definir o período da igreja no deserto como sendo de 538 até 1798. Entre os crentes fiéis desse período podemos ainda citar: Martinho Lutero, John Huss, Jerônimo de Praga, Ulrich Zwínglio, William Tyndale, John Wycliffe, entre outros.

No fim dos 1.260 anos de perseguição vários acontecimentos geraram uma grande expectativa em torno das profecias bíblicas, particularmen te do livro de Daniel. No dia 1º de novembro de 1755 ocorreu o gran de terremoto de Lisboa. Vinte e cinco anos depois, no dia 19 de maio de

8 WHITE, 1988a, p. 57.

9 JALLA, Jean. Histoire populaire des Vaudois des Alpes et de leurs colonies. Torre Pellice: Imprimerie A. Besson, 1904, p. 12.

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1672.300 Tardes e Manhãs e a Purificação...

1780, o Sol escureceu trazendo temor e expectativa a todos e, na noite imediata, a Lua apareceu no céu vermelha como sangue (ver Apocalipse 6:12-17). Finalmente, no dia 20 de fevereiro de 1798, por ordem de Napoleão Bonaparte, o papa Pio VI foi preso. De fato, o tempo do fim havia chegado, especificamente com as datas de 1798, fim dos 1.260 anos de supremacia papal e 1844, fim do período das 2.300 tardes e manhãs.

A IGREjA REMAnEScEnTE SAI DO DESERTO

O profeta Isaías nos diz: “Os teus filhos edificarão as antigas ruí nas; levantarás os fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável” (Isaías 58:12). Esse verso nos fala da função da igreja rema nescente: “reparador de brechas” e “restaurador de veredas antigas”. Já o profeta Jeremias diz: “Assim diz o Senhor: Ponde-vos à maragem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom cami nho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles di zem: Não andaremos (Jeremias 6:16). Perguntar pelas veredas antigas [...] um regresso às verdades da palavra de Deus era o grande desafio da igreja remanescente.

O surgimento do povo remanescente também estava profetizado em Apocalipse 10:8-11. Na experiência de João ao comer o livrinho, a princípio sendo doce e depois amargo, ilustrava a experiência pela qual passaria o povo de Deus por ocasião do tempo do fim. O livrinho na mão do anjo em Apocalipse 10 não é outro senão o livro de Daniel, e o anjo é o próprio Jesus Cristo.

No mês de setembro de 1816, um batista chamado Guilherme Miller, estava lendo na igreja uma homilia de Alexander Proudfit, intitulada “O dever dos pais para com os filhos” (Practical Godliness in Thirteen Discourses), quando foi tomado de emoção e não conseguiu completála. Em desespero por causa de seus pecados, percebeu que carecia de um Salvador. Recorreu à Bíblia e em suas páginas encontrou o Salvador. Posteriormente, declarou: “As escrituras tornaram-se meu deleite, e em Jesus encontrei um amigo”.10 A partir desse evento, dedicou vários

10 MAXWELL, C. Mervyn. História do adventismo. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1982, p. 12.

anos de estudo à Bíblia. Usando apenas a Bíblia e uma concordância, começou pelo primeiro verso de Gênesis e não passava a outro texto até que todas as dúvidas fossem esclarecidas. Assim, prosseguiu por vários anos, até se deparar com Daniel 8:14. “Ele me disse: até duas mil e tre zentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado”. Empregando Ezequiel 4:6,7 e outros textos, cria que “a purificação do santuário consistia na purificação da terra e da Igreja, que ocorreria na segunda vinda de Cristo, no final dos 2300 anos”.11 Em 1818, Miller chegou à conclusão de que Cristo voltaria por volta de 1843, ou seja, o fim vem em 25 anos.12 Vários anos da vida de Miller foram passados em estudos e só em 8 de dezembro de 1839 é que Miller apresenta sua primeira série em uma cidade importante. Os estudos de Miller se espalharam e havia milhares de pessoas esperando que Jesus voltasse em algum ponto de março/abril de 1843/1844. Esse foi o primeiro desapontamento. Depois veio o movimento do sétimo mês, ou seja, Jesus voltaria não em abril ou março, mas em setembro ou outubro, sete meses à frente. Assim, depois dos estudos de Samuel Snow e ou tros, foi fixada a data para o dia 22 de outubro de 1844.

O dia chegou, passou e Jesus não voltou. Tremendo foi o desapon tamento. Tiago White escreveu depois: “Quando o irmão Himes visitou Portland, Maine, poucos dias após a passagem da data, e declarou que os irmãos deveriam se preparar para outro duro inverno, meus senti mentos foram quase incontroláveis. Deixei o local de reunião e chorei como uma criança”.13

O sentimento de decepção e confusão só passou depois que Hiram Edson recebeu uma visão. Ele era um fazendeiro do norte do Estado de Nova York; enquanto atravessava o milharal, parou no meio do campo. “O céu parecia abrir-se-me à vista e vi distinta e claramente que em lugar de nosso Sumo Sacerdote sair do Lugar Santíssimo do santuário celestial para vir à Terra (em 22 de outubro) [...] Ele pela primeira vez entrava nesse dia no segundo compartimento desse santuário; e que

11 TIMM, Alberto R. O santuário e as três mensagens angélicas. Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 1999, p. 35.

12 MAXWELL, 1982, p. 13.

13 Disponível em: <http://temcat.com/L-1-adv-pioneer-lib/JWHITE/LIFE.pdf>

1692.300 Tardes e Manhãs e a Purificação...

Ele tinha uma obra para realizar no Santíssimo antes de vir à Terra”.14 Após a profecia do desapontamento de Apocalipse 10, o texto termi na dizendo: “É necessário que ainda profetizes” (Apocalipse 10:11), ou seja, os períodos proféticos ainda deveriam ser pregados, agora com uma visão correta da obra que Cristo realiza no Céu em nosso favor.

Como resultado do desapontamento do dia 22 de outubro de 1844, o movimento milerita foi dividido em três grupos: a) o primeiro aban donou a fé e nunca mais quis saber de religião; b) o segundo continuou a marcar datas até que desapareceu e, c) o terceiro deu origem à Igreja Adventista do Sétimo Dia (Apocalipse 12:17; 14:12; 19:10).

Assim, estava aberto o tempo do fim. O poder papal havia caído em 1798 e em 1844, no tempo profético aprazado, Deus tirou Sua igreja do deserto porque tinha para ela uma sagrada missão (Apocalipse 10:11; Mateus 28:19, 20).

Hoje, a Igreja Adventista do Sétimo Dia reúne em seu bojo doutri nário 28 crenças fundamentais,15 todas elas fortemente alicerçadas na Palavra de Deus. Algumas doutrinas são distintivas do adventismo,16 outras são partilhadas pela maioria das igrejas protestantes históricas. Através do ensino dessas doutrinas, a Igreja Adventista cumpre seu pa pel profético, como igreja remanescente, de restaurar as verdades deita das por terra pelo chifre pequeno (Daniel 8:12; Isaías 58:12).

b) no céu: se iniciaria o juízo de investigação e quando este terminasse, o chifre pequeno seria finalmente destruído e o reino dado aos santos do Altíssimo.

Assim como o santuário terrestre tinha dois compartimentos, o Santo e o Santíssimo, e neles ministravam os sacerdotes, diariamente, e o Sumo Sacerdote, uma vez ao ano, chegaria o dia em que Cristo assumi ria Seu ministério como Sumo Sacerdote no Céu e purificaria o santuário.

14 MAXWELL, 1982, p. 50.

15 Para um estudo destas 28 crenças, ver a obra: Nisto cremos: As 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008.

16 Por “distintivas”, queremos nos referir às doutrinas centrais, desenvolvidas nos primeiros anos do adventismo: o sábado do sétimo dia, o segundo advento de Cristo, o ministério bifásico de Cristo no san tuário celestial, a imortalidade condicional e a perpetuidade dos dons espirituais. Essas verdades definem o adventismo do sétimo dia em contraste com outros grupos de cristãos. Para maiores detalhes, ver Knight, Em busca de identidade; Schwarz e Greenleaf, Portadores de luz

Quando Jesus ascendeu aos céus (Atos 1:9), Ele foi para o san tuário celestial e deu início ao ministério sacerdotal de intercessão, assim como o sacerdote fazia ao longo do ano. Assim como o santuá rio terrestre passava por uma purificação anual, o mesmo aconteceria com o celestial. Essa obra de purificação, segundo Daniel 8:14, ocor reria depois de 2.300 anos, ou seja, no ano de 1.844. No dia 22 de outubro desse ano Jesus dá início ao Seu ministério sumo sacerdotal. Isso indica que estamos vivendo, desde 1844, no grande dia profético da expiação.

