Diario de Argel

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Renato Cruz

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Direitos autorais, venda e distribuição cedidos pelo autor à Planeta Azul Editora www.planetazuleditora.com.br | e-mail: planetazul2014@yahoo.com.br Copyright © 2013 by Renato Cruz Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-032-8

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Agradecimentos A todos que, com apoio e incentivo, proporcionaram a realização desta obra.

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s fatos relatados neste são parte do que me lembro sobre como tudo começou. Meu nome é Leonardo Dantas e esse é meu diário. Eu e meus amigos tínhamos combinado de acampar naquele fim de semana, estávamos preparando tudo com muito cuidado, a fim de termos muito que fazer de dia e de noite. Conhecíamo-nos desde crianças, éramos inseparáveis. — Como vão os preparativos para o acampamento, Cris? — Tudo em cima! Iremos esta tarde para a mata onde montaremos o acampamento, acenderemos a fogueira e passaremos a noite contando histórias de terror e olhando as estrelas, o concerto do telescópio do meu avô já terminou, vai ser demais. 7

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Na tarde de sexta-feira caminhamos pela mata, era um trajeto longo, cansativo, mas às cinco horas todos nós estávamos no local. Armamos as barracas em uma área ampla e começamos o reconhecimento do pedaço. A noite chegou, estávamos reunidos em volta da fogueira, a lua nova deixava o céu dominado pelas estrelas facilitando a observação pelo telescópio que Cris ganhara de seu avô, era um espetáculo realmente fascinante. A noite estava tranquila, naquela madrugada tive um sonho que me deixou intrigado. Sonhei que estava em cima de um monte, a minha frente havia uma árvore, e encostado ao seu tronco estava um anjo com suas asas encolhidas, sua aparência era triste, mas serena. De repente, ele virou o rosto e olhou-me nos olhos, então acordei. Nunca havia sonhado com anjos antes, aquilo me deixou perturbado, mas procurei pensar em outras coisas e adormeci. Ao amanhecer tudo parecia normal, achei melhor não contar nada aos outros, após o café fomos para o lago pescar. Durante a pescaria, que mais parecia um salvamento ecológico das espécies, resolvemos nadar um pouco; após alguns mergulhos, sai para caminhar pela mata. Andava tranquilamente, quando, a uns quatro metros do lago, tropecei em alguma coisa, procurei ver o que era, parecia ser a ponta de uma caixa, cavei a sua volta e a removi. Era uma caixa de madeira, com 8

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aproximadamente 25 centímetros de comprimento, 15 de largura, por 10 de altura, não era uma madeira comum, era mais sólida, parecia petrificada, estava toda entalhada com desenhos estranhos como se quisessem dizer alguma coisa, uma mensagem. Meu coração batia acelerado, como se pressentisse algo estranho no ar. Peguei a caixa e levei-a para o acampamento sem que meus amigos notassem, escondi em minha mochila e voltei para o lago. O divertimento continuou, passamos o dia correndo pelos campos, nadando, pescando, curtindo a natureza. À noite, depois que todos dormiram, procurei examinar com mais detalhes aquela estranha caixa. Deixei a barraca e me afastei do acampamento; acendi a lanterna e passei seu raio de luz por toda a superfície, não havia nenhum indício do que continha. Olhando para ela, pude sentir uma energia estranha, pura, que provinha de seu interior, uma força muito poderosa que percorria meu corpo. Sentia-me como se estivesse em chamas, uma chama que me fazia muito bem. Voltei para a tenda, naquela noite ouvi uma voz chamando-me, sonolento levantei a cabeça e vi pela lona da barraca a silhueta de um homem que me estendeu a mão. Aquilo me despertou num salto, olhei, mas não havia nada, peguei a lanterna, abri o zíper da tenda, mas não havia ninguém. Cris e Allan dividiam a mesma barraca, Mateus preferiu dormir próximo à 9

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fogueira; no saco de dormir, eu fiquei com a outra barraca só para mim. No dia seguinte voltamos para nossas casas e tudo voltou à rotina de sempre, ou quase. Enquanto cuidava de meus afazeres podia sentir uma energia estranha no ar, como se alguém me observasse. O telefone tocou... Atendi... Silêncio. — Alô... Alô? Silêncio... Um temor começou a me dominar. — Leo, sou eu, Cris. — Ficou maluco cara, que ideia é essa. — Calma... Está assustado à toa. Escute, o pessoal quer se reunir hoje. Estou ligando para confirmar. — Tudo bem, a que horas? — Às seis. — Quem era Leonardo? — O que... Ah era o Cris, com suas brincadeiras. Fui para meu quarto, a fim de examinar a caixa com mais detalhes, fiquei imaginando de quem poderia ser, quem havia construído aquela caixa tão cheia de detalhes, o que significava todos aqueles desenhos e, principalmente, o que havia dentro dela. Guardei-a e fiquei pensando quem seria a pessoa que apareceu no acampamento. Tentei visualizá-la, mas havia sido rápido demais, apenas um vulto, não consegui identificar. Estava tão absorto em meus pensamentos que não percebi minha mãe me chamar. — Leonardo, Leonardo está me ouvindo? 10

