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Direitos autorais, venda e distribuição cedidos pelo autor à Planeta Azul Editora www.planetazuleditora.com.br | e-mail: planetazul2014@yahoo.com.br
Copyright © 2015 by M. F. Santos Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-206-3
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Que o teu orgulho e objetivo consistam em pôr no teu trabalho algo que se assemelhe a um milagre. — Leonardo da Vinci
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Dedico este livro a todas pessoas, que atravÊs das dificuldades da vida, puderam alcançar o seu esplendor.
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Agradecimentos
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, pois foi Ele que me deu força para concretizar esse trabalho, e com muita dificuldade e insistência, consegui publicá-lo. Depois, agradeço, de coração, à minha família, que sempre esteve ao meu lado, torcendo para que um dia eu pudesse realizar esse sonho. Mas não posso também esquecer de todos aqueles que, direta ou indiretamente, admiravam o que eu escrevia e me incentiveram, fazendo com que eu acreditasse em mim, e tirasse da gaveta as obras até então esquecidas pelo tempo. A todos, muito obrigado.
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Sumário Os Personagens • 13 Capítulo I – Os Malogrados • 15 Capítulo II – O jantar • 19 Capítulo III – Na Biblioteca • 27 Capítulo IV – A vila da Forca • 32 Capítulo V – A visita da madrinha requintada • 38 Capítulo VI – A cerimônia • 44 Capítulo VII – A revelação • 50 Capítulo VIII – As dores de Maria Quitéria • 55 Capítulo IX – As consequências da peste • 60 Capítulo X – O capitão do exército • 67 Capítulo XI – O golpe • 75 Capítulo XII – O desirmanado • 81 Capítulo XIII – O Cortejo • 89 Capítulo XIV – Diretrizes • 96 Capítulo XV – Alguns episódios marcantes • 101 Capítulo XVI – O plano de Floriano • 108 Capítulo XVII – O chá • 111 Capítulo XVIII – As descobertas de uma Dama – 117 Capítulo XIX – Caça aos Marranos • 123 Capítulo XX – As Idealizações de Lúcio • 130 Capítulo XXI – O Delator • 136 Capítulo XXII – A fuga • 141 Capítulo XXIII – O poder da Inquisição • 146 Capítulo XXIV – O Auto-de-fé • 158 Capítulo XXV – A Regência • 163 Capítulo XXVI – Momentos de Tensão • 170 Capítulo XXVII – O Conspirador • 176 Capítulo XXVIII – O retrocesso • 180
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Capítulo XXIX – O ser colocado como o insignificante • 185 Capítulo XXX – A revolta • 192 Capítulo XXXI – As primeiras reformas • 197 Capítulo XXXII – A noite do prazer • 201 Capítulo XXXIII – A investigação • 203 Capítulo XXXIV – A descoberta do conspirador • 206 Capítulo XXXV – A filha perdida • 215 Capítulo XXXVI – O desalento de um soberano • 218 Capítulo XXXVII – As convicções de Joseph Louvain • 223 Capítulo XXXVIII – A prova da mulher como ser submisso e inferior • 225 Capítulo XXXIX – O duelo • 229 Capítulo XL – O fim da apreensão • 235 Capítulo XLI – A última lei promulgada • 237 Capítulo XLII – As consequências da nova lei • 241 Capítulo XLIII – Novos rumos • 244 Capítulo XLIV – A Volta de D. Guilherme • 248 Capítulo XLV – Decisões finais • 255 Capítulo XLVI – O destino de um grande rei • 257
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Os Personagens
LÚCIO — Príncipe do reino. No início, demonstrava revolta pelos pais, em virtude de eles quererem moldar sua vida. Não tinha nenhum interesse em adquirir o reinado, mas, depois, apresentou um idealismo em tomar o trono pela questão deprimente em que se encontrava o governo de seu pai. MARTA — Era sonhadora e também deprimente pelas atitudes dos país hipócritas; encontrava nas dificuldades, a força para enfrentar todo tipo de problema. Lutava incessantemente pelo amor de Lúcio. D. CONSTANTINA — Representava a sobriedade, integridade e sabedoria. O conhecimento que possuía em vários assuntos era devido a sua experiência de vida — A escolha de uma mulher como detentora de assuntos políticos e religiosos, era demonstrar que o gênero feminino também possuía grande inteligência e não apenas os homens, como era evidenciado na época. ABELARDO — Jovem médico, apaixonado pela profissão e preocupado pela cura das moléstias. Seus ideais faziam com que ele tivesse uma disposição em conhecer doenças que ultrapassava dos limites de qualquer ser humano. Ele era neto de D. Constantina, a qual tinha maior orgulho. Era como se fosse um filho para ela. MAURO