Recapitulando: a primeira fase do ministério de Cristo durou de Sua ascensão (ano 31) até 1844 (Hebreus 8:1, 2, 6), em que Ele cumpriu o papel de Sacerdote. A segunda fase (como Sumo Sacerdote) vai de 1844 até a Sua segunda vinda, data esta não revelada na Bíblia (Mateus 24:36). Assim como o Dia da Expiação era de juízo para o povo de Israel, também o será para o povo de Deus do tempo do fim. Vejamos o que acontece nesse dia da expiação escatológico:

a) O juízo começa no santuário (Apocalipse 14:7; Atos 17:31).

b) Os mortos são julgados pelas coisas escritas nos livros de regis tros (Apocalipse 20:12; 2 Coríntios 5:10; Eclesiastes 12:14).

c) Jesus assume o papel de advogado neste juízo (1 João 2:1).

d) Os pecados dos justos são apagados (Atos 3:19-21).

e) O nome do vencedor permanece no livro da vida de Deus (Apocalipse 3:5).

f) Aquele que não abandonou o pecado é apagado do livro de Deus (Êxodo 32:33).

g) Os sentenciados são aqueles cujos nomes não estão no livro da vida (Apocalipse 20:15).

h) Os casos de todos são eternamente selados (Apocalipse 22:11).

i) Após o julgamento a obra sacerdotal de Cristo termina (Hebreus 9:27,28; Apocalipse 15:5,8; Daniel 7:13, 14, 26 e 27).

Assim, o juízo de Deus pode ser dividido em três fases. Essas fases são chamadas de: (a) Pré-advento (porque acontece antes da volta de Cristo); (b) Comprobatório (só para esclarecer o porquê da perdição dos ímpios) e (c) Executivo (aplicação da sentença).

Daniel 170 Segredos da Profecia

1712.300 Tardes e Manhãs e a Purificação...

O jUízO PRé-ADVEnTO (InVESTIGATIVO)

Essa fase do juízo diz respeito ao povo de Deus. Tem início pelos primeiros habitantes da terra e alcança até os que estiverem vivos quan do o Senhor vier. Aqueles que não aceitaram a Cristo como Salvador não são julgados nessa fase. Isso está de acordo com as palavras de Cristo: “Quem não crê [no Filho] já está julgado” (João 3:18), ou seja, já está condenado. Os salvos são julgados antes que Jesus volte. Em Apocalipse 20:4, João viu tronos e neles se assentaram aqueles a quem fora dada autoridade para julgar. Quem é julgado nesse momento? O mesmo verso apresenta aqueles que foram mortos por causa da Palavra de Deus e também os que não adoraram a Besta nem a sua imagem. Essa é uma visão dos fiéis filhos de Deus.

jUízO cOMPRObATóRIO

A segunda fase é chamada de juízo comprobatório. Essa fase do juízo acontece após a volta de Cristo, durante o milênio (ver Apocalipse 20:6). Não quer dizer com isso que ainda há esperança de salvação. Esse julga mento, na realidade, irá demonstrar a justiça e misericórdia de Deus em salvar os que aceitaram a salvação e condenar os que a rejeitaram. Em Apocalipse 20:11, João vê outra cena de juízo. Dessa vez, referese ao julgamento daqueles que não têm seus nomes no livro da vida (ver 20:15). Logo, é esse o juízo dos perdidos. Essa fase do juízo aconte cerá durante os mil anos após a volta de Cristo (Apocalipse 20:5).

jUízO ExEcUTIVO

Como última fase do juízo de Deus, teremos a pronunciação da sen tença. Chamamos essa terceira fase de juízo executivo (ver Apocalipse 20:9). O fogo destruirá todo o pecado. O mal nunca mais se levantará (Malaquias 4:1). O mesmo fogo que destruirá os ímpios purificará este planeta. Aqui será a eterna morada dos remidos (Apocalipse 21:1-3).

Quando a primeira fase do juízo terminar (juízo pré-advento), Jesus voltará à Terra como “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Apocalipse 19:16), para dar a recompensa a cada um (Mateus 25:31-46) e destruir o chifre pequeno. Finalmente o reino será dado aos santos do Altíssimo e eles reinarão por toda a eternidade (Daniel 7:11, 18 e 27).

Portanto, as profecias de Daniel antecipam uma sequência histórica conduzida por Deus, desde o precipício do tempo até o fim dos dias, um vislumbre do tempo que permite àqueles que, como Daniel, se determinam a amar e servir a Deus, saindo da incerteza e da angústia presente para a paz e a segurança da vida eterna (Comentário Bíblico Adventista, v. 4, p. 826).

DANIEL NO RIO TIGRE

(Quarta Visão Profética)

O livro do profeta Daniel registra quatro visões. A primeira ocorre no capítulo 2, a segunda no capítulo 7 e a terceira nos capítulos 8 e 9. Chegamos agora à quarta visão de Daniel registrada nos capítulos 10 a 12. Levando em conta que Babilônia foi vencida no ano 539 a.C., essa visão deve ter ocorrido por volta dos anos 536/535 a.C., pois transcor ria o terceiro ano de Ciro.1 Nesta última seção, o capítulo 10 funciona como uma introdução ou prólogo, do capítulo 11 como sendo o corpo da profecia e, o capítulo 12 é a conclusão ou epílogo.2

Já haviam se passado setenta anos desde que Daniel e seus amigos foram levados cativos para Babilônia. Daniel agora estava bem ido so, com quase 90 anos de idade, e ainda cumpria seus deveres como estadista naquela terra estrangeira, agora sob o domínio dos persas. Ciro havia emitido um decreto que permitia aos judeus voltarem para Jerusalém e reconstruírem os muros e o templo da cidade (Esdras 1:1-4), mas Satanás temia essa situação e faria de tudo para impedir a obra.

O motivo da aflição e jejum de Daniel possivelmente tenha sido a oposição feita pelos samaritanos aos judeus que haviam voltado do exílio

1 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 943.

2 SHEA, 2010, p. 228.

13

sob as ordens de Zorobabel (Esdras 4:1-5), e trabalhavam na reconstru ção da cidade e do templo. Os samaritanos ofereceram ajuda para esta re construção, mas a oferta foi negada, pois os samaritanos eram politeístas e idólatras.3 Como vingança, eles levantaram falsas acusações contra os judeus e tentaram influenciar o rei da Pérsia a retirar a sua ajuda e revogar sua ordem para reconstruir Jerusalém (Esdras 4:5). O palco do conflito estava armado e estas interferências duraram até que Dario I chegasse ao trono. Nesta história teremos um vislumbre do “grande conflito” (Daniel 10:1) que existe nos bastidores da História e, mais uma vez, encontraremos Daniel, que desde a juventude sempre confiou em Deus, de joelhos em oração.

A VISãO DO GRAnDE c OnflITO

Daniel e seus assistentes caminhavam pelas margens do rio Tigre quando ele recebeu uma “grande visão”. Aqueles que o acompanhavam foram tomados de “grande temor”, “fugiram e se esconderam”. Só Daniel viu a visão e ao final, ele ficou muito enfraquecido (Daniel 10:7, 8). O mesmo se deu na conversão de Saulo (ver Atos 9:3-7; 22:6-9).

Daniel “viu” um “grande conflito” envolvendo o povo de Deus e seus inimigos. Satanás levou os samaritanos a tentar influenciar o rei da Pérsia a proibir que os judeus continuassem reconstruindo a cidade e o templo de Jerusalém. Como resultado da oposição, a obra de re construção teve que parar. O idoso profeta ficou angustiado, pois de acordo com a profecia de Jeremias já tinham se passado os setenta anos de cativeiro, e o santuário precisava ser reerguido e a cidade restaurada (Jeremias 25:11, 12; Daniel 9:2; Esdras 4:4, 5).

Por que era tão importante a reconstrução do templo? O santuá rio era o centro da verdadeira adoração estabelecida por Deus. Ele havia ordenado a Moisés construir um tabernáculo para que pudesse “habitar” entre o Seu povo (Êxodo 25:8). Depois que Israel se estabeleceu como nação em Canaã, Davi desejou no coração edificar uma “casa” para o Senhor, porém, foi Salomão que a construiu. Esse templo era magní fico em esplendor, mas agora nos dias de Daniel ele estava em ruínas.

Daniel 174 Segredos da Profecia
3 Ibidem, p. 228.

O propósito de Deus era que através dos ensinamentos do templo to das as nações tivessem a oportunidade de conhecer o Deus verdadeiro (1 Reis 8:39). O profeta Ageu profetizou que o Messias, aquele para quem os símbolos do santuário apontavam, encheria de glória a casa do Senhor (Ageu 2:7; Lucas 2:49). Satanás, representado na visão pelo príncipe do reino da Pérsia (Daniel 10:13), estava temeroso de que o templo fosse restaurado, pois se isso ocorresse, no tempo determinado viria o Messias (Gálatas 4:4), e isso seria sua eterna derrota.