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Despertei do transe quando ela tocou-me no ombro. — Ah... O que... É você mamãe, o que foi? — Estou te chamando faz tempo, algum problema? — Não, não é nada, só estava pensando. — O lanche está pronto, venha. — Já vou. Após o lanche, tranquei-me no quarto para não ser incomodado, pretendia abrir a caixa e matar minha curiosidade de uma vez; com o auxílio de algumas ferramentas, removi o lacre que prendia a tampa, parecia uma espécie de piche, forcei a tampa e ela cedeu. De repente, um vento estranho, vindo do nada, percorreu meu quarto. Senti um frio na espinha, um pressentimento, mas continuei. Abri a caixa e dentro havia um livro antigo de capa dura, feita com o mesmo material da caixa, e com três fechos que o lacravam, pareciam mais selos. O desenho da capa me chamou a atenção: um anjo sentado embaixo de uma árvore olhava para o céu enquanto uma lágrima percorria seu rosto, o mesmo que vi no sonho. Aquilo me fez levantar num salto, um medo súbito percorreu meu corpo, larguei as ferramentas, era muita coincidência. Guardei tudo e fui me encontrar com meus amigos. No fundo de casa havia dois cômodos, meus pais haviam construído para dispensa, mas acaba11

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ram não usando, então aproveitamos e alugamos para ser nossa sala de estudo, uma sede para nossas reuniões, cada um tinha sua própria chave. Cristiano, quatorze anos, alegre e brincalhão, estava sempre de bom humor. Tinha os cabelos pretos e levemente encaracolados, olhos castanhos escuros e pele morena. Allan, quinze anos, um pouco diferente de seu irmão Cris, estudioso, inteligente, um pouco mais responsável. Tinha a pele clara, olhos negros, cabelos negros e lisos. Matheus, dezesseis anos, cabelos pretos e lisos, pele clara e olhos castanho-claros. Trabalhador, esforçado e amigo em todas as horas, curioso e paquerador. Apesar de todas as diferenças, éramos amigos inseparáveis. A reunião não foi tão importante assim, tentávamos combinar o que fazer no próximo fim de semana, mas não chegamos a nenhuma conclusão. Terminamos o trabalho de geometria e resolveram ir embora, o vento estava forte e acharam melhor voltar para casa. De volta ao meu quarto, abri cautelosamente a caixa e de posse do livro fiquei a olhá-lo como que em transe, o medo dizia-me para guardá-lo, mas algo mais forte forçava-me a abri-lo, então comecei a abrir os selos. Sem que percebesse, uma tempestade começou a se formar; abri o primeiro selo e, no mesmo ins12

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tante, um raio cortou o céu, o barulho foi tão grande que abalou as janelas de meu quarto, levantei-me e as fechei. Lá fora, o vento soprava com fúria. De volta à escrivaninha, abri o segundo selo, outro relâmpago cortou o céu. Este caiu bem perto de casa, seu brilho chegou a ofuscar a minha visão. Mamãe, assustada, procurou desligar os eletrodomésticos; o vento soprava como se fosse um furacão, as janelas de meu quarto já não estavam aguentando, pareciam que seriam arrancadas. Nunca acontecera aquilo antes, as tempestades mais fortes da região não chegavam aos pés daquela. Tive um pressentimento e resolvi arriscar, acho que foi nesse ponto que errei. De volta à escrivaninha, agora com mais atenção ao que estava acontecendo à minha volta, abri o terceiro e último selo. A tempestade parou instantaneamente, como se nunca tivesse surgido. Com certeza, aquele estranho livro tinha relação com aquele distúrbio da natureza. Mas pôr que? Bem, eu teria estas respostas muito em breve. Assustado, mas curioso, comecei a levantar a capa, que dava acesso à primeira folha, mas fui interrompido com batidas na porta. O susto foi grande, perguntei quem era, mas não obtive resposta. Levantei-me cautelosamente e caminhei até a porta, tornei a perguntar novamente silêncio. Meu coração batia mais forte, mesmo assim tencionava abrir, abriria num arranco e pegaria de surpresa quem quer que fosse. Nisso uma voz do outro lado disse: 13

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— Sou eu, Allan, abra. — Ficou maluco, porque não respondeu quando perguntei quem era? — Não ouvi você perguntar. Mas por que está assustado, o que está acontecendo? — Não é nada, essa tempestade me deixou um pouco nervoso, só isso. — Preciso do dicionário de inglês, não terminei o trabalho e tenho de entregar amanhã. Enquanto pegava o dicionário, Allan viu a caixa e o livro na escrivaninha. — O que é isso? — Não é nada, aqui está o dicionário. — O que está nos escondendo Leo? Conte a verdade. Allan era o meu melhor amigo então resolvi lhe contar tudo. Ele ficou admirado. — Deve valer uma fortuna, o que pretende fazer com ele? — Com certeza não vou vendê-lo. — Pôr que? Não quer ficar rico? — Há algo mais nele que valor financeiro, esse livro tem uma história muito antiga, não posso e não quero me desfazer dele, preciso descobrir que história é essa e que relação tem com o que aconteceu. — Para mim você é doido. — Quero ver se vai me chamar assim quando eu tiver todo o conhecimento sobre ele. 14

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— Acha mesmo que um livro pode ter tanto poder assim? — Não qualquer livro, mas esse aqui tem, tenho certeza. Na manhã seguinte, levei a caixa para um amigo que é antiquário e ele fez um exame minucioso, mas não pôde concluir muita coisa. — É realmente algo muito antigo Leo, mas não possuo conhecimento tão aprofundado no assunto, vai ser preciso um historiador para lhe dar maiores informações. — Um historiador, mas onde vou encontrar um? — Tenho um amigo que é historiador, mas ele mora nos Estados Unidos, provavelmente não vai encontrá-lo em casa, ele vive viajando em expedições antigas, algumas peças que tenho aqui foram enviadas por ele. — Mas preciso tentar. Qual o endereço, que vou localizá-lo. — Está bem, aqui está... Boa sorte. — Obrigado. — Acho melhor levar essa caixa para a sala de estudos, Leo. — Não, pode ser perigoso. — Por isso mesmo, lá estará mais segura. — Talvez você tenha razão, vamos. 15

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