BRAGANÇA — Grande inquisidor geral; nomeado pelo Concílio de Roma e unido às projeções do reino do país; este personagem obstinado e severo é a representação absoluta daqueles que abusam do poder nos aspectos político, social e religioso. ISABEL — Mulher sensata; um exemplo de mãe, esposa e dona de casa. Vivia à proteção dos filhos. Era o tipo de mulher com todas as virtudes, difícil de encontrar. No entanto, apresentava sintomas de melancolia, equivalentes ao que hoje chamamos de depressão. JONAS — Marido de Isabel; grande fazendeiro que disponibilizava ao reino milho e arroz; demonstrava grande competência nos negócios. D. GUILHERME — Era o rei, pai de Lúcio. Representação daqueles governantes que viviam a explorar a classe proletariada, em virtude dos altos impostos. Vivia do luxo que sua condição lhe dava. Os Malogrados
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MARIA QUITÉRIA — Era a rainha, mãe de Lúcio. Mesmo com todo o poder em mãos, mostrava-se uma mulher frágil, sem iniciativa, que vivia nos deslumbres de congratular o filho Lúcio. D. ORLANDO DE MORAES — Pai de Marta. Homem de temperamento forte e alterado. Era a representação nata da insipiência, mas, mesmo assim, tinha quem o admirasse. D. MARGARETE DIAS — Esposa de D. Orlando, mãe de Marta e afilhada de D. Constantina; defendia a posição da mulher como submissa ao marido e ser inferior. MARCO POLO — Capitão do exército, que demonstrava fidelidade a D. Guilherme e ao reino dele. Sua imponência literalmente representada pelo cargo. FLORIANO — Era a representação do fanático religioso, capaz de arriscar a pele até dos mais próximos pelo nome da Igreja. JOSEPH LOUVAIN — Metaforicamente dizendo, seria como um Marquês de Pombal. Chegou ao reino para abalar as estruturas do governo de D. Guilherme. Foi nomeado ministro. FERDINANDO — Um dos conselheiros que levava seu trabalho a sério, não se aproveitando da boa vida que essa condição lhe dava, como faziam todos os outros conselheiros. BOURNIER — Filósofo e poeta, adepto da nova vertente Iluminista. Possuía um grande dinamismo de raciocínio, e vem consolidar, com suas ideias, um pensamento mais igualitário entre as pessoas. JOANA — Escrava que servia Marta. Sua dona considerava-a como amiga. Passou por inúmeras atribuições em razão de sua condição social. MARIA RITA — Moça nova e inocente. Típico personagem representativo da castidade, que nasceu para o casamento e servir integralmente ao marido; é a falta de intelecto demonstrada em todas as ocasiões. Outros personagens, de menor importância, de forma esporádica, intensificam a obra, coplementando-a: D. Henrique, Aimée, os escravos do quilombo, o trio de beatas, o padre e figuras características da vila.
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Capítulo I Os Malogrados O homem nasceu livre e por toda parte vive acorrentado. — Rousseau
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ra num tempo conturbado, que, no entanto, ainda evidenciava que as transformações só viessem para o bem de todos. Conversavam em um bosque, Marta, mulher com vestimentas da nobreza, e Lúcio, príncipe da Corte de Cádiz, em Castelha. Estavam embaixo de um pé de Louro. Junto deles apenas um cavalo, pertencente ao rapaz; e uma carruagem, pertencente a ela, onde um escravo e uma mucama a esperavam em cima. Cada cavalo amarrado em árvores diferentes. A conversa tinha um tom de quem há muito tempo estava sufocado com as circunstâncias e, por isso, ambos tiveram a necessidade de dialogar sobre os problemas de cada um. O que também motivou esse encontro foram as intempéries prevalentes no reino. O príncipe demonstrava-se desgostoso com o governo de seu pai, o rei D. Guilherme e, mais precisamente, com a conduta dele em conduzir as necessidades suas e da família Real. Ele era jovem, moço despreocupado e resignado, que não conseguia se adaptar com as pretensões do pai, que seguia à risca os costumes e ordenamentos. D. Guilherme, o rei, mantinha essa premissa feito aquelas leis que nunca poderiam ser revogadas. E Lúcio, atabafado, questionava-se, contestava tudo que lhe era atribuído, mas guardava para si qualquer revolta. Não possuía coragem e nem motivação de ficar de frente com o pai para lhe esclarecer o que sentia, que muita coisa que fazia era contra a sua vontade. E, por isso, soltava os cachorros, em tom consolador, a quem lhe prestava atenção e confiança. Quem ouvia tudo com os ouvidos apurados era Marta, pois também