Aqui Daniel nos ensina outra preciosa lição. Quando soube da ação dos inimigos contra os planos de Deus se pôs a orar (Daniel 10:2, 3, 12). A maneira de Daniel resolver os problemas era confiar em Deus. Desde a sua juventude, quando foi levado cativo à Babilônia, até os últimos anos de sua vida, Daniel teve uma vida de oração. Além de orar, o idoso profeta eliminou da sua dieta todas as iguarias. Alimentava-se da comi da mais simples, e apenas o suficiente para manter-se vivo até que suas orações fossem respondidas.

UMA VISãO DE cRISTO

Quando Daniel se pôs a orar ele teve uma visão de um ser divino (Daniel 10:5-7). Quando comparamos esta visão com a que João teve na ilha de Patmos (Apocalipse 1:12-18), concluímos que o Ser que Daniel viu não era outro senão Jesus, o Filho de Deus. Quão confortante foi para Daniel contemplar Jesus com Sua gloriosa veste. Vejamos os simbolismos:

a) Vestido de linho (Daniel 10:5). A veste sacerdotal, feita de linho representa a pureza de Cristo e Sua obra mediadora como nosso Sumo Sacerdote.

b) Ombros cingidos de ouro (Daniel 10:5). Representa a prontidão de Cristo para fazer o que fosse necessário por Seu povo e Sua igreja.

c) Olhos como tochas de fogo (Daniel 10:6). Revela a firmeza de Seu semblante, que aterroriza os inimigos, que não conseguem encará-Lo.

d) Pés como de bronze (Daniel 10:6). Representa Seu poder glo rioso, dedicado a defender e apoiar Seu povo e a derrotar os inimigos.

e) Voz como o estrondo de muita gente (Daniel 10:6). Sua voz res soa como a majestade de muitas águas. A Palavra de Deus é eficaz para salvar ou destruir.

175Daniel no Rio Tigre

Daniel chamou o que viu de uma “visão” (Daniel 10:7), entretanto, usou uma palavra hebraica em particular que se refere especialmente à manifestação de um ser pessoal, em contraste com uma visão simbó lica como a que teve nos capítulos 7 e 8. Essa palavra poderia ser tra duzida como “teofania”, ou seja, uma manifestação do próprio Deus. É maravilhoso perceber que, no fim de seu ministério como profeta de Deus, Daniel se encontra pessoalmente com o Senhor a quem esta va servindo durante todos os anos de sua vida. Essa presença pessoal trouxe segurança ao profeta.4

InTERVEnçãO DIVInA nOS ASSUnTOS HUMAnOS

Na cena vista por Daniel vemos “príncipes” em combate (Daniel 10:5-7, 13, 21). Quando comparamos esta passagem com Apocalipse 1:13-16; 12:7-9; Ezequiel 28:13-18 e Isaías 14:12-14, percebemos se tra tar de um conflito entre Cristo e Satanás.

A palavra hebraica ´sar (traduzida por príncipe) é empregada fre quentemente por Daniel com referência a seres sobrenaturais (Daniel 8:11, 25; 10:13, 21; 12:1). O texto bíblico deixa claro que por detrás do rei da Pérsia estava o príncipe do mal, Satanás, que desejava interferir nos planos de Deus. Neste “grande conflito”, Daniel “viu” (Daniel 10:1) uma luta muito intensa. De um lado estava um “anjo mau” agindo para frustrar os desígnios divinos, e do outro lado, possivelmente o anjo Gabriel, o mesmo que o havia auxiliado em ocasiões anteriores.

A luta durava já 21 dias e continuava empatada. Duas criaturas tra vavam uma batalha extraordinária. Então Miguel veio ajudar o anjo no conflito contra o príncipe do reino da Pérsia. De acordo com a Bíblia, Miguel é o próprio Cristo (Daniel 10:13; 21; 12:1; Judas 9; Apocalipse 12:7), e com Sua chegada os poderes das trevas foram derrotados e os planos de Deus poderiam seguir adiante.

O nome Miguel significa “Quem é como Deus?” Jesus é descrito no Novo Testamento como a “imagem do Deus invisível” (Colossenses 1:15). “Miguel, o Arcanjo” (Judas 9) é um título de Cristo como o dirigente dos exércitos angelicais.

Daniel 176 Segredos da Profecia
4 Ibidem, p. 231.

Jesus veio pessoalmente batalhar em resposta à oração de Daniel. Satanás, representado na profecia pelo príncipe do reino da Pérsia, foi expulso e a obra de construção do santuário pôde seguir avante.

Terminada a obra os sacrifícios voltaram a acontecer e, no tempo determinado, Jesus veio cumprir os simbolismos e trazer salvação para Seu povo (ver Gálatas 4:4, 5; Hebreus 9:13, 14).

177Daniel no Rio Tigre

Os principados e potestades da Terra encontram-se em amarga revolta contra o Deus do Céu. Estão cheios de ódio contra todos os que O servem, e logo, muito em breve, deve ser travada a última grande batalha entre o bem e o mal.

A Terra deve ser o campo de batalha – a cena do combate final e da final vitória. Aqui, onde por tanto tempo Satanás guiou o povo contra Deus, a rebelião deve ser para sempre suprimida (Cristo Triunfante, 409).

REIS EM GUERRA

Existe um jogo de tabuleiro chamado War, em que os participantes representam as nações que estão em guerra. Ninguém sabe ao certo quem vencerá. É um jogo de estratégia e sorte. Diferentemente deste jogo, o capítulo 11 de Daniel não deixa espaço para sorte. Na descrição de eventos que ainda deveriam ocorrer, o profeta descreve inúmeros conflitos envolvendo o povo de Deus e seus perseguidores. De manei ra precisa Deus revela o futuro das nações e o estabelecimento de Seu reino eterno.

Todo o capítulo 11 é narrado pelo anjo Gabriel, logo, Daniel não está vendo os reis do Norte e do Sul, mas ouvindo sobre eles. Por isso, esse capítulo é descrito mais como uma “audição” do que uma “visão”. Temos aprendido que a profecia é uma verdade que se amplia, por isso novas ima gens lançam mais luz sobre as anteriores e a história vai sendo desenhada até que Miguel Se levante e o reino eterno seja estabelecido (Daniel 12:1). Outro detalhe que deve ser lembrado é que os capítulos 10 a 12 registram uma mesma visão, não uma chazon (visão simbólica), mas uma mareh (visão de um ser ou aparição),1 o que nos leva a optar por literalidade na interpretação de vários simbolismos. Mas como fazer a distinção do que é simbólico ou literal no capítulo? HERNÁNDEZ,

14
1
p. 339.

Segundo Hernández, devemos interpretar todos os elementos como literais até o evento da cruz, mas “passando a cruz, quando Cristo rea liza um novo pacto com Seu novo povo, o Israel espiritual, devemos entender o Norte, o Sul, reis, os tempos (12:7, 11, 12), tudo em forma espiritual ou simbólica. A frase “Teu povo” já não é mais Israel literal, e sim espiritual, “rei do Norte” já não é Babilônia, nem a Síria, senão uma Babilônia espiritual; tampouco o “rei do Sul” é o Egito literal senão o espi ritual (Apocalipse 11:7)”.2 Essa lógica pode ser confirmada ao se estudar o Apocalipse, quando a Babilônia literal já não mais existia nos dias de João e continua a aparecer no livro como sendo os inimigos do povo de Deus. Vamos então entender alguns elementos do capítulo.

REIS DA PéRSIA

“Agora, eu te declararei a verdade: eis que ainda três reis se levan tarão na Pérsia, e o quarto será cumulado de grandes riquezas mais do que todos; e, tornado forte por suas riquezas, empregará tudo contra o reino da Grécia” (Daniel 11:2).

Daniel 11:2 fala sobre quatro reis que se levantarão da Pérsia. Quem são eles? Há algumas interpretações. Visto que Daniel teve essa visão no terceiro ano de Ciro (ver Daniel 10:1), os três reis que o sucederam no tro no da Pérsia foram Cambises II (530-522 a.C.), um usurpador chamado Falso Smerdis ou Gaumata (522 a.C.), que ficou poucos meses no trono e Dario I (522-486 a.C.).3 O quarto rei é Xerxes (486-465 a.C.), muito mais rico do que todos os outros. Ele é identificado como o rei Assuero, marido da rainha Ester (Ester 1:1).

Daniel diz que o quarto rei, identificado como Xerxes, empregaria toda a sua riqueza “contra o reino da Grécia”. A península grega era a única área no Mediterrâneo oriental que não estava sob o domínio persa. Em 490 a.C., Dario, o Grande, predecessor de Xerxes, fora de tido em sua tentativa de subjugar os gregos. A fim de controlar essa importante área do Mediterrâneo, Xerxes ajuntou o maior exército da História. Alguns historiadores falam em 300.000 soldados, e Heródoto

2 Ibidem, p. 340.

3 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 951.

Daniel 180 Segredos da Profecia

181Reis em Guerra

enumera mais de 40 nações que forneceram tropas para o exército per sa, e a quantidade de soldados chegava a um milhão e setecentos mil.4 Todo este contingente para as batalhas de Salamina (480 a.C.) e Plateia (479 a.C.). Assim como descrito na profecia, Xerxes empreendeu “tudo contra o reino da Grécia”, mas foi vergonhosamente derrotado.

Héctor Hernández menciona que outros autores preferem interpre tar os quatro reis como sendo Cambises, Dario, Xerxes e Artaxerxes, uma vez que estes reis têm uma importância maior na profecia de Daniel. Cambises foi quem conquistou o Egito, terceira costela na boca do urso (Daniel 7:5). Dario I foi tolerante com a religião dos povos conquista dos e promulgou o segundo decreto para a reconstrução do templo em Jerusalém (Esdras 6); é também em seu reinado que finalmente o templo é reinaugurado (516/515). Xerxes foi o esposo de Ester e nomeou como primeiro-ministro de seu império o judeu Mordecai, que junto com sua prima Ester evitaram o morticínio do povo de Deus. E finalmente, Artaxerxes, o quatro rei cumulado de grandes riquezas, é quem vai emi tir o decreto para restauração e edificação de Jerusalém, em 457 a.C.5

Reis da GRécia

“Depois, se levantará um rei poderoso, que reinará com grande do mínio e fará o que lhe aprouver. Mas, no auge, o seu reino será quebrado e repartido para os quatro ventos do céu; mas não para a sua posteridade, nem tampouco segundo o poder com que reinou, porque o seu reino será arrancado e passará a outros fora de seus descendentes” (Daniel 11:3, 4).

O “rei poderoso” de Daniel 11:3, 4 é Alexandre o Grande, cujo exército conquistou em tempo relâmpago o vasto território do Império Persa. A des crição nos lembra de Daniel 8:7, onde é dito que o carneiro (Média-Pérsia) sofreu uma derrota vergonhosa diante do bode (Grécia). Contudo, no auge do seu poder o reino de Alexandre foi quebrado e dividido entre seus gene rais. A profecia especificava que seu reino não seria para a sua posteridade.

Alexandre, o Grande, alcançou o auge de sua carreira com a idade de 32 anos, mas depois de passar dias bebendo sem limites, foi acometido

4 HERÓDOTO. História, v. 2, p. 161-167.

5 HERNÁNDEZ, p. 344.

por uma febre e morreu em 323 a.C. Alexandre foi sucedido por seu filho, nascido logo após sua morte, e seu meio-irmão Filipe. Ninguém de sua família imediata era capaz de manter unidos os territórios que ele havia conquistado. Os generais de Alexandre assassinaram seu filho e o irmão, dividindo o reino entre si. Conforme Daniel 10:4, o Império Grego foi dividido em quatro partes (quatro ventos), por seus generais e não por um descendente, pois sua família já tinha sido exterminada. O reino de Alexandre foi dividido da seguinte forma:

Lisímaco: Trácia e Betínia

Cassandro: Grécia, Macedônia e Épiro

Seleuco: Síria

Ptolomeu: Egito, Líbia, Arábia e Celosíria6

REIS DO SUl E DO nORTE

Não demorou muito para que esses quatro reinos fossem reduzidos a dois. As expressões “Rei do Sul” e “Rei do Norte” aparecem com frequência neste capítulo de Daniel e não há dúvida de que “o reino do Sul” é o Egito, governado pelos Ptolomeus, ao passo que “reino do Norte” é a Síria, gover nada pelos Selêucidas. Qual seria a razão da profecia dedicar uma atenção especial a essas duas divisões do império de Alexandre? Pela simples razão de que um e depois o outro controlaram o território de Israel. Do ponto de vista da História da redenção, os acontecimentos políticos adquirem signi ficado no momento em que têm relação com o povo de Deus.

TEnTATIVA DE PAz

“Mas, ao cabo de anos, eles se aliarão um com o outro; a filha do rei do Sul casará com o rei do Norte, para estabelecer a concórdia; ela, po rém, não conservará a força do seu braço, e ele não permanecerá, nem o seu braço, porque ela será entregue, e bem assim os que a trouxeram, e seu pai, e o que a tomou por sua naqueles tempos” (Daniel 11:6).

O rei do Egito, Ptolomeu II, e o rei Antíoco II, da Síria, tentaram estabelecer paz entre seus respectivos países, através de um casamento. Antíoco II deveria se casar com Berenice, filha de Ptolomeu II, mas teve

NEWTON, p. 42.

Daniel 182 Segredos da Profecia

183Reis em Guerra

que se divorciar de sua esposa Laodice. Essa tentativa de cimentar as re lações entre o Egito e a Síria não teve êxito. Depois que seu sogro (o rei Ptolomeu) morreu, ele se divorciou de Berenice e retomou Laodice como sua esposa. Ela conseguiu fazer envenenar Berenice e seu filho, garantin do, desse modo, que seu próprio filho Seleuco II, subisse ao trono da Síria. Há algo extraordinário nisso tudo: a Bíblia predisse esses acontecimentos com detalhes, 300 anos antes de ocorrerem! Isso nos diz algo sobre Deus. Ele conhece todas as coisas e conduz o rumo da história em direção ao evento mais esperado – Seu retorno glorioso.

Vimos até aqui que a profecia do capítulo 11 começa com a descri ção dos reis persas e continua com Alexandre, o Grande. Em seguida o esboço profético muda para os selêucidas e os ptolomeus, generais de Alexandre, que se desenvolvem a partir da desintegração do seu im pério. Daniel 10-12 apresenta um alargamento progressivo dos temas tratados nas profecias anteriores, não mais a partir de Babilônia, mas passa rapidamente pelo declínio e queda do Império Medo-Persa, e as censão e queda do Império Grego. Em seguida, focaliza sua atenção sobre Roma pagã e papal, representados pelas pernas e pés da estátua do capítulo 2, pelo “animal terrível e espantoso” do capítulo 7 e o “chifre pequeno” dos capítulos 7 e 8.

ROMA IMPERIAl

“O que, pois, vier contra ele fará o que bem quiser, e ninguém po derá resistir a ele; estará na terra gloriosa, e tudo estará em suas mãos” (Daniel 11:16).

Quem veio ao Egito foi Roma, na pessoa de Júlio César. As mesmas expressões usadas no verso 3 para introduzir o Império Grego agora são usadas para introduzir o quarto império da profecia, Roma. De Roma Imperial se pode afirmar que “estará na terra gloriosa”. Pompeu tomou Judá no ano 63 a.C. e a anexou como província do Império, o que nunca deixou de ser até a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., por mãos de Tito, general romano.

“Resolverá vir com a força de todo o seu reino, e entrará em acordo com ele, e lhe dará uma jovem em casamento, para destruir o seu reino; isto, porém, não vingará, nem será para a sua vantagem” (Daniel 11:17).

Essas palavras podem ser aplicadas à filha de Ptolomeu XII, Cleópatra, que sendo ainda uma adolescente, foi para Roma com Júlio César e teve um filho com ele, mas isso não evitou a ruína do Egito.

ROMA PAPAl

“Depois, se levantará em seu lugar um homem vil, ao qual não ti nham dado a dignidade real; mas ele virá caladamente e tomará o reino, com intrigas” (Daniel 11:21).

As mesmas ações do chifre pequeno registradas nos capítulos 7 e 8 são reproduzidas com maiores detalhes no capítulo 11, identifica do aqui como um homem vil. Segundo Daniel 11:22 “o rei do Norte” deveria quebrantar “o príncipe da aliança”. O termo hebraico usado para “príncipe” nesse versículo é nagid e esta mesma palavra ocorre apenas mais uma vez no livro de Daniel (9:25-27). Como já estudado, essa passagem de Daniel 9, que explica a visão do capítulo 8, mencio na um nagid príncipe que faria uma firme aliança com muitos. Este nagid-príncipe seria morto. Portanto, o nagid que seria “quebrantado” no capítulo 11 deve ser identificado com o mesmo nagid príncipe do capítulo 9, ou seja, Jesus. Tanto a morte de Cristo como a destruição de Jerusalém ocorreram durante o domínio do Império Romano na fase pagã. Assim, podemos interpretar com segurança que o “poder” refe rido a partir de Daniel 11:21 se refere tanto a Roma Pagã como Papal.

ATAQUE AO SAnTUÁRIO

“Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora” (Daniel 11:31).

Conforme já estudamos, o “chifre pequeno” profanaria o santuário, retirando o tamid ou “o diário, contínuo” (Daniel 8:11). Os serviços di ários e o serviço anual do santuário tipificavam, correspondentemen te, o sacrifício todo suficiente de Jesus Cristo e Seu ministério Sumo Sacerdotal no Santuário Celestial. O “chifre pequeno” estabeleceu um sistema sacerdotal paralelo ao de Cristo, como a confissão auricular e o sacrifício da missa em lugar da obra mediadora de Cristo como nosso Sumo-Sacerdote nas cortes celestiais.