estava numa situação afoita. Eles mantinham um romance em segredo, pois a moça, que já foi dotada de uma condição fidalga, vivia a mercê de ainda poder se casar com o príncipe. Ela já fora rica e há muito tempo seus pais condiziam com um título de nobreza que lhes davam confiabilidade do rei. Haviam perdido o título e, agora, viviam perto da miséria, e nessa questão o rei não queria nenhum tipo de aproximação entre os dois; se acaso descobrisse que ambos se encontravam escondidos, salientou a Lúcio que tomaria atitudes drásticas, que poria a situação da moça em discórdia. Eles tentavam lutar contra isso. Ambos eram apaixonados. O encontro entre os dois era mais que um devaneio. Ele se arriscava ao sair do castelo, pois o rei poderia mandar segui-lo. Ela, que era moça, jovem, era incontestáOs Malogrados
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vel que saísse sozinha sem a presença da mãe. Porém, não se martiriza, e na sofreguidão, sufocada em não aguentar ficar em casa e ver o tempo passar, talhava a chamar um escravo de confiança e uma mucama responsável por todo o serviço doméstico para acompanhá-la. E falavam sobre o que sentiam, colocando em pauta a condição que julgavam serem vítimas. Lúcio principiou o diálogo: — Vosmecê lembra quando me disse para eu invadir outro mundo? — Claro que lembro, amado Lúcio. Eu quero que vosmecê invada o meu mundo. — Vosmecê também me disse para invadir outra alma... — A minha alma!... Amado Lúcio. — Vosmecê me disse também para invadir outro corpo... — O meu corpo! — Na verdade, vosmecê quer que nos amemos profundamente, em todos os sentidos, mas não quis dizer isso diretamente. Como és resguardado... — Mas... — Disseram ao mesmo tempo. E alguns segundos de silêncio. — E o que mais eu irei invadir? — Indagou Lúcio. — Bom, amado Lúcio, mudando de assunto e travando um fato um pouco mais sério, terei que lhe dizer que o senhor precisa ter uma conversa séria com os meus pais. Irá dizer a eles que continuamos juntos. Marcamos um dia para lhes falar. — Isso não será problema, Marta. Com os seus pais, bem nos entendemos, entretanto, o grande obstáculo é os meus pais. O rei e a rainha não irão tolerar eu ainda continuar com filha de barões na decadência. — Eu sei, amado Lúcio. Estamos vivendo na mendicância. Meus pais adoram estar numa vida de aparências. A única coisa de nobre que nos restou foi a vestimenta. Mas o que isso importa diante de uma vida malograda, sem perspectivas e dignidade? Meus pais, mesmo estando pobres, não perdem o orgulho. Acredito que há escravos que vivem melhor que nós, e eles ainda desprezam as pessoas da vila, que há muito tempo tenho notado que são pessoas simples, humildes e que conseguem transpor qualquer obstáculo na vida. — A senhora se tornou praticamente uma escrava de seus pais. — Sim, amado Lúcio, no decorrer dos momentos em que perdemos as nossas posses, eu tive duas intenções de casamentos; malogrados por eventualidades. O segundo foi o pior, no ímpeto da decadência, e nem preciso lhe contar tal caso. — Mas príncipes também passam por cada situação... A senhora sabe que sou um homem que luta por um amor. Nunca fui de ficar atrás de casamento arranjado. Aliás, quem me arranja os casamentos são meus pais. Eu havia conhecido uma princesa francesa; mamãe me disse que já era de contrato o casamento; ela veio me informar bem depois. Acho que até a princesa pensou que eu soubesse de tudo. Dei um basta nos dois; depois desse dia eles pouco falavam comigo. Acusavam-me de que eu não tinha espírito de nobreza, que eu não serviria para reinar Cádiz. Eu não me importava com suas acusações. 16
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Depois Marta disse desconsolada: — O que faremos, Lúcio? Pensei até em fugirmos, mas será um risco muito grande. Não sei se também lhe convenha. Eles iriam atrás de nós, onde quer que nos escondamos; seriam até capazes de nos buscar no inferno, se fosse possível. — A senhora sabe que te amo, Marta. Por vosmecê, eu faria tudo. Não teria princesa alguma que me faria encantar. E, por ti, enfrento tudo, o mundo se for preciso. Eu não quero o reinado, a soberania; eu quero estar ao seu lado. — Os meus pais são loucos para nos verem juntos. Eles querem sair da miséria às suas custas. Mas tome muito cuidado com eles, Lúcio. Minha mãe se diz uma pessoa religiosa, e também quer nos mostrar ser preocupada com os pobres e escravos. Mas ela só transparece assim em sua companhia. — Quanto