Daniel 184 Segredos da Profecia

Mas a história termina com um final feliz. Finalmente o povo de Deus será liberto e triunfará com Cristo. Deus é justo. Ele conhece todas as coisas, vê o futuro e sabe o que você está sentindo. Ele conhece sua dor, quando tem que se despedir de um ente querido ao lado de sua sepultu ra. Ele conhece sua solidão quando você se sente rejeitado ou abando nado. Mas, se você permitir, Ele o confortará e lhe dará a certeza de que tudo culminará no grande e mais esperado de todos os acontecimentos –a volta gloriosa de nosso Senhor Jesus Cristo.

185Reis em Guerra

Terríveis provas e aflições aguardam ao povo de Deus. O espírito de guerra está incitando as nações de uma a outra extremidade da Terra. Mas em meio do tempo de angústia que está para vir – tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação – o povo escolhido de Deus ficará inabalável. Satanás e seus anjos não poderão destruílos; pois anjos magníficos em poder protegê-los-ão (O Cuidado de Deus, 252).

UM TEMPO DE ANGÚSTIA SEM PRECEDENTES

Antes do retorno de Jesus ao mundo, haverá um tempo de gran de prova para o povo de Deus. As provações são permitidas por Deus como forma de aperfeiçoar nosso caráter (1 Pedro 4:12-14) e nos tornar idôneos para o Céu. A boa notícia do livro de Daniel é que nesse tempo de prova Se levantará Miguel, que é o próprio Cristo, e Ele salvará Seus filhos fiéis (Daniel 12:1).

A cHEGADA DO TEMPO DO fIM

Daniel escreveu: “Nesse tempo, Se levantará Miguel” (Daniel 12:1). De que tempo o profeta está falando? Parece que essa expressão está interligada à expressão “no tempo do fim” de Daniel 11:40. Isso quer dizer que ele situa os acontecimentos do capítulo 12 depois dos anos 1798 e 1844, datas já vistas como sendo o ponto inicial do período de tempo chamado “Tempo do Fim”, o tempo que antecede o fim dos rei nos humanos e o estabelecimento do eterno reino de Cristo.

UM TEMPO DE AnGúSTIA nO “ TEMPO DO fIM”

Antes que Jesus volte para estabelecer Seu reino eterno, Seus fi lhos sinceros passarão por um tempo de provação jamais visto na his tória. Daniel enfatiza: “[...] um tempo de angústia, qual nunca houve,

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desde que houve nação até àquele tempo” (Daniel 12:1). O profe ta Jeremias faz uma dramática descrição desse momento: “Assim diz o Senhor: Ouvimos uma voz de tremor e de temor e não de paz. Perguntai, pois, e vede se, acaso, um homem tem dores de parto. Por que vejo, pois, a cada homem com as mãos na cintura, como a que está dando à luz? E por que se tornaram pálidos todos os rostos? Ah! Que grande é aquele dia, e não há outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre dela” (Jeremias 30:5-7).

Jeremias faz uma comparação entre essa angústia final do povo de Deus e a angústia vivenciada pelo patriarca Jacó, enquanto fugia de seu irmão Esaú. Em Gênesis, capítulo 32, lemos a história da angústia de Jacó ao saber que seu irmão, Esaú, a quem havia enganado, vinha mar chando contra ele com 400 homens (Gênesis 32:6). Ellen G. White es creveu: “A experiência de Jacó durante aquela noite de luta e angústia, representa a prova pela qual o povo de Deus deverá passar precisamen te antes da segunda vinda de Cristo.”1

PARAlElO EnTRE jAcó E O REMAnEScEnTE nO TEMPO DO fIM

Jacó Remanescente

1 Jacó foi ameaçado de morte por Esaú.

2 Jacó lutou para conseguir o livramento.

3 Satanás levou Esaú a marchar contra Jacó.

4 Satanás se esforçou para impor sobre Jacó a intuição da culpa.

5 Jacó se apegou ao anjo e insistiu até prevalecer.

6 Deus poupou a Jacó

Os remanescentes serão ameaçados de morte por um decreto (Apocalipse 13:15).

Os remanescentes clamarão a Deus de dia e de noite (Salmo 118:5).

Os ímpios marcharão contra os remanescentes (Apocalipse 13:15-17).

Satanás se esforçará para fazê-los pensar que seu caso é sem esperança (Apocalipse 12:10).

O remanescente se apegará a Deus em oração (Salmo 120:1).

O remanescente será salvo (Salmo 91:7-12).

1 WHITE, Ellen G. Patriarcas e profetas. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990, p. 201.

Daniel 188 Segredos da Profecia

Uma pergunta deve ter surgido em sua mente: Por que Deus, em Sua Palavra, já profetizou um tempo de prova para Seus filhos, mes mo depois de estarem salvos? Isso mesmo, pois a angústia de Jacó se situa depois da queda da primeira praga e, quando isso acontecer, o caso de todos já estará decidido, ou para salvação ou para perdição, pois o tempo de graça já terá terminado. Então, qual é o objetivo da angústia do povo de Deus neste momento da história?

Só encontro uma resposta para essa pergunta. Ao longo de toda a história da humanidade, desde o jardim do Éden, Satanás sempre tem acusado o governo de Deus e atacado Sua lei. Em Gênesis 2:16, 17, lemos: “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jar dim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Deus criou Adão e Eva e deu-lhes uma lei e, caso não obe decessem, o resultado seria a morte. Mas Satanás se apresenta, usando uma serpente, e contraria a clara ordem de Deus, dizendo: “É certo que não morrereis” (Gênesis 3:4). Nossos primeiros pais, duvidando da or dem de Deus e ouvindo a sugestão da serpente, participaram do fruto proibido e perderam sua inocência original, o jardim, e pior de tudo, a comunhão com o Criador. Essa tem sido uma estratégia de Satanás ao longo da história, levar os filhos de Deus a quebrar Sua Lei e assim, torná-los “livres”. Satanás acusa Deus de que Sua lei é injusta e que não pode ser observada em sua integridade.

Então surge no cenário profético os 144.000 selados (Apocalipse 7:1-8; 14:1-5). No tempo da angústia de Jacó, os fiéis filhos de Deus, representados pelo simbólico número (144.000), serão uma prova ine quívoca da justiça divina e da falsidade das acusações de Satanás. Estes, mesmo estando já selados e salvos, não terão um Mediador no santuário celestial (Apocalipse 15:8), também não possuem a certeza de sua sal vação, pois não sabem que seus casos já foram decididos no santuário celestial,2 no entanto, não pecarão, mesmo havendo a possibilidade, pois a natureza pecaminosa só será tirada dos salvos na volta de Jesus (1 Coríntios 15:51-53). Eles viverão esses dias pelo poder do Espírito

2 WHITE, 1988a, p. 491.

189Um Tempo de Angústia sem Precedentes

Santo, em perfeita obediência à lei divina. Por isso, uma vez já na eter nidade, se cumprirá a promessa de Jesus: “[...] e andarão de branco jun to comigo” (Apocalipse 3:4), e “São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá” (Apocalipse 14:4). Os 144.000 serão uma comitiva especial de Cristo, pois são uma prova viva de que a lei de Deus, fun damento de Seu governo, é perfeita, justa e boa (Romanos 7:12), e são falsas todas as acusações de Satanás (João 8:44).

fEcHAMEnTO DA PORTA DA GRAçA

Com base em Apocalipse 15:8; 22:11, entendemos que será após Jesus deixar o santuário celestial, quando não haverá mais oportunida de de arrependimento e salvação, que os salvos viverão essa experiên cia. Isso quer dizer que quem estiver salvo não poderá mais se perder, e quem estiver perdido não poderá mais se salvar. Todos os casos estarão eternamente decididos.

Este momento é também conhecido como “Fechamento da Porta da Graça”. Essa expressão não está na Bíblia, mas o conceito por ela ensinado pode ser encontrado em diversos textos (ver Mateus 25:10; Lucas 13:25; Apocalipse 3:7, 22:11). Por isso, precisamos estar atentos aos acontecimentos que ocorrerão antes desse evento.

EVEnTOS AnTES DO fEcHAMEnTO DA PORTA DA GRAçA

Antes do fechamento da porta da graça, ocorrerão os seguintes eventos:

Derramamento da chuva serôdia (Joel 2:23, 28). Será uma dota ção especial do poder do Espírito Santo para capacitar os fiéis filhos de Deus a pregarem ao mundo o último convite da misericórdia divina, como apresentado em Apocalipse 14:6-12 e 18:4, também chamado de Evangelho Eterno (Apocalipse 14:6). Será um grande movimento mun dial que concluirá a ordem de Cristo (Mateus 24:14), preparando assim o caminho para a volta de Jesus (Apocalipse 18:1).

Pregação do evangelho a todo o mundo (Mateus 24:14). Todos os habitantes da terra terão a oportunidade de conhecer o Evangelho Eterno e tomar sua decisão. O ponto chave neste momento será a aceitação ou não da marca da besta e do número do seu nome (Apocalipse 13:12-17).

Daniel 190 Segredos da Profecia

Decreto dominical (Apocalipse 13:14-17). Sendo o sábado um sinal entre Deus e Seu povo (Êxodo 20:8-11; Ezequiel 20:12, 20), Satanás usará de agentes humanas e instituições políticas e religiosas para combater o verdadeiro sábado, o quarto mandamento da santa lei de Deus, pondo em seu lugar o domingo, como um dia santo. Todos os que se recusarem a prestar reverência ao domingo serão proibidos de comercializar, com prar ou vender qualquer artigo (Apocalipse 13:16, 17). A humanidade estará dividida em dois grupos apenas: os que reverenciam a Lei de Deus e aqueles que a rejeitam. Será um tempo de dura prova para o povo de Deus, mas a vitória final já está garantida (Apocalipse 15:2).

O Selamento dos 144.000 (Apocalipse 7:1-4). Este número é simbó lico e representa todos os salvos que passarão pela angústia de Jacó, mas não passarão pela morte. Eles recebem o selo de Deus que é dado aos que obedecem a Sua lei (Atos 5:32; Isaías 8:16; Tiago 2:10). Ellen G. White escreveu: “Nenhum de nós jamais receberá o selo de Deus, enquanto o caráter tiver uma nódoa ou mácula sequer. Cumpre-nos remediar os de feitos de caráter, purificar de toda a contaminação o templo da alma”.3

A personificação da volta de jesus (2 Coríntios 11:14 e 2 Tessalonicenses 2:8-10). Como ato supremo de engano, Satanás irá personificar a volta de Jesus, fazendo o mundo pensar ser ele o Cristo tão longamente esperado. Somente aqueles que estiverem com sua fé alicerçada na Palavra de Deus e com os olhos fitos em Jesus, poderão resistir a este sutil engodo. A advertência de Cristo foi clara: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e pro dígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mateus 24:24).

fEcHAMEnTO DA PORTA DA GRAçA – jESUS SAI DO SAnTUÁRIO

No capítulo 7 de Daniel vemos “um como o filho do homem”, Jesus, vindo sobre as nuvens até a presença do Pai no santuário celestial (Daniel 7:13, 14). Essa cena aponta para a entrada de Jesus no santuário, para dar início a Sua obra de juízo, no ano de 1844. Já em Daniel 12:1 vemos Miguel, o mesmo Jesus, Se levantar. Isso indica o fim do juízo

3 WHITE, Ellen G. Testemunhos seletos. v. 2. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985, p. 69.

191Um Tempo de Angústia sem Precedentes

pré-advento, quando então Jesus deixará o santuário celestial. O primei ro evento após a saída de Jesus do santuário será o derramamento das sete pragas (Apocalipse 16). A ira de Deus se manifestará através delas.

A Bíblia nos diz que isto acontece “porque os seus pecados se acumu laram até ao céu, e Deus Se lembrou dos atos iníquos que ela praticou” (Apocalipse 18:5). A queda das sete últimas pragas são a prova visível de que Jesus não está mais no santuário e que o caso de todos os habitantes da Terra já foi decidido, ou para salvação ou para perdição eterna.

EVEnTOS APóS O fEcHAMEnTO DA PORTA DA GRAçA

Fechada a porta da graça terão lugar os seguintes eventos: Queda das sete pragas (Apocalipse 16:1-21). Essas pragas atin girão apenas os ímpios, pois o povo de Deus estará selado e seguro (Salmo 91:9-12; Isaías 33:16). Angústia de jacó (Daniel 12:1). O principal ingrediente dessa an gústia é o fato de os salvos não terem a certeza de que todos os seus pe cados foram perdoados antes do fechamento da porta da graça. O povo de Deus imergirá numa terrível angústia e clamará por livramento dia e noite, mas ao fim, eles sairão vitoriosos (Jeremias 30:7).

Ressurreição especial (Daniel 12:2). Chamamos especial por não se tratar nem da primeira (só salvos), nem da segunda (só perdidos), mas uma especial, com representantes de ambas as classes. Quem são os ímpios que ressuscitarão nela? Jesus declarou ao sumo sacerdote e a outros que participavam de Seu julgamento: “Eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu (Mateus 26:64). João, o vidente de Patmos escreveu: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho O verá, até quantos o traspassaram.” (Apocalipse 1:7). Com isso concluímos se tratar dos líderes e soldados que participaram do julgamento e da crucifixão de Jesus. Por outro lado, quem serão os salvos? Ellen G. White escreveu: “Abrem-se sepulturas, e ‘muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno (Daniel 12:2). Todos os que morre ram na fé da mensagem do terceiro anjo saem do túmulo glorificados para ouvirem o concerto de paz, estabelecido por Deus com os que guardaram

Daniel 192 Segredos da Profecia

193Um Tempo de Angústia sem Precedentes

a Sua lei”.4 Com isso concluímos se tratar de todos aqueles que viveram entre os anos do movimento milerita, quando a mensagem do terceiro anjo começou a ser pregada, até antes do fechamento da porta da graça.

Primeira ressurreição – dos salvos (1 Tessalonicenses 4:16). Todos os salvos mortos desde o justo Abel (Hebreus 11:4) até o movimento milerita, ressuscitam incorruptíveis.

Glorificação dos justos vivos (1 Coríntios 15:51-53). Todos os salvos vivos (chamados no Apocalipse os 144.000) são transformados para assumirem um corpo incorruptível.

Volta de jesus (Apocalipse 1:7). Jesus aparece nas nuvens dos céus e dá a recompensa a cada um, segundo as suas obras (Apocalipse 22:12).

Observação: Os eventos acima referidos, tanto antes quanto depois do fechamento da porta da graça, não estão numa sequência cronológi ca exata, pois muitos deles ocorrerão de forma simultânea.

O fIM DA AnGúSTIA DE jAcó

A angústia terminará com o maior evento da história humana – a gloriosa volta de Jesus com poder e majestade. O livro do Apocalipse, falando deste evento, descreve que haverá silêncio no céu por meia hora, quando for aberto o sétimo e último selo (Apocalipse 8:1). Se aplicarmos mais uma vez o princípio dia/ano de interpretação proféti ca, teremos o seguinte resultado:

1 dia profético (24 horas) 1 ano literal (360 dias)

12 horas 6 meses (180 dias)

6 horas 3 meses (90 dias)

2 horas 1 mês (30 dias)

1 hora 2 semanas (14 dias)

30 minutos 1 semana (7 dias)

Por que o céu estará em silêncio por uma semana? A resposta está nas palavras de Cristo: “Quando vier o Filho do Homem na Sua

4 WHITE, 1988b, p. 637.

majestade e todos os anjos com Ele, então, Se assentará no trono da Sua glória; e todas as nações serão reunidas em Sua presença, e Ele se parará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas” (Mateus 25:31, 32). O ambiente do céu é a música (Apocalipse 4:8); constantemente os seres que nunca pecaram louvam a Deus diante de Seu trono (Apocalipse 5:8-14). No entanto, quando for aberto o sétimo selo, Jesus descerá à Terra e todos os anjos virão com Ele. O céu ficará em silêncio porque estará vazio. Em seguida os salvos serão reunidos, dos quatro cantos da Terra (Mateus 24:31), e juntos subirão para o en contro de Jesus nos ares (1 Tessalonicenses 4:17), e assim estarão para sempre com o Senhor.

Que gloriosa oportunidade Deus nos dá hoje de conhecermos os eventos que ainda terão lugar em nosso planeta! O que você fará com essa informação? Qual será sua decisão diante das revelações de Deus a você?

O Espírito Santo lhe declara hoje: “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Deuteronômio 30:19).

Lembre-se do convite de Jesus: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30). Abra o seu coração e permita que Deus seja o PRIMEIRO e o ÚNICO em sua vida!

Daniel 194 Segredos da Profecia

Leiam o livro de Daniel. Relembrem, ponto por ponto, a história dos reinos ali representados. Contemplem estadistas, concílios, exércitos poderosos, e vejam como Deus atuou para abater o orgulho e lançar ao pó a glória humana. Somente Deus é representado como grande. Na visão do profeta, Ele é visto derribando um poderoso rei e suscitando outro. É revelado como Monarca do Universo, prestes a estabelecer Seu reino eterno – o Ancião de dias, o Deus vivo, a Fonte de toda sabedoria, o Dominador do presente e o Revelador do futuro. Leiam e entendam quão pobres, quão frágeis, quão efêmeros, quão errantes, quão culpados são os mortais (Cristo Triunfante, 334).