a Dona Margarete, sua mãe, eu conheço muito bem o tipo de pessoa que ela é; e também o seu pai; portanto, Marta, não precisa me alertar. Eu conheço todas as suas intenções e o que os predispõe. E outra coisa: acredito que minha mãe também não me ama. Sinto-me confuso em falar disso, porque ela adora me exibir para os outros, como se eu fosse um troféu. — Eu acredito que ela te ama. Sua Majestade pode ter seus defeitos, mas no fundo ela gosta de vossa alteza. Lúcio aproximou-se de Marta, e acariciou seu rosto. — Gostaria tanto de me casar com vosmecê — disse ele — se não fosse a sua presente condição e o desprezo agora que meu pai tem por qualquer um que possua o sobrenome de Moraes. Aqui Lúcio se referiu ao pai de Marta, o barão Orlando de Moraes e toda a gama de pessoas com parentesco a ele. — Percebo que vossa alteza não irá se conformar enquanto não estivermos juntos. — Exatamente, querida Marta! Ele a segurou pelos braços e salientou: — Tu ficarias comigo por qualquer condição? Não importaria o que acontecesse comigo? — Quando a gente ama e se sente amada, Lúcio, é capaz de tudo. — Disse ela abraçando-o e dando-lhe um simples beijo. — Tanto tempo que estamos nos encontrando e nada ainda foi decidido. — Disse Marta. — Eu pretendo fugir contigo, Marta; é da minha vontade, entretanto, esta decisão está muito difícil por causa de minha mãe; preocupo-me com ela. Já com o meu pai, eu não me importo; ele acredita que não precisará da ajuda de ninguém, em hipótese alguma. Então, quero que ele engula seu orgulho e arrogância para si. — Eu aceitarei fugir contigo, sem que meus pais saibam. — Fugiremos a todo custo. — Disse confiante. — Será uma decisão terrível. Os Malogrados
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— Mas correta, Marta. Nossos pais não merecem a confiança de ninguém. Para ficarmos juntos e sermos felizes, teremos que fugir o mais longe possível. — Sabe como esta decisão está sendo muito difícil para mim. A cada dia que passo com os meus pais, me decepciono ainda mais com eles, e isso é motivo para aumentar a vontade de ir embora, mas, por outro lado, estarei os abandonando. É muito difícil. — Quanto mais a gente adia nossa fuga, mais vosmecê comprova o mau caratismo de seu pai. Lúcio deu-lhe um beijo e foi desamarrar o seu cavalo. — Agora terei que partir, Marta. Não demoraremos muito a nos ver. Eu mando-lhe um recado por um escravo. — Até breve, amado Lúcio. — Falou acenando com a mão, que estava sob luvas brancas e finas; acenou delicadamente. — Eu marcarei um novo encontro dentro de poucos dias, neste mesmo lugar e talvez já traga uma resposta concreta de nossa decisão. — Disse subindo ao cavalo e partindo. — Até breve, amada Marta! Lúcio e Marta ficaram durante muito tempo se encontrando escondidos. Eles tentavam se ocultar, mas os pais descobriram ainda este namoro proibido, de filhos e de famílias rivais. Os dois não tinham nenhuma preocupação na questão de todos saberem dessa volta; a única preocupação era tomar a maior cautela quando fugirem, pois ninguém sonhava em saber desse plano. Lúcio só tinha receio em deixar a mãe, porém sabia que ela não passaria nenhuma dificuldade, e que seu pai fazia tudo que ela pedisse. Já Marta, tinha maior sensibilidade, mesmo decepcionada com a família, ficava amargurada em abandonar suas origens e viver uma vida de incertezas. Mas ela saberá decidir o que será melhor. Incerto pelo incerto, ela terá que escolher aquilo que lhe dará maior prestígio. Marta era jovem, tinha a graça de menina moça que sempre lhe foi atribuída, devido aos bons costumes, à boa educação, e a manter uma relação casta e quase submissa com os pais. Nasceu e cresceu ao redor da Corte de Cádiz, tendo sua vida mudada abruptamente da noite para o dia. A sua condição atual é totalmente o oposto da anterior. Antigamente, possuía os atributos que constituíam os anseios de toda a moça nova: era rica, rodeada de criados que realizavam todos os seus desejos; possuía roupas e perucas exuberantes, ordenadas com os mais belos diamantes lapidados e carruagens exorbitantes com luxuosas decorações. O destino cravou espinhos na vida de sua família, tanto que seus pais perderam o condecorado título de barões e, agora, na penúria, eram tidos quase como indigentes. E toda a população do reino considerava conveniente a palavra miséria, na mais árdua ironia, sendo colocada a eles como título de nobre ofício.
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