O ESTABELECIMENTO DO ETERNO REINO DE CRISTO

Certa vez um pai surpreendeu-se ao ver por entre a porta entre aberta do quarto do seu filho, a expressão preocupada do menino ao ler a história do seu herói predileto. Enquanto roía as unhas, ele an gustiava-se diante das páginas coloridas daquele pequeno livro. Após esquivar-se por alguns instantes daquela cena, o pai retornou ao quarto do garoto e percebeu que agora ele estava com o semblante sereno, des preocupado e esboçava um largo sorriso no rosto. O pai, agora mais curioso ainda, perguntou:

– Filho, há poucos instantes eu olhei por entre a porta do seu quar to e vi que você estava angustiado com a história. Mas agora você está sorrindo. O que aconteceu na história?

O menino, sorrindo, respondeu:

– É o seguinte, pai. Quando o senhor me viu pela primeira vez, eu estava lendo a parte da história que mostrava a prisão do meu herói e das torturas que ele sofreu. Eu fiquei muito preocupado e tive uma ideia. Fui até ao final da história para ver o que aconteceria com ele. Quando li a última página, percebi que o meu herói saiu da prisão, der rotou o inimigo e saiu vencedor! Por isso estou feliz agora!

Quando lemos algumas páginas da nossa história, percebemos que o mal tem dominado e o reino das trevas tem alcançado a supremacia neste mundo. É bom lembrar que o final da história ainda está por vir.

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O nosso Herói sairá vencedor. Afinal, Ele venceu na cruz do Calvário e já nos garantiu o reino! Neste último capítulo relembraremos a nossa maior esperança, quando o sonho de reinarmos com Deus será uma realidade.

IMAGEnS DO REInO

No livro de Daniel se encontram várias imagens que falam do esta belecimento do eterno reino de Cristo. De fato, todos os relatos são cons truídos em direção ao estabelecimento dele. Nas visões registradas, cada uma alcança seu clímax quando “o Deus do céu” levanta “um reino que não será destruído” (Daniel 2:44), quando o “Filho do Homem” recebe “domínio eterno” (Daniel 7:13 a 14), quando a oposição ao “Príncipe dos príncipes” será quebrada “sem esforço de mãos humanas” (Daniel 8:25) e quando o povo de Deus será liberado para sempre de seus opres sores (Daniel 12:1). Vamos agora analisar algumas dessas imagens.

A PEDRA

Em Daniel, capítulo 2, no sonho do rei Nabucodonosor, apren demos sobre uma estátua com quatro metais. A cabeça de ouro sim bolizando o império da Babilônia (Daniel 2:38), o peito e braços de prata representando a Média-Pérsia (Daniel 2:39), o quadril de bronze a Grécia (Daniel 2:39) e as pernas de ferro simbolizando o férreo im pério de Roma (Daniel 2:40). Depois de contemplar essa assustadora estátua, Daniel disse ao rei que uma pedra, sem auxilio de mãos, foi cortada e lançada contra a estátua, destruindo todos os reinos, e ela cresceu e encheu toda a terra (Daniel 2:44, 45). Essa pedra simboliza o eterno reino de Cristo, que em breve Ele virá estabelecer (Isaías 28:16; Lucas 20:17, 18; Mateus 24:30; Apocalipse 1:7). A Volta de Jesus é a “bendita esperança” (Tito 2:13) que motiva e impulsiona a nossa vida (2 Pedro 3:12).

Quando chegará esse reino eterno? Jesus advertiu: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe...” (Mateus 24:36). No entanto, Daniel foi muito claro em suas palavras: “nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído” (Daniel 2:44). De que reis Daniel está falando? Dos dez reis representados pelos artelhos dos pés da estátua e pelos dez chifres do quarto animal (Daniel 7:24), ou seja,

Daniel 198 Segredos da Profecia

O Estabelecimento do Eterno Reino de Cristo

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as modernas nações da Europa. Logo, será em nossos dias que chegará o eterno reino de Cristo. Na cadeia profética não existe um quinto reino terrestre, mas um reino celestial que será implantado trazendo justiça e paz a todos os seus cidadãos (Isaías 65:17-25; Apocalipse 22:3, 4, 12, 17).

A QUEDA DE bAbIlônIA

A queda da antiga Babilônia é outra imagem, com paralelo em Apocalipse, do estabelecimento do reino de Cristo. Assim como a grande Babilônia “caiu” em 539 a.C. pelo rei persa Ciro, a Babilônia espiritual também cairá e receberá o juízo de Deus nos últimos dias (Apocalipse 16:12). Há na Bíblia dois salmos que contam um pouco dessa história. Um funciona como contraponto do outro.

O povo de Israel esteve unido como doze tribos apenas durante os reinados de Saul, Davi e Salomão. Quando este morre, o reino é dividi do, ficando dez tribos ao Norte, lideradas por Jeroboão, com capital em Samaria, e duas tribos ao Sul, lideradas pelo filho de Salomão, Roboão, com capital em Jerusalém.

No ano 722 a.C., as dez tribos do Norte foram escravizadas e destru ídas pelo Império Assirio. Isso deveria ter servido de advertência para Judá, o que não aconteceu. Devido aos pecados e recusa em ouvir a voz dos profetas, o cativeiro chegou também para Judá. Em 605 a.C., o rei no de Judá foi invadido por Nabucodonosor e os filhos de Deus foram levados para Babilônia. No entanto, Deus não abandonaria Seu povo. Mesmo antes da chegada de Nabucodonosor, a voz profética se levan tou e trouxe esperança para os futuros cativos. Deus antecipou o nome do libertador, Ciro (Isaías 45:1;13), a estratégia militar que ele usaria (Isaías 44:27, 28), e mesmo quantos anos eles ficariam escravos em Babilônia (Jeremias 25:11,12). Esses textos nos impressionam pelo amor, cuidado e preocupação de Deus com Israel, a despeito dos pecados de les. Deus não deixou que fossem para o cativeiro sem uma esperança.

O Salmo 137 registra o lamento dos judeus agora cativos em Babilônia. Mas eles se apegavam a uma esperança: o libertador virá. No século 19, várias escavações arqueológicas começaram a revelar algo extraordinário sobre Babilônia. Era uma tremenda cidade, com grandes universidades, protegida com muros enormes, com um sistema de canais de irrigação

avançados, templos magníficos, e ainda, uma das maravilhas do mundo antigo – os jardins suspensos construídos por Nabucodonosor.

Diante de tantas maravilhas, o que aconteceu ao povo de Deus? Diferente de Daniel e seus amigos, as novas gerações começaram a contemplar a beleza, a felicidade, o progresso e a pensar: Isto sim que é vida; isto que é cidade! Os judeus fundaram em Babilônia, casas de comércio, e foram os precursores dos bancos modernos. O Salmo 137 ficou no passado, apenas como palavras de pais idosos.

Os 70 anos se cumpriram assim como o profeta havia dito. Ciro surge no cenário político e derrota a grande Babilônia, secando o rio Eufrates (Isaías 44:27, 28). Depois de uma batalha cósmica, registrada no capítulo 10 de Daniel, o decreto é assinado por Ciro e o povo de Deus pode voltar para casa, Jerusalém. No entanto, não foi isso que aconteceu. Entre as centenas de famílias judias cativas em Babilônia, apenas alguns milhares voltaram para Jerusalém. Estes que voltaram também compuseram um cântico (Salmo 126), que falava da alegria do retorno e das bênçãos de Deus sobre o povo. Em tempos difíceis eles reconstruíram a cidade e o templo e, no dia da reinauguração, se ouviu mais uma vez a voz profética: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira [...] e, neste lugar, darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos” (Ageu 2:9). Os sacrifícios voltaram a acontecer, as festas vol taram a ser celebradas e, como a profecia não falha, no tempo aprazado o Messias veio (Gálatas 4:4). Quantas lições podem ser tiradas dessa história hoje?

Ciro é um tipo de Cristo. A Babilônia antiga torna-se símbolo da atual Babilônia mística (Apocalipse 17:5). O secamento do rio Eufrates voltará a acontecer (Apocalipse 16:12) e os reis do Oriente, Cristo e Seus anjos, voltarão para libertar Seu povo do cativeiro espiritual de Babilônia. Temos uma festa a celebrar na Nova Jerusalém, mas a triste notícia é que a história vai se repetir e muitos não desejarão ir para o céu, pois criaram laços, raízes com Babilônia.

Por isso o último convite de Deus: “Retirai-vos dela, povo Meu” (Apocalipse 18:4). Muitos estão contemplando Babilônia e não Jerusalém. Estamos dando muita atenção às coisas do mundo e qua se nada às coisas de Deus. Estamos esquecendo o conselho de Cristo:

“Buscai, pois, em primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33).

No silêncio dessa leitura, pergunte ao seu coração: há em minha vida hábitos, práticas, costumes, vícios que desagradam o céu e me rou bam a paz? Neste mesmo silencio da alma, abra o coração a Jesus, pois o nosso Salvador é o Deus que nunca rejeita, mesmo o maior dos peca dores. Só Ele pode oferecer o perdão e a paz de que tanto precisamos!

OS 1290 E 1335 DIAS

O livro de Daniel apresenta dois últimos períodos proféticos. “Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abo minação desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias” (Daniel 12:11) e, “bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias” (Daniel 12:12).

O evento chave para a compreensão dessa profecia é a retirada do “sacrifício diário” e a implantação da “abominação desoladora”. De que evento a profecia está falando? Alberto Timm elucida: “A expressão “sacrifício diário” é a tradução do termo hebraico tamid, que significa “diário” ou “contínuo”, ao qual foi acrescentada a palavra “sacrifício”, que não se encontra no texto original de Daniel 8:13 e 12:11. Esse termo (tamid) é usado nas Escrituras em relação não apenas com o sacrifí cio diário do santuário terrestre (ver Êxodo 29:38, 42), mas também com vários outros aspectos da ministração contínua daquele santuá rio (ver Êxodo 25:30; 27:20; 28:29, 38; 30:8; 1 Crônicas 16:6). No livro de Daniel, o termo se refere, obviamente, ao contínuo ministério sa cerdotal de Cristo no santuário / templo celestial (ver Daniel 8:9-14). Já a expressão “transgressão assoladora” ou “abominação desoladora” subentende o amplo sistema de contrafação a esse ministério, constru ído sobre as teorias anti-bíblicas da imortalidade natural da alma, da mediação dos santos, do confessionário, do sacrifício da missa, etc”.1

Esse “amplo sistema de contrafação” nada mais é do que a pretensão papal de ser um mediador entre Deus e os homens. Na passagem acima,

1 TIMM, Alberto R. “Os 1.290 dias e 1.335 dias de Daniel 12”. Revista Kerygma, v. 1 – Número 1 – 1º Semestre de 2005, p. 3-7.

201O Estabelecimento do Eterno Reino de Cristo

é declarado que depois de ser tirado o contínuo, ou “sacrifício costumado, haverá mil e duzentos e noventa dias”. A substituição de Cristo por um sistema falso foi sendo introduzida aos poucos, até que nos anos 503-508 tomou forma mais definida. As prerrogativas e atribuições inerentes a Cristo foram cada vez mais sendo reclamadas pelo bispo de Roma. No ano 508 a igreja medieval reforçou seu prestigio político com a ajuda de Clodoveu, rei dos francos (481-511), e desde então “o papado podia proceder sem obstáculos para assegurar sua influência política”.2 Partindo então do ano 508, e viajando na história 1.290 dias/anos, chegamos a 1798, ano da prisão do papa Pio VI e do fim dos 1260 anos de supremacia papal. Se viajarmos a partir da mesma data 1335 anos, chegaremos ao ano 1843/1844, quando terminam as 2300 tardes e manhãs e Jesus dá início ao Grande Dia da Expiação, que irá terminar somente quando Ele sair do santuário para vir à Terra.

UMA PROMESSA A DAnIEl

O anjo Gabriel ordenou que Daniel selasse o livro “até ao tempo do fim” (Daniel 12:4), quando muitos o estudariam e a ciência, ou seja, o conhecimento deste livro, se multiplicaria. Só a eternidade vai revelar quantas pessoas foram beneficiadas pelas profecias e admoestações do livro de Daniel.

Daniel recebeu o selo da aprovação divina e sua vida estava protegida em Deus. Ele havia passado por provas e sofrimentos, mas nunca deixara de confiar em Cristo. Próximo ao fim de sua vida, com cerca de 90 anos de idade, ele ouve as palavras de consolo: “Tu, porém, segue o teu caminho até ao fim; pois descansarás.” Essa é uma referência a sua morte, que não estava muito distante. O anjo lhe garante a vida eterna ao dizer que “ao fim dos dias (período que ele vira tantas vezes em visão), te levantarás para receber a tua herança” (Daniel 12:13). Para os

2
Daniel 202 Segredos da Profecia
ULLMANN, Walter. A Short History of the Papacy in the Middle Ages. Londres: Routledge, 1972, p. 37. apud DOUKHAN, p. 189. 508 17981.290 508 1843/18441.335

O Estabelecimento do Eterno Reino de Cristo

salvos, a morte é apenas um breve sono, pois aquele que morre salvo, “ao fim dos dias”, ressuscitará e receberá a herança eterna (João 11:24, 25).

Que grande oportunidade existe hoje para todos nós! Se formos fiéis como foi Daniel, um dia poderemos conhecê-lo, e mais, poderemos ouvir de sua própria boca as experiências e maravilhas que viveu em sua experiência terrestre narradas em seu livro. No entanto, nada se iguala ao privilégio de estarmos face a face com o Senhor Jesus e ouvirmos de seus lábios: “Vinde, benditos de Meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 25:34).

Gostaria você de ser um cidadão desse reino eterno?

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Conclusão

O livro de Daniel é uma revelação dos mistérios ocultos de Deus. Isso fica claro na oração de Daniel logo após receber sua primeira reve lação – o esclarecimento do sonho da estátua de metais. Daniel escreveu: “Ele revela o profundo e o Escondido; conhece o que está nas trevas, e com Ele mora a luz”(Daniel 2:22). Ao longo das histórias e profecias do livro Deus foi revelando Seus propósitos para cada indivíduo e o des tino das nações. Todo este maravilhoso conhecimento ficou como um depósito para os dias finais da história, o assim chamado Tempo do Fim. Estamos vivendo precisamente neste periodo. Temos o privilégio de co nhecer o cumprimento exato das profecias passadas e a oportunidade de nos prepararmos para o maior de todos os eventos da história ainda no futuro: a Segunda Vinda de Cristo em glória e majestade para o estabe lecimento daquele reino que “não será jamais destruido” (Daniel 2:44). Contudo, as lições deste extraordinário livro não se limitam apenas ao PASSADO de suas histórias ou FUTURO de suas profecias. Acima de tudo ele fala do PRESENTE. Nos ensina sobre a estreita relação entre a saúde física, mental e espiritual e como nosso estilo determina nos so destino. Nos revelou um Deus atuante na história que no levantar e depor de reis trabalha intencionalmente para salvação de Seu povo. Mostrou que Ele se importa com cada pessoa, e que assim como fez com Nabucodonosor, está hoje disposto a ensinar o caminho da real felicidade a todos os humildes de coração. Também aprendemos que os filhos leais de Deus passarão por fornalhas e covas de leões, que não estamos imunes aos ataques do inimigo de nossas almas, mas Deus NUNCA nos desamparará e SEMPRE estará ao lado de Seus filhos, especialmente nas provas.

Finalmente descobrimos que há um santuário no céu, do qual o ter restre era uma cópia, e que Jesus, neste exato momento, intercede em favor de todos aqueles que O buscam de todo coração (Jeremias 29:13). Jesus entrou nele após Sua ascensão, no ano 31, e desde 22 de outubro de 1844 está julgando Seu povo. Este juízo é a nosso favor, pois temos um advogado infalível que nos ama e pagou, com Seu próprio sangue, no dia marcado na profecia de Daniel (metade da septugéssima sema na; Daniel 9:27), o preço de nossa eterna redenção. Por isso, o mara vilhoso convite: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4:16).

Tudo, tudo, tudo que precisava ser feito para nossa redenção já foi feito. O resgate foi pago. A justiça divina satisfeita. Logo, não faz sentido se pagar o resgate e não reaver a pessoa amada. Por isso, a história ainda não terminou. O céu aguarda com fremente desejo, o momento em que Miguel se levantará (Daniel 12:1) e virá a terra buscar Seus filhos amados. Está você pronto para este encontro? É este o maior alvo de sua vida?

Moisés declarou que nossos dias nesta terra são de 70 anos, e os mais vigorosos, chegam a oitenta, mas neste caso, o melhor deles é canseira e en fado, porque tudo passa rapidamente e nós voamos (Salmo 90:10). Daniel compreendeu muito bem essa verdade e desde sua juventude se dedicou a amar e servir ao Deus verdadeiro, Deus este que era seu amigo e juiz.

Um dia, não sabemos com que idade, Daniel descansou e foi sepul tado em algum lugar em Babilônia. Fico me perguntando por que Daniel não retornou a Jerusalém, sua cidade natal, quando outros voltaram após o decreto de Ciro. E um pensamento enche meu coração de alegria. Daniel não queria mais voltar para Jerusalém terrestre, ele almejava ago ra a Jerusalém celestial. Ele estava cansado das injustiças, dos sofrimen tos, das ambições mundanas, da luta pelo poder. Ele sonhava com um lugar de paz, uma cidade onde não mais haverá choro, nem pranto, nem luto nem dor. Um lugar onde nunca mais fosse separado de sua família. Ele fechou seus olhos em Babilônia para abri-los na Nova Jerusalém.

Houve um homem que foi em visão até esta mágica cidade. Outro que, como Daniel, era amado pelo céu (João 13:23; 21:20). Ele viu coi sas que nenhum de nós jamais sonhou. Mas esta já é outra história.

205Conclusão

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